O Maranhão reforçou seu compromisso com a ampliação do acesso à saúde para populações rurais, ribeirinhas, extrativistas e de territórios tradicionais ao promover, no dia 18 de novembro, um webnário dedicado à criação da Política de Atenção Integral à Saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas. A iniciativa foi organizada pela Superintendência da Atenção Primária em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES) e reuniu gestores, especialistas e representantes de movimentos sociais em torno de um desafio comum: garantir que o Sistema Único de Saúde alcance comunidades que, historicamente, permanecem distantes das estruturas formais de atenção.
Realizado de forma online, o encontro buscou aprofundar o debate sobre as especificidades dessas populações, reconhecendo que fatores como distância geográfica, precariedade de transporte, ausência de unidades de saúde em funcionamento e fragilidade das equipes interferem diretamente no direito ao cuidado. A política estadual em construção, portanto, nasce como instrumento para enfrentar desigualdades antigas e persistentes.
O superintendente da Atenção Primária, Willian Vieira, destacou que o trabalho vem sendo conduzido a partir de escutas territoriais, integração entre vigilância e atenção básica e fortalecimento das equipes que atuam nas zonas rurais. Segundo ele, é essencial que as ações de saúde dialoguem com os modos de vida que estruturam o interior maranhense, garantindo que o cuidado chegue de maneira contínua, culturalmente sensível e territorializada.
Os debates do webnário aprofundaram esse horizonte. A programação reuniu mesas dedicadas a três eixos centrais: a construção da política estadual; o papel dos programas sociais no enfrentamento das desigualdades; e a relevância da Estratégia Saúde da Família para sustentar o cuidado em regiões rurais e ribeirinhas. Em cada discussão, retornava a ideia de que saúde, para essas populações, depende tanto de acesso a serviços quanto de reconhecimento de sua identidade, cultura e organização comunitária.
A aula magna foi ministrada por Larissa Vieira Barros, coordenadora de Atenção às Populações em Situação de Vulnerabilidade da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde. Ela destacou que implementar a política é um processo desafiador, exigindo a articulação entre governos, movimentos sociais e trabalhadores do SUS. Larissa enfatizou a necessidade de políticas que incorporem os princípios de equidade, participação social e respeito às particularidades de gênero, geração, raça, etnia e orientação sexual.

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Durante o evento, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reforçaram a dimensão da responsabilidade pública: o Censo Agropecuário de 2017 registrou no Maranhão quase 693 mil agricultores, 688 mil pescadores, mais de 2 mil aquicultores e cerca de 300 mil quebradeiras de coco. Essas populações, fundamentais para a economia e para a preservação de práticas tradicionais, compõem um mosaico social que necessita de políticas específicas — e não apenas de adaptações das estruturas urbanas.
A pesquisadora Cibele Lima dos Santos, do Ministério da Saúde, reforçou que ampliar o acesso é apenas uma parte da solução. Para ela, a formação e sensibilização dos profissionais que atuarão nesses territórios é essencial para evitar exclusões e para garantir que o cuidado seja efetivamente resolutivo. Compreender a vida cotidiana das comunidades rurais e ribeirinhas — suas rotinas, sazonalidades e formas de organização — deve ser o ponto de partida para qualquer política.
Gersina Vieira Marques, representante do Polo Sindical da Regional Mearim e secretária da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA), reforçou a necessidade de diálogo contínuo. Ela relatou que, em diversos municípios, unidades de saúde ainda enfrentam dificuldades para funcionar plenamente, o que impacta especialmente as mulheres, que seguem encontrando barreiras para realizar exames preventivos e acessar ações básicas de saúde. Segundo Gersina, a preservação ambiental também deve ser considerada parte do cuidado, já que territórios degradados afetam diretamente a saúde das comunidades que deles dependem.
Ao final, o webnário apontou caminhos para consolidar uma política estadual robusta, capaz de integrar diferentes setores do governo e da sociedade civil. A intersetorialidade, assumida como princípio central, reforça que saúde, no contexto rural e tradicional, precisa ser construída a partir do território, com participação social, reconhecimento de identidades e compromisso contínuo com a equidade.




















































