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Vale do Lítio: avanço da mineração intensifica conflitos em Minas Gerais

Entre as serras e veredas do Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, o brilho metálico do lítio contrasta com a poeira que cobre as casas da comunidade rural Piauí Poço Dantas. Ali, a poucos quilômetros da BR-367, o som das britadeiras e caminhões não cessa nem de dia nem de noite. “O barulho é constante, o ar está cheio de poeira e o nosso córrego vem sendo assoreado pelos rejeitos”, relata a pedagoga Ana Cláudia Gomes de Souza, moradora do distrito de Itinga.

A paisagem, antes marcada por plantações e matas nativas, agora abriga crateras abertas para atender à corrida global pelos chamados minerais críticos — insumos considerados estratégicos para a transição energética e o desenvolvimento tecnológico. O lítio, usado na produção de baterias, carros elétricos e sistemas de energia renovável, tornou-se o novo símbolo da disputa entre promessas de prosperidade e os impactos ambientais e sociais sentidos pelas comunidades locais.

A corrida pelo “ouro branco”

O Brasil entrou definitivamente no mapa mundial do lítio após 2023, quando começaram as exportações do mineral em larga escala. O impulso veio com a entrada de empresas multinacionais no chamado Distrito Pegmatítico de Araçuaí, região que concentra algumas das maiores reservas brasileiras.

Entre as companhias em operação está a canadense Sigma Lithium, responsável pela Mina Grota do Cirilo-Xuxa, em Itinga. Diferentemente da tradicional Companhia Brasileira de Lítio (CBL), que atua no subsolo desde a década de 1990, a Sigma adotou um modelo de mineração a céu aberto — o que, segundo moradores, intensificou o barulho e a poeira sobre as comunidades vizinhas.

O aumento da produção foi expressivo: de acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), a extração de lítio cresceu 83,6% em 2023, impulsionando a arrecadação de royalties da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) para R$ 55 milhões. Ainda assim, moradores afirmam que os recursos não se traduziram em melhorias perceptíveis.

Impactos sociais e ambientais

Na Terra Indígena Cinta Vermelha de Jundiba, próxima à mina da Sigma, a liderança Uakyrê Pankararu-Pataxó descreve um cotidiano de conflitos e adoecimento. “Há muita poeira, muita gente com problema respiratório, e as máquinas fazem barulho a noite inteira. As mulheres também sofrem com o assédio de trabalhadores de fora”, conta.

Além dos danos ambientais, como o assoreamento de rios e a contaminação do ar, Uakyrê denuncia o apagamento cultural e identitário provocado pela expansão minerária. “As empresas tentam fazer o povo duvidar da nossa presença. Dizem que aqui não tem indígena, que somos empecilho para o desenvolvimento. Mas o próprio nome Vale do Jequitinhonha é indígena”, afirma.

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Foto: Igor Vinagre/Instituto Por Elas/Divulgação

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O projeto do governo mineiro

Em 2023, o Governo de Minas Gerais lançou o programa Vale do Lítio, voltado a atrair investimentos e estruturar a cadeia produtiva do mineral. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede), o programa já mobilizou R$ 6,3 bilhões em investimentos e criou quase 4.900 empregos diretos.

Os municípios prioritários, como Araçuaí e Itinga, registraram aumento na arrecadação de CFEM — de R$ 7,2 milhões para R$ 21,6 milhões em um ano — e no recolhimento de impostos como ISS e ICMS. O governo estadual também cita ações de qualificação profissional por meio do programa Minas Forma, em parceria com o Senai-MG.

Ainda assim, a população questiona a aplicação dos recursos. A Secretaria de Estado não detalhou de que forma o aumento da arrecadação vem sendo revertido em políticas públicas de saúde, saneamento e infraestrutura nas comunidades afetadas.

Ministério Público e direitos das comunidades

O Ministério Público Federal de Minas Gerais (MPF-MG) recomendou, em setembro de 2025, a anulação das autorizações de pesquisa e lavra nos municípios de Araçuaí e Itinga até que sejam cumpridas as exigências da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que obriga a realização de consultas livres, prévias e informadas às comunidades tradicionais.

O documento, assinado pelo procurador Helder Magno da Silva, cita dezenas de comunidades não consultadas, incluindo a Aldeia Cinta Vermelha Jundiba. A ANM informou que analisa o caso e dará manifestação “dentro dos canais legais e administrativos competentes”.

Uma mineração em disputa

Em resposta às críticas, o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou a reestruturação do Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), com o objetivo de planejar o ciclo mineral brasileiro sob a ótica da transição energética e das mudanças climáticas.

“O Brasil precisa de uma mineração sustentável e com responsabilidade social. Não podemos permitir que a corrida pelos minerais críticos repita os erros do passado”, afirmou o ministro Alexandre Silveira ao lançar a nova política em Nova Lima (MG).

Mas, na prática, o equilíbrio entre impacto e benefício segue distante. Um relatório da Oxfam Brasil aponta que, embora 70% das reservas globais de minerais críticos estejam no Sul Global, quase metade dos investimentos em energia limpa se concentra no Norte Global. A diretora-executiva Viviana Santiago resume o paradoxo: “Os países que fornecem os minérios arcam com os danos ambientais, enquanto os mais ricos colhem os benefícios da transição energética.”

No Vale do Jequitinhonha, a poeira sobre as casas e o silêncio dos córregos parecem simbolizar esse desequilíbrio — um retrato das contradições da economia verde quando ela ignora o território e as pessoas que o sustentam.

A maior trilha da América Latina estreia na COP30

Em 2025, a Amazônia paraense ganhará um novo marco e ele será inaugurado na COP30, como sinal de que proteção ambiental, lazer sustentável e geração de renda podem andar juntos. Trata-se da Trilha Amazônia Atlântica, um caminho contínuo de quase 460 km estruturados e sinalizados que atravessará o estado do Pará, conectando natureza, cultura e comunidades tradicionais.

Visão, propósito e impacto simbólico

Anteriormente conhecida apenas por trechos dispersos e pouco acessíveis, a trilha emerge agora como rota integrada — com mapas, sinalização, orientações para caminheiros ou ciclistas, e estrutura de apoio nas comunidades ao longo do percurso. O projeto foi desenhado para provocar o menor impacto ambiental, estimular deslocamentos da fauna entre unidades de conservação e abrir possibilidades reais de ecoturismo para quem quiser explorar essa Amazônia Atlântica viva.

O Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima (MMA) projeta que, já no primeiro ano, cerca de 10 mil pessoas farão o percurso total ou parcial. A meta vai além do turismo: captar parte da demanda internacional por trilhas amazônicas — até agora com preferência por destinos no Peru, Equador ou Colômbia — e fortalecer o turismo interno no Brasil.

Mas não se trata apenas de atrair visitantes. O traçado é pensado como um corredor verde entre unidades de conservação, beneficiando diretamente espécies que precisam se deslocar por longas distâncias para garantir sua sobrevivência. O diretor do Departamento de Áreas Protegidas do MMA, Pedro Cunha e Menezes, destaca que o corredor funcionará não apenas como atração turística, mas como infraestrutura ecossistêmica, conectando matas, manguezais e ecossistemas que dialogam entre si.

Essa interligação entre unidades de conservação amplia significativamente o espaço em que a biodiversidade pode se mover. Ao mesmo tempo, nas comunidades tradicionais e quilombolas que vivem no entorno dos trajetos, a trilha oferece uma nova alternativa de sustento alinhado ao ambiente — um turismo de base comunitária inserido no território que já conhecem e defendem. Para essas populações, o projeto sinaliza não apenas uma via para visitantes, mas um caminho de afirmação territorial, identidade e protagonismo.

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Foto: Diego Barros

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Percurso, atores e ecossistemas conectados

O itinerário da trilha cruzará sete unidades de conservação: as Reservas Extrativistas Marinhas Tracuateua, Caeté-Taperaçu, Araí-Peroba e Gurupi-Piriá; a Área de Proteção Ambiental Belém; o Refúgio de Vida Silvestre Metrópole da Amazônia; e o Parque Estadual do Utinga Camilo Vianna. Também envolve seis territórios quilombolas nos municípios de Tracuateua, Bragança, Inhangapi, Castanhal, Santa Isabel do Pará.

A gestão é coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (IDEFLOR-Bio), autarquia estadual responsável por conservar e regular florestas, biodiversidade e unidades de conservação no Pará.

Nos bastidores técnicos, o projeto contou também com o envolvimento da plataforma digital eTrilhas, que atua na gestão, divulgação e conectividade de informações de trilhas de longo curso Brasil afora.  Em parceria com a IDEFLOR-Bio, o lançamento conceitual da plataforma na Trilha Amazônia Atlântica já ocorreu em eventos públicos no Pará, e há esforços para que o aplicativo e o site vinculem caminhantes ou ciclistas aos prestadores de serviço locais — hospedagem, alimentação, guias — via QR codes e listagens digitais.

O suporte institucional reúne também o MMA, o Ministério do Turismo (MTur), a Embratur, o ICMBio e a Conservação Internacional (CI), além de comunidades tradicionais e voluntários locais.

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Foto: MMA

Desafios, riscos e horizonte de atuação

Embora grandiosa em ambição, a trilha enfrenta desafios operacionais intensos: garantir manutenção contínua, segurança para os usuários, envolvimento real das comunidades e financiar a logística de atendimento em locais remotos. O êxito dependerá de articulações robustas entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil.

Há outro risco latente: que o projeto seja visto apenas como produto turístico e descaracterize-se de sua missão de conservação. Se a estrutura virar apenas atração comercial, com pouca conexão às comunidades e ecossistemas, perde-se sua essência. Por isso, será determinante que os investimentos considerem ações de educação ambiental, monitoramento de fauna, capacitação de guias locais e protocolos de conservação.

No entanto, se bem estruturada e executada, a trilha pode deixar um legado duradouro. Pode se tornar rede viva de conectividade ecológica no Pará, canal de fortalecimento da economia local e plataforma regular para ecoturismo de base comunitária. Em termos simbólicos, inaugurar essa rota na COP30 foi uma escolha estratégica: não apenas mostrar, mas produzir narrativas de uma Amazônia que aloja conhecimento, cultura e vida — não apenas como paisagem de fundo para debates globais, mas como protagonista concreta.

Caminhar e transformar

Os visitantes terão a oportunidade de experimentar uma Amazônia diversa — do manguezal às campinas, da mata alta à zona costeira — e conviver com modos de vida tradicionais: coletores de caranguejo, extrativistas de babaçu, agricultores familiares, pescadores. Esta experiência sensorial também revela o mosaico vivo de ecossistemas atlânticos amazônicos.

A Trilha Amazônia Atlântica não será apenas um percurso físico — será um caminho de conexões. Conexão entre pessoas e floresta, entre comunidades e mercado, entre o local e o global. Ao inaugurá-la durante a conferência climática, o Pará e o Brasil afirmam que caminhar juntos por um futuro sustentável é possível — e que um trilho, literal ou simbólico, pode ser trilha para transformar.

Pavilhão Pará abre espaço democrático na COP30

O governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas) abre uma janela para a sociedade mostrar o que pulsa no âmbito das transformações climáticas: foi lançado nesta quarta-feira (8) o edital para seleção de eventos que integrarão o Pavilhão Pará, espaço institucional previsto para funcionar na Zona Verde (Green Zone) durante a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que será realizada em Belém entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.
As inscrições são gratuitas, voluntárias e seguem até o dia 19 de outubro, sempre até às 23h59 (horário de Belém).

Potencial e ambição do Pavilhão Pará

A iniciativa pretende tornar o Pavilhão Pará uma vitrine nacional e internacional das ideias, projetos e protagonismos da sociedade paraense na agenda climática. Conforme enfatizado pelo secretário Raul Protázio Romão, a expectativa é que o espaço traduza “o que há de mais inovador e transformador em políticas públicas e práticas de sustentabilidade”, possibilitando à plural diversidade paraense ocupar um palco global. O ponto central é fazer convergir ciência, pesquisa, floresta viva e inclusão social como capítulos de uma narrativa possível de conciliação entre desenvolvimento e sustentabilidade.

Durante a COP30, o Pavilhão Pará funcionará como ponto de encontro com painéis, reuniões bilaterais, exposições, lançamentos institucionais e trocas de experiência. O objetivo é conectar atores locais, governos estaduais e municipais, setor privado, academia, organizações da sociedade civil, povos indígenas, comunidades tradicionais e juventudes com diálogos globais sobre mitigação, adaptação, financiamento climático e demais frentes da agenda climática.

Como participar: modalidades, requisitos e avaliação

Podem concorrer propostas nas modalidades:

  • Painéis Temáticos: debates com até quatro convidados e um moderador;

  • Apresentações Técnicas: para relatar políticas, projetos ou experiências específicas;

  • Reuniões Colaborativas: encontros institucionais, lançamentos e redes de cooperação.

Cada proposta deve ter duração máxima de 50 minutos. No ato da inscrição, a instituição proponente precisa apresentar: título da proposta, tema, objetivos, segmento representado, nome do coordenador, painelistas, currículo resumido do coordenador, e dados de contato (e-mail, telefone, endereço). Também será exigida uma declaração assinada pelo dirigente da instituição, atestando veracidade das informações.

A seleção é feita por um Comitê Técnico estadual, com critérios como pertinência temática à agenda da COP, densidade de ação climática concreta, pluralidade dos atores envolvidos, participação internacional e capacidade de mobilização. O resultado deverá ser divulgado em 24 de outubro, no site da Semas. Em caso de dúvidas, o e-mail disponibilizado para contato é [email protected].

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Fernando Frazão/Agência Brasil

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Significado simbólico, desafios e horizontes

Ao criar esse edital, o Pará aposta em protagonizar não apenas como local de realização da COP30, mas como instância ativa de produção de conhecimento e políticas climáticas regionais. Em vez de apenas receber o evento, o Estado busca ser elo entre o local e o global.

Porém, participar de uma COP como a de Belém também impõe desafios: garantir que os espaços não fiquem restritos a agentes já consolidados ou a discursos institucionais padronizados, mas abrirem-se para vozes emergentes e marginais. O edital sinaliza essa preocupação ao exigir pluralidade e mobilização — mas a eficácia dependerá da própria seleção e da execução.

Além disso, desterrar a ideia de que o Estado será mero palco exige estratégias de visibilidade e interlocução: os eventos aprovados no Pavilhão Pará podem alavancar redes de cooperação nacionais e internacionais. É uma aposta de que uma “COP amazônica” corra em suas próprias forças — com o Pará como narrador e interlocutor, não apenas palco.

Já no panorama mais amplo, o Pavilhão Pará soma-se às demais instâncias temáticas da COP30, como o Pavilhão Brasil (coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima) e outras articulações internacionais, como o Ocean Pavilion, que virá com força para discutir a interface entre mar, clima e biodiversidade no evento.

Passada a COP30, o Pavilhão Pará pode gerar um arquivo vivo: registros de debates, documentos de políticas públicas, redes materializadas e até protocolos de cooperação que superem o evento. Para isso, é fundamental que as propostas selecionadas apostem em continuidade, articulação pós-conferência e integração com agendas estaduais, nacionais e internacionais.

No plano simbólico, o edital reforça que ser sede de uma COP não é simplesmente organizar protocolos e montagens é também produzir protagonismo, empoderar vozes locais e situar a Amazônia no centro da narrativa ambiental global. Se bem aproveitado, o Pavilhão Pará poderá ser mais do que espaço de exposição: será palco para fazer a Amazônia falar em sua própria voz conectando saberes locais, ciência, resistência e inovação climática.

Golden Retriever: 5 cuidados essenciais que evitam queda de pelo em excesso dentro de casa

Quem convive com um Golden Retriever sabe: ele é carinhoso, companheiro e tem um olhar capaz de derreter qualquer coração. Mas junto com toda essa doçura vem um pequeno desafio — a quantidade de pelos espalhados pela casa. Tapetes, sofás, roupas e até o carro parecem viver em uma nuvem dourada. A boa notícia é que existem cuidados simples e eficazes que controlam esse problema, sem comprometer a saúde ou a beleza do pet.

Golden Retriever: entenda por que ele solta tanto pelo A queda de pelos em cães dessa raça é completamente natural, mas pode aumentar por diversos fatores. O Golden tem uma pelagem dupla: uma camada interna macia, que regula a temperatura corporal, e uma externa mais longa e protetora. Nos períodos de troca de estação, especialmente primavera e outono, o corpo se prepara para as mudanças climáticas, resultando em maior queda.

No entanto, alimentação desequilibrada, estresse, banho inadequado ou até o tipo de escova usada podem agravar o problema. Cuidar bem do pelo é cuidar do bem-estar do animal — e, de quebra, manter a casa mais limpa e agradável.

Escovação regular: o primeiro passo para reduzir a queda

A escovação é o principal segredo para manter o Golden Retriever com aparência saudável e minimizar o acúmulo de pelos soltos. O ideal é escovar pelo menos quatro vezes por semana, usando uma escova do tipo “slicker”, com cerdas finas e flexíveis que alcançam a camada interna.

Esse hábito remove pelos mortos, estimula a circulação da pele e distribui a oleosidade natural, deixando o pelo mais brilhante e resistente. Além disso, é um momento de conexão com o cão — muitos Goldens adoram o carinho e relaxam durante a escovação.

Durante os períodos de troca de pelo, o uso de uma rasqueadeira pode ser ainda mais eficiente. Mas é importante não exagerar: movimentos leves e delicados evitam irritações na pele.

Banhos na medida certa e com produtos específicos

Dar banho demais no Golden Retriever pode parecer inofensivo, mas é um dos erros mais comuns. A frequência ideal é a cada 15 a 20 dias, sempre com xampus neutros ou próprios para pelagem longa. Produtos agressivos ou uso excessivo de sabão retiram a oleosidade natural, deixando o pelo opaco e quebradiço — e isso estimula a queda.

Durante o banho, massageie bem a pele do Golden Retriever e enxágue completamente para evitar resíduos que possam causar coceira ou descamação. Após o banho, seque com toalha e finalize com secador morno, mantendo uma distância segura. A umidade acumulada é terreno fértil para fungos e dermatites.

Alimentação equilibrada: a chave para um pelo forte e saudável

O que o cão come reflete diretamente na qualidade do pelo. Uma dieta rica em proteínas, ômega 3 e 6, zinco e vitaminas do complexo B ajuda a reduzir a queda e evita ressecamento. Rações premium ou super premium já contêm esses nutrientes na medida certa.

Outra dica valiosa é oferecer petiscos naturais, como pedacinhos de cenoura, abóbora ou batata-doce cozida — eles fortalecem a pele e o sistema imunológico. E, claro, a hidratação é essencial: mantenha sempre água fresca disponível. Um Golden bem nutrido e hidratado perde menos pelo e tem uma pelagem visivelmente mais bonita.

Controle de estresse e atividades físicas

O Golden Retriever é uma raça extremamente ativa e emocionalmente sensível. Quando fica entediado, sozinho ou ansioso, o corpo responde com sintomas físicos, e a queda de pelo pode ser um deles.

Por isso, ofereça rotina de passeios diários, jogos e interação constante. Além de gastar energia, o cão se mantém mentalmente equilibrado. Brinquedos de roer, desafios com petiscos e treinos leves são excelentes para estimular a mente e o corpo. Um Golden feliz é um Golden com pelos saudáveis.

Consultas e check-ups regulares

Mesmo com todos os cuidados, é importante visitar o veterinário ao menos duas vezes por ano. Algumas doenças hormonais, alergias ou parasitas podem causar queda excessiva de pelos. O diagnóstico precoce evita complicações e mantém o pet sempre bem.

Durante as consultas, aproveite para verificar o uso de suplementos indicados para pele e pelo — muitos contêm ácidos graxos que fortalecem a pelagem de dentro para fora.

Amor, rotina e paciência: a fórmula da harmonia

Ter um Golden Retriever em casa é viver cercado de afeto, alegria e energia boa. A queda de pelos faz parte da natureza dessa raça, mas com rotina e cuidado, é totalmente controlável. Escovação frequente, alimentação correta e banhos moderados são o trio de ouro para manter a pelagem exuberante e a casa em ordem.

Mais do que estética, é uma questão de saúde e vínculo. Quando o tutor se dedica, o cão sente — e responde com gratidão, lealdade e aquele olhar dourado que conquista qualquer coração.

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Pica-pau em área urbana: como ele ajuda a controlar pragas e proteger árvores da região

Você já parou para observar o som rítmico que ecoa quando um pica-pau está por perto? Aquele toque firme contra o tronco de uma árvore é mais do que curiosidade — é sinal de que a natureza está trabalhando em silêncio. Em tempos em que as cidades enfrentam desequilíbrio ecológico e invasão de pragas, a presença do pica-pau em áreas urbanas se torna um aliado valioso. Este pequeno guardião alado ajuda a controlar insetos que danificam árvores e mantém o verde das cidades mais saudável e equilibrado.

Pica-pau: o protetor natural das árvores

O pica-pau é um verdadeiro engenheiro da natureza. Com seu bico forte e preciso, ele perfura a casca das árvores à procura de insetos e larvas que se escondem sob a madeira. Entre seus “alvos” preferidos estão cupins, formigas e besouros que atacam troncos e raízes. Em áreas urbanas, onde o controle químico é limitado e a poda muitas vezes é feita sem técnica, esses pássaros desempenham um papel ecológico essencial.

Cada golpe do pica-pau é um gesto de equilíbrio. Ao se alimentar desses insetos, ele impede que as pragas se multipliquem e comprometam a saúde das árvores. E mais: suas escavações também ajudam a oxigenar o tronco e criam pequenas cavidades que mais tarde servem de abrigo para outras espécies, como corujas e pequenos mamíferos.

A adaptação do pica-pau às cidades

Ao contrário do que muitos imaginam, o pica-pau não é exclusivo das florestas. Com a expansão urbana, várias espécies se adaptaram às cidades e encontraram nos parques, praças e quintais um novo habitat. A arborização urbana, quando bem planejada, oferece abrigo e alimento suficientes para esses pássaros sobreviverem.

O segredo da adaptação está na diversidade de árvores. Espécies nativas e de casca mais espessa, como ipês, sibipirunas e jacarandás, tornam-se refúgios ideais. Quando há equilíbrio entre áreas verdes e espaços abertos, o pica-pau encontra tudo o que precisa: alimento, sombra e segurança.

Além disso, o barulho constante das cidades não o assusta tanto quanto se imagina. Seu senso auditivo é refinado, e ele distingue perfeitamente o som de um inseto sob a casca de uma árvore, mesmo em meio ao trânsito. Essa habilidade o transforma em um caçador natural e eficiente contra pragas urbanas.

Benefícios invisíveis do pica-pau para o ecossistema urbano

A presença do pica-pau vai muito além do controle de insetos. Ele é um bioindicador — ou seja, sua presença indica a qualidade ambiental de uma região. Onde há pica-paus, há árvores saudáveis, menos poluição sonora e equilíbrio entre espécies. Em outras palavras, eles são sinal de que o ecossistema urbano ainda tem espaço para a vida silvestre florescer.

Além disso, ao abrir buracos nos troncos, o pica-pau cria microhabitats para insetos polinizadores e fungos benéficos, que participam da decomposição natural da madeira. Esse processo contribui para o ciclo de nutrientes no solo, fortalecendo outras plantas ao redor.

E há também o impacto indireto: cidades com aves ativas tendem a atrair mais biodiversidade. Onde o pica-pau se instala, logo aparecem sabiás, bem-te-vis e outras espécies que dependem de um ambiente equilibrado para viver.

Como incentivar a presença do pica-pau na cidade

Promover o retorno e a permanência desses pássaros nas áreas urbanas é mais simples do que parece. Tudo começa pela preservação das árvores mais antigas. Embora muitos achem que elas deveriam ser removidas, justamente essas árvores são as preferidas dos pica-paus, pois abrigam larvas sob a casca e possuem espaço para escavação.

Outra medida importante é evitar o uso excessivo de pesticidas. Eles não apenas eliminam os insetos nocivos, mas também os que fazem parte da dieta do pica-pau. Sem alimento, o pássaro migra para outras áreas, e as pragas voltam a se multiplicar.

Quem mora em casas com quintal pode contribuir instalando comedouros naturais — simples troncos ocos com frutas maduras ou sementes. Embora o pica-pau prefira insetos, ele também aprecia frutas suculentas, principalmente em períodos de escassez.

O equilíbrio entre o homem e o pica-pau

A convivência harmoniosa entre humanos e pica-paus nas cidades é um exemplo de como o equilíbrio ambiental é possível. Ao contrário do mito de que eles “danificam” as árvores, o que fazem é garantir sua saúde a longo prazo. Cada batida de bico é um lembrete de que a natureza ainda pulsa mesmo entre prédios e calçadas.

Ver eles trabalhando em plena área urbana é um sinal de esperança — um lembrete de que, se cuidarmos do ambiente, a fauna retribui com vida, cor e som. Esses pássaros mostram que o progresso não precisa eliminar o verde e que é possível conviver com a natureza de forma inteligente e sustentável.

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Carta de médicos propõe que a COP30 coloque o bem-estar humano no centro das decisões climáticas

O Movimento Médicos pelo Clima, articulado pelo Instituto Ar, acaba de lançar uma carta de recomendações que propõe uma mudança de paradigma: colocar o bem-estar das pessoas no centro da agenda da COP30. O documento será entregue em 17 de outubro, em Brasília, à enfermeira Ethel Maciel, indicada como enviada especial para o tema na conferência. A iniciativa reúne dezenas de entidades médicas e organizações civis, demonstrando a força de um consenso técnico e ético sobre a urgência de integrar clima e qualidade de vida nas negociações internacionais.

O texto defende que a presidência brasileira da COP30 conduza um esforço multilateral para que as políticas ambientais passem a considerar os impactos diretos sobre a população. Entre os pontos centrais está o fortalecimento do “Plano de Ação em Saúde de Belém”, proposta apresentada pelo Brasil como referência global para adaptar os sistemas públicos às consequências do aquecimento global. A carta também sugere linhas de financiamento específicas para projetos que unam mitigação climática e atenção sanitária, além de menções explícitas ao tema nos documentos oficiais da conferência como as decisões da CMA (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) e a carta da presidência.

Entre os signatários estão a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a Rede de Trabalho Amazônico (GTA), a Associação Brasileira de Asmáticos (ABRA), o Instituto Bem do Estar, o Vertentes Ecossistema de Saúde Mental e o Instituto Talanoa, entre outras organizações. A ampla adesão mostra que o campo médico está assumindo protagonismo em uma pauta historicamente tratada como externa à área da saúde.

Cartilha-inedita-orienta-maes-e-pais-sobre-efeitos-das-mudancas-climaticas-na-saude-das-criancas-brasileiras-1024x538-1-400x210 Carta de médicos propõe que a COP30 coloque o bem-estar humano no centro das decisões climáticas
Reprodução

SAIBA MAIS: Hospitais do Pará estruturam rede de saúde para garantir segurança durante a COP30

Para Renato Kfouri, pediatra e infectologista, embaixador do movimento, o momento é decisivo: “A COP30 representa uma chance histórica de colocar a vida das pessoas no centro das discussões climáticas. Não faz sentido pensar em clima sem pensar em quem sofre seus efeitos.” Ele lembra que fenômenos como ondas de calor, poluição, surtos infecciosos e insegurança alimentar afetam de forma desigual os países mais vulneráveis. Por isso, segundo ele, a medicina não deve ser coadjuvante, mas parte essencial das soluções.

A carta ressalta que a crise do clima já se traduz em uma crise humanitária. Sila Mesquita, coordenadora da GTA, reforça que milhões de pessoas já sentem os efeitos diretos dessas mudanças: “Aumento de doenças respiratórias, agravamento de enfermidades, deslocamentos forçados, transtornos mentais — tudo isso já está acontecendo.” De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050 as mudanças climáticas poderão causar 250 mil mortes adicionais por ano, e os custos diretos com atendimento podem alcançar de 2 a 4 bilhões de dólares anuais até 2030.

Na região Norte, Raquel da Silva Casanova, médica e embaixadora do movimento, destaca que justiça climática e direito à vida caminham juntos: “Não se pode proteger as pessoas sem enfrentar as desigualdades ambientais. A crise climática atinge com mais força quem já vive em vulnerabilidade.” Para ela, inserir essa perspectiva na COP30 é condição básica para que políticas ambientais se traduzam em proteção humana real.

Um dos capítulos do documento é dedicado às crianças. O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Dr. Edson Liberal, lembra que esse grupo é o mais exposto aos efeitos do clima extremo, calor, poluição, enchentes e doenças emergentes. Ele defende que o Plano de Ação em Saúde de Belém fortaleça o SUS, priorize a prevenção e garanta que os recursos internacionais cheguem às comunidades mais afetadas.

O movimento já alcançou mais de 15 mil profissionais de diferentes especialidades. Além da carta, lançou a cartilha “Como as mudanças climáticas impactam a saúde das crianças?”, em parceria com a SBP, e prepara ações simbólicas durante a conferência em Belém.

Se acolhida, a proposta poderá redefinir o papel da COP30, ao afirmar que enfrentar o colapso climático é, antes de tudo, proteger vidas. O documento pede que o Brasil incentive a criação de comitês temáticos sobre saúde climática, inclua metas de bem-estar nos acordos internacionais e garanta financiamento para transformar compromissos em resultados concretos.

Camisinhas e cigarras: o experimento criativo que revelou um segredo da Amazônia

A Amazônia continua a surpreender mesmo os cientistas mais experientes. Entre os sons hipnóticos que ecoam da floresta, um em especial marca presença nas tardes quentes: o canto das cigarras. Esses insetos, conhecidos pelo ruído que produz o próprio corpo, somam mais de três mil espécies em todo o mundo. No coração da floresta, porém, uma delas intriga pesquisadores por um comportamento fora do comum, a Guyalna chlorogena, uma espécie típica da região amazônica, constrói pequenas torres de argila misturada com urina ao emergir do solo.

O fenômeno, discreto e quase poético, despertou a curiosidade de um grupo de cientistas brasileiros que participava de um curso de campo na floresta. Diante das pequenas estruturas, a pergunta era inevitável: por que as cigarras gastariam tanta energia para erguer essas torres logo antes de atingir a fase adulta?

Duas hipóteses começaram a ganhar força. A primeira, de que as torres serviriam como proteção natural contra predadores e intempéries. A segunda, de que aquelas estruturas teriam uma função respiratória — uma espécie de sistema de ventilação que permitiria a troca de gases enquanto os insetos completavam a metamorfose.

Foi ao testar essa segunda hipótese que o grupo decidiu adotar uma abordagem inusitada. Sem instrumentos laboratoriais sofisticados à mão, os cientistas recorreram a uma ideia nascida de um momento de bom humor: usar camisinhas para vedar as torres e observar se haveria liberação de gases.

“A gente olhou para as torres e achou um formato um pouco peculiar. E, em tom de brincadeira, uma das minhas colegas sugeriu usar os preservativos”, relembra Marina Méga, doutoranda da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante da equipe. O que começou como uma piada científica logo se transformou em um método eficiente de investigação.

A lógica era simples e engenhosa: se as torres realmente permitissem trocas gasosas, o dióxido de carbono liberado por dentro delas deveria inflar o preservativo colocado no topo. E foi exatamente o que aconteceu.

A equipe utilizou cerca de 40 preservativos para repetir o experimento e garantir consistência nos resultados. Em paralelo, outros testes foram conduzidos com iscas de formigas, a fim de observar se as torres também ofereciam algum tipo de proteção física contra predadores. O resultado surpreendeu: ambas as hipóteses estavam corretas. As torres funcionavam como abrigo e também como “sistema respiratório” das cigarras em sua transição final para a vida adulta.

Hemiptera_Timm1_cigarra-guyalna-no-rio-grande-do-sul-400x339 Camisinhas e cigarras: o experimento criativo que revelou um segredo da Amazônia
Foto: Cláudio Timm

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Um estudo que mistura criatividade e ciência

O experimento, que mais tarde se tornou tema de um artigo científico, mostrou que criatividade e observação cuidadosa são tão importantes quanto tecnologia de ponta na pesquisa biológica. Ao improvisar com camisinhas, os cientistas transformaram uma situação corriqueira em uma ferramenta experimental de alto valor simbólico e metodológico.

Segundo Marina Méga, a experiência também reforçou o valor do trabalho de campo na Amazônia, onde cada detalhe pode revelar uma nova faceta da vida selvagem. “A floresta nos ensina a olhar com atenção. Às vezes, o que parece brincadeira vira ciência”, disse a pesquisadora.

O estudo sobre a Guyalna chlorogena ajuda a preencher lacunas no entendimento sobre o comportamento desses insetos e amplia o conhecimento sobre as interações ecológicas em solos tropicais. As torres, por exemplo, podem indicar a presença de populações saudáveis de cigarras e, consequentemente, a qualidade ecológica de determinadas áreas.

Além disso, o caso ilustra a importância de iniciativas científicas brasileiras realizadas dentro da floresta, com metodologias acessíveis e sensibilidade para observar o cotidiano da natureza. Enquanto muitos laboratórios dependem de equipamentos caros e estruturas complexas, a equipe liderada por pesquisadores da UFRJ mostrou que perguntas simples podem ter respostas extraordinárias quando se une curiosidade, improviso e rigor científico.

Um símbolo de como a Amazônia inspira novas formas de pensar

Mais do que uma curiosidade científica, o episódio das camisinhas e das cigarras se tornou símbolo de um modo de fazer ciência que dialoga com a realidade amazônica: criativo, adaptável e atento à singularidade do ambiente. O experimento comprova que, diante de desafios, a inventividade pode ser tão poderosa quanto a tecnologia.

Com humor, observação e método, o grupo conseguiu decifrar um comportamento que permaneceu misterioso por décadas. E, de quebra, mostrou ao mundo que a ciência feita no Brasil, especialmente na Amazônia, é capaz de unir leveza e profundidade, transformando curiosidade em descoberta.

Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia inaugura nova era sustentável em Belém

Belém se prepara para viver um momento histórico. Às vésperas da COP30, o Governo do Pará entrega o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, um empreendimento sem precedentes que consolida o estado como referência global em desenvolvimento sustentável. Instalado nos Armazéns 5 e 6 do antigo porto de Belém, no projeto Porto Futuro, o parque ocupa uma área de 6 mil metros quadrados e representa o coração pulsante do Plano Estadual de Bioeconomia, iniciativa que transforma a biodiversidade amazônica em vetor de inovação e prosperidade.

Com a inauguração marcada para 7 de outubro, o novo complexo será o primeiro parque tecnológico do mundo dedicado à bioeconomia florestal e o maior polo do tipo na América Latina. A proposta vai além de abrigar startups e centros de pesquisa: o espaço foi pensado para aproximar ciência e comunidades tradicionais, valorizando o conhecimento ancestral e as práticas sustentáveis que mantêm a floresta viva.

Para o governador Helder Barbalho, o projeto simboliza o compromisso do Pará em liderar a transição para uma economia verde. “Estamos mostrando que é possível conciliar desenvolvimento socioeconômico com preservação ambiental. O Parque é um legado para o mundo, uma vitrine de inovação, trabalho e respeito aos povos da floresta”, afirmou.

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Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

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Centro global de inovação verde

O parque é estruturado em eixos que integram tecnologia, sociobiodiversidade e empreendedorismo. No Armazém 5, batizado de Centro de Negócios, funcionam o Centro de Sociobioeconomia e o Centro de Gastronomia Social. O primeiro abriga o Laboratório Vivo, ambiente de cocriação onde comunidades locais, pesquisadores e empreendedores desenvolvem soluções para o uso sustentável da floresta. Ali também está a Escola de Saberes da Floresta, dedicada à formação técnica e à valorização do conhecimento tradicional.

Já o Centro de Gastronomia Social propõe um diálogo entre sustentabilidade e cultura alimentar amazônica. O espaço promove experiências culinárias, oficinas e eventos que reforçam a identidade regional e demonstram o potencial econômico dos ingredientes da floresta.

No mesmo local, coworkings, incubadoras, aceleradoras, fundos de investimento e um showroom de inovação formam um ecossistema integrado para impulsionar novos negócios. O Balcão Único, outro destaque, conecta empreendedores a soluções tecnológicas e produtivas, tornando o parque um ponto de encontro entre quem pesquisa, quem investe e quem vive da floresta.

Parcerias estratégicas e legado sustentável

O Porto Futuro, onde o parque está instalado, nasceu de uma parceria entre o Governo do Pará e a Vale, dentro do programa Estrutura Pará. O investimento total do Parque de Bioeconomia foi de aproximadamente R$ 300 milhões, com patrocínio de empresas que lideram a transição ecológica no Brasil, como Natura, Ambipar e o Fundo Vale.

De acordo com Raul Protázio Romão, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, o Parque é um marco na política ambiental do estado. “Reunimos ciência, tecnologia e saberes tradicionais para transformar a biodiversidade amazônica em soluções de escala global. Nosso objetivo é fazer do Pará um polo internacional da bioeconomia, onde o conhecimento local se converte em renda e conservação”, declarou o gestor da Semas.

O diretor-presidente do Fundo Vale, Hugo Barreto, destacou que a entrega do parque em pleno ano da COP30 reforça o compromisso histórico da empresa com a Amazônia. “Acreditamos que fortalecer a bioeconomia é garantir que a floresta permaneça em pé, gerando renda e oportunidades com respeito aos povos que dela vivem.”

20250917174338-GF00024891-F00445086-400x267 Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia inaugura nova era sustentável em Belém
Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

Belém no mapa global da sustentabilidade

A proximidade entre a inauguração do Parque e a realização da COP30 não é coincidência. O evento, que reunirá líderes de mais de 190 países em Belém, simboliza uma virada de página para a Amazônia. O parque surge como a principal vitrine da capacidade da região de gerar inovação sustentável, promovendo um novo modelo de desenvolvimento que alia natureza, conhecimento e tecnologia.

O Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia não é apenas um espaço físico,  é um manifesto em favor de uma nova economia, que reconhece o valor da floresta como ativo essencial para o futuro do planeta. Seu impacto ultrapassa as fronteiras do Pará e projeta o Brasil como protagonista global na transição verde.

MPF articula medidas para proteger povos tradicionais na COP30

Enquanto a COP30 se aproxima, o Ministério Público Federal (MPF) vem desenhando uma atuação densa no sudoeste do Pará, onde povos indígenas e comunidades tradicionais enfrentam uma crise socioambiental em Itaituba. A combinação letal da seca severa, da contaminação por mercúrio proveniente do garimpo ilegal e da ausência ou fragilidade de políticas públicas ameaça direitos básicos como acesso à água potável, saúde, território e modos de vida. Para o MPF, defender esses direitos é também uma ação climática — porque não haverá solução para a crise planetária sem justiça social e territorial.

Na região da Bacia do Rio Tapajós, etnias como Munduruku, Apiaká e Kayabi convivem com escassez hídrica crescente e com a contaminação dos rios e fontes de alimento por mercúrio. Essa realidade, segundo os procuradores envoltos na ação, configura uma emergência multifacetada: risco à saúde, insegurança alimentar e danos culturais profundos. A resposta estatal até então se mostrou insuficiente, o que levou o MPF a agir com força judicial e extrajudicial.

O centro da estratégia consiste em compelir a União, o Estado do Pará e os municípios a cumprir seus deveres constitucionais. No plano emergencial, já foi obtida uma decisão liminar que exige o fornecimento imediato de água potável às comunidades atendidas pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Tapajós, até que soluções definitivas sejam implementadas. Essa medida provisória é crucial para mitigar impactos imediatos da seca e preservar vidas.

Mas o MPF vai além das medidas de curto prazo. Em relação à contaminação por mercúrio, abriu inquérito civil que pavimentou a discussão de um fluxo de atendimento de saúde para pessoas contaminadas. Em 2025, esse esforço resultou na publicação de um manual pela Secretaria de Saúde Indígena. Há ainda a institucionalização do Fórum Paraense de Combate aos Impactos da Contaminação Mercurial na Bacia do Tapajós, espaço participativo que reúne autoridades e sociedade civil para monitoramento, sensibilização, capacitação e compromisso público de mitigação.

15228227805_edec9a3ee4_k-Delmo-Roncarati-Vilela-UFMG-400x300 MPF articula medidas para proteger povos tradicionais na COP30
Divulgação – MPF

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A proteção de lideranças também figura entre as frentes ativas. Em cumprimento a determinações da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o MPF recomendou a criação de uma mesa de diálogo permanente para garantir a segurança de defensores munduruku. A recomendação foi acolhida pelos Ministérios dos Direitos Humanos e dos Povos Indígenas, que avançam na estruturação desse canal institucional.

No campo territorial, o MPF acompanhou operações destinadas a expulsar invasores não indígenas das Terras Indígenas Munduruku e Sai Cinza, cobrando transparência e observância aos direitos dos povos. Agora, busca assegurar que os territórios recuperados permitam subsistência sustentável e que sejam implementadas medidas que evitem novas reinvasões.

A gestão da água é outro eixo estratégico. O MPF insiste na elaboração de comitês de bacia para o rio Tapajós como ferramenta de participação popular e controle social. Ao constatar que a União — por meio da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) — recusou recomendações de implementação de plano estratégico para recursos hídricos na margem direita do Amazonas, o MPF decidiu acionar o Judiciário para forçar a adoção desses instrumentos participativos e garantir o direito ao rio como bem comum.

Também foi emitida recomendação para que órgãos ambientais federais adotem um cadastro nacional de maquinário usado para mineração, de modo a rastrear equipamentos, ainda que não exclusivamente, empregados no garimpo. A Advocacia-Geral da União acatou a proposta inicial e apresentou projeto de resolução ao Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), em sintonia com a recomendação do MPF. Essa iniciativa ajuda a vincular responsabilidade ao uso de maquinário e dificultar ações ilegais.

Para a procuradora da República Thaís Medeiros da Costa, coordenadora dessas iniciativas, a operação em Itaituba encarna o que potencialmente estará no centro da COP30: “a crise climática não é abstração; ela se manifesta brutalmente na vida dos mais vulneráveis por meio da seca, da contaminação e da violação de direitos”. Sua missão vai além da tutela formal: busca-se promover resiliência, proteger modos de vida e tornar visível à agenda global o sofrimento e as demandas dos povos amazônicos.

Esse conjunto de medidas juridicamente estruturadas está registrado em diferentes processos e inquéritos: os números incluem 1002268-18.2024.4.01.3908 e 1003169-83.2024.4.01.390, além de inquéritos civis como 1.23.008.000063/2021-79 e 1.23.002.000841/2023-41, e procedimentos de acompanhamento como 1.23.002.000531/2024-16, 1.23.002.001144/2024-99 e 1.16.000.000731/2025-04. Essa articulação legal robusta mostra que o MPF se prepara para usar a COP30 como cenário para amplificar sua atuação institucional.

Em paralelo, o MPF lançou uma campanha de comunicação, “MPF: Guardião do Futuro, Protetor de Direitos”. Até 9 de novembro — véspera do início da COP30 —, serão divulgadas 50 matérias sobre sua atuação voltada à proteção ambiental, das populações vulneráveis e dos direitos humanos. O objetivo é visibilizar a expectativa de que o evento global incorpore essas demandas e responsabilize agentes públicos e privados.

A agenda desenhada em Itaituba pode servir como microcosmo das tensões que a COP30 enfrenta em âmbito nacional e internacional: quem financia os custos da crise climática? Como garantir acesso à água e saúde nas regiões atingidas? Que mecanismos de justiça ambiental colocar em funcionamento? Se o MPF conseguir traduzir esses conflitos em normativas, compromissos e visibilidade global, sua atuação pode converter-se em legado. No fim, mais do que cumprir a lei, busca-se afirmar que clima, direitos humanos e territórios não são esferas separadas — são dimensões que se entrelaçam e exigem tratamento conjunto para que a Amazônia viva com dignidade e justiça.

“Forest Man of India” – como Jadav Payeng virou lenda ao plantar uma floresta de 550 hectares com milhões de árvores com as próprias mãos

Em meio às margens violentas do rio Brahmaputra, onde a cada monção centenas de hectares desaparecem, um único homem decidiu lutar contra a erosão com o que tinha: suas mãos e um punhado de sementes. O indiano Jadav “Molai” Payeng, conhecido hoje como o Forest Man of India, transformou um deserto de areia em uma floresta viva com mais de 550 hectares — maior que o Central Park, em Nova York.

O cenário da destruição: Majuli, a ilha que desaparece

Majuli, no nordeste da Índia, é uma das maiores ilhas fluviais do planeta. Lar de cerca de 150 mil pessoas, ela enfrenta há décadas um processo acelerado de erosão. Desde 1917, o território perdeu mais da metade de sua área. As chuvas de monção fazem o rio Brahmaputra transbordar e levar consigo casas, plantações e vidas.

A paisagem árida e o som do rio em fúria moldaram a infância de Payeng, um menino da tribo Mising que cresceu vendo a natureza ser engolida ano após ano. Quando tinha pouco mais de 15 anos, um episódio mudaria tudo: centenas de cobras apareceram mortas na areia, vítimas do calor intenso após uma enchente.

O nascimento da Floresta Molai

A dor daquela cena o impulsionou a plantar bambus e árvores nativas em uma pequena faixa de terra devastada. Sem apoio, sem ferramentas e sem financiamento, ele persistiu. O que começou como um ato solitário em 1979, tornou-se a Floresta Molai — um santuário de biodiversidade com mais de 550 hectares de extensão.

As primeiras mudas precisavam de irrigação manual, carregada em baldes. Décadas depois, o equilíbrio ecológico criado pela vegetação passou a sustentar seu próprio ciclo. As árvores frutíferas e o solo rico atraíram insetos, pássaros e, por fim, grandes mamíferos.

A vida que voltou com a floresta

Hoje, o que antes era deserto abriga manadas de elefantes, rinocerontes, tigres, veados e até abutres, que haviam desaparecido da região. O retorno das espécies marcou a recuperação de todo o ecossistema local.

Payeng costuma dizer que “todas as espécies são animais — a diferença é que os humanos vestem roupas”. Sua filosofia é simples: se o homem é capaz de destruir, também é capaz de reconstruir.

O plantio contínuo ajudou a conter a erosão e estabilizar margens do Brahmaputra, oferecendo refúgio a comunidades vizinhas que vivem do gado e da agricultura.

Reconhecimento tardio, mas transformador

Durante anos, ninguém sabia de sua existência. Foi o fotógrafo Jitu Kalita quem descobriu o “homem da floresta” em 2009, durante uma expedição fotográfica. A reportagem publicada em um jornal local levou Payeng ao conhecimento nacional.

Em 2012, ele recebeu o título de “Forest Man of India” e, em 2015, a honraria Padma Shri, uma das mais altas condecorações civis do país. Sua história inspirou documentários como Forest Man (2013), de William Douglas McMaster, e o filme Foresting Life, de Aarti Shrivastava.

Mesmo com os prêmios, Payeng nunca se afastou da terra. Vive em sua casa simples na ilha de Majuli, com a esposa Binita e seus filhos, cercado pelas árvores que ele mesmo plantou.

O sonho de multiplicar o exemplo

Payeng defende que o reflorestamento não deve ser apenas um ato ambiental, mas também econômico. Ele propõe o cultivo de coqueiros e espécies nativas de rápido crescimento, capazes de proteger o solo e gerar renda.

Sua filha, Munmuni Payeng, dá continuidade ao legado, liderando um projeto para plantar um milhão de árvores em áreas afetadas por enchentes.

Para Payeng, a salvação de Majuli depende de replicar o esforço:

“Se uma pessoa pode plantar uma floresta, imagine o que mil poderiam fazer.”

Apesar da visibilidade, as autoridades indianas ainda não adotaram plenamente suas propostas. Projetos de reflorestamento sofrem com burocracia, falta de financiamento e escolha inadequada de espécies exóticas.

Payeng alerta que o risco de novas perdas permanece enquanto a população não compreender o valor das florestas. “Cortem-me antes de cortar uma árvore”, ele diz. Sua história é mais do que uma fábula ecológica — é um modelo prático de restauração ambiental e resiliência humana.

  • Mostra que a regeneração é possível mesmo em territórios devastados.

  • Ensina que a natureza responde ao cuidado com abundância.

  • E lembra que o impacto individual pode ecoar por gerações, quando sustentado por propósito e disciplina.

De uma faixa de areia desolada nasceu um bosque vibrante, lar de tigres e elefantes. O que parecia impossível tornou-se símbolo de esperança global.

Payeng ainda repete, com a serenidade de quem sabe o valor do tempo:

“Seguirei plantando até meu último suspiro.”

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Vozes dos territórios ganham força no videocast da FASE

A organização FASE: Solidariedade e Educação lançou no dia 2 de outubro o videocast “Vozes pela justiça: as soluções vêm dos territórios”, iniciativa que pretende dar corpo e ressoar as vozes das comunidades nos debates sobre justiça climática no Brasil, especialmente no contexto da COP30, marcada para ocorrer de 10 a 21 de novembro em Belém (PA). O videocast será composto por quatro episódios, transmitidos ao longo de outubro, e ficará acessível no canal da FASE no YouTube.

A proposta da FASE é mais do que uma série de vídeos: trata-se de conectar saberes locais, práticas de resistência e desafios cotidianos às negociações globais. Em cada episódio, especialistas, lideranças e militantes dialogarão com as realidades dos territórios e com temas estruturantes da agenda climática, mediando essas conversas por membros da própria equipe da FASE. Os temas já definidos são: adaptação climática e cidades (episódio 1, em 02/10), transição justa e falsas soluções (09/10), justiça climática e mulheres (16/10) e financiamento climático, quem paga a conta da crise (23/10).

Para Leticia Tura, diretora executiva da FASE, o videocast atua como escuta ativa e instrumento político: “as vozes das lutas socioambientais por justiça climática precisam ressoar”, ela afirma, lembrando que enfrentar as mudanças climáticas é também enfrentar o racismo ambiental e as desigualdades estruturais que atravessam o país. A iniciativa insere a FASE e seus parceiros da sociedade civil brasileira e latino-americana no espaço da COP30 com outra linguagem — menos corporativa e mais conectada com o chão.

A FASE tem uma história antiga de ação política e educativa. Fundada em 1961, atua como organização não governamental de educação popular e defesa dos direitos humanos. Ela organiza ações junto a comunidades tradicionais, mulheres, povos negros, quilombolas, agricultores familiares e populações vulneráveis. Sua presença nacional conta com unidades em estados como Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro.

O videocast assume papel estratégico, pois ao mesmo tempo em que reforça narrativas comunitárias, insere essa voz nos momentos decisórios da política climática. Ao aproximar a agenda local e os debates globais — por meio de temas como adaptação urbana, justiça de gênero, falsas soluções tecnológicas e financiamento — o projeto busca descentrar o eixo da tomada de decisão dessas articulações. Em vez de ver os territórios como “alvo” das políticas, a FASE pretende que sejam atores centrais na formulação das respostas climáticas.

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Divulgação

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É possível vislumbrar alguns efeitos esperados dessa iniciativa. Primeiro, ampliar a visibilidade de práticas alternativas e iniciativas que resistem à mercantilização da natureza, estratégias comunitárias de preservação e soberania territorial. Segundo, influenciar formuladores de políticas ao incorporar demandas originárias dos territórios, especialmente aquelas ligadas às desigualdades sociais e ambientais. Terceiro, fortalecer redes de solidariedade e mobilização entre diferentes regiões do país e da América Latina, permitindo que aquelas comunidades que geralmente permanecem periféricas no debate climático sejam ouvidas e contadas.

O videocast também pretende tencionar fórmulas padrão de “soluções climáticas” que, em muitos casos, servem para prolongar desigualdades sob o disfarce de inovação. Ao incluir as temáticas de “transição justa e falsas soluções” em sua grade, a FASE aponta para a necessidade de cuidado com mecanismos como créditos de carbono, mercados regulados, tecnologias emergentes e políticas que tratam floresta, água ou territórios como mercadoria. Essa tensão entre promessa tecnológica e justiça socioambiental é exatamente parte do que o videocast quer iluminar.

Outro destaque no formato é sua mediação: diferentes pessoas da equipe da FASE conduzem cada episódio, reconhecendo que o debate climático não pertence a uma área isolada, mas atravessa gênero, ambiente, poder local e cultura. A presença de Jaqueline Felipe, da FASE Amazônia, no episódio que aborda justiça climática e mulheres, por exemplo, tende a trazer interlocução real com mulheres das regiões amazônicas.

A escolha de focar quatro eixos é estratégica e bem pensada. A adaptação em cidades dialoga com a realidade urbana diante dos impactos climáticos, enchentes, calor extremo, insegurança hídrica. A transição justa questiona quem arca com os custos da descarbonização e se as populações vulneráveis estão incluídas nesse processo. A justiça climática e mulheres resgata como as mulheres, especialmente as mulheres negras, indígenas e rurais, são impactadas de modo diferenciado e como exercem resistência. E finalmente, o episódio sobre financiamento climático tentará responder quem deve pagar a conta da crise climática, um dos nós centrais da COP30.

Em momentos tão marcados por discursos institucionais e eventos protocolares, “Vozes pela justiça — as soluções vêm dos territórios” emerge como instrumento de legitimação discursiva e simbólica para o que muitas vezes não tem visibilidade. Ele reforça que o debate climático não pode esquecer quem vive de fato os impactos e carregam nas costas os modos de vida ameaçados.

Enquanto o Brasil prepara Belém para receber o mundo na COP30, iniciativas como este videocast fortalecem a ambição de que a conferência seja menos uma vitrine de compromissos abstratos e mais um espaço de convergência entre os saberes populares, o ativismo territorial e a diplomacia climática. Ao somar vozes genuínas às narrativas técnicas, a FASE propõe que soluções reais, aquelas nascidas nos corpos, nas memórias e nos espaços dos territórios, possam emergir como agendas legítimas e estratégicas.

Durante a COP30, Belém terá transporte gratuito 24 horas, rotas exclusivas e acessos sustentáveis que garantem mobilidade e inclusão

Em novembro, Belém se tornará o centro das atenções do mundo. Pela primeira vez na história, a Amazônia sediará uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas a COP30 e, com ela, virá uma operação logística sem precedentes. A capital paraense está prestes a receber delegações de mais de 140 países, cientistas, líderes empresariais, representantes da sociedade civil e milhares de visitantes.
Para garantir o deslocamento seguro e eficiente desse público, o governo brasileiro montou um sistema de transporte gratuito, exclusivo para credenciados, disponível 24 horas por dia entre 1º e 23 de novembro de 2025. A iniciativa faz parte do plano nacional de mobilidade sustentável, pensado para oferecer conforto, reduzir emissões e transformar a cidade em vitrine da transição verde.

Mobilidade gratuita e integração regional

O sistema contará com 15 linhas de ônibus dedicadas exclusivamente aos participantes credenciados pela UNFCCC, conectando os principais pontos da capital aos municípios da Região Metropolitana, entre eles Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Izabel, Icoaraci, Outeiro, Mosqueiro e Castanhal.
Os coletivos circularão de forma ininterrupta e gratuita, operando em avenidas estratégicas como Nazaré, José Malcher, Almirante Barroso, Augusto Montenegro e BR-316. O embarque será permitido apenas mediante apresentação do crachá da Zona Azul (Blue Zone) ou da carta de credenciamento emitida pela organização da conferência.

O mapa digital de rotas, horários e pontos de parada está disponível no portal oficial do evento, permitindo que cada participante planeje seu deslocamento de forma antecipada. O modelo de operação, semelhante ao adotado em conferências anteriores da ONU, aposta em eficiência energética e redução de emissões, com parte da frota composta por veículos de baixa poluição.

Acesse o Mapa aqui: https://cop30.br/en/cop30-services/mobility

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Divulgação – COP30

Táxis, aplicativos e veículos particulares

Os serviços de táxi e transporte por aplicativo terão áreas exclusivas de embarque e desembarque para evitar congestionamentos. Os táxis operarão a partir da Avenida Visconde de Inhaúma, enquanto os carros de aplicativo — como Uber e 99 — terão ponto fixo na Avenida Rômulo Maiorana, ambos funcionando durante todo o período da conferência, de 1º a 23 de novembro.

Não haverá estacionamentos na área principal da COP30. O embarque e desembarque de veículos particulares será permitido apenas na Avenida Duque de Caxias, em zona de curta permanência. O governo recomenda o uso do transporte gratuito ou de modais alternativos, como forma de reduzir o impacto ambiental e o tráfego urbano.

Transporte público e mobilidade ativa

O transporte coletivo de Belém continuará funcionando normalmente para atender moradores e visitantes não credenciados. O ponto mais próximo do local da conferência fica na Avenida Almirante Barroso, entre as avenidas Júlio César e Dr. Freitas. As informações de itinerário e tarifas estão disponíveis no site da prefeitura (seguranca.belem.pa.gov.br/linhas).

A cidade também incentiva a mobilidade ativa. Bicicletas próprias, compartilhadas ou elétricas poderão ser utilizadas com segurança nas ciclofaixas e ciclovias que cercam o Parque da Cidade, uma das áreas que abrigará parte das atividades da conferência.
Para quem optar por pedalar, haverá bicicletários e pontos de apoio na Avenida Brigadeiro Protásio, próximos à entrada da Zona Azul. A proposta reforça o compromisso do evento com o transporte limpo e a redução da pegada de carbono.

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Divulgação – COP30

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O que estará acessível aos credenciados

Os visitantes com credencial terão acesso à Zona Azul, onde ocorrerão as negociações diplomáticas, painéis técnicos e exposições oficiais. É o coração político da COP, reservado a delegações governamentais, agências multilaterais, empresas e organizações internacionais.
A poucos metros dali, a Zona Verde, de acesso público, oferecerá uma experiência cultural e educativa. O espaço abrigará feiras temáticas, oficinas, debates, mostras de cinema, apresentações artísticas e gastronômicas, com foco em sustentabilidade e diversidade amazônica. Ali, os visitantes poderão conhecer projetos de bioeconomia, tecnologia social, inovação climática e produção sustentável da região.

O credenciamento para a Zona Verde será gratuito e simplificado, com inscrições disponíveis online. O objetivo é garantir que a COP30 não seja apenas um encontro de líderes, mas também uma celebração aberta à sociedade.

Dicas práticas e infraestrutura

Para participar das atividades oficiais, é obrigatório portar o crachá emitido pela UNFCCC ou o comprovante de credenciamento validado pela organização. Haverá controle de segurança nas entradas, monitoramento eletrônico e revista de bagagens.
Belém, em novembro, registra temperaturas elevadas e alta umidade — recomenda-se o uso de roupas leves, protetor solar e hidratação constante. Todos os espaços da conferência contarão com infraestrutura acessível para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

A COP30 adota política rigorosa de sustentabilidade: copos e utensílios plásticos serão limitados, e o evento contará com coleta seletiva e reutilização de resíduos. Os pavilhões serão climatizados por sistemas de baixo consumo e energia proveniente de fontes limpas.

Um legado para a Amazônia

Mais do que uma conferência global, a COP30 é vista como um teste de capacidade e inovação logística para Belém e para o Brasil. O sistema de transporte gratuito, aliado à mobilidade sustentável e ao acesso democrático às atividades, demonstra que grandes eventos podem ser planejados com eficiência e responsabilidade ambiental.

A capital paraense deve sair transformada com ruas requalificadas, estrutura cicloviária ampliada e novos hábitos de mobilidade urbana. O legado da COP30 será mais do que diplomático: será urbano, social e simbólico. Um convite para que o Brasil mostre ao mundo que é possível equilibrar modernidade, inclusão e floresta.

Jovens amazônicos se reúnem em Belém por voz e transformação

Belém deu início à I Cúpula de Jovens Líderes da Amazônia Legal em 2 de outubro, no Hotel Beira Rio, e por cinco dias reúne 27 representantes dos nove estados amazônicos em um momento que conjuga urgência, voz ativa e estratégia política. Esse encontro, organizado pelo Instituto Cojovem: Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável, busca consolidar a presença dos jovens amazônicos no centro das decisões ambientais e sociais, especialmente no contexto da COP30, que será sediada justamente na capital paraense.

A escolha do momento não é acidental: às vésperas da conferência climática global, a Cúpula busca inserir as juventudes amazônicas nas narrativas e nos documentos que dialogarão com as negociações nacionais e internacionais. O propósito é claro: não ser mera audiência, mas protagonismo. Durante os cinco dias, a programação mistura painéis temáticos, oficinas colaborativas e sessões plenárias para convergir em três produtos centrais: uma Agenda Comum de Políticas Públicas, Programas e Projetos para as juventudes amazônicas; uma Declaração Unificada dos Jovens Líderes da Amazônia Legal; e policy briefs técnicos que serão entregues aos negociadores do governo brasileiro e parceiros internacionais.

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Divulgação – Cojovem

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A diretora-executiva da Cojovem, Karla Braga, enfatiza que se trata de construir pontes entre o jovem amazônico e o decisor público, com um foco claro nas temáticas da transição justa, mitigação climática e cultura. A ideia é que os atores institucionais comecem a ver os jovens como interlocutores legítimos, e não apenas como beneficiários de políticas. Da mesma forma, as vozes tradicionais também foram destacadas. A liderança indígena Tel Guajara (25 anos, Maranhão) lembrou que locais como esse são espaços de pertencimento, feitos para que jovens historicamente excluídos ocupem o chão das decisões, troquem experiências e construam um sentido coletivo de futuro.

Aldrin Barros, coordenador de Advocacy da Cojovem, afirma que o caráter da Cúpula é histórico: ao longo da imersão, os jovens debatem e moldam diretrizes que, acredita-se, podem transformar políticas públicas na Amazônia. Tais diretrizes servirão como guia técnico e político para que governos estaduais e federal considerem as demandas das juventudes amazônicas nos seus planos de ação.

Nos debates já abertos, emergem temas estratégicos: financiamento de cadeias produtivas sustentáveis, uso de tecnologias e inovação para fortalecer a Amazônia e a intersecção entre justiça climática e justiça social. Ao fim de cada dia, plenárias se encarregarão de reunir consensos, valores, princípios e diretrizes que alimentarão os documentos finais, nascidos em construção coletiva entre os representantes. O horizonte é ambicioso: que esses documentos se tornem as bases do posicionamento das juventudes amazônicas na COP30, elevando sua visibilidade e legitimando sua ação no palco global.

A trajetória da Cojovem reforça esse passo: criada em 2020, a organização já atua em advocacy, pesquisa e formação com foco na juventude amazônica. Nos últimos anos, tornou-se presença recorrente nas negociações internacionais das Nações Unidas, participando de COPs e conferências climáticas, inclusive nas edições no Egito, nos Emirados Árabes e no Azerbaijão, além de participar de eventos preparatórios, como a Cúpula de Jovens Líderes do Pará, realizada em 2024. Esse histórico confere ao evento em Belém algo além de simbólico: é continuidade organizada de uma agenda juvenil amazônica que se afirma como voz ativa no debate climático.

Mais do que protagonismo juvenil instantâneo, a Cúpula busca articular jovens com diferentes matizes culturais, identitários e territoriais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, urbanos. A ideia é que a pauta emanada represente a complexidade da Amazônia e não uma única narrativa. O desafio é grande: sintetizar contextos tão diferentes em documentos robustos e respaldados por propostas técnicas e políticas. Mesmo assim, o ciclo simbólico entre “quem experimenta a crise” e “quem formula as respostas” está sendo invertido, os jovens que vivem a Amazônia propõem caminhos, e não apenas afirmam demandas.

À medida que a COP30 se aproxima, esse encontro em Belém ganha ainda mais densidade simbólica. Se os produtos da Cúpula forem incorporados nas negociações, haverá um novo canal de representatividade amazônica no cenário climático mundial. Se, por outro lado, os documentos forem ignorados ou esvaziados, restará o risco de mais uma conferência que ecologiza discursos sem reconhecer quem mora o território.

Em síntese, a I Cúpula de Jovens Líderes da Amazônia Legal é um gesto político e cultural de afirmação: os jovens amazônicos se declaram não apenas afetados pela crise climática, mas parte indispensável da solução. Em Belém, esse gesto se torna base para que a COP30 não seja estranha à Amazônia — mas atravessada por ela.

COP30 trará nova meta audaciosa para financiamento climático

O financiamento climático desponta como uma das fronteiras decisivas da COP30: não apenas uma pauta técnica, mas o cerne de escolhas estratégicas sobre quem paga e quem lucra na transição para um mundo mais resiliente. Em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro, diplomatas e ativistas voltarão os holofotes para a urgência de redistribution de recursos destinados à mitigação e à adaptação às mudanças climáticas, especialmente para os países mais vulneráveis.

Para Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), com três décadas de engajamento no tema, financiamento climático significa “recursos públicos ou privados, concessionais ou comerciais, mas orientados a atividades com impacto climático”: projetos de energia renovável, restauração florestal, tecnologias de remoção de carbono ou ações que permitam às comunidades resistirem aos impactos extremos do clima. Em outras palavras, é o capital que alimenta o motor da transformação, não como compensação simbólica, mas como alavanca concreta para reduzir emissões e fortalecer territórios fragilizados.

No plano global, o financiamento climático engloba fluxos públicos, privados ou híbridos, operados em níveis local, nacional e internacional, com o objetivo de viabilizar as políticas climáticas definidas pelos países. No âmbito governamental, esses recursos podem emergir de orçamentos nacionais ou fundos internacionais, como o Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund) ou o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). No setor privado, entram empresas, investidores, doações individuais, linhas de crédito “verdes” e mecanismos financeiros estruturados para potencializar projetos com apelo climático.

Um dos dilemas mais agudos é a assimetria de capacidades: enquanto economias mais robustas têm margem para emitir, investir ou subscrever riscos, as nações com menor potência econômica padecem sob pressões climáticas e fiscais simultâneas. Maria Netto ressalta que alguns países africanos já se veem em uma encruzilhada, em que a queda na produtividade derivada de secas ou cheias reforça fragilidades macroeconômicas. Nesse contexto, ela defende que os países historicamente responsáveis pelas maiores emissões deveriam assumir protagonismo financeiro para viabilizar a ação climática global.

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Belém será o cenário da Cúpula do Clima – Divulgação/Agência Pará

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O desafio de Belém será romper um bloqueio deixado pela COP29, em Baku (2024), quando as negociações sobre financiamento climático ficaram contidas. Para 2025, países do Sul Global planejam apresentar uma nova meta: elevar o compromisso para US$ 1,3 trilhão anuais, um salto expressivo frente aos US$ 300 bilhões que constavam como meta anterior. Esse plano, conhecido como Roteiro de Baku a Belém, está sendo tecido a partir de consultas entre governos, bancos multilaterais, instituições financeiras, academia e sociedade civil. Ele visa harmonizar agendas e práticas e garantir que nações em desenvolvimento tenham acesso contínuo e robusto a esses fluxos até 2035.

O Brasil já deu sinais de protagonismo nesse esforço. Em Bonn (Alemanha), apresentou o roteiro a parceiros internacionais, articulando-o como ponte entre decisões da COP29 e as deliberações que se desenharão em Belém. Ministério da Fazenda lidera a articulação diplomática por meio do Círculo de Ministros de Finanças da COP30, um fórum inédito que reúne 36 ministros de países convidados para construir um plano financeiro integrado.

Nesse contexto, o iCS, que tem entre suas estratégias a intermediação de recursos para iniciativas climáticas e a promoção de diálogo entre setores, emerge como peça-chave. A organização também participa da concepção de um novo Centro de Finanças Climáticas, em parceria com a Climate Arc, com objetivo de produzir análises que subsidiem decisões do setor privado rumo a uma economia de baixo carbono. Em paralelo, o iCS financia pesquisas e políticas ligadas à transição energética, bioeconomia e sistemas agrícolas sustentáveis no Brasil.

A urgência desse debate é maior do que a pura cifra monetária. Tal como Maria Netto alerta, não basta alcançar metas numéricas: os recursos devem chegar efetivamente às realidades mais atingidas, em formas que evitem sobre-endividamento ou dependência, privilegiando concessões, subsídios e instrumentos financeiros não baseados em dívidas. Também será central negociar critérios de elegibilidade acessíveis a países frágeis, e mecanismos de transparência e avaliação para garantir que recursos aplicados de fato gerem impacto climático e social.

No horizonte da COP30, o financiamento climático aparece como o verdadeiro teste de credibilidade da agenda global: haverá capacidade política, técnica e financeira de lastrear compromissos com recursos tangíveis? Se Belém sair com um roteiro robusto, dotado de acompanhamento, accountability e instrumentos inovadores, poderá converter promessas em ação.

Na COP30, museu exibe arte que dá voz aos rios e à floresta

A reabertura ao público do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) ganha um significado potente com a estreia da exposição “Um rio não existe sozinho”. A partir de 3 de outubro, o projeto idealizado pelo Instituto Tomie Ohtake se estenderá por dez espaços interligados aos 5,4 hectares da coleção viva do museu, uma paisagem amazônica pulsante inserida no coração urbano de Belém, que agora se converte em terreno vivo de arte e diálogo climático. A maquete virtual da obra 41 °C, assinada por Mari Nagem, surge como um dos pontos de encontro simbólicos e críticos entre arte, ciência e os alertas do presente.

A proposta curatorial parte da premissa de que nenhum elemento natural, humano ou institucional existe isolado. A exposição é construída como uma celebração interdependente: dos rios, das comunidades, dos ecossistemas, das memórias e dos saberes tradicionais. A curadora Sabrina Fontenele lembra que essa matriz simbólica não pode se dissociar da crise climática contemporânea. A floresta não é cenário passivo, mas sujeito ativo e reconhecê-la assim é reconhecer que a justiça climática depende do respeito, do diálogo e da reafirmação das vozes que historicamente protegem este território.

Para o diretor do Goeldi, Nilson Gabas Júnior, a curadoria fortalece a missão híbrida da instituição: aliar ciência e arte em territórios sensíveis. A exposição, que permanecerá até dezembro, pretende transformar o museu em palco de multiplicação de sentidos, onde visitantes se confrontem com a Amazônia como vivência estética e testemunho ecológico. Suas intervenções são todas site specific, concebidas a partir das condições naturais do parque, da fauna livre à vegetação, do microclima ao ciclo hídrico,  mantendo respeito à dinâmica original do local.

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Divulgação

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Mari Nagem, por exemplo, oferece 41 °C como síntese possível desse encontro entre dados e sensações. A obra converte o estresse hídrico do Lago Tefé (seca histórica de 2023) em paisagens térmicas que assustam e convocam. Ao transformar ciência em imagem estética, a artista propõe que o visitante veja não apenas com os olhos, mas com a pele e o silêncio. Ao lado dela, Elaine Arruda costura ventos, marés e memórias femininas; Sallisa Rosa esculpe a terra como artista-mater: água e solo dialogando; Rafael Segatto traça cartografias poéticas de navegação e ancestralidade; PV Dias projeta rastros visuais da destruição ambiental; Noara Quintana convida à reconstituição de espécies ameaçadas; Gustavo Caboco reafirma memória indígena; Déba Tacana entrelaça cerâmica ancestral e futurismo; Francelino Mesquita evoca os rios em ativismo visual. Já o Estúdio Flume propõe, através da arquitetura sensível, interfaces entre vida social e natureza local como uma ponte viva entre saberes.

No dia da abertura, o público será convidado para três mesas de diálogo no auditório Eduardo Galvão: artistas, mediadores e curadores se revezarão em reflexões performativas. Em seguida, uma visita guiada percorrerá os domínios da exposição, com presença direta dos expositores. Essa convergência entre palavra, corpo e paisagem fortalece a curadoria como gesto de hospitalidade sensível ao presente.

Em meio ao pulsar da COP30, “Um rio não existe sozinho” torna o Goeldi mais que espaço expositivo: é território vivo de visibilização e escuta da Amazônia. A parceria entre o museu e o Instituto Tomie Ohtake — viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), com apoio do Nubank e patrocínio de AkzoNobel, Aché e PepsiCo — revela que a cultura pode ativar narrativas urgentes de experiência ambiental, responsabilidade pública e enfrentamento climático. Para o Goeldi, instituição centenária de pesquisa regional e memória amazônica MPEG Serviços e Informações do Brasil, a exposição expande sua materialidade institucional como território dialógico: um museu vivo que pensa e reverte o ecossistema como interlocutor.

Mais do que belas instalações ou ambientações fotogênicas, a mostra convoca à atenção: emergimos em um tempo em que a crise climática é banal, mas não irreversível. Ao conjugar arte contemporânea, saberes tradicionais, ciência e sensibilidade, o projeto reafirma que imaginar outros mundos exige tanto rigor analítico quanto abertura poética. Que o visitante saia não apenas informado, mas afetado — questionando seus limites, responsabilidades e afetos com a Amazônia. Na arquitetura das tensões entre arte e natureza, “Um rio não existe sozinho” é gesto de urgência: convoca que façamos juntos e escutemos, em cada curva do rio, a pulsação de múltiplos mundos.

SERVIÇO – Exposição “Um rio não existe sozinho”

Período: de 3 de outubro a 30 de dezembro de 2025
Local: Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi
Endereço: Avenida Gov. Magalhães Barata, 376 – São Brás, Belém (PA)
Horário de visitação: de quarta a domingo, das 9h às 16h
Ingresso: R$ 3 (valor correspondente ao ingresso do Parque)

COP30 projetará o agro tropical sustentável do Brasil ao mundo

A escolha de Belém como palco da COP 30 carrega um simbolismo potente: é ali, no coração da Amazônia Tropical, que o Brasil pretende mostrar ao mundo como a agricultura tropical sustentável pode se tornar modelo global. Na condição de Enviado Especial para Agricultura da conferência, o ex-ministro Roberto Rodrigues assume a missão de traduzir ao mundo o que o país construiu nas últimas décadas: produção tropical com tecnologia, manejo e cuidado com o solo, com safras múltiplas e forte compromisso climático e social.

Roberto Rodrigues afirma que, embora a COP30 não seja uma conferência exclusivamente dedicada ao agro, ela representa uma oportunidade histórica para projetar o modelo brasileiro de agricultura tropical sustentável como inspiração para outras nações nos trópicos. Ele acredita que o Brasil poderá demonstrar não só o que fez, mas o que pode multiplicar em países com clima e solos semelhantes. Sua missão, diz ele, será mostrar ao mundo “a eficiência e a capacidade de replicação do agro brasileiro nos trópicos”.

Em outubro, ele explica, será lançada uma publicação que resume os últimos cinquenta anos da trajetória agrícola nacional. O documento reunirá dados numéricos e memórias para revelar como ciência, tecnologia e políticas públicas aceleraram o salto produtivo tropical sustentável do país, incluindo culturas, proteínas e bioenergia. Rodrigues vê nesse relato um instrumento simbólico e prático: ele não rememora apenas conquistas — pretende alimentar uma narrativa inspiradora para países tropicais ainda em construção.

Para ele, a agricultura tropical brasileira surge como um capital estratégico para as negociações climáticas. Os trópicos, sugere, precisam ganhar voz no debate global. Mas a voz não basta: é necessário que haja financiamento internacional para transferência tecnológica e subsídios para países que não dispõem dos mesmos recursos. Igualmente essencial, segundo Rodrigues, é flexibilizar regras de comércio que hoje penalizam quem parte do zero para implementar produções sustentáveis. Ele insiste que o mundo tropical deve assumir protagonismo nas quatro grandes crises modernas: segurança alimentar, transição energética, desigualdade social e clima — e que essa liderança será um caminho para paz.

No campo de energias renováveis, Rodrigues ressalta como o Brasil já combina produção rural e mitigação climática. Ele recorda que o etanol de cana emite cerca de 9% do CO₂ da gasolina e que o biodiesel de soja reduz emissões em comparação ao diesel fóssil. Sua análise considera ainda as florestas plantadas: com cerca de 10 milhões de hectares, elas são aliadas no sequestro de carbono. Ele destaca que a Lei do Combustível do Futuro — sancionada em 2024 — estabelece programas para etanol, biodiesel, biometano e regula captura e estocagem de carbono, liberando investimentos estimados em R$ 260 bilhões até 2037 e evitando a emissão de até 705 milhões de toneladas de CO₂.

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Fonte: COP30 Brasil 2025

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Rodrigues enfatiza que esse arsenal tecnológico e institucional é o que o Brasil leva à COP30 como argumento de autoridade. Ele se refere ao “tripé” que sustentou a revolução agropecuária nacional: agricultores que aplicaram o conhecimento, pesquisadores que o geraram e institucionalidade que protegeu a ciência de interferências políticas. A despeito de problemas estruturais — deficiências logísticas, insegurança jurídica, falta de políticas de renda ou acordos comerciais robustos — ele sustenta que o modelo brasileiro já é sustentabilidade real, com números, impacto social e consistência ambiental. Ele lembra: todo agricultor sério quer que a lei seja cumprida; o desmatamento ilegal, ressalta, não pode ser tolerado por ninguém.

Rodrigues aborda ainda o papel simbólico do agro: comunicar claramente à sociedade urbana que alimentos, tecidos, transportes, vestuário — tudo depende da produção rural. Ele defende que as cidades integrem essa compreensão. Em suas palavras finais, convoca: “agro é paz” — porque, sem alimento, não há estabilidade. Ele aposta que o Brasil, ao alimentar o mundo de modo sustentável, contribuirá para garantir paz universal.

Durante a conferência, Rodrigues pretende articular debates paralelos, conectar setores e promover o que chama de “agenda única do agro”. Ele já lidera esforços que envolvem entidades do setor, institutos de pesquisa e think tanks. Espera que o Fórum Brasileiro de Agricultura Tropical — que articula centros de pesquisa e atores produtivos — ganhe espaço como interlocutor consolidado. Em sua visão, a COP de Belém precisa ser mais do que discursos: deve originar um programa ambicioso, com continuidade após a conferência, que abrace transferência de tecnologia, financiamento climático e governança sustentável.

O Brasil chega à COP30 com a aposta de que seu agro tropical já é solução e que pode inspirar outros países. Essa narrativa será posta à prova. Mas, se bem construída e apoiada por compromissos reais, a conferência tem tudo para mostrar que o modelo tropical sustentável brasileiro não é um caso isolado — pode se tornar uma ponte para um futuro onde os trópicos produzam com justiça, precisão e dignidade.

Sabiá-laranjeira: 5 curiosidades da ave que canta alto nas madrugadas das cidades

Se você já acordou antes do sol com um canto forte e melodioso vindo da janela, há grandes chances de ter sido um sabiá-laranjeira. Essa ave, símbolo do Brasil, é uma das mais queridas e reconhecidas do país — não apenas pela beleza, mas pelo som inconfundível que anuncia o amanhecer. Mesmo cercada de prédios e ruídos urbanos, ela consegue manter viva uma conexão rara entre a natureza e a vida nas cidades. Mas o que faz o sabiá-laranjeira ser tão especial?

Por que o sabiá-laranjeira canta tão cedo

O canto do sabiá-laranjeira é uma de suas marcas mais encantadoras. Ele começa a entoar suas melodias muito antes do nascer do sol, por volta das quatro da manhã, quando ainda reina o silêncio da madrugada. Essa escolha não é aleatória: cantar nesse horário permite que sua voz ecoe livre, sem competição com outros sons, e alcance longas distâncias.

Para o sabiá, esse ritual tem dois propósitos. O primeiro é marcar território — uma forma de dizer aos outros machos que aquele espaço já tem dono. O segundo é atrair fêmeas, mostrando força e vitalidade. Curiosamente, quanto mais vigoroso o canto, maior a chance de sucesso amoroso.

Uma ave que se adapta ao ritmo das cidades

O sabiá-laranjeira é um verdadeiro exemplo de adaptação. Originalmente habitante de florestas e matas, ele encontrou nas cidades um novo lar. Praças, quintais e até varandas se tornaram refúgios seguros e cheios de alimento. O segredo está na sua dieta variada: ele come frutas, insetos e até pequenos vermes, o que facilita sua sobrevivência em ambientes urbanos.

Outro ponto curioso é sua coragem. Diferente de muitas aves, o sabiá-laranjeira não teme tanto a presença humana. Ele aprende rapidamente a conviver com o movimento e até se aproxima para se alimentar de frutas deixadas em jardins ou varais. Essa convivência amigável fez dele um símbolo de resistência e harmonia entre homem e natureza.

O símbolo que representa o Brasil em som e cor

Pouca gente sabe, mas o sabiá-laranjeira é o pássaro nacional do Brasil desde 2002. Sua escolha não foi por acaso: ele representa o espírito alegre, resiliente e musical do povo brasileiro. O peito alaranjado remete ao calor dos trópicos e à energia do nosso clima, enquanto o canto expressa liberdade e emoção.

Além disso, a presença do sabiá-laranjeira em praticamente todas as regiões do país reforça sua identidade nacional. Do Sul ao Nordeste, é comum ouvi-lo cantar nas primeiras horas do dia, lembrando que, mesmo em meio ao concreto, ainda existe natureza viva e pulsante.

A importância ecológica do sabiá-laranjeira

Mais do que um cantor talentoso, o sabiá-laranjeira tem um papel essencial na natureza: ele ajuda a espalhar sementes. Ao se alimentar de frutas e depois eliminar as sementes em outros locais, a ave contribui para o crescimento de novas plantas e a regeneração de áreas verdes. Esse processo é vital para a manutenção dos ecossistemas, especialmente nas cidades, onde a vegetação é escassa.

Em muitas regiões, os sabiás são considerados os “jardineiros da natureza”, pois levam vida a lugares improváveis. Cada árvore que nasce a partir de uma semente dispersa por eles é um lembrete silencioso do quanto pequenas ações da fauna impactam o equilíbrio ambiental.

Curiosidades que encantam quem observa

  1. Eles têm memória auditiva impressionante: o sabiá-laranjeira é capaz de reconhecer outros indivíduos pelo canto e até ajustar o tom de suas melodias para se destacar.

  2. Cuidam bem dos filhotes: tanto o macho quanto a fêmea participam da alimentação dos filhotes, que permanecem no ninho por cerca de 15 dias após o nascimento.

  3. O canto varia por região: assim como sotaques humanos, o canto do sabiá muda de acordo com o local — um sabiá do Nordeste soa diferente de um do Sul.

  4. São fiéis ao território: costumam retornar ao mesmo ponto ano após ano, principalmente durante o período reprodutivo.

  5. Podem viver mais de 10 anos: especialmente quando encontram abrigo e alimento abundante, os sabiás podem viver por uma década ou mais.

O canto que desperta a alma e a cidade

Há algo poético no canto do sabiá-laranjeira. Ele corta o silêncio da madrugada e parece anunciar que o dia vai nascer, mesmo quando ainda há escuridão. Em um tempo em que a correria urbana nos desconecta da natureza, ouvir o canto dessa ave é quase um convite a desacelerar — um lembrete de que a beleza ainda está por perto, mesmo entre muros e ruas.

Por isso, da próxima vez que o canto do sabiá-laranjeira te acordar antes do despertador, resista à vontade de se irritar. Em vez disso, escute. Aquela melodia é um presente diário da natureza, um sinal de que a vida segue firme, resiliente e melodiosa — mesmo nas madrugadas mais silenciosas.

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Capivara e doenças: o que é mito e verdade sobre a relação desse animal com carrapatos

Elas são simpáticas, calmas e até carismáticas nas redes sociais, mas também estão envoltas em um debate que mistura medo, informação incompleta e um toque de mito. A capivara, maior roedor do mundo, tem conquistado espaço nas margens de rios, condomínios e parques urbanos — e, com isso, crescem as dúvidas: afinal, a capivara transmite doenças? E qual é a real ligação entre esse animal e os carrapatos que assustam tanta gente?

Capivara: o símbolo da natureza que se adaptou à cidade


A presença de capivaras em áreas urbanas é resultado direto da expansão humana sobre o habitat natural. Elas encontraram nas cidades tudo o que precisam: água, grama e segurança relativa contra predadores. Em grupos familiares tranquilos, costumam ser vistas descansando à beira de lagos, pastando calmamente e, às vezes, interagindo com pessoas — um comportamento que desperta curiosidade e empatia.

Mas é justamente essa proximidade com os humanos que levanta o alerta. A principal preocupação gira em torno de uma doença chamada febre maculosa, transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma, popularmente conhecidos como carrapatos-estrela. E aqui começam as confusões.

Carrapatos e capivaras: quem é o verdadeiro vilão?
É comum ouvir que a capivara “espalha” a febre maculosa, mas essa ideia é um equívoco. Na verdade, ela é uma das possíveis hospedeiras do carrapato — não a fonte da doença. O que realmente transmite a febre maculosa é o próprio carrapato infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii.

As capivaras servem como elo de manutenção do ciclo natural: quando o carrapato as pica, pode se infectar e, mais tarde, transmitir a bactéria a outro animal ou ser humano. Portanto, o problema não é a presença das capivaras em si, mas a proliferação descontrolada dos carrapatos em ambientes onde esses animais vivem sem manejo adequado.

Ou seja, culpar a capivara é o mesmo que culpar o cachorro por existir pulga. O risco está no desequilíbrio ambiental — algo que pode ser prevenido com cuidados simples e responsabilidade compartilhada.

Como o ambiente interfere na proliferação dos carrapatos
Os carrapatos prosperam em locais úmidos, sombreados e com vegetação densa. Parques e margens de rios mal cuidados, com acúmulo de folhas e mato alto, se tornam o habitat perfeito. Quando o número de capivaras cresce sem controle nesses ambientes, a chance de manter populações grandes de carrapatos também aumenta.

Por isso, o manejo ambiental é uma das principais medidas preventivas. Cortar a grama regularmente, manter áreas abertas ensolaradas e evitar o contato direto com grupos de capivaras são atitudes simples que reduzem significativamente o risco de infecção.

Outro ponto importante é o comportamento humano. Pessoas que frequentam trilhas, margens de rios ou áreas com vegetação alta devem usar calças compridas, botas e repelente, além de checar o corpo e as roupas após o passeio. Essas ações básicas são mais eficazes para prevenir a febre maculosa do que afastar as capivaras do ambiente.

Mitos e verdades sobre capivaras e doenças

“Toda capivara transmite febre maculosa.”Mito.
A maioria das capivaras não está infectada. O risco depende da presença de carrapatos contaminados, não do animal em si.

“Carrapatos só vivem em animais.”Mito.
Eles também podem se esconder em vegetação alta, esperando por um hospedeiro. Por isso, é possível ser picado mesmo sem contato direto com bichos.

“Capivaras são importantes para o equilíbrio ambiental.”Verdade.
Elas ajudam a controlar o crescimento de vegetação aquática e servem como alimento para predadores naturais, mantendo o ecossistema equilibrado.

“Remover capivaras resolve o problema dos carrapatos.”Mito perigoso.
Sem o manejo correto, os carrapatos permanecem no ambiente e podem migrar para outros hospedeiros. A solução real está no controle integrado, que envolve monitoramento ambiental, limpeza e, em alguns casos, programas oficiais de manejo.

O papel do ser humano na convivência segura
A verdade é que as capivaras são apenas mais um elo da teia ecológica que o ser humano constantemente altera. Ao ocupar margens de rios e reduzir áreas naturais, criamos as condições ideais para o aumento dos carrapatos. Em vez de demonizar o animal, o caminho está em aprender a coexistir de forma responsável.

Prefeituras e condomínios que adotam planos de manejo — com controle populacional, monitoramento veterinário e manutenção de áreas verdes — têm mostrado resultados eficazes. Essa convivência equilibrada permite que capivaras continuem parte da paisagem sem colocar a saúde pública em risco.

Um símbolo de equilíbrio possível
No fim das contas, a capivara é um espelho da nossa própria relação com a natureza: dócil, adaptável e, muitas vezes, vítima de mal-entendidos. Quando olhamos com atenção, percebemos que o problema não é o animal, mas o desequilíbrio que nós criamos.

Manter a distância segura, respeitar o espaço delas e cuidar do ambiente são os verdadeiros antídotos contra o medo — e as doenças. Afinal, o segredo está em harmonizar a convivência, não em romper com ela.

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Biossoluções no solo: cultivando resiliência agrícola rumo à COP30

A série “A Caminho da COP30: Biossoluções para uma Agricultura de Baixo Carbono” propõe uma reflexão essencial sobre o futuro da produção rural em um planeta em rápida transformação. Enquanto o Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém (Pará), o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a Embrapa e o CGIAR — Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional — articulam uma sequência de diálogos que colocam as soluções biológicas no centro da resposta climática global. O objetivo é claro: mostrar como a agricultura pode ser, ao mesmo tempo, produtiva, regenerativa e essencial na redução das emissões de carbono.

Mais do que um setor econômico estratégico, a agricultura é um campo vivo de inovação e experimentação. As chamadas biossoluções — práticas e tecnologias que utilizam processos biológicos para otimizar o solo, nutrir plantas e reduzir dependência de insumos sintéticos — representam um caminho concreto para conciliar produtividade e sustentabilidade. Essas abordagens vão desde o uso de microrganismos que ajudam a solubilizar fósforo até inoculantes microbianos que fixam nitrogênio e fortalecem a resistência das plantas a secas e pragas. Também incluem sistemas integrados de produção, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que combina culturas agrícolas, criação de animais e cobertura florestal. A combinação desses elementos fortalece o solo, aumenta o sequestro de carbono e torna as propriedades mais resilientes diante das mudanças climáticas.

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Embora as biossoluções exijam investimentos iniciais em pesquisa, formação técnica e adequação regulatória, seus benefícios de longo prazo são evidentes. Solos mais vivos e férteis armazenam mais carbono, retêm melhor a água e demandam menos fertilizantes industriais, frequentemente produzidos com alto custo energético e ambiental. Ao reduzir essa dependência, os produtores também diminuem a vulnerabilidade a flutuações de preço e a crises de abastecimento de insumos.

A série de diálogos será composta por três momentos complementares. O primeiro, marcado para o dia 30 de setembro, às 10h30, será o webinar “A ciência de ampliar o uso de biossoluções para a saúde do solo e a ação climática”. Especialistas do Brasil e de outros países vão compartilhar evidências científicas e experiências práticas sobre como ampliar o uso dessas soluções em larga escala. Entre os participantes estão Alessandro Cruvinel (MAPA), Sieg Snapp (CIMMYT), Leigh Winowiecki (CIFOR-ICRAF), James Stapleton (CGIAR), Mirjam Pulleman (Alliance Bioversity-CIAT), Ieda Mendes (Embrapa Cerrados), Marco Antônio Nogueira (Embrapa Soja), Marcus Gitau (Kumea Agriculture) e Aine McGowan (UK FCDO).

O segundo diálogo, intitulado “Agricultores e Negócios: Escalando Biossoluções”, será realizado em 16 de outubro e aprofundará o debate sobre como levar essas práticas ao campo, conectando agricultores, empresas, investidores e formuladores de políticas. O terceiro e último encontro, híbrido e presencial, ocorrerá em Belém durante a COP30, no pavilhão do CGIAR, no dia 10 de novembro, com o tema “Finanças e políticas sustentáveis”. Nesse momento, o foco será a criação de instrumentos financeiros e regulatórios capazes de transformar as biossoluções em pilares permanentes de uma agricultura de baixo carbono.

A iniciativa busca não apenas disseminar conhecimento técnico, mas também mudar a forma como se enxerga o papel do agro na transição climática. Em vez de um setor frequentemente visto como emissor de gases de efeito estufa, a proposta é apresentá-lo como parte fundamental da solução, promovendo uma economia rural mais circular e regenerativa. Para isso, é necessário integrar ciência, política e prática. O avanço depende de pesquisas aplicadas, de marcos regulatórios adequados e de políticas públicas que estimulem o uso de bioinsumos. Também requer a valorização do conhecimento local e o fortalecimento da extensão rural, de modo que produtores de diferentes escalas — inclusive os pequenos — possam acessar e aplicar essas tecnologias de forma viável.

Webinar-30-09_page-0002-400x400 Biossoluções no solo: cultivando resiliência agrícola rumo à COP30

Entre os principais desafios estão a lentidão dos processos de registro de bioinsumos, o custo inicial de adoção e a necessidade de estrutura para produção e distribuição em escala. Há ainda a urgência de criar mecanismos financeiros que incentivem práticas regenerativas e reconheçam o valor do solo saudável como ativo ambiental. Apesar disso, os ganhos potenciais superam os obstáculos. Ampliar o uso de biossoluções pode reduzir drasticamente as emissões ligadas à produção agrícola, melhorar a qualidade e a produtividade das terras, diversificar rendimentos e fortalecer a posição do Brasil como referência mundial em agricultura sustentável.

A série “Biossoluções para uma Agricultura de Baixo Carbono” se propõe, portanto, a ser mais do que uma agenda técnica: é um movimento estratégico de transformação. Ao conectar ciência, negócios e políticas públicas, oferece um caminho concreto para que a agricultura brasileira avance em direção a um modelo produtivo capaz de alimentar o mundo sem degradar o planeta. No horizonte da COP30, essas discussões representam uma oportunidade rara de fazer do campo não apenas um espaço de produção, mas também um agente ativo na reconstrução do equilíbrio climático.

Agenda
Webinar “A ciência de ampliar o uso de biossoluções para a saúde do solo e a ação climática” (Science of Scaling Biosolutions for Soil Health and Climate Action)
Data: 30 de setembro de 2025 (terça-feira)
Horário: 10h30 às 12h (Horário de Brasilia)
Inscrições: events.cgiar.org/cop30biologicalsolutions

Bancada do Clima lança movimento nacional por escolas adaptadas à crise climática

Em um gesto que combina política local e urgência planetária, a Bancada do Clima, rede suprapartidária que reúne 57 vereadores de 14 legendas em todo o Brasil, deu início a uma mobilização inédita: o protocolaço nacional do Projeto de Lei de Adaptação Climática nas Escolas.

A ação, lançada em Brasília, pretende protocolar 80 projetos de lei em câmaras municipais até o fim de 2025, colocando a pauta climática no centro da política educacional brasileira. O objetivo é transformar as escolas em espaços seguros diante dos efeitos extremos da crise climática, de ondas de calor a enchentes, e em polos de difusão de práticas de adaptação nas comunidades.

Escolas como epicentro da adaptação

A proposta de referência, apresentada na Câmara Municipal de São Paulo pela vereadora Marina Bragante (REDE-SP), estabelece diretrizes para preparar as escolas brasileiras para um cenário climático em rápida transformação. O texto prevê planos de adaptação específicos para cada unidade, priorizando conforto térmico, ventilação cruzada, arborização, áreas verdes e protocolos de segurança em situações críticas.

Também estão incluídas medidas pedagógicas: a integração da educação ambiental ao currículo escolar e o estímulo ao protagonismo infantojuvenil em ações de sustentabilidade. O projeto busca reconhecer a escola como espaço de proteção social e climática, um refúgio essencial diante do avanço das mudanças ambientais.

“As escolas são o coração das comunidades. São locais de acolhimento e aprendizado, mas também de proteção. Se não estiverem preparadas, nossas crianças estarão ainda mais vulneráveis”, afirma Marina Bragante.

Mobilização em rede

O lançamento do protocolaço aconteceu no Kubitschek Plaza Hotel, em Brasília, reunindo cerca de 50 lideranças políticas e sociais. Entre elas, nomes de destaque como a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), a deputada estadual Marina Helou (REDE-SP) e a secretária de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Tainá de Paula (PT-RJ).

A estratégia prevê que os 15 vereadores embaixadores da Bancada articulem a adesão de pelo menos cinco colegas cada, criando uma rede com capilaridade nacional. “O protocolaço mostra que o legislativo municipal pode agir em rede, com força e agilidade. Queremos que cada câmara discuta como adaptar suas escolas e proteger as crianças”, destacou Duda Salabert.

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Divulgação

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Aliança entre política e sociedade civil

A iniciativa é apoiada por diversas organizações da sociedade civil, que atuam em parceria com a Bancada. Entre elas estão o Instituto Cidades Sustentáveis, o Instituto Arapyaú, o coletivo Ecos Pelo Clima (RS), a Associação Lia Esperança (SP), o Gris Espaço Solidário (PE) e o projeto Na Cuia (PA).

A governança é conduzida pela Legisla Brasil, organização dedicada a qualificar o trabalho parlamentar. Para o presidente da entidade, Fernando Haddad Moura, o movimento reforça o papel estratégico do Legislativo na resposta à emergência climática. “Este é um exemplo concreto de como o poder público pode agir de forma articulada e eficiente. Quando falamos de escolas, falamos de proteção às crianças — e de futuro”, afirmou.

Caminho até a COP30

O protocolaço é apenas o primeiro passo de uma estratégia mais ampla. A Bancada do Clima prepara para 2025 o lançamento da Agenda Climática dos Municípios, documento que reunirá propostas legislativas de referência construídas a partir da análise de mais de 800 projetos de lei existentes no país e de consultas com especialistas.

O documento será apresentado oficialmente durante a COP30, que ocorre em novembro de 2025 em Belém (PA). A Agenda deve oferecer um conjunto de políticas públicas municipais voltadas à justiça climática, com foco inicial nas escolas e comunidades mais vulneráveis.

“A emergência climática e a desigualdade social caminham juntas. Nossa missão é oferecer caminhos concretos para que os municípios avancem na adaptação e na justiça climática”, reforça a vereadora Ava Santiago (PSDB-GO).

Política local como resposta global

Criada em 2023, a Bancada do Clima representa uma nova geração de políticos municipais comprometidos com a pauta socioambiental. Reúne vereadores de partidos tão diversos quanto PT, PSOL, REDE, PDT, PSB, PCdoB, MDB, PSD, PV, PSDB, Cidadania, Republicanos e Progressistas — uma prova de que o tema climático é capaz de transcender fronteiras ideológicas.

A mobilização reflete uma mudança de paradigma: em vez de esperar políticas nacionais, cidades e câmaras municipais passam a agir como laboratórios de inovação climática, testando soluções locais e replicáveis. Ao colocar a escola no centro dessa agenda, a Bancada do Clima propõe um modelo de futuro em que educação, sustentabilidade e proteção social caminham juntas.