Início Site Página 34

Alemanha lança programa de €6 bilhões para descarbonizar a indústria e adota tecnologia de captura de carbono

A Alemanha deu um novo passo em sua transição energética ao anunciar um pacote de €6 bilhões destinado a descarbonizar os setores industriais mais intensivos em emissões. A iniciativa, apresentada pela ministra da Economia, Katherina Reiche, incorpora pela primeira vez a tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CCS) nos contratos de proteção climática do país — um marco na estratégia alemã de neutralidade climática.

O programa, que ainda depende de aprovação orçamentária no Parlamento e do aval da Comissão Europeia em matéria de auxílio estatal, pretende equilibrar duas metas cruciais: reduzir emissões e preservar a competitividade da indústria nacional. Setores como químico, siderúrgico, cimenteiro e de vidro — pilares da economia alemã — estão entre os principais beneficiários potenciais.

Transição com segurança para setores intensivos em energia

O governo alemão definiu o pacote como parte dos chamados “Contratos de Proteção Climática”, instrumentos que garantem previsibilidade a empresas que investem em tecnologias limpas. Esses contratos terão duração de 15 anos, cobrindo custos adicionais da transição e protegendo as companhias da volatilidade dos preços de energia e carbono.

A partir de agora, a tecnologia CCS será elegível para financiamento. O método consiste em capturar o dióxido de carbono (CO₂) gerado por processos industriais e armazená-lo em formações geológicas subterrâneas, evitando sua liberação na atmosfera. A inclusão dessa tecnologia representa uma guinada pragmática na política climática alemã, tradicionalmente cautelosa com o uso do CCS devido a preocupações ambientais e à resistência pública.

lula-e-olaf-scolz-750x450-1-400x240 Alemanha lança programa de €6 bilhões para descarbonizar a indústria e adota tecnologia de captura de carbono
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler alemão Olaf Scholz durante coletiva de imprensa
– EFE/EPA/CLEMENS BILAN

SAIBA MAIS: Indústria paraense apresenta diretrizes de baixo carbono em evento global em Nova York

Competição por eficiência climática

O processo de seleção seguirá um modelo competitivo: vencerão as propostas que demandarem o menor subsídio por tonelada de CO₂ evitada. As empresas interessadas devem se registrar até 1º de dezembro, com o leilão previsto para meados de 2026.

De acordo com o Ministério Federal da Economia e Ação Climática (BMWK), os projetos aprovados deverão cumprir metas obrigatórias de redução de emissões e demonstrar potencial de replicação em larga escala. A ideia é criar um ciclo virtuoso de inovação, estimulando a modernização de processos industriais e a adoção de novas tecnologias verdes.

A aposta alemã é clara: usar incentivos públicos de forma direcionada para catalisar investimentos privados e acelerar a transição sem perder competitividade global. O CCS surge, nesse contexto, como uma ferramenta complementar às energias renováveis e à eficiência energética — especialmente em setores onde a eliminação total de emissões ainda é inviável com tecnologias convencionais.

Apoio cauteloso, mas necessário

Entidades industriais e associações empresariais reagiram positivamente à inclusão do CCS e ao caráter flexível do programa. Para elas, a Alemanha precisava adotar uma postura mais pragmática diante da escalada dos custos energéticos e da desaceleração industrial.

Segundo porta-vozes de grupos do setor de energia e manufatura, o novo plano pode representar um ponto de virada para a reindustrialização verde, desde que o governo assegure clareza regulatória e estabilidade nos subsídios.

O Bundesverband der Deutschen Industrie (BDI), principal associação industrial do país, afirmou em nota que o modelo de contratos de longo prazo é fundamental para dar segurança a empresas que planejam modernizar fábricas e reduzir emissões. O BDI também destacou que o sucesso da estratégia depende de uma infraestrutura nacional de transporte e armazenamento de carbono, área em que o país ainda está começando a investir.

Pragmatismo climático em tempos de crise

A Alemanha enfrenta um dilema: manter sua posição como potência industrial europeia enquanto busca cumprir metas climáticas ambiciosas — reduzir em 65% as emissões até 2030, em relação a 1990, e alcançar neutralidade de carbono até 2045.

Ao incluir o CCS em sua política climática, Berlim sinaliza uma guinada estratégica: menos ideologia, mais pragmatismo. O governo reconhece que a descarbonização total da indústria exigirá um conjunto diverso de soluções — desde o hidrogênio verde e a eletrificação até o sequestro e armazenamento de carbono.

Essa mudança também reflete a pressão crescente sobre o país para reagir à perda de competitividade e à desaceleração econômica. Ao apoiar setores-chave, a Alemanha tenta não apenas reduzir emissões, mas também reconstruir a confiança na política industrial verde, combinando sustentabilidade e soberania econômica.

Brasil e Reino Unido lançam nova chamada para pesquisas sobre a Amazônia

O esforço conjunto entre cientistas brasileiros e britânicos ganha novo fôlego. O British Council, por meio do Fundo de Parcerias Internacionais em Ciências (ISPF) do governo do Reino Unido, e a Iniciativa Amazônia+10 anunciaram uma nova rodada de apoio a projetos voltados à pesquisa e à inovação na região amazônica.

A chamada integra o programa Amazonia BR/UK Workshops Grants, que busca financiar encontros científicos capazes de gerar novas pesquisas, parcerias e redes de cooperação entre instituições dos dois países. A proposta é clara: aproximar pesquisadores e fomentar soluções conjuntas para desafios que cruzam fronteiras ambientais, sociais e econômicos em uma das regiões mais estratégicas do planeta.

Cooperação científica para um futuro compartilhado

A Amazônia, reconhecida por sua biodiversidade e papel central no equilíbrio climático global, segue como palco de desafios urgentes e oportunidades científicas sem precedentes. A nova chamada visa estimular o intercâmbio de ideias e tecnologias entre universidades, centros de pesquisa e comunidades locais, ampliando o conhecimento sobre temas que vão da biodiversidade e mudanças climáticas à bioeconomia e biotecnologia.

Também estão entre as áreas de interesse a melhoria das condições de vida das populações amazônicas e o uso sustentável do solo, pilares fundamentais para que o desenvolvimento da região ocorra de forma inclusiva e ambientalmente responsável.

Financiamento e estrutura do edital

O valor total destinado à iniciativa é de £330 mil, com limite de £55 mil por projeto aprovado. Os recursos serão aplicados na realização de workshops científicos — encontros de curta duração, mas de alto impacto, voltados à troca de experiências e à construção de agendas de pesquisa conjuntas.

As propostas devem obrigatoriamente ser apresentadas em parceria entre um pesquisador do Reino Unido e outro sediado na Amazônia Legal brasileira, estimulando a integração entre os contextos científico e territorial de ambos os países.

As inscrições estão abertas até 21 de outubro, às 7h (horário de Brasília) — o que corresponde às 11h em Londres. A seleção considerará critérios como relevância científica, potencial de impacto, inclusão de jovens pesquisadores e equilíbrio de gênero.

work-with-us-400x225 Brasil e Reino Unido lançam nova chamada para pesquisas sobre a Amazônia
Divulgação – British Council

SAIBA MAIS: Especialistas reforçam urgência de ação climática e proteção da Amazônia

Um histórico de colaboração que se renova

A cooperação científica entre o Brasil e o Reino Unido tem se intensificado nas últimas décadas. O British Council atua no país desde 1945, promovendo programas de intercâmbio, formação de professores e parcerias acadêmicas. Já a Iniciativa Amazônia+10 reúne as principais Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa – Confap, com o objetivo de fortalecer a ciência na região amazônica e incentivar investigações voltadas à sustentabilidade.

Com o apoio do ISPF — instrumento estratégico do Governo do Reino Unido para ampliar parcerias globais em ciência e inovação —, a chamada reforça uma tendência crescente: a de que o conhecimento científico se constrói em rede e que as respostas aos desafios da Amazônia precisam de colaboração internacional.

Por que isso importa

A Amazônia é, ao mesmo tempo, fonte de riqueza biológica e símbolo das tensões entre conservação e desenvolvimento. Cada nova cooperação entre cientistas brasileiros e britânicos representa um passo para compreender e proteger esse ecossistema essencial, promovendo inovações sustentáveis que beneficiem tanto o meio ambiente quanto as comunidades locais.

Mais do que financiar eventos acadêmicos, o programa Amazonia BR/UK Workshops Grants busca plantar sementes de longo prazo: ideias, alianças e descobertas capazes de reconfigurar a relação entre ciência, sociedade e floresta.

Da observação à criação: como a biologia virou solução

Durante séculos, o ser humano olhou para a natureza em busca de respostas. Hoje, mais do que observar, aprendemos a conversar com ela e até a imitá-la. A biologia, que começou como o estudo da vida, tornou-se uma ferramenta para transformar o mundo. No laboratório, no campo ou no mar, a ciência biológica inspira tecnologias que curam doenças, regeneram ecossistemas e redesenham a produção de alimentos. São as chamadas biosoluções, inovações que usam processos naturais para resolver desafios humanos.

As primeiras janelas para o invisível

Tudo começou no século XVII, quando o inglês Robert Hooke observou uma fina lâmina de cortiça e viu pequenas cavidades que lembravam celas, daí o nome “célula”. Pouco depois, o holandês Anton van Leeuwenhoek, usando microscópios feitos à mão, testemunhou o movimento de organismos vivos em uma gota d’água. Era o primeiro vislumbre de um universo biológico até então invisível.

Levaria quase dois séculos para que a teoria celular fosse formulada, estabelecendo que todos os seres vivos são compostos por células e que elas são a unidade fundamental da vida. Mas o que se escondia dentro dessas estruturas ainda era um mistério.

Tashko-Robert-Hooke-Microscopy-and-Hookes-Law-1635-1703-400x225 Da observação à criação: como a biologia virou solução
Reprodução

SAIBA MAIS: Como a biologia pode tornar a produção têxtil mais sustentável

O núcleo e o segredo da herança

Em 1831, o botânico Robert Brown identificou um ponto central no interior das células de orquídeas. Chamou-o de núcleo. Décadas depois, outro pesquisador, o suíço Friedrich Miescher, ao estudar glóbulos brancos retirados de curativos hospitalares, isolou uma substância rica em fósforo, batizada de “nucleína”. Ele não imaginava que havia acabado de tocar o alicerce químico da vida.

Em 1889, o alemão Richard Altmann refinou o trabalho e renomeou o composto para “ácido nucleico”. Ainda assim, o significado daquele material permanecia desconhecido. Só no início do século XX o bioquímico Albrecht Kossel revelou que o ácido era formado por quatro bases químicas — adenina, timina, citosina e guanina — as letras que mais tarde seriam reconhecidas como o alfabeto da vida.

O passo seguinte veio com Phoebus Levene, que identificou os blocos estruturais do DNA e do RNA. Mas faltava descobrir como esse código era armazenado e copiado. A resposta surgiria em 1953, quando James Watson e Francis Crick, apoiados nas imagens de difração de raios X da cientista Rosalind Franklin, revelaram a famosa dupla hélice: o formato elegante e funcional que explicava como a informação genética podia se reproduzir.

97cd925538f7c9a3040c8d186d18aa53_15240533392151_1621439673-400x266 Da observação à criação: como a biologia virou solução
Reprodução

Explorar para compreender — dos oceanos às células

O impulso de enxergar o invisível não se restringiu aos microscópios. No século XIX, a expedição do navio britânico HMS Challenger percorreu 125 mil quilômetros e transformou a compreensão dos oceanos. Mais de um século depois, veículos autônomos exploram a Fossa das Marianas, a 11 quilômetros de profundidade, onde cientistas identificaram microrganismos capazes de produzir “oxigênio escuro”, uma forma de geração de oxigênio sem luz solar, que desafia o entendimento clássico da fotossíntese.

Esse mesmo espírito explorador move a biologia moderna, que hoje combina física, química, engenharia e inteligência artificial para decifrar os mecanismos da vida. Da análise de células individuais à leitura completa de genomas, as ferramentas tornaram-se mais poderosas, e também mais criativas.

A era das biosoluções

Se antes o desafio era entender a vida, agora é usar a vida como modelo. As biosoluções buscam na própria natureza respostas para a crise climática, a segurança alimentar e a saúde global. Microrganismos são programados para capturar carbono, bactérias produzem medicamentos personalizados, e enzimas desenhadas em laboratório substituem processos industriais poluentes.

Na Amazônia, empresas e startups exploram microrganismos nativos como biofábricas de compostos sustentáveis. Na agricultura, fungos e bactérias estão substituindo fertilizantes químicos. Na medicina, terapias gênicas e vacinas de RNA mostram o potencial de editar a vida para curá-la.

A biologia, antes observada em lâminas de cortiça, agora se traduz em tecnologia viva — adaptável, autorregulada e criativa. Ao transformar o modo como olhamos para a natureza, ela redefine também a forma como resolvemos nossos problemas.

O futuro, ao que tudo indica, será escrito com as letras da vida.

Especialistas reforçam urgência de ação climática e proteção da Amazônia

Na véspera da COP30, que ocorrerá em Belém entre 10 e 21 de novembro, o Workshop de Integração e Fortalecimento da Ciência da Agenda Climática, promovido pela Finep, reuniu especialistas, pesquisadores e gestores para discutir a ciência e políticas públicas voltadas para enfrentar a crise climática. O evento destacou que, sem medidas ambiciosas de mitigação e adaptação, o desenvolvimento sustentável não se concretiza.

O terceiro painel do encontro concentrou-se na Amazônia e na dimensão socioambiental da agenda climática. Coordenado por Ima Vieira, assessora especial da Finep e especialista do Museu Paraense Emílio Goeldi, o debate abordou a preservação florestal, a contenção do desmatamento e a urgência de políticas efetivas de descarbonização. Para Vieira, a floresta amazônica é estratégica não apenas para o Brasil, mas para o equilíbrio climático global.

A professora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), destacou que a Amazônia deve ser analisada considerando sua complexidade urbana, florestal e hídrica. Ela alertou que, sem ação climática eficaz, o mundo caminha para um aquecimento médio de 2,7 graus Celsius até o fim do século, com impactos severos em ecossistemas, sociedades humanas e economia. “Eventos extremos aumentam com rapidez e afetam de forma cascata os ecossistemas e as populações locais. Sem ação climática ambiciosa, o desenvolvimento sustentável não será possível”, afirmou.

unnamed-400x238 Especialistas reforçam urgência de ação climática e proteção da Amazônia
Divulgação Finep

VEJA TAMBÉM: COP30 ganha força após Cúpula Climática na ONU com 100 países assumindo novos compromissos

O professor Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável da USP, reforçou que a Amazônia é essencial para o ciclo de carbono e a evapotranspiração, regulando chuvas e clima em grande parte da América do Sul. Segundo Artaxo, a temperatura média projetada de 2,7°C globalmente implicará aumentos de 4 a 4,5°C em regiões do Brasil, com impactos violentos no Nordeste e no Centro-Oeste. Ele defendeu a implementação de um modelo amazônico inovador, que combine justiça climática, bioeconomia e proteção de povos tradicionais.

O painel ressaltou seis ações estratégicas para enfrentar a crise: eliminar o uso de combustíveis fósseis, zerar o desmatamento em florestas tropicais, adaptar-se à nova realidade climática, viabilizar financiamento internacional para transição energética de países em desenvolvimento, fortalecer a cooperação multilateral e estruturar uma gestão nacional da agenda climática.

Adalberto Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), apontou que as mudanças climáticas afetam profundamente ecossistemas aquáticos e terrestres. Ele descreveu o “trio da morte” — aquecimento, acidificação e hipóxia — que ameaça espécies de peixes essenciais à alimentação das populações amazônicas, agravado por poluentes como metais pesados, plásticos, microplásticos, derivados de petróleo e agrotóxicos.

O presidente da Finep, Luiz Antonio Elias, destacou que a instituição dispõe de capacidade de financiamento à ciência e inovação, central para o sucesso das ações climáticas e para a efetividade de políticas pós-COP30. O secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luis Fernandes, reforçou que os resultados do workshop, envolvendo 50 instituições científicas e 80 especialistas, serão incorporados à agenda da conferência internacional.

O evento também contou com a participação de Carolina Grottera, diretora do Programa da Secretaria-executiva do Ministério da Fazenda, que destacou como a agenda ambiental e climática orienta o planejamento econômico do governo, incluindo finanças sustentáveis, bioeconomia, sistemas agroalimentares e economia circular. Julio Salarini Guiomar, do BNDES, reforçou a importância do financiamento público e privado, apontando o déficit de cerca de R$ 5 bilhões para restauração florestal e iniciativas ambientais.

O documento final do workshop propõe três prioridades fundamentais: implementar uma matriz energética limpa e renovável, zerar o desmatamento e garantir financiamento climático internacional. Para a Amazônia, recomenda-se um modelo de desenvolvimento sustentável que concilie bioeconomia, segurança alimentar, proteção de povos tradicionais e combate à exploração ilegal.

O encontro deixou claro que ciência, políticas públicas e participação da sociedade civil precisam caminhar juntos para que a COP30 resulte em mudanças reais e duradouras, posicionando o Brasil como protagonista global na proteção do clima e da Amazônia.

COP30 coloca Brasil no centro da corrida por investimentos verdes

Em um mês, Belém (PA) se tornará palco da COP30, a conferência da ONU sobre clima, evento que promete movimentar negócios globais e atrair investimentos estratégicos para o Brasil. Energia renovável, bioeconomia amazônica, agronegócio de baixo carbono e finanças sustentáveis despontam como setores-chave para ampliar a competitividade nacional diante de novas regras ambientais e exigências de mercado.

O evento ocorre em meio a um cenário desafiador: segundo o Relatório Luz 2024, apenas 7% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil apresentaram avanço satisfatório, enquanto 34,5% tiveram progresso considerado insuficiente. A COP30 surge, portanto, como oportunidade de o país demonstrar evolução concreta e consolidar-se como destino prioritário de investimentos verdes.

No comércio exterior, a agenda ESG não é mais opcional. A União Europeia implementará em 2026 o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM), exigindo que importadores adquiram certificados para compensar emissões incorporadas em produtos como aço, cimento, alumínio e fertilizantes. A Diretiva de Due Diligence em Sustentabilidade Corporativa (CS3D) obrigará o monitoramento completo da cadeia produtiva, abrangendo impactos ambientais e direitos humanos. No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exigirá relatórios alinhados aos padrões internacionais IFRS S1 e S2, ampliando transparência em sustentabilidade.

Para Alexandre Pimenta, CEO da Asia Shipping, ESG deixou de ser diferencial para se tornar critério de acesso a mercados: “Adaptar-se às novas exigências significa não apenas manter exportações, mas conquistar vantagens regulatórias e financeiras globais.” Ele ressalta que a logística desempenha papel central, garantindo rastreabilidade e eficiência em toda a cadeia de suprimentos.

afp-20250826-72fj9jb-v1-highres-braziluncop30climate-400x225 COP30 coloca Brasil no centro da corrida por investimentos verdes
Vista aérea dos painéis solares no Parque da Cidade, em Belém (PA), espaço de mais de 500 mil m² que sediará a COP30 em novembro. — Foto: Anderson Coelho/AFP

SAIBA MAIS: Transporte brasileiro reforça voz na COP30 em Belém

Especialistas destacam os setores com maior potencial de atração de capital. Para Larissa Barreto, sócia da Sail Capital, energia renovável e bioeconomia estão no topo: “Expansão de solar e eólica, avanço do hidrogênio verde e biocombustíveis avançados devem gerar fluxos de capital, criando modelos como energia sob demanda e gestão inteligente de redes.”

No agronegócio, práticas regenerativas, bioinsumos e rastreabilidade tornam-se exigências globais. Fintechs do agro, plataformas de comercialização sustentável e negócios de carbono ganham espaço. Kátia Maia, consultora do Banco Mundial Brasil, acrescenta que corredores logísticos verdes em Pecém e Suape podem reduzir impactos ambientais, enquanto a bioeconomia amazônica cresce com cosméticos, fármacos e alimentos a partir de ingredientes naturais. Setores como saneamento, economia circular, reciclagem e biogás também ganham relevância.

Adriana Melo, CFO da SAS Brasil, reforça que o Brasil possui ativos estratégicos além do agro: “Agro regenerativo, bioeconomia amazônica, transição energética e tecnologia limpa permitem que exportemos inteligência climática, e não apenas commodities.”

Transformar compromissos ambientais em vantagem competitiva é um diferencial tangível. Barreto observa: “Eficiência energética, gestão hídrica e economia circular reduzem custos e podem gerar novas receitas. Empresas que comprovam impacto positivo atraem fundos globais e crédito barato.” Maia completa: “Cadeias globais exigem metas e relatórios internacionais; antecipar-se a isso amplia competitividade.” Melo conclui que sair do discurso e executar ações de descarbonização é essencial para cortar custos e conquistar consumidores conscientes.

O Brasil já conta com instrumentos financeiros para apoiar a transição sustentável, entre eles: Fundo Clima do BNDES, Plano Safra de Baixo Carbono (ABC+), RenovaBio e créditos CBIOs, Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), CPRs Verdes, debêntures de infraestrutura incentivadas e green bonds. Segundo Maia, a COP30 será uma corrida global por dinheiro verde, envolvendo fundos climáticos, bancos multilaterais, investidores de impacto e fundos soberanos.

A conferência de Belém promete ir além da diplomacia, posicionando o Brasil como potência climática e econômica, conectando biodiversidade, energia limpa e instrumentos financeiros a um novo ciclo de crescimento sustentável. Como resume Melo: “O futuro verde só fará sentido se unir competitividade e inclusão. Sustentabilidade não é utopia, é pragmatismo econômico.”

Amazônia é destaque em Futurecom com soluções limpas e bioeconomia

Com a COP30 se aproximando, a Amazônia brilhou no painel Clean Tech Solutions do Futurecom, realizado nesta semana em São Paulo. Intitulado “Soluções limpas para cidades resilientes, inteligentes e sustentáveis”, o debate reuniu especialistas para discutir tecnologias inovadoras, valorização da biodiversidade amazônica e estratégias para enfrentar os desafios climáticos, com foco na Conferência do Clima da ONU, que ocorrerá em Belém no próximo mês.

Entre os participantes, a engenheira Tereza Carvalho, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e membro do Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), apresentou o projeto Amazônia 4.0, que integra conceitos da Indústria 4.0 às cadeias produtivas da região. A iniciativa visa agregar valor aos produtos da biodiversidade local, como cacau e cupuaçu, promovendo desenvolvimento socioeconômico e combatendo o desmatamento.

Carvalho destacou também o Biobanco Amazônico, projeto colaborativo ligado ao Instituto Amazônia 4.0, voltado à criação de um banco de dados genético das espécies da região. Utilizando tecnologia de baixo custo para coleta de informações e blockchain para registro seguro, o Biobanco busca gerar benefícios econômicos para comunidades locais e fortalecer a bioeconomia sustentável da Amazônia. Esses projetos demonstram como ciência, tecnologia e inovação podem transformar riquezas naturais em oportunidades de desenvolvimento inclusivo e ambientalmente responsável.

FUST_MCOM_Futurecom2024-1024x684-1-400x267 Amazônia é destaque em Futurecom com soluções limpas e bioeconomia
Divulgação – Futurecom

SAIBA MAIS: Primeira evidência de microplásticos no estômago de macacos arborícolas acende alerta na Amazônia

O painel trouxe ainda uma perspectiva internacional, com Carvalho apresentando pesquisas apoiadas pelo governo britânico em parceria com universidades brasileiras, reforçando a importância da cooperação global na mitigação das mudanças climáticas. Outros participantes, como Vanessa Schramm, pesquisadora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e Otávio Chase, engenheiro e professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), discutiram como tecnologias limpas podem enfrentar os desafios urbanos e ambientais, fortalecendo cidades inteligentes e resilientes.

Chase chamou atenção para o impacto energético dos grandes data centers de Inteligência Artificial. Ele citou um centro em implantação no Ceará, que exigirá 2 mil megawatts e 30 mil litros de água potável por dia para refrigeração, destacando a necessidade de soluções sustentáveis como bioenergia ou reuso de água. Segundo ele, a regulamentação é crucial para que avanços tecnológicos, incluindo IA, sejam seguros e éticos, prevenindo riscos à população.

O evento também destacou a atuação do IEEE, que conta com mais de 486 mil especialistas globalmente, incluindo 5 mil no Brasil, empenhados em desenvolver tecnologias limpas e soluções inovadoras para um planeta mais sustentável.

O Futurecom se consolidou como um hub de inovação e conectividade, conectando empresas, startups e profissionais de tecnologia. Durante o evento, o Ministério das Comunicações apresentou políticas nacionais voltadas à conectividade, incluindo rodovias, cabos submarinos e data centers, com foco na interiorização e criação de polos tecnológicos que reforcem resiliência, inclusão digital e desenvolvimento econômico sustentável. O secretário de Telecomunicações, Hermano Tercius, ressaltou que a conectividade deixou de ser luxo para se tornar essencial à cidadania, e destacou o papel da administração pública em garantir acesso igualitário às novas tecnologias.

O painel do Futurecom evidencia como a Amazônia pode liderar a transição para uma economia de baixo carbono, combinando tecnologia, inovação e bioeconomia para gerar renda, proteger a biodiversidade e apoiar a agenda climática global.

Árvores da Amazônia estão “engordando”: riscos e adaptações climáticas

Um fenômeno surpreendente vem chamando atenção de cientistas e ambientalistas: as árvores da Amazônia estão crescendo mais grossas, em um processo denominado fattening forest, ou floresta “engordando”. Publicado na revista Nature Plants, o estudo mostra que, embora esse crescimento indique resiliência diante das mudanças climáticas, também levanta alertas sobre vulnerabilidades futuras da maior floresta tropical do planeta.

Pesquisas realizadas em 188 parcelas de florestas intactas da Amazônia, algumas monitoradas há mais de três décadas, indicam que a circunferência das árvores aumentou em média 3,3% por década. Esse crescimento não se limita a espécies de grande porte; árvores médias também apresentam aumento significativo de volume. O fenômeno está diretamente associado ao chamado efeito de fertilização por dióxido de carbono (CO2), em que o aumento das concentrações de CO2 na atmosfera impulsiona a fotossíntese, permitindo que as plantas armazenem mais carbono e cresçam mais rapidamente.

kabEkzZVScxEi9aD8kRFAh-650-80.jpg-400x225 Árvores da Amazônia estão “engordando”: riscos e adaptações climáticas
Foto: Christian Vinces/Getty Images

VEJA TAMBÉM: A árvore amazônica que resiste ao fogo e pode salvar florestas inteiras da destruição

Experimentos realizados em outros ecossistemas corroboram esses achados. Árvores cultivadas em ambientes com CO2 enriquecido podem crescer até 10% mais em comparação com condições naturais. No entanto, o crescimento acelerado apresenta desafios estruturais: árvores maiores demandam mais água e nutrientes, tornando-se mais vulneráveis a secas prolongadas e ondas de calor extremas, situações cada vez mais frequentes na Amazônia devido às mudanças climáticas.

A alteração no porte das árvores também pode impactar a diversidade da floresta. A predominância de espécies maiores pode modificar a dinâmica de captura de nutrientes e reduzir a variedade de espécies vegetais e animais que dependem de uma estrutura florestal diversificada. Essa mudança ecológica não afeta apenas a biodiversidade local: ela pode interferir na capacidade da floresta de funcionar como sumidouro de carbono, papel essencial para a regulação climática global.

Os cientistas alertam que a taxa de crescimento das árvores não deve se manter constante. O aumento de tamanho tende a desacelerar nas próximas décadas, acompanhado de maior mortalidade de árvores adultas. Esse cenário aumenta o risco de que a Amazônia atinja um “ponto de inflexão”, caracterizado por secas mais intensas, queimadas frequentes e perda de biodiversidade. Caso isso ocorra, partes da floresta podem passar por um processo de savanização, transformando áreas densas em paisagens de vegetação mais aberta e menos produtiva, comprometendo serviços ecossistêmicos fundamentais, como regulação hídrica e sequestro de carbono.

O estudo reforça a complexidade da resposta da floresta às mudanças ambientais. Crescimento acelerado, embora sinal de adaptação, não significa imunidade. As árvores maiores podem ser mais fortes estruturalmente, mas o aumento da vulnerabilidade hídrica e nutricional expõe a floresta a riscos inéditos. A interação entre o clima extremo e a dinâmica interna da floresta será determinante para definir se a Amazônia continuará como reguladora do clima global ou se sofrerá transformações irreversíveis.

Pesquisadores destacam a necessidade urgente de políticas de preservação e manejo sustentável. A proteção contra desmatamento, queimadas e exploração predatória é fundamental para garantir que a floresta continue a desempenhar seu papel estratégico no equilíbrio climático. Além disso, o monitoramento contínuo das mudanças na biomassa e na diversidade vegetal será essencial para antecipar impactos e implementar estratégias de mitigação e adaptação.

Em resumo, o crescimento das árvores amazônicas mostra que a floresta está tentando se ajustar ao estresse ambiental, mas essa resiliência vem acompanhada de riscos claros. O fenômeno do “fattening forest” oferece pistas valiosas sobre como as florestas tropicais respondem às alterações climáticas, ao mesmo tempo em que reforça a urgência de ações globais e locais para proteger o ecossistema mais biodiverso do planeta. A Amazônia, com sua influência no ciclo do carbono e na regulação das chuvas na América do Sul, continua sendo peça-chave na luta contra a crise climática.

Nobel de Medicina 2025 premia avanços em tolerância imunológica e tratamentos inovadores

O Prêmio Nobel de Medicina de 2025 foi concedido aos cientistas Mary Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi pelas descobertas fundamentais sobre a tolerância imunológica periférica, um mecanismo essencial que permite ao organismo diferenciar células próprias de invasores e controlar respostas imunes. As pesquisas abriram caminhos para novos tratamentos contra câncer, doenças autoimunes e outras condições imunológicas complexas.

Os laureados recebem 11 milhões de coroas suecas (aproximadamente US$ 1,2 milhão), além da medalha de ouro entregue pelo rei da Suécia, durante cerimônia no Instituto Karolinska, em Estocolmo. A premiação marca a abertura anual do ciclo dos Prêmios Nobel, considerados os mais prestigiados reconhecimentos em ciência, literatura, paz e economia. Apenas o Nobel da Paz é entregue em Oslo, na Noruega, refletindo um legado histórico da união política entre os dois países.

Segundo o comitê do Nobel, as contribuições de Brunkow, Ramsdell e Sakaguchi estabeleceram as bases de um campo inteiramente novo da imunologia. A tolerância imunológica periférica, explicam, é crucial para impedir que o sistema imunológico ataque o próprio organismo, ao mesmo tempo em que mantém a capacidade de reagir a patógenos externos. Essa descoberta possibilitou o desenvolvimento de terapias mais precisas e eficazes, ampliando o arsenal contra cânceres, doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide, e potencialmente ajudando a reduzir efeitos colaterais de tratamentos convencionais.

AP25279345988622-400x225 Nobel de Medicina 2025 premia avanços em tolerância imunológica e tratamentos inovadores
Reprodução

SAIBA MAIS: Brasil finalista do Prêmio Earthshot com fundo inédito de conservação

O Prêmio Nobel foi criado a partir do testamento de Alfred Nobel, o inventor sueco da dinamite, que determinou que sua fortuna fosse destinada à premiação de realizações notáveis em ciência, literatura e paz. Desde 1901, os prêmios são concedidos anualmente, com exceção de períodos de guerra, e se expandiram posteriormente para incluir economia, financiado pelo Riksbank, o banco central sueco.

Ao longo da história, o Nobel de Fisiologia ou Medicina reconheceu descobertas que transformaram a medicina moderna. Entre os laureados estão Alexander Fleming, por descobrir a penicilina, e, mais recentemente, os americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun, que receberam o prêmio em 2024 pelo estudo do microRNA e seu papel na especialização celular. Esses exemplos ilustram a tradição do prêmio em identificar pesquisas que geram impacto direto na saúde humana e inovação médica.

Além do valor monetário e da medalha, os laureados do Nobel participam de um protocolo repleto de tradição, que inclui cerimônias com a presença das famílias reais da Suécia e da Noruega, seguido de banquetes realizados em 10 de dezembro, data do falecimento de Alfred Nobel. A ocasião não apenas celebra conquistas científicas, mas também reafirma o compromisso global com o avanço da ciência e da humanidade.

O Nobel de Medicina de 2025 reforça a importância da imunologia moderna e do estudo dos mecanismos de regulação do sistema imunológico. Suas descobertas representam não apenas um avanço teórico, mas a concretização de terapias inovadoras que já estão beneficiando pacientes em todo o mundo. A premiação evidencia a integração de ciência básica e aplicada, mostrando como a pesquisa fundamental pode transformar práticas clínicas, salvar vidas e inspirar novas gerações de cientistas.

Ao premiar a tolerância imunológica periférica, o Nobel também destaca a relevância de se compreender profundamente os sistemas biológicos complexos para enfrentar desafios médicos contemporâneos, incluindo câncer, doenças autoimunes e potenciais pandemias futuras. A cerimônia de entrega consolida a narrativa histórica do Nobel: ciência, inovação e impacto social caminham lado a lado, moldando o futuro da medicina global.

COP30 destaca ciência e saberes tradicionais como aliados no enfrentamento climático

Na preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para 10 a 21 de novembro em Belém, a ciência brasileira reafirma seu papel central na agenda climática, reconhecendo a relevância dos saberes de povos tradicionais. Para Luiz Antonio Elias, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o conhecimento ancestral, acumulado por comunidades indígenas e quilombolas, pode ser integrado às pesquisas científicas para enfrentar os desafios do aquecimento global e das mudanças climáticas.

A Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), tem como função principal financiar pesquisa e inovação em todo o país. Nos últimos anos, a instituição ampliou sua atuação, oferecendo instrumentos reembolsáveis e não reembolsáveis para laboratórios, universidades e empresas que atuam em projetos estratégicos. Entre suas áreas de foco estão a biodiversidade, o Complexo Industrial da Saúde (Ceis), minerais estratégicos, energias renováveis, hidrogênio verde e iniciativas de descarbonização, reforçando a dimensão socioambiental da pesquisa nacional.

Durante uma entrevista à Agência Brasil, Elias destacou que a ciência fornece parâmetros essenciais para políticas públicas e para decisões estratégicas, seja no setor urbano, no agronegócio ou na preservação ambiental. “A ciência nos dá elementos de construção das políticas que vão afetar o clima, a qualidade de vida e a saúde da sociedade, inclusive no Brasil”, afirmou.

O presidente da Finep ressaltou ainda que os saberes tradicionais desempenham papel decisivo nesse processo. “Efetivamente, podemos aprender com a ancestralidade. Comunidades tradicionais nos ajudam a identificar elementos da biodiversidade aplicáveis à saúde e à inovação tecnológica. É fundamental que os códigos de propriedade intelectual reconheçam esses direitos e compartilhem benefícios com essas comunidades”, disse Elias.

luiz_antonio_elias_01-400x239 COP30 destaca ciência e saberes tradicionais como aliados no enfrentamento climático
Finep/Divulgação

SAIBA MAIS: Um rio não existe sozinho: arte, ciência e ancestralidade em diálogo com a Amazônia

O encontro com representantes do setor científico reforçou a ideia de soberania e identidade da ciência brasileira, mostrando que o país tem capacidade de liderar transições ecológicas e energéticas, utilizando seu território e biomas como referência global. Nesse contexto, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) também é citada como ferramenta de integração regional, reunindo países amazônicos para o desenvolvimento sustentável.

Sobre orçamento e recursos, Elias informou que a Finep vive um momento de expansão. Com a aprovação da Lei 15.184/2025, a instituição passou a contar com superávit financeiro liberado pelo governo federal, ampliando em R$ 22 bilhões o crédito disponível para inovação e pesquisa. Esse reforço financeiro, segundo o presidente, permitirá políticas mais estruturadas e sustentáveis, transformando a Finep em uma política de Estado e não apenas em um instrumento pontual de fomento.

Para Elias, a participação da Finep na COP30 não é apenas institucional, mas estratégica. A integração entre ciência formal e saberes tradicionais permite desenhar soluções inovadoras, ampliar a conscientização sobre mudanças climáticas e consolidar o Brasil como protagonista na agenda ambiental global. Ele lembra que, conforme o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou na ONU, “sem ciência, não há inovação; sem inovação, o Brasil não se desenvolve”.

A entrevista reforça a importância de um diálogo contínuo entre ciência e tradição, essencial para enfrentar os desafios globais de forma inclusiva, sustentável e respeitosa às comunidades locais. A COP30 surge, assim, como oportunidade para mostrar que inovação e ancestralidade podem caminhar juntas, fortalecendo políticas públicas e consolidando o país como referência em soluções climáticas.

Primeira evidência de microplásticos no estômago de macacos arborícolas acende alerta na Amazônia

Uma descoberta chocante emergiu da floresta amazônica: pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá identificaram fibras de microplástico no estômago de guaribas-vermelhos (Alouatta juara), primatas estritamente arborícolas que habitam as copas das árvores. O estudo, publicado em EcoHealth, marca a primeira vez que se encontram resíduos plásticos em macacos que vivem longe do solo, numa região ainda considerada preservada.

O trabalho acende um alerta urgente sobre o alcance invisível da poluição plástica — não apenas nos rios, solos e oceanos, mas nas várzeas inundadas, na vegetação erguida, nos animais que habitam o verde das alturas. Esse é um problema emergente cujas dimensões ecológicas, sanitárias e culturais exigem reflexão imediata.

Metodologia, achados e hipóteses

Os pesquisadores examinaram o conteúdo estomacal de 47 guaribas doados por caçadores de subsistência em duas Reservas de Desenvolvimento Sustentável no Amazonas: Mamirauá e Amanã. Os animais haviam sido caçados entre 2002 e 2017, e os estômagos, normalmente descartados, foram doados às pesquisas — nenhum macaco foi abatido para esse propósito.

Em dois desses 47 guaribas, ambos oriundos de florestas de várzea durante o período de cheia, foram detectadas partículas plásticas menores que 5 milímetros. Essas partículas apresentavam características como as de fibras ou filamentos, com pigmentação verde, tamanho entre 1 mm e 5 mm, sugerindo origem provável em resíduos de redes de pesca abandonadas, conhecidas como “redes fantasmas”.

Não se trata de um contato direto com o solo ou lixo visível, mas de um efeito indireto da hidráulica da natureza: quando os rios sobem, fragmentos plásticos depositados nas margens ou abandonados em redes aquáticas são carregados pela água e aderem à vegetação ou caem nas copas das árvores, alcançando animais que, até então, se acreditava, estivessem menos expostos.

bugio-650139160-1000x666-1-400x266 Primeira evidência de microplásticos no estômago de macacos arborícolas acende alerta na Amazônia
Foto: reisegraf.ch / Shutterstock.com

VEJA TAMBÉM: Microplásticos já estão dentro de nós, alerta estudo global

Impactos potenciais e implicações

A presença de microplásticos no estômago de guaribas tem repercussões que vão além da simples curiosidade científica. Em termos ecológicos, esses primatas folívoros desempenham papel fundamental na dispersão de sementes, manutenção da estrutura da vegetação e equilíbrio dos ecossistemas florestais. Contaminações digestivas, incapacidades de absorver nutrientes ou efeitos tóxicos graves podem comprometer essas funções.

Em termos sanitários, há preocupação sobre bioacumulação: famílias que caçam para subsistência, que consomem carne desses macacos e utilizam produtos naturais da floresta há possibilidade de que microplásticos presentes nos animais cheguem à dieta humana. Além disso, sabe-se por outros estudos que microplásticos e partículas associadas a eles podem carregar substâncias químicas perigosas, provocar inflamações, estresse oxidativo ou interferir no funcionamento metabólico.

A descoberta também desafia suposições: que animais arborícolas, que raramente tocam solo ou água poluída, estariam relativamente protegidos da poluição plástica. Esse paradigma cai por terra com evidência concreta de que a poluição hidrometeorológica: cheias, vazantes, correntes de água, pode levar fragmentos plásticos a alcançar a copa das florestas.

Recomendações, urgência e caminhos adiante

Diante desses achados, pesquisadores enfatizam que há lacunas críticas no conhecimento: ainda não sabemos o quanto isso afeta a saúde reprodutiva dos guaribas, ou sua longevidade; não se mensurou a carga química contida nas partículas encontradas; não há mapeamento consistente de quantas espécies arborícolas ou florestais mais amplas já são ou serão afetadas.

Políticas públicas são urgentes. Entre as medidas sugeridas estão a regulação sobre descarte de redes de pesca, limpeza de rios, uso de materiais alternativos, educação ambiental nas comunidades ribeirinhas, monitoramento sistemático da fauna silvestre para microplásticos. Também é essencial que programas de saúde pública considerem esse vetor de contaminação emergente.

Para as comunidades tradicionais e indígenas que dependem da fauna e flora amazônicas, esse problema não é abstrato: pode comprometer seus modos de vida, sua cultura e sua alimentação. Isso reforça que a poluição plástica não é uma questão apenas ambiental, mas uma questão de justiça social, ecológica e de direitos humanos.

A evidência de microplásticos no estômago de guaribas-vermelhos representa muito mais que um dado curioso de campo: é um espelho do que nossa era plástica provoca, invisivelmente, nos recantos mais verdes da Terra. Esse achado pedirá novas prioridades nas políticas ambientais, uma atuação coordenada entre ciência, governo e comunidades para conter a fragmentação do plástico e reparar a integridade dos ecossistemas amazônicos.

A Amazônia, além de pulmão do planeta, mostra-se também como receptor involuntário de resíduos do mundo e como palco em que todos estamos interligados, inclusive por aquilo que descartamos.

Brasil finalista do Prêmio Earthshot com fundo inédito de conservação

O Brasil voltou ao centro das atenções globais na agenda climática ao ser anunciado, neste sábado (4), como finalista do Prêmio Earthshotde 2025, uma das maiores distinções ambientais do planeta. O reconhecimento veio pela criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), mecanismo inédito de financiamento que promete transformar a forma como o mundo valoriza suas florestas e sustenta quem as protege.

Descrito por especialistas como uma das iniciativas financeiras mais ambiciosas já concebidas para a conservação, o TFFF é liderado pelo Governo do Brasil e nasce com o propósito de atribuir valor econômico permanente às florestas em pé, um passo decisivo para alinhar a proteção ambiental com o desenvolvimento sustentável. O fundo será lançado oficialmente durante a COP30, em novembro, em Belém (PA), consolidando o país como protagonista da diplomacia verde global.

A proposta prevê um fundo internacional de investimento de US$ 125 bilhões, dos quais US$ 25 bilhões virão de aportes soberanos e US$ 100 bilhões de capital privado. O retorno gerado será distribuído entre países tropicais que mantiverem baixos índices de desmatamento, com pelo menos 20% dos recursos destinados a povos indígenas e comunidades locais, reconhecidos como os guardiões da floresta.

Durante evento na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o compromisso inicial do Brasil com US$ 1 bilhão, tornando-se o primeiro país a investir no fundo. “O Brasil vai liderar pelo exemplo. O TFFF é um investimento na humanidade e no planeta”, afirmou Lula. “Em Belém, viveremos o momento da verdade para nossa geração de líderes.”

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou que o fundo inaugura uma nova etapa na relação do mundo com as florestas tropicais. “Precisamos mudar a forma como elas são valorizadas. O TFFF trará os recursos necessários para preservá-las e garantir uma renda justa para quem cuida da natureza”, declarou.

image-1600-913cd2bfb054bf24f54e7379aedb84b8-400x247 Brasil finalista do Prêmio Earthshot com fundo inédito de conservação
Reprodução

SAIBA MAIS: Fundo florestas tropicais para sempre, um pacto amazônico pela preservação

O Prêmio Earthshot, fundado em 2020 pelo Príncipe William, do Reino Unido, celebra projetos de impacto que enfrentam os maiores desafios ambientais do planeta. Em 2025, o grupo de finalistas foi escolhido entre 2.500 indicações de 72 países, analisadas por um painel de especialistas e por um conselho que inclui líderes como Christiana Figueres, arquiteta do Acordo de Paris, Cate Blanchett, José Andrés e Nemonte Nenquimo.

Ao reconhecer o TFFF, o prêmio ressalta a inovação de um modelo que substitui doações pontuais por investimentos estruturados, voltados a gerar rendimentos contínuos. Os recursos serão aplicados em uma carteira internacional de ativos sustentáveis, vedando investimentos em carvão, petróleo, gás e outros setores de alto impacto ambiental. A gestão seguirá critérios de governança global e transparência financeira, para garantir credibilidade e aderência às metas climáticas.

O TFFF nasceu na COP28, em Dubai, fruto de uma articulação entre o Brasil e outros dez países, entre eles Colômbia, Indonésia, Malásia, Gana
e República Democrática do Congo, além de nações apoiadoras como Alemanha, Noruega, Reino Unido, França e Emirados Árabes Unidos.

Mais do que um fundo, o TFFF representa uma tentativa de corrigir uma distorção histórica: o fato de que florestas preservadas ainda valem menos, economicamente, do que áreas desmatadas. Se implementado com sucesso, o modelo pode proteger mais de 1 bilhão de hectares de floresta em mais de 70 países, inaugurando um ciclo de prosperidade verde baseado na conservação.

Com o prêmio Earthshot, o Brasil consolida sua posição de liderança na governança ambiental global. Às vésperas da COP30, o país chega ao evento não apenas como anfitrião, mas como exemplo concreto de que financiar a floresta em pé é possível, rentável e essencial para o futuro climático do planeta.

Coruja-buraqueira: como esse animal vive em praças e terrenos baldios das cidades

Poucos animais despertam tanta curiosidade quanto a coruja-buraqueira. Pequena, de olhar atento e expressivo, ela conquistou as cidades brasileiras com seu jeito desconfiado e seus hábitos únicos. Enquanto muitas aves fogem do barulho e do concreto, a coruja-buraqueira aprendeu a conviver lado a lado com o ser humano — e hoje é possível encontrá-la em praças, terrenos baldios e até em canteiros de avenidas movimentadas.

A adaptação surpreendente da coruja-buraqueira

Diferente de outras espécies de coruja que vivem em árvores ou telhados, a coruja-buraqueira prefere o chão. Ela ganhou esse nome justamente por construir e habitar buracos no solo, muitas vezes aproveitando tocas abandonadas por tatus ou pequenos roedores. Com o avanço das cidades, a ave descobriu que terrenos baldios e gramados abertos oferecem as condições ideais para reproduzir esse ambiente natural — e passou a ocupar esses espaços urbanos com facilidade.
É comum vê-la parada sobre um montinho de terra, girando a cabeça de forma quase completa, como se estivesse fiscalizando o movimento ao redor. Apesar do tamanho reduzido, a coruja-buraqueira é territorial e corajosa: quando se sente ameaçada, emite um som semelhante a um estalo seco e encara o invasor até que ele se afaste.

Os hábitos diurnos da coruja-buraqueira que a diferenciam das outras corujas

Enquanto a maioria das corujas é noturna, a coruja-buraqueira prefere o dia. É ao amanhecer que ela se mostra mais ativa, caçando insetos, pequenos lagartos e roedores. Durante as horas mais quentes, costuma ficar próxima à sua toca, observando o ambiente e se aquecendo ao sol.
Essa rotina diurna faz com que ela seja mais facilmente observada por quem passa pelas praças e terrenos onde vive. Crianças, curiosas, muitas vezes se encantam ao vê-la “posando” imóvel por minutos, como se estivesse tirando uma foto. Essa característica ajudou a torná-la um símbolo de simpatia e tranquilidade, embora seu instinto de defesa continue bem afiado.

Por que a coruja-buraqueira escolhe viver nas cidades

As cidades oferecem uma combinação que favorece a sobrevivência da coruja-buraqueira: terrenos descampados, abundância de insetos e poucos predadores. Locais com gramados curtos, como campos de futebol ou áreas verdes próximas a avenidas, são perfeitos para que ela mantenha a vigilância sobre o território e encontre alimento com facilidade.
Mesmo com o crescimento urbano, a coruja-buraqueira encontrou uma forma de coexistir com o ser humano. É comum vê-las em grupos pequenos, dividindo o mesmo espaço sem grandes conflitos. Essa sociabilidade é uma de suas marcas — e explica por que conseguem manter populações estáveis mesmo em regiões urbanizadas.

Os sinais de convivência saudável da coruja-buraqueira com o meio urbano

A presença da coruja-buraqueira é um bom indicador da qualidade ambiental das cidades. Elas preferem locais limpos, com pouca poluição e presença de vegetação. Quando aparecem com frequência, é sinal de que o ecossistema urbano ainda oferece condições equilibradas de vida.
No entanto, a expansão de construções e o uso de venenos agrícolas ou domésticos podem colocar a espécie em risco. Essas substâncias contaminam as presas das corujas e acabam afetando sua saúde e reprodução. Por isso, manter áreas verdes, evitar o descarte irregular de lixo e preservar os terrenos onde elas vivem é uma forma de garantir que continuem sendo parte do cenário urbano.

Curiosidades sobre o comportamento e a reprodução

A coruja-buraqueira forma casais fiéis, que permanecem juntos por longos períodos. Durante a época de reprodução, o macho cava ou amplia o buraco no solo e o forra com capim seco. A fêmea deposita de seis a oito ovos, que eclodem após cerca de um mês. Nesse período, ambos se revezam na vigilância, tornando-se ainda mais protetores.
Os filhotes, de aparência fofa e olhar curioso, costumam sair da toca apenas após algumas semanas, sempre sob o olhar atento dos pais. E, curiosamente, mesmo depois de adultos, muitos continuam vivendo próximos do território onde nasceram, reforçando o vínculo familiar característico da espécie.

Como observar a coruja-buraqueira sem incomodá-la

Para quem deseja apreciar esse espetáculo da natureza, o segredo é manter distância e silêncio. A coruja-buraqueira é extremamente sensível a aproximações bruscas e sons altos. Usar binóculos é uma boa estratégia para observá-la sem causar estresse.
Evite tocar nas tocas ou tentar alimentá-las — isso pode afastar o casal e comprometer a segurança dos filhotes. O melhor presente que se pode oferecer é o respeito: preservar o espaço onde vivem é garantir que continuem encantando as próximas gerações.

Uma lição silenciosa sobre convivência e equilíbrio

A coruja-buraqueira ensina, com sua presença discreta, que é possível viver em harmonia mesmo em meio ao caos urbano. Ela não luta contra a cidade — aprende a coexistir com ela, encontrando espaços de tranquilidade entre o concreto e o verde.
Cada vez que alguém se surpreende ao vê-la observando o mundo de um buraco no chão, a natureza lembra que ainda há beleza escondida nos lugares mais improváveis. E talvez essa seja sua verdadeira mensagem: prosperar não é dominar o espaço, mas aprender a fazer parte dele.

Leia mais artigos aqui

Conheça também – Revista Para+

Bem-te-vi: 7 fatos surpreendentes sobre a ave barulhenta que domina quintais brasileiros

Difícil é passar uma manhã no Brasil sem ouvir aquele canto inconfundível que parece repetir seu próprio nome: “bem-te-vi!”. Alegre, curioso e cheio de personalidade, o bem-te-vi é uma das aves mais queridas — e também mais ousadas — dos nossos quintais. Apesar de parecer um simples visitante cotidiano, esse pequeno símbolo alado esconde comportamentos surpreendentes e uma inteligência que impressiona até os biólogos.

A ave que conquistou o Brasil e as cidades

O bem-te-vi (Pitangus sulphuratus) é uma das espécies mais adaptáveis do país. Ele está presente desde a Amazônia até o Sul, e consegue viver tanto em áreas rurais quanto nos centros urbanos. Com seu peito amarelo vibrante e a faixa branca marcante na cabeça, é impossível confundi-lo com outra ave.

Mas o que realmente o torna especial é sua habilidade de viver entre as pessoas sem perder a essência selvagem. O bem-te-vi é desconfiado, mas destemido: não hesita em roubar comida de cães, perseguir outras aves e até enfrentar corvos para proteger o ninho. Sua presença constante é um lembrete de que a natureza encontra sempre um jeito de coexistir conosco — mesmo nas cidades.

1. Um canto que tem “personalidade”

O canto do bem-te-vi é uma de suas marcas registradas. Diferente de outras aves, ele realmente parece falar. Cada canto é um anúncio: pode ser um alerta para intrusos, um chamado para o parceiro ou até uma forma de se comunicar com o grupo. Estudos mostram que o bem-te-vi pode variar o tom e o ritmo conforme o contexto, o que revela um grau notável de inteligência e sensibilidade.

Curiosamente, seu canto alto e repetitivo também é uma estratégia de sobrevivência: ele demarca território e afasta predadores, deixando claro que o espaço já tem dono.

2. Um predador disfarçado de fofo

Apesar da aparência simpática, o bem-te-vi é um caçador nato. Ele se alimenta de insetos, pequenos répteis, anfíbios e até peixes, mergulhando rapidamente para capturá-los. Esse comportamento é raro entre aves da mesma família, o que o torna uma espécie única.

Além disso, não resiste a um pedaço de pão deixado sobre a mesa — e essa flexibilidade alimentar explica seu sucesso em áreas urbanas. No fundo, o bem-te-vi é o símbolo da adaptação brasileira: sabe sobreviver em qualquer lugar.

3. Um engenheiro dos ninhos

Outro traço admirável é sua habilidade para construir ninhos. O bem-te-vi faz verdadeiras obras de arte com gravetos, folhas e até pedaços de plástico. Geralmente escolhe locais altos, como postes, beirais de telhados ou árvores de copa densa. O formato do ninho é fechado, com uma pequena entrada lateral — uma estratégia inteligente para proteger os filhotes de predadores e da chuva.

O casal trabalha junto na construção, alternando voos e idas ao solo para buscar material. É um exemplo de parceria e dedicação que inspira até quem apenas observa de longe.

4. Um vizinho territorialista

Quem tem um bem-te-vi no quintal sabe: ele defende o território com coragem. Mesmo sendo pequeno, enfrenta aves maiores e não tolera invasores. Isso explica por que é comum vê-lo brigando com sabiás, pardais e até pombas.

Esse comportamento protetor é especialmente forte durante o período de reprodução, quando o casal cuida dos ovos e dos filhotes. O canto intenso, os voos rasantes e até pequenos ataques são formas de dizer: “aqui mando eu”.

5. A amizade inesperada com outras espécies

Apesar do temperamento forte, o bem-te-vi também pode conviver pacificamente com outras aves, principalmente quando há fartura de alimento. É comum vê-lo dividindo espaço com rolinhas e sanhaços em bebedouros e comedouros. Alguns até parecem “interagir” com humanos — se acostumando à rotina da casa e pousando sempre no mesmo galho ou janela.

Essa relação amistosa faz parte daquilo que chamamos de “decoração viva” dos quintais brasileiros: ele não é apenas um visitante, mas um personagem fixo da paisagem afetiva.

6. Um símbolo de sorte e proteção

No imaginário popular, o canto do bem-te-vi está ligado à sorte, ao amor e à chegada de boas notícias. Muitas pessoas acreditam que ele anuncia visitas agradáveis ou dias tranquilos. Sua presença é vista como sinal de harmonia e vitalidade — algo que vai além da beleza natural e toca o campo da emoção.

Essa associação vem de antigas tradições orais e continua viva até hoje, reforçando o elo entre natureza e sentimento nas casas brasileiras.

7. Um sobrevivente das mudanças urbanas

Por fim, talvez o fato mais impressionante sobre o bem-te-vi seja sua capacidade de prosperar mesmo em meio à poluição, ao barulho e à escassez de árvores. Ele aprendeu a usar fios elétricos como poleiros, antenas como pontos de observação e calhas como suporte de ninhos.

Enquanto outras aves recuam diante do avanço urbano, o bem-te-vi se reinventa. E é por isso que ele continua sendo um dos sons mais característicos do Brasil — símbolo de resistência e alegria.

O som que conecta natureza e emoção

Mais do que uma simples ave, o bem-te-vi é parte da identidade sonora do país. Seu canto é um lembrete diário de que a vida insiste em florescer, mesmo em meio ao concreto. Observar um bem-te-vi é perceber que a natureza não nos abandonou — apenas se adaptou para viver ao nosso lado.

Cuidar dos espaços verdes, colocar um bebedouro e respeitar a presença dessas aves é uma forma de manter viva a conexão mais genuína que temos: a de sermos parte do mesmo ecossistema.

Leia mais artigos aqui

Conheça também – Revista Para+

Lula diz que COP30 será a COP da Verdade em Belém

Em contagem regressiva para a COP30, que ocorrerá em novembro em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a escolha da capital paraense como sede do maior encontro climático do planeta. Em entrevista à TV Liberal nesta sexta-feira (3), Lula destacou o caráter estratégico, simbólico e prático da conferência: ao mesmo tempo em que projeta a Amazônia para o mundo, a COP se torna pretexto para acelerar obras, mobilizar investimentos e deixar um legado permanente para a cidade.

Segundo o presidente, a preparação para o evento já soma cerca de R$ 6 bilhões em investimentos em infraestrutura urbana, mobilidade, habitação e serviços públicos. Para ele, essa é a grande oportunidade de transformar uma exigência logística internacional em benefício direto para os moradores de Belém. “A COP é um pretexto para fazer tudo aquilo que Belém precisa. As obras vão ficar, e o povo vai tirar proveito”, afirmou.

Lula explicou também a razão de apostar em uma cidade amazônica. Para ele, realizar a COP30 em centros tradicionais como Rio de Janeiro ou São Paulo seria mais confortável do ponto de vista da infraestrutura, mas perderia a dimensão política e simbólica de colocar a Amazônia no centro do debate climático. “Se a gente não for ousado, se não tiver coragem, não conseguimos fazer o Brasil crescer de forma equilibrada. Todos falam da Amazônia, mas poucos a conhecem”, argumentou.

image-1600-8742996ee2972b4346471ead27a5419e-400x261 Lula diz que COP30 será a COP da Verdade em Belém
Em discurso na ONU, Lula também afirmou que essa seria “COP da verdade” – Reprodução

SAIBA MAIS: Lula chama COP30 de “a COP da verdade” em discurso na ONU

O presidente tem repetido que Belém sediará a “COP da Verdade”. O termo, segundo ele, simboliza um momento decisivo em que o mundo precisará responder a perguntas centrais: até que ponto governos e sociedades acreditam na ciência e estão dispostos a agir? “Se o planeta aquecer acima de um grau e meio, teremos problemas graves. O mar vai subir, países vão desaparecer. Está em nossas mãos salvar a casa onde moramos”, disse, reforçando a necessidade de mudar a mentalidade destrutiva que caracteriza a exploração predatória da natureza.

Lula também revelou esforços diplomáticos para garantir o peso político da conferência. Disse já ter enviado convites a líderes globais, como o ex-presidente norte-americano Donald Trump, o presidente chinês Xi Jinping, e até ao Papa Francisco. A intenção é garantir que a COP30 fale “com o mundo inteiro” e seja capaz de inspirar confiança na sociedade. O formato prevê uma reunião de chefes de Estado dois dias antes da abertura oficial e, em seguida, a conferência mais ampla, que reunirá sociedade civil, cientistas e especialistas.

A infraestrutura de hospedagem, um dos pontos mais discutidos, também foi tema da entrevista. Lula assegurou que não faltarão acomodações: além da rede hoteleira, estão sendo construídos novos hotéis, milhares de moradores oferecem suas casas para aluguel temporário e dois grandes navios contratados pelo governo funcionarão como hotéis flutuantes, somando quase cinco mil quartos extras. “Não vai faltar cama, nem carinho, nem comida. E quero que todos provem a culinária paraense, que considero a melhor do Brasil”, disse, ressaltando a diversidade gastronômica local.

Outro anúncio importante feito por Lula foi o lançamento do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF), a ser oficializado durante a COP30. A proposta é criar um mecanismo de financiamento sustentável que funcione como investimento e não apenas como doação. Os recursos servirão para conservar não só a Amazônia, mas também florestas tropicais de países como Indonésia e República Democrática do Congo. “O Brasil foi o primeiro país a aportar recursos. Com o lucro do fundo, vamos garantir que essas florestas permaneçam em pé”, explicou.

A entrevista também teve espaço para um convite aos brasileiros: conhecer a Amazônia. Lula lembrou que a região concentra a maior floresta tropical contínua do planeta, 12% da água doce do mundo e uma riqueza mineral ainda pouco explorada. “Não quero que a Amazônia seja esquecida. Quero colocá-la no mapa turístico e cultural do país”, afirmou.

Por fim, o presidente reforçou o compromisso com o combate ao desmatamento. Disse estar convencido de que o Brasil cumprirá a meta de desmatamento zero até 2030, com base em pactos firmados com prefeitos da região amazônica. “Eles estão mais próximos das áreas onde ocorrem queimadas. Por isso, vamos criar incentivos para municípios que reduzirem focos de incêndio e áreas devastadas”, detalhou.

Entre diplomacia, investimentos e compromissos ambientais, Lula posiciona a COP30 como um marco de afirmação: Belém não apenas sedia um encontro internacional, mas se projeta como capital simbólica de um novo capítulo da política climática global.

COP30 vai movimentar R$ 3,3 milhões na agricultura familiar

A realização da COP30 em Belém promete não apenas mobilizar chefes de Estado, negociadores e sociedade civil do mundo todo. O evento pode também deixar um legado imediato para milhares de agricultores familiares da Amazônia. Um levantamento conduzido pelo Instituto Regenera e pelo Instituto Fronteiras do Desenvolvimento mapeou pelo menos 80 grupos organizados e 8 mil famílias do Pará aptos a fornecer alimentos para a conferência, que ocorrerá em novembro.

O estudo estima que a compra de insumos possa injetar até R$ 3,3 milhões na economia local. O valor é expressivo: quase 80% de todo o orçamento anual do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) destinado ao município de Belém.

A novidade está no edital publicado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) em agosto. Pela primeira vez, uma conferência do clima estabelecerá que ao menos 30% dos ingredientes servidos nos espaços oficiais venham de agricultores familiares, iniciativas agroecológicas e comunidades tradicionais.

Maurício Alcântara, cofundador do Instituto Regenera, avalia que essa exigência é um marco. Ele observa que, sempre que se fala em ampliar o consumo de alimentos agroecológicos, surge a dúvida: “Mas onde estão esses produtores? Existe produção suficiente?”. O mapeamento responde de forma contundente: sim, há oferta, diversidade e capacidade para abastecer um evento do porte da COP30.

Para integrar o levantamento, cada produtor precisou atender a requisitos básicos: possuir Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF) regularizado, estar apto a emitir notas fiscais e cumprir normas sanitárias. Alcântara ressalta, no entanto, que o número de famílias mapeadas não representa a totalidade. Há uma produção bem maior, espalhada por diferentes regiões do Pará, capaz de fornecer desde hortaliças e grãos até frutas amazônicas.

d6a0651-400x239 COP30 vai movimentar R$ 3,3 milhões na agricultura familiar
Fernando Frazão/Agência Brasil

SAIBA MAIS: Governo amplia lista de descontos no crédito rural familiar

Agricultura familiar no Brasil

A agricultura familiar no país reúne 3,9 milhões de propriedades, equivalentes a 77% dos estabelecimentos rurais. Juntas, ocupam 80,8 milhões de hectares — cerca de 23% da área agrícola nacional. Apesar de concentrarem terras menores, essas propriedades respondem por 23% do valor bruto da produção agropecuária e geram 67% dos postos de trabalho no campo.

São mais de 10 milhões de pessoas envolvidas diretamente na atividade. O Nordeste concentra quase metade dos trabalhadores (46,6%), seguido por Sudeste (16,5%), Sul (16%), Norte (15,4%) e Centro-Oeste (5,5%), de acordo com o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar.

Alcântara enfatiza que reconhecer e incluir essa produção em um evento climático internacional é, além de justo, estratégico. “São produtores que combinam preservação da floresta com o cultivo de alimentos. Estão resgatando espécies locais, fortalecendo a diversidade alimentar e oferecendo modelos regenerativos que inspiram o futuro”, afirma.

Sabores da Amazônia na COP30

Entre os grupos identificados no mapeamento está o Grupo para Consumo Agroecológico (Gruca), formado por 25 famílias da região metropolitana de Belém. Um de seus fundadores, o agricultor urbano Noel Gonzaga, cultiva macaxeira, abóbora, feijão, milho, quiabo, açaí e também o ariá — a chamada “batata amazônica”, em risco de desaparecer devido à substituição por alimentos industrializados.

“É um alimento que estava presente no dia a dia das famílias, mas perdeu espaço com a chegada do trigo. Hoje fazemos questão de plantar e divulgar o ariá para que não desapareça”, explica Gonzaga.

Além de abastecer sua própria mesa e a da família, ele comercializa o excedente pelo Gruca e pelo ponto de cultura alimentar Iacitata, selecionado para operar um dos restaurantes oficiais da COP30. A proposta do grupo não é apenas vender, mas criar conexões entre quem produz e quem consome, oferecendo também vivências e visitas às áreas de cultivo.

O açaí, símbolo da culinária amazônica, será um dos carros-chefes. O fruto chegou a ser retirado do edital por alegados riscos sanitários, mas após polêmica a decisão foi revista. Para Gonzaga, a presença do açaí é mais que natural: “Ele é a nossa porta de entrada, um alimento de boas-vindas. Em novembro, ainda teremos bastante produção porque a safra está no auge”, garante.

Legado além da conferência

A participação de agricultores familiares e comunidades tradicionais na COP30 aponta para um novo padrão em grandes eventos internacionais. A experiência mostra que é viável conciliar sustentabilidade, inclusão social e valorização da cultura alimentar local.

Se o modelo se consolidar, pode influenciar futuras conferências climáticas e outros encontros globais. Mais do que atender à demanda de um evento, a iniciativa coloca os agricultores amazônicos como protagonistas da transição para sistemas alimentares mais justos e resilientes.

“Não é só sobre a COP”, resume Alcântara. “É sobre mostrar que eventos desse porte podem ser feitos reconhecendo o valor da agricultura que preserva, que diversifica e que alimenta de forma saudável. Esse é o legado que o Brasil pode oferecer ao mundo.”

Lula visita Parque da Cidade e confere montagem da COP30

A contagem regressiva para a COP30, que será realizada em Belém em novembro, entrou em sua reta decisiva. Nesta sexta-feira (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na capital paraense acompanhado do governador Helder Barbalho, visitando o Parque da Cidade, espaço que servirá de palco para as principais negociações e encontros da conferência.

O local, implantado na área do antigo aeroporto de Belém, já se transformou em um dos símbolos mais visíveis do legado que a COP30 deixará para a cidade. Com 500 mil metros quadrados, o parque conta com o Centro Gastronômico e o Centro de Economia Criativa, edifícios projetados para dinamizar a vida cultural e econômica do espaço. A área verde foi recuperada com o plantio de mais de 2.500 árvores e, desde sua inauguração em junho, recebeu colônias de férias que atenderam 10 mil crianças, adolescentes e idosos. Em apenas dois meses de funcionamento, antes de ser fechado para a preparação da COP30, o Parque da Cidade atraiu 670 mil visitantes — um indicador da relevância do equipamento urbano para os belenenses.

Atualmente, o espaço está fechado ao público e sob responsabilidade do Governo Federal e da Organização das Nações Unidas (ONU), que coordenam a montagem das estruturas temporárias da conferência. Segundo a comitiva, o ritmo das obras é acelerado: mais de 90% das estruturas modulares já estão prontas, 85% do piso especial foi instalado e tanto a área de credenciamento quanto o acesso VIP foram concluídos. A montagem dos estandes internos segue em execução, preparando os pavilhões que receberão as negociações de alto nível.

A visita de Lula e Helder percorreu as chamadas Blue Zone e Green Zone, áreas centrais da conferência. A primeira, de acesso restrito a delegações e credenciados, ocupará cerca de 160 mil metros quadrados, abrigando plenárias, escritórios e espaços destinados a encontros multilaterais entre representantes de mais de 190 países. Já a Green Zone, aberta a organizações da sociedade civil e iniciativas paralelas, será o espaço de maior aproximação com o público.

20251003161823-GF00025052-F00450952-400x267 Lula visita Parque da Cidade e confere montagem da COP30
Marco Santos/Ag. Pará

VEJA TAMBÉM: Pará fortalece parques ambientais e valoriza biodiversidade

Durante a vistoria, Lula ouviu orientações sobre logística interna, segurança e fluxos de mobilidade para garantir a operação plena do evento. O presidente reforçou que a conferência em Belém é uma oportunidade histórica de mostrar ao mundo a realidade amazônica não apenas como pauta ambiental, mas como experiência viva da relação entre natureza e sociedade.

O governador Helder Barbalho destacou que a conclusão da Etapa COP do Parque da Cidade, com todos os edifícios permanentes já entregues, é um marco que ficará para além do evento. Para ele, o equipamento é um símbolo de transformação urbana: um antigo aeroporto desativado que se converteu em espaço público verde, cultural e de lazer.

O número de inscritos na COP30 já passa de 55 mil pessoas, o que reforça a magnitude da preparação logística. Para comportar tamanha mobilização, a estratégia inclui estruturas temporárias de grande porte, reforço em transporte, hospedagem e segurança, além da operação de dois navios cruzeiros contratados pelo governo para servir como hotéis flutuantes durante o evento.

Mais do que apenas receber delegações internacionais, a COP30 em Belém está sendo pensada como uma oportunidade de reposicionar a Amazônia no debate global sobre clima e desenvolvimento sustentável. O Parque da Cidade, nesse sentido, se transforma em vitrine: não apenas um espaço para negociações diplomáticas, mas um legado de uso cotidiano para a população.

Com a montagem das estruturas em estágio final e a inauguração dos espaços permanentes já concluída, Belém se prepara para receber o maior evento climático do planeta. A conferência promete ser um divisor de águas tanto para a imagem internacional do Brasil quanto para o cotidiano dos paraenses, que passam a contar com um dos maiores parques urbanos da região amazônica.

Transporte brasileiro reforça voz na COP30 em Belém

O setor de transporte brasileiro terá presença estratégica na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, em novembro. O Sistema Transporte confirmou participação tanto na Blue Zone, espaço oficial de negociações entre governos, quanto na Green Zone, aberta a sociedade civil, empresas e organizações.

A instituição, que reúne a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o SEST SENAT e o Instituto de Transporte e Logística (ITL), promoverá quatro painéis reconhecidos pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). A agenda, divulgada recentemente pelo governo federal, reforça o protagonismo do setor no debate global sobre descarbonização e transição energética.

Segundo Vander Costa, presidente da CNT e líder do Sistema Transporte, a participação consolidada é fruto de um esforço contínuo iniciado na COP27, em 2022. “Sabemos do potencial do transporte para acelerar a transição energética do país e temos trabalhado para que o setor seja parte central desse debate”, afirmou.

Uma agenda para acelerar a transição

Os quatro painéis abordam temas considerados estratégicos para enfrentar a crise climática e alinhar o transporte brasileiro às metas globais. Três deles acontecerão na Blue Zone, e um na Green Zone:

  • Infraestrutura Resiliente e Adaptação Climática no Transporte (10/11) – Voltado a discutir como rodovias, ferrovias, portos e hidrovias podem se preparar para os impactos de eventos extremos, como enchentes e deslizamentos. O debate trará exemplos de políticas nacionais e inovações do setor privado, incluindo soluções de infraestrutura verde e digitalização.

  • Financiamento Verde e Políticas Econômicas para o Transporte Sustentável (14/11) – Realizado na Green Zone, destacará instrumentos financeiros como debêntures, green bonds e títulos verdes soberanos. O objetivo é ampliar o acesso de empresas do setor a recursos para projetos de baixo carbono.

  • Pactos Multiníveis para a Descarbonização do Transporte (14/11) – Enfatizará a importância da governança climática participativa, com arranjos que unam governos, empresas e sociedade civil. Experiências como o programa Despoluir, o Hub de Biocombustíveis e a Aliança pelo Transporte Sustentável na Amazônia estarão em pauta.

  • Múltiplas Soluções para a Descarbonização do Transporte (15/11) – Reunirá iniciativas que exploram biocombustíveis, eletrificação e hidrogênio de baixo carbono, ressaltando o papel do Brasil como líder em inovação energética e logística.

Essa programação reforça a visão do setor de que a transição energética não depende de uma única alternativa, mas de um conjunto integrado de soluções.

afp-20250826-72fj9jb-v1-highres-braziluncop30climate-400x225 Transporte brasileiro reforça voz na COP30 em Belém
Foto: Anderson Coelho/AFP

SAIBA MAIS: PMs do Amazonas recebem treinamento do Ibama para fiscalizar transporte de produtos perigosos

Estação do Desenvolvimento: vitrine do setor

Além dos painéis oficiais, o Sistema Transporte terá espaço próprio na conferência: a Estação do Desenvolvimento, estrutura de 4.000 m² com dois palcos e 13 estandes. A expectativa é receber até 12 mil pessoas ao longo dos 12 dias da COP30.

O espaço será uma vitrine para mostrar a transversalidade do transporte, setor que sustenta cadeias como agricultura, indústria e comércio, mas que também é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE). A proposta é dialogar com governos, empresas e sociedade sobre inovações, investimentos e políticas capazes de reduzir emissões e garantir uma transição justa.

Desafios e soluções para o transporte brasileiro

A agenda climática no transporte exige enfrentar desafios estruturais. Entre eles estão a necessidade de modernizar frotas, expandir a multimodalidade, reduzir a dependência de combustíveis fósseis e incentivar tecnologias limpas.

O Sistema Transporte aposta em três frentes principais:

  1. Mudanças estruturais – como renovação da frota e integração entre modais.

  2. Inovações tecnológicas – incluindo biocombustíveis avançados, eletrificação e digitalização da logística.

  3. Transformação comportamental – investindo em capacitação de motoristas e gestores, além de campanhas de conscientização.

Esse tripé já orienta programas como o Despoluir, que desde 2007 promove ações de controle de emissões em veículos, alcançando 18 anos de atuação em 2025.

Um papel articulador no debate climático

Ao chegar à COP30, o Sistema Transporte se apresenta não apenas como representante de um setor econômico, mas como um articulador de políticas climáticas. Sua atuação integra governos, empresas e trabalhadores em uma agenda comum: reduzir as emissões sem comprometer a competitividade e a inclusão social.

Essa postura reflete o reconhecimento de que o transporte é, ao mesmo tempo, parte do problema e da solução para a crise climática. E a participação ativa na conferência reforça a mensagem de que, para o Brasil cumprir suas metas climáticas, o setor precisa estar no centro da transição energética.

Capivara no parque da cidade? Entenda por que elas se adaptaram tão bem ao ambiente urbano

Quem caminha por parques ou margens de rios em várias cidades do Brasil já se acostumou com uma cena curiosa: famílias inteiras de capivaras circulando com tranquilidade, tomando sol e até atravessando ruas com calma, como se fossem moradoras antigas do bairro. Essa convivência pacífica entre humanos e capivaras desperta curiosidade — afinal, como um animal silvestre de grande porte se adaptou tão bem à rotina urbana?

Capivara: a moradora inesperada das cidades

A capivara é o maior roedor do mundo e, curiosamente, uma das espécies que melhor soube aproveitar as mudanças provocadas pelo ser humano no meio ambiente. A urbanização desordenada e a ocupação das margens de rios criaram, sem querer, áreas ideais para sua sobrevivência: locais com gramados, lagos artificiais e abundância de água.

Esses ambientes, típicos de parques e condomínios, oferecem tudo o que a capivara precisa — alimento fácil, segurança contra predadores e espaço para se reproduzir. O resultado é uma presença cada vez mais frequente desses animais nas áreas verdes das cidades, em especial na região Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

O segredo da adaptação: alimentação e comportamento

O segredo da boa adaptação das capivaras está em seu comportamento dócil e na dieta versátil. São animais herbívoros, que se alimentam basicamente de capim, folhas e frutos. Como o capim é abundante nos gramados urbanos e margens de lagos, elas encontram comida o tempo todo, sem precisar competir com outras espécies.

Além disso, as capivaras são sociáveis e vivem em grupos grandes, com hierarquia bem definida. Essa característica ajuda a reduzir o estresse e a fortalecer o grupo, tornando-as mais resistentes a mudanças ambientais. Quando se sentem seguras, passam a viver no mesmo local por longos períodos — o que explica sua fidelidade a certos parques.

Relação com os humanos: curiosidade e desafios

A convivência entre capivara e seres humanos é, na maior parte das vezes, tranquila. Elas não são agressivas e costumam ignorar a presença das pessoas, desde que não sejam ameaçadas. No entanto, o contato direto pode gerar riscos tanto para os animais quanto para os visitantes.

Muitas pessoas, encantadas pela docilidade das capivaras, tentam alimentá-las ou fazer selfies muito próximas. Esse comportamento, além de estressar os animais, pode espalhar doenças, como a febre maculosa, transmitida pelo carrapato-estrela. Por isso, a recomendação é simples: observar de longe e nunca tentar tocar ou alimentar.

Parques e lagos: refúgio e território

Os parques urbanos tornaram-se verdadeiros refúgios para as capivaras. Eles oferecem o que o ambiente natural muitas vezes já não tem: segurança contra caçadores e abundância de água. É comum encontrar grupos inteiros à beira de lagos em cidades como Brasília, São Paulo e Curitiba.

Durante o dia, preferem descansar sob a sombra, e ao entardecer saem em busca de alimento. Por serem excelentes nadadoras, utilizam a água não só para fugir de ameaças, mas também para regular a temperatura corporal e proteger os filhotes.

Essa rotina diária é um dos motivos pelos quais elas conseguem se adaptar tão bem à rotina das cidades — elas aprenderam, literalmente, o ritmo urbano.

Reprodução e aumento populacional

As capivaras se reproduzem com facilidade e rapidez. As fêmeas podem ter de quatro a seis filhotes por gestação e geram até duas ninhadas por ano. Com poucos predadores naturais nas cidades, a população cresce rapidamente, o que explica o aumento do número de grupos nos últimos anos.

Em muitos locais, as prefeituras precisaram criar programas de controle populacional para equilibrar a convivência e evitar superpopulação, que pode afetar o ecossistema local.

A importância ecológica das capivaras

Apesar dos desafios, as capivaras exercem um papel importante nos ecossistemas urbanos. Elas ajudam a controlar o crescimento excessivo de vegetação em torno de lagos e rios, servindo como “podadoras naturais”. Além disso, são presas de grandes felinos em regiões de mata, o que mantém o equilíbrio ambiental nas áreas onde esses predadores ainda existem.

No meio urbano, tornam-se parte da paisagem, um lembrete vivo da força da natureza em se adaptar e coexistir, mesmo diante da expansão das cidades.

Convivência consciente: o papel das pessoas

A presença das capivaras nos parques é um convite à reflexão sobre como os humanos compartilham o espaço com outras espécies. Respeitar o território delas, não deixar lixo e evitar interações diretas são atitudes que garantem uma convivência saudável e segura.

É importante entender que esses animais não são domesticados e que o bem-estar deles depende de um equilíbrio delicado entre liberdade e respeito. Uma simples aproximação indevida pode causar estresse, afastar o grupo e até gerar acidentes.

A beleza da coexistência urbana

Ver uma capivara caminhando tranquila ao lado de ciclistas e famílias é um lembrete de que a vida selvagem ainda encontra formas de florescer entre muros e avenidas. Elas representam um raro exemplo de adaptação bem-sucedida — um símbolo silencioso de resistência e harmonia.

No fim, o segredo está em reconhecer que as cidades não pertencem apenas aos humanos. Quando aprendemos a observar com respeito e curiosidade, percebemos que há espaço para todos — até mesmo para a capivara, a simpática vizinha de quatro patas que conquistou os parques e o coração dos brasileiros.

Leia mais artigos aqui

Conheça também – Revista Para+

10 curiosidades sobre o tatu que podem aparecer em lavouras e até em jardins residenciais

Você sabia que o tatu pode visitar seu quintal durante a noite sem que você perceba? Apesar de parecer um animal misterioso, ele é muito mais comum do que se imagina — especialmente em áreas rurais e até em jardins urbanos próximos a matas ou terrenos baldios. O tatu, com seu corpo coberto por uma carapaça rígida, é um dos símbolos da fauna brasileira e desempenha um papel essencial no equilíbrio ecológico. Mas há muitos detalhes curiosos sobre ele que poucos conhecem.

Tatu: um escavador profissional com papel ecológico importante

O tatu é um verdadeiro engenheiro da natureza. Ele cava tocas profundas que servem não apenas como abrigo, mas também como refúgio para outras espécies. Essas escavações ajudam a arejar o solo e melhorar a infiltração da água — algo benéfico até para quem tem horta ou jardim em casa. Quando ele aparece em lavouras, o motivo quase sempre é o mesmo: busca por alimento.

Seu cardápio é composto principalmente por insetos, minhocas, raízes e pequenos frutos. Em outras palavras, o tatu não destrói plantações por mal, mas por instinto de sobrevivência. Entender esse comportamento é o primeiro passo para lidar com ele de forma sustentável e sem recorrer à caça, que é proibida no Brasil.

1. Existem mais de 20 espécies de tatu

Nem todo tatu é igual ao que você imagina. No Brasil, há mais de 10 espécies catalogadas, e no mundo todo, mais de 20. O mais conhecido é o tatu-galinha, facilmente encontrado em regiões rurais e próximo a lavouras. Já o tatu-bola é o símbolo da fauna do Cerrado e o único capaz de se enrolar completamente quando ameaçado.

2. Ele tem uma “armadura” natural

A carapaça dele é formada por placas ósseas cobertas por queratina — o mesmo material que compõe nossas unhas. Essa estrutura rígida serve como defesa contra predadores e, ao mesmo tempo, permite certa flexibilidade para se movimentar com agilidade.

3. O tatu é um exímio cavador

Com garras fortes e patas curtas, ele consegue cavar em poucos minutos uma toca de até 2 metros de profundidade. Essas tocas são usadas para descanso, abrigo contra o calor e proteção de filhotes. Muitas vezes, pequenos mamíferos e répteis acabam aproveitando essas cavidades depois que o tatu as abandona.

4. O olfato é sua principal arma

Mesmo com visão fraca, o tatu compensa com um olfato extremamente aguçado. Ele consegue detectar insetos e larvas escondidos a vários centímetros de profundidade. É justamente por isso que costuma revirar o solo das hortas — ele está atrás de alimento, não de confusão.

5. Ele tem hábitos noturnos e solitários

Raramente visto durante o dia, ele prefere sair à noite, quando a temperatura está mais amena. É um animal solitário e territorialista, que só se aproxima de outros indivíduos na época de reprodução.

6. Pode viver até 15 anos na natureza

Embora pareça frágil, o tatu é resistente. Em ambientes naturais, pode viver até 15 anos, desde que não seja vítima de caçadores ou atropelamentos — uma das principais causas de morte dessa espécie no Brasil.

7. O tatu ajuda no controle de pragas

Ao se alimentar de insetos, larvas e cupins, ele desempenha um papel ecológico importante no controle de pragas naturais. Em lavouras, sua presença pode até reduzir populações de besouros e formigas, que prejudicam raízes e folhas.

8. Ele é um excelente nadador

Surpreendentemente, o tatu sabe nadar! Ele pode prender a respiração por vários minutos e atravessar pequenos cursos d’água. Quando o rio é mais largo, ele infla o estômago com ar e literalmente “boia” até a outra margem.

9. Existem registros de tatu em áreas urbanas

Com o avanço das cidades sobre o habitat natural, é cada vez mais comum encontrar tatus em bairros periféricos ou áreas com muitos jardins. Eles são atraídos por gramados úmidos e solos férteis, ricos em insetos — um verdadeiro banquete.

10. Ele tem um sistema de reprodução curioso

O tatu é capaz de retardar o desenvolvimento do embrião para ajustar o nascimento dos filhotes às melhores condições do ambiente. Essa estratégia, chamada de implantação tardia, é rara entre os mamíferos e garante mais chances de sobrevivência à prole.

Como lidar com o tatu no jardim sem prejudicá-lo

Se você notou buracos no quintal e suspeita que sejam obra de um tatu, a melhor atitude é agir com equilíbrio. Evite fechar tocas à força ou usar produtos químicos. A alternativa é tornar o ambiente menos atrativo — por exemplo, recolhendo restos de alimentos e evitando irrigar o solo à noite, já que a umidade atrai insetos e, consequentemente, o tatu.

Outra dica é instalar cercas baixas de tela metálica ao redor da horta ou jardim. Elas dificultam o acesso sem causar dano ao animal. Em áreas rurais, agricultores mais experientes preferem redirecionar ele para locais de mata próxima, onde ele pode cavar e se alimentar em paz.

A convivência possível com um visitante da natureza

O tatu pode até parecer um invasor incômodo, mas, na verdade, é um aliado silencioso do equilíbrio ambiental. Sua presença indica um solo vivo, fértil e cheio de micro-organismos benéficos — sinal de que o ecossistema local está saudável.

Mais do que curiosidades, entender o comportamento dele é um convite a olhar para a natureza com respeito. Afinal, ele está aqui muito antes de nós, e tudo o que faz é seguir seu instinto de sobrevivência. Cuidar do ambiente onde ele vive é, no fundo, cuidar também do futuro das nossas próprias lavouras e jardins.

Leia mais artigos aqui

Conheça também – Revista Para+

Lula defende Belém e rebate críticas sobre COP30 na Amazônia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender, em visita a Belém, a escolha da capital paraense como sede da 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30), marcada para novembro. A menos de 40 dias do evento, Lula reagiu às críticas sobre a infraestrutura da cidade, em especial à rede hoteleira e aos preços de hospedagem, atribuindo parte das objeções a preconceito contra a Amazônia.

“Queremos garantir ao mundo que ninguém vai dormir pior aqui do que em qualquer lugar do mundo”, afirmou, em tom desafiador, durante cerimônia de inauguração do Parque Linear da Nova Doca. Para ele, o que falta em luxo será compensado pela hospitalidade da população paraense, capaz de abrir suas casas e oferecer aconchego às delegações internacionais.

A escolha de Belém e o debate sobre hospedagem

Desde o anúncio, a realização da COP30 em Belém gerou controvérsias. Diplomatas e organizações da sociedade civil apontaram limitações da rede hoteleira local, insuficiente para receber as mais de 50 mil pessoas esperadas. Além disso, os preços inflacionados pela alta demanda levantaram queixas de delegações estrangeiras, sobretudo de países africanos.

Lula reconheceu as dificuldades, mas destacou soluções já em curso. Uma delas é o programa de hospedagem alternativa, com famílias locais abrindo suas residências. Outra medida envolve o aluguel de dois cruzeiros de grande porte, capazes de abrigar cerca de 8 mil pessoas, ancorados no porto de Belém durante o evento. “Fomos atrás de navios desses que a gente só vê em novelas e filmes. Pois aqui vai ter dois para quem quiser dormir”, disse.

Além disso, o governo federal e o Governo do Pará prometeram assegurar hospedagem gratuita às delegações de países africanos, em parceria que também deve contemplar alimentação e transporte. O gesto busca reforçar o compromisso de solidariedade com o Sul Global, muitas vezes excluído das grandes negociações climáticas por restrições econômicas.

54829787033_ef7d082126_o-400x239 Lula defende Belém e rebate críticas sobre COP30 na Amazônia
Foto: Ricardo Stuckert

VEJA TAMBÉM: Belém acelera obras e ajustes finais para receber a COP30

Entre críticas e simbolismos

Para Lula, os questionamentos sobre a viabilidade de Belém como sede da COP não se limitam a questões logísticas. Segundo ele, há um componente de preconceito contra a Amazônia, vista por parte da comunidade internacional como incapaz de sediar um evento de porte global. O presidente, contudo, enxerga na conferência uma oportunidade de inversão simbólica: colocar a floresta, seus povos e suas cidades no centro das discussões climáticas.

“Esta COP não é um desfile de moda. Quero que as pessoas conheçam a Amazônia, os rios, as copas das árvores, o nosso povo, os indígenas brasileiros”, afirmou. O tom deixa claro que, para além da agenda diplomática, o governo pretende transformar a conferência em uma vitrine da diversidade amazônica e de sua centralidade no debate ambiental.

O apoio político local

Ao lado de Lula, o governador Helder Barbalho destacou o papel do presidente em manter Belém como sede, mesmo diante de pressões externas para a mudança. “Se essa COP não saiu de Belém, só devemos a uma pessoa: Luiz Inácio Lula da Silva. Eu sei o quanto a ONU tentou constranger e o quanto países tentaram constranger. Mas o senhor foi resiliente e corajoso”, declarou.

A fala de Barbalho reforça a leitura de que a COP30 também se tornou uma questão política doméstica. Para o Pará, a conferência representa oportunidade de investimentos em infraestrutura e visibilidade internacional. Para o governo federal, trata-se de afirmar protagonismo climático e projetar o Brasil como mediador entre países desenvolvidos e emergentes.

Comitiva ministerial e mobilização nacional

A visita presidencial contou com ministros de pastas estratégicas: Rui Costa (Casa Civil), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Jader Filho (Cidades), Margareth Menezes (Cultura), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Celso Sabino (Turismo). Sabino, inclusive, marcou presença em sua última agenda no cargo, após decisão de deixar o governo a pedido do partido União Brasil.

A presença de ministros sublinha o caráter transversal da preparação da COP30, que envolve obras de mobilidade, saneamento, segurança, turismo, cultura e diplomacia. Em Belém, Lula também inaugurou a nova estação de tratamento de esgoto, reforçando o discurso de que a COP deve deixar legados concretos para a população.

Um palco global na Amazônia

A COP30, programada para ocorrer entre 10 e 21 de novembro, será a primeira conferência climática da ONU realizada na Amazônia. O evento não apenas reunirá chefes de Estado e negociadores, mas também milhares de ativistas, pesquisadores, representantes indígenas e movimentos sociais.

Ao insistir em Belém, Lula aposta que a visibilidade internacional ajudará a reverter estigmas históricos e a projetar uma imagem do Brasil como liderança climática. Para além das dificuldades logísticas, o desafio é garantir que a experiência amazônica se converta em força política no debate global sobre justiça climática.