As reações à organização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, motivaram uma resposta direta do ministro do Turismo, Celso Sabino, durante o programa Bom Dia, Ministro, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em entrevista a emissoras de rádio, ele afirmou que parte das críticas à preparação do evento em Belém expressa um padrão cultural brasileiro que classificou como síndrome de vira-lata, a tendência de considerar que tudo o que é feito fora do país é superior ao que se realiza internamente.
Segundo o ministro, a reação negativa ignora que a COP realizada no Pará apresenta avanços concretos em relação a edições anteriores. Para ele, o debate público por vezes se fixa em expectativas inalcançáveis, sem reconhecer o esforço logístico envolvido. Sabino lembrou que as obras estruturantes foram entregues dentro do cronograma e que o mercado local de hospedagem ajustou preços após negociações com autoridades e setores da economia. O ministro argumentou que esses elementos demonstram maturidade organizacional e reforçam a capacidade do país de sediar grandes eventos multilaterais.
Durante a entrevista, Sabino situou Belém dentro de um contexto geográfico e climático que, segundo ele, deveria ser visto como força e não obstáculo. A capital paraense é porta de entrada da maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, e carrega características integradas à realidade amazônica, como altas temperaturas, umidade intensa e desigualdades históricas. Para o ministro, realizar uma conferência global nesse cenário é, justamente, alinhar o debate climático à realidade concreta de quem vive na floresta e enfrenta diariamente os efeitos das mudanças ambientais.
A fala reforçou um argumento recorrente do governo federal: a ideia de que políticas internacionais de proteção ambiental dependem de investimentos reais nas populações amazônicas. Sabino sublinhou que manter a floresta em pé exige oferecer alternativas de renda e perspectivas de desenvolvimento econômico, intelectual e político às comunidades que a habitam. Para ele, esse é o grande desafio global: compreender que a preservação depende de oportunidades concretas para quem está no território e vive sob as dinâmicas socioambientais da região.

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Além disso, o ministro destacou que sediar a COP em Belém produz um simbolismo importante para o debate ambiental. Em vez de discutir a Amazônia a milhares de quilômetros de distância, a conferência acontece no centro de onde os impasses ambientais se manifestam. Isso, na avaliação de Sabino, altera a forma como delegações internacionais percebem as urgências climáticas, aproxima o mundo das realidades amazônicas e visibiliza a complexidade do bioma, que combina riqueza ecológica, desafios urbanos e desigualdades estruturais.
Para além da defesa do evento, Sabino pareceu sugerir que o Brasil precisa reconfigurar a maneira como enxerga seu próprio papel internacional. Em sua avaliação, ainda existe uma resistência interna em reconhecer avanços quando eles são feitos dentro do país. Essa postura, segundo ele, enfraquece o debate público e compromete a construção de autoestima nacional necessária para enfrentar desafios globais como a crise climática.
Ao defender Belém e a organização da COP30, o ministro do Turismo apontou que o evento pode deixar um legado mais profundo que obras ou investimentos pontuais. Ele argumentou que o encontro representa uma chance de alterar narrativas sobre a Amazônia, deslocando a região do lugar de vulnerabilidade para o de protagonista das soluções climáticas. Essa mudança narrativa, aliada a investimentos estruturantes, poderia gerar um novo ciclo de desenvolvimento que integre preservação e economia.
A fala de Sabino também expõe uma tensão permanente no debate climático: a distância entre expectativas globais e condições locais. Realizar uma conferência em uma metrópole amazônica é, em si, uma escolha política que revela as contradições, urgências e potências da região. Ao mesmo tempo, evidencia que a transição ecológica não pode ignorar desigualdades históricas nem romantizar a vida na floresta.
Ao finalizar a entrevista, o ministro reiterou que a COP30 deve ser reconhecida não apenas como um evento internacional sediado no Brasil, mas como um marco simbólico na relação entre desenvolvimento, floresta e população amazônica. Para ele, compreender a relevância desse encontro demanda abandonar comparações automáticas com padrões externos e reconhecer a complexidade do território brasileiro.






















































