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ONU repercute indígenas bloqueiam entrada da COP30 e exigem ação do governo brasileiro

A COP30 viveu mais um momento de tensão nesta sexta-feira (14), quando cerca de 90 indígenas do povo Mundurukubloquearam a entrada principal da Blue Zone, área exclusiva para negociadores, em Belém (PA). Segundo informações divulgadas pelas Nações Unidas, o protesto foi pacífico e interrompeu o acesso ao local por aproximadamente uma hora, exigindo reforço de segurança por parte do Exército.

Os Munduruku, que vivem nos estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso, cobram a suspensão imediata de projetos e atividades extrativas que ameaçam seus territórios — especialmente nas bacias dos rios Tapajós e Xingu, regiões pressionadas por garimpo, hidrelétricas e avanço do agronegócio.


Protesto é “legítimo”, afirma direção da COP30

A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, classificou a manifestação como “legítima” e informou que representantes do movimento foram encaminhados para diálogo direto com as ministras Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima).

Toni destacou que esta é a COP com maior participação indígena na história: mais de 900 representantes estão credenciados — número três vezes maior que o registrado na última conferência em Baku, no Azerbaijão.

“O Brasil tem uma democracia forte, que permite diversas formas de protesto. Trazer a COP para a Amazônia foi uma escolha justamente para ouvir essas vozes”, afirmou.


Jovens indígenas reforçam urgência: “Estamos aqui por quem não pode estar”

Para jovens lideranças indígenas, a manifestação é um alerta sobre a gravidade da situação nas aldeias e a importância de ocupar espaços de decisão.

A pernambucana Amanda Pankará disse ao serviço de notícias da ONU que a COP30 amplia a visibilidade das pautas indígenas, mas reforça que ainda há grande defasagem de participação:

“Temos muito a contribuir. Estamos reivindicando direitos básicos: terra, vida, futuro. Estar aqui é representar quem não conseguiu chegar. Somos a barreira de proteção e queremos ser ouvidos.”

O chileno Emiliano Medina, do povo Mapuche, afirmou que protestos como esse têm se repetido em diversos países:

“É uma forma de mostrar onde as políticas falham. As comunidades já vivem as consequências diretas da crise climática.”


COP na Amazônia dá novo peso à pressão indígena

Segundo a ONU, muitos líderes presentes classificaram a COP30 como a conferência climática mais inclusiva de que já participaram.

Ana Toni reforçou que sediar o evento em Belém — e não em capitais como Brasília ou São Paulo — foi uma escolha política para garantir maior presença dos povos que vivem no centro da crise climática.

Ela também afirmou que novas manifestações devem ocorrer ao longo dos dias.

“A COP na Amazônia existe para ouvir essas demandas. Ignorar essas vozes seria negar o propósito do evento”, destacou.


Resumo do que a ONU relata sobre o protesto dos Munduruku

  • Cerca de 90 indígenas bloquearam a principal entrada da Blue Zone.

  • Acesso ao local ficou interrompido por aproximadamente 1 hora.

  • O Exército foi acionado para reforçar a segurança.

  • A manifestação pede o fim de projetos e atividades extrativas em territórios Munduruku.

  • Governo orientou lideranças a reuniões com Sônia Guajajara e Marina Silva.

  • A COP30 reúne mais de 900 indígenas, recorde histórico segundo a ONU.

  • Jovens indígenas afirmaram que o protesto representa “urgência e responsabilidade coletiva”.

  • A organização do evento vê a manifestação como parte legítima da democracia.

COP30: Brasil e Chile anunciam meta para reduzir energia no transporte até 2035

Durante a COP30, em Belém (PA), dez países firmaram um compromisso internacional para reduzir em 25% o consumo de energia do setor de transportes até 2035, em linha com o Acordo de Paris e o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Segundo a agência Argus, a coalizão é liderada pelo Chile e inclui Brasil, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Honduras, Noruega, Portugal, Eslovênia e Espanha.
O grupo pretende transformar o transporte em um dos pilares da ação climática global, com foco em eletrificação, biocombustíveis e inovação tecnológica.

“Estamos comprometidos em fazer do transporte um eixo central da ação climática”, disse Carlos Abogabir, ministro dos Transportes do Chile, durante coletiva na COP30. “Isso oferece um caminho mensurável rumo à neutralidade de carbono no setor até 2050.”


Meta: 25% menos energia até 2035

O setor de transporte é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, ficando atrás apenas da geração de energia elétrica.
A nova aliança busca estabelecer um roteiro global de descarbonização, com metas claras e verificáveis para redução de emissões e consumo energético.

De acordo com a organização SLOCAT, que promove a mobilidade de baixo carbono, o grupo trabalhará na criação de um plano de acompanhamento para medir o progresso até futuras conferências do clima.

“O transporte sustentável precisa de metas concretas, e este é um primeiro passo para isso”, afirmou a entidade em nota.


Chile puxa a eletrificação — e o Brasil, os biocombustíveis

O Chile foi apontado pela Argus como líder natural da coalizão, por ser referência global em transporte público elétrico.
A capital Santiago é a cidade com o maior número de ônibus elétricos fora da China — cerca de 3 mil veículos em 2024, número que deve chegar a 4,400 até março de 2026, segundo Abogabir.

O Brasil, por sua vez, assume protagonismo na transição para biocombustíveis e energias renováveis.
De acordo com o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, o país deve aproveitar sua estrutura de produção de etanol, biomassa e biometano para alinhar o setor de transportes às metas globais.

“O Chile nos procurou exatamente por causa do Belem 4x, nossa proposta de quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035”, afirmou Barbalho à Argus.

Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) apontam que o país poderá atingir 2,4 milhões de m³/dia de capacidade de biometano até 2027, considerando projetos em operação e em fase de implantação.


Belem 4x: o novo eixo climático da COP30

O Belem 4x Pledge, lançado pelo governo brasileiro, propõe quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis em nível global até 2035.
Segundo Ana Toni, CEO da COP30, 23 países já aderiram à iniciativa, que agora se conecta ao novo pacto de transporte liderado pelo Chile.

“A união desses dois compromissos coloca América Latina e Europa na dianteira da transição energética no setor de transportes”, afirmou Toni durante coletiva em Belém.

A meta conjunta pretende impulsionar eletrificação de frotas, uso de biocombustíveis avançados, combustíveis sintéticos e hidrogênio verde, além de incentivar infraestrutura de recarga e logística sustentável.


Transporte como peça-chave do clima

Para analistas ouvidos pela Argus, o novo pacto representa um avanço estratégico na tentativa de alinhar setores econômicos à meta de 1,5°C.
O transporte responde por cerca de 25% das emissões globais de CO₂, e a eletrificação de frotas é considerada essencial para cumprir a neutralidade de carbono até 2050.

“Este é o tipo de ação concreta que a COP30 precisava gerar”, afirmou um pesquisador da SLOCAT Partnership. “O foco saiu do discurso e passou para a implementação — algo raro nas COPs anteriores.”


Resumo: os principais pontos do pacto climático de transporte

  • 🌎 Liderança: Chile e Brasil

  • 🚗 Meta principal: Reduzir em 25% o consumo de energia do transporte até 2035

  • 🔋 Foco: Eletrificação, biocombustíveis e eficiência energética

  • 🌱 Integração com Belem 4x: Quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis

  • 🌍 Signatários: Chile, Brasil, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Honduras, Noruega, Portugal, Eslovênia e Espanha

  • 📊 Próximo passo: Criar roteiro de monitoramento e expansão até a COP31

Imac completa 39 anos com modernização e avanço ambiental

O Instituto de Meio Ambiente do Acre, o Imac, chega aos seus 39 anos celebrando mais que uma data simbólica. A autarquia aproveita o marco para reafirmar seu papel central na política ambiental do estado, consolidado ao longo de décadas como uma instituição que busca equilibrar desenvolvimento econômico, proteção dos ecossistemas e participação da sociedade. Criado em 1986, o Imac evoluiu de órgão executor de licenciamento para referência amazônica em governança, transparência e modernização na gestão ambiental.

Sua atuação tem sido determinante para estruturar políticas públicas que mantêm o Acre como um dos estados que tratam a pauta climática não apenas como obrigação, mas como oportunidade de desenvolvimento sustentável. O instituto opera em diversas frentes simultâneas: licenciamento de atividades rurais, industriais e de infraestrutura, monitoramento ambiental, fiscalização e educação ambiental. Essa amplitude de atribuições faz do Imac peça fundamental para garantir que investimentos públicos e privados ocorram respeitando limites ecológicos e legais.

A inauguração da nova sede, entregue em 2025, simboliza o esforço do governo em fortalecer a governança ambiental. O prédio de mais de 3,6 mil metros quadrados recebeu investimentos totais de aproximadamente R$ 8,8 milhões, resultado da parceria entre o governo estadual, via Tesouro, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, por meio do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Acre. O governador do Acre, Gladson Cameli, destacou que a estrutura moderniza o atendimento e oferece melhores condições de trabalho aos servidores, fortalecendo a capacidade estatal de acompanhar o ritmo das transformações produtivas do estado.

a8925468-0e60-411c-8b87-596e5417045e-1024x576-1-400x225 Imac completa 39 anos com modernização e avanço ambiental
Foto: Uêslei Araújo/Sema

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A modernização, porém, não se limita à infraestrutura física. Em junho, o instituto lançou o S-Imac, sistema digital que permite protocolar e acompanhar pedidos de licenciamento ambiental de forma remota. A plataforma representa um salto na relação entre empreendedores e o poder público ao reduzir deslocamentos, ampliar a transparência dos processos e acelerar o tempo de resposta. O novo sistema atende desde empreendimentos de grande porte até atividades de pequeno impacto, abarcando licenças como Prévia, Instalação, Operação e Licença Ambiental Única. Esse avanço contribuiu para que, nos últimos quatro anos, o número de licenças expedidas crescesse 80%.

A modernização também alcançou as regionais do Imac, que atuam em todo o estado por meio das representações Alto Acre, Purus, Envira, Tarauacá e Juruá. Equipamentos como drones, computadores e notebooks — adquiridos com recursos próprios da autarquia, do Fundo Amazônia e do Fundo Especial do Meio Ambiente — reforçam o trabalho de campo e qualificam a análise técnica dos processos.

A educação ambiental permanece como eixo central da estratégia do instituto. Em parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, equipes percorrem escolas, comunidades rurais e instituições públicas para levar informação sobre conservação, uso sustentável dos recursos naturais e impactos das mudanças do clima. Segundo a presidência do Imac, fiscalizar é essencial, mas educar transforma. A formação de uma cultura coletiva de responsabilidade ambiental é vista como condição para reduzir infrações, ampliar a prevenção e fortalecer a governança.

Os resultados dessa estratégia integrada aparecem nos indicadores. O Acre registrou reduções expressivas no desmatamento recente, alcançando em 2023–2024 o menor incremento desde 2018. O combate às queimadas também avançou: entre janeiro e setembro de 2025, o número de focos caiu 73% em comparação ao mesmo período do ano anterior. As ações de fiscalização da Divisão de Controle Ambiental, realizadas em conjunto com a Casa Civil e outros órgãos estaduais, combinam operações aéreas, monitoramento contínuo e atendimento a denúncias.

Ao completar 39 anos, o Imac projeta um futuro em que a gestão ambiental continue sendo instrumento de desenvolvimento. A autarquia se coloca como guardiã do patrimônio natural acreano e como articuladora de soluções que conectam conservação, inovação e inclusão produtiva. Nesse caminho, reforça a ideia de que desenvolvimento sustentável não é um conceito abstrato, mas uma prática diária construída com técnica, diálogo e visão de longo prazo.

Sect lança cartilha e reforça governança fundiária na COP30

A presença da Secretaria de Estado das Cidades e Territórios do Amazonas (Sect) na COP30, em Belém, reforçou a mensagem de que governança fundiária não é apenas um tema administrativo, mas um eixo estruturante da sustentabilidade amazônica. Em um contexto global que discute justiça climática, preservação e novos modelos de desenvolvimento, a regularização de terras aparece como pilar essencial para garantir segurança jurídica, estabilidade territorial e incremento socioeconômico em regiões historicamente vulneráveis.

Durante os dias 12 e 13 de novembro, a Sect integrou a programação oficial e lançou a Cartilha de Regularização Fundiária, desenvolvida em cooperação com o Consórcio Interestadual da Amazônia Legal. A iniciativa chega em um momento simbólico: a Amazônia vive pressão crescente sobre seus territórios, e os estados da região têm buscado alinhar políticas ambientais, sociais e econômicas sob uma mesma agenda.

A secretária Renata Queiroz destacou que participar da COP30 representa um marco na gestão conduzida pelo governador Wilson Lima, que vem trabalhando para aproximar regularização fundiária e sustentabilidade ambiental. Segundo ela, pensar em titulação de terras sem considerar clima, biodiversidade e inclusão social já não condiz com os desafios contemporâneos. Em sua leitura, governança territorial é, ao mesmo tempo, uma política climática e uma política de direitos.

A Cartilha lançada apresenta um panorama acessível sobre instrumentos legais, ferramentas operacionais e experiências dos estados da Amazônia Legal. Sua proposta é funcionar como um guia que apoia gestores, técnicos e organizações sociais na construção de políticas mais ágeis, transparentes e integradas. O documento também pretende harmonizar normas entre diferentes estados, fortalecer a cooperação institucional e oferecer subsídios para prevenir e combater ilícitos fundiários e ambientais — um dos grandes entraves para a segurança territorial e a preservação de áreas sensíveis.

WhatsApp-Image-2025-11-13-at-12.46.23-400x285 Sect lança cartilha e reforça governança fundiária na COP30
FOTOS: Divulgação/Sect e Assessoria de Comunicação do Consórcio Amazônia Legal

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A elaboração do material envolveu especialistas e representantes de órgãos estaduais e federais. Entre os idealizadores, estão membros do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal, como o presidente do grupo, o governador Helder Barbalho, além de equipes técnicas lideradas pelo secretário executivo Marcello Brito, pela diretora executiva Vanessa Duarte, pelo coordenador setorial de governança fundiária Bruno Kono, pelo coordenador de parcerias Pedro Firmo e pela assessora Beatriz Créspo Casado, com revisão de Rafaelle Silva.

O documento também reúne contribuições de presidentes de terras e secretários de vários estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins — reforçando a ideia de que regularização fundiária exige unidade política, técnica e regional.

A Sect participou ainda da reunião da Associação dos Órgãos de Terra, realizada na Green Zone da conferência, onde foram discutidos os principais eixos da política fundiária nacional. O encontro abordou mecanismos de integração entre estados e governo federal, além de estratégias para acelerar a regularização — tema que se relaciona diretamente com metas climáticas e compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.

A COP30, principal conferência global sobre mudanças climáticas, tem dedicado atenção especial à Amazônia, tanto pela relevância do bioma quanto pelo papel dos povos indígenas, comunidades locais e da ciência produzida na região. O Governo do Amazonas participa do evento com representantes de diversas secretarias, buscando ampliar redes de cooperação, apresentar avanços e atrair parcerias.

Entre os objetivos estratégicos da conferência estão o fortalecimento do protagonismo brasileiro na agenda climática, o estímulo à inovação sustentável e a ampliação da participação da sociedade civil nas decisões. Nesse cenário, a regularização fundiária aparece como ponte entre o território e as políticas de clima: trata-se de organizar espaços, proteger quem neles vive e coibir práticas ilegais que impactam diretamente a floresta.

Ao lançar a Cartilha e participar dos debates, a Sect procurou afirmar que uma governança fundiária organizada não é apenas um requisito administrativo, mas uma base estruturante para promover desenvolvimento justo, atrair investimentos, gerar renda e reduzir conflitos. A mensagem presente em todas as agendas do Amazonas durante a COP30 foi clara: sem ordenamento territorial, não há futuro climático possível.

Amazonas na COP30: saúde climática com barco hospital e telessaúde

Durante a COP30, realizada em Belém (Pará), o Governo do Amazonas apresentou um conjunto de soluções pioneiras para enfrentar os impactos das mudanças climáticas no setor saúde — provando que coordenar clima e atendimento à população é mais do que urgente, é possível. A secretária de Estado de Saúde do Amazonas, Nayara Maksoud, subiu ao palco no painel “Plano de Adaptação do Setor Saúde à Mudança do Clima – AdaptaSUS” do Ministério da Saúde, e mostrou que no coração da Amazônia os riscos ambientais reforçam a necessidade de inovação estrutural.

O Amazonas, por sua extensão continental e a presença de populações ribeirinhas, demanda formas de atenção à saúde que fogem ao modelo tradicional urbano. É justamente essa realidade que o Estado abraça com iniciativas fluvi­ais, aeronáuticas e digitais. Entre os destaques apresentados por Nayara estava o Barco Hospital São João XXIII, que navega entre localidades isoladas levando consultas, exames, cirurgias e distribuição de medicamentos. A embarcação já registra mais de 140 mil atendimentos por ano, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), e é fruto de uma parceria com a Associação e Fraternidade Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, uma entidade religiosa comprometida com causas sociais.

Além do barco, o Amazonas apostou em atendimento aéreo para casos graves: uma UTI aérea garante a remoção de pacientes de municípios distantes para hospitais com maior capacidade de tratamento. Essa logística reforça a ideia de que, quando as águas sobem ou descem, a saúde não pode parar — exige planejamento climático e médico ao mesmo tempo.

Outra ferramenta urgente para adaptação climática é a tecnologia: por meio do programa Saúde AM Digital, a população tem acesso a consultas e diagnósticos por telemedicina. A SES-AM relata que pacientes usam o celular ou se deslocam até “telessalas” instaladas em unidades de saúde para fazer videochamadas e exames remotamente. As consultas cobrem especialidades como dermatologia, cardiologia, neurologia, pediatria e muitas outras, enquanto o telediagnóstico permite que os laudos de exames, como raios-X e eletrocardiograma, sejam emitidos rapidamente por médicos online.

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Foto: Divulgação/SES-AM

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A secretária Maksoud destacou ainda que a assistente virtual integrada ao WhatsApp — parte do Saúde AM Digital — tem papel central na redução do absenteísmo e no gerenciamento das filas: ela lembra os pacientes sobre exames, permite reagendamento ou cancelamento, e oferece a opção de teleconsulta. Segundo dados da SES-AM, essa automação reduziu a espera média por consulta de 100 para apenas 19 dias.

No painel da COP30, esses exemplos não foram apenas técnicos, mas narrativas poderosas de adaptação climática com justiça social. Nayara disse que levar saúde a quem vive longe dos centros urbanos é uma demonstração de equidade: “cuidar da Amazônia também é cuidar das pessoas que vivem nela”, afirmou. A estratégia é claramente interdisciplinar: não basta resistir à crise climática, é preciso transformar as estruturas de atendimento para responder a ela.

A SES-AM também reportou resultados concretos para seu sistema fluvial: algumas expedições do Barco Hospital já registraram mais de 3 mil atendimentos em apenas uma missão, com consultas médicas, odontológicas, exames, vacinas e cirurgias de baixa ou média complexidade. Esses dados servem para mostrar que a adaptação não é uma promessa futura, é prática cotidiana.

Durante a COP30, outra notícia relevante foi o lançamento, pelo Governo Federal, do Plano Mais Saúde Amazônia, uma iniciativa que se articula com a Agenda SUS para a Amazônia, priorizando cooperação regional e internacional para tornar os sistemas de saúde mais resilientes. Essa articulação amplia a narrativa: não basta proteger florestas, o desenvolvimento social e climático deve caminhar junto.

A visita de representantes do Ministério da Saúde ao Amazonas e a apresentação dessas tecnologias reforçam que o clima não é tema à parte: ele molda a forma como as comunidades devem ser atendidas. Além disso, a adoção de soluções fluviais, aéreas e digitais mostra que o Amazonas está na vanguarda da adaptação sistêmica ao clima.

A experiência apresentada pelo estado amazônico durante a COP30 é também uma mensagem para outros entes federados: quando se pensa a saúde, especialmente em regiões vulneráveis ao clima, inovar não é luxo — é necessidade. A combinação de barco hospital, UTI aérea, telessaúde e inteligência virtual representa uma arquitetura de cuidados moldada pela natureza, pela cultura e pela tecnologia.

Al Gore visita Parque da Bioeconomia e exalta o Vale Bioamazônico

A presença de Al Gore no Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, em Belém, foi mais do que uma visita de cortesia durante a COP30 da UNFCCC. Para o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, referência internacional na agenda climática, o que se desenha no Pará é um laboratório vivo de um novo modelo de desenvolvimento: o Vale Bioamazônico, uma estratégia que combina ciência, inovação, saberes tradicionais e valorização econômica da floresta em pé.

A recepção foi conduzida pelo governador do Governo do Pará, Helder Barbalho, que tem apresentado o Parque como uma das principais vitrines da transição econômica amazônica. Instalado nos armazéns 5 e 6 do complexo Porto Futuro, às margens da Baía do Guajará, o espaço abriga laboratórios, áreas de formação profissional e programas de fomento à bioeconomia, onde convivem pesquisadores, startups, empreendedores comunitários e iniciativas voltadas ao uso sustentável da biodiversidade.

A visita teve caráter simbólico e, ao mesmo tempo, estratégico. Gore, um dos responsáveis por colocar as mudanças climáticas no centro do debate público global, revelou entusiasmo com a proposta construída pelo Estado. O que ele viu no Parque pareceu contrastar radicalmente com as imagens da Amazônia que moldaram suas visitas anteriores ao Brasil.

Em suas palavras, o que se ergue hoje no Pará é uma narrativa de esperança sobre a floresta. Ele afirmou que apresentará ao mundo o modelo que está sendo consolidado no Estado, reconhecendo que o Vale Bioamazônico demonstra como prosperidade econômica e proteção ambiental podem caminhar juntas. Para Gore, o que surgia antes como símbolo da destruição começa agora a ser visto como plataforma de futuro.

As falas otimistas de Gore foram acompanhadas de um reconhecimento público da mudança de trajetória observada na Amazônia. “É muito inspirador. Nas últimas visitas, a narrativa dominante era a da destruição. Agora vejo uma abordagem que une emprego, tecnologia e floresta viva”, declarou. O entusiasmo, segundo ele, o fará voltar mais vezes ao Estado.

Enquanto conduzia o visitante pelos espaços do Parque, Helder Barbalho reforçou que o Vale Bioamazônico se inspira em histórias de transformação econômica já consolidadas no mundo, mas com uma assinatura própria. Helder lembrou a recente visita de Gavin Newsom, governador da Califórnia, e comparou os caminhos que cada região trilhou para se tornar referência em inovação. A Califórnia construiu o Vale do Silício a partir dos chips; a Amazônia, nas palavras do governador, possui outro tipo de riqueza estratégica: as moléculas, a biologia, o patrimônio genético e cultural da maior floresta tropical do mundo.

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Foto: Marco Santos / Ag. Pará

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A menção à Califórnia não é fortuita. O Vale do Silício tornou-se símbolo de um ecossistema capaz de combinar pesquisa acadêmica, capital de risco e empreendedorismo. O Vale Bioamazônico busca adaptar essa lógica à realidade amazônica, mobilizando universidades, centros de pesquisa, empreendedores sociais e as próprias comunidades tradicionais. A ambição é transformar conhecimento e biodiversidade em soluções escaláveis para os desafios climáticos, alimentares e farmacêuticos do século XXI.

O Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, peça-chave dessa estratégia, funciona como um núcleo integrador entre saberes científicos e conhecimentos locais, mobilizando juventudes urbanas e populações tradicionais. Ali, tecnologias de ponta convivem com inovações ancestrais que há séculos sustentam modos de vida nas florestas. Essa interseção é considerada, pelo governo e por pesquisadores, o diferencial que pode posicionar o Pará como referência global no campo da bioeconomia.

A visita também reforçou a intenção do Estado de consolidar um ambiente de negócios capaz de atrair investimentos de impacto, estimular cadeias produtivas sustentáveis e diversificar oportunidades de renda para os povos da floresta. Para especialistas, a presença de figuras globais como Al Gore ajuda a abrir portas, ampliar visibilidade e integrar o Pará a debates e redes internacionais de inovação climática.

Ao final da visita, o saldo político e simbólico apareceu evidente: o Vale Bioamazônico deixou de ser apenas um projeto em construção e passou a circular como modelo potencial de transformação econômica e ambiental. E, ao prometer divulgar ao mundo o que viu em Belém, Al Gore não apenas validou a estratégia, mas reforçou o papel do Pará como protagonista na construção de uma economia baseada na vida da floresta — e não em sua destruição.

Pará inicia certificação global e avança no mercado de carbono

O Governo do Pará abriu um novo capítulo na construção de uma economia baseada na preservação florestal ao entregar, durante a COP30 da UNFCCC, a documentação técnica exigida pelo padrão internacional ART TREES — hoje uma das principais referências mundiais para certificar reduções de emissões em larga escala. Com esse envio, o Estado inicia oficialmente o processo de certificação internacional das 38 milhões de toneladas de CO₂ evitadas em 2023 e avança para a etapa de validação independente, fundamental para acessar o mercado global de créditos de carbono em escala jurisdicional.

O Documento de Registro e o Relatório de Monitoramento foram elaborados pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS) e entregues em Belém, durante um evento que reuniu o governador Helder Barbalho, autoridades estaduais, representantes de povos e comunidades tradicionais e o ministro da Noruega para Clima e Meio Ambiente, Andreas Bjelland Eriksen.

Ao anunciar o envio da documentação ao ART TREES, Helder Barbalho destacou que o Pará chega a essa etapa apoiado em bases técnicas robustas, em um sistema de governança amadurecido e em resultados mensuráveis de redução de emissões. Para ele, apresentar dados concretos e verificáveis reforça a credibilidade do sistema jurisdicional paraense e demonstra ao mercado que o Estado está apto a operar com rigor científico e transparência.

A construção desse sistema não ocorreu de forma isolada. Ela contou com apoio direto da Iniciativa Internacional de Clima e Florestas da Noruega (NICFI), que aportou R$ 42 milhões ao programa. Os recursos financiaram análises técnicas essenciais e, sobretudo, as 47 Consultas Livres, Prévias e Informadas realizadas junto a povos indígenas, comunidades quilombolas, agricultores familiares e extrativistas — etapa que fortaleceu a legitimidade social do sistema e assegurou o cumprimento dos princípios internacionais de participação.

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Foto: Marco Santos / Ag. Pará

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Presente à cerimônia, o ministro Andreas Eriksen ressaltou que o Pará avança com uma combinação rara de ambição climática, transparência e inclusão social. Para ele, a metodologia adotada pelo Estado demonstra maturidade e compromisso com a mitigação real das emissões, além de reconhecer que a conservação das florestas depende diretamente da proteção das populações que as mantêm vivas.

Raul Protázio, secretário da SEMAS, reforçou que o envio da documentação marca a consolidação de três pilares: base técnica sólida, governança estruturada e ampla escuta social. Segundo ele, esse é o tripé que sustenta a integridade do programa e fundamenta uma futura repartição de benefícios alinhada ao papel essencial das comunidades que contribuem para a preservação florestal.

Os dados do Estado revelam o tamanho do potencial em jogo. O Pará abriga 86 milhões de hectares de florestas — cerca de 17,7% da cobertura florestal brasileira — e tem apresentado resultados consistentes de mitigação. Apenas em 2023, foram evitadas 38 milhões de toneladas de CO₂ quando comparadas à média histórica entre 2018 e 2022. Para o período 2023–2027, a projeção é de cerca de 260 milhões de toneladas reduzidas ou evitadas, o que posiciona o Estado entre as jurisdições com maior potencial de oferta de créditos de carbono de alta integridade no mundo.

Com a entrega dos documentos ao ART TREES, inicia-se agora a etapa de Validação e Verificação Independente — última fase técnica antes da certificação formal. A expectativa do governo é que o sistema esteja plenamente operacional em 2026, com apoio da Companhia de Ativos Ambientais do Pará (CAAP), responsável por estruturar e comercializar os ativos ambientais do Estado.

Ao final do evento, o governador Helder Barbalho destacou que a política de carbono do Pará tem uma meta clara: transformar a preservação florestal em oportunidades sociais e econômicas reais. Segundo ele, o sistema jurisdicional não é apenas uma estratégia climática, mas parte de um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia — um modelo que remunera povos indígenas, quilombolas, extrativistas e agricultores familiares, fortalecendo a floresta em pé e contribuindo para o cumprimento das metas globais de clima.

Irrigação em SAFs do Xingu vira referência na COP30

O avanço dos sistemas agroflorestais irrigados na região do Xingu ganhou nova projeção internacional durante a programação oficial da COP30. A apresentação do projeto conduzido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), órgão vinculado ao Governo do Pará, colocou no centro do debate climático um modelo que combina adaptação ambiental, geração de renda e restauração florestal dentro da agricultura familiar amazônica.

O painel que apresentou a iniciativa integrou o debate “Transformação de Realidades Socioeconômicas e Climáticas na Agricultura Familiar”, reunindo técnicos, pesquisadores e lideranças locais envolvidas diretamente no território. A proposta foi mostrar como o Projeto PROSAF-Xingu vem reconstruindo paisagens degradadas, ao mesmo tempo em que fortalece a economia de famílias que historicamente tiveram pouco acesso a tecnologias adequadas ao contexto amazônico.

A mediação foi realizada pela analista ambiental Poliana Cardoso, que abriu o debate destacando a urgência de soluções capazes de responder ao novo regime climático da Amazônia. Participaram também as analistas ambientais Maria das Chagas e Nayara Dias; o gerente do Escritório Regional do Xingu, Israel Oliveira; e o pesquisador Robert Davenport, especialista em sistemas agroflorestais no Brasil.

Ao apresentar o histórico da atuação regional, Maria das Chagas explicou que o PROSAF-Xingu tem desempenhado papel decisivo na transição produtiva de famílias que antes dependiam de práticas pouco rentáveis e ambientalmente frágeis. Segundo ela, o esforço de reflorestamento aliado à implementação de SAFs irrigados transformou comunidades que antes enfrentavam ciclos constantes de perda de produtividade por causa da irregularidade das chuvas.

Nayara Dias complementou ao destacar a relevância da assistência técnica continuada. Para ela, a adoção de novos modelos produtivos não ocorre por decreto, mas por aprendizagem coletiva e valorização dos saberes comunitários. Esse processo, segundo a técnica, ampliou a autonomia das famílias e consolidou práticas de sociobioeconomia que hoje ganham visibilidade internacional.

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Foto: Rodrigo Pinheiro / Ag.Pará

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Em sua intervenção, Israel Oliveira apresentou números e interpretações que ajudam a compreender o impacto estratégico do projeto. Ele destacou que a irrigação, quando integrada aos sistemas agroflorestais, fortalece a política ambiental do Estado ao unir produtividade, conservação e justiça climática. Para Israel, o modelo altera o cálculo econômico da região: pequenas áreas tornam-se mais produtivas e lucrativas do que propriedades dedicadas à pecuária extensiva, tradicionalmente dominante no Xingu. Essa mudança abre espaço para cadeias florestais de maior valor agregado, como cacau e açaí, que hoje aparecem como motores de uma economia mais resiliente.

Israel ressaltou ainda que a adoção de irrigação responde diretamente às mudanças no regime hídrico da Amazônia, cada vez mais marcado por longos períodos de estiagem. As ações de entrega de mudas, capacitação técnica e apoio à instalação dos sistemas nas propriedades têm sido fundamentais para mitigar os impactos da instabilidade climática. Para ele, ver o projeto reconhecido na COP30 reforça que o Pará está entre os protagonistas na construção de alternativas reais para o bioma.

No campo científico, Robert Davenport apresentou estudos recentes que comprovam o salto de produtividade obtido com a irrigação dos SAFs. Segundo o pesquisador, o Xingu se converteu em um “laboratório vivo”, onde ciência, inovação tecnológica e conhecimento tradicional se articulam. Seus dados indicam que propriedades irrigadas respondem melhor a eventos extremos e apresentam maior estabilidade produtiva, fator essencial para famílias que dependem da agricultura como principal fonte de renda.

Davenport destacou também o trabalho conjunto com a Associação dos Produtores Rurais e Urbanos Carlos Pena Filho (APRUCAPEFI) — um dos exemplos mais emblemáticos de transformação territorial apoiada pelo PROSAF-Xingu. Maria das Chagas relatou que, antes do projeto, muitas famílias enfrentavam dificuldades para manter lavouras durante períodos de seca. Hoje, com apoio técnico e organização comunitária, participam ativamente da recuperação de áreas degradadas e da reestruturação do mosaico florestal regional.

Ao final do painel, Israel Oliveira reforçou que o reconhecimento obtido em Belém não se trata apenas de visibilidade política, mas de validação de uma metodologia que poderá orientar políticas públicas em toda a Amazônia. Para ele, o modelo de irrigação em SAFs aplicado no Xingu demonstra que é possível conciliar desenvolvimento econômico com conservação florestal e justiça climática. Segundo afirmou, essa experiência marca um caminho concreto para ampliar investimentos, fortalecer cadeias produtivas sustentáveis e replicar soluções em outros territórios do bioma amazônico.

China reafirma cooperação global na COP30 em Belém

Enquanto a COP30 se desenrola em Belém, uma voz diplomática da China anunciou que o país trabalhará com todas as partes para gerar “resultados positivos e equilibrados” na governança climática global. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, reafirmou que o princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, seguirá orientando o engajamento chinês no enfrentamento das mudanças climáticas.

Guo enfatizou que, uma década após a assinatura do Acordo de Paris, o regime internacional de ação climática entra numa fase decisiva. Nesse contexto, a China se coloca como um ator “executor prático”, conforme suas próprias palavras, e assinala que apoiará o Brasil na presidência da COP30. Segundo ele, a cooperação entre Norte Global e Sul Global não é opcional: “todos nós estamos a bordo do mesmo navio”. A metáfora revela uma estratégia explícita de inclusão de países em desenvolvimento, justificando o papel que a China deseja ocupar.

Além disso, Guo mencionou o papel de Ding Xuexiang — integrante do comitê central do Partido Comunista da China (PCCh) e vice-primeiro-ministro — como representante especial do presidente Xi Jinping. Ding participou da Cúpula do Clima em Belém e fez declarações que, segundo Guo, impuseram uma “direção certa” para o esforço internacional: converter compromissos em ações concretas, aprofundar a abertura e intensificar a cooperação.

Do lado técnico, a China revelou números expressivos: segundo Guo, o país deslocou sua política energética para alcançar o pico de emissões e a neutralidade de carbono como prioridades nacionais. Ele relatou que 70% dos equipamentos de energia eólica e 80% dos componentes fotovoltaicos fabricados no mundo têm origem chinesa, o que teria permitido quedas nos custos globais de geração renovável de mais de 60% e 80%, respectivamente. Com uma estrutura institucional descrita como “a mais sistemática e completa” para redução de emissões, a China reforça seu argumento de liderança prática.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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O discurso vai além da autoproclamação: ele insere a China num quadro de cooperação global, no qual as nações devem agir em conjunto, respeitando diferenças históricas e capacidades distintas. Essa narrativa ecoa em Belém, onde o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou que a China está desenvolvendo soluções que beneficiam a todos. O objetivo declarado: não deixar que apenas países desenvolvidos definam o rumo, mas assegurar que o Sul Global possa assumir protagonismo.

Vale ressaltar que a ausência de um enviado de alto nível dos Estados Unidos na COP30 é interpretada por analistas como um indicativo da mudança de eixos no debate climático. Para Guo e para o conjunto de diplomatas chineses, isso reforça a necessidade de cooperação entre economias emergentes e em desenvolvimento. A mensagem é que o futuro da governança do clima depende menos de promessas solenes e mais de práticas robustas e replicáveis.

Sob esse prisma, o compromisso chinês — anunciado por Guo — assume três dimensões: diplomática, industrial e tecnológica. Diplomática porque reafirma o princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas; industrial porque demonstra o peso da produção chinesa de equipamentos renováveis; tecnológica porque mostra que a China está disposta a converter escala de produção em redução de custos e acesso global.

Para além da retórica, esse momento da COP30 simboliza uma virada: os países tradicionais do Norte Global passam a ser desafiados pelo dinamismo do Sul. A China coloca-se não apenas como engenheira da própria transição, mas como facilitadora de mecanismos de cooperação que possam viabilizar essa transição em outras partes do mundo. A referência à liderança do Sul Global não é retórica vazia — é parte de uma narrativa meticulosamente construída.

É importante observar que os compromissos chineses não se limitam a metas relativas ou de intensidade; Guo lembrou que a China apresentou pela primeira vez uma meta de redução absoluta de emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores econômicos. Esse passo, segundo ele, demonstra a “determinação firme e esforço máximo” do país.

Enquanto o mundo observa e debate políticas e tecnologias, as ruas de Belém refletem uma engrenagem maior: a mobilidade elétrica, os leilões de carbono, as cooperações Sul-Sul, as importações de equipamentos renováveis e, sobretudo, a redefinição de quem dita os rumos do planeta. A China, mais do que nunca, não aparece apenas como participante, mas como protagonista no palco climático global. E a COP30, ao apropriá-la de instrumentos como os veículos elétricos chineses ou os cofres da ação industrial, confirma que a agenda climática está em plena mutação.

Veículos elétricos chineses marcam presença na COP30

O início da COP30, em Belém, trouxe uma cena simbólica sobre o rumo da transição energética no Brasil: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à conferência a bordo de um SUV elétrico fabricado pela montadora chinesa BYD. O gesto marcou mais do que a abertura oficial do encontro climático; mostrou como a mobilidade elétrica deixou de ser promessa e se tornou ferramenta diplomática, econômica e ambiental.

Os veículos da BYD, projetados especialmente para atender às demandas da conferência, integram a frota oficial ao lado dos modelos da também chinesa Great Wall Motor. Ambas foram selecionadas para transportar chefes de Estado, delegações internacionais e visitantes pelas ruas de Belém durante o evento. A cena reforça a presença sólida e cada vez mais estratégica da China no mercado de veículos elétricos da América Latina.

A expansão chinesa no Brasil não começou com a COP30. Em outubro de 2025, a BYD celebrou a produção do seu 14º milhão de veículos de nova energia na fábrica de Camaçari, na Bahia, considerada a maior unidade da empresa fora da Ásia. O marco contou com a presença do presidente Lula e simboliza um novo capítulo da industrialização verde brasileira. Já a Great Wall Motor instalou suas operações no espaço antes ocupado pela Mercedes-Benz, sinalizando uma mudança industrial em direção a tecnologias limpas.

A transformação não passou despercebida internacionalmente. O jornal norte-americano The New York Times destacou que a aproximação do Brasil com montadoras chinesas envia um recado claro sobre o tipo de parceria buscada para a transição energética: cooperação tecnológica, investimento produtivo e inovação industrial. Em outras palavras, o Brasil aposta que o futuro de sua mobilidade sustentável está ligado ao avanço chinês no setor.

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Ricardo Stuckert / PR

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Mas o contexto geopolítico da COP30 trouxe outro elemento inesperado. Pela primeira vez em três décadas, os Estados Unidos não enviaram representantes de alto nível à conferência. A ausência foi interpretada por muitos como sinal de retração política em um momento decisivo do debate climático global. Para Scott Kennedy, consultor sênior do Center for Strategic and International Studies (CSIS), isso não impede o avanço da agenda. Sua análise é direta: o mundo está progredindo mesmo sem a liderança tradicional dos EUA no campo tecnológico e climático.

Enquanto isso, a China reforça sua postura internacional ao publicar o relatório “Pico de Carbono e Neutralidade de Carbono: Planos e Soluções da China”, documento que reafirma seu compromisso com o multilateralismo, com a cooperação entre países e com práticas concretas de governança climática. Para o governo chinês, não há saída individual para a crise climática — apenas alianças capazes de articular ciência, tecnologia e políticas públicas de grande escala.

A presença dos veículos elétricos chineses na COP30 é apenas uma face dessa cooperação. Eles servem como demonstração prática das soluções que já estão em curso. Silenciosos, livres de emissões e movidos por tecnologia consolidada, os veículos que circulam por Belém durante a conferência simbolizam um futuro possível: cidades mais limpas, cadeias industriais renovadas e uma economia que cresce com base em matrizes de baixo carbono.

Lula sintetizou esse caminho ao afirmar que o mundo precisa adotar um novo modelo de desenvolvimento — mais justo, resiliente e sustentável. A imagem do presidente chegando em um veículo elétrico não é apenas uma escolha logística, mas uma declaração política sobre qual direção o Brasil pretende seguir.

À medida que a COP30 avança, a mobilidade elétrica se consolida como um dos pilares da discussão global. E, ao contrário do que ocorria anos atrás, quando a transição parecia distante ou inacessível, hoje ela se apresenta como alternativa tangível. A queda contínua dos custos, a expansão das fábricas e a internacionalização das tecnologias tornam os veículos elétricos parte essencial de um futuro climático mais seguro.

Belém se torna, assim, palco de um encontro entre diplomacia, indústria e inovação. E enquanto os veículos elétricos percorrem a cidade, deixam para trás não apenas o silêncio característico dos motores elétricos, mas a impressão de que os caminhos para um futuro de baixo carbono estão, finalmente, ganhando velocidade.

Países unem forças para monitorar a Amazônia na COP30

Os países que compartilham a maior floresta tropical do mundo decidiram dar um passo conjunto para enfrentar um desafio que já ultrapassa fronteiras: monitorar a Amazônia de maneira integrada, contínua e tecnicamente robusta. O anúncio foi feito durante a COP30, em Belém, onde representantes de governos, cientistas e organizações multilaterais se reuniram para apresentar um novo projeto regional orientado pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

A iniciativa nasce com a ambição de unir dados científicos, ferramentas tecnológicas e capacidades locais dos oito países amazônicos. Para colocá-la de pé, o projeto contará com 55 milhões de reais do Fundo Amazônia, administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O financiamento será destinado ao fortalecimento dos sistemas nacionais de observação da floresta, ampliando mecanismos de prevenção ao desmatamento, incêndios e outros processos de degradação.

Ao explicar a lógica do programa, o etnólogo colombiano Martin von Hildebrand, secretário-geral da OTCA, destacou a indivisibilidade ecológica da região. Para ele, a Amazônia funciona como um organismo vivo, no qual cada área afeta o restante. A afirmação carrega não apenas um componente simbólico, mas científico: danos localizados podem desencadear efeitos amplos em um bioma que regula ciclos de água, temperatura e umidade em grande parte da América do Sul.

A OTCA reúne Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, formando um bloco intergovernamental voltado à cooperação ambiental e ao desenvolvimento sustentável na região que abriga cerca de 50 milhões de pessoas. A floresta amazônica, ao movimentar massas de vapor d’água que cruzam fronteiras, funciona como uma espécie de coração atmosférico continental.

Dentro do projeto, caberá ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) um papel central: transferir tecnologias já consolidadas no Brasil para os demais países amazônicos. Dados gerados por satélites, sistemas de alerta rápido e métodos de análise geoespacial serão compartilhados por meio de um painel técnico-científico em construção, que servirá como base para políticas relacionadas ao clima, à biodiversidade e à gestão de recursos naturais.

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A ministra brasileira do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, reforçou que o trabalho conjunto não se limita à produção de informação. Ela anunciou a criação de uma comissão permanente de ministros dos oito países para alinhar estratégias de combate aos crimes ambientais, especialmente aqueles que operam em redes transnacionais, como mineração ilegal e tráfico de fauna.

A harmonização metodológica aparece como um dos pilares do projeto. Cada país possui seus próprios sistemas, formatos de dados e protocolos de vigilância territorial. Para que a cooperação funcione, será necessário padronizar procedimentos e garantir interoperabilidade entre plataformas distintas. Uma das estruturas que ganhará mais força com essa integração é o Observatório Regional Amazônico (ORA), que já compila informações sobre biodiversidade, recursos hídricos, áreas protegidas, povos indígenas, queimadas e outros temas sensíveis.

Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES, explicou que unificar metodologias não significa impor modelos. A proposta, segundo ela, é construir uma arquitetura comum de dados capaz de enfrentar redes criminosas que operam na sombra da fragmentação institucional. Sem essa convergência, crimes transfronteiriços tendem a prosperar justamente onde os Estados se desencontram.

Hildebrand reforçou esse raciocínio ao alertar para a necessidade de visão integral. Informações isoladas, desconectadas da totalidade amazônica, perdem potência analítica e reduzem a eficácia das ações. O monitoramento integrado surge, assim, como uma resposta política, técnica e geoestratégica diante da pressão crescente sobre a floresta.

O novo projeto simboliza uma mudança na maneira como os países amazônicos enfrentam desafios comuns. Ao invés de respostas dispersas, aposta-se na construção de um olhar compartilhado sobre o território, capaz de antecipar riscos, orientar políticas e fortalecer instituições públicas. Em um cenário de mudanças climáticas aceleradas e aumento da vulnerabilidade socioambiental, esse tipo de articulação torna-se não apenas desejável, mas indispensável.

Onças da Jaguar Parade transformam Belém em galeria a céu aberto

A chegada das esculturas da Jaguar Parade ao Mangal das Garças, em Belém, transforma o parque em um cenário vibrante dedicado à proteção da onça-pintada e da floresta amazônica. De 14 a 16 de novembro, o espaço recebe parte do circuito artístico que tomou conta da cidade durante a COP30, com obras que misturam cor, imaginação e ativismo, aproximando público e mensagem ambiental. A iniciativa, idealizada pela produtora cultural Artery, reforça a importância de aproximar arte pública e conservação num momento em que os holofotes internacionais estão voltados para a Amazônia.

A exposição reúne cinquenta e duas esculturas de onças-pintadas, criadas em grande parte por artistas paraenses sob curadoria de Vânia Leal. É um conjunto que transforma referências regionais em peças de impacto visual, espalhadas por pontos estratégicos da capital até o dia 30 de novembro. As obras convidam moradores e visitantes a refletir sobre a ameaça crescente à espécie e aos ecossistemas que ela representa, especialmente em um período em que debates climáticos e socioambientais ganham força na cidade.

Das esculturas exibidas, quarenta e duas foram produzidas no Pará e duas vieram do Maranhão. As demais integram edições anteriores da Jaguar Parade, que já percorreu cidades como Nova York, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis e Paris, reunindo mais de 250 artistas ao longo de suas edições. A intenção é clara: usar o espaço urbano como vitrine para sensibilizar o público e mobilizar apoio à proteção da onça-pintada, o maior felino das Américas e um símbolo cada vez mais ameaçado.

Antes de ocupar o Mangal das Garças, as obras circularam por lugares emblemáticos da capital paraense, como o Portal da Amazônia, o Boulevard da Gastronomia, o Forte do Presépio, o Ver-o-Peso, o Ver-o-Rio, a Estação das Docas e a Ilha do Combu. Também passaram por praças históricas, como República, Batista Campos e Frei Brandão, além do Santuário de Nazaré. Em bairros periféricos, foram exibidas nas Usinas da Paz, ampliando o alcance territorial da mensagem ambiental. Nos shoppings Boulevard e Parque, aproximaram a arte do cotidiano de milhares de pessoas. Dez esculturas participaram ainda do Global Citizen Festival: Amazônia, e outras duas desfilaram na Varanda de Nazaré durante o Círio.

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Divulgação – Jaguar Parade

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A mobilização simbólica da Jaguar Parade ganha força com a participação de figuras públicas reconhecidas. A embaixadora da edição belenense, Dani Filgueiras, do canal Dani Viaja, se junta às madrinhas Gaby Amarantos, Fafá de Belém e Isabelle Nogueira para reforçar a necessidade de proteção da onça-pintada e das florestas que garantem sua sobrevivência. Artistas, jornalistas e criadores de conteúdo integram o grupo Amigos da Onça, que amplia o alcance da iniciativa, aproximando diferentes públicos da causa ambiental.

O impacto da exposição também se materializa no leilão beneficente das esculturas, realizado pela plataforma IArremate até 1º de dezembro. Os lances começam em cinco mil reais, e a arrecadação será destinada a instituições que atuam na conservação da onça-pintada e de seu habitat natural, entre elas Onçafari, Panthera, AMPARA Silvestre, SOS Pantanal, Instituto Libio e Instituto Peabiru, além da BNBRC.

A edição de 2025 é apresentada pela ISA Energia Brasil, com patrocínio premium de Itaú, BTG Pactual, Hydro, Suzano e Fairfax Seguros. O patrocínio diamante inclui Tintas Sherwin-Williams, Consigaz, Premier Pet, BRQ e Sotreq, além da Marfrig e BRF. A iniciativa também conta com o apoio do Shopping Boulevard e do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Cultura, em uma realização conjunta com o Ministério da Cultura via Lei Rouanet.

Ao ocupar o Mangal das Garças, a Jaguar Parade transforma o parque em um espaço de convivência, contemplação e consciência ambiental. A visita é gratuita, das 8h às 18h, e funciona como convite aberto para que moradores e visitantes experimentem a arte como ponte entre beleza e responsabilidade socioambiental.

Maranhão pressiona poluidores ricos por fundo climático global

O debate sobre financiamento climático voltou ao centro das atenções durante a COP30 em Belém, impulsionado por uma proposta direta e provocativa do governador do Maranhão, Carlos Brandão. Em meio às discussões sobre justiça ambiental e desigualdades na capacidade global de enfrentar a crise climática, o governador defendeu que grandes empresas poluidoras de países ricos deveriam contribuir de forma sistemática para um fundo internacional voltado ao financiamento de projetos sustentáveis em regiões vulneráveis.

Brandão argumenta que a lacuna de financiamento, constantemente apontada nos fóruns climáticos, não pode continuar sendo responsabilidade apenas de nações pobres ou em desenvolvimento, que enfrentam desafios históricos e limitações estruturais. Segundo ele, companhias gigantes dos setores de petróleo, carvão e gás, que historicamente contribuíram para a degradação ambiental global, deveriam destinar parte de seu faturamento a um mecanismo financeiro de escala internacional capaz de apoiar ações já estruturadas e novas iniciativas.

Para ele, a assimetria é evidente: empresas que enriqueceram com atividades altamente emissoras cobram resultados de países que ainda lutam para financiar seus próprios programas ambientais. O governador reforça que essas corporações já operaram e devastaram ecossistemas em seus territórios de origem e, por isso, deveriam assumir compromissos diretos com a restauração e a preservação em nível global. O fundo, segundo Brandão, permitiria aplicar recursos com transparência e previsibilidade, evitando o eterno ciclo de promessas que se renova a cada conferência climática.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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A presença do Maranhão na COP30 também teve outro objetivo: apresentar avanços recentes e projetos considerados estratégicos. Entre eles está a criação da primeira universidade indígena do Brasil, um marco educacional e cultural que nasce de uma parceria entre o Instituto Tukán, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão, a Universidade Estadual do Maranhão e o Ministério dos Povos Indígenas. A instituição será instalada na Terra Indígena Araribóia, no município de Amarante, e tem como missão fortalecer conhecimentos tradicionais, promover formação superior específica e conectar comunidades indígenas de diversas regiões do país.

O projeto foi desenhado a partir de um longo processo de escuta, que reuniu mestres tradicionais, lideranças, professores indígenas, pesquisadores e organizações locais. A iniciativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também aparece no contexto do estado, já que os dados da instituição colocaram o Maranhão na segunda posição nacional em queimadas em 2025, realidade que exige respostas urgentes.

Nesse esforço, o governo maranhense firmou acordos para obter investimentos e acelerar projetos ambientais. Entre eles está o convênio de US$ 100 milhões com a empresa suíça Mercuria, recurso oriundo de compensações de multas ambientais. Para Brandão, direcionar esses valores para ações efetivas é mais produtivo do que aplicar punições que acabam gerando entraves jurídicos e desgaste empresarial. O programa resultante já atua na recuperação de áreas degradadas em diversos municípios do estado, com distribuição de mudas de juçara e manejo de paisagens comprometidas.

Outra frente anunciada foi a criação de parques ecológicos nas cidades de Colinas, Pastos Bons e São Mateus, além do Complexo Ambiental em Atins. O estado também integra o projeto Regularização Ambiental através da Governança Fundiária e Ordenamento Territorial como Pilar para o Desenvolvimento Sustentável, financiado pelo Fundo Brasil ONU, pelo governo do Canadá e articulado pelo Consórcio de Governadores da Amazônia Legal, com apoio da ONU Brasil e do governo federal. O Maranhão receberá cerca de R$ 15 milhões para ações previstas até 2026.

No campo fundiário, o governo estadual afirma ter avançado significativamente, com quase 18.500 títulos entregues entre 2022 e 2025, além de regularização de territórios quilombolas. Mesmo assim, os conflitos no campo permanecem expressivos. Relatório da Comissão Pastoral da Terra aponta que o estado concentrou mais de um quinto das ameaças de morte em disputas por terra registradas no Brasil em 2024, reforçando a urgência de políticas ambientais aliadas à garantia de direitos territoriais.

Ao propor um fundo global financiado por poluidores, Brandão sintetiza um sentimento cada vez mais presente entre países e regiões periféricas: a transição climática não pode ser financiada somente por quem menos contribuiu para os estragos. A justiça climática, para se concretizar, exige redistribuição real de responsabilidades e recursos.

Vale e prefeito de Parauapebas travam embate em plena COP30

A tensão entre o prefeito de Parauapebas e a Vale ganhou novo capítulo durante a COP30, quando Aurélio Goiano afirmou publicamente que a mineradora “mente” e “deve bilhões” ao município. As declarações ecoaram entre autoridades, empresários e ativistas presentes no evento e rapidamente entraram na pauta nacional. Horas depois, a empresa respondeu de maneira firme, defendendo sua atuação e divulgando números destinados a sustentar sua versão dos fatos.

Segundo a mineradora, todas as acusações são infundadas. Em nota enviada ao portal Minera Brasil, a companhia afirmou cumprir rigorosamente suas obrigações fiscais e ressaltou que todos os processos relacionados ao recolhimento de impostos e royalties seguem a legislação brasileira e passam por escrutínio administrativo e judicial quando necessário. A empresa destacou especialmente os repasses de ISS e CFEM, duas das principais fontes de receita dos municípios mineradores.

A Vale informou que, entre 2020 e agosto de 2025, transferiu ao município cerca de 6 bilhões de reais em ISS e CFEM. Para a empresa, esse volume de recursos demonstra de forma inequívoca o peso econômico que suas operações têm para Parauapebas e para a região de Carajás. Ela reforça que o pagamento desses tributos é essencial para financiar áreas como educação, saúde, infraestrutura e habitação, que dependem diretamente da receita advinda da atividade mineral.

No campo econômico, a companhia também apresentou outros dados. De acordo com o comunicado, mais de 30 mil trabalhadores atuam nas operações da Vale em Parauapebas, somando empregos diretos e indiretos. Apenas no primeiro semestre de 2025, a empresa movimentou 4,5 bilhões de reais em compras realizadas junto a fornecedores locais, consolidando uma cadeia produtiva que, segundo ela, tem ajudado a ampliar a renda e fortalecer negócios da cidade.

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Foto: Vale/Divulgação

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Além do impacto fiscal e econômico, a mineradora buscou enfatizar ações sociais, culturais e de responsabilidade comunitária. Entre as iniciativas mencionadas estão o Centro Mulheres de Barro e eventos como o festival Bufalo’s Gourmet, o Toca Carajás e o projeto Orquestra Vai à Praça. A Vale afirma ter investido 72 milhões de reais em projetos sociais nos últimos cinco anos, somando ainda repasses por meio das leis de incentivo, como os 4,4 milhões de reais destinados ao Conselho do Idoso em 2021 e outros 4,4 milhões ao Fundo da Infância entre 2021 e 2024.

Em um momento em que a empresa busca reforçar sua presença institucional diante de pressões sociais e ambientais no território amazônico, esse tipo de investimento é apresentado como parte de um compromisso de longo prazo com o desenvolvimento local. A mineradora reitera que mantém canais institucionais de diálogo com o poder municipal e afirma que, apesar das declarações do prefeito, não houve qualquer recusa em abrir conversas formais.

A nota também menciona um ponto-chave para a narrativa da Vale: a assinatura, em setembro deste ano, de um termo de compromisso com a Prefeitura de Parauapebas, avaliado em 100 milhões de reais. O acordo, firmado publicamente, prevê aportes em infraestrutura, saúde, economia e serviços essenciais. A empresa cita esse documento como evidência de que suas relações com o município seguem estabelecidas de maneira institucional e transparente.

O embate expõe um cenário mais profundo do que a troca de farpas num evento internacional. Parauapebas é um dos epicentros da mineração no Brasil e tem sua dinâmica econômica, urbana e social diretamente moldada pela presença da Vale. Críticas recorrentes, vindas de setores da sociedade e da política local, apontam que os repasses financeiros e programas socioeconômicos não compensam os impactos ambientais e a dependência econômica que o modelo extrativista impõe. Já a empresa procura se posicionar não como antagonista, mas como protagonista do desenvolvimento regional, destacando tributos, empregos e investimentos sociais.

A COP30, dedicada a discutir caminhos globais para a descarbonização e a justiça climática, tornou-se palco de uma disputa por narrativas que atravessa economia, política e território. De um lado, a gestão municipal que reivindica mais recursos, mais diálogo e mais responsabilidade da mineradora. Do outro, a Vale reafirmando sua conformidade legal e seu peso econômico como pilares de sua legitimidade.

O resultado não encerra o conflito, mas revela a crescente pressão sobre grandes empresas a operar com transparência ampliada e com maior responsabilidade social. No caso de Parauapebas, cidade construída e transformada pela mineração, o debate sobre quem deve o quê — e quem entrega o quê — está longe de terminar.

Como a Hydro tenta vender alumínio verde em meio a conflitos

A tentativa da Norsk Hydro de associar seu nome ao chamado alumínio verde voltou ao centro do debate público no Pará. Enquanto a empresa norueguesa exibe discursos sobre sustentabilidade em ações ligadas à COP 30, comunidades tradicionais, pesquisadores e órgãos públicos apontam um histórico persistente de conflitos socioambientais envolvendo suas operações no estado. Para parte significativa da sociedade civil, a estratégia de comunicação da companhia se aproxima do greenwashing, prática de ocultar danos ambientais por meio de campanhas positivas.

Fundada em 1905, a Norsk Hydro opera no Pará por meio de diferentes frentes. A cadeia produtiva inicia na Mineração Paragominas — responsável por 11 milhões de toneladas de bauxita por ano — e segue para a refinaria Hydro Alunorte, considerada a maior do mundo fora da China. A etapa final ocorre na Albras, em Barcarena, onde o alumínio metálico é produzido. É no trajeto que liga Paragominas a Barcarena que se concentra um dos conflitos mais sensíveis: o mineroduto de 300 quilômetros que atravessa territórios indígenas e quilombolas.

Em 2024, associações representando povos Tembé, Turiwara, quilombolas e ribeirinhos denunciaram os impactos das obras de ampliação desse mineroduto, apontando devastação de rios e florestas, escassez hídrica e ameaça direta à subsistência das comunidades. As lideranças afirmam que a consulta prévia, garantida por convenções internacionais, não foi respeitada. O caso chegou ao Ministério Público Federal, que reforça que o empreendimento cruza territórios quilombolas e pode causar danos significativos à vida e à saúde das famílias. Mesmo assim, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará concedeu licenças consideradas irregulares pelo MPF por não incluírem estudos obrigatórios.

O conflito jurídico ganhou novos contornos quando a empresa recebeu uma multa de R$ 8,6 milhões do Ibama por supressão ilegal de 1.725 hectares de floresta amazônica — área equivalente a mais de dez parques Ibirapuera. A Hydro afirma possuir autorizações válidas da Semas e conseguiu, na Justiça Federal, suspender o embargo imposto pelo órgão federal enquanto o mérito do caso não é analisado. Ainda assim, imagens, relatórios e laudos técnicos apontam diferença marcante entre a cobertura vegetal de 2024 e 2025.

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Divulgação – Observatório da Mineração

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Ao mesmo tempo em que avança sobre territórios sensíveis e acumula contestações, a companhia investe em ações de imagem. A escolha da cantora Fafá de Belém como rosto da campanha voltada à COP 30 amplifica sua narrativa de sustentabilidade, enquanto patrocínios na imprensa e o apoio a eventos regionais — como a Semana do Clima da Amazônia — reforçam a presença da empresa em debates públicos estratégicos.

O governo do Pará, comandado por Helder Barbalho, mantém relação próxima com a Norsk Hydro. Incentivos fiscais concedidos desde 2015 somam R$ 7,5 bilhões, segundo estudos de universidades paraenses, ao mesmo tempo em que pesquisadores afirmam que tais isenções estão associadas ao aumento de desmatamento e emissões. A Sedeme e a Semas defendem a parceria como estratégica para a transição energética e a geração de empregos, enquanto movimentos sociais apontam que tais benefícios reforçam um modelo concentrador e pouco transparente.

Pesquisadores como Rosa Elizabeth Acevedo, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, afirmam que a narrativa verde da empresa tenta compensar um histórico de poluição e violações ambientais. Esse passado inclui decisões judiciais relacionadas a contaminações em Barcarena, entre elas a condenação da Hydro Alunorte ao pagamento de R$ 100 milhões por danos decorrentes de um transbordamento de rejeitos. Relatórios de órgãos ambientais e depoimentos de ribeirinhos reforçam que a empresa demorou a agir, dificultou a fiscalização e não tomou medidas preventivas diante de problemas estruturais conhecidos.

Mesmo sob forte contestação social, a Hydro mantém o discurso de conformidade legal, transparência e compromisso com comunidades e direitos humanos. A empresa publica relatórios seguindo padrões internacionais — como a GRI e diretrizes da ONU — e afirma que todos os processos passam por auditorias independentes. Também ressalta investimentos em reflorestamento, energia renovável e economia circular.

Para as populações atingidas, porém, a distância entre a retórica corporativa e a realidade cotidiana continua profunda. Seus manifestos descrevem perdas culturais, ambientais e espirituais, expressando a sensação de viver em permanente estado de violação. Em plena COP 30, quando o Pará se apresenta ao mundo como vitrine climática, o caso Hydro revela um embate fundamental: de um lado, a promessa de um alumínio mais limpo; de outro, a experiência concreta de povos que pagam o preço da mineração com suas terras, suas águas e seus modos de vida.

Raoni lidera Barqueata e convoca união pela Amazônia

Durante a Barqueata realizada no Guajará, em Belém, o histórico líder indígena Raoni Metuktire fez um apelo direto: somente a união entre povos indígenas e não indígenas poderá sustentar a defesa da Amazônia e oferecer ao mundo respostas reais para a crise climática. A travessia fluvial, que abriu oficialmente o Peoples’ Summit rumo à COP30, reuniu mais de cinco mil pessoas de 62 países num cortejo que transformou o rio numa declaração coletiva de resistência.

O amanhecer sobre as águas refletia centenas de embarcações, alinhadas em ritmo próprio, criando um gesto político que nasce da vida cotidiana dos povos da floresta. A Barqueata é mais do que um ato simbólico: é uma mensagem enviada ao planeta desde o território amazônico, reforçando que as soluções para o clima surgem de lugares onde a relação com a terra permanece viva.

Entre os participantes estava o cacique Raoni, acompanhado por Megaron Txucarramãe, Kokonã Metuktire e Iamut Metuktire. Vindos da chamada Caravan of the Response, que percorreu rios entre Santarém e Belém, eles reforçaram oposição ao projeto Ferrogrão, símbolo de um modelo econômico assentado em infraestrutura corporativa que se impõe sobre territórios indígenas e ecossistemas críticos.

Raoni, com a serenidade dos que carregam legado ancestral, denunciou a pressão crescente sobre as florestas: o avanço da soja em Mato Grosso, o desmatamento em escalada e a ameaça recorrente de ferrovias e projetos de exploração petrolífera. Alertou que os impactos atingem primeiro os povos originários, mas inevitavelmente se espalham para todos. Ainda assim, enfatizou caminhos de esperança: convivência pacífica, escuta mútua e políticas ambientais construídas com respeito entre diferentes culturas.

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Assessora de Imprensa da Presidency Youth Climate Champion (PYCC)

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Ao falar sobre sua presença internacional, destacou que o reconhecimento que recebe fora do Brasil se deve à clareza de sua missão: não negociar as riquezas de seu território, mas exigir que o mundo respeite e apoie a preservação da floresta. Para ele, proteger a Amazônia é proteger o fôlego do planeta e a sobrevivência das gerações futuras.

A Barqueata também refletiu a força de uma rede global. Na coletiva de imprensa, Kirtana Chandrasekaran, da Friends of the Earth International e integrante da Comissão Política do Peoples’ Summit, lembrou que, além das mais de dez mil pessoas mobilizadas em Belém, milhões atuam simultaneamente em seus próprios territórios. Segundo ela, esses grupos formam uma teia planetária que enfrenta um sistema econômico que, alimentado por guerra, desigualdade e destruição ambiental, tenta negar alternativas ao futuro. Para Kirtana, os movimentos reunidos no evento constituem uma resposta viva à crise civilizatória ao propor agroecologia, justiça climática e permanência das comunidades em suas terras.

Ela criticou o agronegócio que se apresenta como solução, mas não garante segurança alimentar, e afirmou que a soberania dos povos e o retorno das terras às comunidades indígenas são fundamentos de qualquer mudança estrutural. Também destacou o papel do Conselho de Nações, onde movimentos sociais articulam ações internacionais contra o colonialismo, a militarização e o poder das corporações transnacionais.

Cleidiane Vieira, da Comissão Política do Summit e representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), reforçou o sentido profundo da Barqueata como abertura do encontro. Para ela, celebrar o evento navegando é reconhecer que a Amazônia é simultaneamente floresta, rio e povo — uma unidade inseparável que sustenta modos de vida e saberes que o mundo precisa enxergar como parte das soluções climáticas.

A travessia de cerca de 4,5 milhas náuticas transformou o Guajará em palco de denúncia e anúncio. Entre bandeiras e cantos, reafirmou-se que as respostas para a crise não virão de pacotes tecnológicos ou promessas vazias, mas de conhecimentos coletivos, práticas agroecológicas, defesa de direitos e respeito aos territórios tradicionais. O contraste entre motores ruidosos e cantos indígenas compôs uma cena que simboliza o encontro possível entre mundos distintos quando há compromisso com a vida.

A Barqueata foi apenas o primeiro passo. Nos dias seguintes, o Peoples’ Summit iniciaria a redação de sua Carta Política, entregue ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e aos tomadores de decisão internacionais. No dia 15, a Global March for Climate Justice reuniria milhares pelas ruas de Belém, e, no encerramento, o Banquet for All discutiria o direito à alimentação saudável e produzida em equilíbrio com a natureza.

A mensagem final do evento ecoou a lição de Raoni: não existe um planeta de reserva. Defender a Amazônia não é uma causa isolada — é um chamado universal, uma luta que começa nos rios e florestas, mas que pertence a toda a humanidade.

EII leva debates decisivos sobre justiça climática, REDD+ e financiamento florestal à COP30

A programação do Earth Innovation Institute (EII) na COP30, em Belém, revela a amplitude de temas que hoje moldam as disputas globais sobre clima, uso da terra e financiamento de florestas. Em uma conferência marcada pelo protagonismo da Amazônia e pela pressão por mecanismos confiáveis de redução de emissões, o instituto participa de debates que vão do futuro do mercado de carbono florestal ao papel das salvaguardas de REDD+ na garantia de justiça climática. A agenda se estende até 19 de novembro, com atividades distribuídas pela Zona Azul, Zona Verde e pela Casa da Biodiversidade e Clima, coordenada pela Abema.

A presença do EII na conferência reforça seu papel histórico na formulação de estratégias de baixo carbono na região amazônica. O instituto, fundado e dirigido pelo pesquisador Daniel Nepstad, tem contribuído para políticas de conservação e modelos produtivos sustentáveis em diversos países tropicais. Na COP30, seus especialistas atuam como porta-vozes de debates que buscam conciliar integridade ambiental, inclusão social e viabilidade econômica — combinação que se tornou urgente em meio às mudanças climáticas.

A programação se inicia no dia 13, com dois debates estratégicos na Zona Azul: o painel que discute se o mercado de carbono florestal está, de fato, maduro o suficiente para impulsionar o financiamento das florestas tropicais, com participação do economista Ronaldo Seroa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e o encontro sobre a integração das cadeias produtivas corporativas com o REDD+ jurisdicional em Mato Grosso, com a presença de Daniel Nepstad. Ambos tocam em pontos sensíveis do debate: a credibilidade dos créditos de carbono e os caminhos para que empresas adotem compromissos alinhados às metas climáticas dos estados da Amazônia.

Ainda no dia 13, Nepstad e Monica de los Rios, diretora executiva do EII no Brasil, são homenageados pelos 15 anos do SISA, o Sistema de Incentivos a Serviços Ambientais do Acre, referência nacional e internacional. O evento celebra o Programa REM Acre, um dos principais esforços de financiamento para redução de emissões por desmatamento no país — área na qual o EII atua como parceiro técnico desde sua criação.

No dia 14, o debate se desloca para a discussão dos processos de consentimento livre, prévio e informado (CLPI) em programas JREDD+. A presença de Monica de los Rios como debatedora destaca a centralidade do tema da justiça climática na conferência. A urgência de garantir que povos indígenas e comunidades tradicionais participem com autonomia e segurança desses processos é um dos principais pontos de atenção da COP30.

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Tânia Rêgo/Agência Brasil.

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A agenda se expande novamente no dia 16, quando o EII organiza uma visita de campo com doadores internacionais. O objetivo é apresentar sistemas produtivos que integrem eficiência econômica e redução de impactos ambientais. A primeira parada será na Fazenda Dona Eunice, em Maracanã, Pará, que opera sistemas de recria e engorda bovina com uso parcial de manejo intensivo. A produtividade alcança níveis oito vezes superiores à média nacional, demonstrando o potencial da intensificação sustentável para reduzir a pressão sobre novas áreas.

A segunda visita ocorrerá na Fazenda JT Melhoramentos, referência em produção de açaí irrigado com variedades geneticamente aprimoradas. O uso de microaspersão e o manejo cuidadoso de 60 hectares cultivados garantem produtividade de até 12 toneladas por hectare. As duas experiências ilustram caminhos distintos para a transição produtiva em regiões tropicais.

Nos dias seguintes, o instituto amplia sua participação em debates estratégicos. Em 17 de novembro, a programação inclui painéis sobre salvaguardas de REDD+, integridade socioambiental do financiamento climático, e desafios entre competitividade agropecuária e programas jurisdicionais de baixas emissões. Em 18 de novembro, o EII participa do lançamento do relatório GEO Brasil 2025 no pavilhão da ONU, com presença de Luiza Muccillo, líder de estratégias de financiamento climático da instituição. A programação se encerra no dia 19, com reunião fechada sobre a expansão da J-REDD+ Coalition, reunindo pesquisadores e tomadores de decisão.

A participação intensa do EII na COP30 reflete sua atuação consolidada na Amazônia desde a década de 1980. A organização, sem fins lucrativos, desenvolve soluções de baixo carbono em agricultura, silvicultura e pesca, além de apoiar estados e regiões tropicais na formulação de programas robustos de REDD+. Seu objetivo central é garantir reduções reais e verificáveis de emissões, alinhadas a padrões internacionais, contribuindo para um modelo de desenvolvimento que una conservação, inclusão social e dinamismo econômico.

Para saber mais sobre o trabalho do instituto, o relatório especial “A grande solução climática: Floresta Amazônica e o mercado de carbono” está disponível no site do EII.

Apenas 1/3 das empresas brasileiras investe em TI verde, apesar do potencial de cortar custos de energia pela metade

Um novo levantamento sobre a maturidade da tecnologia sustentável no país revela uma contradição que ainda trava a transição digital de baixo carbono no setor corporativo brasileiro. Mesmo com a possibilidade concreta de reduzir até 50% dos custos de energia, somente um terço das empresas do país destina orçamento próprio para iniciativas de TI verde. A conclusão faz parte do estudo Green IT Brasil 2025, conduzido pela NTT DATA em parceria com a MIT Technology Review Brasil.

A pesquisa ouviu mais de 120 organizações de oito setores e mostrou que, embora 52% tenham equipes dedicadas à sustentabilidade, a TI verde ainda ocupa um papel periférico dentro da agenda corporativa. Em muitos casos, aparece como iniciativa pontual, e não como um pilar estratégico capaz de gerar eficiência operacional, reduzir riscos e ampliar a competitividade.

Segundo o estudo, empresas que contam com orçamento próprio para TI verde têm 2,5 vezes mais chance de acessar recursos internos adicionais para investir em projetos estruturados. O envolvimento direto do C-Level, presente em 43% das organizações, também impulsiona a implementação de políticas ambientais, aumentando em até 45% a chance de que elas se tornem práticas efetivas e contínuas.

O levantamento classificou as empresas em cinco níveis de maturidade: inicial, em desenvolvimento, padronizado, avançado e excelência. Nenhum setor brasileiro atingiu o grau máximo, no qual a TI verde se torna parte integral da estratégia de negócio e apresenta resultados comprovados. Quatro setores — Financeiro e Seguros, Energia, Saúde e Manufatura — aparecem no nível padronizado, com diretrizes claras, mas execução desigual. Já os setores de TI, Utilities e Transporte e Energia foram categorizados como avançados. O varejo e atacado permanece em fase de desenvolvimento.

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Para Roberto Celestino, executivo da NTT DATA, os dados revelam um ponto crítico: a transformação sustentável da TI ainda é tratada como conjunto de boas práticas isoladas, e não como base estrutural da digitalização. Com o crescimento acelerado de servidores, redes, armazenamento e sistemas de refrigeração, a TI se tornou um dos principais centros de consumo energético das grandes empresas. O relatório Electricity 2024, da Agência Internacional de Energia, projeta que data centers podem ultrapassar 1.000 TWh de consumo elétrico já em 2026 — mais que o dobro registrado em 2022, equivalente ao consumo de países inteiros como a Rússia.

Mesmo diante dessa escalada, a adoção de ferramentas essenciais para reduzir impactos ainda é baixa. Apenas 41% das empresas monitoram o consumo de energia em tempo real. Menos de 30% acompanham a pegada de carbono de provedores de nuvem. Outra parcela semelhante aplica rotinas de GreenOps, que incluem otimização de software, arquitetura digital e infraestrutura para eficiência energética.

Há, porém, sinais de avanço. Cerca de metade das empresas prolonga a vida útil de equipamentos, reduzindo descarte prematuro, enquanto 46% mantêm parcerias de reciclagem — medidas importantes, mas ainda insuficientes quando observadas no conjunto.

O estudo propõe um caminho claro: fortalecer a governança e adotar estratégias inspiradas nos 7 Rs da modernização sustentável. Entre elas, reduzir o consumo de energia com virtualização e reorganização da infraestrutura; reutilizar e reaproveitar equipamentos ociosos; reciclar materiais; e refabricar dispositivos para que possam ser usados em escolas, organizações sociais ou outras unidades internas.

Para Celestino, o ponto central é reposicionar a TI verde como vetor estratégico. Ele afirma que tratá-la como custo é perder oportunidades de curto e longo prazo. Em sua avaliação, empresas que adotarem essa agenda desde já estarão mais preparadas para operar em um cenário de regulação crescente, exigência de transparência e pressão por metas ambientais.

A NTT DATA, que atua globalmente com soluções digitais e de infraestrutura, reforça que ferramentas e competências para avançar já existem — o que falta, no Brasil, é decisão. A corrida por eficiência energética entrou definitivamente na pauta internacional, e empresas que atrasarem esse movimento correm o risco de perder competitividade em cadeias globais cada vez mais exigentes.

Como a ciência redefine a proteção florestal na COP30

À medida que a COP30 avança em Belém, uma discussão essencial ganha profundidade: a proteção das florestas tropicais e o papel que a ciência desempenha para garantir que esse esforço seja real, mensurável e financeiramente sustentável. Para a pesquisadora Maria Vincenza Chiriacò, especialista do Centro Euro-Mediterrânico sobre Mudanças Climáticas (CMCC) e integrante da delegação italiana nas negociações sobre Agricultura, Florestas e Outros Usos da Terra (AFOLU), preservar uma floresta é tão desafiador quanto restaurá-la. E, sobretudo, exige comprovação rigorosa de que a proteção não ocorreria sem intervenções concretas.

Esse debate se torna especialmente relevante diante de uma das principais iniciativas apresentadas na conferência: o Tropical Forest Forever Facility (TFFF). O mecanismo pretende mobilizar bilhões de dólares para recompensar países tropicais pela manutenção de suas florestas em pé, complementando sistemas já existentes, como o REDD+ e os mercados de carbono do Artigo 6 do Acordo de Paris. Na Europa, iniciativas como o Carbon Farming sob o Carbon Removals Certification Framework (CRCF) também buscam avançar na contabilidade de remoções.

Mas, como aponta Chiriacò, um obstáculo conceitual decide o destino de todos esses instrumentos: a adicionalidade. Em outras palavras, os países só devem receber pagamentos por resultados que não ocorreriam espontaneamente, sem ações de proteção. Criar uma nova floresta ou melhorar o carbono no solo costuma atender facilmente esse critério. Já provar que manter uma floresta existente requer esforços extraordinários é mais complexo. Ainda assim, é justamente aí que a ciência se torna decisiva.

O TFFF busca contornar essa discussão ao remunerar países que mantenham taxas de desmatamento abaixo de 0,5%. Quase toda a lógica do mecanismo se baseia nos resultados observados. Os pagamentos são proporcionais à cobertura florestal total, mas sofrem descontos caso haja perda ou degradação. A cada hectare desmatado, por exemplo, o desconto simula a perda de 100 hectares quando a taxa nacional está abaixo de 0,3% ou de 200 hectares quando está entre 0,3% e 0,5%. Em áreas degradadas por fogo, aplica-se a regra de 1 para 35. Esses coeficientes poderão ser atualizados à medida que novas evidências científicas forem consolidadas.

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O desenho do TFFF reconhece algo fundamental: proteger florestas exige investimento constante, capacidade institucional e monitoramento sofisticado. Como explica Chiriacò, a floresta protegida tende a parecer, superficialmente, igual ao que era antes. Mas conservar um ecossistema diante de avanços da fronteira agrícola, mudanças climáticas e pressões ilegais não é um processo automático. É resultado de trabalho contínuo, e a ciência é responsável por mostrar quando esse esforço faz diferença.

Um de seus estudos recentes reforça essa urgência. A pesquisa demonstra que o risco global de incêndios deve crescer drasticamente ao longo do século, afetando até 91% das regiões propensas ao fogo. Até 2040, pelo menos 55% desses territórios enfrentarão aumento significativo na probabilidade de incêndios, independentemente do cenário de emissões. Regiões como o Mediterrâneo, partes da América do Sul, norte da Ásia e áreas do sul da África estão entre as mais vulneráveis.

A lógica é clara: se o risco de incêndio aumenta exponencialmente, impedir que uma floresta desapareça não é uma atitude passiva, mas uma intervenção concreta contra uma ameaça real. Assim, o TFFF desponta como mecanismo potencialmente complementar ao REDD+ e ao Artigo 6, ao remunerar a manutenção dos ecossistemas e não apenas o carbono capturado. Mesmo assim, questões de precificação ainda precisam ser equacionadas: pagamentos estimados de cerca de 4 dólares por hectare contrastam com valores do mercado voluntário de carbono, no qual uma floresta pode gerar aproximadamente 10 créditos por hectare, cada um valendo cerca de 30 dólares.

Uma característica essencial do TFFF é direcionar ao menos 20% dos recursos para comunidades indígenas e locais, reconhecendo seu papel central na proteção florestal. Ainda assim, como destaca Chiriacò, cada floresta requer estratégias distintas. Enquanto muitas florestas europeias são plantadas de forma homogênea e, portanto, vulneráveis a pragas e distúrbios, grande parte das florestas tropicais ainda mantém elevado grau de diversidade biológica — embora sob intenso risco de expansão agropecuária e eventos extremos.

Para que mecanismos como o TFFF e o Artigo 6 funcionem, reforça a pesquisadora, eles precisam se basear em sistemas transparentes, verificáveis e cientificamente robustos. Sem isso, abrem espaço para greenwashing e fragilizam a confiança internacional. A ciência, ao mapear riscos, quantificar ameaças e orientar prioridades, transforma a adicionalidade de um impasse político em um critério mensurável.

À medida que a COP30 avança, a questão central não é mais se devemos proteger as florestas, mas sim se seremos capazes de demonstrar, com precisão e credibilidade, que essa proteção é real, adicional e sustentada pelas melhores evidências científicas disponíveis.

Teia da Gente conecta saberes amazônicos na COP30

Belém (PA) – A abertura do Espaço Teia da Gente, criado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), marcou o início de uma presença territorializada e afetiva da instituição na COP30. Instalado no Edifício Cristal Corporate, o espaço começou suas atividades em 11 de novembro e se firmou, desde o primeiro dia, como um ambiente pensado para acolher encontros que costuram saberes, trajetórias e demandas concretas de territórios amazônicos e cerratenses.

Na cerimônia de inauguração, lideranças comunitárias, parceiros institucionais e organizações da sociedade civil reforçaram o papel que o IEB vem desempenhando no apoio às comunidades da região. Edneide Barbosa, liderança de Breves (PA), sintetizou esse sentimento ao lembrar que o trabalho do instituto levou formação, saneamento e reflorestamento a dezenas de famílias. Seu relato ecoou como um reconhecimento da importância da presença continuada de organizações que acompanham de perto os processos sociais, ambientais e políticos da Amazônia.

O Teia da Gente nasceu justamente para isso: ser um ponto de encontro entre mundos que, embora muito próximos, frequentemente se veem afastados pelos ritmos da política e pelas complexidades da agenda climática global. A proposta é simples e profunda ao mesmo tempo. O espaço não é apenas uma casa temporária do IEB na COP30; é um território simbólico no qual experiências locais dialogam com os debates que atravessam as negociações internacionais. Como destacou Manuel Amaral, coordenador executivo do IEB, a programação foi tecida de forma participativa e conectada às vivências reais da instituição em campo.

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Divulgação – IBE

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O primeiro dia de atividades, em 12 de novembro, capturou bem essa vocação. Pela manhã, o espaço recebeu um encontro dedicado aos desafios para a permanência de estudantes indígenas no ensino superior, organizado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). O debate trouxe relatos de dificuldades enfrentadas por jovens indígenas que precisam conciliar vida acadêmica, compromissos comunitários e barreiras estruturais impostas por universidades ainda pouco preparadas para acolher a diversidade de saberes que esses estudantes carregam. Ao mesmo tempo, o diálogo ressaltou como o avanço de lideranças indígenas no campo acadêmico tem fortalecido suas vozes nas agendas climáticas, territoriais e de políticas públicas.

À tarde, o Teia da Gente se transformou novamente. Agricultores e agricultoras do arquipélago do Marajó, representantes da Malungu, do Observatório do Marajó, gestores municipais e integrantes do IEB participaram do encontro que marcou mais uma etapa do projeto Marajó Resiliente, desenvolvido em parceria com a Fundação Avina. A iniciativa busca fortalecer processos de adaptação climática nos municípios marajoaras, articulando participação social, gestão pública e soluções que partem da realidade de cada território.

A presença dos prefeitos Valentim Lucas de Oliveira (Salvaterra) e Jaime Barbosa (Cachoeira do Arari), além do secretário de Meio Ambiente de Soure, Rubens Amorim, reforçou a adesão institucional ao processo. O momento culminou na assinatura simbólica de um Acordo de Cooperação Técnica, que formaliza o compromisso para a elaboração de três planos municipais de adaptação climática. O gesto, embora simbólico, traduz o movimento crescente de municípios amazônicos em busca de instrumentos concretos para enfrentar os impactos da crise climática.

O contexto mais amplo da COP30 amplia o sentido desse trabalho. Pela primeira vez, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas acontece no Brasil e, mais que isso, na Amazônia. Belém se tornou o epicentro das discussões sobre justiça climática, sociobiodiversidade e governança territorial. Ao mesmo tempo, a cidade vive seus próprios desafios, expostos pela chegada de delegações, visitantes e temas que tensionam sua infraestrutura e políticas locais. O protagonismo de povos e comunidades tradicionais, que chegaram em sua maior delegação da história — três mil lideranças indígenas —, evidencia transformação e pressão por mudanças estruturais.

Com programação até 21 de novembro, o Teia da Gente seguirá recebendo parceiros, movimentos e instituições para rodas de conversa, debates e trocas sobre justiça climática, educação, povos de matriz africana, terreiros, sociobiodiversidade e políticas públicas inclusivas. Mais do que uma agenda, o espaço expressa o propósito central do IEB: tecer pontes entre saberes, territórios e pessoas, fortalecendo caminhos que possam sustentar o bem viver em uma Amazônia em transformação.

SERVIÇO

Espaço Teia da Gente – A Casa do IEB na COP30
De 11 a 21 de novembro de 2025
Edifício Cristal Corporate – Rod. Desembargador Paulo Frota, 1500 – Belém (PA)*