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Ministro critica “síndrome de vira-lata” em debate da COP30

As reações à organização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, motivaram uma resposta direta do ministro do Turismo, Celso Sabino, durante o programa Bom Dia, Ministro, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em entrevista a emissoras de rádio, ele afirmou que parte das críticas à preparação do evento em Belém expressa um padrão cultural brasileiro que classificou como síndrome de vira-lata, a tendência de considerar que tudo o que é feito fora do país é superior ao que se realiza internamente.

Segundo o ministro, a reação negativa ignora que a COP realizada no Pará apresenta avanços concretos em relação a edições anteriores. Para ele, o debate público por vezes se fixa em expectativas inalcançáveis, sem reconhecer o esforço logístico envolvido. Sabino lembrou que as obras estruturantes foram entregues dentro do cronograma e que o mercado local de hospedagem ajustou preços após negociações com autoridades e setores da economia. O ministro argumentou que esses elementos demonstram maturidade organizacional e reforçam a capacidade do país de sediar grandes eventos multilaterais.

Durante a entrevista, Sabino situou Belém dentro de um contexto geográfico e climático que, segundo ele, deveria ser visto como força e não obstáculo. A capital paraense é porta de entrada da maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, e carrega características integradas à realidade amazônica, como altas temperaturas, umidade intensa e desigualdades históricas. Para o ministro, realizar uma conferência global nesse cenário é, justamente, alinhar o debate climático à realidade concreta de quem vive na floresta e enfrenta diariamente os efeitos das mudanças ambientais.

A fala reforçou um argumento recorrente do governo federal: a ideia de que políticas internacionais de proteção ambiental dependem de investimentos reais nas populações amazônicas. Sabino sublinhou que manter a floresta em pé exige oferecer alternativas de renda e perspectivas de desenvolvimento econômico, intelectual e político às comunidades que a habitam. Para ele, esse é o grande desafio global: compreender que a preservação depende de oportunidades concretas para quem está no território e vive sob as dinâmicas socioambientais da região.

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Reuters/Marx Vasconcelos/proibida reprodução

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Além disso, o ministro destacou que sediar a COP em Belém produz um simbolismo importante para o debate ambiental. Em vez de discutir a Amazônia a milhares de quilômetros de distância, a conferência acontece no centro de onde os impasses ambientais se manifestam. Isso, na avaliação de Sabino, altera a forma como delegações internacionais percebem as urgências climáticas, aproxima o mundo das realidades amazônicas e visibiliza a complexidade do bioma, que combina riqueza ecológica, desafios urbanos e desigualdades estruturais.

Para além da defesa do evento, Sabino pareceu sugerir que o Brasil precisa reconfigurar a maneira como enxerga seu próprio papel internacional. Em sua avaliação, ainda existe uma resistência interna em reconhecer avanços quando eles são feitos dentro do país. Essa postura, segundo ele, enfraquece o debate público e compromete a construção de autoestima nacional necessária para enfrentar desafios globais como a crise climática.

Ao defender Belém e a organização da COP30, o ministro do Turismo apontou que o evento pode deixar um legado mais profundo que obras ou investimentos pontuais. Ele argumentou que o encontro representa uma chance de alterar narrativas sobre a Amazônia, deslocando a região do lugar de vulnerabilidade para o de protagonista das soluções climáticas. Essa mudança narrativa, aliada a investimentos estruturantes, poderia gerar um novo ciclo de desenvolvimento que integre preservação e economia.

A fala de Sabino também expõe uma tensão permanente no debate climático: a distância entre expectativas globais e condições locais. Realizar uma conferência em uma metrópole amazônica é, em si, uma escolha política que revela as contradições, urgências e potências da região. Ao mesmo tempo, evidencia que a transição ecológica não pode ignorar desigualdades históricas nem romantizar a vida na floresta.

Ao finalizar a entrevista, o ministro reiterou que a COP30 deve ser reconhecida não apenas como um evento internacional sediado no Brasil, mas como um marco simbólico na relação entre desenvolvimento, floresta e população amazônica. Para ele, compreender a relevância desse encontro demanda abandonar comparações automáticas com padrões externos e reconhecer a complexidade do território brasileiro.

Pará discute caminhos para uma transição energética real

A discussão sobre os rumos da transição energética no Pará ganhou força na COP30 com o painel promovido pela Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec). Realizado na Green Zone, no estande do Hub Amazônia Legal, o encontro reuniu especialistas, lideranças empresariais e representantes do setor público para examinar como os distritos industriais do Estado podem se tornar motores de inovação e descarbonização.

A participação superou a capacidade do espaço e atraiu representantes do Sebrae, Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), Associação Comercial do Pará, Gás do Pará, engenheiros, investidores e equipes técnicas da própria Codec. A pluralidade dos presentes foi um indicativo claro de que o debate sobre energia limpa já se tornou uma agenda compartilhada na economia paraense.

O painel reuniu o diretor de Estratégia e Relações Institucionais da Codec, Pádua Rodrigues, o diretor da New Fortress Energy, Paul Steffen, e o vice-presidente de Operações da Sinobras, Ian Corrêa.

A abertura coube a Pádua Rodrigues, que destacou como a transição energética se consolidou como eixo central da política industrial do Estado. Segundo ele, os distritos de Barcarena, Icoaraci, Ananindeua e Marabá passam por um redesenho institucional e ambiental que dará segurança jurídica, rastreabilidade e padrões mais rigorosos de governança. Em paralelo, a Codec avança com novos territórios produtivos, como os distritos de Castanhal, Breves e Santarém, além da recém-aprovada Zona de Processamento de Exportação de Barcarena. Esses movimentos, reforçou Rodrigues, se articulam a políticas estratégicas como o Plano Amazônia Agora e o Plano Estadual de Bioeconomia, que definem a bússola para um desenvolvimento industrial compatível com os limites climáticos.

Na sequência, Paul Steffen apresentou o papel do gás natural como vetor de modernização industrial. Para o representante da New Fortress Energy, a transição energética amazônica exige soluções contextualizadas, que não reproduzam modelos importados. Ele destacou o impacto do Terminal de GNL em Barcarena e das usinas UTE Novo Tempo e UTE Portocem, que somam 2,2 gigawatts de geração. Citou ainda o caso da Hydro Alunorte, cuja substituição de combustíveis pesados por gás natural gerou uma das maiores reduções de emissões industriais do planeta em 2023. Segundo Steffen, o Pará vive uma transformação profunda: infraestrutura consolidada, emissões reduzidas e um ambiente mais competitivo para novos investimentos.

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Foto: Rafael Silva

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O vice-presidente da Sinobras, Ian Corrêa, trouxe uma perspectiva da indústria siderúrgica instalada na Amazônia. Corrêa explicou que a empresa opera com uma das menores intensidades de carbono do setor nacional, graças ao uso de sucata metálica reciclada, energia renovável e carvão vegetal proveniente de florestas plantadas. A Sinobras mantém mais de 48 mil hectares de florestas energéticas e alimenta fornos elétricos de alta potência com energia oriunda de Belo Monte, assegurando balanço de carbono negativo. Para ele, a transição industrial exige revisões estruturais profundas, investimentos de grande porte e marcos regulatórios mais ágeis. Nenhuma mudança, afirmou, acontece isoladamente: tecnologia, infraestrutura e regras estáveis são componentes inseparáveis.

A plateia também trouxe contribuições decisivas. O presidente da Gás do Pará, Flecha Ribeiro, anunciou a inauguração do primeiro posto de GNR para transporte de longa distância do Brasil, previsto ainda para novembro. A iniciativa coloca o Estado na vanguarda da mobilidade de baixo carbono. Ele também confirmou avanços nas tratativas para fornecimento de gás natural em Marabá, reforçando a competitividade da região.

O presidente da Cooperativa de Crédito de Carbono da Amazônia questionou a Sinobras sobre os entraves além das mudanças políticas. Ian Corrêa apontou a escala dos investimentos e a necessidade de adaptar plantas industriais inteiras, além das demoras regulatórias.

Representantes da sociedade civil e de instituições técnicas reforçaram o diagnóstico. A presidente da Associação Comercial do Pará afirmou que os resultados da transição energética já são visíveis e concretos no Estado. Já a diretora de Estudos Socioambientais da CPEA, Mariana Bernal do Mazute, destacou o protagonismo do Pará na rota nacional de descarbonização, sobretudo com o avanço do gás natural. Para ela, a atuação da Codec é determinante para articular empresas, investidores e o setor público — um trabalho silencioso, técnico e estratégico.

O painel evidenciou que a transição energética do Pará avança movida por articulação institucional, conhecimento técnico e visão de longo prazo. A Codec emerge como peça-chave nesse movimento, criando pontes e preparando os distritos industriais para um ciclo de inovação energética e prosperidade sustentável. A companhia retorna à programação da COP30 em 19 de novembro com seu segundo painel temático.

Governo promete consulta indígena sobre hidrovia do Tapajós

O quinto dia da COP30, em Belém, terminou com um gesto político que ampliou o debate sobre justiça climática na Amazônia. Após o bloqueio pacífico organizado pelo povo Munduruku na entrada da Zona Azul, área restrita às negociações oficiais da conferência, o governo brasileiro anunciou que realizará uma consulta formal às comunidades indígenas do rio Tapajós sobre o projeto de hidrovia planejado para a região. A declaração foi feita pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, durante o encerramento da Cúpula dos Povos, espaço paralelo que reuniu milhares de participantes ao longo da semana.

Boulos afirmou que o governo cumprirá o direito à consulta livre, prévia e informada, previsto em tratados internacionais de que o Brasil é signatário. Ele também informou que a Secretaria-Geral da Presidência criará uma mesa permanente de diálogo com representantes das comunidades do Tapajós, com reuniões previstas em Brasília. Segundo o ministro, a decisão foi discutida diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o chefe da Casa Civil, Rui Costa.

O ministro reforçou que o governo dará continuidade ao processo de demarcação de terras indígenas. De acordo com ele, a orientação do presidente Lula é ampliar o número de territórios homologados até o próximo ano, como parte de um compromisso de proteção ambiental e respeito aos povos originários.

O protesto que desencadeou a resposta do governo ocorreu na manhã de sexta-feira. Os Munduruku bloquearam a entrada de credenciados da conferência e reivindicaram uma reunião direta com o presidente Lula. A mobilização também pediu a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que autoriza a privatização de empreendimentos hidroviários federais nos rios Madeira, Tocantins e Tapajós, tema sensível para comunidades que dependem da integridade ecológica e social dessas áreas. A construção da Ferrogrão, planejada para conectar o Mato Grosso ao Pará, também esteve no centro das críticas devido aos impactos previstos sobre territórios indígenas e áreas de floresta.

Após o protesto, lideranças Munduruku foram recebidas pelo presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, acompanhado da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. A presença de autoridades reforçou o espaço político conquistado pelos movimentos sociais durante a conferência.

Na Cúpula dos Povos, Boulos destacou que as manifestações que ocorreram durante a COP30 demonstram que a sociedade está disposta a disputar o rumo das decisões climáticas. Para ele, a presença massiva de movimentos sociais e povos tradicionais na conferência simboliza a vitalidade da participação popular e funciona como contraponto às negociações diplomáticas muitas vezes distantes do cotidiano das comunidades mais impactadas pela crise climática.

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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No mesmo dia, foi divulgada a carta final da Cúpula dos Povos, sintetizando cinco dias de debates e intercâmbios entre mais de 1,3 mil organizações. O documento critica o que chama de “falsas soluções” propostas por governos e corporações para enfrentar a crise ambiental. Defende que a emergência climática é consequência direta do modelo de produção capitalista, que, segundo o texto, se apoia na exploração de territórios, populações periféricas e recursos naturais.

A carta aponta que empresas transnacionais dos setores de mineração, energia, agronegócio, tecnologia e armamentos figuram entre os principais agentes da degradação ambiental global. O documento também reivindica demarcação de terras indígenas, reforma agrária, incentivo à agroecologia, abandono dos combustíveis fósseis e criação de mecanismos de financiamento público para uma transição justa, com taxação progressiva sobre grandes corporações e os mais ricos.

A Cúpula dos Povos reuniu cerca de 70 mil pessoas ao longo de cinco dias. A diversidade de participantes – indígenas, quilombolas, ribeirinhos, trabalhadores urbanos, marisqueiras, camponeses, sindicatos, juventudes, população em situação de rua, povos de terreiro, comunidades LGBTQIAPN+, extrativistas e movimentos internacionais – reforçou o caráter plural do evento. As discussões duraram até o domingo, quando um grande banquetaço ocupou a Praça da República, encerrando simbolicamente a programação com comida comunitária e celebrações culturais abertas ao público.

No conjunto, os episódios do fim de semana revelaram a força política dos povos da Amazônia na COP30 e deixaram claro que decisões sobre megaprojetos na região não poderão ser tomadas sem consulta, diálogo e respeito a quem vive e preserva o território.

Eco Invest Brasil e o novo ciclo de investimentos sustentáveis

O Eco Invest Brasil surge como uma peça central da agenda econômica do Novo Brasil, concebido para mudar a forma como o país mobiliza capital e financia sua transição ecológica. A proposta parte de uma constatação recorrente no mercado internacional: apesar de possuir riqueza ambiental, potencial energético e um amplo campo para inovação, o Brasil ainda enfrenta dificuldades em transformar essas vantagens em investimentos de longo prazo. Oscilações cambiais, incertezas regulatórias e a ausência de instrumentos financeiros robustos sempre funcionaram como barreiras. O programa coordenado pelo governo federal, por meio do Tesouro Nacional, nasce para enfrentar esses entraves e oferecer previsibilidade a quem pretende apostar no desenvolvimento sustentável brasileiro.

A espinha dorsal do Eco Invest Brasil está na criação de mecanismos de proteção contra a volatilidade do câmbio, um dos principais riscos percebidos por investidores estrangeiros em projetos que levam anos para maturar. A proposta consiste em oferecer linhas de crédito e instrumentos financeiros capazes de amortecer variações abruptas do dólar, criando uma camada de segurança que torna mais competitiva a alocação de recursos no país. Essa blindagem permite que setores estratégicos avancem com maior rapidez, estimulando parcerias duradouras entre o Estado e o capital privado nacional e internacional.

O programa direciona essa proteção especialmente a iniciativas que dialogam com a transformação ecológica. Um dos eixos prioritários é a transição energética, que inclui a expansão da cadeia de biocombustíveis e a ampliação da oferta de energias renováveis. O foco não está apenas na geração, mas também no fortalecimento da indústria envolvida na fabricação de equipamentos e tecnologias indispensáveis para esse ecossistema. Outro campo beneficiado é a bioeconomia, com ênfase na recuperação de pastagens degradadas e no estímulo a modelos agropecuários sustentáveis, bem como no incentivo à pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados ao uso da biodiversidade de forma produtiva e sustentável.

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Freepick e Gov Brasil

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Também entra no radar do programa a economia circular, entendida como um passo necessário para superar a histórica dependência dos lixões e da gestão inadequada de resíduos sólidos. Investimentos em saneamento, logística reversa e infraestrutura voltada para o reuso de materiais ganham prioridade, assim como soluções que incentivem maior eficiência no ciclo de produção e consumo. A agenda da adaptação climática aparece como outro pilar fundamental, com estímulos a obras, tecnologias e estruturas que tornem o país mais resiliente aos impactos das mudanças do clima, especialmente em regiões vulneráveis.

A arquitetura do Eco Invest Brasil foi estruturada em quatro linhas principais, implementadas de forma escalonada. As linhas incluem instrumentos de mitigação de risco, modelos de governança, regras para participação e um conjunto de leilões que será utilizado para selecionar ou habilitar projetos. Esses pilares seguem parâmetros técnicos definidos pelos órgãos econômicos do governo federal, como o Ministério da Fazenda e o próprio Tesouro Nacional, garantindo coerência entre política econômica e política ambiental.

O programa não se limita a incentivos financeiros: ele também procura organizar o ambiente institucional para receber investimentos sustentáveis. Isso inclui aprimoramentos normativos, criação de regras claras e disponibilização de documentos técnicos, entre eles apresentações estratégicas, relatórios de desenho do programa e referências analíticas, como estudos produzidos por especialistas e pesquisadores de diferentes áreas. O objetivo é dar ao investidor a garantia de que as decisões estão ancoradas em metodologias sólidas, transparentes e alinhadas às melhores práticas internacionais.

Ao oferecer instrumentos que diminuem riscos e ampliam a previsibilidade, o Eco Invest Brasil busca acelerar o amadurecimento de projetos que tradicionalmente encontravam dificuldades para sair do papel. Na prática, o programa cria uma ponte entre o financiamento público e o investimento privado, ajudando o país a caminhar em direção a um novo padrão de desenvolvimento, no qual competitividade econômica, inovação tecnológica e proteção ambiental deixam de ser agendas isoladas para se tornarem partes de uma mesma estratégia nacional.

Para dúvidas e informações adicionais, o programa disponibiliza o contato oficial via o endereço eletrônico [email protected], canal responsável por orientar investidores, pesquisadores e instituições interessadas em participar dessa nova fase da transformação ecológica brasileira.

Corrêa do Lago leva voz da Cúpula dos Povos à COP30

A cidade de Belém encerrou neste domingo um dos momentos mais simbólicos da agenda paralela da COP30: a Cúpula dos Povos. O encontro, que reuniu dezenas de milhares de participantes, entregou ao presidente da conferência climática, o embaixador André Corrêa do Lago, seu documento final — uma carta que resume críticas, demandas e esperanças de movimentos sociais do Brasil e do mundo. Em resposta, Corrêa do Lago afirmou que levará as reivindicações diretamente às reuniões de alto nível da COP30, que começam nesta semana, reforçando o compromisso de dar visibilidade institucional às vozes que ecoaram nas ruas e debates da capital paraense.

O embaixador reconheceu o desafio político de conduzir negociações multilaterais dentro do âmbito das Nações Unidas, onde 195 países precisam chegar a consensos, muitas vezes em temas sensíveis e urgentes. Mas ressaltou que, apesar das limitações formais, a sociedade civil teve espaço ampliado nesta edição da conferência. Segundo ele, ouvir os movimentos populares é essencial para confrontar a complexidade da emergência climática. Sua fala foi recebida com aplausos por milhares de pessoas que acompanharam o encerramento da Cúpula.

Além da carta principal, Corrêa do Lago recebeu um segundo documento que simbolizou o peso geracional do debate climático: a Carta da Cúpula das Infâncias, escrita por cerca de 700 crianças e adolescentes. Elas expressaram medo de um futuro comprometido pelo calor extremo, pela fumaça das queimadas, pela falta d’água e pela perda irreversível de biodiversidade. Seus pedidos são simples e ao mesmo tempo profundos: preservar florestas vivas, garantir esperança e evitar que o planeta se torne um lugar hostil para quem ainda está começando a viver.

A carta final da Cúpula dos Povos, também entregue ao presidente da COP, foi direta ao denunciar o que chamou de “falsas soluções” para a crise climática, criticando estratégias consideradas insuficientes e incapazes de enfrentar a raiz estrutural do problema. O documento reafirma uma visão construída por comunidades tradicionais, organizações de base e movimentos sociais, que defendem respostas centradas no internacionalismo popular e na troca de conhecimentos entre territórios.

O texto aponta o modo de produção capitalista como causa central do agravamento da crise climática e denuncia o papel de grandes corporações transnacionais — mineradoras, empresas de energia, indústrias bélicas, setores do agronegócio e gigantes da tecnologia — como agentes responsáveis por impactos ambientais severos. Para os participantes, essas empresas operam com margens de poder que ultrapassam fronteiras e, frequentemente, sem mecanismos adequados de responsabilização.

Entre as principais reivindicações apresentadas estão a demarcação imediata de territórios indígenas e de outros povos e comunidades tradicionais; políticas robustas de reforma agrária e incentivo à agroecologia; fim da dependência dos combustíveis fósseis; financiamento público para uma transição justa; taxação progressiva das grandes corporações e das elites econômicas; e a interrupção de conflitos armados que agravam vulnerabilidades ambientais e humanitárias.

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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A carta exige também que os povos tenham protagonismo real na construção das políticas climáticas globais, defendendo o valor dos conhecimentos ancestrais como parte fundamental das soluções. Para os movimentos presentes, esses saberes, construídos ao longo de séculos, são essenciais não apenas para a proteção da natureza, mas para a própria sobrevivência da humanidade.

A Cúpula dos Povos, considerada o maior espaço de participação social da COP30, reuniu cerca de 70 mil pessoas, representando movimentos sociais, povos originários, populações quilombolas, pescadores, ribeirinhos, trabalhadores urbanos, marisqueiras, extrativistas, quebradeiras de coco babaçu, sindicalistas, comunidades de terreiro, população em situação de rua, mulheres, juventudes, idosos, pessoas LGBTQIAPN+ e grupos tradicionais das florestas, campos, rios e mares. A diversidade do público fez do evento uma expressão viva do mosaico sociocultural amazônico.

Organizações locais, nacionais e internacionais — cerca de 1,3 mil — contribuíram com atividades, assembleias e debates que se estenderam por cinco dias. As críticas recorrentes apontaram para a insuficiência das metas globais atuais e para a omissão de países ricos diante da responsabilidade histórica pela crise climática. Segundo os movimentos, sem mudanças estruturais profundas, o mundo dificilmente cumprirá a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C definida no Acordo de Paris.

As ruas de Belém também foram tomadas por manifestações simbólicas. Na abertura, a “barqueata” navegou pela Baía do Guajará com centenas de embarcações em defesa da Amazônia e de seus povos. No sábado, a Marcha Mundial pelo Clima reuniu novamente 70 mil pessoas, transformando a capital paraense em palco de uma mobilização marcada por cores, cantos, faixas e rituais que celebravam a força e a resistência dos povos amazônicos.

O encerramento da Cúpula manteve esse tom de celebração coletiva. Na Praça da República, o “banquetaço” ofereceu refeições preparadas por cozinhas comunitárias, marcando o fim das atividades com música, cultura e partilha — uma síntese da essência do encontro: denunciar injustiças, afirmar direitos e cultivar esperança.

Pecuária sustentável do Pará impressiona ministro do clima da Noruega

Durante a COP30 em Belém, a visita do ministro do clima da Noruega, Andreas Bjelland Eriksen, ao Pará consolidou uma parceria simbólica entre conservação ambiental, desenvolvimento econômico e pecuária sustentável. No Sítio Santana, em Inhangapi, Eriksen conheceu de perto o programa estadual de Pecuária Sustentável, uma iniciativa que une boas práticas de manejo, rastreabilidade e produção responsável para proteger a floresta amazônica enquanto gera renda para produtores rurais.

O programa, conduzido pela Agência de Defesa Agropecuária do Pará — Adepará, estimula pecuaristas a adotarem sistemas modernos, incluindo a identificação individual de bovinos por meio de brincos numerados com chip bluetooth. Esse método, conhecido como “brincagem”, foi demonstrado na propriedade de referência com cerca de 300 cabeças de gado, além de diversificação agrícola com açaí, criação de abelhas para produção de mel, entre outras atividades. Para Eriksen, foi uma oportunidade de ver na prática que é possível conciliar a produção de carne com a conservação da floresta.

Um dos pilares do programa é o Sistema Oficial de Rastreabilidade Bovídea do Pará (SRBIPA), que já identificou individualmente mais de 300 mil bovinos em 1.105 estabelecimentos pecuários de 80 municípios. Essa rastreabilidade permite ao produtor controlar vacinas, idade, origem e histórico sanitário do rebanho — fatores cruciais para garantir saúde animal, qualidade do produto e também transparência para o mercado. Segundo a Adepará, a partir de 1º de janeiro de 2026, toda movimentação de bovinos deverá ser acompanhada pela GTA (Guia de Transporte Animal) e pelo sistema de identificação; e até janeiro de 2027, todos os animais deverão ter identificação individual.

Para o secretário de Estado da Agricultura Familiar do Pará, Cássio Pereira, a iniciativa representa uma caminhada decisiva em direção a uma Amazônia “com a floresta em pé”. Ele reforça que o programa oferece aos pequenos, médios e grandes produtores ferramentas que aliem produtividade, segurança sanitária e responsabilidade ambiental. É uma visão econômica que abraça a preservação, transformando a pecuária em instrumento de sustentabilidade.

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Foto: Bruno Cecim/ Agência Pará

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O produtor rural Manoel Cid, que participou da visita com a comitiva norueguesa, destacou os benefícios práticos: com a identificação individual, ele pode gerenciar seu rebanho com mais precisão, saber a origem dos animais, e tomar decisões embasadas sobre compra, venda e vacinação. Ele ressaltou que essa rastreabilidade representa segurança para o negócio, mas também compromisso com a natureza — um incentivo poderoso para continuar investindo em práticas que respeitam o ecossistema.

A diretora de Defesa e Inspeção Animal da Adepará, Graziela Oliveira, reforça que o Pará tem um papel pioneiro e que essa parceria internacional é estratégica para ampliar o programa. Ela celebra a extensão do apoio da Noruega até 2035, o que significa um horizonte mais seguro para consolidar a pecuária sustentável no estado. Segundo ela, o desafio é grande: tornar a identificação universal, garantir a adesão de todos os produtores, e fortalecer a infraestrutura para dar conta dessa ambição.

Além disso, a presença da Noruega reafirma a importância de alianças globais para a conservação amazônica. Eriksen elogiou o modelo paraense e afirmou estar satisfeito ao ver “as coisas acontecendo” concretamente. Ao estender o contrato de cooperação até 2035, o país escandinavo reafirma seu compromisso com uma produção rural que respeite os limites ambientais e produza com qualidade.

Essa parceria também envolve outras organizações: a visita de campo incluiu representantes da SEAF (Secretaria de Estado da Agricultura Familiar), da The Nature Conservancy (TNC), da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Pará (FETRAF-PA), da NatCap e da IDH — instituições que colaboram para fortalecer o uso de tecnologia, gestão responsável e rastreabilidade como ferramentas para uma pecuária que produz, mas que também conserva.

Do ponto de vista regulatório, a exigência futura de rastreabilidade integral representa um salto de governança. Quando todos os bovinos em circulação tiverem identificação individual, será possível rastrear cada animal desde o nascimento até o destino final, criando uma cadeia mais transparente e sustentável. Para produtores, isso significa mais credibilidade comercial; para o Estado, maior controle sanitário; para o planeta, menos incentivo à expansão ilegal de pastagem sobre a floresta.

A perspectiva política e ambiental desse programa reflete um modelo de desenvolvimento tropical diferente: não se trata apenas de parar desmatamento, mas de transformar a pecuária numa ferramenta de conservação. O Pará, por meio da Adepará, está mostrando que é possível ter uma pecuária moderna, produtiva e responsável — uma pecuária que gera emprego, renda e vida na floresta.

Essa visita do ministro da Noruega à COP30 e seu interesse pelo programa paraense representam mais do que diplomacia: são um reconhecimento internacional da estratégia amazônica. E, mais do que isso, apontam para um futuro em que o agronegócio, a inovação tecnológica e a sustentabilidade ambiental não sejam forças antagônicas, mas parceiras no cuidado com um dos ecossistemas mais valiosos do planeta.

Políticas para povos de matriz africana ganham força na COP30

A COP30 abriu espaço para debates que ultrapassam a agenda climática tradicional e iluminam questões de identidade, território e reconhecimento histórico. Na Arena Agri Talks, instalada na AgriZone dentro da sede da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, o tema ganhou contornos inéditos: políticas públicas para Povos Tradicionais de Matriz Africana. O encontro, realizado neste domingo, reuniu lideranças comunitárias, especialistas e representantes do governo do Pará, consolidando um debate muitas vezes invisibilizado nas agendas ambientais.

A iniciativa foi conduzida pela Emater-Pará, que transformou o espaço da COP30 em palco para algo mais profundo do que anúncios protocolares. A instituição realizou a entrega de dois documentos centrais para a inclusão rural: o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Cadastro da Agricultura Familiar (CAF). O gesto simboliza uma inflexão histórica, especialmente para comunidades que, por décadas, estiveram à margem dos mecanismos formais de regularização e acesso a políticas públicas.

A entrega foi feita ao agricultor e pai de santo Cristiano dos Santos, morador de Marituba. Em seu relato, ele descreveu a importância do documento como uma chave que abre portas não apenas para o seu trabalho, mas para toda a comunidade. A documentação, explicou, representa a possibilidade de planejar o futuro: pensar em projetos produtivos, fortalecer o terreiro, acessar editais e conquistar autonomia. Seu depoimento sintetiza a essência do que estava em discussão ali: políticas públicas só existem plenamente quando chegam às pessoas certas.

A ação nasce de uma diretriz estruturante da Emater-Pará: a Política de Interesse de Direitos Difusos e Coletivos, instituída pela Portaria nº 0456/2023. Essa política estabelece que a equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia não é um apêndice institucional, mas uma prioridade operacional. É ela que orienta a presença dos extensionistas rurais junto a povos indígenas, comunidades quilombolas, mulheres agricultoras e, agora, os Povos Tradicionais de Matriz Africana, reconhecendo suas especificidades e vulnerabilidades.

Swasilanne Fonseca, zootecnista e chefe do Núcleo de Programas e Projetos da Emater-Pará, destacou que o programa é pioneiro entre as instituições públicas de assistência técnica no Brasil. Atualmente, o atendimento chega a terreiros em sete municípios e beneficia 39 comunidades Potma, mas a meta é expandir o alcance para outras regiões do estado. A ampliação não é apenas territorial: envolve formação de extensionistas, metodologias específicas e construção de vínculos com lideranças religiosas e culturais.

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Foto: Fabrício Nunes/Ascom Emater

SAIBA MAIS: Cúpula dos Povos se consolida como força vital da COP30

A engenheira ambiental Camila Salim, coordenadora de operações da Emater-Pará, reforçou que uma pauta desse porte dentro da COP30 evidencia um movimento mais amplo: o reconhecimento de que a transição climática não se sustenta sem justiça social. Para ela, o trabalho de campo dos extensionistas é o elo entre o plano global e a vida real das comunidades. Levar assistência técnica gratuita, adequada e respeitosa a públicos historicamente excluídos é, em si, uma política climática. É garantir dignidade, autonomia produtiva e segurança territorial — três pilares invisíveis, mas essenciais, na construção de adaptação climática.

A discussão também revelou um aspecto central da COP30: a busca por protagonismo amazônico na construção de políticas ambientais. Ao incluir os Povos Tradicionais de Matriz Africana no debate climático, a conferência abre espaço para narrativas que quase nunca aparecem nos fóruns globais. O evento mostrou que falar de florestas, clima e agricultura na Amazônia exige olhar para sua pluralidade cultural, religiosa e produtiva. E que as políticas públicas só produzem justiça quando reconhecem essa diversidade.

Em Belém, as discussões sobre clima ganharam contornos mais humanos. Ali, a entrega de um CAR ou de um CAF representou mais do que burocracia rural: significou reparação histórica, ampliou direitos e devolveu protagonismo a comunidades que fazem parte do tecido cultural amazônico. Ao expor essas histórias no maior evento climático do mundo, a Emater-Pará reposicionou o debate, mostrando que a transição justa começa com ações concretas — e começa pelo chão, pelos terreiros, pelas comunidades que sustentam a vida amazônica todos os dias.

Cúpula dos Povos se consolida como força vital da COP30

Durante o encerramento da Cúpula dos Povos em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma mensagem contundente sobre a importância da participação social para o sucesso da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30. Na carta lida pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, Lula afirmou que o encontro paralelo organizado por movimentos sociais não apenas fortaleceu o debate climático como também tornou possível a realização da própria conferência oficial.

A Cúpula dos Povos, tradicionalmente um espaço de mobilização e crítica aos limites das negociações formais, reuniu organizações, coletivos, representantes de povos indígenas e populações tradicionais, além de diversas entidades da sociedade civil. Para Lula, essa convergência de vozes permite que a COP30, organizada sob a estrutura da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, representada pela UNFCCC, ultrapasse o universo diplomático e se conecte com experiências concretas de quem vive na Amazônia e sente diretamente os impactos ambientais.

O presidente anunciou ainda que retornará a Belém no dia 19 de novembro para uma agenda com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres. O encontro reforça o alinhamento com a ONU em torno do fortalecimento do multilateralismo e da governança climática internacional, pontos que Lula tem defendido em diversos fóruns ao longo de seu mandato.

Na carta, lida por Marina Silva — representante do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima — Lula destacou que a energia das ruas, das comunidades e dos territórios amazônicos é parte essencial do processo de tomada de decisão. Ele ressaltou que, em cada árvore da Amazônia, existe uma vida que sustenta o equilíbrio da floresta, reafirmando uma visão que combina política ambiental com humanidade e reconhecimento dos modos de vida amazônicos.

O presidente também chamou atenção para a urgência das transformações necessárias. Segundo ele, a luta contra a crise climática não pode ficar restrita aos governos ou aos compromissos formais assinados e reiterados em sucessivas conferências. Para que o mundo avance em direção a uma transição justa, é indispensável a ação coordenada entre Estado, sociedade civil e comunidades tradicionais, que há décadas alertam para o desmatamento e para a degradação dos ecossistemas.

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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A crítica ao negacionismo climático apareceu como um eixo central de sua mensagem. Lula argumentou que a ciência já não deixa margem para dúvidas, e que as manifestações populares presentes em Belém expressam justamente essa convergência entre conhecimento técnico e experiência social. Ele afirmou que postergações e discursos ambíguos sobre a necessidade de reduzir emissões de gases de efeito estufa, superar a dependência dos combustíveis fósseis e financiar a adaptação climática não são mais aceitáveis diante da escala da emergência.

Outro ponto destacado foi o financiamento climático. O presidente reforçou que os países historicamente responsáveis pela maior parte das emissões precisam assumir compromissos efetivos com o Fundo Verde para o Clima e outros mecanismos internacionais. Sem esses aportes, afirmou, as nações em desenvolvimento continuarão arcando de forma desigual com os impactos das mudanças climáticas, apesar de terem contribuído proporcionalmente menos para o problema.

Por fim, Lula convocou os líderes globais presentes na COP30 a saírem de Belém com decisões concretas. Para ele, as visitas à região e o contato direto com populações amazônicas tornam impossível ignorar que o futuro da humanidade depende da preservação da floresta. Ao mesmo tempo, ressaltou que a proteção ambiental precisa caminhar junto ao desenvolvimento sustentável, à redução das desigualdades e à garantia de direitos básicos como alimentação, paz e dignidade.

Sua fala reafirma uma visão segundo a qual a Amazônia não é apenas um bioma a ser defendido, mas um território vivo que exige protagonismo social. Nesse sentido, a Cúpula dos Povos, longe de ser um evento paralelo ou decorativo, se consolidou como força política indispensável para consolidar o Brasil como liderança climática internacional.

China e EUA disputam futuro climático na COP30, diz embaixador

A COP30, realizada em Belém, tornou-se um palco onde não apenas se discutem metas climáticas, mas onde também se desenrolam disputas globais que revelam o rumo econômico e político do século XXI. Para o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, um dos elementos mais marcantes do encontro é a forma como China e Estados Unidos se posicionam diante da transição energética. O contraste entre as duas potências, segundo ele, ultrapassa a diplomacia e invade o território da definição de futuro.

Corrêa do Lago descreve a presença chinesa como robusta, estratégica e abertamente alinhada a uma economia de baixo carbono. Enquanto isso, observa que parte do governo norte-americano mira na direção oposta, defendendo um retorno a modelos ligados aos combustíveis fósseis. O embaixador ressalta que essa divergência não é apenas técnica: ela se transformou em um embate geopolítico, no qual cada país tenta influenciar a percepção global sobre qual caminho econômico deve prevalecer.

Para os Estados Unidos, explica, existe um temor crescente dentro de setores políticos e empresariais. Abandonar a corrida pela transição energética poderia significar abrir mão da liderança tecnológica que moldará as próximas décadas. A China, por sua vez, parece ter decidido que essa é exatamente a arena em que pretende consolidar seu protagonismo, investindo de forma agressiva em energias limpas, cadeias produtivas verdes e infraestrutura tecnológica ligada ao clima.

Nesse cenário, Corrêa do Lago identifica o surgimento do que chama de negacionismo econômico. Não se trata mais de negar a existência da mudança do clima, mas de justificar sua continuidade como custo inevitável do desenvolvimento. Ele cita como exemplo o posicionamento do secretário de Energia dos EUA, Chris Wright, que admite o impacto das atividades humanas no aquecimento global, porém defende que o foco deveria ser a adaptação — e não a mitigação. A visão, segundo o embaixador, tenta reembalar a lógica de sempre: seguir com o modelo fóssil e apenas administrar as consequências.

Mas os argumentos econômicos que sustentam essa narrativa se fragilizam diante da realidade do mercado. Corrêa do Lago lembra que tecnologias limpas já estão mais baratas em diversos setores, e que recusar essa transição significa fechar os olhos para uma tendência irreversível. Ele afirma que negar isso se torna cada vez mais difícil, especialmente quando empresas, governos locais e investidores já operam com uma lógica distinta daquela defendida por parte do governo federal norte-americano.

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Reprodução

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Mesmo com a ausência do governo dos EUA na COP30, o embaixador chama atenção para a presença de atores que representam parcelas significativas da economia norte-americana, como governadores de estados influentes, entre eles o da Califórnia. Juntos, eles representam cerca de 60% do PIB dos Estados Unidos. A mensagem implícita é que, mesmo sem a adesão formal da Casa Branca, a máquina econômica do país continua se movendo na direção de uma economia mais limpa.

No âmbito das iniciativas brasileiras, Corrêa do Lago destacou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), idealizado pelo Brasil como uma alternativa inovadora para financiar a preservação de florestas, a proteção da biodiversidade e o fortalecimento das populações tradicionais. O instrumento ganha relevância por operar fora dos mecanismos formais da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, permitindo que países em desenvolvimento, incluindo Brasil e China, contribuam de maneira mais flexível.

O embaixador observa que o TFFF mira especialmente os fundos soberanos — grandes veículos de investimento geridos por Estados — em busca de retornos estáveis e de longo prazo. Essa característica pode atrair recursos que dificilmente fluiriam pelos mecanismos tradicionais da convenção climática, devido às regras que atribuem aos países desenvolvidos a responsabilidade de financiar ações nos países em desenvolvimento. Ao ampliar a participação global, o TFFF abre uma nova porta de cooperação climática que reflete uma conjuntura na qual países emergentes assumem papéis centrais na governança ambiental.

Para Corrêa do Lago, o fundo tem potencial para ganhar força após a COP30, à medida que os países compreendem melhor o modelo e percebem suas vantagens estruturais. Em meio ao impasse geopolítico entre as maiores potências mundiais, o Brasil tenta criar espaços de inovação institucional que permitam avançar apesar das tensões.

O que emerge das falas do presidente da COP30 é um diagnóstico claro: a disputa climática não é apenas ambiental, mas estratégica. Ela definirá quais países liderarão — e quais ficarão para trás — na economia que substituirá a era fóssil. Belém, nesse sentido, não foi apenas sede de uma conferência; foi o cenário de um debate sobre o futuro do poder global.

A aposta de Lula para reposicionar o Brasil no clima

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder experiente e atento ao peso de cada frase que pronuncia, enxerga a COP30 em Belém como mais do que um encontro diplomático. Para ele, trata-se de um palco estratégico — interno e externo — capaz de moldar sua narrativa num momento em que o país se aproxima de mais um ciclo eleitoral. Aos 80 anos, depois de atravessar confrontos políticos intensos, sobretudo na disputa anterior contra Jair Bolsonaro, Lula se movimenta guiado por uma leitura precisa do cenário: crises ambientais e desigualdade social caminham juntas, e responder a elas pode redefinir seu legado.

Por isso, quando Lula insiste em três pilares — abandonar gradualmente os combustíveis fósseis, zerar o desmatamento e enfrentar a crise global de financiamento climático — ele não está apenas listando demandas técnicas. Está desenhando um caminho político que tenta compatibilizar justiça social, ambição climática e liderança internacional. O trio fósseis, florestas e finanças aparece repetidamente em seus discursos recentes, desde encontros de chefes de Estado até declarações na abertura da COP30, sinalizando que sua estratégia está longe de ser improvisada.

O primeiro desses pilares, a transição energética, traz consigo um elemento incômodo. Ao mesmo tempo em que Lula clama pelo fim da era fóssil, seu governo autoriza novas frentes de exploração de petróleo e gás, inclusive na Amazônia. O contraste parece gritante. No entanto, reduzi-lo a mera contradição seria ignorar o cálculo político que sustenta essa escolha. Lula atua dentro de um sistema em que pressões econômicas, compromissos regionais e expectativas populares disputam prioridade. Ele pode avançar, mas raramente sozinho — precisa de parceiros, coalizões, sinais concretos de que outros países também se moverão.

Essa tensão interna não neutraliza sua ambição externa. Ao contrário, revela que o país chega à COP30 com uma chance rara: transformar o encontro amazônico em um marco de longo prazo, capaz de atravessar alternâncias de poder e sobreviver ao avanço global de governos alinhados aos interesses fósseis. Esse é o ponto levantado por Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, ao observar que a reunião de Belém pode romper com o imediatismo dos ciclos eleitorais e articular compromissos que ultrapassem fronteiras e mandatos.

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Marcello Casal jr/Agência Brasil

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Se as nações presentes decidirem seguir a trilha que Lula indica, a COP30 poderá inaugurar um acordo global com metas comuns para desligar o planeta da dependência fóssil. Ao mesmo tempo, poderá consolidar a proteção das florestas como peça central do desenvolvimento e estabelecer mecanismos de financiamento que finalmente respondam à dívida histórica dos países ricos com o Sul global. A Amazônia, que durante décadas foi vista por parte do mundo apenas como um território ameaçado, torna-se aqui uma plataforma de futuro.

Mas para que essa oportunidade se concretize, será necessário mais que discursos inspiradores. Governos precisarão abandonar a confortável prática de anunciar metas sem arcabouço operacional e, sobretudo, aceitar que nenhum país — por maior ou mais influente que seja — carregará sozinho o peso da transformação. A cooperação se torna um imperativo, não uma escolha.

Se Belém conseguir unir as delegações em torno desse espírito de mutirão, uma transição justa e o fim do desmatamento podem deixar de ser apenas bandeiras retóricas. Seriam, então, compromissos compartilhados que definem o que a comunidade internacional é capaz de fazer quando reconhece que seu destino é comum.

Para Lula, isso representaria mais do que uma vitória diplomática. Seria a confirmação de sua aposta em colocar o Brasil no centro das soluções climáticas globais. Para o mundo, contudo, o ganho é muito maior: a chance real de reescrever o rumo coletivo em direção a um planeta mais limpo, mais seguro e menos desigual.

Agricultor familiar paraense vira peça-chave na conservação

Durante o quinto dia da COP30, em Belém, o protagonismo da agricultura familiar paraense ganhou destaque em um debate decisivo sobre mecanismos de pagamento por serviços ambientais. Representando o Governo do Pará, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater-Pará) reforçou como o agricultor familiar pode ser um vetor essencial para a sustentabilidade e a transição para uma economia de baixo carbono.

No painel “Mecanismos de Pagamento por Serviços Ambientais como Estratégia para Transição à Economia de Baixo Carbono”, realizado na Sala Miririzeiro da Green Zone em Belém, técnicos da Emater-Pará e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) mostraram exemplos concretos de agricultores que são pagos para manter ou restaurar áreas florestais. Ao lado deles, esteve Maria Gorete Rios, produtora rural de Novo Repartimento, que cultivam açaí, cacau, cria gado e planta lavoura. Assistida pela Emater há quatro anos, ela foi a primeira mulher de seu município a receber financiamento pelo Pronaf na categoria Mulher. Maria Gorete explicou que, com a assistência técnica, teve acesso a financiamentos, construiu o próprio rebanho — antes alugava pasto — e agora participa de um programa que recompensa sua prática agrícola com pagamento por preservar a vegetação. “Tenho consciência ambiental, mas agora, com esse bônus, minha vida melhorou muito”, disse ela.

Para a engenheira ambiental Camila Salim, coordenadora de Operações da Emater-Pará, o papel dos extensionistas rurais é fundamental para viabilizar esses mecanismos em campo. O projeto piloto do Pará, uma parceria entre Emater e Semas, está presente em sete municípios das regiões sul e sudeste do estado. Ele incentiva agricultores familiares a manter ou restaurar áreas naturais, oferecendo recursos financeiros em troca de serviços ambientais, como conservação de matas ou recomposição de vegetação degradada.

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Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

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Salim enfatizou que sem a presença dos técnicos de extensão, muitos agricultores ficariam à margem dessas políticas. Graças ao trabalho de campo desses extensionistas, entre janeiro e agosto de 2025 a Emater-Pará emitiu cerca de 122 mil Cadastros Ambientais da Agricultura Familiar (CAF) — importante registro ambiental — gratuitamente para agricultores familiares paraenses. Esse número corresponde a aproximadamente 30% das emissões nacionais no mesmo período, segundo dados apresentados por ela. Isso demonstra a força da assistência técnica do estado para dar acesso a políticas públicas para a agricultura familiar.

Também presente no debate, Renan Batista, gerente do Projeto Valoriza Território Sustentável (TS), observou que esses resultados mostram como políticas públicas se traduzem em impacto real apenas quando há articulação entre governo, assistência técnica e agricultores na ponta. “Políticas como essas não se constroem sozinhas”, afirmou. Segundo ele, a parceria entre Emater e Semas é exemplo de colaboração para levar incentivos financeiros para quem vive no campo e, ao mesmo tempo, protege ecossistemas valiosos.

Do ponto de vista analítico, esse tipo de mecanismo é estratégico por vários motivos. Primeiro, ele coloca o agricultor familiar não como antagonista da floresta, mas como parte integrante dela — como guardião de áreas naturais. Quando se paga para conservar ou restaurar, transforma-se a lógica econômica: a vegetação deixa de ser “terra não produtiva” e passa a ter valor social. Segundo, a ampliação desses programas oferece uma via para descarbonização por meio da restauração de vegetação, sem depender somente de grandes projetos industriais ou de plantio em larga escala. Terceiro, a robustez da atuação da Emater-Pará, com seus técnicos espalhados pelos 144 municípios do Estado, torna viável a entrega desses incentivos justamente onde eles são mais necessários — em comunidades rurais vulneráveis.

Além disso, esses mecanismos podem fortalecer a agricultura familiar de maneira sustentável: o dinheiro recebido pelos serviços ambientais ajuda os agricultores a manter suas atividades agrícolas, sem precisar desmatar ou expandir de forma insustentável. Para muitos, esse apoio representa uma nova fonte de renda — e uma razão para preservar. Por outro lado, para o Estado, é uma forma eficaz de promover a conservação sem depender exclusivamente de fiscalização rígida ou punição. É uma estratégia mais colaborativa, baseada na cooperação.

No entanto, esse caminho exige continuidade, institucionalização e escalabilidade. O modelo piloto em sete municípios mostra que dá para começar, mas a ampliação exige recursos, estabilidade nas políticas e engajamento contínuo dos agricultores. Também depende de fortalecer a atuação dos extensionistas, garantir financiamento estável e assegurar que os pagamentos por serviços ambientais sejam justos e bem geridos.

A participação da Emater-Pará e da Semas na COP30, portanto, oferece mais do que relato de boas práticas: revela uma estratégia ambiental e social que integra agricultores familiares no centro da transição climática. A experiência paraense mostra que, com políticas bem desenhadas, o agricultor familiar pode ser uma ferramenta poderosa de sustentabilidade — não apenas para preservar, mas para regenerar e valorizar os territórios.

Da floresta à renda: a bioeconomia que nasce das mãos da juventude ribeirinha

A Amazônia tem sido, ao longo das últimas décadas, um laboratório vivo para experiências que combinam preservação ambiental, geração de renda e fortalecimento comunitário. Mas alguns projetos se destacam por ir além dos modelos tradicionais de sustentabilidade e tocar num ponto central: a autonomia dos povos da floresta. É o caso da capacitação em incensaria artesanal realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã — a RDS do Uatumã — iniciativa que integra o programa Engajamento da Juventude no Uso Sustentável de Recursos Naturais na Amazônia, com liderança do psicoaromaterapeuta, artesão e perfumista botânico Roger Consoli.

Mais do que ensinar uma técnica, o projeto forma jovens ribeirinhos para transformar resíduos florestais em produtos de alto valor agregado, criando uma cadeia de bioeconomia que nasce dentro da própria floresta e retorna a ela em forma de renda, regeneração e protagonismo.

Onde tudo começou

Durante uma viagem à Amazônia, Consoli encontrou duas lideranças femininas que mudariam o rumo de seu trabalho: Dona Cleide, guardiã de quelônios, e Dona Elisângela, ex-professora e voz ativa da comunidade. Ambas expressaram um desejo simples e potente: aprender a arte da incensaria para multiplicar conhecimento e ampliar oportunidades na região.

O encontro despertou uma decisão: levar seu saber artesanal para dentro das comunidades e transformá-lo em ferramenta concreta de autonomia econômica. Pouco tempo depois, veio o convite do IDESAM para consolidar o projeto oficialmente. Em julho de 2025, a formação teve início com cerca de 40 participantes, a maioria jovens e adolescentes de seis comunidades espalhadas pela RDS do Uatumã, área que ultrapassa 424 mil hectares de floresta preservada.

Sustentabilidade como fundamento

A espinha dorsal do projeto é o uso 100% de matérias-primas locais. Não há insumos externos, nem processos que dependam de extração predatória. Tudo é pensado para valorizar o que a floresta oferece em abundância — e sempre dentro dos limites que ela pode suportar.

A Miniusina de Óleos Essenciais e a Marcenaria Comunitária, estruturas fundamentais no processo, trabalham com manejo sustentável. A marcenaria opera sob certificação FSC, enquanto a miniusina avança na implementação de um sistema completo de rastreabilidade, garantindo que cada gota de oleoresina ou breu branco tenha origem responsável.

Além da técnica, Consoli decidiu ampliar o escopo e formar os jovens em noções de custo, precificação e organização produtiva. Essa escolha, não prevista inicialmente, mostrou-se determinante para a sustentabilidade econômica da iniciativa. Mais do que produzir incensos, os participantes aprenderam a estruturar um negócio.

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Foto: Roger Consoli

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Regeneração: quando o impacto vai além da sustentabilidade

O projeto não apenas evita danos — ele devolve vida a sistemas ecológicos e sociais. É a lógica da regeneração, que orienta práticas inovadoras e culturalmente enraizadas.

Uma das soluções mais emblemáticas é a economia circular aplicada aos resíduos. O breu branco que iria para o descarte na miniusina vira insumo para incensos. A serragem acumulada na marcenaria ganha forma e propósito. Nada se perde — tudo retorna ao ciclo produtivo.

Outro exemplo é a substituição criativa do bambu, ausente na região. Consoli desenvolveu uma vareta de incenso feita da tala das folhas mortas da palmeira bacaba. É um gesto simples, mas que revela uma mentalidade voltada para o respeito profundo à floresta: usar apenas o que ela oferece espontaneamente.

Há ainda um componente cultural essencial. O projeto resgata saberes ancestrais e os reinventa em novos produtos. O curandeiro Orimar Sicsu, por exemplo, adaptou uma receita tradicional — o morrão — para um incenso terapêutico. Ali onde muitos veem apenas plantas, ele enxerga memória, espiritualidade e cura.

A bioeconomia que chega ao mercado

Os resultados não demoraram. Menos de um mês após a conclusão do segundo módulo da capacitação, um grupo de quatro jovens participou do 12º Simpósio Brasileiro de Óleos Essenciais (SBOE), em Manaus, comercializando 40 caixas de incensos a R$ 90 cada. Toda a receita foi destinada à Associação Agroextrativista da RDS do Uatumã (AACRDSU).

Seis comunidades envolvidas, meses de trabalho e, finalmente, a autonomia transformada em renda.

O impacto também é individual: Orimar Sicsu começou a produzir seu próprio incenso terapêutico, vendido a R$ 20, reforçando a autonomia como o maior retorno da capacitação.

A floresta como parceira

Para Consoli, o sentido da iniciativa vai muito além da técnica. Ele resume: criar incensos naturais é gerar impacto real, fortalecer comunidades e manter a floresta viva. Bioeconomia, cultura e sustentabilidade se entrelaçam numa mesma narrativa — a da Amazônia que, quando valorizada nos seus próprios termos, garante renda, dignidade e regeneração.

A iniciativa mostra que a juventude ribeirinha não é apenas beneficiária. É protagonista de um novo capítulo da economia amazônica — um capítulo que surge do respeito à floresta e se expande pelas mãos de quem vive dentro dela.

O feminismo popular que move territórios na COP30

Belém, 13 de novembro de 2025. Na orla movimentada pela Cúpula dos Povos, o feminismo popular emergiu mais uma vez como um território vivo de resistência, entrelaçado às lutas por justiça climática e por direitos que moldam o cotidiano de mulheres de múltiplas origens. A cena que se desenhava ali — indígenas, negras, quilombolas, ribeirinhas, pescadoras, camponesas e mulheres das periferias urbanas — revelava a força de uma aliança histórica. Elas não chegaram agora. São protagonistas de um percurso que atravessa décadas, territórios e rupturas, sustentando práticas de cuidado, defesa ambiental e organização comunitária que, muitas vezes, garantam a sobrevivência das próprias florestas.

Esse protagonismo diverso tem raízes profundas. Eunice Guedes, articuladora da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), recordou que a presença ativa das mulheres nas pautas ecológicas e territoriais remonta ao início dos anos 1990. Foi no Fórum Global da Rio-92, por exemplo, que emergiu o espaço Planeta Fêmea, um marco na articulação entre direitos das mulheres e crise ambiental. Desde então, afirma ela, a defesa da vida nos territórios passa necessariamente pela defesa das mulheres em toda sua diversidade. Nesse percurso, feminismo popular e justiça climática seguem caminhando lado a lado, formando uma espinha dorsal de resistência frente a projetos econômicos que ampliam desigualdades e empurram comunidades inteiras para situações de risco.

Guedes reforçou que os impactos da crise climática não se distribuem de maneira uniforme. Eles recaem com violência sobre mulheres, meninas e pessoas trans que vivem nas margens — especialmente no Sul global. Não se trata, para ela, de tragédias naturais, mas de fenômenos produzidos por desigualdades históricas. Quando enchentes, secas extremas, queimadas ou deslocamentos forçados irrompem, as vulnerabilidades já existentes se intensificam. Perdas afetivas, rupturas familiares e episódios de violência em abrigos temporários transformam eventos ambientais em crises sociais profundas. A fala de Eunice ecoou a urgência de reconhecer que a justiça climática é inseparável da justiça de gênero.

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MMM – Divulgação

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A Marcha em Defesa do Território e Contra os Grandes Empreendimentos e o Crédito de Carbono, conduzida pela liderança Munduruku Ediene Kirixi, fez da Cúpula dos Povos não apenas um espaço de debate, mas de movimento. Ediene caminhou ao lado de caciques, jovens e anciãs para denunciar pressões que se abatem sobre os modos de vida tradicionais — desde projetos de mineração e hidrelétricas até iniciativas de compensação de carbono que afetam diretamente o uso da terra pelas comunidades. Para ela, o feminismo popular é uma força de reexistência: uma forma de seguir vivendo apesar das ameaças, recriando caminhos onde o Estado e as corporações abrem feridas.

Em sua fala, Ediene lembrou que corpos e territórios indígenas são atravessados pelos mesmos conflitos. A violência sobre a terra é extensão da violência sobre as mulheres. Mas são elas também que garantem a continuidade da vida: cuidam das sementes, das águas, das casas, dos mais velhos e das crianças. Por isso, discutir aquecimento global, desmatamento ou transição ecológica sem colocar as mulheres no centro é, segundo ela, escolher não enxergar parte decisiva da crise.

Entre as proposições do eixo 6 da Cúpula, destacou-se a defesa do direito ao território, o livre acesso aos babaçuais e o fortalecimento de práticas agrícolas e extrativistas baseadas na agroecologia e na economia solidária. Essas agendas representam mais do que reivindicações setoriais: apontam modos de produção e de organização que garantem comida de qualidade, autonomia comunitária e conservação da sociobiodiversidade.

O debate que atravessou o dia deixou claro que as mulheres não apenas resistem: elas movem territórios. São capazes de costurar redes de cuidado em meio ao colapso, reconstruir economias locais e renovar formas de convivência com a natureza. Seus saberes, acumulados ao longo de gerações, confrontam diretamente a lógica de exploração que alimenta a crise climática. Em tempos de emergência ambiental, sua ação se revela não apenas necessária, mas indispensável.

Se a transição ecológica é inevitável, ela não pode ocorrer sem as mulheres. Não há florestas em pé, soberania alimentar ou soberania territorial sem sua liderança. Na Cúpula dos Povos, a mensagem foi inequívoca: o futuro só será justo se for feminista, popular e profundamente enraizado nos territórios.

Como a perda de biodiversidade aumenta o risco de novas pandemias

A relação entre a perda de biodiversidade e o risco crescente de novas pandemias ganhou destaque no primeiro dia da Escola Interdisciplinar FAPESP: Ciências Exatas e Naturais, Engenharia e Medicina, realizada em São Paulo. Em uma conferência marcada por alertas contundentes e análises de longo alcance, a ecóloga Felicia Keesing, pesquisadora do Bard College, nos Estados Unidos, apresentou um panorama inquietante: quanto mais se degrada a natureza, mais se fortalecem as espécies que servem como reservatórios de patógenos zoonóticos, abrindo caminho para surtos potencialmente globais.

O alerta se apoia em um dado decisivo. Três quartos das doenças infecciosas emergentes são zoonóticas, ou seja, passam de animais para humanos. Mesmo assim, argumenta Keesing, a comunidade científica e os organismos internacionais continuam a adotar estratégias que, embora essenciais, têm se revelado insuficientes. A Organização Mundial da Saúde vem apostando em medidas como aprimorar a prevenção, ampliar a detecção e fortalecer respostas rápidas. Mas, diante do fracasso em prever pandemias recentes, a pesquisadora propõe ampliar o olhar, avaliando fatores ecológicos que moldam a dinâmica das doenças antes mesmo que elas apareçam.

Segundo ela, a próxima onda pandêmica pode não vir de um vírus, mas de uma bactéria resistente. Esse risco é ampliado conforme avança a perda de habitats e a redução de grandes mamíferos. Nas áreas estudadas por Keesing no Quênia, o desaparecimento de espécies como girafas e leões levou à expansão de roedores e serpentes – animais com características biológicas que os tornam mais aptos a hospedar patógenos capazes de saltar para humanos. São animais de ciclo de vida curto, reprodução intensa, resistência populacional e grande mobilidade, exatamente o oposto das espécies ameaçadas de extinção.

A pesquisadora chama atenção também para um problema metodológico: como muitas análises se baseiam em bancos de dados como o GenBank, há um viés estrutural na produção de conhecimento. Patógenos que já infectaram humanos são extremamente superestimados nos estudos, enquanto outras espécies potencialmente perigosas seguem praticamente ignoradas. Essa distorção reduz a capacidade preditiva da ciência e limita estratégias de vigilância.

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Bruno Kelly/Amazônia Real/Wikimedia Commons

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Keesing propõe testar previsões antigas, revisitar modelos utilizados e ampliar os grupos de patógenos estudados, para além de coronavírus e vírus similares. Para ela, conservar e restaurar ecossistemas deve ser encarado como uma política de saúde pública, tão crucial quanto desenvolver novos medicamentos ou monitorar surtos. Biodiversidade estável funciona como uma barreira ecológica, reduzindo a presença e a circulação de animais que carregam patógenos de maior risco.

A conferência também abriu espaço para uma leitura mais ampla sobre ciência, desenvolvimento e educação. Em sua fala, Marcelo Viana, diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), mostrou como a formação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) transforma economias. Estudos internacionais apresentados por ele revelam a força da matemática em setores econômicos estruturantes. Viana destacou uma pesquisa realizada pelo programa Itaú Social, com apoio do IMPA, que mediu pela primeira vez o peso das profissões da área no PIB brasileiro: 4,6%, com salários 119% maiores que a média nacional. A comparação com países como França e Austrália indica um potencial gigantesco ainda não explorado.

Para reduzir esse abismo, surgiu o Impa Tech, inaugurado em 2024 no Rio de Janeiro. A instituição oferece a primeira graduação ligada ao IMPA, com foco explícito em impulsionar carreiras de alta complexidade matemática. A seleção, feita com base no desempenho em olimpíadas científicas, forma estudantes que seguem por trilhas como ciência de dados, física, matemática e computação.

No campo institucional, o evento destacou o papel decisivo da FAPESP no fortalecimento científico do Estado de São Paulo. Em sua fala de abertura, o presidente da fundação, Marco Antonio Zago, reforçou que a produção científica consistente não depende apenas de grandes investimentos, mas de estabilidade financeira contínua. Isso torna possível apoiar projetos de longo prazo, formar redes colaborativas e atrair pesquisadores de diferentes regiões e países – pilares que explicam a trajetória das Escolas Interdisciplinares, hoje celebradas como um dos espaços mais dinâmicos de intercâmbio acadêmico no Brasil.

Oswaldo Baffa Filho, da FFCLRP-USP, reforçou que o evento funciona como um laboratório vivo de interdisciplinaridade, reunindo participantes de todas as regiões brasileiras e pesquisadores internacionais. Ao lado de Baffa, também estiveram presentes lideranças como Carlos Graeff, do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, Marcio de Castro, diretor científico da fundação, e Norma Reggiani, do Instituto Principia.

Do encontro emergiu uma narrativa clara: compreender pandemias futuras exige mais do que ciência médica. Exige ecologia, matemática, políticas públicas, colaboração internacional e, sobretudo, a preservação da biodiversidade. Quanto mais se destrói o tecido vivo do planeta, mais vulnerável se torna a saúde humana.

Ciência e saber tradicional se unem pela saúde dos oceanos

Durante as últimas três décadas, os debates climáticos internacionais fracassaram em conectar elementos que, na prática, existem como um único sistema: clima, solo, rios, oceanos e as próprias pessoas que dependem deles. A análise fragmentada desses componentes, segundo Patrícia Suárez, integrante da Fundação Gaia Amazonas, ajudou a agravar os impactos das mudanças climáticas e dificultou a construção de respostas capazes de enxergar a Terra como um organismo interligado. Representante de 64 comunidades indígenas e membro do Instituto Interamericano de Pesquisa sobre Mudanças Globais, Suárez defendeu, na COP30, que a integração entre ciência moderna e conhecimento tradicional não é apenas desejável, mas uma condição básica para compreender o que está acontecendo com os oceanos e suas relações com a Amazônia.

Sua fala ocorreu em um painel realizado no Pavilhão do Oceano, promovido pelo Programa FAPESP para o Oceano Atlântico Sul e Antártica (PROASA), que reuniu especialistas de instituições globais para discutir como avançar a ciência oceânica num mundo em rápida transformação climática. Suárez lembrou que á água que alimenta a Amazônia nasce no oceano, percorre as florestas, se infiltra no solo e retorna para o mar em um ciclo contínuo. É por isso que, para ela, proteger os oceanos envolve entender também os territórios onde os povos indígenas vivem e atuam como guardiões. Eles observam o ambiente diariamente, compreendem suas dinâmicas e cultivam uma convivência que, quando interrompida, produz consequências desastrosas.

Essa interdependência entre os sistemas naturais e culturais foi reforçada por Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e coordenador do PROASA. Turra avaliou que a própria ciência é parcialmente responsável pela visão fragmentada do oceano. Pesquisadores, afirma ele, muitas vezes trabalham em compartimentos estanques, comunicam-se de maneira restrita e constroem dados e análises que não dialogam adequadamente com outros campos. Para construir políticas eficazes, é essencial reconhecer os limites dessa abordagem e avançar para práticas científicas que reúnam múltiplos sistemas de conhecimento, incluindo o tradicional.

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Foto: Daniel Antônio/Fapesp

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No PROASA, essa mudança já começou. As pesquisas apoiadas pelo programa têm sido estruturadas a partir de processos de construção conjunta com comunidades tradicionais, valorizando metodologias que integram informação científica, observação local e narrativas de povos e comunidades costeiras. Turra argumenta que essa interligação não é apenas um gesto político, mas um caminho metodológico necessário para compreender um oceano submetido a pressões simultâneas e interdependentes, como acidificação, aumento da temperatura, colapso de estoques pesqueiros e perda de biodiversidade.

A urgência de uma ciência transdisciplinar foi destacada também por Megha Sud, diretora científica do Conselho Internacional de Ciência (ISC). Sud chamou atenção para o fato de que os oceanos, da mesma forma que as florestas, são partes essenciais da regulação climática global. Enxergá-los como elementos isolados tem sido um equívoco recorrente. Segundo ela, ainda é comum que projetos oceânicos sejam concebidos como estudos pontuais ou iniciativas isoladas, que ignoram vínculos com questões sociais, políticas e ambientais. Uma ciência realmente transdisciplinar exige a definição conjunta de problemas, envolvendo comunidades locais, governos e formuladores de políticas públicas, além da cocriação de soluções.

Lorna Inniss, chefe da subcomissão regional da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco, apresentou iniciativas que procuram traduzir essa integração científica para ações práticas. Uma delas envolve a parceria com a Rede de Observação Pesqueira, por meio da qual serão instalados instrumentos de baixo custo em barcos de pesca para coletar dados sobre o oceano. À medida que circulam pelo mar, esses barcos produzirão informações essenciais para melhorar previsões de furacões, mapear zonas de pesca e compreender padrões oceânicos ainda pouco registrados. Para isso, os pescadores serão capacitados a operar e analisar os dados coletados.

Mostrar como o oceano influencia diretamente a saúde pública também pode ampliar a compreensão social sobre sua importância, destacou Paulo Gadelha, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Para ele, a percepção de que a crise climática pode desencadear emergências sanitárias — como proliferação de doenças, insegurança alimentar e contaminação hídrica — torna o oceano um eixo estratégico para narrativas que conectam ciência, políticas públicas e cotidiano da população. Trazer a saúde para o centro do debate pode ampliar o alcance das discussões sobre conservação marinha.

No conjunto, o painel deixou uma mensagem inequívoca: sem integrar ciência, saberes tradicionais e participação comunitária, nenhuma estratégia para proteger os oceanos será capaz de lidar com a complexidade da crise climática. Construir essa convergência, afirmaram os participantes, é a tarefa central da próxima década para quem trabalha com o oceano — e para quem vive dele.

Mazzucato defende união entre Estado empreendedor e social

Em um dos debates mais aguardados da Zona Verde da COP30, em Belém, a economista Mariana Mazzucato, professora da University College London, defendeu que o século 21 exige uma transformação profunda na forma como os países organizam seu aparato estatal. Para ela, não basta fortalecer um Estado empreendedor ou ampliar o Estado de bem-estar social. O desafio, agora, é combinar os dois modelos e fazê-los trabalhar juntos em torno de problemas que ameaçam diretamente a vida coletiva, como a crise climática.

O argumento central de Mazzucato — reconhecida internacionalmente por sua defesa de políticas públicas orientadas por missões — é direto: governos do mundo inteiro falham não por falta de recursos, mas por falta de prioridades. Ela critica narrativas segundo as quais países, especialmente os mais ricos, alegam limitações orçamentárias para justificar a ausência de investimentos em saúde, clima ou inovação sustentável. Na visão da economista, essas barreiras são artificiais. Quando há vontade política, afirma, as nações encontram meios para financiar o que consideram essencial.

O conceito de bem comum ocupa o centro de sua reflexão. Diferente da ideia tradicional de bem público, geralmente tratada na economia como uma falha de mercado que o Estado precisa corrigir, o bem comum é construído coletivamente. Ele nasce do que comunidades valorizam, preservam e compartilham. Por isso, segundo Mazzucato, nenhuma teoria econômica moderna é capaz de acessá-lo com a profundidade que o conhecimento indígena oferece há séculos. Colocar esse conhecimento no centro das decisões de governo, da economia e dos sistemas de inovação seria, para ela, uma virada histórica — e urgente.

A fala da economista dialogou intensamente com outros participantes do painel, reforçando que a transformação do desenvolvimento econômico passa, necessariamente, pela maneira como se reconhece o papel dos povos originários. Para André Baniwa, consultor de medicinas indígenas da Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, o modelo econômico vigente ignora deliberadamente os serviços ecossistêmicos prestados pelas comunidades indígenas. Essa chamada economia invisível, diz ele, sustenta rios, florestas e lagos, mas raramente é contabilizada nas contas nacionais. O resultado é uma profunda assimetria: aquilo que garante a manutenção de ecossistemas inteiros permanece sem reconhecimento e sem remuneração.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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Essa crítica também orienta a perspectiva da iniciativa Amazônia+10, liderada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e apoiada pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP). O representante da iniciativa, João Reis, destacou que a sociobioeconomia — conceito que integra biodiversidade, conhecimento tradicional e desenvolvimento territorial — só se sustenta quando cria condições para que comunidades locais liderem os processos. Por isso, os projetos apoiados pela Amazônia+10 são conduzidos, obrigatoriamente, por pesquisadores e instituições sediadas na Amazônia Legal, garantindo protagonismo regional e conexão direta com saberes tradicionais.

Reis enfatizou, porém, que transformar esse modelo em um mercado de bioeconomia real exige romper com a lógica puramente mercantil. Para muitas cadeias produtivas, o mercado não consegue compreender a natureza coletiva, espiritual e territorial da produção tradicional. E impor esse paradigma, alertou, provocaria rupturas culturais e econômicas graves.

A professora Nirvia Ravena, da Universidade Federal do Pará, ampliou essa discussão ao afirmar que o processo de institucionalização dos conhecimentos tradicionais não pode ser conduzido de fora para dentro. São os povos indígenas que devem definir como seus saberes serão reconhecidos, regulados e protegidos — e não o Estado nacional ou o mercado. Para Ravena, a verdadeira inovação está justamente nas práticas originárias, que já demonstraram ser capazes de sustentar a floresta e criar alternativas de economia de baixo impacto muito antes que o debate climático ganhasse visibilidade global.

O encontro, marcado por falas convergentes e críticas profundas, deixou um recado claro: as soluções para a crise climática não surgirão de modelos econômicos tradicionais, mas da capacidade de reimaginar o papel do Estado, de reorientar prioridades e, sobretudo, de reconhecer que a inovação mais transformadora pode vir justamente de quem mantém a floresta em pé.

Cientistas declaram inviável a meta de 1,5°C do clima

A cada novo relatório científico, a distância entre as ambições do Acordo de Paris e o comportamento real das emissões globais parece crescer. O documento mais recente do Global Carbon Project, divulgado durante a COP30, reforça esse descompasso ao projetar que, em 2025, o mundo atingirá um novo recorde de dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis. Para os mais de 130 cientistas envolvidos no estudo, o quadro já não deixa margem para ilusões: manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C não é mais plausível.

Essa conclusão, longe de ser apenas mais um alerta, representa uma inflexão profunda na narrativa climática internacional. Durante anos, a meta de 1,5°C funcionou como bússola moral, parâmetro rigoroso e ao mesmo tempo mobilizador. Agora, diante do avanço contínuo das emissões, ela se transforma em um horizonte que retrocede à medida que caminhamos. O relatório estima que as emissões de 2025 cheguem a 38,1 bilhões de toneladas de CO₂, um volume suficiente para empurrar a concentração atmosférica para cerca de 425,7 partes por milhão — um aumento de 52% em relação ao período pré-industrial. É como se o planeta operasse em modo de aquecimento permanente.

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O pesquisador Pierre Friedlingstein, do Global Systems Institute da University of Exeter, sintetiza o problema de forma direta: o orçamento de carbono que restava para respeitar o limite de 1,5°C será esgotado antes de 2030. Trata-se de um ponto de não retorno estatístico, não metafórico. Se nada mudar, o mundo se encaminha para um aquecimento de pelo menos 1,7°C — agora visto pelos cientistas como uma meta mais crível, embora indesejável.

A situação se agrava porque os sumidouros naturais de carbono — florestas, solos, oceanos — demonstram sinais de enfraquecimento. O relatório aponta que cerca de 8% da elevação na concentração de CO₂ desde 1960 decorre da redução da eficiência desses ecossistemas em absorver o gás. Um planeta que perde a capacidade de se autorregular coloca humanidade e biodiversidade em um território climático desconhecido.

No campo das emissões fósseis, há uma contribuição negativa vinda de todas as principais matrizes energéticas: carvão deve crescer 0,8%, petróleo 1% e gás natural 1,3%. A aviação internacional, que ainda se recupera da queda causada pela pandemia, deve aumentar suas emissões em 6,8% — mais um indicador de que a retomada econômica global vem acompanhada de padrões de mobilidade intensivos em carbono. O transporte marítimo tende a se manter estável, mas em um patamar ainda alto.

O desmatamento permanece como uma das frentes mais preocupantes. As emissões associadas à derrubada e queima de florestas giram em torno de 4 bilhões de toneladas anuais, embora processos de regeneração e reflorestamento compensem aproximadamente metade desse total. Ainda assim, trata-se de uma dinâmica de perdas e ganhos que evidencia o quanto a proteção de biomas naturais é central para qualquer tentativa de evitar um cenário climático mais turbulento.

As projeções por país mostram uma tendência desigual. Nos Estados Unidos, as emissões devem subir 1,9%, revertendo a queda dos últimos anos. A União Europeia, apesar de investimentos robustos em energia renovável, também deve registrar leve aumento, de 0,4%. China e Índia continuam em trajetória ascendente, embora com taxas menores do que as observadas recentemente, o que reflete tanto avanços das renováveis quanto condições climáticas atípicas, como monções mais intensas que reduziram a demanda por refrigeração.

O Japão surge como exceção, com queda projetada de 2,2%. No restante do mundo, a previsão é de aumento de 1,1%. O mosaico global revela um padrão comum: a velocidade da transição energética está aquém da velocidade do aquecimento.

O relatório funciona como um retrato incômodo e urgente, lembrando que, embora o limite de 1,5°C tenha se tornado inalcançável, o futuro ainda não está resignado ao pior cenário. A diferença entre 1,7°C, 2°C ou mais será definida pelas escolhas políticas, econômicas e tecnológicas dos próximos anos. Os números são drásticos, mas também iluminam uma direção: cada fração de grau ainda importa.

OMS diz que crise climática já ameaça hospitais e cobra ação urgente pelo Plano de Saúde de Belém na COP30

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Governo do Brasil fizeram um alerta contundente nesta sexta-feira (14): a crise climática já desencadeou uma emergência global de saúde — e o mundo não tem mais tempo a perder. O aviso aparece no relatório especial sobre saúde e mudança climática, lançado durante a COP30, que acontece em Belém (PA).

Segundo a OMS, mais de 540 mil pessoas morrem por ano devido ao calor extremo, e cerca de 1 em cada 12 hospitais do planeta corre risco de paralisação por impactos climáticos. A publicação reforça a necessidade de implementar, com rapidez, o Belém Health Action Plan, apresentado oficialmente no Health Day da COP30, em 13 de novembro.

“A crise climática é uma crise de saúde — não no futuro, mas agora”, alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.


Relatório mostra que sistemas de saúde já estão colapsando

Com as temperaturas globais acima de 1,5°C em relação ao período pré-industrial, os impactos sobre a saúde se intensificaram. O relatório aponta:

  • 3,3 a 3,6 bilhões de pessoas vivem em regiões altamente vulneráveis ao clima.

  • Hospitais enfrentam 41% mais risco de danos ligados a desastres naturais do que em 1990.

  • Sem descarbonização rápida, o número de unidades de saúde sob ameaça pode dobrar até 2050.

A OMS lembra ainda que o próprio setor de saúde é responsável por 5% das emissões globais e precisa de uma transição urgente para sistemas de baixo carbono.


Planos nacionais são insuficientes e ignoram desigualdades

O relatório identifica lacunas graves:

  • Apenas 54% dos planos nacionais de adaptação avaliam riscos às unidades de saúde.

  • Menos de 30% dos estudos consideram recortes de renda.

  • Apenas 20% incluem perspectiva de gênero.

  • Menos de 1% contempla pessoas com deficiência.

Para especialistas, isso compromete a capacidade dos países de proteger quem mais sofre com ondas de calor, secas, enchentes e doenças agravadas pelo clima.

“Investir em saúde é a decisão mais inteligente. Apenas 7% do financiamento global de adaptação já seria suficiente para proteger bilhões de pessoas”, defende Nick Watts, presidente do grupo consultivo que coordenou o relatório.


Belém reúne evidências e caminhos práticos para a adaptação

Entre os avanços recentes, a OMS destaca a expansão dos sistemas de alerta antecipado: entre 2015 e 2023, o número de países com mecanismos multirrisco dobrou, chegando a 101. Ainda assim, apenas:

  • 46% dos Países Menos Desenvolvidos contam com sistemas funcionais;

  • 39% dos Pequenos Estados Insulares possuem estrutura adequada.

O documento reforça que o mundo já tem dados, modelos e exemplos suficientes para agir de imediato.


Brasil lança relatório complementar focado em participação social

O Ministério da Saúde apresentou também o relatório “Participação social, clima e saúde”, que integra a implementação do Plano de Belém. O foco é garantir:

  • governança participativa;

  • inclusão de comunidades vulneráveis;

  • políticas que considerem desigualdades estruturais.

“A COP da Verdade expõe evidências claras: o clima já está pressionando sistemas de saúde. Precisamos agir agora”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.


O que é o Belém Health Action Plan

O plano, um dos pilares da presidência brasileira da COP30, está estruturado em princípios de:

  • equidade em saúde,

  • justiça climática,

  • liderança com participação social.

E propõe três eixos de ação:

  1. Vigilância e monitoramento
    – Consolidar sistemas que integrem dados climáticos e epidemiológicos.

  2. Políticas e capacitação baseadas em evidências
    – Fortalecer a capacidade de resposta de estados e municípios.

  3. Inovação, produção e saúde digital
    – Estimular tecnologias e soluções adaptadas a populações diversas.


Países são chamados a integrar saúde ao centro da agenda climática

A OMS e o Brasil pedem que governos incorporem metas de saúde nos:

  • NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas);

  • Planos Nacionais de Adaptação;

  • investimentos em infraestrutura resiliente;

  • transição de baixo carbono com economia de recursos direcionada para a saúde.

Segundo a OMS, só com ações coordenadas — e com participação ativa de comunidades tradicionais, mulheres, jovens e populações marginalizadas — será possível proteger vidas em um planeta que aquece rapidamente.


FUP exige protagonismo dos trabalhadores na transição energética

A COP30, realizada em Belém, tornou-se um palco onde diferentes mundos que orbitam a crise climática finalmente se cruzam: governos, cientistas, comunidades tradicionais e, de forma cada vez mais assertiva, trabalhadores da indústria energética. Entre essas vozes, a da Federação Única dos Petroleiros (FUP) ganhou destaque ao reivindicar um lugar central na formulação das políticas que guiarão a transição energética brasileira.

Para a FUP, a transição não pode ser construída como um arranjo técnico isolado em gabinetes ou fóruns multilaterais. Ela deve ser moldada a partir das experiências de quem sustenta historicamente o setor energético do país: os trabalhadores do petróleo e do gás. Segundo a entidade, excluir essa dimensão social da equação gera projetos frágeis, desconectados das realidades regionais e incapazes de produzir justiça econômica ao mesmo tempo em que busca justiça climática.

Durante o painel A ação sindical no Sul Global por uma transição energética justa e popular, que contou com a presença do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, apresentou propostas que vão além do discurso tradicional sobre descarbonização. O ponto de partida é claro: nenhuma transição será justa se provocar desemprego em massa, precarização do trabalho ou perdas de direitos. Ao contrário, ela deve abrir portas para capacitação profissional, inovação tecnológica e empregos capazes de sustentar dignidade.

Nesse sentido, a FUP propõe a construção de um plano estratégico nacional que envolva os trabalhadores desde a concepção até a implementação. Esse plano incluiria programas de qualificação contínua, alianças com universidades e institutos técnicos e mecanismos de transição ocupacional para garantir que a mão de obra atual possa migrar para setores de baixo carbono sem sofrer rupturas abruptas. A entidade defende, ainda, que os investimentos públicos e privados em energias renováveis e novas tecnologias priorizem cadeias produtivas nacionais, fortalecendo o desenvolvimento regional, especialmente em áreas dependentes da economia petrolífera.

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Bruno Peres/Agência Brasil

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Para Bacelar, a crise climática oferece, paradoxalmente, uma oportunidade histórica. Ela escancara as fragilidades do modelo de mercado tradicional e permite pensar um novo projeto nacional de desenvolvimento, capaz de combinar segurança energética, inovação industrial e inclusão social. A transição, segundo ele, não deve ser apenas verde, mas soberana: um caminho que reduza vulnerabilidades externas e fortaleça a autonomia brasileira em matéria de energia.

Esse raciocínio se conecta diretamente ao posicionamento da FUP sobre a exploração da Margem Equatorial. O tema, alvo de intensos debates ambientais e políticos, aparece para a entidade como um ponto estratégico para evitar o aumento da dependência de importados no médio e longo prazo. Para a federação, o desafio é construir um modelo de exploração que seja ambientalmente responsável, socialmente justo e compatível com os compromissos climáticos — algo que, segundo Bacelar, só se alcança com forte regulação estatal, transparência e adoção do regime de partilha.

A defesa da Margem Equatorial, no entanto, não é apresentada como contraponto às energias renováveis. A FUP insiste que uma transição realista exige um período de coexistência entre diferentes matrizes, com planejamento gradual e políticas claras para que a redução do uso de combustíveis fósseis ocorra sem colapsos econômicos regionais. Nas palavras de Bacelar, não se trata de negar a urgência climática, mas de enfrentar o desafio sem sacrificar trabalhadores e sem comprometer a segurança energética nacional.

Ao levar suas propostas para a COP30, a FUP tenta deslocar o eixo das discussões. Em vez de uma transição conduzida apenas por metas e indicadores internacionais, a entidade propõe uma transição enraizada na realidade social brasileira, capaz de reduzir desigualdades ao mesmo tempo em que amplia a participação do país na economia de baixo carbono. A mensagem que ecoa de Belém é contundente: sem trabalhadores, não há transição; sem justiça social, não há futuro energético sustentável.

Quilombolas tomam a cena no Rio e reivindicam centralidade climática

O Rio de Janeiro se torna, neste 15 de novembro, o palco de um movimento raro, necessário e carregado de urgência: a primeira Cúpula das Vozes Quilombolas pelo Clima. Enquanto as atenções globais se concentram em Belém, onde ocorre a COP30, lideranças quilombolas do estado do Rio e de outras regiões do país se reúnem na Fundição Progresso para reivindicar algo básico, porém historicamente negado — o direito a serem vistas, ouvidas e reconhecidas como protagonistas na proteção do território e na luta contra a crise climática.

O encontro, organizado pela Acquilerj e pela organização Koinonia, surge da constatação de que a agenda ambiental internacional ainda permanece marcada por assimetrias profundas. Questões centrais para os povos quilombolas, mesmo quando relacionadas diretamente à conservação da biodiversidade e ao enfrentamento dos impactos ambientais, raramente aparecem com peso equivalente às pautas de outros grupos tradicionais. Não por falta de contribuição, mas por falta de visibilidade.

Essa crítica é reforçada por Ana Gualberto, diretora executiva de Koinonia, que aponta para a estrutura de debates globais que tende a privilegiar narrativas ocidentais, técnicas e distanciadas da realidade vivida pelas comunidades negras tradicionais. Para ela, reconhecer o papel essencial de todas as comunidades tradicionais é mais que uma questão de justiça; é uma condição para compreender a complexidade do território brasileiro e sua biodiversidade, que se sustenta justamente na pluralidade de modos de vida.

Os números do Censo 2022 deixam clara a dimensão dessa presença: mais de 1,3 milhão de quilombolas vivem espalhados por 1,7 mil municípios brasileiros. No estado do Rio de Janeiro, embora apenas três territórios apareçam oficialmente titulados, a Acquilerj identifica 54 comunidades quilombolas consolidadas, somando cerca de 20 mil pessoas. A distância entre o reconhecimento formal e a realidade vivida simboliza o centro da reivindicação que move o encontro: sem território garantido, nenhum outro direito se sustenta.

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Gilvani Scatolin/ISA/Direitos Re

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A titulação é a chave que abre ou fecha portas. É ela que permite o acesso regular à água potável, ao saneamento básico, a serviços de saúde e educação consistentes, e à preservação da memória e das práticas culturais que definem o modo de vida quilombola. Mas, acima de tudo, é a titulação que assegura a permanência no território frente às constantes pressões externas — das investidas de grandes empresas à especulação imobiliária que avança sobre áreas de preservação e zonas históricas. Sem esse reconhecimento, as comunidades seguem vulneráveis a processos de expulsão silenciosos, mas devastadores.

A Cúpula Quilombola nasce, portanto, como um gesto político e simbólico. Para a presidente da Acquilerj, Bia Nunes, o evento se tornou imprescindível diante da previsão de um esvaziamento da participação quilombola na COP30. O que poderia ser mais um momento de invisibilidade se transformou em oportunidade: criar um espaço próprio de fala, resistência e afirmação. Um lugar em que as vozes quilombolas não são convidadas eventuais, mas eixo central da discussão.

A expectativa dos organizadores é que as conclusões e mensagens do encontro atravessem a distância física até Belém e reverberem entre as autoridades reunidas na COP30. A defesa é direta: qualquer política climática séria no Brasil precisa reconhecer e fortalecer as comunidades quilombolas, que já desempenham um papel concreto na proteção de sua biodiversidade e na manutenção dos ecossistemas. Se hoje muitos desses territórios permanecem preservados, isso se deve justamente à atuação cotidiana dessas comunidades, que cuidam do ambiente enquanto enfrentam pressões externas e a persistente ausência de políticas públicas efetivas.

Ao reunir lideranças, pesquisadores, representantes da Defensoria Pública da União e o público interessado, a cúpula busca não apenas denunciar, mas produzir caminhos. Caminhos que articulem justiça climática, direitos territoriais e reconhecimento histórico. Caminhos que mostrem ao país que, sem a inclusão das vozes quilombolas, nenhum debate ambiental será verdadeiramente completo.