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Pará apresenta ao mundo o poder climático das árvores gigantes

O Pará levou ao mundo, na COP30, uma mensagem poderosa sobre o papel das árvores gigantes e das áreas protegidas na proteção do clima amazônico. No Pavilhão Pará, localizado na Green Zone da conferência, especialistas, gestores públicos, pesquisadores e representantes comunitários se reuniram para discutir como as Unidades de Conservação e as árvores monumentais ajudam a regular a temperatura, a umidade e os ciclos de chuva em grande parte da América do Sul.

O painel Áreas Protegidas no Estado do Pará e as Árvores Gigantes no Equilíbrio Climático da Amazônia foi promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade, órgão responsável por uma das maiores redes de conservação estadual do país. O encontro reuniu o diretor de Gestão da Biodiversidade, Crisomar Lobato; o diretor do Instituto Federal do Amapá, Campus Laranjal do Jari, Diego Armando; a gerente de Políticas Públicas em Clima e Conservação da Fundação Amazônia Sustentável, Gabriela Sampaio; o gerente da Região Administrativa de Belém do próprio instituto, Júlio Meyer; e o representante da Coopertu Jari, Márcio André.

Durante o evento, o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade lançou o catálogo das Unidades Estaduais de Conservação, acompanhado de um box com estudos técnico-científicos que embasaram a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes da Amazônia. O material foi elaborado pela Diretoria de Gestão da Biodiversidade e contou com apoio da Fundação Amazônia Sustentável e do Andes Amazon Fund, responsáveis pelo suporte financeiro e logístico às expedições de pesquisa que identificaram e mapearam a região.

Ao apresentar os estudos, Crisomar Lobato destacou o impacto da descoberta das árvores gigantes localizadas no extremo norte do Pará, reveladas inicialmente por análises do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Entre os exemplares identificados está o angelim-vermelho de 88,5 metros de altura, considerado a maior árvore do Brasil e da América Latina. Para Crisomar, a importância dessa árvore vai muito além de sua imponência física. Ele explicou que a elevada evapotranspiração de árvores desse porte alimenta os chamados rios voadores, correntes de vapor de água que garantem chuvas regulares em regiões distantes, como o Centro-Oeste e o Sudeste.

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Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

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Ao verificar que a área onde essas árvores crescem era originalmente uma floresta estadual destinada ao manejo, o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade decidiu transformá-la em Unidade de Conservação de proteção integral. Assim nasceu o Parque Estadual Ambiental das Árvores Gigantes da Amazônia, que abrange 560 mil hectares e já se tornou referência global em pesquisa e conservação.

A gerente da Fundação Amazônia Sustentável, Gabriela Sampaio, afirmou que apresentar esses resultados na COP30 reforça o papel estratégico da Amazônia nas negociações climáticas internacionais. Para ela, iniciativas que unem ciência, políticas públicas e participação comunitária mostram que é possível avançar na proteção da floresta com estabilidade, governança e resultados mensuráveis. Ela destacou ainda que a Amazônia já produz soluções escaláveis, replicáveis e fundamentadas em evidências científicas.

O painel também abordou as oportunidades para o ecoturismo. Júlio Meyer explicou que o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade está estruturando um produto turístico específico para o Parque Estadual das Árvores Gigantes, capaz de oferecer experiências seguras de contemplação e educação ambiental. Para ele, o turismo é uma ferramenta de geração de renda para as comunidades e de fortalecimento da conservação.

Representando essas comunidades, Márcio André, da Coopertu Jari, destacou a importância de incluir a população local desde o início do processo de implementação da Unidade de Conservação. Ele defendeu que a participação das comunidades tradicionais é fundamental para garantir manejo adequado, uso sustentável dos recursos e desenvolvimento de atividades econômicas baseadas no turismo e na conservação ambiental.

Diego Armando, diretor do Instituto Federal do Amapá, ressaltou o compromisso da educação pública com a pesquisa e a formação de jovens técnicos que irão atuar no corredor ecológico entre Pará e Amapá. Segundo ele, garantir mão de obra qualificada e conectada com as demandas socioambientais da região é essencial para o futuro da floresta.

O painel encerrou com a fala do presidente do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade, Nilson Pinto, que destacou que os novos estudos representam um marco histórico para o Pará. Ele afirmou que a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes simboliza a união entre conservação, ciência e justiça climática, consolidando a posição do estado como protagonista nas agendas ambientais globais.

COP das Baixadas leva o debate climático às periferias do Pará

A COP das Baixadas nasceu para enfrentar um paradoxo que atravessa o debate climático: quem mais sente os efeitos das mudanças do clima é, muitas vezes, quem menos participa das conversas que definem políticas globais. Em Belém, durante a realização da COP30, coletivos periféricos decidiram transformar essa ausência histórica em mobilização concreta, criando um espaço paralelo que conecta o cotidiano das favelas, bairros populares e territórios tradicionais à agenda internacional do clima.

A iniciativa articula diferentes organizações comunitárias com o objetivo de aproximar o debate de quem vive a realidade das enchentes, do calor extremo, da precariedade do saneamento e do racismo ambiental. A proposta é simples e poderosa: se o impacto das mudanças climáticas começa nas bordas das cidades, a formulação das soluções também precisa emergir desses territórios.

Nesse contexto, Guydo Kithara e Jean Ferreira, conhecido como Jean do Gueto, fundadores do Gueto Hub, tornaram-se algumas das vozes mais influentes da articulação. O espaço, dedicado há anos à formação sociocultural no bairro Jurunas, funciona como biblioteca comunitária, galeria e ponto de encontro para jovens e lideranças locais. Situado às margens do Rio Guamá, o Jurunas é um microcosmo das desigualdades urbanas amazônicas — e, justamente por isso, símbolo da urgência climática.

Para amplificar esse debate, a COP das Baixadas criou as Yellow Zones, áreas paralelas inspiradas na estrutura oficial da ONU, que divide a conferência em Blue Zone e Green Zone. A escolha do amarelo, que completa as cores da bandeira brasileira, reforça a mensagem de identidade e protagonismo juvenil. Mais do que ocupar simbolicamente esse espaço, as Yellow Zones afirmam que políticas climáticas só fazem sentido quando dialogam com quem vive no território.

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Tânia Rêgo/Agência Brasil

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A iniciativa se espalhou por oito pontos da região metropolitana de Belém — incluindo Ananindeua, Icoaraci e Castanhal —, todos com programações que misturam arte, formação política, oficinas ambientais, debates, celebrações e práticas tradicionais. A mobilização acompanha todo o período da COP30 e se encerra com um grande ato comunitário em defesa da vida e dos territórios.

Entre os espaços ativados está o EcoAmazônias, uma Yellow Zone coordenada pelo Instituto Negrytar. Sua gestora, a cineasta e comunicadora Joyce Cursino, resume o espírito da mobilização: a comunidade já tem diagnósticos, já conhece as dores do território e já ensaia soluções concretas. O que falta é ouvi-la de forma estruturada. Nas últimas semanas, o EcoAmazônias promoveu encontro de parteiras, oficinas de bioconstrução para crianças, plantio de hortas comunitárias e rodas de conversa sobre racismo ambiental — tudo com forte participação da população local.

A presença de mães, jovens e antigos líderes comunitários reforça que a luta ambiental não é tema distante. No Gueto Hub, Jeane Ferreira — mãe de Guydo e Jean — revive o início da biblioteca comunitária e recorda as décadas em que o bairro convivia com valas abertas, enchentes e precariedade urbana. Para ela, a COP das Baixadas é continuidade de uma longa tradição de resistência: a luta popular que conquistou pavimentação, obras de drenagem e melhorias básicas.

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Tânia Rêgo/Agência Brasil

A mobilização também abre espaço para encontros culturais inesperados, como a presença do músico paraibano Renato do Pife, que ministrou oficinas de fabricação de pífanos com canos de PVC reciclado. Entre tintas, instrumentos e conversas, ele explica que o pife é um instrumento democrático, acessível e potente — metáfora perfeita para o espírito da COP das Baixadas, que faz da criatividade e da cultura ferramentas de educação ambiental.

Ao transformar ruas, becos, bibliotecas e centros culturais em arenas climáticas, a COP das Baixadas rompe com a lógica de que debates globais pertencem apenas a especialistas ou negociadores diplomáticos. Ela devolve à periferia a centralidade que lhe é devida — não por carência, mas por conhecimento e potência própria.

A iniciativa também desafia a COP oficial a reconhecer que a transição ecológica não será justa se ignorar os territórios onde a desigualdade climática já é real. Os participantes enfatizam que o combate ao aquecimento global precisa considerar as múltiplas formas de saber, desde a ciência acadêmica até práticas ancestrais, passando por soluções cotidianas inventadas nas periferias.

Ao final, a COP das Baixadas afirma uma narrativa decisiva: a Amazônia urbana é tão importante quanto as florestas, e suas comunidades não são receptoras passivas das políticas climáticas, mas autoras de caminhos possíveis. Em Belém, enquanto líderes globais negociam pactos, a periferia escreve seu próprio mapa de futuro — coletivo, criativo e profundamente enraizado no território.

COP30 propõe nova rota global para limitar aquecimento a 1,5°C

O rascunho da carta final da COP30 revela um esforço coletivo para recolocar o mundo na trilha de limitar o aquecimento global a 1,5°C e, ao mesmo tempo, redefinir o sentido político da transição climática. O documento, apresentado em Belém, opera como um mapa das escolhas urgentes que governos, sociedade civil, comunidades tradicionais e cientistas insistem que não podem mais ser adiadas.

A primeira mensagem é inequívoca: a meta estabelecida no Acordo de Paris continua possível, mas apenas se o planeta adotar calendários claros, mecanismos verificáveis de implementação e, sobretudo, decisões vinculantes para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. O texto sublinha que ainda há margem para manter vivo o limite de 1,5°C, desde que países reorganizem suas economias com base em justiça climática, ciência e responsabilidade histórica.

O rascunho também reafirma a centralidade do IPCC ao indicar que o mundo precisa alcançar emissões líquidas zero até a metade do século. Isso inclui uma transição energética que abandone o carvão, reduza drasticamente petróleo e gás e garanta que regiões dependentes da cadeia fóssil não sejam deixadas para trás. A transição, diz o documento, deve nascer como pacto social, e não como ruptura abrupta.

Para que isso se concretize, financiamento climático aparece como o eixo de sustentação de todo o acordo. O documento argumenta que sem recursos previsíveis, adequados e acessíveis, não existe transição justa. Mecanismos de mitigação, adaptação e compensação por perdas e danos precisam ser expandidos, com atenção redobrada a iniciativas lideradas por povos indígenas e comunidades tradicionais. A crítica é clara: os regimes de financiamento existentes são lentos, burocráticos e incapazes de responder à escala das crises já em curso.

Nesse ponto, o rascunho defende que a COP30 consolide o recém-criado Fundo de Perdas e Danos, garantindo que comunidades atingidas por enchentes, secas ou outros eventos extremos tenham acesso direto a recursos destinados à reconstrução. A ideia é substituir a lógica da “ajuda tardia” por um sistema global de proteção social climática.

A adaptação climática, geralmente colocada em segundo plano, ganha destaque inédito. O documento propõe que ela tenha o mesmo peso político da mitigação, com um quadro global robusto de indicadores, parâmetros de avaliação e instrumentos capazes de orientar investimentos duradouros. Isso envolve repensar infraestrutura urbana e rural, redes de abastecimento hídrico, sistemas de saúde, segurança alimentar, proteção costeira e redução de riscos de desastres.

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Foto: Rafa Neddermeyer/COP30

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Outra ênfase recorrente é o papel de povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais. O documento afirma que suas práticas e modos de vida são indispensáveis para manter florestas em pé, proteger a biodiversidade e fortalecer a resiliência climática. Por isso, reforça a necessidade de ampliar sua participação nos espaços formais da ONU e consolidar direitos territoriais como condição inegociável. A consulta livre, prévia e informada surge como pilar da justiça climática.

O texto também destaca que a transição energética não pode ser apenas tecnológica; deve ser social. Isso significa apoiar trabalhadores e regiões que dependem da economia fóssil e garantir que energias renováveis, redes de transmissão e sistemas descentralizados atendam áreas historicamente negligenciadas, como a Amazônia.

A agenda do comércio internacional aparece como outro eixo estratégico. O rascunho recomenda alinhar regras comerciais a metas climáticas e de biodiversidade, para evitar que fluxos comerciais incentivem desmatamento ou exploração predatória. Países em desenvolvimento devem ter acesso ampliado a mercados sustentáveis e tecnologias limpas.

Por fim, o documento menciona a urgência de transformar sistemas alimentares, impulsionar agricultura sustentável, restaurar ecossistemas e fortalecer soluções baseadas na natureza. Em tom direto, afirma que o multilateralismo está diante de seu teste mais complexo: provar que ainda é capaz de gerar respostas reais à emergência climática.

Belém emerge como símbolo dessa virada. A cidade, porta de entrada para a floresta amazônica e território de povos guardiões da biodiversidade, é apresentada como palco ideal para reafirmar que não há saída para a crise climática sem justiça, equidade e participação popular. A COP30, conclui o documento, precisa marcar o início de uma nova relação entre humanidade e natureza — uma relação orientada pelo cuidado, pelo conhecimento e pela responsabilidade compartilhada.

Sul Global mira liderança na transição energética mundial

A COP30 abriu espaço para um debate raro e direto sobre a geopolítica da energia. E, ao contrário do discurso que costuma colocar os países do Sul Global na posição de vulneráveis, o painel promovido pela FAPESP no Pavilhão do Brasil mostrou que a transição energética pode funcionar como motor de autonomia, inovação e protagonismo internacional. Para especialistas do Brasil, China, Índia e África do Sul, o movimento global rumo às emissões líquidas zero até 2050 representa uma oportunidade histórica: aproveitar reservas minerais estratégicas, fortalecer cadeias industriais e construir uma diplomacia científica que ultrapasse fronteiras políticas.

O ponto de partida dessa visão foi apresentado por Pu Wang, pesquisador do Instituto de Ciências e Desenvolvimento da Academia Chinesa de Ciências. Segundo ele, os países em desenvolvimento compartilham desafios, históricos e estruturais, que os tornam capazes de cooperar de forma mais assertiva na busca de soluções climáticas. Para Wang, a China fornece um exemplo emblemático. Duas décadas atrás, poucos acreditavam que mudanças climáticas poderiam gerar oportunidades econômicas de grande escala. Hoje, porém, o país é líder global em carros elétricos e exporta veículos para mercados antes inimagináveis. O avanço acelerado dessa indústria mostra que a transição energética é, acima de tudo, uma disputa industrial — e que o Sul Global pode estar no centro dela.

O especialista reforça que o potencial não se limita à manufatura. Países como Brasil, Índia e África do Sul têm vastos territórios com vantagens naturais e logísticas para energias solar e eólica, o que atrai investimentos e forma mão de obra altamente qualificada. Esse conjunto cria uma base sólida para que novas cadeias industriais surjam em torno de baterias, hidrogênio verde e eletrificação.

Mas transformar potencial em indústria real exige investimento contínuo. Por isso, Wang destacou a centralidade do financiamento público à pesquisa como motor da revolução energética chinesa. Em sua visão, países em desenvolvimento podem iniciar pelos segmentos mais acessíveis — como a produção de equipamentos solares ou a montagem de baterias — e avançar até tecnologias de alto valor agregado. A continuidade da pesquisa permitiria criar ciclos virtuosos de inovação, modernização industrial e competitividade internacional.

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA-1-400x218 Sul Global mira liderança na transição energética mundial

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Os desafios, porém, não são pequenos. Um deles foi enfatizado por Dipak Dasgupta, do Instituto de Energia e Recursos da Índia, integrante do Conselho Científico da COP30. Ele apontou que a modernização das redes elétricas de alta tensão é um gargalo que afeta todos os países do Sul Global. Quando a matriz elétrica atinge cerca de um quarto de participação das renováveis, surgem problemas de transmissão e estabilidade do sistema. Esse cenário, segundo Dasgupta, já foi enfrentado pela Índia — e a troca de conhecimento poderia acelerar soluções no Brasil, na China e em outros países emergentes. Para ele, o diálogo técnico entre operadores de redes e centros de pesquisa pode destravar avanços essenciais para que novas energias ganhem escala.

O segundo obstáculo destacado por Dasgupta é o financiamento. Sem instrumentos dedicados, a inovação no setor energético tende a avançar lentamente. Ele defende que bancos públicos e instituições financeiras organizem estratégias claras para financiar projetos de energia renovável e tecnologias associadas. Sem isso, transpor a barreira que separa a pesquisa da aplicação industrial se torna improvável.

A transição energética, contudo, não é apenas tecnológica. Também é social. Harald Winkler, da Universidade de Cape Town, alertou que descarbonizar sem incluir comunidades locais significa perder o sentido da própria transição. Para ele, justiça climática é condição de legitimidade: só haverá avanço se as populações afetadas participarem da definição de seus próprios futuros energéticos.

Essa compreensão ecoa o posicionamento de Thiago Barral, ex-secretário nacional no Ministério de Minas e Energia. Ele lembrou que países em desenvolvimento precisam construir seus próprios cenários de emissões líquidas zero. Não basta replicar modelos estrangeiros; é necessário compreender realidades específicas de território, indústria, matriz elétrica e desigualdades sociais. Só assim a cooperação Sul-Sul poderá produzir estratégias consistentes.

A mesa foi mediada por Gilberto Jannuzzi, da Universidade Estadual de Campinas, que ressaltou o propósito central do encontro: aproximar países que possuem agendas convergentes e podem evoluir juntos na criação de tecnologias e modelos para a transição energética.

Ao final, o painel deixou claro que a transição energética não é apenas uma meta ambiental. É uma janela estratégica, talvez única, para que o Sul Global ocupe um novo lugar na economia mundial. Com recursos naturais abundantes, protagonismo científico crescente e capacidade industrial em expansão, esses países têm condições de moldar o futuro energético — desde que cooperem, planejem e invistam no potencial coletivo.

Como o etanol brasileiro pode virar combustível de carbono negativo

O etanol brasileiro, historicamente tratado como uma solução intermediária na transição para energias limpas, começa a assumir um novo papel à luz de tecnologias emergentes capazes de capturar e reter carbono em larga escala. Um estudo conduzido por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e da Universidade Estadual de Campinas aponta que, ao integrar duas frentes de inovação — BECCS e biochar —, o país pode transformar o etanol em um combustível de emissão zero ou até negativa, algo que até pouco tempo atrás parecia distante da realidade da bioenergia.

O avanço científico recoloca o Brasil na mesa das soluções climáticas mais ambiciosas. O BECCS, sigla para bioenergia com captura e armazenamento de carbono, captura o CO2 biogênico emitido no processo de fermentação e queima da biomassa. Em vez de retornar à atmosfera, o gás é comprimido e armazenado em formações geológicas profundas, onde permanece isolado por longos períodos. É uma tecnologia robusta, usada ainda de forma incipiente no mundo, mas que carrega potencial de remover mais carbono do que emite. A FS, empresa pioneira na aplicação do método no país, demonstra que a tecnologia pode ser integrada ao parque sucroenergético brasileiro, desde que haja infraestrutura e incentivos adequados.

A segunda peça dessa equação é o biochar, um biocarvão formado a partir da pirólise de materiais vegetais, como o bagaço e a palha da cana. Ao ser incorporado ao solo, o biochar funciona como um reservatório duradouro de carbono, além de melhorar características físicas e químicas do terreno. Quando usado de forma equilibrada, aumenta a fertilidade e reduz emissões de óxido nitroso, um gás centenas de vezes mais potente que o dióxido de carbono. O estudo mostra que cada tonelada de biochar aplicada pode representar mais de uma tonelada de CO2 sequestrada.

Os pesquisadores utilizaram como referência a intensidade de carbono calculada pelo RenovaBio, política pública que atribui notas ambientais aos biocombustíveis com base em sua pegada de carbono. Atualmente, o etanol hidratado apresenta intensidade de cerca de 32,8 gCO2e/MJ. Se o BECCS fosse incorporado à fermentação, esse valor cairia para perto de 10 gCO2e/MJ. A aplicação de biochar reduziria o índice de forma semelhante. Os cenários combinados mostram resultados mais radicais e indicam que o etanol produzido no Brasil poderia registrar valores negativos, alcançando –81 gCO2e/MJ, caso toda a captura da fermentação e da combustão fosse aplicada simultaneamente.

2009-04-17-Etanol-Alcool-Usina-Santa-Candida-Etanol-Destilaria-4-scaled-1-201x300 Como o etanol brasileiro pode virar combustível de carbono negativo

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Na prática, isso significa que um carro movido a etanol poderia emitir menos carbono ao longo de seu ciclo do que um veículo elétrico carregado com a matriz energética média do país. A comparação feita pelo estudo, utilizando dados do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular e do banco internacional ecoinvent, reforça que o etanol pode competir no mesmo patamar que tecnologias frequentemente tratadas como mais limpas.

O potencial, porém, esbarra em barreiras econômicas. Embora o RenovaBio tenha criado um mercado regulado e ativo — com os créditos de descarbonização, os CBIOs —, os valores giram em torno de 20 dólares por tonelada de CO₂ evitada, muito abaixo do necessário para financiar tecnologias de captura e armazenamento. O custo do BECCS pode chegar a 200 dólares por tonelada. O biochar também enfrenta desafios: apesar de seus benefícios, a produção ainda é cara e a aplicação inadequada pode gerar emissões adicionais ou comprometer a fertilidade do solo. Com isso, nenhum dos mais de 300 produtores certificados no RenovaBio opera com essas tecnologias.

A pesquisa sugere que o país terá de combinar novos incentivos financeiros, políticas complementares e participação mais ativa no mercado voluntário de carbono para destravar esse potencial. Em outros países, como os Estados Unidos, mecanismos como o crédito tributário 45Q oferecem valores muito mais atraentes, chegando a 180 dólares por tonelada capturada. É esse tipo de sinal econômico que tem viabilizado projetos de grande porte mundo afora.

Se o Brasil escolher avançar, os ganhos seriam expressivos. A implementação do BECCS e do biochar em larga escala poderia gerar até 197 milhões de toneladas de créditos de carbono, algo próximo de doze por cento das emissões nacionais registradas em 2022. Mesmo um cenário moderado, com captura apenas na fermentação, permitiria sequestrar em torno de 20 milhões de toneladas anuais. É um volume significativo frente à meta climática do país, que prevê reduzir as emissões líquidas para 1.200 milhões de toneladas até 2030.

Os pesquisadores destacam que, mais do que capacidade técnica, o que definirá o futuro do etanol brasileiro é a articulação política e econômica. O país já ocupa posição de liderança global em biocombustíveis e possui um dos sistemas agrícolas mais eficientes do mundo. Mas para transformar o etanol em um combustível de emissão negativa, será necessário unir ciência, infraestrutura, regulação e financiamento.

Movido por décadas de conhecimento acumulado e uma cadeia produtiva madura, o Brasil tem a oportunidade de dar ao etanol um novo significado: não apenas um combustível de baixo carbono, mas uma ferramenta ativa de remoção de gases de efeito estufa. O estudo revela que essa transformação está ao alcance — resta agora decidir se o país está disposto a liderar esse salto tecnológico.

Marina Silva exige que adaptação lidere a resposta climática

A participação de Marina Silva no segmento de alto nível da COP30 marcou um dos discursos mais enfáticos da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima desde o início da conferência. Em Belém, diante de delegações de todo o mundo, Marina defendeu que a pauta da adaptação climática finalmente assuma o lugar central nas decisões multilaterais, deixando de ser tratada como apêndice secundário das negociações. Para ela, o encontro precisa concluir com a aprovação dos indicadores globais de adaptação, um conjunto de métricas capaz de orientar políticas concretas, medir avanços e reduzir vulnerabilidades que se intensificam ano após ano.

A ministra procurou traduzir a urgência do debate com exemplos práticos. Indicadores de adaptação, explicou, não são abstrações técnicas: tratam-se de ferramentas que ajudam os países a preparar tanto suas cidades quanto seus ecossistemas para enfrentar impactos como enchentes, erosão, ondas de calor ou estiagens prolongadas. São instrumentos que incentivam, por exemplo, a criação de corredores verdes nas áreas urbanas, ampliando a permeabilidade do solo e diminuindo desastres associados às chuvas extremas – problemas cada vez mais frequentes em centros urbanos densamente ocupados.

Em seu discurso, Marina foi objetiva: “A adaptação precisa estar no centro da resposta global: proteger pessoas e territórios terrestres e marítimos depende de instrumentos concretos para medir progresso, orientar políticas e reduzir vulnerabilidades”. Essa defesa ecoa avaliações recentes da ciência climática, que alerta que o mundo está no limite para manter o aquecimento global em 1,5 grau Celsius. Para que essa meta continue alcançável, as nações precisam entregar o que prometeram em suas contribuições nacionalmente determinadas, as chamadas NDCs. Na visão da ministra, isso só será possível se houver “ação rápida, ambição reforçada e implementação acelerada”.

O pronunciamento também dialogou com as diretrizes defendidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apresentadas ao longo da conferência. Marina reforçou a ideia de que será necessário construir “mapas do caminho” para uma transição justa, planejada e gradual, tanto na reversão do desmatamento quanto na superação da dependência dos combustíveis fósseis. Esses mapas funcionariam como roteiros de transformação, indicando etapas, metas e os recursos financeiros indispensáveis para que a mudança seja efetiva e socialmente equilibrada.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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A ministra também ressaltou que o desafio climático não comporta soluções únicas e universais. Segundo ela, “é necessário diálogo estruturado, troca de experiências e estratégias de longo prazo, contemplando países produtores e países consumidores de combustíveis fósseis”. Trata-se de reconhecer que diferentes nações estão em estágios diversos de desenvolvimento, dependem de matrizes energéticas distintas e enfrentam desigualdades históricas que moldam suas capacidades de adaptação.

Marina insistiu na necessidade de responsabilidade diferenciada, lembrando que os países mais ricos têm maior obrigação em liderar o esforço global. Carregam não apenas maior peso histórico nas emissões acumuladas, como dispõem de mais meios financeiros e tecnológicos para implementar mudanças profundas com agilidade. Mas, ao mesmo tempo, ela destacou que os países em desenvolvimento não estão isentos de compromissos. Para ela, esses governos também devem criar meios de implementação que reduzam desigualdades internas e regionais, garantindo que suas populações mais vulneráveis tenham condições de enfrentar os impactos climáticos já em curso.

A ministra encerrou reforçando uma perspectiva que tem sido central em sua trajetória política: a de que uma transição verdadeiramente justa precisa combinar ciência moderna com os saberes tradicionais. “Essa é a essência de uma transição justa: proteger pessoas, fortalecer resiliência e orientar decisões pela ciência, tanto a ciência moderna quanto a dos conhecimentos dos povos originários”, afirmou. Sua fala sintetiza a visão de que não basta reduzir emissões. É preciso construir sociedades capazes de resistir, se adaptar e se reinventar diante de um clima mais instável.

O discurso, amplamente acompanhado por veículos como a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), reforça o papel do Brasil como articulador político em busca de avanços concretos na agenda de adaptação. Em Belém, cidade que simboliza a interseção entre floresta, rios e desafios urbanos, Marina Silva procurou deixar claro que não há tempo a perder. O clima está mudando rápido – e a capacidade global de resposta precisa mudar com a mesma velocidade.

Vítuke nasce na COP30 com apoio internacional a povos indígenas

O lançamento do Vítuke na COP30 marcou um dos movimentos mais relevantes já realizados pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) desde sua criação. Trata-se de um novo mecanismo financeiro concebido para impulsionar a implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas, a PNGATI, oferecendo aos povos originários acesso direto a recursos que fortaleçam sua autonomia territorial e assegurem condições para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.

O anúncio, celebrado em um dos painéis mais concorridos do Pavilhão Brasil, revelou que o fundo nasce robusto. A iniciativa já conta com aportes iniciais do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW), da Fundação Gordon e Betty Moore e do Banco Mundial, mobilizando um volume estimado de R$ 550 milhões. O desenho do mecanismo também recebeu apoio técnico do Bezos Earth Fund e da organização Re:wild.

Diante de uma plateia formada por lideranças indígenas, diplomatas e representantes de entidades ambientais, a ministra Sônia Guajajara sintetizou o simbolismo desse lançamento: “Hoje é um dia histórico na COP com o lançamento deste fundo que já nasce com um nome que quer dizer ‘nosso’.” Ela destacou que, na COP com a maior delegação indígena da história, o Vítuke oferece um caminho inédito para que recursos cheguem de forma direta e desburocratizada às comunidades de todos os biomas brasileiros.

O fundo inicia sua trajetória com aportes significativos: 15 milhões de euros da Alemanha, 10 milhões de dólares da Fundação Gordon e Betty Moore e 4 milhões de dólares planejados pelo Banco Mundial. O anúncio integrou o painel “PNGATI e Justiça Climática”, que reuniu autoridades como Ceiça Pitaguary, do MPI; Rosa Lemos de Sá, secretária-geral do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO); Lucia Alberta Andrade, da FUNAI; Kleber Kapiruna, da APIB; e Jozileia Kaingang, da ANMIGA.

WhatsApp-Image-2025-11-18-at-19.31.09-400x299 Vítuke nasce na COP30 com apoio internacional a povos indígenas

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Rosa Lemos de Sá, responsável pela entidade que fará a gestão operacional do Vítuke, explicou que o objetivo central é permitir que os povos indígenas liderem suas próprias agendas de fortalecimento territorial. Segundo ela, o mecanismo funciona como plataforma de acesso direto, em ações definidas como prioritárias pelas próprias comunidades. Para completar o anúncio, ela convidou ao palco os representantes das instituições doadoras, reforçando o caráter internacional do compromisso.

O secretário federal do BMZ, Niels Annen, afirmou que o Vítuke representa um passo decisivo no apoio às comunidades indígenas e que a Alemanha pretende formalizar a contribuição ainda no início de dezembro. Da mesma forma, Avecita Chicchón, da Fundação Moore, destacou que o apoio contempla não apenas a Amazônia, mas povos indígenas de todos os biomas do país. Já Erwin De Nys, do Banco Mundial, elogiou a previsibilidade do mecanismo e sua condução indígena, chamando-o de instrumento essencial para um apoio duradouro.

A criação do Vítuke é resultado direto da articulação entre o MPI e o movimento indígena organizado, incluindo APIB, ANMIGA e a COIAB. Essa construção conjunta reforça a legitimidade do fundo e sua sintonia com demandas históricas das comunidades. O FUNBIO, responsável pela gestão, traz experiência acumulada em mais de duas décadas dedicadas a projetos de conservação da biodiversidade.

WhatsApp-Image-2025-11-18-at-19.31.09-2-400x299 Vítuke nasce na COP30 com apoio internacional a povos indígenas

O fundo promete impacto territorial e social expressivo. A expectativa é que ele contribua para a proteção de até 100 milhões de hectares, beneficiando mais de 300 mil indígenas, quase metade da população registrada pelo Censo Indígena de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os investimentos se distribuirão em seis eixos estratégicos, incluindo governança indígena, proteção ambiental, prevenção de danos, uso sustentável dos recursos, infraestrutura de gestão e formação técnica.

Ao canalizar financiamento privado e internacional para fortalecer a PNGATI, o Vítuke representa mais do que um novo mecanismo: é um gesto político que reconhece que a proteção territorial indígena é central para enfrentar a crise climática. Territórios indígenas estão entre as áreas mais eficazes na manutenção da floresta em pé, o que amplia o alcance climático do fundo. Assim, o Vítuke nasce como instrumento de justiça climática, soberania territorial e defesa da biodiversidade, simbolizando um novo capítulo na relação entre Estado, sociedade e povos originários.

Lula reage a Merz e defende a riqueza cultural do Pará

O embate diplomático que marcou a semana na COP30 ganhou novos contornos quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu responder publicamente à declaração do primeiro-ministro alemão, Friedrich Merz. O chanceler afirmara que ninguém de sua delegação quis permanecer em Belém durante a conferência porque considerava Berlim “uma cidade muito bonita”. A comparação soou depreciativa para o governo brasileiro e provocou reação imediata.

Durante a inauguração da Ponte Xambioá, estrutura que conecta Xambioá (TO) e São Geraldo do Araguaia (PA) ao longo da BR-153, Lula aproveitou o evento para defender a Amazônia brasileira e rebater o comentário europeu. Em tom firme, disse ao público presente que “Berlim não oferece para ele 10% da qualidade que oferece o estado do Pará e a cidade de Belém”. A fala foi recebida com aplausos e reforçou o discurso político que o presidente vem construindo desde que decidiu levar uma conferência global do clima justamente para o coração da Amazônia.

O episódio revela mais do que uma mera troca de farpas. A fala de Merz expôs um tipo de desconhecimento comum entre visitantes estrangeiros, especialmente aqueles acostumados a imaginar a região amazônica como um espaço homogêneo, isolado e carente de infraestrutura. Lula explorou essa brecha ao ampliar seu discurso e contextualizar a escolha de Belém como sede da COP30. Segundo ele, a decisão enfrentou resistência desde o início. Setores diversos questionaram desde a oferta de hospedagem até o custo de itens triviais – uma crítica que, para o presidente, revela certo estranhamento urbano diante da diversidade cultural brasileira. Conforme afirmou, muitos reclamaram “do preço do refrigerante”, embora “nunca reclamaram do preço de uma água em um aeroporto internacional”.

O contraponto construído pelo chefe de Estado não se limitou a dados logísticos ou econômicos. Lula buscou valorizar o Pará como território pulsante, repleto de cultura, sabores e modos de viver que refletem a vitalidade amazônica. Em uma crítica direta à percepção de Merz, reforçou que faltou a ele vivência local: “Ele, na verdade, devia ter ido em um boteco no Pará. Ele, na verdade, deveria ter dançado no Pará. Ele deveria ter provado a culinária do Pará.” E concluiu repetindo que “Berlim não oferece para ele 10% da qualidade que oferece o estado do Pará, a cidade de Belém”.

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Cidade de Belém sede da COP30 – divulgação/reprodução

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A resposta presidencial também dialoga com uma estratégia maior do governo federal: reposicionar o Brasil e a Amazônia no debate climático internacional. Ao mesmo tempo em que denuncia preconceitos históricos, Lula tenta fortalecer a imagem do Pará como centro vivo das discussões ambientais. O estado, por sua vez, aproveita a visibilidade para destacar políticas de conservação, iniciativas de bioeconomia e projetos que dialogam com a transição ecológica – elementos que interessam tanto ao governo quanto aos parceiros internacionais.

A cobertura do episódio ganhou amplitude graças ao trabalho da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que acompanha a COP30 e registra os bastidores diplomáticos do encontro. A declaração de Merz, ao migrar para o noticiário, acabou servindo como combustível para o presidente reforçar seu discurso político e defender o orgulho regional em um momento em que o Brasil tenta se consolidar como liderança ambiental.

O caso evidencia ainda a dificuldade recorrente das relações internacionais de transitar entre sensibilidades culturais distintas. Em eventos multilaterais, diferenças de interpretação podem escalar rapidamente quando associadas a tensões históricas ou a percepções arraigadas sobre determinados territórios. Nesse sentido, a resposta do presidente busca não apenas reparar uma suposta injustiça simbólica, mas também afirmar a Amazônia como espaço estratégico, moderno e essencial ao clima global.

O episódio reforça como debates ambientais, identidades regionais e diplomacia se entrelaçam em eventos como a COP30. No centro dessa disputa discursiva está Belém, cidade que, conforme Lula sublinhou, carrega qualidades que vão muito além do imaginário internacional. A frase do presidente – repetida duas vezes e sem alteração – virou um marco do momento político e promete reverberar nas discussões que seguem durante a conferência.

Resgate financeiro da floresta: US$ 120 milhões para proteger a Amazônia com seus guardiões

Em um anúncio que sinaliza a renovação do compromisso global com a Amazônia, o Programa de Áreas Protegidas da Região Amazônica (ARPA), lançado há mais de duas décadas, garantiu um novo e robusto aporte de US$ 120 milhões. Este investimento, equivalente a quase R$ 640 milhões, será a força motriz para a conservação e o desenvolvimento sustentável em uma área que se estende por impressionantes 23,6 milhões de hectares, um território comparável ao próprio Reino Unido.

O foco central desta nova fase, que se desenrolará ao longo de 15 anos, é o fortalecimento de 60 Unidades de Conservação (UCs) federais e estaduais de uso sustentável. Crucialmente, os recursos serão direcionados para comunidades que vivem no coração da floresta, como extrativistas e outras populações tradicionais—um grupo estimado em 130 mil pessoas. A estratégia reconhece a verdade fundamental de que a proteção da floresta equatorial depende intrinsecamente do bem-estar e da prosperidade dos seus guardiões humanos.

A ministra Marina Silva (MMA) foi enfática ao sublinhar essa interdependência, chamando o processo de um mecanismo de “retroalimentação”: a gestão eficaz das UCs só é sustentável quando realizada em parceria e benefício direto das comunidades. É um endosso à tese de que conservar a natureza e promover o desenvolvimento humano não são objetivos concorrentes, mas complementares.

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Indígenas em defesa de projeto de lei para destinar áreas da União na Amazônia para unidades de preservação ou Terras Indígenas – Projeto Colabora

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Investimento que Gira a Economia da Floresta

O investimento não se limitará à vigilância ambiental. Ele é concebido para atuar como uma catalisadora econômica que desvincula o sustento das famílias da atividade destrutiva do desmatamento. Os recursos serão canalizados por meio de contratos governamentais com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) — o gestor e executor financeiro do ARPA.

Os planos incluem:

  • Reforço de economias sustentáveis: Melhorar a produção e, crucialmente, o escoamento de produtos extrativistas.

  • Modernização: Levar acesso à internet e eletricidade, priorizando o uso de fontes limpas.

O presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Júlio Barbosa de Aquino, expressou otimismo, projetando um “salto muito grande” na qualidade de vida e na geração de renda, ao mesmo tempo em que fortalece a proteção dos territórios e dos recursos naturais. A secretária-geral do Funbio, Rosa Lemos de Sá, reforça a visão econômica, estimando que o apoio beneficiará 130 organizações comunitárias capazes de gerar uma receita anual entre US$ 130 milhões a US$ 170 milhões, proveniente de atividades econômicas baseadas na socioeconomia da floresta.“Ao vincular os recursos a metas de desempenho e a objetivos políticos essenciais para o Brasil, estamos proporcionando benefícios intergeracionais para as pessoas e para a natureza,”

Um Programa com História e Impacto Mensurável

O ARPA não é uma iniciativa passageira; ele foi lançado em 2002 na Rio+10, em Joanesburgo, e, como notou Marina Silva, sobreviveu a “piores governos,” demonstrando uma resiliência institucional notável.

O programa já conta com um histórico impressionante:

  • Criação de UCs: Apoiou a criação de 27 milhões de hectares em reservas federais e estaduais — uma área maior que os estados de São Paulo e Rio de Janeiro somados.

  • Mitigação Climática: Entre 2008 e 2020, o programa contribuiu para evitar a emissão de 104 milhões de toneladas de CO₂.

A meta ambiciosa para o futuro é apoiar a conservação e o uso sustentável de 60 milhões de hectares até 2039, abrangendo cerca de 15% da Amazônia brasileira. O ARPA é um modelo de cooperação internacional e nacional, financiado por uma coalizão que inclui o governo da Alemanha, o Banco Mundial, a Fundação Gordon and Betty Moore, a AngloAmerican e o WWF. Esta nova injeção de capital não apenas assegura a continuidade do programa, mas solidifica a visão de que a luta contra a crise climática passa, fundamentalmente, pela valorização e empoderamento das comunidades que vivem na maior floresta tropical do mundo.

A adaptação climática no coração da resposta global: A mensagem de Marina Silva na COP30

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, sediada em Belém, foi palco para a contundente defesa da ministra brasileira do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que posicionou a adaptação como o pilar central e inadiável da estratégia global contra a crise climática. Em seu discurso no segmento de alto nível de ministros, a ministra não apenas sublinhou a urgência de agir, mas também mapeou o caminho para uma transição energética e social que seja, acima de tudo, justa e equitativa.

A principal demanda de Marina Silva para a COP30 é a aprovação dos indicadores globais de adaptação. Esta não é uma mera formalidade burocrática; é a exigência de um conjunto de regras e métricas concretas que orientarão nações ao redor do planeta a fortificar suas cidades e ecossistemas contra os impactos já sentidos do aquecimento global. A ministra ilustra o conceito com exemplos práticos e palpáveis, como a necessidade de criar mais áreas verdes em centros urbanos. Tais medidas não visam apenas a estética, mas sim a funcionalidade, tornando o solo mais permeável — uma tática crucial para mitigar os danos catastróficos de inundações e enxurradas que se tornam mais frequentes e intensas.“A adaptação precisa estar no centro da resposta global: proteger pessoas e territórios terrestres e marítimos depende de instrumentos concretos para medir progresso, orientar políticas e reduzir vulnerabilidades,”

A ministra ressaltou a natureza crítica do tempo. Enquanto a ciência climática insiste que o mundo precisa manter o aquecimento global em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, o caminho para este objetivo passa diretamente pela implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) que cada país se comprometeu a cumprir. A mensagem é um eco da urgência: “Precisamos de ação rápida, ambição reforçada e implementação acelerada.”

Roteiros para um Futuro Sem Fósseis

O discurso de Marina Silva reforçou a visão já apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a necessidade de se construir “mapas do caminho.” Essa metáfora não significa apenas a eliminação da dependência dos combustíveis fósseis, mas sim a criação de um roteiro gradual, justo e meticulosamente planejado para essa transição. É um reconhecimento de que a descarbonização não pode ser um processo abrupto que penalize populações, mas sim uma mudança progressiva que mobilize os recursos financeiros e tecnológicos necessários para sustentá-la.

A ministra desmistificou a ideia de que existe uma solução única e universal para o complexo desafio climático. Em vez disso, ela defendeu a importância de um “diálogo estruturado” e da troca de experiências de longo prazo. Essa conversa deve incluir tanto os países produtores quanto os países consumidores de combustíveis fósseis, reconhecendo que a solução exige uma concertação de esforços globais em todas as frentes da economia.

cop30-dia-2-1024x576.jpg-400x225 A adaptação climática no coração da resposta global: A mensagem de Marina Silva na COP30
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

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O Imperativo da Transição Justa

Um dos pontos mais enfáticos do discurso de Marina Silva é a distribuição de responsabilidades. Ela invocou o princípio da responsabilidade histórica e da capacidade financeira para pressionar os países mais ricos a liderarem a transição com velocidade e ambição. Esses países, por terem contribuído desproporcionalmente para a crise, devem ser os primeiros a descarbonizar e a financiar os esforços globais.

Contudo, a ministra também deixou claro que a urgência da ação não isenta os países em desenvolvimento de seu papel. Eles devem se comprometer a desenvolver meios de implementação que sejam coerentes com a redução da desigualdade social e econômica.

Essa intersecção entre ação climática e justiça social é a “essência de uma transição justa”:

  • Proteger as pessoas mais vulneráveis.

  • Fortalecer a resiliência das comunidades.

  • Orientar todas as decisões pela ciência.

A ministra finalizou com uma homenagem crucial ao conhecimento ancestral, afirmando que a orientação científica deve englobar tanto a ciência moderna quanto os conhecimentos dos povos originários. Essa síntese de saberes é vista como fundamental para criar estratégias de adaptação que sejam não apenas tecnicamente eficazes, mas também culturalmente e ecologicamente enraizadas. O apelo de Belém é claro: a adaptação deve deixar a periferia do debate e assumir seu lugar de direito como o motor da resposta global ao clima.

Como o oceano pode cortar 35% das emissões até 2050

O anúncio do chamado blue package, feito em Belém pela enviada especial da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, marca uma inflexão importante no papel dos oceanos dentro da agenda climática global. Marinez Scherer, nomeada para representar os temas marinhos no processo negociador, revelou que a iniciativa reúne cerca de 70 soluções capazes de colocar o oceano no centro das decisões sobre mitigação, adaptação e investimentos de longo prazo. Segundo ela, essas medidas podem cortar até 35% das emissões globais de dióxido de carbono até 2050, contribuindo de forma decisiva para manter o planeta dentro do limite de 1,5°C de aquecimento.

A iniciativa foi construída de forma conjunta por especialistas brasileiros, representantes de atores não estatais e pela presidência da COP30, que neste ano ocorre em Belém. O blue package nasce não apenas como um documento de referência, mas como um roteiro prático para acelerar políticas, mobilizar capitais, orientar governos e criar instrumentos que permitam transformar soluções marinhas em ações efetivas.

Marinez Scherer enfatizou que a COP finalmente reconhece o oceano como um componente essencial da estabilidade climática. Em suas palavras, restaurar e proteger zonas costeiras e ecossistemas marinhos é garantir que o oceano continue a exercer sua função de principal regulador do clima planetário. A declaração sintetiza um entendimento cada vez mais consolidado: sem oceanos saudáveis, não há transição climática possível.

O pacote azul organiza iniciativas que vão muito além da conservação tradicional. Inclui caminhos para expandir energias renováveis oceânicas, acelerar a descarbonização do transporte marítimo, desenvolver cadeias de aquicultura sustentável, qualificar o turismo costeiro, estimular inovação empresarial voltada ao mar e melhorar o relacionamento cotidiano entre sociedades e ambientes marinhos. Também explora alternativas para a transição das plataformas de petróleo e gás offshore em direção a sistemas de baixo carbono.

Essas soluções cumprem objetivos de mitigação e adaptação, reforçam a proteção da biodiversidade, ampliam a segurança alimentar e fortalecem a resiliência das comunidades costeiras. Para que possam sair do papel, o pacote projeta uma necessidade de investimento entre 130 e 170 bilhões de dólares. Os números, segundo os organizadores, servem para orientar ministérios da Fazenda, bancos de desenvolvimento e investidores privados quanto à escala real das oportunidades econômicas ligadas ao oceano.

A enviada especial afirma que a mobilização desse capital depende de três pilares: regulações adequadas, instrumentos que reduzam riscos e modelos de blended finance capazes de atrair diferentes perfis de financiadores. Além disso, reforça que qualquer implementação concreta dependerá de mecanismos eficazes de responsabilização, capazes de garantir transparência e governança na aplicação dos recursos.

Um dos anúncios mais celebrados do dia foi o lançamento do Ocean Breakthroughs Dashboard, uma ferramenta digital destinada a monitorar o avanço das iniciativas oceanográficas no contexto climático. Ela entrou no ar no dia 17 e foi apresentada como um novo contrato social para a proteção dos mares. A ideia é permitir que governos, empresas, pesquisadores e sociedade civil acompanhem indicadores de progresso e alinhem compromissos nacionais com metas internacionais.

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Oceano Atlântico – Reprodução

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Marinez Scherer insistiu na importância de integrar o oceano aos planos climáticos de cada país, argumentando que a proteção marinha precisa estar no mesmo patamar das florestas e da biodiversidade. Na visão dela, só assim será possível construir estratégias coerentes com a noção de que vivemos em um único sistema planetário, no qual oceanos, continentes e atmosfera interagem e sustentam a vida.

O movimento já demonstra resultados concretos. Dezessete países assumiram o compromisso de incorporar o oceano em suas versões atualizadas dos planos climáticos nacionais. Além do Brasil e da França, a iniciativa já conta com Austrália, Fiji, Quênia, México, Palau, República das Seychelles, Chile, Madagascar e Reino Unido. A COP30 também marcou a entrada de Bélgica, Camboja, Canadá, Indonésia, Portugal e Singapura, que anunciaram sua adesão à plataforma.

A convergência de compromissos indica que a diplomacia climática marítima avança para um novo estágio, no qual políticas oceânicas não são vistas apenas como iniciativas ambientais, mas como alavancas estratégicas para segurança alimentar, manutenção da estabilidade climática e criação de mercados sustentáveis.

Ao transformar ciência, planejamento e cooperação internacional em um pacote de ações pragmáticas, o blue package busca inaugurar um ciclo em que os oceanos deixam de ser tratados como fronteiras distantes e passam a ocupar o centro da transição global para um planeta mais resiliente.

Como o Sul Global pode liderar a nova revolução energética

A transição energética que domina as discussões da COP30 tem sido apresentada como um desafio urgente para limitar o aquecimento global. Mas, para especialistas reunidos em Belém, esse processo também abre uma janela histórica para que os países do Sul Global reposicionem seu papel no mapa econômico mundial. A avaliação é que, ao reunir reservas abundantes de minerais estratégicos, experiência acumulada com biocombustíveis e trajetórias pioneiras em novos mercados, essas nações têm condições de valorizar seus ativos naturais e tecnológicos de forma inédita — desde que ampliem a cooperação entre si e encontrem novos caminhos de financiamento.

O tema orientou o painel promovido pela FAPESP no Pavilhão do Brasil durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Participaram pesquisadores da África do Sul, Brasil, China e Índia, todos com vivência direta no desenvolvimento de políticas e tecnologias que sustentam a descarbonização até 2050. O diagnóstico foi convergente: a transição energética deixa de ser apenas uma obrigação climática e passa a ser um campo fértil para mover capital, talentos e inovação.

Pu Wang, professor do Instituto de Ciências e Desenvolvimento da Academia Chinesa de Ciências e diretor de pesquisa do Instituto de Estratégias de Desenvolvimento Sustentável da instituição, sublinhou que o Sul Global conhece como poucos a combinação de desafios sociais, climáticos e econômicos que molda sua trajetória. Isso torna a parceria entre esses países não apenas desejável, mas quase inevitável. Wang argumenta que a dimensão territorial de países como Brasil, Índia e África do Sul cria condições naturais para ampliar energias solar e eólica, ao mesmo tempo em que atrai novos fluxos de investimento e mão de obra especializada.

Para ilustrar esse potencial, ele recuperou a trajetória chinesa na indústria de veículos elétricos. Há duas décadas, afirmou, a ideia de que mudanças climáticas poderiam impulsionar o crescimento econômico parecia improvável para várias nações. Entretanto, o salto tecnológico da China, que hoje figura entre os maiores exportadores de automóveis do mundo, demonstra que a transição energética pode se converter em estratégia industrial transformadora. Para Wang, outros países do Sul Global têm condições de trilhar caminhos similares a partir do intercâmbio técnico e científico.

Mas, para isso, o financiamento precisa acompanhar o ritmo da ambição. O pesquisador destacou que os avanços chineses só foram possíveis graças a investimentos contínuos em ciência e tecnologia. Ele defende um movimento gradual: iniciar pela fabricação de painéis solares, baterias e etapas básicas de montagem e, progressivamente, migrar para tecnologias de maior valor agregado. Esse ciclo, afirma, não apenas moderniza setores industriais, como estabelece novas competências nacionais que se retroalimentam.

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Outra frente apontada durante o encontro foi a necessidade de modernizar e expandir redes de transmissão. Dipak Dasgupta, membro do Instituto de Energia e Recursos da Índia e do Conselho Científico da COP30, chamou atenção para o gargalo técnico que surge quando a participação das renováveis ultrapassa cerca de um quarto da matriz elétrica. A resposta indiana, que remodelou sua infraestrutura de alta tensão para reduzir perdas e aumentar eficiência, poderia, segundo ele, ser compartilhada diretamente com operadores brasileiros ou chineses. Essa cooperação técnica, afirmou, evita que cada país precise redescobrir soluções já testadas.

Ao mesmo tempo, Dasgupta defende que novos mecanismos financeiros específicos para inovação sejam estruturados, sob risco de os países em desenvolvimento não conseguirem avançar para tecnologias mais sofisticadas. Ele vê um papel estratégico para instituições financeiras nacionais, capazes de direcionar recursos a projetos que catalisem a transformação energética.

A discussão também enfatizou a necessidade de que o processo de descarbonização seja justo. Harald Winkler, da Universidade da Cidade do Cabo, lembrou que transições feitas sem participação comunitária tendem a reproduzir desigualdades. Para ele, o futuro energético só será sustentável se as comunidades puderem influenciar seus rumos e não apenas absorver impactos.

Thiago Barral, ex-secretário nacional do Ministério de Minas e Energia do Brasil, reforçou o ponto ao destacar que países do Sul precisam construir seus próprios cenários de emissões líquidas zero, alinhados às suas realidades. Só assim, afirmou, a cooperação Sul-Sul pode se fortalecer com bases técnicas sólidas.

A sessão foi mediada por Gilberto Jannuzzi, professor da Unicamp e assessor da Diretoria Científica da FAPESP para o Programa de Transição Energética, que destacou o objetivo do encontro: reunir vozes que estejam moldando, na prática, o futuro energético do mundo em desenvolvimento.

Por que povos da floresta cobram acesso direto ao clima

A presença intensa de movimentos sociais na COP30, realizada em Belém, transformou o debate sobre financiamento climático em uma pauta central e incontornável. Entre marchas, atos públicos e pressões dirigidas às delegações oficiais, povos indígenas, comunidades quilombolas, ribeirinhos, extrativistas e outros grupos tradicionais colocaram no centro das discussões um pedido antigo: o direito ao acesso direto a recursos climáticos, sem camadas intermediárias que atrasem, limitem ou distorçam a execução dos projetos construídos em seus territórios.

A reivindicação não surgiu na conferência. Desde o anúncio do Brasil como sede, esses grupos têm denunciado a falta de representatividade nas mesas de negociação da ONU. Documentos enviados às autoridades internacionais e manifestações que marcaram tentativas inéditas de ultrapassar bloqueios de segurança expressam uma mensagem comum: quem protege a floresta não apenas deve ser ouvido, mas também deve ser financiado para continuar garantindo equilíbrio climático ao planeta.

Essa leitura também é compartilhada por especialistas. Raquel Biderman, vice-presidente sênior da América do Sul na organização internacional Conservation International, aponta um paradoxo: embora a natureza responda por cerca de 30% das soluções climáticas globais, ela recebe apenas 3% do total das finanças climáticas. Dentro desse percentual já pequeno, povos que vivem e manejam ecossistemas florestais recebem somente 1%. Em outras palavras, aqueles que mantêm vivos os estoques de carbono — e, portanto, ajudam a reduzir a concentração de gases de efeito estufa — quase não têm acesso aos recursos destinados justamente a enfrentar a crise climática.

O debate se torna ainda mais urgente diante da meta internacional de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. Ultrapassar essa marca pode desencadear transformações irreversíveis nos sistemas atmosféricos, intensificando secas, enchentes e ondas de calor. Para evitar esse cenário, é essencial preservar e ampliar os estoques naturais de carbono, muitos deles mantidos pelos modos tradicionais de uso da terra presentes na Amazônia.

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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Segundo o Censo 2022, o Brasil abriga 1,7 milhão de indígenas. Somente na Amazônia existem 511 povos, dos quais 391 no território brasileiro. Formas de manejo como roças sustentáveis, agroflorestas, extrativismo e ecoturismo são práticas que combinam conservação, segurança alimentar e renda, além de impedir que o carbono armazenado na biodiversidade amazônica seja liberado para a atmosfera. É um sistema de vida que funciona, mas que permanece economicamente subfinanciado.

A COP30 ampliou esse debate ao apresentar novas iniciativas voltadas para a remuneração dessas populações, entre elas o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). A expectativa é que esse tipo de mecanismo abra portas para fluxos mais estáveis de recursos, especialmente de países historicamente responsáveis pela maior parte das emissões — frequentemente chamados de devedores climáticos. Mas a distância entre o necessário e o praticado ainda é grande. Estimativas do Banco Mundial indicam que a Amazônia precisaria de aproximadamente US$ 7 bilhões por ano para manter seus serviços ecossistêmicos. Atualmente, chega a receber cerca de US$ 600 milhões, menos de 10% do necessário.

Historicamente, políticas públicas destinadas a povos tradicionais oscilaram conforme governos, sem continuidade. Para Raquel Biderman, no entanto, começa a surgir um ambiente de diversificação das fontes de financiamento climático. Propostas antigas, como conversão de dívida por natureza e fundos de conservação, convivem agora com novas frentes, como o mercado de carbono e os chamados negócios da natureza. Mas essas soluções exigem vigilância permanente da sociedade civil, especialmente nas regiões onde contratos podem impactar direitos territoriais e modos de vida.

A região amazônica, marcada por enorme diversidade cultural e por desafios logísticos, também enfrenta a pressão crescente de economias ilegais vinculadas ao tráfico de armas, drogas e mineração clandestina. Para a especialista, fortalecer alternativas econômicas lícitas e sustentáveis é fundamental para impedir que jovens sejam cooptados por atividades criminosas e para preservar territórios ameaçados.

Nesse contexto, o acesso direto ao financiamento climático aparece como uma estratégia dupla: proteger a floresta e proteger as populações que garantem sua permanência. A bioeconomia, que reúne mais de cem cadeias produtivas ligadas a sementes, fibras, frutos, óleos, resinas e conhecimentos tradicionais, é uma das principais portas de entrada. Com recursos adequados, pode se transformar em motor econômico capaz de garantir autonomia, renda, permanência no território e continuidade de modos de vida que, há séculos, sustentam a Amazônia.

Em Belém, no coração da COP30, a mensagem ecoou com clareza: financiar os povos da floresta não é caridade nem política social — é estratégia climática global.

Crédito verde acessível leva pequenos negócios à transição ecológica

O Brasil apresentou ao mundo, durante a COP30 em Belém, o Empreender Clima, uma plataforma digital criada para aproximar micro e pequenos empreendedores da economia verde. A iniciativa nasce de uma coalizão entre o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI), o Sebrae e o BNDES, reunindo crédito acessível, formação técnica e ferramentas digitais para facilitar a entrada dos pequenos negócios no universo da transição ecológica.

A plataforma chega em um momento decisivo. O Brasil vive um cenário de juros elevados que historicamente afastou os pequenos empreendedores do crédito. O Empreender Clima tenta romper esse ciclo ao oferecer taxas a partir de 4,4% ao ano e até 100% de financiamento para projetos ambientais. O diferencial está no desenho do sistema: rápido, gratuito e orientado. Em menos de dez minutos, o empreendedor pode criar seu perfil, acessar conteúdos personalizados e gerar um pré-enquadramento no Fundo Clima, principal mecanismo federal de financiamento para mitigação e adaptação à mudança do clima.

As condições de financiamento variam conforme o setor, mas mantêm uma lógica comum: prazos longos e carências generosas para permitir que o empreendedor implemente seu projeto com fôlego. Iniciativas de logística verde, transporte coletivo e mobilidade sustentável podem chegar a 25 anos de financiamento, com até cinco anos de carência. Projetos relacionados a florestas nativas e recursos hídricos contam com até oito anos de carência e o mesmo prazo total. Já setores industriais e de energia limpa têm condições específicas, com prazos de até 16 anos e carência de até seis anos. A intenção explícita é democratizar o acesso ao crédito climático, criando um terreno fértil para inovação local e impacto ambiental positivo.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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Para o ministro do MEMP, Márcio França, a plataforma marca um ponto de virada na história do crédito produtivo no Brasil. Segundo ele, o país viveu por muito tempo uma contradição: embora pequenas empresas fossem motor essencial da economia real, o crédito verde permanecia distante de sua realidade cotidiana. A proposta do governo é reduzir essa assimetria, colocando o pequeno empreendedor no centro da transição ecológica por meio de juros acessíveis, qualificação profissional e tecnologia aplicada ao negócio.

O Empreender Clima foi estruturado para funcionar como um ecossistema integrado. Reúne cursos de empreendedorismo climático, mapas de oportunidades sustentáveis, um catálogo de instrumentos financeiros e o serviço automatizado de pré-enquadramento no Fundo Clima. A plataforma trabalha com oito setores estratégicos, entre eles energia, agricultura, logística, construção civil e gestão de resíduos, organizados em quatro eixos: identificação de oportunidades, capacitação em tecnologias limpas, conexão com linhas de crédito verde e apoio técnico à elaboração de projetos financiáveis.

Mais do que um instrumento de crédito, o Empreender Clima se propõe a derrubar barreiras históricas. A falta de informação, os entraves burocráticos e a dificuldade de formular projetos nos moldes exigidos sempre afastaram pequenos negócios das fontes de financiamento ambiental. A nova plataforma busca preencher essas lacunas, permitindo que micro e pequenos empreendedores elaborem seus pré-projetos de forma simples, gratuita e rápida, abrindo caminho para recursos antes restritos a grandes corporações.

O MEMP chega à COP30 com uma agenda voltada à valorização das economias sustentáveis e regionais. A pasta integra o Espaço da Biodiversidade – Produtos Sustentáveis do Brasil, instalado na Green Zone, em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), levando ao público produtos de cooperativas de mulheres, artesanato tradicional e iniciativas que valorizam a produção comunitária da sociobiodiversidade.

O Empreender Clima sintetiza uma ideia simples, mas estratégica: a transição ecológica não será plena se não incluir a base produtiva do país. Ao aproximar crédito acessível, conhecimento técnico e tecnologia de quem empreende na ponta, o governo aposta que a economia verde deixará de ser um discurso para se transformar em prática cotidiana — não apenas nos grandes centros, mas nos territórios onde a inovação nasce por necessidade, criatividade e sobrevivência.

Força-Tarefa Oceânica leva agenda marinha ao centro da COP30

A COP30 voltou a colocar o oceano no centro da agenda climática global com o anúncio da Força-Tarefa Oceânica, apresentada durante um encontro ministerial de alto nível liderado pelo Governo do Brasil e pelo Governo da França. A iniciativa nasce como uma expansão do Blue NDC Challenge, mecanismo que estimula a incorporação de metas oceânicas nas Contribuições Nacionalmente Determinadas, e agora assume um caráter operacional, voltado à implementação de soluções marinhas nos planos climáticos nacionais.

O encontro, batizado de Da Ambição à Implementação, reuniu países que vêm pressionando para que a agenda oceânica deixe de ocupar papel periférico e seja tratada como um dos pilares da ação climática global. O diálogo resultou na apresentação do Pacote Azul da Agenda de Ação, um conjunto de diretrizes que integra, de forma inédita, a conservação dos oceanos e zonas costeiras à estrutura central das políticas climáticas internacionais.

Durante o evento, foi anunciado que 17 países já se comprometeram oficialmente a incluir o oceano na atualização de suas NDCs. Além dos anfitriões Brasil e França, integram o grupo Austrália, Fiji, Quênia, México, Palau, República das Seychelles, Chile, Madagascar e Reino Unido. Outros seis países ampliaram a coalizão ao aderirem ao desafio durante o encontro: Bélgica, Camboja, Canadá, Indonésia, Portugal e Singapura. A diversidade geográfica da lista mostra que a agenda oceânica se tornou transversal, reunindo nações insulares, costeiras e até países cuja força diplomática tem peso decisivo na governança climática internacional.

Representando o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, o secretário Aloisio de Melo destacou que a nova NDC brasileira passa a integrar, pela primeira vez, medidas baseadas no oceano. Ele mencionou iniciativas como o ProManguezal e o ProCoral, programas que buscam expandir ações de conservação e restauração de manguezais e recifes, reforçando que o oceano deve ser reconhecido como um pilar da ambição climática global. Melo também celebrou a adesão crescente de países que integram medidas marinhas em seus compromissos climáticos e apontou que chefes de Estado, durante a cúpula de líderes da COP30, já haviam sinalizado alinhamento inédito sobre a centralidade do oceano na resposta climática.

brasil-franca-poder360-400x225 Força-Tarefa Oceânica leva agenda marinha ao centro da COP30
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A diretora-executiva da Plataforma Oceano e Clima, Loreley Picourt, reforçou que a transformação do Blue NDC Challenge em uma Força-Tarefa de Implementação representa um avanço decisivo. Para ela, o Pacote Azul fornece um roteiro claro que orienta os países a transformar ambição em ação concreta, influenciando tanto o resultado final da COP30 quanto o caminho rumo à COP31.

O embaixador do Clima da França, Benoit Faraco, lembrou que o lançamento do Desafio das NDCs Azuis ocorreu na 3ª Conferência da ONU sobre o Oceano (UNOC3), realizada em Nice, e que o encontro demonstrou a força do multilateralismo ao impulsionar metas oceânicas e acelerar a ratificação do Tratado do Alto Mar. Para ele, a parceria franco-brasileira agora cumpre o papel de levar essas conquistas para a arena das negociações climáticas, onde se decide como essas promessas serão transformadas em políticas.

As ações previstas pelos países que aderem ao Desafio das NDCs Azuis são amplas e abrangem desde a gestão sustentável de ecossistemas costeiros e marinhos até a criação de áreas marinhas protegidas e o uso de ferramentas como o planejamento espacial marinho e o gerenciamento integrado da zona costeira. Também ganham destaque medidas que estimulem práticas pesqueiras e aquícolas que sejam resilientes ao clima, garantindo segurança alimentar e preservação dos ambientes marinhos.

No caso brasileiro, a NDC atualizada prevê metas climáticas para 2035 e dedica um capítulo inteiro ao oceano e às zonas costeiras. O Plano Clima, que orientará as ações nacionais até 2035, terá pela primeira vez um plano temático de adaptação específico para áreas marinhas e costeiras. Entre as metas, está a conclusão do Planejamento Espacial Marinho até 2030, organizando de forma sustentável as atividades humanas no mar, e o fortalecimento do Gerenciamento Integrado da Zona Costeira.

Convidado do evento ministerial, o prefeito de Augusto Corrêa (PA), Francisco de Oliveira, chamou a atenção para a urgência de proteger manguezais, ecossistemas que, segundo ele, absorvem seis vezes mais carbono do que a floresta de terra firme. O gestor destacou que líderes locais e comunidades tradicionais têm conhecimento acumulado, mas dependem de financiamento para transformar proteção em prática contínua. Suas palavras ecoaram um tema recorrente durante a COP30: a necessidade de alianças que aproximem ciência, governos e populações que vivem da e na beira do mar.

Com a criação da Força-Tarefa Oceânica, a COP30 sinaliza que o oceano finalmente passa a ocupar o espaço que lhe é devido na política climática global. A partir daqui, a ambição expressa em discursos começa a ganhar chão: um esforço coordenado para integrar, proteger e revitalizar o maior regulador climático do planeta.

Amazônia avança rumo ao mercado global com novas startups

A presença do Sebrae na Green Zone da COP30 ganhou um novo peso estratégico com o lançamento do Inova Amazônia Global Edition, edital que inaugura uma etapa internacional para pequenos negócios de base florestal. A iniciativa busca transformar empresas amazônicas inovadoras em competidoras globais, conectando-as a mercados, fundos de investimento e centros de conhecimento que moldam a nova economia verde mundial.

A proposta do edital é ambiciosa: selecionar 80 empreendimentos que já passaram por etapas anteriores de aceleração e demonstraram maturidade tecnológica, modelo de negócio sólido e potencial real de escalar operações para fora do país. Esses selecionados irão embarcar em uma jornada intensiva que articula capacitações, mentorias especializadas, rodadas de negócios e missões internacionais, além de acesso privilegiado a investidores que procuram soluções de impacto ambiental com base em bioeconomia.

O movimento sinaliza uma mudança de patamar no posicionamento da Amazônia no cenário global. A região, tradicionalmente vista apenas pelo prisma de seus recursos naturais, passa a ser apresentada como berço de empresas capazes de desenvolver tecnologias, produtos e modelos de produção que unem conservação e competitividade. Segundo o diretor técnico do Sebrae, Bruno Quick, o foco agora é acelerar negócios que já provaram sua viabilidade e conectá-los ao que há de mais avançado no mercado global. Essa aproximação é vista como decisiva para consolidar cadeias produtivas sustentáveis que valorizem a floresta em pé e ampliem o protagonismo econômico da região.

Histórias recentes mostram que essa estratégia não nasce do zero. O próprio Inova Amazônia já impulsionou trajetórias que atravessaram fronteiras. Entre os exemplos mais emblemáticos está a Engenho, criadora do chamado “café de açaí”, que saiu do estágio de protótipo para alcançar prateleiras nos Estados Unidos, na Europa, na Austrália e em países da América Latina. O caso demonstra a capacidade de transformar frutos amazônicos em produtos sofisticados, capazes de dialogar com tendências contemporâneas como alimentação saudável, inovação alimentar e sustentabilidade.

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Outro exemplo é o da Saboaria Rondônia, que construiu uma cadeia produtiva com forte impacto social, baseada em bioativos como buriti e copaíba. Instalado em área rural, o empreendimento consolidou uma rede de fornecimento que fortalece comunidades extrativistas e promove geração de renda entre mulheres da região. É um retrato de como o conhecimento tradicional, quando aliado à inovação, pode se desdobrar em produtos de alto valor agregado com forte conexão territorial.

Desde sua criação em 2021, o Inova Amazônia vem acumulando números que ajudam a explicar por que a iniciativa está pronta para um salto global. São 409 empresas aceleradas, 660 ideias apoiadas e R$ 16 milhões em bolsas concedidas. Um indicador especialmente relevante é que 17% das participantes depositaram patentes, demonstrando capacidade de pesquisa e diferenciação tecnológica. Além disso, 22% receberam algum tipo de investimento e 31% iniciaram processos de internacionalização, uma pista clara de que o potencial de expansão não só existe como vem sendo trabalhado com consistência.

O lançamento do Global Edition dentro da COP30 não foi por acaso. A conferência se tornou uma vitrine mundial para soluções socioambientais, reunindo governos, investidores e instituições preocupadas com modelos de desenvolvimento que garantam preservação e prosperidade. Nesse ambiente, iniciativas que estruturam negócios baseados no uso sustentável da floresta ganham atenção e recursos. A aposta é transformar a Amazônia em polo de inovação verde, criando um ecossistema que permita que pequenas empresas alcancem o cenário internacional com competitividade.

Para os empreendedores selecionados, a nova etapa representa muito mais que capacitação: é a oportunidade de dialogar com fundos que buscam projetos robustos de impacto ambiental, acessar mercados que valorizam produtos rastreáveis e construir redes globais que aceleram a inserção internacional. Para a Amazônia como um todo, significa ampliar rotas econômicas que dependem da floresta viva, geram renda local, estimulam pesquisa e posicionam a região na economia climática que se consolida no século XXI.

Os detalhes completos do edital estão disponíveis na página oficial do Inova Amazônia.

COP30 acelera decisões e lança força-tarefa inédita

A COP30 entrou em sua fase mais intensa em Belém com o anúncio de uma força-tarefa destinada a acelerar decisões e evitar o famoso prolongamento das negociações até a madrugada do último dia. A estratégia, articulada pela presidência da conferência, comandada pelo diplomata André Corrêa do Lago, busca organizar um mutirão multilateral capaz de entregar, de forma antecipada, uma parte do chamado Pacote de Belém — um conjunto de resoluções que deve orientar a agenda climática global nos próximos anos.

Para concretizar esse movimento, a presidência enviou uma carta às delegações explicando a metodologia de trabalho. Na mensagem, Corrêa do Lago enfatiza que a COP30, realizada pela primeira vez no coração da Amazônia brasileira, exige um esforço incomum e coordenado. Ele pede que as partes trabalhem de modo colaborativo, quase como se estivessem em uma oficina coletiva, empurrando os entraves para fora da mesa e abrindo espaço para consensos.

A proposta divide as decisões em duas etapas. A primeira seria concluída e aprovada já na plenária de quarta-feira, dois dias antes do encerramento oficial da conferência. A segunda fase seria finalizada na sexta-feira, mantendo o cronograma padrão, mas com menos acúmulo de impasses. O objetivo é demonstrar que o multilateralismo — frequentemente criticado por sua lentidão — pode entregar resultados antes do prazo.

Na carta, enviada às partes sob a bandeira da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), o presidente da COP30 reforça que o processo decisório também está sob escrutínio global. O mundo, diz ele, observa não apenas o resultado final, mas a forma como esse resultado é alcançado. Confiança, generosidade e coragem são valores que, segundo o embaixador, devem guiar uma conferência que pretende deixar uma marca política relevante.

A diretora do Departamento de Clima do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixadora Liliam Chagas, explicou que o adiantamento de votações é uma resposta ao clima colaborativo da primeira semana da conferência. A ideia de estender horários nasceu justamente das conversas entre países, que solicitaram à presidência maior flexibilidade para conduzirem o trabalho sem interrupção. Para isso, a COP30 solicitará autorização formal à UNFCCC para ampliar o horário de funcionamento da conferência conforme a necessidade de cada grupo técnico.

Entre os itens que devem compor a primeira etapa do Pacote de Belém estão pilares centrais da arquitetura climática global. O Objetivo Global de Adaptação, conhecido pela sigla GGA, é um deles. Também entram em pauta o programa de trabalho sobre transição justa, os planos nacionais de adaptação, novas bases para o financiamento climático, o programa de mitigação, a agenda da Comissão Permanente de Finanças, diretrizes para o Fundo Verde para o Clima, o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e orientações ao Fundo para Resposta a Perdas e Danos, criado recentemente.

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Além dessas frentes, os negociadores pretendem avançar em temas ligados ao Fundo de Adaptação, ao Programa de Implementação de Tecnologia e a assuntos relacionados ao Artigo 13 do Acordo de Paris — dispositivo que regula como os países devem relatar e comprovar a transparência de suas ações climáticas.

Há ainda quatro temas espinhosos reunidos pelo que se convencionou chamar de mutirão de Belém: o apelo para ampliar metas climáticas (as NDCs), o financiamento público dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, as medidas unilaterais de comércio — incluindo tarifas e mecanismos de ajuste de carbono — e os relatórios bienais de transparência. Esses elementos políticos serão negociados ao lado dos pontos técnicos que compõem a segunda etapa do pacote. No total, a Agenda de Ação da COP30 inclui cerca de 145 itens.

A reação da sociedade civil à estratégia tem sido majoritariamente positiva. Para o Greenpeace Brasil, a sinalização de que haverá um pacote político antecipado representa esperança. A especialista Anna Cárcamo destacou que o plano global de resposta à crise climática e os caminhos para proteger florestas e reduzir gradualmente combustíveis fósseis ganharam força depois de receber apoio significativo de diversos países.

Ela enfatiza, contudo, que o conteúdo final ainda está em disputa: há versões mais ambiciosas e outras consideravelmente menos robustas. Uma delas trata da necessidade de triplicar o financiamento internacional destinado à adaptação até 2030, uma reivindicação reiterada pelos países mais vulneráveis.

O WWF também avalia o movimento como um sinal de progresso. Manuel Pulgar-Vidal, líder global de Clima e Energia da organização, afirmou que os dois pacotes anunciados pela presidência mostram que existe disposição política para avançar de forma coordenada rumo ao limite de aquecimento de 1,5°C previsto pelo Acordo de Paris.

Com a força-tarefa oficialmente em andamento, o que se verá nos próximos dias é um teste de coordenação diplomática em grande escala. Em Belém, onde florestas, rios e comunidades convivem com a expectativa global, a COP30 tenta provar que, mesmo em um mundo dividido, ainda é possível produzir convergência.

Revisão do IBGE redefine fronteiras do Cerrado e da Mata Atlântica

A mais recente revisão dos limites territoriais da Mata Atlântica e do Cerrado, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reacendeu debates sobre como o Brasil interpreta, classifica e protege seus biomas. Diferentemente do que costuma mobilizar manchetes — desmatamento, degradação, expansão agrícola — a mudança não tem relação com transformações físicas recentes na paisagem, mas com um aperfeiçoamento técnico que redesenha, com maior precisão, onde começa e onde termina cada bioma.

O relatório divulgado nesta terça-feira (18) mostra números que, à primeira vista, parecem contraditórios ao imaginário comum: o Cerrado ganhou 1,8% de área, enquanto a Mata Atlântica perdeu 1%. A reconfiguração aconteceu sobretudo na divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, justamente na zona onde formações de transição sempre desafiaram classificações rígidas.

Segundo o IBGE, a mudança resulta de uma análise mais refinada apoiada em critérios como clima, geologia, geomorfologia, pedologia e fisionomias vegetais. Esse conjunto multidisciplinar permite identificar nuances essenciais que, muitas vezes, diferenciam savanas arborizadas de florestas estacionais. A revisão revelou cerca de 19.869 km² passíveis de adequação — uma área expressiva quando comparada a territórios municipais inteiros.

Em Minas Gerais, a nova delimitação ampliou a presença da Mata Atlântica em torno da Região Metropolitana de Belo Horizonte, incorporando não apenas a capital, mas também áreas ao norte da cidade. É uma mudança relevante, pois significa que zonas antes classificadas como Cerrado passam a integrar um bioma regido por uma das legislações ambientais mais antigas e reconhecidas do país, a Lei da Mata Atlântica.

Em São Paulo, o movimento foi inverso. O Cerrado se expandiu, sobretudo no centro-norte do estado, região em que a vegetação de savana já possui forte representação histórica, apesar das perdas acumuladas ao longo do século XX. Ali, o bioma conta com legislação específica desde 2009, e a atualização dos limites tende a reforçar instrumentos de proteção e monitoramento.

graficos-caminhos-ibge01-400x385 Revisão do IBGE redefine fronteiras do Cerrado e da Mata Atlântica

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Os municípios afetados pela revisão ilustram o caráter híbrido dessas paisagens: em Minas Gerais, cidades como Sacramento, Uberaba, Fronteira, Planura, São Sebastião do Paraíso, Diamantina, Conceição do Mato Dentro, Belo Horizonte, Florestal e Juatuba foram reavaliadas. Em São Paulo, localidades como Franca, Barretos, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Piracicaba, Mococa e Votuporanga foram incluídas nas áreas de transição ajustadas.

A revisão atual integra um processo contínuo que teve início em 2019, quando o IBGE lançou a publicação Biomas e Sistema Costeiro Marinho do Brasil, documento que modernizou a escala de mapeamento nacional. A mudança — de uma escala de 1:5 milhões para 1:250 mil — ampliou substancialmente o nível de detalhe da cartografia territorial brasileira. Com isso, as revisões periódicas tornaram-se indispensáveis para ajustar, validar e corrigir limites à medida que novas informações científicas chegam.

Essas atualizações não acontecem apenas diante de computadores. O trabalho envolve uma rede de especialistas e o acúmulo de expedições de campo em regiões alvo de dúvidas ou questionamentos, seja por parte de organizações ambientais, seja por instituições governamentais relacionadas ao meio ambiente. Ao todo, cinco expedições já foram realizadas no âmbito do processo.

Embora a revisão não represente alteração ambiental real — não há ganho ou perda efetiva de cobertura vegetal — seu impacto jurídico e político é relevante. A redefinição das áreas influencia políticas públicas, regras de licenciamento, instrumentos de proteção e até os critérios de monitoramento do desmatamento. Em biomas fortemente pressionados, como Cerrado e Mata Atlântica, conhecer com exatidão seus limites é mais do que um exercício cartográfico: é um passo decisivo para que políticas ambientais sejam eficazes e baseadas em evidências.

À medida que o país atualiza seu entendimento sobre o território, torna-se mais capaz de medir, planejar e responder aos desafios da conservação. A precisão, aqui, não é mera formalidade: é um instrumento estratégico para proteger dois dos biomas mais ameaçados do Brasil.

Lula inaugura ponte e defende continuidade de obras públicas

A inauguração da ponte sobre o rio Araguaia, que agora une Tocantins e Pará pela BR-153, marcou mais do que a abertura de uma obra de infraestrutura. O ato simbolizou, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a necessidade de romper com a tradição brasileira de interromper projetos a cada troca de governo. Em São Geraldo do Araguaia, durante a cerimônia realizada nesta terça-feira (18), Lula enfatizou que concluir obras iniciadas por gestões anteriores não é concessão política, mas dever público.

A ponte inaugurada, conhecida como Ponte Xambioá, substitui a travessia por balsa entre Xambioá (TO) e São Geraldo do Araguaia (PA). Até então, moradores e transportadores dependiam de uma passagem que podia custar mais de 300 reais por viagem. A nova estrutura, com 2.010 metros de extensão, redesenha o cotidiano local ao eliminar longas esperas e incertezas climáticas que frequentemente paralisavam o transporte.

Lula recordou que, ao assumir seu terceiro mandato, encontrou uma lista extensa de obras paralisadas. A crítica do presidente, porém, veio acompanhada de uma defesa da responsabilidade compartilhada: prefeitos, governadores e presidentes, segundo ele, precisam entender que obras públicas pertencem à sociedade, e não aos mandatos. A ponte sobre o Araguaia é exemplo disso — idealizada durante o governo Dilma Rousseff, atravessou diferentes administrações até finalmente ser concluída.

A cerimônia também foi marcada por um reconhecimento inesperado: Lula agradeceu a existência da própria balsa, que durante anos foi a única forma de travessia. Para ele, a precariedade do serviço não deve ofuscar seu papel num contexto de ausência do Estado. A balsa existia, afirmou, porque o Estado falhou em garantir o direito básico de ir e vir. “Seria injusto criticar a balsa sem reconhecer que ela manteve a vida das pessoas em movimento quando o poder público não cumpriu sua função.”

Segundo o governo federal, a nova ponte fortalece a logística do Norte e moderniza um dos principais corredores de escoamento da produção agropecuária e industrial da região. A obra recebeu 232,3 milhões de reais, dos quais 28,8 milhões vieram do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a política federal que retomou investimentos estruturantes interrompidos ao longo dos últimos anos.

A implantação da iluminação pública será realizada na segunda fase do projeto, sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). O planejamento já está em execução, e a licitação deve ocorrer no primeiro semestre de 2026.

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Ricardo Stuckert / PR

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A ponte, entretanto, não monopolizou o discurso presidencial. Lula também respondeu às declarações do primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, que — após participar da COP30 em Belém — afirmou que jornalistas alemães teriam ficado “felizes” ao deixar a capital paraense. A fala se espalhou rapidamente e foi interpretada como desdém à cidade-sede da conferência.

Lula rebateu com ironia e orgulho regional. Sugeriu que Merz deveria ter vivido um pouco mais da cultura paraense, ido a um bar, dançado e provado a culinária local. Segundo ele, Berlim “não oferece 10% da qualidade” que o Pará tem. Em tom bem-humorado, ainda comentou que repetiu várias vezes: “come a maniçoba, pô”.

O presidente também retomou as críticas que circularam antes da escolha de Belém como sede da COP30. Muitos, disse ele, defendiam que o evento deveria ocorrer em cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo. Os argumentos eram conhecidos: falta de estrutura, preços altos, presença de mosquitos. Para Lula, esses comentários expunham preconceitos antigos contra a Amazônia e desconhecimento sobre a capacidade local. “Reclamam da água cara em Belém, mas nunca reclamam da água que pagam nos aeroportos internacionais”, ironizou.

Ao lado do governador Helder Barbalho, Lula reforçou que a COP na Amazônia era essencial para mostrar ao mundo o que está em jogo. E concluiu lembrando que a construção da ponte e a realização da conferência têm algo em comum: ambas afirmam que o Norte do país não é periferia, mas protagonista.

Brasil assume liderança global ao lançar plano climático para a saúde

O lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém marcou um momento decisivo para o Brasil na COP30. Pela primeira vez, um país apresenta um plano internacional de adaptação climática dedicado exclusivamente ao setor da saúde, colocando o tema no centro das discussões sobre o enfrentamento da crise climática. O documento nasce em meio à intensificação de eventos extremos e ao agravamento dos impactos sobre populações vulneráveis, e consolida o Brasil como articulador global nesse campo.

A iniciativa foi anunciada pelo Ministério da Saúde e defendida publicamente pelo ministro Alexandre Padilha, que reiterou a orientação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer da COP30 a conferência da implementação e da verdade. Para Padilha, o país já vive um clima alterado e, diante disso, não há alternativa que não seja a adaptação. Ele descreveu o plano como um chamado à ação coordenada entre governos, sistemas de saúde e instituições internacionais.

A estratégia está estruturada em três eixos: vigilância e monitoramento; políticas e capacidades baseadas em evidências; e inovação, produção e saúde digital. Esses eixos são orientados por princípios de equidade, justiça climática e governança participativa. A implementação será conduzida em parceria com a Aliança para Ação Transformadora em Clima e Saúde (ATACH), sob supervisão da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A CEO da COP30, Ana Toni, ressaltou que o plano amplia o papel do Sistema Único de Saúde nas negociações internacionais e já conta com a adesão de 80 países e parceiros. Ela destaca que levar o SUS ao centro da conferência simboliza uma mudança de perspectiva: saúde deixa de ser apenas vítima da crise climática e passa a ser vetor estratégico da adaptação.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, reforçou que “a crise do clima é uma crise da saúde”. Ele recordou que a adaptação já é prevista no Acordo de Paris, mas ainda precisa sair do papel. Para Tedros, o plano brasileiro demonstra a urgência do tema e oferece base concreta para que outros países fortaleçam seus sistemas diante de enchentes, secas, ondas de calor e surtos de doenças sensíveis ao clima.

Na mesma linha, Jarbas Barbosa, diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), lembrou que o aquecimento global já aumentou em 20 por cento desde os anos 1990 e provoca cerca de 550 mil mortes anuais por calor extremo. Ele destacou que o Plano de Ação de Belém contribui para preparar equipes de saúde e integrar protocolos para respostas rápidas a desastres, como tornados, ciclones e chuvas intensas.

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Foto: Rafael Neddermeyer/COP30

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Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), avaliou o plano como peça central da adaptação global. Para ele, o documento oferece a base conceitual necessária, mas depende de financiamento e coordenação robusta para que países consigam transformar diretrizes em proteção real.

Esse apoio começou a se consolidar com o anúncio da Coalizão de Financiadores de Clima e Saúde, que comprometeu um investimento inicial de 300 milhões de dólares. O grupo reúne mais de 35 organizações filantrópicas, entre elas Bloomberg Philanthropies, Children’s Investment Fund Foundation, Gates Foundation, IKEA Foundation, Quadrature Climate Foundation, The Rockefeller Foundation, Philanthropy Asia Alliance e Wellcome.

Os primeiros recursos apoiarão soluções para calor extremo, poluição do ar e doenças infecciosas agravadas pelo clima, além da integração de dados climáticos e sanitários. A expectativa é que esse movimento sirva de gatilho para ampliar a resiliência do setor e apoiar países que enfrentam impactos crescentes, especialmente aqueles com menor capacidade financeira.

O plano está aberto à adesão voluntária de governos, organizações internacionais, sociedade civil, setor privado e universidades. Ele integra a Agenda de Ação da COP30 e responde ao Objetivo 16, dedicado a fortalecer sistemas de saúde frente à crise climática. Também cumpre as diretrizes do Artigo 7 do Acordo de Paris e complementa resoluções da Assembleia Mundial da Saúde.

O Brasil, ao propor o Plano de Ação em Saúde de Belém, assume um papel de liderança ao reconhecer que adaptação não é escolha, mas urgência. É um passo simbólico e prático rumo a políticas que enfrentam, de forma concreta, a realidade climática que já molda o presente e determinará o futuro da saúde global.