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O futuro é amazônico: ciência e inovação em destaque na Tech Zone da COP30

O Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, epicentro da inovação na Amazônia, transformará-se no polo global de soluções tecnológicas durante a 30ª Conferência das Partes (COP30). De 10 a 14 de novembro, o complexo sediará a Tech Zone, um evento crucial que integra a programação oficial da conferência, reunindo o que há de mais avançado em ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento sustentável da região.

Por cinco dias, pesquisadores, startups, gestores públicos e a sociedade civil se encontrarão para debater e apresentar soluções práticas que respondem diretamente aos desafios da crise climática e das desigualdades socioambientais. A Tech Zone não é apenas uma vitrine de tecnologia, mas um laboratório de ideias voltadas a construir um futuro mais resiliente e equitativo para a Amazônia.

O acesso ao evento é gratuito, porém com vagas limitadas e inscrições via plataforma Sympla, reforçando o caráter seletivo e especializado do debate.

Roteiro da Inovação: Cinco Dias de Soluções Temáticas

A programação da Tech Zone é estruturada em eixos temáticos que cobrem as áreas mais críticas para a sustentabilidade amazônica:

1. Cidades Inteligentes (10 de novembro)

O primeiro dia explora o conceito de Smart Cities aplicado ao contexto amazônico. O debate se concentra em iniciativas de inteligência artificial, monitoramento ambiental avançado e a modelagem de cidades verdadeiramente sustentáveis. Projetos como o Smart City Canaã dos Carajás e a discussão sobre a Estratégia Paraense de Inteligência Artificial (EPIA) e o Marco Legal de IA demonstram o compromisso do Pará com a conectividade e a governança inteligente. A Prodepa discutirá seu papel em conectar o futuro da Amazônia.

2. Amazônia e Recursos Hídricos (11 de novembro)

O foco se volta para a riqueza hídrica da região. Painéis discutirão a fronteira de inovação e conhecimento em comunidades costeiras e a busca por soluções inovadoras para a gestão sustentável da água. Pesquisas do próprio PCT Guamá sobre recursos hídricos e estudos sobre a estimativa de Precipitações Máximas Prováveis (PMP) no Pará ilustram a importância da ciência para a segurança hídrica e ambiental.

3. Tecnologia e Preservação Ambiental (12 de novembro)

O terceiro dia é dedicado à aplicação da tecnologia na proteção da floresta. O monitoramento via satélite surge como uma ferramenta essencial para a análise ambiental e para a inclusão produtiva, garantindo que a vigilância e a economia caminhem juntas. Soluções tecnológicas para a preservação e a gestão integrada, incluindo projetos do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre monitoramento da Amazônia, serão apresentadas.

4. PD&I e Bioeconomia (13 de novembro)

Em alinhamento com a visão de desenvolvimento sustentável, o quarto dia mergulha na Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e na Bioeconomia. Serão apresentados estudos de caso vibrantes, como a produção de papéis e filmes bioativos a partir de resíduos de açaí, o uso de mandioca para alimentação animal e o processo de extração supercrítica para obtenção de azeite e açaí em pó. As discussões sobre o Observatório de Bioeconomia e projetos de inclusão de comunidades tradicionais demonstram o elo entre a ciência de bancada e o impacto social.

5. Inovação, Sustentabilidade e Financiamento Climático (14 de novembro)

O encerramento do evento projeta o futuro. Os painéis abordarão a inovação e a sustentabilidade em rede na Amazônia, culminando na crucial discussão sobre financiamento climático. O objetivo é analisar mecanismos de fomento internacional e traçar as perspectivas de financiamento para o cenário pós-COP30, garantindo que as soluções tecnológicas discutidas tenham o suporte econômico necessário para se materializarem.

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Foto: Alex Ribeiro

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Uma Iniciativa Colaborativa de Forças Públicas e Acadêmicas

A Tech Zone é fruto de uma poderosa coalizão de instituições do Governo do Pará e universidades, sublinhando o trabalho conjunto em prol do desenvolvimento sustentável. A iniciativa é uma realização do PCT Guamá em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), a Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará (Prodepa) e a Universidade do Estado do Pará (Uepa).

O PCT Guamá, pioneiro na Região Norte e gerido pela Fundação Guamá, foi fundado em 2010 e é uma iniciativa do Governo do Pará com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). Com uma área de 72 hectares, o parque abriga mais de 90 empresas, 17 laboratórios, mais de 400 pesquisadores, 44 patentes registradas e uma escola técnica, consolidando-se como um hub de pesquisa aplicada, empreendedorismo e inovação sustentável. Sua integração a redes internacionais, como a Anprotec e a Iasp, reforça seu papel global.

O evento também destaca a presença de especialistas renomados, como Renato Francês, diretor técnico da Fundação Guamá, e Rommel Ramos, assessor técnico, ambos com vasta experiência em ciência da computação, biologia molecular e inteligência computacional, prontos para enriquecer o debate sobre o futuro tecnológico da Amazônia.

Belém vira palco global: Zona Verde e freezone conectam a COP30 à sociedade

Enquanto o núcleo diplomático da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) concentra líderes e negociadores, a capital paraense se transforma em um vasto efervescente centro de diálogo e celebração cultural, aberto a todos. A conexão entre a esfera oficial da conferência e a sociedade civil será tecida por meio de dois espaços dinâmicos e de acesso público: a Green Zone (Zona Verde) e a Freezone Cultural Action (Zona Livre).

Esses espaços paralelos garantem que a COP30 não seja apenas um evento de cúpula, mas uma experiência imersiva e participativa, onde a voz da Amazônia e a diversidade cultural do Brasil ganham o centro do palco.

A Zona Verde: O Coração do Diálogo Cívico no Parque da Cidade

A Green Zone (Zona Verde), localizada no remodelado Parque da Cidade, é concebida como um grande fórum aberto, com acesso totalmente livre para o público. Seu propósito fundamental é transpor as paredes da diplomacia e levar o debate sobre clima, inovação e sustentabilidade diretamente para a população.

Este vibrante epicentro de ideias reunirá um mosaico de participantes essenciais para a construção de soluções globais. Estarão presentes:

A Green Zone funcionará como um caldeirão onde inovação, cultura e sustentabilidade se misturam. A programação já está robustamente confirmada no Pavilhão Pará, com 342 atividades selecionadas para envolver e educar o público. Entre elas, estão:

  • Oficinas práticas e debates aprofundados sobre a crise climática.
  • Exposições interativas e apresentações culturais que celebram a riqueza do bioma.

Um dos focos cruciais da Green Zone será dar proeminência à ciência amazônica, aos povos indígenas e às comunidades tradicionais. Este espaço será o portal para que o mundo ouça, diretamente das vozes de quem vive na floresta, as soluções e os desafios da preservação. A agenda inclui ainda atividades educativas, culturais e interativas, desenhadas para envolver estudantes, famílias e visitantes de todas as idades, garantindo que o aprendizado sobre o clima seja acessível e inspirador.

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA-1-400x218 Belém vira palco global: Zona Verde e freezone conectam a COP30 à sociedade

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A Freezone Cultural Action: Uma Celebração de 13 Dias na Praça da Bandeira

Em uma iniciativa que promete levar a efervescência da COP30 para as ruas de Belém, a Freezone Cultural Action (Zona Livre) oferecerá um festival cultural paralelo e totalmente gratuito. Com funcionamento estendido de 9 a 21 de novembro de 2025, o epicentro desta celebração será a Praça da Bandeira.

Mais do que um simples evento, a Freezone será uma vitrine para a rica diversidade, inclusão e cultura brasileira, especialmente a paraense. A programação é vasta e diversificada, projetada para cativar todos os sentidos e interesses:

Embora a maioria das atividades seja de livre acesso e aberta a todos, o texto indica que algumas experiências poderão exigir inscrição prévia, devido à limitação de vagas, garantindo a qualidade e organização dos encontros mais focados. A Freezone Cultural Action se estabelece, assim, como o contraponto festivo e reflexivo à seriedade das negociações, reafirmando que o caminho para a sustentabilidade passa necessariamente pela valorização da cultura e da diversidade humana. Juntas, a Green Zone e a Freezone garantem que a COP30 será uma conferência com profundo envolvimento da sociedade, deixando um legado de engajamento e celebração da identidade amazônica.

Belém renasce com legado verde e moderno: Lula entrega porto e aeroporto antes da COP30

A poucos dias da abertura da COP30, o Pará vive um marco de transformação em sua infraestrutura. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou as obras de requalificação do Porto de Outeiro e de ampliação do Aeroporto Internacional de Belém, símbolos de um novo ciclo de desenvolvimento logístico e sustentável na Amazônia.

Com o evento global de clima prestes a colocar a capital paraense no centro das atenções internacionais, as inaugurações consolidam Belém como vitrine da capacidade brasileira de realizar, em tempo recorde, obras estruturantes com propósito ambiental e social.

“Belém será outra cidade depois da COP”, afirmou o presidente, ao lado de autoridades locais e trabalhadores, em cerimônia marcada pelo tom de celebração e pertencimento.

Porto de Outeiro: o novo coração logístico do Norte

Executada pela Companhia Docas do Pará (CDP), em parceria com Itaipu Binacional, a requalificação do Porto de Outeiro teve investimento de R$ 233 milhões e foi concluída em apenas seis meses — um feito raro na engenharia pública brasileira. As obras incluíram a ampliação do píer, que passou de 261 para 716 metros, a construção de 11 dolphins, 10 pontes metálicas e novas estruturas para embarque e atracação de navios de grande porte.

A modernização dobra a capacidade de movimentação de cargas, agora estimada em 80 mil toneladas, tornando o porto uma base estratégica da logística do Norte e reforçando a matriz de exportação de minérios, grãos e derivados da indústria alimentícia e energética.

Além do impacto econômico, o porto também desempenhará papel temporário na hospedagem durante a COP30: dois navios de cruzeiro ficarão atracados, com capacidade total para cinco mil pessoas. Uma ponte recém-construída garantirá o deslocamento rápido entre o terminal e os espaços oficiais da conferência, em cerca de 25 minutos.

Mais de 740 empregos foram gerados ao longo da obra — um impulso direto à economia local, especialmente na Ilha de Outeiro, onde o operário Antônio Rogério Leite resumiu o sentimento coletivo: “Essa obra é um orgulho. Gerou renda, vai movimentar o porto e mostrar o Pará para o mundo”.

image-1600-37c7d7f81f7add6a9db8c6741b9af126-400x267 Belém renasce com legado verde e moderno: Lula entrega porto e aeroporto antes da COP30
Foto: Ricardo Stuckert/PR

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Aeroporto Internacional de Belém: modernidade com alma amazônica

Antes da visita ao porto, Lula inaugurou a nova fase do Aeroporto Internacional de Belém, sob gestão da Norte da Amazônia Airports (NOA). Com investimento de R$ 450 milhões, o terminal triplicou a área de embarque, ganhou novos sistemas de climatização e tecnologia de navegação aérea, e passou a operar com capacidade para até 13 milhões de passageiros por ano — quase o dobro da anterior.

O projeto foi antecipado em quase um ano em relação ao cronograma original e empregou cerca de 1,5 mil trabalhadores diretos e indiretos. Além da eficiência técnica, o aeroporto incorpora elementos que celebram a cultura amazônica, com mobiliário inspirado na floresta e espaços pensados para inclusão, como a sala multissensorial voltada a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Um legado para além da COP30

As obras são parte do plano integrado de modernização da infraestrutura amazônica coordenado pelo Ministério de Portos e Aeroportos, sob comando de Silvio Costa Filho, e contam com apoio de ministérios estratégicos como o Meio Ambiente e Mudança do Clima e a Casa Civil.

Para o governador Helder Barbalho, o esforço conjunto entre União, Estado e município demonstra que o legado da COP será duradouro. “Os equipamentos que entregamos hoje ficarão para o povo. São investimentos que modernizam Belém e preparam o Pará para um novo ciclo de prosperidade sustentável”, afirmou.

Durante o evento, Lula destacou o papel do Pará na transição para uma economia verde. “O mundo precisa investir na bioeconomia. O Pará pode ser a porta de entrada desse novo modelo de desenvolvimento, que valoriza a floresta e oferece qualidade de vida às pessoas”, disse.

Um futuro em construção

Com novos portos, aeroportos, e uma visão centrada na sustentabilidade, Belém se prepara para receber líderes de mais de 170 países e, ao mesmo tempo, projetar ao mundo o potencial amazônico de unir desenvolvimento e conservação.

Mais do que obras de infraestrutura, o que se constrói na capital paraense é um símbolo de mudança de paradigma — uma cidade que se abre para o futuro sem abandonar suas raízes na floresta.

Semas reforça avanços no desenvolvimento sustentável com vitrine e rota da Bioeconomia

Por meio de iniciativas que unem economia, cultura e conservação ambiental, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas) reafirmou o protagonismo do Pará na construção de um novo modelo de desenvolvimento sustentável. Em parceria com a Associação dos Negócios da Sociobioeconomia da Amazônia (Assobio), a secretaria lançou, no fim de outubro, a Vitrine da Bioeconomia e a Rota da Bioeconomia, dois projetos que simbolizam a força da floresta viva como vetor de inovação, renda e identidade.

O evento de lançamento, realizado no Solar da Beira e no Porto Futuro, reuniu representantes do governo, empreendedores e parceiros institucionais para celebrar os avanços da agenda da bioeconomia no Estado. Mais do que um encontro de políticas públicas, o evento apresentou ao público o resultado de uma construção coletiva que vem transformando o modo como o Pará enxerga sua relação com os recursos naturais e com as comunidades que vivem deles.

A Vitrine da Bioeconomia, instalada no Porto Futuro, reúne alimentos, bebidas, cosméticos, moda e artesanato produzidos de forma sustentável. O espaço funciona como um mercado vivo da sociobiodiversidade amazônica, convidando moradores e visitantes a conhecer e adquirir produtos que representam a força criativa dos territórios paraenses. Já a Rota da Bioeconomia propõe experiências turísticas integradas, conectando história, cultura e produção sustentável. Cada roteiro valoriza as cadeias produtivas locais, a hospitalidade das comunidades tradicionais e o papel da floresta como fonte de vida e prosperidade.

A secretária-adjunta de Bioeconomia da Semas, Camille Bemerguy, ressaltou o caráter simbólico da iniciativa. “Hoje é um dia de celebração. Estar diante do rio e valorizar produtos que vêm da natureza mostra o quanto avançamos em direção a um novo modelo de desenvolvimento, que olha para as pessoas, para a conservação e para uma prosperidade mais justa e sustentável”, afirmou. Ela destacou que as ações são fruto direto das metas definidas no Plano Estadual de Bioeconomia do Pará, construído de forma participativa e voltado para responder à pergunta central: que bioeconomia queremos para o Pará?

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Foto: Daniel Lima/ SEMAS

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Camille também reforçou que as conquistas são resultado de um esforço coletivo. “Nada se faz sozinho. A política pública de bioeconomia não seria possível sem a colaboração dos empreendedores, das populações tradicionais, do setor privado e de parceiros como a Assobio, o Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW), a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e o Mercado Livre. A Vitrine e a Rota mostram como a cooperação é capaz de transformar ideias em oportunidades reais”, completou.

O presidente da Assobio, Paulo Reis, reforçou que o projeto marca um novo momento para a bioeconomia amazônica. “A Assobio reúne mais de 130 negócios que valorizam a floresta em pé e os modos de vida da Amazônia. A Vitrine e a Rota são o retrato dessa união entre poder público, setor privado e empreendedores locais. Elas mostram ao Brasil e ao mundo o que a nossa bioeconomia produz e o impacto positivo que gera para a região”, destacou.

As iniciativas também contam com o apoio do Projeto Realiza Pará, que integra a estratégia estadual de valorização de cadeias produtivas sustentáveis e turismo de base comunitária. O financiamento do KfW fortalece o intercâmbio de experiências internacionais e a consolidação de modelos de negócios verdes no território paraense.

Ao todo, estão previstas 11 rotas temáticas até o final do próximo ano, conectando polos produtivos de alimentos, biocosméticos, artesanato e turismo de natureza. A expectativa é de que a rede gere mais de 200 mil visitações anuais, ampliando o alcance dos negócios sustentáveis e fortalecendo a economia de base comunitária.

Mais do que projetos, a Rota e a Vitrine da Bioeconomia expressam a transição de paradigma que o Pará propõe: uma economia que cresce preservando. Elas transformam saberes tradicionais em estratégia de futuro, reafirmando que o desenvolvimento sustentável nasce da cooperação entre o Estado, as comunidades e o mercado.

Em tempos em que a Amazônia é o centro do debate climático global, as ações da Semas mostram que é possível aliar conservação, inovação e inclusão social, construindo um modelo de prosperidade que nasce da floresta e retorna para ela em forma de valorização e respeito.

Sedap destaca Indicações Geográficas e agricultura de baixo carbono na COP30

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) levará à COP30 uma pauta que combina tradição e inovação: as Indicações Geográficas (IGs) como instrumentos de valorização cultural e as políticas públicas voltadas à agricultura de baixo carbono e à bioeconomia amazônica. Com uma programação distribuída entre a Green Zone e o Museu Paraense Emílio Goeldi, a Sedap busca mostrar como o campo amazônico pode ser protagonista da transição ecológica global, conectando o saber tradicional à ciência e à inovação.

A participação da Sedap começa em 11 de novembro, no evento “Amazônia Sempre Station at COP30 in Belém”, no Museu Goeldi, e segue com painéis temáticos entre os dias 19 e 20, no Parque da Cidade, onde estará instalada a Green Zone. Um dos destaques será o painel “Indicações Geográficas: Proteção de Saberes Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável”, marcado para o dia 19, das 15h45 às 17h.

No dia seguinte, a Secretaria participa de duas mesas estratégicas. A primeira, “Agricultura – Descarbonização e Agricultura de Baixo Carbono na Amazônia Legal”, abordará a transição produtiva baseada em sistemas de menor impacto ambiental, em parceria com representantes do Estado do Amazonas. Logo após, das 18h45 às 19h45, o debate “Agricultura – Cadeias Produtivas e Sustentabilidade: Políticas Públicas para a Bioeconomia Amazônica” reunirá representantes do Pará e do Amapá, com foco em estratégias regionais de integração e fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis.

Entre os casos emblemáticos que serão apresentados está a Indicação Geográfica das amêndoas de cacau de Tomé-Açu, no nordeste paraense – a primeira reconhecida no Estado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O produto, cultivado em sistema agroflorestal (SAFTA), representa uma combinação de saberes tradicionais e práticas inovadoras trazidas pela imigração japonesa, que transformaram a paisagem agrícola da região.

Outro exemplo destacado é a farinha de Bragança, produzida a partir da mandioca e símbolo da herança cultural e alimentar do Pará. Ambas as IGs demonstram como o reconhecimento de origem pode ser uma poderosa ferramenta de conservação ambiental, inclusão social e valorização econômica, reforçando a conexão entre natureza e identidade.

20251031204031-GC00072104-F00271308-400x225 Sedap destaca Indicações Geográficas e agricultura de baixo carbono na COP30
Divulgação – Agência Pará

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A engenheira agrônoma Márcia Tagore, coordenadora do Programa Estadual de Incentivos às Indicações Geográficas e Marcas Coletivas da Sedap, destaca que o fortalecimento das IGs é também um caminho para enfrentar a crise climática. “Por se tratar dessa questão de cuidar da natureza, não temos como desvincular da temática climática. As Indicações Geográficas expressam uma relação direta com as riquezas naturais, culturais e humanas que definem a Amazônia”, afirma.

Durante os painéis, serão compartilhadas experiências brasileiras e internacionais que comprovam o papel das certificações de origem na mitigação das mudanças climáticas. Segundo a Sedap, as IGs estimulam cadeias produtivas de baixo impacto ambiental, promovem justiça social e ajudam a manter vivas práticas agrícolas que conciliam conservação e renda.

A participação da Secretaria na COP30 reforça o compromisso do Governo do Pará com a bioeconomia, a agricultura sustentável e a valorização dos territórios produtivos amazônicos. Além de mostrar resultados, a Sedap pretende abrir novos canais de cooperação e fortalecer a governança local em torno das políticas de certificação e sustentabilidade rural.

Em um momento em que o mundo volta os olhos para a Amazônia como peça-chave na resposta global à crise climática, o Pará apresenta-se não apenas como cenário, mas como laboratório vivo de soluções sustentáveis. As Indicações Geográficas, ao valorizar o que é autêntico e local, mostram que o futuro da economia verde passa pelo reconhecimento dos povos, dos produtos e dos ecossistemas que sustentam a floresta em pé.

Gestores da Amazônia reforçam aliança por cidades sustentáveis em Macapá

O coração da Amazônia pulsou com novas ideias nesta terça-feira (7), quando gestores públicos, pesquisadores e representantes da sociedade civil se reuniram no Museu Sacaca para o 4º Encontro Regional Amazônico do ICLEI Brasil. O evento marcou um dos momentos mais vibrantes de troca de experiências sobre clima, biodiversidade e desenvolvimento urbano sustentável da região, abrindo caminho para ações conjuntas rumo à COP30, que será sediada em Belém em 2026.

O painel “Clima e Biodiversidade: Ações Integradas para o Desenvolvimento Urbano Sustentável na Amazônia” reuniu lideranças locais e nacionais que vêm transformando o debate ambiental em políticas concretas. Sob a mediação de Hugo Salomão, Senior Fellow do ICLEI para a COP30, o encontro enfatizou a necessidade de fortalecer a governança local e o protagonismo dos municípios na luta contra as mudanças climáticas.

“Essas discussões dão voz aos governos subnacionais, que são os primeiros a lidar com os impactos da crise climática. É nas cidades que o enfrentamento começa”, afirmou Salomão.

Soluções locais, impacto regional

O painel apresentou uma verdadeira cartografia de experiências inspiradoras. A secretária de Meio Ambiente de Belém, Juliana Nobre, compartilhou os avanços da capital paraense em políticas de arborização e saneamento verde. De Palmas, o presidente da Fundação de Meio Ambiente, Isac Braz da Cunha, destacou os esforços para adaptar a cidade ao calor extremo, investindo em infraestrutura resiliente e educação ambiental.

De Altamira, Rafael Oliveira, secretário municipal de Meio Ambiente, relatou a criação de corredores ecológicos para recuperar áreas degradadas às margens do Xingu. Já Francine Xavier, diretora do Instituto Comida do Amanhã, defendeu que políticas alimentares sustentáveis são fundamentais para enfrentar as mudanças do clima. “A maneira como produzimos e consumimos alimentos na Amazônia pode ser a chave para restaurar ecossistemas e reduzir desigualdades”, destacou.

Também participou Luciano Frontelle, diretor executivo da Plant-for-the-Planet Brasil, que reforçou o papel da educação ambiental e da restauração florestal em larga escala. “Não há futuro sustentável sem cooperação entre governos, empresas e juventude. A troca de experiências entre municípios é o que acelera transformações reais”, disse.

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Foto: Ruan Alves/ Gea

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Amapá assume liderança verde na Amazônia Legal

Anfitrião do encontro e um dos principais apoiadores da COP30, o governo do Amapá vem consolidando sua imagem como referência em políticas ambientais. O estado, que detém mais de 70% de seu território em áreas de preservação, tem ampliado investimentos em ciência e inovação climática.

O diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá (Fapeap), Gutemberg Silva, destacou que o Amapá pretende ser modelo de desenvolvimento sustentável para toda a Amazônia Legal. “A integração regional é essencial para criar políticas baseadas em evidências e resultados. Precisamos transformar pesquisa em ação e ciência em soluções”, afirmou.

Cooperação que transforma

A coordenadora de Relações Institucionais e Advocacy do ICLEI América do Sul, Bianca Cantoni, celebrou a parceria com o governo amapaense e destacou o simbolismo de o evento acontecer em Macapá. “O Amapá tem mostrado que é possível unir conservação e desenvolvimento. Esse encontro é uma prova de que a cooperação entre governos locais pode transformar realidades e preparar a região para o futuro”, declarou.

O encontro, que se estende até esta quarta-feira (8), encerra-se com a consolidação de compromissos e diretrizes que serão levadas à COP30. Entre os temas centrais estão a ampliação das áreas verdes urbanas, a promoção da economia de baixo carbono e a integração das cidades amazônicas em redes globais de sustentabilidade.

Mais do que um debate técnico, o encontro foi um gesto político e simbólico de união regional. Em tempos de emergência climática, as cidades amazônicas mostram que a força da floresta também está em sua capacidade de cooperação.

Navios-hotel ancoram em Outeiro e transformam o Porto em vitrine da COP30

Belém – O distrito de Outeiro, em Belém, amanheceu em festa nesta terça-feira (4). A enseada, tradicional ponto de travessia e pescaria, virou cenário de um acontecimento histórico: a ancoragem dos dois primeiros navios de cruzeiro que funcionarão como hotéis flutuantes durante a COP30, conferência global do clima que começa nos próximos dias.

A operação, contratada pelo Governo Federal em parceria com o Governo do Pará e coordenada pela Casa Civil, amplia a oferta de hospedagem na capital amazônica, garantindo 5 mil leitos distribuídos em mais de 3,9 mil cabines. Os transatlânticos vão receber delegações, técnicos, jornalistas e trabalhadores envolvidos na logística do evento climático.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, acompanhou pessoalmente o desembarque, ao lado da diretora de operações da Secretaria de Comunicação e Operações Logísticas da COP30 (Secop), Gabriela Lima, e do presidente da Companhia Docas do Pará (CDP), Jardel Silva.

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Foto: Edivaldo Sodré / Ag. Pará

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Mobilidade conectada por terra e água

A chegada dos navios coincidiu com o início do novo esquema de deslocamento entre o Porto de Outeiro e o Parque da Cidade, sede da conferência. Linhas exclusivas de ônibus para credenciados conectam os dois pontos com prioridade de tráfego. O trajeto, que antes poderia levar mais de uma hora, agora é feito em 33 minutos e 27 segundos, cronometrados pelo próprio ministro Rui Costa.

“É mais rápido do que sair de muitos bairros de Belém. Esses navios representam segurança e conforto, com a vantagem da proximidade e da experiência amazônica”, afirmou o ministro, destacando o papel da nova Ponte de Outeiro, entregue recentemente pelo governo estadual, como elo essencial da operação logística.

O trajeto integra um esquema de mobilidade 24 horas, com transporte interno entre o porto, o aeroporto e o centro de convenções. Sinalização bilíngue, mapas de referência e uma equipe de voluntários treinados em atendimento a visitantes internacionais completam o sistema.

Um porto para o futuro da Amazônia

Além de servir à COP30, o Porto de Outeiro se consolida como novo ponto estratégico para o turismo internacional na Amazônia. A revitalização do terminal incluiu reformas estruturais e a criação de uma ampla área de recepção, apta a receber navios de grande porte e fluxos de passageiros simultâneos.

“O que entregamos aqui é mais do que infraestrutura: é um legado”, afirmou Jardel Silva, da CDP. “Outeiro passa a ser uma nova porta de entrada para o turismo e para a economia sustentável do Pará.”

A operação dos navios-hotel também tem caráter simbólico. Durante o período da conferência, Belém será tratada como capital federal provisória, uma decisão que, segundo Rui Costa, “busca prestigiar o povo paraense e o papel da Amazônia como centro das decisões sobre o futuro climático do planeta”.

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Foto: Edivaldo Sodré / Ag. Pará

Belém no mapa do mundo

Com a chegada de delegações internacionais e a transformação logística do porto, Belém se prepara para viver semanas de intensa movimentação global. Hotéis, restaurantes, transporte e comércio local se adaptam para receber visitantes de mais de 190 países.

O modelo de hospedagem em navios é uma solução comum em grandes conferências internacionais, mas ganha no Pará um sentido particular. Além da praticidade, ele reforça o diálogo entre desenvolvimento e sustentabilidade — tema central da COP30.

O distrito de Outeiro, conhecido por sua cultura ribeirinha e culinária típica, agora se torna vitrine da integração entre infraestrutura moderna e preservação ambiental. A operação portuária sustentável, com gestão de resíduos e controle de emissões, integra o plano de neutralidade de carbono da conferência.

Às vésperas do evento, o cenário de Outeiro reflete a imagem que o Brasil quer projetar ao mundo: um país capaz de unir hospitalidade, inovação e compromisso ambiental — onde o avanço econômico navega lado a lado com a responsabilidade climática.

A transição justa ainda não chegou: menos de 3% do financiamento climático apoia trabalhadores e comunidades

Às vésperas da COP30 em Belém, um novo relatório da ActionAid International revela um dado alarmante: apenas 2,8% do financiamento climático global apoia iniciativas de transição justa, conceito que busca garantir que a mudança para uma economia verde proteja trabalhadores, mulheres e comunidades afetadas pela crise climática. O estudo, intitulado Climate Finance for Just Transition: How the Finance Flows, aponta para uma desconexão crescente entre o discurso climático e a realidade vivida pelas populações na linha de frente da emergência ambiental.

A pesquisa analisou dados de dois dos principais fundos internacionais de clima — o Green Climate Fund e o Climate Investment Funds — e revelou que apenas um em cada 50 projetos (1,96%) incorpora de forma efetiva os princípios da transição justa. Em termos práticos, isso significa que somente um dólar em cada 35 investidos globalmente contribui para ações que conciliam justiça social e proteção ambiental.

Para a ActionAid, essa lacuna revela que as comunidades mais vulneráveis continuam sendo negligenciadas enquanto o planeta tenta conter o colapso climático. O relatório defende que o avanço para energias renováveis e práticas agrícolas sustentáveis só será legítimo se houver participação social, capacitação e proteção de empregos e direitos.

Arthur Larok, secretário-geral da ActionAid International, foi direto ao ponto: “O mundo precisa agir contra o colapso climático, mas quem deve pagar essa conta são os grandes poluidores, não os trabalhadores nem as comunidades que já sofrem com os impactos.”

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Brasília (DF) 30/06/2025 – Mosaico de alimentos decora a cerimônia de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2025/2026 – Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Segundo Larok, o subfinanciamento da transição justa “coloca as necessidades das pessoas no fim da fila” e ameaça aprofundar desigualdades. Teresa Anderson, autora do relatório e líder global de Justiça Climática da organização, reforça: “Ninguém deveria ter que escolher entre ter um emprego e viver em um planeta seguro. Quando a transição ignora as pessoas, o resultado é pobreza, resistência e atraso nas ações climáticas.”

O documento também denuncia práticas destrutivas em países do Sul Global — especialmente no setor de agricultura industrial e combustíveis fósseis —, que continuam devastando ecossistemas e comunidades tradicionais. Um exemplo citado vem do Maranhão, na região amazônica do Brasil, onde famílias quebradeiras de coco babaçu, que há gerações vivem do extrativismo sustentável, enfrentam pressões de fazendeiros e empresários para abandonar o território e abrir espaço à expansão de monoculturas de soja, milho e criação de gado.

Uma moradora da comunidade de Timbiras, que pediu anonimato, relata que aviões e drones lançaram agrotóxicos sobre as famílias por três anos consecutivos, causando sintomas como náusea, tontura e irritações na pele. Apesar de a prática ter sido posteriormente proibida, a fiscalização segue precária e o desmatamento avança.

d6a9429_0-400x239 A transição justa ainda não chegou: menos de 3% do financiamento climático apoia trabalhadores e comunidades
Fernando Frazão/Agência Brasil

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Jessica Siviero, especialista em Justiça Climática da ActionAid Brasil, resume o dilema: “A Amazônia é o pulmão do planeta e o Cerrado são as suas veias. A chegada da COP30 a Belém precisa expor o papel da agricultura industrial na destruição desses biomas. É urgente migrar para modelos agroecológicos que alimentem as pessoas e resfriem o planeta. A transição justa também deve incluir o campo.”

A poucos dias do início da conferência, a organização defende a criação de um “Mecanismo de Ação de Belém” para coordenar globalmente as estratégias de transição justa. A proposta prevê um sistema de governança que promova aprendizagem compartilhada, financiamento direcionado e apoio técnico para a implementação de políticas nacionais.

Para Teresa Anderson, este é o momento de corrigir o rumo: “A COP30 pode ser o ponto de virada para alinhar justiça social e ação climática. Precisamos de um plano global de transição justa que apoie os que estão na linha de frente e inspire uma resposta global mais humana e eficaz.”

A ActionAid atua em mais de 40 países e é reconhecida por seu trabalho de combate à pobreza e à desigualdade, com foco em direitos humanos, igualdade de gênero e justiça climática. Ao lançar o relatório, a entidade faz um alerta e um chamado: sem colocar as pessoas no centro das decisões, não haverá transição, nem justiça, nem futuro.

Pantanal lidera o aquecimento entre biomas brasileiros e revela urgência climática

O calor que castiga o Brasil nas últimas décadas tem rosto e endereço definidos. Segundo dados inéditos divulgados pelo MapBiomas nesta quarta-feira (5), o Pantanal é o bioma que mais aqueceu no país nos últimos 40 anos, com um aumento médio de 1,9°C, seguido pela Amazônia, que registrou 1,2°C no mesmo período. Os dados integram a nova plataforma MapBiomas Atmosfera, que utiliza imagens de satélite e modelagem de dados para monitorar temperatura, chuvas e poluentes em todo o território nacional entre 1985 e 2024.

O estudo mostra que a temperatura média do Brasil subiu 1,2°C em quatro décadas, o que corresponde a uma taxa de 0,29°C por década. Mas o aquecimento não é uniforme. Nos biomas mais continentais — como Pantanal, Cerrado e Amazônia — a elevação é mais acentuada. O Pantanal, por exemplo, aqueceu quase o dobro da média nacional, com 0,47°C por década. No Cerrado, a taxa é de 0,31°C/década, enquanto a Amazônia acompanha a média nacional, com 0,29°C/década.

Já os biomas litorâneos — Caatinga, Mata Atlântica e Pampa — apresentam ritmos mais brandos de aquecimento, variando entre 0,14°C e 0,25°C por década. A diferença entre os biomas evidencia a influência da localização geográfica e da cobertura vegetal na regulação do clima.

A pesquisadora Luciana Rizzo, da Universidade de São Paulo (USP) e integrante da equipe do MapBiomas Atmosfera, explica que os dados apontam um aquecimento sistemático desde 1985, sem indícios de estabilização. “O ano de 2024 foi o mais quente da série histórica, mas não é um ponto fora da curva. É o resultado de uma tendência contínua de aumento da temperatura e de eventos climáticos extremos”, afirma.

De fato, o ano de 2024 consolidou-se como um marco negativo: a Amazônia e o Pantanal registraram elevações médias de 1,5°C e 1,8°C, respectivamente, em relação à média histórica. Essas altas coincidiram com secas e queimadas sem precedentes, confirmando a correlação entre aquecimento, redução de chuvas e degradação ambiental.

desmatamento-e-queimada-em-floresta-400x266 Pantanal lidera o aquecimento entre biomas brasileiros e revela urgência climática
Bruno Kelly/Amazônia Real/Wikimedia Commons

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O coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, alerta que o desmatamento é um dos principais vetores desse aquecimento. Desde 1985, a Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa, o que equivale a 13% da sua área original. “A perda de florestas altera as trocas de calor e de vapor d’água com a atmosfera, resultando em temperaturas mais elevadas”, explica.

Um estudo publicado na revista Nature Geoscience, citado pelo relatório, confirma essa relação direta: 74% da redução das chuvas e 16% do aumento da temperatura na Amazônia durante a estação seca são consequência do desmatamento. Menos árvores significam menos umidade, mais calor e, consequentemente, mais incêndios — um ciclo de retroalimentação que intensifica a crise climática.

A seca de 2024 foi uma das piores já registradas. Na Amazônia, choveu 20% abaixo da média histórica, com déficit de 448 milímetros — chegando a 1.000 mm anuais em algumas áreas. O resultado foi uma explosão das queimadas, que atingiram 15,6 milhões de hectares, afetando a qualidade do ar em toda a região Norte. “A poluição atmosférica em estados amazônicos superou a de regiões urbanizadas do Sudeste”, observa Luciana Rizzo, relacionando a fumaça dos incêndios à deterioração da saúde pública.

No Pantanal, o quadro é igualmente alarmante. A Bacia do Alto Paraguai, responsável por alimentar o bioma, registrou 314 mm de chuva abaixo da média e passou 205 dias sem precipitações em 2024. O resultado foi a intensificação da seca, perda de biodiversidade e incêndios devastadores, que transformaram o bioma mais úmido do mundo em um foco recorrente de fogo e destruição.

Para o físico e climatologista Paulo Artaxo, também da USP e membro do MapBiomas Atmosfera, a nova plataforma tem potencial para revolucionar o monitoramento climático no Brasil. “Trata-se de uma ferramenta científica e pública que permite embasar políticas ambientais com dados concretos e identificar as regiões mais vulneráveis às mudanças do clima e ao uso da terra”, avalia.

O MapBiomas Atmosfera chega em um momento decisivo, às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA). Os dados reforçam o alerta de que o Brasil, embora rico em recursos naturais, é também um dos países mais vulneráveis ao aquecimento global, especialmente em regiões onde o desmatamento e as secas caminham lado a lado. A mensagem é clara: sem políticas integradas de mitigação e adaptação, o país pode assistir à transformação de seus biomas em zonas áridas, com impactos irreversíveis sobre o clima, a economia e a vida das populações locais.

Agricultura familiar e comunidades tradicionais ganham protagonismo global na COP30

De 13 a 17 de novembro, Belém se tornará o epicentro das discussões sobre o futuro da agricultura sustentável e das comunidades tradicionais. Durante a COP30, a capital paraense receberá o Fórum Internacional da Agricultura Familiar e Comunidades Tradicionais, que acontecerá na AgriZone, espaço temático da Embrapa Amazônia Oriental dedicado à inovação, pesquisa e diálogo em torno da bioeconomia amazônica.

Com uma programação que reúne 14 painéis e mais de 80 especialistas nacionais e internacionais, o Fórum promete um debate profundo sobre os desafios e oportunidades para os agricultores familiares e povos tradicionais diante da emergência climática. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo Sympla.

A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS), a Secretaria de Agricultura Familiar do Pará e o Governo do Pará, com apoio de redes internacionais ligadas ao desenvolvimento rural e climático.

Mais do que um encontro técnico, o Fórum se propõe a ser um espaço de diálogo, troca de experiências e valorização de saberes. O evento nasce da convicção de que a agricultura familiar é uma das chaves mais potentes para o enfrentamento da crise climática — não apenas pela sua contribuição à segurança alimentar, mas também pela sua capacidade de regenerar ecossistemas e fortalecer comunidades locais.

Um novo pacto entre floresta, comida e clima

A realização do Fórum durante a COP30 carrega um simbolismo histórico: pela primeira vez, o protagonismo dos agricultores familiares e das comunidades tradicionais ocupará o centro de um debate global sobre transição climática. O evento reconhece que as respostas à crise ambiental não virão apenas dos grandes acordos internacionais, mas também das práticas ancestrais, do manejo sustentável dos territórios e da inovação social construída no campo.

Entre os temas em destaque estão resiliência climática, sistemas agroflorestais, agroindustrialização de base comunitária, manejo de recursos hídricos, sucessão familiar, juventude rural, energia renovável e conectividade no campo. Cada eixo foi pensado para conectar ciência e tradição, tecnologia e cultura, mostrando como o conhecimento rural pode dialogar com a inovação verde em escala global.

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Agro familiar – Alex Ribeiro/Ag. Pará

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Da Amazônia para o Sul Global

O Fórum também será um espaço de intercâmbio entre experiências amazônicas e de outros territórios do Sul Global. Agricultores, pesquisadores e lideranças rurais da América Latina, África e Ásia estarão presentes para compartilhar soluções de adaptação às mudanças climáticas e práticas de produção regenerativa que combinam economia, cultura e biodiversidade.

De acordo com o IPAM, a agricultura familiar representa mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, e desempenha um papel essencial na mitigação das emissões e na conservação de florestas. Em um cenário de vulnerabilidade crescente, investir nesses sistemas produtivos significa investir em segurança climática e alimentar.

Legado para além da COP30

O Fórum deixa um legado que vai além dos cinco dias de evento. Sua ambição é consolidar uma agenda permanente de diálogo entre governos, comunidades e pesquisadores, promovendo políticas públicas que reconheçam a agricultura familiar como aliada estratégica da descarbonização e da economia sustentável da Amazônia.

Em um dos momentos mais decisivos da história do planeta, o encontro reafirma que a transição climática não é apenas tecnológica, mas também social e territorial. Ao colocar no centro da COP30 as vozes que cultivam a terra, protegem a floresta e alimentam o país, o Fórum aponta um caminho onde desenvolvimento, justiça climática e diversidade caminham lado a lado.

Quando o tacacá encontra o carimbó: a periferia de Belém transforma a COP30 em ação climática

Enquanto líderes mundiais se reúnem para discutir o futuro do planeta nas áreas oficiais da COP30, a periferia de Belém transforma a emergência climática em ação concreta. Nos dias 14 e 15 de novembro, o Espaço Cultural Ruth Costa, em Águas Lindas, será palco do evento “Tacacá com Carimbó: O Sabor da Justiça Climática”, que une arte, culinária amazônica e mobilização popular para debater o direito à cidade e à justiça climática.

A iniciativa, apoiada pela Fundação Rosa Luxemburgo, integra as Yellow Zones — espaços organizados pela sociedade civil para descentralizar as discussões da conferência climática e fortalecer o protagonismo das comunidades amazônicas. Com entrada gratuita, o evento propõe uma experiência que mistura sabores, música, cinema e luta política, valorizando o território periférico como espaço de inovação social e resistência.


Programação – 14 de novembro

16h – Abertura: Mística de Encontro com Jô Pereira e Ugo
O evento começa com uma vivência simbólica de conexão entre corpo, território e natureza, celebrando o espírito de união que move a periferia amazônica.

16h45 – Encontro de Sonhos das Infâncias de Águas Lindas
O quintal-floresta do Espaço Ruth Costa se transforma em cenário para uma atividade com crianças conduzida por Jô Pereira (Pedal na Quebrada-SP), convidando-as a imaginar “mundos possíveis entre o céu e a terra amazônicos”.

19h – Cinema no Quintal: Exibição do documentário “Tarifa Zero: Cidade em Disputa”
O filme, apoiado pela Fundação Rosa Luxemburgo, discute o transporte público gratuito como ferramenta de justiça climática e social, mostrando como a mobilidade urbana impacta diretamente as desigualdades e as emissões de carbono.
A sessão também contará com o audiovisual “Perifa na Pista: Mulheres e a Bicicleta no Território Periférico”, ampliando a discussão sobre o papel das mulheres e do transporte ativo nas periferias urbanas.

20h – Bate-papo “Tarifa Zero, Mobilidade Antirracista e Justiça Climática”
O debate reúne vozes que atuam na intersecção entre mobilidade, raça, gênero e meio ambiente. Participam:

  • Katarine Flor, Fundação Rosa Luxemburgo e produtora executiva do documentário Tarifa Zero

  • Ruth Costa, ativista pela mobilidade ativa e anfitriã do espaço

  • Ricardo Machado, diretor da Ciclocidade

  • Luana Costa, Movimento Nossa BH

  • Enio Paipa, cicloativista

  • Jô Pereira, Pedal na Quebrada e União de Ciclistas do Brasil

Encerramento Cultural e Gastronômico
A noite termina ao som do Carimbó Batuque da Lua Crescente e com comidas típicas da culinária paraense, celebrando a resistência e a alegria amazônica.


Programação – 15 de novembro

Bicicletada Manifesto: Mobilidade é Justiça Climática
O segundo dia será marcado por uma grande pedalada saindo do Espaço Cultural Ruth Costa rumo à Marcha Global pelo Clima, reforçando que a luta climática também é urbana e periférica. A atividade destaca que o acesso à mobilidade sustentável é parte essencial do direito à cidade e da transição ecológica justa.


A periferia como centro da mudança

As Yellow Zones (Zonas Amarelas) são uma iniciativa da sociedade civil que propõe um novo olhar para a COP30 — um espaço onde as soluções para o clima nascem dos territórios e das pessoas que vivem os impactos da desigualdade ambiental. “Tacacá com Carimbó” mostra que a transformação climática também passa pela cultura, pela solidariedade e pelo reconhecimento das periferias como laboratórios vivos de justiça climática.

O evento tem apoio institucional da Fundação Rosa Luxemburgo e do Instituto Clima e Sociedade (ICS). O Espaço Cultural Ruth Costa (Rua João Batista, nº 98, Conjunto Jardim Nova Vida, Águas Lindas) segue como um ponto de criação coletiva, educação popular e valorização dos saberes locais.

Contato para imprensa:
Katarine Flor, coordenadora de comunicação da Fundação Rosa Luxemburgo
📧 [email protected] | 📱 +55 21 99517-0662

Relatório da ActionAid revela falhas graves no financiamento de uma transição justa antes da COP30

Às vésperas da COP30, que acontece em Belém (PA), um novo relatório da ActionAid lança um alerta contundente sobre a desigualdade nos investimentos climáticos globais. A pesquisa “Climate Finance for Just Transition: How the Finance Flows” revelou que apenas 2,8% dos recursos internacionais voltados ao clima apoiam iniciativas de transição justa — ou seja, aquelas que colocam trabalhadores, mulheres e comunidades no centro da transformação rumo a uma economia verde.

O estudo analisou dados de dois dos principais fundos globais de financiamento climático — o Green Climate Fund e o Climate Investment Funds — e concluiu que menos de 3% do dinheiro flui para projetos que realmente consideram os impactos sociais da descarbonização. Em números ainda mais alarmantes, apenas um em cada 50 projetos (1,96%) escuta e apoia de forma efetiva as comunidades durante essa transição, e apenas 1 dólar em cada 35 é direcionado a esse propósito.

Para a organização, essa disparidade demonstra que as comunidades mais vulneráveis à crise climática continuam sendo negligenciadas — e que a corrida global para reduzir emissões corre o risco de repetir velhas injustiças. A ActionAid defende que a transição energética e econômica precisa ocorrer de forma inclusiva, participativa e protetora de direitos, garantindo empregos dignos, soberania alimentar e segurança energética.

Arthur Larok, secretário-geral da ActionAid International, afirmou que “o mundo precisa agir para evitar o colapso climático, mas são os poluidores — e não os trabalhadores e comunidades — que devem pagar o preço”. Segundo ele, o novo relatório mostra que as abordagens de transição justa estão “escandalosamente subfinanciadas” e que as necessidades das pessoas “seguem no fim da lista de prioridades”.

A pesquisadora Teresa Anderson, autora do relatório e líder global em Justiça Climática da organização, reforçou: “Ninguém deveria ter que escolher entre um emprego seguro e um planeta habitável. A transição justa garante que a ação climática responda às necessidades reais das pessoas, evitando que caiam em mais pobreza”.

O relatório traz também histórias de resistência vindas do Sul Global, onde comunidades sofrem com práticas predatórias de grandes indústrias agrícolas e de combustíveis fósseis. Um exemplo vem do Maranhão, na região da Amazônia Legal, onde famílias que vivem há gerações do babaçu — palmeira nativa usada para extração de óleo e fibras — enfrentam ameaças e violência de produtores interessados em expandir monocultivos de soja, milho e pastagens.

15012017comunidade_de_ribeirinhos_em_manaus1589-400x239 Relatório da ActionAid revela falhas graves no financiamento de uma transição justa antes da COP30
Marcelo Camargo/Agência Brasil

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“Eles querem nos expulsar para abrir espaço à agricultura industrial. Aviões e drones já chegaram a pulverizar agrotóxicos sobre nossas casas”, relata uma quebradeira de coco da região, sob anonimato. Mesmo após a proibição dessas práticas, a aplicação da lei é fraca, e o desmatamento continua avançando.

Para Jessica Siviero, especialista em Justiça Climática da ActionAid Brasil, a COP30 em Belém deve servir como um marco para repensar o papel da agricultura industrial na destruição da Amazônia e do Cerrado. “A floresta amazônica é o pulmão do planeta, e o Cerrado, suas veias. Precisamos abandonar o modelo que destrói e adotar uma agricultura agroecológica que alimente as pessoas e resfrie o planeta”, defendeu.

Com o início da COP30 se aproximando, a ActionAid e suas aliadas propõem a criação de um “Mecanismo de Ação de Belém para a Transição Justa”, que permitiria coordenar esforços, compartilhar aprendizados e garantir apoio técnico e financeiro aos países e comunidades que buscam implementar planos de transição justa.

Para a organização, esse seria um passo decisivo para um novo ciclo de cooperação internacional, onde a descarbonização venha acompanhada de equidade social, segurança alimentar e geração de renda. “Esta é uma oportunidade crítica para a ação climática global evoluir”, conclui Teresa Anderson. “A COP30 precisa entregar um plano global de transição justa que apoie quem está na linha de frente e libere a ação que o planeta tanto necessita.”v

A agricultura do futuro já chegou: Embrapa abre as portas da AgriZone para jornalistas na COP30

A Embrapa Amazônia Oriental promove nesta quinta-feira (6), das 8h30 às 10h, um tour guiado exclusivo para jornalistas brasileiros e correspondentes internacionais na AgriZone, a grande vitrine de ciência, tecnologia e inovação agropecuária da COP30, em Belém (PA). A visita será conduzida pela presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, e pelo chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos, que apresentarão os destaques das pesquisas e soluções sustentáveis desenvolvidas pela instituição.

Durante o tour, os profissionais de imprensa poderão conhecer de perto os protocolos de baixo carbono aplicados a diferentes cadeias produtivas — como carne, leite, soja, trigo, sorgo e milho — além de 45 cultivares adaptadas às mudanças climáticas, tecnologias sociais e sistemas agropecuários sustentáveis. A AgriZone também contará com vitrines vivas, exposições imersivas e demonstrações práticas, mostrando que é possível produzir alimentos com alta produtividade e, ao mesmo tempo, reduzir emissões e restaurar ecossistemas.

Embrapa_Agrizone-1024x576 A agricultura do futuro já chegou: Embrapa abre as portas da AgriZone para jornalistas na COP30
Conheça a AgriZone – Fonte: TheAgriBiz

Localizada a apenas 1,8 km das zonas oficiais da COP30, a AgriZone será palco de mais de 400 atividades técnicas ao longo de 11 dias, apresentando 30 sistemas agropecuários sustentáveis e 10 modelos de agricultura conservacionistabaseados na biodiversidade brasileira. O espaço também abrigará o lançamento do Selo Carne de Baixo Carbono, reforçando o papel da ciência na transição para uma agricultura neutra em emissões.

Durante o evento, a Embrapa disponibilizará transporte gratuito entre as áreas oficiais da COP30 e a AgriZone. Jornalistas interessados devem confirmar presença pelos contatos: (91) 99110-5115 (Ana Laura Lima) e (91) 99144-0125 (Kélem Cabral).

A Amazônia que brilha: artesãs transformam escamas, sementes e alumínio em joias sustentáveis

Escamas de peixe, caroços de açaí, sementes, cerâmicas e fibras da floresta amazônica ganham novas formas nas mãos de 14 artesãs paraenses. A exposição “Joias da Amazônia, que será inaugurada nesta terça-feira (4), às 16h, na Casa SESI Indústria Criativa, em Belém (PA), celebra a união entre sustentabilidade, design e saberes tradicionais. O evento integra a programação da COP30 e se propõe a mostrar como a arte pode ser uma poderosa aliada na valorização da biodiversidade e das comunidades da região.

As biojoias apresentadas são resultado de um processo de criação que combina materiais naturais e reciclados, como o alumínio reaproveitado de ferro-velho, com insumos oriundos do manejo florestal sustentável. Cada peça carrega uma história: são expressões da vivência, das memórias e dos sentimentos das artesãs, que representam diferentes territórios do Pará. O projeto, realizado pelo Instituto Elabora Social, com patrocínio da Hydro e apoio institucional do Sistema FIEPA, Jornada COP+, Ebata e Aimex, também oferece formação técnica e consultoria especializada, fortalecendo o empreendedorismo feminino e criativo na Amazônia.

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Exposição Joias da Amazônia – Fonte: Uruatapera

Mais do que uma exposição, “Joias da Amazônia” é um convite para repensar o valor do que nasce da floresta. Ao transformar resíduos e elementos naturais em obras de arte, as artesãs mostram que a economia da Amazônia pode florescer sem destruir, valorizando o que é local, autêntico e sustentável. A mostra fica aberta à visitação até 28 de novembro, de terça a sexta-feira, das 9h às 18h, e nos feriados municipais (6 e 7) até 13h, com entrada gratuita.

O futuro da agricultura pode estar nas mãos das comunidades tradicionais; Fórum debate desafios e soluções durante a COP30

De 13 a 17 de novembro, Belém (PA) sedia o Fórum Internacional da Agricultura Familiar e Comunidades Tradicionais, na AgriZone da Embrapa Amazônia Oriental, durante a COP30.
O evento vai reunir mais de 80 especialistas nacionais e internacionais em 14 painéis temáticos, abordando os principais desafios e soluções para a agricultura familiar diante da crise climática.

 O futuro da agricultura pode estar nas mãos das comunidades tradicionais; Fórum debate desafios e soluções durante a COP30 O futuro da agricultura pode estar nas mãos das comunidades tradicionais; Fórum debate desafios e soluções durante a COP30

Ao longo de cinco dias, os debates vão tratar de resiliência climática, sistemas agroflorestais, manejo de recursos hídricos, agroindustrialização, sucessão familiar, juventude rural, energia e conectividade no campo.

As inscrições são gratuitas e já estão abertas no Sympla: clique aqui para se inscrever.

O Fórum é uma realização do IPAM, da SEMAS, da Secretaria da Agricultura Familiar e do Governo do Pará, e busca fortalecer o papel das comunidades tradicionais e dos agricultores familiares como protagonistas na transição climática do Sul Global.

Importância da agricultura familiar

A agricultura familiar é responsável por grande parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e desempenha um papel essencial na segurança alimentar do país. Além de gerar renda e sustentar milhões de famílias no campo, esses produtores mantêm práticas tradicionais que ajudam a preservar os solos, as águas e a biodiversidade local. O fortalecimento desse setor é também uma forma de valorizar o conhecimento acumulado por gerações e garantir a permanência da juventude nas áreas rurais.

Em um cenário de emergência climática, o protagonismo da agricultura familiar se torna ainda mais estratégico. São esses agricultores e comunidades que estão na linha de frente da adaptação às mudanças do clima, adotando sistemas agroflorestais, diversificação de culturas e manejo sustentável dos recursos naturais. Investir em políticas públicas e inovação para o campo é, portanto, investir em um modelo de desenvolvimento mais justo, resiliente e alinhado à transição climática global.

Inovação em destaque: Itaipu Parquetec acelera a energia limpa na COP30

A parceria anunciada pelo Itaipu Binacional e pelo Itaipu Parquetec na COP30 representa um passo ambicioso na trajetória da transição energética brasileira. Instalado em Foz do Iguaçu (PR) e criado em 2003, o Itaipu Parquetec é um ecossistema de inovação que integra universidades, institutos de ciência e tecnologia, aceleradoras e hubs de startups — todos voltados para tornar o país mais limpo, competitivo e inclusivo.

Durante o evento em Belém, o parque apresentará quatro iniciativas que combinam energia renovável, economia circular, mobilidade limpa e inclusão social — cada uma delas com potencial de legado para a capital paraense e além. Esse conjunto evidencia como inovação e tecnologia podem operar em escala urbana e territorial para acelerar a mudança estrutural que o setor energético exige.

A primeira delas exibe um marco histórico: o barco “BotoH₂”, considerado a primeira embarcação 100 % movida a hidrogênio verde da América Latina. Desenvolvido pelo Itaipu Parquetec em parceria com a Itaipu Binacional, o BotoH₂ combinará hidrogênio verde e energia solar no seu sistema de propulsão e será doado à cidade de Belém. Durante a COP30 a embarcação estará exposta no Píer Porto Futuro; depois, atuará de forma permanente na coleta de resíduos sólidos em comunidades ribeirinhas, beneficiando quatro cooperativas. Esse projeto conecta a transição energética à economia circular e à promoção de emprego local.

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Divulgação

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Em paralelo, todo o sistema de resíduos da COP30 — que mobiliza milhares de participantes — será gerido por um programa coordenado entre Itaipu Binacional e Itaipu Parquetec. O programa instalará “reciclômetros” em pontos estratégicos do Parque da Cidade para exibir, em tempo real, volume de resíduos coletados e emissões de carbono evitadas. Quarenta catadores, de quatro cooperativas (Concaves, Filhos do Sol, Aral e ACCSB) serão mobilizados para realizar a coleta diária (entre 23h e 6h), com expectativa de recolher cerca de 16 toneladas. A iniciativa demonstra que eventos de escala global podem incorporar práticas de inclusão produtiva e transparência de impacto ambiental.

Além disso, o Itaipu Parquetec apresenta na COP30 o projeto “Explorer H1”, em parceria com o Grupo Náutica, a JAQ Hidrogênio e a GWM. Trata-se de uma embarcação-conceito voltada à navegação sustentável e à redução de emissões no setor privado. Na Fase 1, o sistema dual fuel reduzirá em média 50% das emissões de CO₂, podendo chegar a 80%, com futura integração de células a combustível de hidrogênio verde. Durante o evento em Belém a embarcação será exibida ao público e marcada a data oficial da apresentação, em 9 de novembro, no Píer Porto Futuro. Essa iniciativa revela que a inovação náutica, mesmo voltada ao setor privado, pode ter um efeito catalisador sobre padrões industriais e de consumo.

Por fim, o estande conjunto da Itaipu Binacional e do Itaipu Parquetec contará com dois selos comemorativos — um em homenagem ao fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e outro que celebra a participação da Itaipu na conferência, simbolizando a sinergia entre floresta e hidrelétrica. A cerimônia oficial de lançamento, em parceria com os Correios e o Instituto Terra, está marcada para 11 de novembro, às 9h. Durante todo o evento, visitantes receberão um cartão-postal temático — até 30 mil — para envio via Itaipu, fazendo do espaço uma ponte de conexão simbólica entre pessoas, território e sustentabilidade.

Em síntese, essas quatro vertentes — mobilidade energética inovadora, gestão de resíduos integrada, navegação sustentável e comunicação simbólica — ilustram como o Itaipu Parquetec está traduzindo o conceito de transição para aplicações concretas, envolvendo múltiplos setores, comunidade local, tecnologia de ponta e legado urbano. Em Belém, o resultado poderá ser um ambiente mais resiliente, mais inclusivo e mais preparado para os desafios climáticos que se avizinham.

Príncipe William lança parceria inédita pela proteção de defensores da Amazônia no United for Wildlife Summit

Durante o United for Wildlife Global Summit, realizado no dia 4 de novembro de 2025, no Rio de Janeiro, o Príncipe William anunciou uma iniciativa histórica voltada à proteção dos povos indígenas e dos defensores ambientais da Amazônia brasileira. A ação une a The Royal Foundation’s United for Wildlife à Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), ao Fundo Podáali, à Rainforest Foundation Norway (RFN) e à Re:wild, num esforço coletivo para enfrentar a escalada de violência e destruição ambiental na região.

A urgência de proteger quem protege

A Amazônia vive um duplo colapso: a devastação ambiental e o aumento da violência contra quem a defende. Só em 2024, mais de 1,7 milhão de hectares de floresta foram derrubados — um ciclo alimentado por crimes ambientais como o garimpo ilegal, a grilagem e a extração clandestina de madeira. Para os povos indígenas, cujos territórios ocupam cerca de 27% da Amazônia brasileira, essa destruição atinge dimensões espirituais e existenciais, corroendo modos de vida ancestrais e ameaçando comunidades inteiras.

Em seu discurso de abertura, o Príncipe William foi enfático: “Não podemos gerir nossas florestas enquanto seus protetores vivem com medo. E não podemos proteger defensores ambientais sem garantir os territórios que eles defendem. Devemos proteger quem protege — só assim haverá futuro para esses ecossistemas vitais.”

A mensagem sintetiza o propósito central da nova parceria: fortalecer os sistemas de proteção liderados pelos próprios povos indígenas, garantir apoio jurídico, criar redes de resposta emergencial e ampliar a segurança de lideranças ameaçadas em nove estados da Amazônia.

Território, ancestralidade e resistência

Para Toya Manchineri, coordenador executivo da COIAB, a iniciativa chega em um momento decisivo. “A segurança daqueles que defendem as florestas com suas próprias vidas deve ser central nas discussões globais. Para nós, o território é sagrado — é onde o espiritual e o material se encontram. Defender nossas terras é uma missão herdada dos nossos ancestrais”, declarou. Ele ressaltou que a parceria com a The Royal Foundation e os demais aliados significa “proteger as vidas de quem protege a Terra”.

Os números refletem a urgência dessa proteção. Entre 2023 e 2024, o Brasil registrou 393 casos de violência contra defensores ambientais, segundo dados de organizações da sociedade civil. Povos indígenas e comunidades afrodescendentes foram os mais atingidos — representando cerca de um terço dos assassinatos e desaparecimentos relacionados à defesa ambiental no período.

Apesar do cenário sombrio, há provas concretas do impacto positivo da gestão indígena: o desmatamento em terras indígenas é 83% menor do que em áreas desprotegidas. Essa diferença revela que a conservação da floresta não é apenas uma questão técnica, mas cultural, espiritual e política — enraizada em sistemas próprios de conhecimento e governança.

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ICMBIO/divulgação

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Parceria internacional com impacto local

A nova aliança entre United for Wildlife, COIAB, Fundo Podáali, RFN e Re:wild visa remover barreiras que impedem a segurança plena das lideranças indígenas. Entre as ações previstas estão a criação de um fundo emergencial de proteção, o fortalecimento de redes jurídicas de apoio e o desenvolvimento de uma plataforma compartilhada de dados para monitorar ameaças e respostas em tempo real.

O projeto também busca amplificar, no cenário global, a relevância dos povos indígenas como guardiões do clima. A COIAB representa cerca de 750 mil indígenas, distribuídos por mais de 110 milhões de hectares de território amazônico — uma das maiores redes de representação indígena do planeta.

Segundo Dr. Tom Clements, diretor executivo do United for Wildlife, “proteger as terras e os recursos das comunidades indígenas é uma das maneiras mais eficazes de proteger a natureza e combater as mudanças climáticas. Esta iniciativa é liderada por mecanismos de governança indígena e mostra como a comunidade global pode apoiar quem está na linha de frente da conservação”.

Um chamado global

O United for Wildlife Global Summit, fundado em 2014 sob a liderança do Príncipe William, reuniu em 2025 líderes de governos, empresas, cientistas e ativistas para discutir o aumento dos crimes ambientais e propor respostas conjuntas. O evento no Rio de Janeiro marcou o início de uma nova etapa para o programa — uma fase que combina diplomacia, ciência e justiça ambiental.

Mais do que um gesto simbólico, o anúncio reforça uma mudança de paradigma: a proteção da Amazônia só será efetiva se os povos indígenas forem reconhecidos como protagonistas, e não como beneficiários. Em um contexto de crescente violência ambiental e desinformação, a iniciativa propõe um caminho ético e colaborativo para garantir o futuro do maior bioma tropical do planeta.

Cidades brasileiras entre finalistas do Local Leaders 2025 da Bloomberg

A Bloomberg Philanthropies anunciou no dia 10 de outubro de 2025 os 26 finalistas da edição-2025 do Local Leaders Awards, iniciativa que reconhece políticas, programas ou projetos locais que, nos últimos três anos, avançaram significativamente no enfrentamento das mudanças climáticas, com foco nas pessoas e na Justiça Climática. Em parceria com a C40 Cities, o prêmio destaca o papel cada vez mais decisivo de prefeitos, governos subnacionais e redes locais na construção de soluções climáticas eficazes rumo à COP30.

A estrutura do prêmio está organizada de modo a refletir as prioridades da presidência da COP30 — transição energética justa, adaptação às mudanças do clima, saúde pública e parcerias multilaterais robustas. Os finalistas foram selecionados entre mais de 160 inscrições provenientes de 45 países, sinalizando que a inovação urbana e regional está cada vez mais alinhada aos objetivos climáticos globais.

A lógica subjacente à iniciativa é contundente. Como destaca o fundador da Bloomberg Philanthropies, Michael R. Bloomberg, “as mudanças climáticas são um desafio global, mas soluções eficazes muitas vezes começam no nível local – onde grandes ideias podem surgir e se espalhar de cidade em cidade”. A premiação reforça que a escala nacional ou internacional é importante, mas a ação local – em cidades, regiões ou estados – é onde as políticas são vividas, adaptadas e replicadas.

Entre os finalistas há uma expressiva participação brasileira, que demonstra que as cidades e estados do país estão no centro da agenda climática. Em seis categorias distintas (Transição Energética e Construções Inteligentes; Transporte Limpo e Confiável; Infraestruturas mais Seguras; Cidades Saudáveis e Comunidades Fortes; Soluções Sustentáveis para Resíduos; O Poder da Parceria) serão contemplados um vencedor global e um vencedor brasileiro por categoria.

Banner-graphic-scaled-1-400x225 Cidades brasileiras entre finalistas do Local Leaders 2025 da Bloomberg

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Na categoria Transição Energética e Construções Inteligentes, por exemplo, destacam-se iniciativas como a de Curitiba (Brasil) com o programa “Curitiba Mais Energia” e ainda de Boston (EUA) com a portaria de redução e divulgação de emissões de edifícios. Já no transporte limpo consta como finalista a São Paulo (Brasil) com seu programa de eletrificação da frota de ônibus municipais, mostrando que cidades brasileiras aspiram a metas ambiciosas de descarbonização urbana. Na mesma linha, iniciativas em resíduos, como a de Abaetetuba (Brasil) ou Cerro Navia (Chile), ilustram a ampliação da noção de ação climática local para além do setor energético ou da mobilidade, e contemplam também a economia circular, inclusão social e inovação urbana.

Este prêmio assume também um forte compromisso com a justiça climática: não se trata apenas de reduzir emissões, mas de melhorar a qualidade de vida, gerar oportunidades econômicas e garantir que a transição seja equitativa. As candidaturas brasileiras e internacionais demonstram que os governos locais não apenas respondem à crise, mas adaptam seus serviços públicos e infraestruturas para este novo panorama.

O processo de seleção envolve um júri internacional de alto nível, composto por figuras como Teresa Ribera (Vice-Presidente da Comissão Europeia para uma Transição Limpa), Simon Stiell (Secretário-Executivo da Convenção‑Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) e Mark Watts (Diretor Executivo da C40 Cities) – o que evidencia o peso global e político da distinção. A divulgação dos vencedores está prevista para o dia 4 de novembro, durante o Local Leaders Forum da COP30, no Rio de Janeiro.

A relevância deste reconhecimento transcende o troféu. Ele funciona como uma vitrine para boas práticas, acelerador de escala, plataforma de visibilidade para governos locais e estímulo para que outras cidades aprendam e adaptem essas soluções. Em um momento em que os compromissos nacionais ainda carecem de execução local, esse tipo de iniciativa ajuda a demonstrar que os municípios e estados têm protagonismo. A COP30 assume aqui um papel duplo: palco de visibilidade internacional e laboratório de implementação prática.

Todas essas candidaturas sublinham uma narrativa: não basta formular metas ou políticas; é necessário implementá-las com foco, transparência, participação e adaptabilidade. E se as cidades brasileiras se figuram entre os finalistas, isso sugere que a agenda climática local no Brasil está se sofisticando. Agora, o próximo passo será observar como os vencedores traduzirão o reconhecimento em escala, replicação e impacto real na vida das comunidades.

Neste contexto, vale acompanhar não apenas o anúncio dos vencedores, mas o desenrolar da implementação pós-prêmio – porque o verdadeiro desafio da ação climática não é o prêmio, e sim o que vem depois. E o que vêm depois são pessoas mais saudáveis, serviços públicos mais eficientes, maior resiliência ao clima e, no fim das contas, cidades e regiões mais preparadas para enfrentar o futuro.

Mata Atlântica ganha voz na COP30 para defender seu futuro

O bioma da Mata Atlântica ocupa apenas frações do que foi — cerca de 70 % da cobertura original já se perdeu —, mas continua exercendo um papel essencial para o Brasil: abriga a maior parte da população urbana, forma bacias hidrográficas vitais, regula o clima e guarda milhares de espécies que não existem em outro lugar. Na próxima COP30, que será realizada de 12 a 16 de novembro em Belém (PA), esse papel estratégico ganha voz no espaço da Casa da Mata Atlântica, promovido pela Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) na Universidade da Amazônia (UNAMA). Ali serão reunidos pesquisadores, ativistas, lideranças comunitárias, artistas e gestores públicos para reafirmar que conservar o que resta da Mata Atlântica é indispensável — e que restaurar por si só não basta se as florestas maduras continuarem sob ataque.

“Não basta restaurar o que foi destruído. É preciso garantir que o que ainda existe seja efetivamente protegido”, afirma Tânia Martins, coordenadora-geral da RMA. A voz da rede revela uma lógica simples, mas frequentemente ignorada em meio às agendas de restauração: gastar esforços em recuperação de áreas já degradadas tem valor — mas se a floresta remanescente for deixada à mercê do desmatamento, todo o trabalho de recomposição corre risco de se anular.

Isso porque os dados mais recentes compilados pela Fundação SOS Mata Atlântica mostram que parte das áreas em regeneração acaba voltando a sofrer supressão poucos anos depois. Em paralelo, as formações maduras restantes seguem sob intensa pressão. A combinação é letal: um bioma que já perdeu quase 70 % da sua cobertura original enfrenta não só a necessidade de recuperação, mas também de defesa ativa. A atuação da Fundação lembra que a Mata Atlântica hoje sustenta a vida de milhões no país — e sua relevância vai muito além de belos trechos florestais.

Na Casa da Mata Atlântica, o espaço funcionará como arena de diálogo, mobilização e incidência política. Serão cinco dias de painéis, oficinas, rodas de conversa e atividades culturais, reunindo uma agenda ampla: conservação da biodiversidade, restauração ecológica, justiça climática, bioeconomia, protagonismo feminino nas comunidades florestais, transição energética e arte. Participações como a da jornalista e escritora Cristina Serra, do ministro João Paulo Capobianco, do presidente do Superior Tribunal de Justiça Antonio Herman Benjamin, da atriz e ambientalista Lucélia Santos e do deputado federal Nilto Tatto são apenas exemplos do esforço por reunir vozes diversas em torno do bioma.

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É significativo que esse movimento aconteça durante a COP30 — evento com foco maior na Amazônia — pois revela a interdependência dos biomas brasileiros. A Mata Atlântica, embora menos extensa, congrega parte expressiva da vida urbana, da economia nacional e da disponibilidade hídrica. E enquanto a floresta amazônica exerce papel planetário, a Mata Atlântica sustenta o Brasil urbano, suas cidades e seu cotidiano. Em outras palavras, sem a Mata Atlântica em bom estado, as demais estratégias climáticas nacionais ficam incompletas.

O evento funcionará também como vitrine para a construção coletiva de uma agenda que vai além do técnico: traz o protagonismo das organizações da sociedade civil que há décadas atuam no bioma. Na Casa estarão presentes entidades como FUNBEA – Fundação Universitária para o Meio Ambiente e a Educação, REBEA – Rede Brasileira de Educação Ambiental, Associação Mico‑Leão‑Dourado AMLD, Sociedade Ecológica Renovar SER, Instituto 5 Elementos de Educação Ambiental, entre dezenas de outras redes e movimentos. Essa articulação reforça que a defesa da Mata Atlântica é feita por uma rede de coletivos que atuam desde a educação ambiental até a justiça climática, passando pela restauração ecológica, economia verde e pelos territórios das comunidades tradicionais.

Além da mesa de debates, serão realizadas oficinas sobre biomimética, rodas de conversa sobre educação ambiental e protagonismo de mulheres, e uma feira da restauração que culminará com uma “Marcha pelo Clima”. O encerramento será com o evento musical “Música da Floresta”, simbolizando a convergência entre natureza, arte e mobilização. A programação reflete a premissa de que conservar florestas e restaurar paisagens não são ações solitárias: são partes de uma narrativa maior, cujo êxito depende da convergência entre ciência, política, sociedade e cultura.

A mensagem que a Casa leva à COP30 é clara: conservar as florestas que resistem ainda pode ser mais eficaz, em termos de vida e clima, do que focar apenas em restaurar o que foi perdido. A restauração é indispensável, mas ela vai produzir resultados reais somente se vier acompanhada de proteção, governança robusta, participação social e desenho institucional adequado. Como a RMA assinala, a urgência não está apenas no que fazer, mas no como fazer — e sobretudo o quê proteger.

De fato, a Mata Atlântica resiste como infraestrutura ecológica vital para o país. É ali que nascem muitas das águas que abastecem nossas cidades, que se regula o clima nos centros urbanos, que a biodiversidade encontra refúgio — mesmo quando fragilizada. Defender esse bioma, portanto, é defender o Brasil que queremos: justo, resiliente e em equilíbrio com sua natureza. E a Casa da Mata Atlântica pretende ser o palco dessa defesa — não como um evento pontual, mas como um catalisador de alianças, compromissos e práticas que se estendam além da semana da COP.

SERVIÇO

Casa da Mata Atlântica – COP30
Local: Universidade da Amazônia (UNAMA), Av. Alcindo Cacela, 287, Umarizal, Belém (PA)
Data: 12 a 16 de novembro de 2025

Lula afirma que extração de petróleo na Foz do Amazonas dependerá de novo aval ambiental

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (4) que a Petrobras precisará de uma nova licença ambiental para iniciar a extração de petróleo e gás na Bacia da Foz do Amazonas, localizada na Margem Equatorial. O esclarecimento ocorre às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA), onde Lula presidirá a Cúpula de Líderes do clima nos dias 6 e 7 de novembro.

O presidente destacou que a licença concedida recentemente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é apenas para a fase exploratória — um levantamento técnico que busca avaliar a viabilidade econômica e ambiental da atividade. Segundo ele, qualquer decisão sobre extração comercial exigirá um novo processo de licenciamento, “do zero”.

“Se eu fosse um líder falso e mentiroso, esperaria passar a COP para anunciar”, declarou Lula, em tom enfático, durante entrevista coletiva concedida a correspondentes internacionais em Belém. “Temos autorização para fazer o teste. Se a gente encontrar o petróleo que se pensa que tem, vai ter que começar tudo outra vez para dar licença.”

Entre o pré-sal e a floresta

A Bacia da Foz do Amazonas se estende pela costa do Amapá e do Pará, na chamada Margem Equatorial Brasileira, faixa que vai até o Rio Grande do Norte. A região é vista por técnicos e pelo setor energético como o “novo pré-sal”, dado seu alto potencial petrolífero, ainda pouco explorado. No entanto, a proximidade com os ecossistemas costeiros amazônicos — que abrigam rica biodiversidade e comunidades tradicionais — levanta sérias preocupações entre ambientalistas e cientistas.

A autorização concedida pelo Ibama à Petrobras em outubro permite apenas a perfuração de um poço de pesquisa no bloco FZA-M-059, em uma operação que deve durar cerca de cinco meses. O objetivo é coletar dados geológicos que indiquem se há reservas economicamente viáveis de petróleo e gás. A estatal já possui licenças para testes em poços localizados no Rio Grande do Norte, mas essa é a primeira autorização em área próxima à foz do rio Amazonas.

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Presidente Lula – Agência Brasil

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O dilema da transição energética

A exploração de petróleo na Amazônia vem sendo alvo de críticas dentro e fora do país. Ambientalistas afirmam que a iniciativa contraria o discurso de transição energética adotado pelo governo federal e pode gerar impactos irreversíveis sobre ecossistemas marinhos e costeiros.

Para Lula, contudo, o debate deve ser tratado com realismo econômico. Ele defende que os recursos gerados pela exploração de combustíveis fósseis podem — e devem — ser direcionados para financiar a transição para uma economia de baixo carbono. “Não se abandona o combustível fóssil do dia para a noite. O que precisamos é transformar o que ele gera em fonte de investimento para o futuro verde”, tem reiterado o presidente.

A visão do governo é a de que o petróleo da Margem Equatorial poderá funcionar como um “colchão de financiamento” para programas de energia limpa, hidrogênio verde e biocombustíveis. Ao mesmo tempo, a política de licenciamento ambiental deve garantir que nenhuma atividade ocorra sem rigorosos estudos de impacto.

Pressão ambiental e credibilidade internacional

O anúncio de Lula ocorre em um momento delicado: a COP30, que o Brasil sedia pela primeira vez, tornou-se símbolo do esforço do país para consolidar liderança climática global. Por isso, a exploração de petróleo na Amazônia provoca desconforto entre diplomatas e observadores internacionais, que temem uma contradição entre o discurso ambiental do governo e a prática econômica.

Nos bastidores, fontes ligadas à conferência afirmam que o Palácio do Planalto tenta equilibrar duas pressões distintas — a demanda internacional por metas climáticas mais ambiciosas e o interesse nacional em ampliar a produção de energia. A aposta de Lula é que o modelo de licenciamento duplo, com exigência de novos estudos antes de qualquer perfuração produtiva, demonstre compromisso com a responsabilidade ambiental.

O presidente também busca mostrar que o Brasil pode servir de exemplo em transparência e governança ambiental, mesmo em setores tradicionalmente polêmicos. “O que queremos é fazer tudo dentro da lei, com critério e responsabilidade. A Amazônia não é obstáculo ao desenvolvimento — ela é parte dele”, afirmou Lula.

O caminho adiante

As negociações oficiais da COP30, que ocorrem entre 10 e 21 de novembro, deverão incluir debates sobre financiamento climático, transição energética justa e proteção da biodiversidade — temas diretamente ligados à polêmica sobre a Margem Equatorial.

Para ambientalistas, a fala de Lula abre espaço para um diálogo mais cauteloso e técnico sobre o papel do petróleo na economia de transição. Já para o governo, representa um sinal de que o país quer combinar soberania sobre seus recursos naturais com responsabilidade ambiental e diálogo internacional.

Independentemente do desfecho, o caso da Foz do Amazonas se tornou um teste de coerência e liderança para o Brasil — um país que, ao sediar a COP30, promete guiar o mundo rumo a um futuro mais verde, mas ainda precisa decidir até que ponto continuará cavando em busca do passado fóssil.