O Brasil abriga alguns dos mais vastos e complexos mosaicos de ecossistemas campestres do planeta. Embora muitas vezes ofuscados pela exuberância das florestas tropicais, esses ambientes abertos desempenham um papel silencioso, porém decisivo, na manutenção da biodiversidade, na regulação do clima e na segurança hídrica nacional. É justamente para reposicionar esses ecossistemas no centro da agenda ambiental que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) promoverá, nos dias 25 e 26 de novembro, o Seminário Nacional Uso Sustentável das Formações Campestres no Brasil, na sede da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande.
A iniciativa, organizada pela Diretoria de Biodiversidade e Florestas (DBFlo) do Ibama em parceria com a Superintendência do órgão no Mato Grosso do Sul, reunirá gestores públicos, pesquisadores, especialistas e servidores do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). O propósito é ambicioso: construir um campo comum de reflexão e ação sobre o uso histórico e sustentável das formações campestres, reconhecendo sua diversidade ecológica e o profundo vínculo sociocultural que comunidades tradicionais mantêm com esses territórios.
Ao longo de dois dias, o seminário proporá uma mirada mais ampla sobre os campos nativos brasileiros. O debate não se restringirá às características ecológicas desses ambientes, mas buscará compreender como práticas de manejo – algumas ancestrais, outras recentes – moldaram suas paisagens. Pastoreio, queimadas controladas, agricultura de subsistência, expansão urbana e políticas de conservação têm deixado marcas profundas nesses ecossistemas. Parte da missão do encontro é decifrar esse histórico para projetar um futuro que combine proteção, sustentabilidade e desenvolvimento.

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Uma das frentes mais sensíveis da programação será a análise dos impactos humanos sobre as formações campestres, que ao longo das décadas foram frequentemente tratadas como áreas de menor valor ambiental. Esse entendimento estreito resultou em degradação, conversão acelerada para usos agropecuários e perda de biodiversidade. Hoje, a ciência reconhece que os campos são parte vital dos ciclos hidrológicos, abrigam espécies endêmicas e sustentam corredores ecológicos indispensáveis para a fauna. O seminário, nesse sentido, busca resgatar a centralidade desses ambientes dentro da política ambiental brasileira.
Além da discussão conceitual e científica, o encontro também terá forte caráter formativo. Uma das metas é fortalecer a capacitação de servidores do Ibama, que atuam diretamente na gestão territorial e na fiscalização ambiental. A atualização técnica abrangerá temas emergentes, como o papel dos campos no contexto das mudanças climáticas, métodos contemporâneos de manejo sustentável e novas abordagens para conciliar conservação e produção.
Outro eixo estratégico será a produção de documentos técnicos que irão subsidiar o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) na formulação de políticas públicas voltadas às formações campestres. O esforço inclui consolidar diretrizes sobre reconhecimento e valorização do uso tradicional da vegetação nativa, ampliando a proteção de práticas culturais que mantiveram esses ecossistemas vivos por séculos. A coleta de evidências, a atualização científica e o diálogo interinstitucional devem resultar em instrumentos que orientem ações federais no médio e longo prazo.
O Ibama também aposta na participação ampliada. O evento será gratuito e transmitido integralmente pelo canal oficial do órgão no YouTube, considerado uma ferramenta essencial para difundir conhecimento e atingir pesquisadores, estudantes e gestores de todo o país. Quem desejar acompanhar presencialmente poderá se inscrever por meio dos contatos disponibilizados pela organização.
A relevância do seminário vai além dos dias de programação. Em um momento em que o debate ambiental se intensifica, entender a complexidade dos campos brasileiros torna-se fundamental. Eles não apenas expressam a diversidade ecológica do país, mas traduzem modos de vida, saberes tradicionais e funções ambientais cruciais. Ao promover o encontro em Mato Grosso do Sul — estado marcado por extensas áreas campestres —, o Ibama sinaliza uma agenda de fortalecimento territorial e de valorização de paisagens frequentemente negligenciadas.
O seminário se coloca, portanto, como uma plataforma estratégica. Ele sistematiza conhecimento, amplia diálogos, fortalece políticas e reafirma que a conservação das formações campestres é inseparável da preservação do patrimônio natural brasileiro. É um gesto de retomada e de afirmação: reconhecer que esses ambientes abertos, ao contrário de espaços vazios, são sistemas vivos, dinâmicos e indispensáveis para o futuro do país.






















































