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Membros do ecossistema amazônico se unem para desenhar o futuro da bioeconomia na COP30

Em 10 de novembro, Belém vai pulsar com o poder transformador da Amazônia: acontecerá o Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis da Amazônia: FIINSA COP30, no Campus de Direito do Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA). Promovido por Idesam e Impact Hub Manaus, com correalização do CESUPA e uma ampla rede de apoio, o evento não será apenas um palco de fala; será um laboratório vivo para articular soluções reais para os dilemas socioambientais da região.

Parte central do FIINSA COP30 será dar voz às comunidades, aos jovens, às lideranças locais, bem como às empresas, organizações e investidores que já atuam com impacto. Nomes como Juliana Teles (Impact Hub Manaus), Mariano Cenamo (Idesam / Amaz), Carol Vilanova (Grupo Flor de Jambu), Laura Motta (Mercado Livre), Valcléia Lima (Fundação Amazônia Sustentável) e outros estarão ali para debater desafios concretos: acesso a capital paciente, modelos financeiros que valorizem resultados socioambientais, lacunas regulatórias, limites logísticos, desigualdades de poder no ecossistema amazônico.

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Estrutura, temas e articulação

A abertura se dá com “Da Amazônia para o mundo: soluções reais para uma economia de baixo carbono” — momento em que se busca mapear avanços já alcançados e caminhos ainda por construir. Durante o dia, painéis como “Capital que alavanca impacto”, “Quem senta à mesa”, “Cadê a indústria da Amazônia?”, “Se a bioeconomia é o caminho, por que ela ainda tropeça?” e “O que está funcionando?” vão interligar debates sobre governança, juventude, cultura, bioeconomia, indústria local e sustentabilidade. Haverá também rodas de conversa que convidam à reflexão crítica: sobre crescimento sem atropelos culturais, sobre os pontos cegos da economia da floresta, e ainda sobre o protagonismo jovem nas economias amazônicas.

Além dos debates, o FIINSA COP30 terá feira de sociobiodiversidade — Mercado Amazônia — e espaços culturais, de convivência e gastronômicos que farão da floresta referência estética e simbólica, não apenas recurso. E ao fim do dia, será cocriada a “Carta do FIINSA COP30”, documento oficial com propostas e demandas para avançar a bioeconomia, o protagonismo local e os modelos de negócios sustentáveis. Inteligência artificial será usada para acelerar essa composição, sem perder o toque humano de quem vive a Amazônia.

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Divulgação – FIINSA

Potencial, entraves e urgência

O FIINSA COP30 surge num cenário de urgência. A floresta amazônica enfrenta pressões crescentes: desmatamento, mudanças climáticas, degradação de ecossistemas, desigualdade social. Ao mesmo tempo, há uma fonte de energia criativa: saberes tradicionais, biodiversidade, ecossistemas intactos, comunidades que conservam florestas em pé e práticas culturais que poderiam liderar narrativas alternativas de desenvolvimento.

Entretanto, esse potencial esbarra em obstáculos duradouros: falta de infraestrutura — estradas, logística, transporte de produtos amazônicos; regulamentos que não dialogam com realidades locais; barreiras de acesso a crédito que considera risco alto demais; modelos de investimento que priorizam lucro imediato em vez de sustentabilidade de longo prazo; exclusão de certas vozes — jovens, povos tradicionais, mulheres — na formulação de políticas e negócios.

O FIINSA COP30 tenta virar essa página, ao colocar na mesa quem frequentemente fica fora dela. Ao reunir múltiplos atores, ao cultivar espaços de diálogo além do técnico, ao exigir resultados concretos — como uma carta-carta de compromissos — o evento aposta que identificar os gargalos já conhecidos é parte da construção de soluções.

É uma Amazônia que quer mais do que ser cenário; quer ser protagonista. O FIINSA COP30 representa um momento estratégico: deixar de apenas apontar problemas e começar a construir — junto — alternativas práticas. O sucesso do festival vai depender não só do que for discutido, mas do que se articular, do que for executado depois, do poder de cada voz para impor mudanças. Se o evento conseguir catalisar compromissos reais, mobilizar recursos efetivos e garantir protagonismo local, será uma peça importante na trajetória de uma Amazônia inovadora, inclusiva e sustentável.

Amazônia mira bilhões em créditos de carbono e aposta em modelos jurisdicionais

Os nove estados da Amazônia Legal estão se movimentando para transformar o potencial de suas florestas em receita e políticas públicas. Com a aproximação da COP30, que será sediada em Belém, cresce a expectativa de que a região atraia investimentos por meio de mecanismos de mercado de carbono, especialmente o REDD+ Jurisdicional (JREDD+), ferramenta que contabiliza reduções de emissões em nível estadual ou nacional.

De acordo com o Earth Innovation Institute, instituto de pesquisa sediado na Califórnia, os estados amazônicos podem gerar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões até 2030 com a venda de créditos de carbono resultantes da redução do desmatamento e da degradação florestal. Acre, Tocantins, Pará e Mato Grosso estão na dianteira desse movimento e, juntos, podem emitir até 100 milhões de créditos até 2026, somando uma receita potencial de US$ 1,5 bilhão — valor superior ao total doado ao Fundo Amazônia desde sua criação.

Tocantins abre caminho global

O pioneirismo veio do Tocantins, que em 2023 lançou uma chamada pública para atrair parceiros privados interessados em estruturar e adquirir créditos jurisdicionais. O estado firmou um acordo com a suíça Mercuria Energy Group, que aportou R$ 20 milhões por meio de seu fundo Silvania e se comprometeu a comprar e comercializar os créditos até o fim da década. A projeção é de 50 milhões de créditos até 2030, equivalentes a mais de R$ 2,5 bilhões.

O Tocantins foi também a primeira jurisdição subnacional do mundo a registrar seu projeto no padrão internacional ART Trees, em novembro de 2024, durante a COP29, em Baku. A auditoria independente reconheceu a metodologia aplicada ao cálculo das reduções entre 2020 e 2024, que somam 13 milhões de toneladas de carbono equivalente. Esses créditos devem chegar ao mercado em 2026.

O processo contou com mais de 50 oficinas e audiências públicas envolvendo povos indígenas, comunidades tradicionais, produtores rurais e órgãos públicos. A experiência inspirou a campanha Race to Belém, que busca ampliar os projetos jurisdicionais em todo o país, com US$ 100 milhões em investimentos do fundo Silvania e apoio das organizações We Mean Business Coalition, The Nature Conservancy (TNC) e Conservação Internacional.

Segundo Natália Renteria, diretora da Race to Belém no Brasil, o avanço do JREDD+ representa uma mudança de paradigma: “O Brasil já demonstrou sucesso em políticas de comando e controle, mas o futuro está em criar incentivos econômicos positivos para proteger as florestas”.

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Acre amplia sua tradição florestal

No Acre, o modelo de JREDD+ tem raízes antigas. O estado participou, em 2012, do programa piloto REDD Early Movers, apoiado pelos governos da Alemanha e do Reino Unido. A experiência serviu de base para a atual estratégia, que prevê redução de 50% do desmatamento até 2027, sendo metade dessa meta já alcançada no primeiro ano de execução.

Em agosto, o Acre firmou parceria com o banco Standard Chartered, de Londres, que será responsável por comercializar seus créditos de carbono pelos próximos cinco anos. O estado pretende gerar entre 30 e 50 milhões de créditos até 2030, financiando programas de regularização ambiental, agricultura de baixo carbono, fomento à borracha, cacau e mel, além de iniciativas para povos indígenas.

Pará reforça protagonismo amazônico

Sede da COP30, o Pará também avança com um plano ambicioso de JREDD+. Em 2023, o governo estadual assinou um acordo com a Coalizão LEAF e sua coordenadora, a Emergent, para a compra de até 12 milhões de créditos de carbono gerados entre 2023 e 2026. Cada crédito foi negociado a US$ 15 por tonelada, com previsão de destinar 85% dos recursos a comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas, protagonistas na conservação da floresta.

O governador do Pará afirmou que o programa de créditos jurisdicionais representa uma virada de chave na economia amazônica: “Queremos transformar a floresta em um ativo econômico sustentável, que beneficie quem a protege”.

O caminho da Amazônia na economia verde

A consolidação do JREDD+ como política pública regional pode redefinir a relação entre economia e meio ambiente na Amazônia. Ao incorporar o valor do carbono evitado à gestão territorial, os estados criam uma nova fonte de receita estável e associada à preservação. Essa lógica, defendem especialistas, poderá ser o grande legado da COP30 em Belém: provar que conservar florestas pode ser tão rentável quanto destruí-las.

Cecoop reúne autoridades para fortalecer cooperativismo no Pará

O fortalecimento do cooperativismo no Pará ganhou novos impulsos durante a 2ª reunião ordinária do Conselho Estadual de Cooperativismo (Cecoop), realizada na sede da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), em Belém, na tarde de quarta-feira (8). Presidido pela Sedeme, o Conselho reúne representantes de dez instituições, incluindo órgãos públicos, o Poder Legislativo e entidades da sociedade civil, e tem como missão coordenar políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do cooperativismo no Estado.

O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Paulo Bengtson, que também preside o Cecoop, abriu a reunião destacando o crescimento robusto do setor e o papel estratégico da Diretoria de Cooperativismo da Sedeme (Dcoop/Sedeme). Segundo ele, a criação dessa diretoria representa um avanço institucional importante, reforçando o compromisso do governo paraense com o fortalecimento das cooperativas. Bengtson salientou que o cooperativismo é um dos segmentos mais pujantes da economia estadual e que boa parte do desenvolvimento econômico do Pará atualmente passa pelo desempenho dessas organizações. Ele ressaltou ainda que, no último trimestre, o Estado liderou entre todos os estados brasileiros na geração de empregos formais, evidenciando a relevância da parceria entre governo, cooperativas e setor produtivo.

Durante a reunião, foram apresentados os novos membros do colegiado para o biênio 2025–2027, consolidando a estrutura de governança do Cecoop. A pauta incluiu a aprovação do Regimento Interno do Conselho, um instrumento que agora formaliza e regulamenta o funcionamento do colegiado, servindo como guia para suas ações e decisões.

Outro ponto central da reunião foi a apresentação dos resultados da ação “Presidente Itinerante”, iniciativa conduzida pelo Sistema OCB/PA e liderada pelo presidente Ernandes Raiol, com suporte do superintendente Júnior Serra e da diretora Luziane Sena. O projeto atua na identificação das demandas das cooperativas, no estreitamento de relações institucionais e na promoção da intercooperação entre diferentes municípios. A ação tem sido considerada um mecanismo eficaz para ampliar a presença e o impacto das cooperativas paraenses em escala estadual.

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Divulgação – Ag. Pará

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O encontro também discutiu estratégias para estimular a aquisição de produtos e serviços das cooperativas por secretarias estaduais, fortalecendo sua participação no mercado local e garantindo a sustentabilidade econômica dessas organizações. Além disso, foram destacados casos de cooperativas paraenses com atuação relevante e impacto positivo no desenvolvimento social e econômico do Estado.

A reunião contou ainda com a presença de Alberto Villar da Silva Pantoja, presidente do Conselho Estadual do Trabalho, Emprego e Renda do Pará (Ceter/PA) e membro do Cecoop. Pantoja enfatizou o crescimento expressivo das cooperativas, afirmando que o Conselho se tornou cada vez mais estratégico diante das demandas do setor. Ele destacou que a participação de diversos órgãos estaduais oferece oportunidades concretas para ampliar o apoio institucional e fortalecer o cooperativismo no Pará.

A diretora de Cooperativismo da Sedeme, Luziane Sena, reforçou a importância da continuidade das ações do Cecoop, ressaltando que a reunião marcou o início de uma nova frente de trabalho voltada ao setor. Ela observou que a Diretoria de Cooperativismo atua como Secretaria Executiva do Conselho, garantindo que o objetivo principal — formular e implementar políticas públicas para fortalecer as cooperativas — seja plenamente alcançado, transformando a realidade do setor no Estado.

A atuação do Cecoop e da Dcoop/Sedeme evidencia a prioridade do governo em consolidar o cooperativismo como vetor de desenvolvimento econômico, social e sustentável no Pará. Com iniciativas como a “Presidente Itinerante”, a formalização do Regimento Interno e a articulação para compras institucionais, o colegiado demonstra que o fortalecimento das cooperativas não se limita ao apoio financeiro, mas envolve planejamento estratégico, capacitação e integração institucional, ampliando o impacto das cooperativas em toda a sociedade.

Lições práticas de circularidade das fábricas têxteis da China para outras cidade

A China atravessa uma fase de ajuste profundo: com sua economia esfriando, a expectativa de crescimento caiu para cerca de 4,5 % em 2025, e compradores globais reconfiguram cadeias de fornecimento em busca de produtos com menor consumo de água e energia, e menor impacto químico. Nesse cenário, não basta apenas sonhar com competitividade sustentável — é urgente provar resultados concretos nos processos produtivos, especialmente entre as micro, pequenas e médias indústrias têxteis (MPMEs).

Nas cidades chinesas de Huzhou e Shaoxing, o projeto SWITCH-Asia, apoiado pela União Europeia e executado pela rede ICLEI, trabalha exatamente nisso: reduzir o uso de água por unidade, aumentar a produtividade energética, melhorar a rastreabilidade química e fortalecer incentivos como crédito verde e rotulagem.

Seis lições práticas da fábrica

A partir do trabalho com governos locais, institutos técnicos como o China National Institute of Standardization (CNIS), o China Textile Development Center (CTDC), o parceiro MedWaves e as próprias empresas, emergem seis vetores úteis para qualquer cidade ou parque industrial que deseje avançar:

  1. Capacitar quem opera as máquinas, não só as lideranças
    O pleno aproveitamento de melhorias exige que quem está na linha de produção entenda o que está se mudando, por que vale a pena, como ajustar os equipamentos e detectar problemas logo. Há exemplos de treinamentos muito práticos: sessões curtas, junto à máquina, focadas nos ajustes necessários, nas novas rotinas de controle de qualidade e no registro visível dos ganhos.

  2. Centralizar a circularidade
    A reciclagem se perde quando etapas como coleta, triagem e pré-processamento estão espalhadas. Um polo que reúna essas funções reduz custo, desperdício e complexidade. Em Shaoxing, está em andamento a expansão de um parque industrial ecológico circular que pretende reunir esses elos e tornar o desempenho transparente.

  3. Corrigir primeiro o que está fácil: embalagens e transporte curto
    O desperdício mais imediato muitas vezes nem está na máquina, mas nos insumos descartáveis, nas caixas de transporte de um estágio a outro, nos deslocamentos internos desnecessários. Padronizar embalagens reutilizáveis ou retornáveis, ajustar rotas curtas, eliminar deslocamentos estéreis traz retorno rápido, visível.

  4. Dar valor real à rotulagem ambiental e de carbono
    Rótulos só de “sustentável” ou “baixo carbono” não bastam se não abrirem caminhos concretos: financiamento mais barato, pontos em compras públicas, descontos em taxas. Um serviço integrado — para ajudar empresas a preencher papéis, encontrar fornecedores certificados, dialogar com bancos — transforma rótulos de obrigação burocrática em vantagem competitiva. Shaoxing já concedeu certificados de Carbon Label a firmas, apoiadas por plataformas que facilitam o cálculo de pegadas de carbono e ligam isso a incentivos públicos.

  5. Ajustar instrumentos financeiros ao porte das empresas
    Sem atenção, os maiores captam quase todo o “dinheiro verde”. As MPMEs ficam para trás porque os bancos veem risco. Soluções como garantias baseadas em dados reais de poupança de recursos, crédito com juros subsidiados só após comprovação de melhoria, linhas menores porém acessíveis, podem nivelar o terreno.

  6. Traçar rastreabilidade: começar simples, depois evoluir
    Marcas verdadeiramente confiáveis dependem de registros limpos, claros. É mais viável começar rastreando produtos de material único ou pontos-chave do processo, criando um banco de dados compartilhado, do que tentar rastrear misturas complexas/aditivos logo de início. Conforme se ganha experiência, amplia-se para produtos mais complexos sem comprometer credibilidade.

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Reprodução

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Um plano de 90 dias para colocar em prática

Estas lições deixam claro que, reunidas, elas convergem para ganhos visíveis: menor consumo de água e energia por peça, menos transporte vazio, dados químicos confiáveis, aprovação mais rápida de financiamentos verdes, manutenção de empregos, melhoria da confiança de compradores. O importante é começar pequeno, medir e tornar visível.

Aqui vai um roteiro de ação, com seis frentes e três passos cada, para aplicar em 90 dias:

Lever (alavanca)Três passos práticosMétrica proposta
Treinar quem opera1. Duas-três horas de treino prático por linha.
2. Voucher de upgrade que se resgate junto com o treinamento.
3. Procedimento operacional padrão (SOP) de uma página + certificação do operador.
Percentual de operadores certificados ≥ 80 %.
Centralizar circularidade1. Definir um “Hub Circular” que reúna coleta, triagem, pré-processamento.
2. Criar regras de aceitação + calendário de coleta.
3. Publicar mensalmente a quantidade processada e pureza do material.
Produção “Grau-A” ≥ 85 %.
Embalagens e transporte1. Padronizar uma ou duas caixas reutilizáveis.
2. Sistema de retorno com depósito/QR.
3. Medir semanalmente taxa de retorno nos portões.
Taxa de retorno ≥ 95 %.
Rotulagem que vale algo1. Criar uma mesa única para rótulos (apoio, documentos, fornecedores).
2. Estabelecer recompensas tangíveis (compras públicas, descontos, termos de empréstimo).
3. Encontros mensais entre empresas e bancos.
Tempo de aprovação do rótulo caindo mês a mês.
Financiamento ajustado1. Publicar cifra de empréstimos verdes às MPMEs permanentemente.
2. Micro-arrendamentos repagos com base nas economias de recursos verificadas.
3. Subsídio de juros só depois que as economias forem demonstradas.
Participação MPME no crédito verde aumentando com o tempo.
Rastreabilidade incremental1. Pilotar um SKU de material único.
2. Três checagens por QR: insumo-→uso de químicos→produto final.
3. Banco de dados compartilhado; blends vêm depois.
Conformidade de digitalização/scans ≥ 90 %.

Reflexões e implicações

A trajetória de Huzhou e Shaoxing mostra que a transição circular não exige soluções radicalmente novas — ela prospera quando se combinam inovação operacional, política pública inteligente, capacidade técnica e incentivos concretos. Para cidades de outros países, especialmente aquelas onde a indústria têxtil ainda é pilar econômico, essas lições valem ouro: ajustes relativamente simples no chão de fábrica, quando apoiados por rotulagem, acesso ao crédito e rastreabilidade, podem gerar impacto ambiental, social e econômico rapidamente. A chave é agir com métricas visíveis, alinhar incentivos, envolver quem faz de fato o trabalho (operários, operadores, equipes de chão), e construir infraestrutura de suporte (hubs, centros de certificação, serviços de rotulagem e finanças verdes).

Quando a diplomacia emperra, as cidades tomam a frente contra o plástico

Enquanto as negociações internacionais para um tratado global sobre poluição plástica chegaram a um impasse em Genebra no mês passado, com golpes de bastidor e disputas entre blocos de países, as cidades-membros da rede ICLEI mostram que ação local não espera que acordos globais se concretizem. Mesmo sem um tratado vinculante, governos municipais estão reduzindo a poluição plástica com criatividade, pragmatismo e redes de economia circular.

No front diplomático, a disputa é crua. Um grupo de países, denominado High Ambition Coalition to End Plastic Pollution, exige cortes na produção e responsabilidades mais rígidas para fabricantes. Já na outra ponta, potências como China, Rússia e Arábia Saudita insistem por ênfase na gestão de resíduos. Os debates se acirram em pontos sensíveis: quem assume responsabilidade os produtores? Que níveis de produção devem ser limitados, de onde virá o financiamento? Enquanto isso, a paralisação deixa uma lacuna, um vácuo que cidades e governos locais precisam preencher.

Por que as cidades assumem o protagonismo

Com o impasse global, cabe aos governos locais e regionais agir como ponta de lança na redução da poluição plástica. A ICLEI Europa oferece apoio técnico, protocolos e soluções testadas que permitem às cidades saltar de sistemas baseados no uso único para esquemas de reutilização. Em vez de esperar que os estados nacionais resolvam, uma prefeitura pode já criar políticas de compras que favorecem materiais recicláveis ou reutilizáveis, exigindo fornecedores que demonstrem mínimo impacto plástico.

Cidades como Amsterdam e Copenhague, ambas membros da ICLEI, estão na vanguarda do Circular Cities Frontrunner Group, um grupo de cidades que defendem políticas de aquisição pública mais ambiciosas e financiamento escalado para programas circulares. Essas capitais europeias representam mais de 50 milhões de habitantes sob governos dispostos a conduzir mudanças sistêmicas em escala urbana.

Em Tirana (Albânia), a prefeitura adotou medidas colaborativas: atua com empresas locais para implementar sistemas de reaproveitamento de embalagens em eventos públicos, e fomenta o empreendedorismo feminino no setor de reutilização plástica. Já em Zaragoza (Espanha), a municipalidade é parceira ativa no projeto REDOL, que busca redesenhar cadeias plásticas e de embalagem por meio de simbiose industrial-urbana — aspirando desviar 80% dos fluxos de resíduos do descarte tradicional e tratar 12 mil toneladas de material por ano.

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Michell Mello/Fiocruz Amazônia

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O REDOL: redesenhando plásticos com lógica local

O projeto REDOL (Aragon’s REgional Hub for circularity: Demonstration Of Local industrial-urban symbiosis) propõe uma abordagem sistêmica para transformar resíduos urbanos em recursos valorizados. Operando até 2026, REDOL abrange cinco cadeias de resíduos: embalagens, plásticos, resíduos de construção e demolição (CDW), têxteis e resíduos elétricos e eletrônicos (WEEE). O foco é criar hubs urbanos-circulares, otimizar rotas, digitalizar mercados e promover modelos de negócios inovadores e replicáveis.

Em Zaragoza, o objetivo é transformar a cidade num polo de circularidade até 2040, evitando que cerca de 144.720 toneladas de resíduos urbanos sejam descartadas. Estima-se que o projeto gere economia de € 14 bilhões e reduza 280 mil toneladas de CO₂ ao ano. REDOL também prevê replicação em outras cidades como Amsterdam, Prato (Itália) e Bornholm (Dinamarca).

Assim, Zaragoza serve como laboratório para demonstrar que abastecer redes locais de reaproveitamento plástico é viável, benéfico e escalável: uma lição valiosa para outras cidades que enfrentam o dilema da poluição plástica.

Estratégias e aprendizados urbanos

Com base nas experiências de cidades que já agem, podemos extrair caminhos práticos que não dependem de tratados globais:

1. Priorizar esquemas de reúso sobre descarte
Ao substituir embalagens descartáveis por modelos reutilizáveis e circulares, a cidade reduz resíduos no ponto de origem. Isso exige logística reversa eficiente (depósitos, sistemas QR de retorno, campanhas ciclando recipientes). A ICLEI ajuda a construir esses modelos e integrar exigências nas contratações públicas.

2. Desenhar políticas de aquisição municipal alinhadas à circularidade
Prefeituras compram muitos bens (papel, utensílios, embalagens). Ao exigir critérios ecológicos — por exemplo, materiais reciclados ou reaproveitáveis — os governos municipais criam demanda estável para soluções circulares. É uma alavanca poderosa.

3. Conectar resíduos urbanos à indústria local
Transformar resíduos plásticos em insumos para fábricas próximas reduz custos logísticos e cria sinergias. Projetos como REDOL demonstram como plásticos pós-consumo podem alimentar cadeias industriais de embalagens, construção e têxteis em circuitos fechados.

4. Inovar modelos financeiros e de responsabilização
Cidades podem exigir que fabricantes assumam parte do ciclo pós-consumo (responsabilidade estendida do produtor). Também é possível criar subsídios ou bônus para empresas que comprovarem redução plástica. Mesmo sem um tratado global, essas políticas locais já mudam incentivos.

5. Monitorar resultados com métricas claras e visíveis
A transparência é essencial: percentuais de retorno de embalagens, volumes de plástico evitado, participação cidadã, emissões evitadas. Dados públicos permitem ajustar programas e demonstrar impacto — o que fortalece legitimidade e mobilização social.

Rumo ao futuro: cidades moldando o tratado que ainda não existe

Embora a crise das negociações globais gere frustrações, esse vácuo abre espaço para governos locais ocuparem o protagonismo. Ao provar que a ação urbana faz efeito, cidades criam uma base de fato para futuros acordos. A ICLEI continuará a coordenar a Coalition of Local and Subnational Governments to End Plastic Pollution, integra os programas da ICLEI Europa e estimula novas adesões à causa.

Se sua cidade quiser embarcar nessa rota, já há luzes acesas: assinar a Circular Cities Declaration (uma iniciativa que congrega compromissos de circularidade para governos locais) ou dialogar com a ICLEI Europa sobre programas de apoio e replicação.

Enquanto o tratado global aguarda solução diplomática, as cidades que agem hoje ajudam a reconstruir o arcabouço onde ele pode de fato se sustentar amanhã.

Brasil pode dobrar produção de biocombustíveis sem desmatar, revela estudo

Um novo estudo mostra que o Brasil pode mais do que dobrar a produção e o consumo de biocombustíveis até 2050, sem precisar abrir novas áreas de floresta. A análise, elaborada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) em parceria com o GT Clima e Energia do Observatório do Clima, indica que o país pode expandir sua matriz de bioenergia utilizando apenas parte dos 100 milhões de hectares de pastos degradados que hoje ocupam 12% do território nacional.

Segundo o estudo “Biocombustíveis no Brasil: alinhando transição energética e uso da terra para um país carbono negativo”, essa expansão seria compatível com o desmatamento zero e com a recuperação de áreas naturais. O documento propõe o uso de 20 a 35 milhões de hectares — menos de um quarto dos pastos degradados — para o cultivo agrícola voltado à bioenergia, sem comprometer a produção de alimentos.

“Há um grande estoque de terras degradadas que pode ser recuperado de forma produtiva, com salvaguardas ambientais rigorosas”, afirma Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do Iema e autor do estudo. Ele destaca o papel de cultivos mais produtivos, como a macaúba, e de tecnologias avançadas, como o etanol de segunda geração, para alcançar as metas de expansão sustentável.

A nova fronteira da bioenergia

A pesquisa analisou seis cenários possíveis para o futuro dos biocombustíveis no país, considerando diferentes matérias-primas e tecnologias para produção de etanol, biodiesel, diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF). Quatro desses cenários se mostraram compatíveis com o uso responsável da terra, exigindo entre 20 e 35 milhões de hectares adicionais — dentro do limite proposto pelo estudo.

Entre os cenários viáveis estão:

  • Cana/Macaúba 2050: 21 milhões de hectares, com toda a produção de etanol, diesel verde e SAF derivada da cana e biodiesel da macaúba.

  • Macaúba 2050: 26 milhões de hectares, com toda a bioenergia gerada a partir da macaúba e do etanol de cana.

  • Cana/Soja/Macaúba 2050: 27 milhões de hectares, combinando soja, milho e cana.

  • Cana 2050: 34 milhões de hectares, baseada em cana e milho de segunda safra.

Atualmente, o Brasil utiliza 31,4 milhões de hectares para a produção de bioenergia, incluindo áreas de silvicultura — florestas plantadas, como eucalipto e pinus, destinadas à produção de lenha e carvão vegetal.

Os pesquisadores destacam que o avanço das tecnologias de etanol de segunda geração e o aproveitamento do bagaço da cana podem reduzir a pressão sobre novas áreas. Também há potencial para integrar o etanol com a produção de diesel verde e SAF, por meio da tecnologia Alcohol to Jet (ATJ), que converte o etanol diretamente em combustível de aviação.

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Foto: Elza Fiúza/ABR

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Macaúba: a aposta nativa

Entre as matérias-primas analisadas, a macaúba (Acrocomia aculeata) se destaca por sua alta produtividade e caráter nativo. Segundo dados da Embrapa, a palmeira pode gerar 4 mil quilos de óleo por hectare, cerca de dez vezes mais do que a soja. Além disso, é uma espécie adaptável a diferentes regiões do país, o que facilita sua expansão sem impactos ambientais significativos.

Já a soja, principal fonte atual de biodiesel, enfrenta limitações. Cenários centrados nela exigiriam áreas muito maiores, comprometendo as metas ambientais. No chamado “Business as Usual 2050”, por exemplo, a produção baseada quase exclusivamente em soja demandaria 97 milhões de hectares — mais do que o total de terras degradadas disponíveis. Isso inevitavelmente levaria à abertura de novas áreas naturais.

Mesmo no cenário “Foco na Soja 2050”, mais eficiente, seriam necessários 55 milhões de hectares, o que deixaria pouco espaço para a produção de alimentos e outras matérias-primas agrícolas essenciais.

Caminhos para um país carbono negativo

O estudo toma como base a meta de redução de 92% das emissões de gases de efeito estufa até 2035, em relação a 2005: proposta pelo Observatório do Clima na atualização da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil no Acordo de Paris. Ele também considera crescimento econômico médio de 2,1% ao ano até 2050 e o fortalecimento de políticas de uso do solo e monitoramento ambiental.

Com essas condições, o consumo nacional de biocombustíveis pode saltar de 102 milhões para 221 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep) até 2050. A matriz energética se tornaria mais diversificada e tecnológica, incluindo maior participação do diesel verde e do SAF.

A conclusão do Iema é clara: o Brasil tem condições de liderar uma transição energética justa e sem desmatamento, desde que adote planejamento territorial rigoroso e garanta prioridade à produção de alimentos. A bioenergia, nesse cenário, deixa de ser um vetor de pressão sobre o meio ambiente para se tornar um motor da recuperação de terras degradadas e da economia verde.

Gás do Pará articula logística para levar energia ao interior do Estado

A Companhia de Gás do Pará (GdP) acaba de dar um passo estratégico rumo à expansão de sua rede de distribuição de gás natural no Estado. Em encontro com diretores do Grupo Reicon, referência em logística e transporte rodofluvial na região Norte, a GdP discutiu planos para levar o gás de Barcarena a localidades longínquas como o Baixo Amazonas, o Baixo Tocantins e cidades do sudeste paraense, além da Região Metropolitana de Belém.

Durante a reunião, realizada na sede da companhia, o diretor-presidente da GdP, Flexa Ribeiro, o diretor administrativo e financeiro, André Macedo, e o diretor técnico comercial, Paulo Guardado, debateram alternativas logísticas para levar Gás Natural Liquefeito (GNL) a grandes volumes até municípios como Marabá, Oriximiná, Munguba e Juruti. Do lado da Reicon, participaram os diretores José Rebelo III, Francisco Guzzo Júnior e Pelágio Carvalho, trazendo à mesa a expertise no transporte de combustíveis líquidos via rodofluvial.

Flexa Ribeiro destacou que a demanda por gás no Pará já desperta mobilização local: “Têm nos procurado representantes de empresas e municípios que aguardam a chegada do gás natural. Estudamos soluções específicas para alcançar cada região”. Ele enfatizou que a expansão da rede responde à diretriz do governador Helder Barbalho e da vice-governadora Hana Pereira, alinhada à estratégia chamada “Gás Por Todo o Pará”.

Estratégias logísticas em análise

A GdP busca alternativas diversas para viabilizar o transporte do gás natural até áreas remotas. Uma delas prevê o uso de carretas para transportar Gás Natural Comprimido (GNC) em um raio de até 150 quilômetros a partir de Barcarena, contemplando municípios da Grande Belém. Esse plano serve como base para introduzir o Gás Natural Veicular (GNV), oferecendo aos consumidores paraenses uma opção mais limpa e, possivelmente, mais barata para abastecimento automotivo.

Se a estratégia prosperar, a GdP poderá articular distribuição de GNL ou GNC a locais que hoje enfrent escassez de infraestrutura energética moderna. O uso de transportes combinados — rodofluvial + rodoviário — aparece como uma alternativa promissora para encurtar distâncias geográficas e aumentar a capilaridade do fornecimento.

Esse esforço técnico não busca apenas expandir a malha física, mas viabilizar uma transição energética no Pará, com menor uso de combustíveis fósseis mais poluentes, redução nas emissões de CO₂ e melhoria do acesso ao gás como fonte de energia industrial, comercial e residencial. A companhia também aposta que o gás poderá impulsionar o desenvolvimento local, apoiar atividades industriais, inclusive aquelas que dependem de energia estável e de menor custo, e reconfigurar o perfil energético de municípios antes fora da malha.

20251009135819-GC00071462-F00266822-400x225 Gás do Pará articula logística para levar energia ao interior do Estado
Divulgação – Ag. Pará

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Os desafios de levar gás ao interior

Levar gás natural a regiões remotas apresenta desafios logísticos e regulatórios de monta. A infraestrutura de dutos costuma demandar altos investimentos e passa por dificuldades de terreno, topografia, travessias fluviais e longas distâncias entre centros urbanos. Por isso, o uso de caminhões e carretas para transporte de GNC torna-se uma alternativa mais flexível e adaptável.

No modelo planejado, o gás liquefeito seria transportado até pontos estratégicos, descarregado e reodidado para vasos de pressão ou redes menores que distribuem ao consumidor final. Outro fator vital é a viabilidade econômica: o custo de transporte e compressão precisa ser compatível para que o produto chegue ao usuário com preço competitivo.

Para tanto, a parceria com a Reicon faz todo sentido: a empresa já domina o transporte rodofluvial de combustíveis líquidos na Amazônia. Sua experiência poderá ser decisiva para superar gargalos de logística fluvial, transbordo e integração rodoviária nas rotas mais desafiadoras do Pará.

Impactos esperados e significados para o Estado

Se concretizado, o projeto representará um salto para o projeto energético do Pará. Municípios historicamente afastados dos grandes centros terão acesso a gás natural, o que pode viabilizar indústrias, gerar emprego e reduzir custos energéticos. Para residências e comércios, o gás representa alternativa mais limpa e eficiente ao óleo diesel ou ao uso intenso de energia elétrica em aquecimento ou cocção.

Além disso, a introdução do GNV em áreas metropolitanas e distantes pode reduzir poluentes veiculares, melhorar a qualidade do ar e diversificar a matriz de combustíveis no Estado.

O movimento também se insere no discurso nacional de descentralização energética: não basta concentrar infraestrutura nas regiões mais densas; ampliar o acesso é fundamental para uma transição justa.

Perspectiva e próximos passos

O avanço desse plano depende de execução técnica, viabilidade econômica e parcerias público-privadas. A GdP e a Reicon deverão mapear rotas viáveis, definir terminais de recepção, pontos de distribuição intermediários, infraestrutura de compressão e logística reversa, dependendo dos locais.

Também será essencial garantir apoio regulatório estadual e federal para definir contratos, tarifas e subsídios se necessários, bem como acompanhar a demanda local, estudo de mercado e viabilidade para o GNV.

Em suma, o encontro entre Gás do Pará e Reicon abre caminho para reescrever a geografia energética do Estado: conectar Barcarena ao interior por gás natural, transformar cidades isoladas com energia moderna e impulsionar uma transição mais limpa e inclusiva.

Sapo-cururu como ele controla insetos e qual o risco real para cachorros e gatos

Quem mora em áreas com jardim ou quintal já deve ter se deparado com um sapo-cururu, principalmente nas noites quentes e úmidas. Grande, imóvel e de aparência pouco simpática, ele desperta curiosidade — e também medo, principalmente em quem tem pets. A verdade é que o sapo-cururu é um dos melhores controladores naturais de insetos, mas ao mesmo tempo representa um perigo real para cachorros e gatos que tentam tocá-lo ou mordê-lo.

Sapo-cururu: o aliado natural no controle de insetos

O sapo-cururu, conhecido cientificamente como Rhinella marina, é um anfíbio noturno que desempenha um papel importante no equilíbrio ambiental. Ele se alimenta de baratas, besouros, formigas, grilos e até escorpiões — o que o torna um verdadeiro “guardião” natural contra pragas. É justamente por isso que costuma aparecer em quintais, hortas e jardins: ele é atraído pelos insetos que se acumulam perto da luz ou em locais úmidos.

Seu método é simples e eficiente. O sapo-cururu espera imóvel até que a presa se aproxime. Em segundos, ele projeta a língua viscosa e captura o inseto com precisão. Essa habilidade faz dele uma espécie extremamente útil, reduzindo a necessidade de venenos químicos no ambiente.

Mas o problema começa quando cães e gatos curiosos decidem “brincar” com ele.

1. O perigo está nas glândulas de defesa

O corpo do sapo-cururu possui glândulas chamadas paratoides, localizadas atrás dos olhos. Elas liberam uma substância leitosa e tóxica, conhecida como bufotoxina — um mecanismo de defesa contra predadores.

Para animais domésticos, especialmente cães, o contato com essa substância pode ser fatal. Quando o cachorro lambe, morde ou até encosta na pele do sapo, a toxina é absorvida rapidamente pelas mucosas da boca e língua.

Os primeiros sintomas de envenenamento aparecem em poucos minutos: salivação intensa, tremores, dificuldade para respirar, vômitos e, em casos graves, convulsões. Se o atendimento veterinário não for imediato, o animal pode não resistir.

Gatos também correm risco, embora tendam a ser mais cautelosos. Ainda assim, se houver contato direto, o perigo é o mesmo.

2. O que fazer em caso de contato com o sapo-cururu

Se o seu pet tiver contato com um sapo-cururu, o primeiro passo é agir rápido. Lave imediatamente a boca do animal com água corrente, usando uma mangueira ou seringa, sempre direcionando o jato de água para fora, evitando que ele engula a toxina.

Em seguida, leve o animal ao veterinário com urgência, mesmo que os sintomas pareçam leves. O tratamento precoce aumenta as chances de recuperação e reduz o risco de danos neurológicos.

Nunca tente dar leite, óleo ou outros líquidos caseiros — isso pode agravar a intoxicação. E, se possível, identifique o local onde o sapo foi encontrado, pois o veterinário pode precisar dessas informações para ajustar o tratamento.

3. Como afastar o sapo-cururu sem prejudicar o equilíbrio ambiental

Apesar do perigo para pets, o sapo-cururu não deve ser eliminado. Ele é um animal nativo e exerce uma função ecológica essencial. A melhor estratégia é evitar o encontro entre ele e seus animais de estimação.

Veja como fazer isso:

  • Iluminação controlada: luzes externas atraem insetos, que atraem sapos. Use lâmpadas amareladas ou sensores de presença para reduzir o fluxo de insetos.

  • Evite deixar ração do lado de fora: restos de comida atraem formigas e baratas, e consequentemente os sapos.

  • Crie barreiras físicas: se o quintal tiver muro baixo, instale telas ou placas para impedir o acesso.

  • Mantenha o jardim limpo: evite acúmulo de folhas e água parada, que servem de abrigo tanto para insetos quanto para anfíbios.

Outra dica é usar cheiros naturais que os afastam, como vinagre ou limão borrifado nas bordas dos muros e perto de ralos. Eles não fazem mal ao animal, apenas criam um ambiente menos atrativo.

4. Sapo-cururu e o mito da “ameaça constante”

Muita gente teme o sapo-cururu por acreditar que ele ataca ou “atira veneno” à distância — o que não é verdade. Ele é um animal pacífico e só libera toxina quando se sente ameaçado.

O perigo está no contato direto, e não na simples presença do sapo. Se respeitado, ele pode conviver no mesmo ambiente sem causar problemas. Em fazendas e hortas, inclusive, é considerado um verdadeiro aliado contra pragas.

A confusão acontece porque, ao contrário de rãs e pererecas, o sapo-cururu tem um corpo mais robusto e pele rugosa, o que dá uma aparência intimidante. Mas na natureza, ele prefere fugir a atacar.

O equilíbrio entre convivência e cuidado

O sapo-cururu é um exemplo de como a natureza trabalha de forma inteligente — ele ajuda a controlar insetos e a manter o ecossistema saudável. No entanto, é fundamental que tutores de animais saibam o risco que ele representa e adotem medidas preventivas.

Com pequenas mudanças no quintal e vigilância constante, é possível proteger seus pets sem interferir na biodiversidade local. Afinal, eliminar o sapo é eliminar também o equilíbrio que ele traz.

Saber respeitar o espaço da natureza é a melhor forma de garantir segurança e harmonia dentro de casa.

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Caixa Cultural Belém abre portas e celebra diversidade amazônica

O Governo do Pará concluiu, nesta quarta-feira (8), um marco significativo na revitalização urbana e cultural de Belém com a entrega da Caixa Cultural Belém, instalada no histórico Armazém 6A, e a conclusão do ciclo de obras do Complexo Porto Futuro. Este espaço se consolida como um dos legados estruturais da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada na capital paraense em novembro, reforçando a cidade como referência em cultura, sustentabilidade e inovação na Amazônia. A unidade funcionará de terça a domingo, das 11h às 22h, com entrada gratuita, e representa o primeiro equipamento cultural da Caixa Econômica Federal na Região Norte.

A solenidade de inauguração contou com a presença do governador Helder Barbalho, da vice-governadora Hana Ghassan, do prefeito de Belém Igor Normando, da secretária de Estado de Cultura Ursula Vidal e da deputada federal Elcione Barbalho. Em seu discurso, Helder Barbalho destacou o protagonismo cultural de Belém, ressaltando que a cidade, historicamente rica em diversidade e biodiversidade amazônica, agora dispõe de equipamentos que permitem encontros significativos com a história e a produção cultural local. Ele ressaltou que iniciativas como a Caixa Cultural posicionam Belém entre as cidades da América Latina com melhores espaços culturais do continente.

A vice-governadora Hana Ghassan reforçou a importância do trabalho coletivo para o desenvolvimento do Estado, afirmando que a parceria entre diferentes esferas do governo acelera a concretização de resultados e fortalece o impacto social e cultural dos projetos. Para Hana, a entrega da Caixa Cultural é resultado de um esforço conjunto que integra cultura, inovação e valorização territorial.

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Divulgação – Ag. Pará

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A unidade cultural abre suas portas com duas exposições inaugurais: “Paisagens em Suspensão”, do Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), e “Espíritos da Floresta”, celebrando a diversidade amazônica. O teatro, com capacidade para 250 pessoas, teve como primeiro evento um show com os artistas paraenses Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro, promovendo uma imersão na música local. O presidente da Caixa, Carlos Vieira, destacou a cultura como vetor de transformação social e enfatizou a relevância da parceria estratégica com o governo do Pará, que já vem resultando em projetos conjuntos nas áreas de cultura e economia.

A presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Fernanda Castro, afirmou que a nova unidade amplia o alcance da arte brasileira e posiciona o Norte no circuito nacional de grandes exposições. A mostra inaugural traz obras históricas de relevância, como “O Café”, de Candido Portinari, reforçando o compromisso com a valorização cultural e a inclusão territorial.

O Complexo Porto Futuro surgiu como um dos maiores investimentos estratégicos do governo estadual, articulando cultura, sustentabilidade e inovação a partir da recuperação de antigos galpões da Companhia Docas do Pará (CDP). Além da Caixa Cultural, o complexo abriga o Parque da Bioeconomia, o Armazém da Gastronomia e o Museu das Amazônias (MAZ), abertos ao público recentemente. O MAZ, em apenas cinco dias de funcionamento, já recebeu cerca de 10 mil visitantes, demonstrando o grande interesse da população e turistas por experiências educativas e culturais.

O Armazém da Gastronomia reúne 15 empreendimentos locais especializados em comidas típicas e rápidas, promovendo a diversidade de sabores da região e valorizando os ingredientes amazônicos. Para o prefeito Igor Normando, a conclusão do Porto Futuro simboliza a expressão da cultura e história da cidade, colocando Belém e a Amazônia em destaque no cenário regional e internacional.

O Porto Futuro consolida-se como legado urbano da COP30, fortalecendo a infraestrutura cultural da capital, promovendo turismo, educação ambiental, valorização do patrimônio e inserção da Amazônia no circuito global de inovação e sustentabilidade. A entrega do complexo reafirma o compromisso do governo do Pará em transformar espaços históricos em oportunidades de desenvolvimento cultural, econômico e social, criando um impacto duradouro para a população local e visitantes de todo o mundo.

Lagarto calango o que significa quando ele aparece com frequência nos muros e jardins

Você já notou um lagarto calango circulando pelo seu quintal ou subindo o muro e ficou se perguntando o que isso significa? Apesar da aparência que assusta algumas pessoas, a presença desse pequeno réptil costuma ser um bom sinal — tanto no ponto de vista ambiental quanto simbólico. Em muitas culturas, o calango é visto como um mensageiro da natureza, associado à renovação, à proteção do lar e até à sorte.

Esses animais aparecem com mais frequência em locais onde o equilíbrio natural está preservado. Por isso, se você os vê sempre por perto, é sinal de que seu jardim ou quintal está saudável e cheio de vida. Mas o simbolismo vai além: o lagarto é considerado um arquétipo de resistência, adaptabilidade e limpeza energética.

Lagarto calango e seu papel na natureza

O lagarto calango é um dos melhores aliados que você pode ter no jardim. Ele é um predador natural de insetos, aranhas e pequenos animais que, em excesso, podem causar desequilíbrios. Ao contrário do que muitos pensam, ele não representa perigo algum — pelo contrário, é um sinal de que o ambiente está funcionando em harmonia.

Esses lagartos preferem lugares ensolarados e muros quentes, onde podem regular a temperatura do corpo. São tímidos e ágeis, o que explica por que desaparecem rapidamente quando percebem movimento humano. A presença constante deles indica que há alimento e abrigo suficientes, ou seja, seu quintal é um pequeno ecossistema saudável.

Além disso, do ponto de vista biológico, o calango ajuda a controlar pragas urbanas de forma natural. Por isso, enxergar um deles no muro deve ser motivo de tranquilidade — ele está apenas fazendo o trabalho de equilíbrio ambiental que a natureza lhe confiou.

Significados espirituais e simbólicos do lagarto calango

Em muitas tradições, o lagarto calango é visto como um símbolo de regeneração e transformação. Isso vem da sua incrível capacidade de perder e regenerar a cauda, algo que representa a habilidade de se renovar após perdas ou desafios.

Espiritualmente, a aparição frequente desse animal pode estar ligada a um chamado para o autoconhecimento e a necessidade de adaptação. O lagarto é discreto, observador e paciente — características que, simbolicamente, indicam o momento de agir com sabedoria e equilíbrio diante de mudanças.

No campo energético, acredita-se que a presença de calangos protege os espaços contra energias densas. Eles são considerados “limpadores naturais” de vibrações negativas, absorvendo e transformando o que não está em harmonia. Por isso, ver um com frequência pode ser interpretado como um sinal de que o ambiente está se purificando.

Em algumas culturas, o lagarto também é associado à sorte e à abundância. Sua energia solar, ligada ao elemento fogo, simboliza vitalidade e prosperidade.

Por que ele escolhe muros e jardins para aparecer

O lagarto calango adora locais quentes, secos e com boa exposição ao sol. Por isso, muros e pedras são os lugares ideais para ele tomar sol e observar o território. Esses ambientes também oferecem segurança contra predadores e fácil acesso a insetos — seu alimento favorito.

Quando aparece com frequência no mesmo muro ou jardim, é sinal de que encontrou um espaço seguro e equilibrado. Ele costuma ser fiel ao território e dificilmente se afasta de um local onde se sente protegido. Isso reforça a ideia simbólica de estabilidade, proteção e conexão com o ambiente doméstico.

Para quem acredita em energias sutis, o lagarto é um “guarda invisível” do lar, agindo silenciosamente contra perturbações externas. Ele observa, absorve e transforma — tudo sem ser notado, mas sempre presente.

Como conviver com o lagarto calango de forma segura

Se um lagarto calango escolheu sua casa como abrigo, não há motivo para se preocupar. Ele é totalmente inofensivo e não ataca humanos nem animais de estimação. O melhor a fazer é deixá-lo em paz, permitindo que continue controlando insetos e equilibrando o ambiente.

Evite usar produtos químicos no jardim, pois eles afetam a cadeia alimentar e podem afastar esses pequenos guardiões naturais. Caso queira manter o espaço mais convidativo, mantenha vasos, pedras e plantas que ofereçam sombra e abrigo. Isso cria um refúgio natural e ainda contribui para a biodiversidade.

Curiosamente, o comportamento do calango pode até servir como “termômetro natural”. Se ele desaparece repentinamente, pode indicar mudanças bruscas no clima, excesso de barulho ou desequilíbrio ambiental.

O recado do calango: equilíbrio, paciência e renovação

Ver um lagarto calango com frequência não é obra do acaso. Ele surge como um lembrete simbólico de que é preciso observar mais, reagir menos e aprender com os ciclos da vida. Assim como o calango troca de pele e se regenera, nós também podemos nos libertar do que já não serve e recomeçar com leveza.

Na natureza e na espiritualidade, nada é por acaso. A presença desse pequeno visitante é um convite para enxergar o ambiente ao redor com mais atenção — e reconhecer que até os seres mais discretos têm um papel fundamental na harmonia da vida.

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Equipe técnica da UNFCCC parte para Belém final dos preparativos da COP30

A chegada em definitivo da equipe técnica da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) marca o início da reta final para a operação da COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro. Liderados pela vice-governadora Hana Ghassan, presidente do comitê estadual da COP30, cerca de 25 técnicos desembarcaram na capital paraense nesta quarta-feira para acompanhar os últimos ajustes em segurança, saúde, mobilidade, credenciamento e infraestrutura.

O ponto de encontro foi o Centro de Economia Criativa, localizado no Parque da Cidade, espaço já preparado para acolher o evento. Construído pelo governo estadual e entregue à organização do evento, ele será palco para a montagem de todas as estruturas temporárias, sobretudo da chamada Blue Zone, onde se concentram as negociações diplomáticas.

Nos últimos dois anos, Belém passou por uma transformação visível: mais de 30 obras estruturantes foram lançadas — melhorias no transporte, hospedagem, vias de acesso, saneamento, além de reformas no espaço do Parque da Cidade — tudo para criar um ambiente que possa receber delegados internacionais, representantes de países, organizações ambientais e imprensa.

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Agência Pará

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Durante o encontro, estiveram presentes autoridades responsáveis pela preparação operacional. Entre elas, Olmo Xavier, diretor de Infraestrutura da Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop), que ressalta que os prazos estão sendo atendidos, especialmente no que tange às obras temporárias. Flávia Castelhano, diretora de Projetos da Secop, trouxe detalhes sobre logística e credenciamento. Da parte da UNFCCC, Juliet Kigundu lidera a coordenação, apoiada por Khalid Magzoub, responsável pela gestão de reuniões, e Kevin O’Hanlon, que cuida das questões de segurança da UNDSS.

Hana Ghassan resumiu o espírito do momento: “Já estamos com praticamente todas as obras prontas. Agora entramos na fase operativa de implementação de tudo que foi estudado e preparado”. Ela ainda contextualiza que Belém está prestes a enfrentar um teste real de sua infraestrutura — o evento religioso do Círio de Nazaré — que serve como ensaio para perceber como funcionam mobilidade, alimentação, saúde e transporte em massa. Milhares de pessoas circulam pelas ruas nesse período, e é essa logístca que mostrará se Belém está de fato pronta para operações de grande porte.

A UNFCCC, por sua vez, vê nesta fase uma cooperação efetiva: o evento não se organizará apenas pela ONU ou apenas pelo Pará ou Brasil, mas pelo trabalho conjunto entre todos os níveis — federal, estadual, municipal — e as entidades internacionais envolvidas. A expectativa é que o evento em Belém seja exemplar não só pelas discussões climáticas, mas também pela execução, organização e legado urbano deixado à cidade.

À medida que se aproxima o prazo para a conferência, cada detalhe ganha peso: acessos, rutas de transporte, credenciamentos, saúde disponível, segurança, hospedagem e serviços públicos. Tudo isso sob supervisão da equipe técnica que chegou para garantir que esse cronograma não falhe. O que se descobre nessa fase será decisivo para a reputação do Pará, do Brasil e da própria capacidade latino-americana de sediar conferências internacionais climáticas com qualidade.

Parque do Utinga fecha no domingo e abre no feriado do Círio

Nos dias do Círio de Nazaré de 2025, o Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna, em Belém, terá funcionamento alterado para acomodar a intensa movimentação religiosa e de romeiros. Administrado pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio) e pela Organização Social Pará 2000, o parque abrirá na sexta-feira (10) e no sábado (11) no horário habitual de 6h às 17h. No domingo (12), dia da procissão principal, a unidade não estará aberta ao público. Na segunda-feira (13), retorna o expediente normal, e na terça-feira (14), abrirá excepcionalmente também das 6h às 17h, para atender visitantes durante o feriado prolongado.

A mudança de horário tem objetivos claros: garantir segurança, facilitar a operação das equipes internas e evitar conflitos com o trânsito intenso e a mobilidade urbana provocados pela programação do Círio. A proibição de visitas no domingo é uma medida preventiva pensada para evitar sobrecarga e garantir que o entorno do parque esteja livre para trânsito e apoio logístico às procissões.

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Vinicius Leal – Ideflor-Bio

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O Parque do Utinga ocupa posição privilegiada próxima ao centro de Belém e é um ponto de natureza, lazer e educação ambiental muito procurado por moradores e turistas. Suas trilhas, ciclovias, áreas de descanso e mirantes atraem visitantes que desejam fugir por algumas horas do ritmo urbano e respirar meio ambiente. Além disso, o parque é estratégico para a cidade ao proteger os mananciais que abastecem Belém — os lagos Bolonha e Água Preta — o que confere valor ecológico e social à sua preservação.

Segundo o gerente da Região Administrativa de Belém do Ideflor-Bio, Júlio Meyer, o horário ajustado foi pensado para harmonizar a programação religiosa e o uso seguro do parque. Ele enfatizou que a logística da cidade durante o Círio exige cautela para distribuir fluxos de pessoas e evitar pontos de congestionamento. “O Círio mobiliza toda a cidade. Ajustamos o funcionamento para manter a visitação organizada, sem conflitar com os deslocamentos urbanos e a operação do parque”, afirmou.

A entrada ao parque continua gratuita, e a equipe recomenda que os visitantes se preparem para atividades ao ar livre: usar roupas leves, aplicar protetor solar, repelente e levar garrafas de água reutilizáveis. O estacionamento funcionará no mesmo horário de visitação, e o acesso de pessoas será permitido até as 16h — uma hora antes do encerramento oficial — para garantir a saída ordenada do público.

Com essas medidas, a administração busca equilibrar o direito ao lazer e ao contato com a natureza com as demandas excepcionais que o Círio impõe à cidade. Para muitos habitantes de Belém e arredores, o parque é refúgio nos fins de semana; no período religioso, é fundamental compatibilizar o espaço com a mobilidade urbana que se altera drasticamente.

A alternativa de abrir excepcionalmente na terça-feira (14) visa absorver parte da demanda acumulada no feriado. Muitos visitantes aproveitam o descanso pós-Círio para passeios ao ar livre, o que justifica a extensão do horário. Ressalte-se que nos dias regulares, durante esse período festivo, o parque manterá sua rotina adaptada — apoiando visitantes e prevendo logística de segurança extra.

O protocolo adotado ilustra como espaços naturais urbanos podem ajustar-se a momentos de grande aglomeração sem deixar de oferecer oportunidade de lazer, sem comprometer operação técnica ou segurança. Esse tipo de planejamento é relevante tanto para parques urbanos em cidades com fortes eventos culturais quanto para outras unidades de conservação próximas a centros urbanos.

Para os visitantes, vale planejar a saída com antecedência — especialmente no sábado, último dia de visitas antes da paralisação —, evitar horários de pico e escolher rotas menos congestionadas. Quem pretender visitar o Utinga no fim de semana do Círio deve preferir sexta ou sábado, já que no domingo a visitação é suspensa.

Em síntese, o Parque Estadual do Utinga se preparou para enfrentar os desafios logísticos e operacionais do Círio 2025 com uma adaptação de horários que respeita tanto a demanda religiosa que molda a mobilidade da cidade quanto o compromisso com o acesso público, a conservação ambiental e a segurança dos visitantes.

A derrubada da MP 1303/2025: uma derrota mais ampla do que parece

Na noite de quarta-feira, 8 de outubro de 2025, o plenário da Câmara dos Deputados decidiu retirar de pauta a Medida Provisória 1303/2025 — proposta que criaria tributos sobre rendimentos de aplicações financeiras e apostas esportivas, além de compensar a revogação de decreto que aumentava o IOF. Com isso, a MP perdeu sua vigência automática e ficou inviabilizada para votação.

A reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi imediata e dura. Segundo ele, a decisão não representa apenas um revés do governo, mas uma derrota imposta ao povo brasileiro, pois a medida visava corrigir distorções tributárias e assegurar recursos para programas sociais. Para Lula, “impedir essa correção é votar contra o equilíbrio das contas públicas e contra a justiça tributária”.

O governo projetava que a MP 1303 poderia elevar a arrecadação em cerca de R$ 20,8 bilhões e reduzir despesas em mais de R$ 10 bilhões. Entre as mudanças propostas estavam a tributação de fundos de investimento, a criação de regras para ativos virtuais, transações em bolsa, empréstimos de ativos e operações de investidores estrangeiros.

Para que a medida fosse válida, seria necessário aprová-la até o fim do dia 8 de outubro, o que não ocorreu. O relator, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), fez várias alterações para tentar viabilizar o aval de bancadas mais resistentes, removendo, por exemplo, a tributação sobre apostas (“bets”) e sobre Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito de Desenvolvimento (LCD). Ainda assim, não obteve apoio suficiente.

Na votação que formalizou o arquivamento, 251 deputados votaram a favor da retirada de pauta e 193 foram contra. O governo acusou que parte dos partidos do chamado “centrão” e vários grupos de oposição trabalharam de modo articulado para inviabilizar a medida, por interesses político-eleitorais ou para proteger os privilégios dos mais ricos.

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Oposição comemora a derrota da cobrança de impostos para bilionários, impossibilitando o equilíbrio fiscal – foto: Lula Marques/Agência Brasil

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Os desdobramentos sob o olhar do governo

Já na manhã seguinte à derrubada, o ministro da Fazenda Fernando Haddad anunciou que o Executivo estudará alternativas para compensar as perdas previstas. Segundo ele, o governo continuará perseguindo suas metas fiscais e sociais, mesmo sem a MP 1303. 

Haddad afirmou que irá submeter ao presidente Lula um “cardápio de soluções” para reorganizar as contas públicas. Ele ressaltou que o texto da MP tinha sido construído com várias concessões, fruto de diálogos entre Executivo e Legislativo, e que as resistências enfrentadas agora são mais de ordem política do que técnica. 

Em pronunciamentos públicos e nas redes sociais, Lula e integrantes do governo criticaram fortemente o que chamaram de sabotagem política organizada por interesses de elite. A ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) declarou que “quem votou na Câmara para derrubar a MP que taxava os super ricos votou contra o país e o povo”.

Para o governo, o cenário é claro: sem os recursos que viriam da MP, a capacidade de manter ou expandir programas sociais ficará comprometida. A derrubada foi interpretada como uma manobra para reduzir receitas e, com isso, limitar despesas com políticas públicas.

A tensão entre o social e o fiscal

Esse episódio evidencia uma crise clássica que percorre muitos governos: a tensão entre o imperativo fiscal e a vocação social. Por um lado, o Estado precisa arrecadar para cumprir metas, manter a máquina e sustentar investimentos; por outro, há demandas urgentes em saúde, educação, assistência social e redução de desigualdade.

O governo argumentava que a MP 1303 era uma forma de impor justiça tributária, ao fazer com que os que ganham mais contribuíssem mais. Na visão oficial, a medida preservava os 99 % da população — impactava majoritariamente o “1 % mais rico”. 

Mas no Parlamento esse discurso encontrou resistência. Alguns partidos e grupos políticos argumentaram que a medida penalizaria o mercado financeiro ou prejudicaria empresas financeiras e investidores. Outros disseram que o governo não deveria aumentar tributos num momento de fragilidade econômica.

Além disso, o episódio revela como acordos firmados informalmente (ou antecedentes a votações) podem ser revertidos por movimentações políticas de bastidor, ameaçando a governabilidade e a credibilidade do Executivo.

E agora? Caminhos e desafios à frente

A derrota da MP 1303 cria um vácuo de receitas que terá de ser contornado. O governo já admite contingenciamento de emendas parlamentares e cortes em gastos.

Além disso, o Executivo deverá acelerar a negociação com o Congresso para viabilizar outras medidas tributárias e buscar pactos que sustentem a execução orçamentária. Também será necessário criar consenso visível, para evitar que projetos futuros se repitam com os mesmos impasses políticos.

Do ponto de vista estratégico, este episódio serve de alerta para governos: a sustentabilidade fiscal não pode depender apenas de medidas parlamentares frágeis. É preciso uma base política forte, comunicação clara à sociedade sobre impactos e beneficiários, e mecanismos de controle que limitem manobras de última hora que podem inviabilizar decisões urgentes.

Um barco com zero emissões que navega rumo à COP30

Quando se fala em navegação e energia, o cenário costuma evocar motores a diesel, barulhos estridentes e fumaça que se mistura ao horizonte. Mas em Foz do Iguaçu, às margens do reservatório de Itaipu, surge uma cena diferente: um barco construído para ser 100 % movido a hidrogênio verde: silencioso, limpo e simbólico da transição energética que se anuncia.

A embarcação é fruto de um trabalho do Itaipu Parquetec, o braço de inovação da Itaipu Binacional, que já vinha investindo em tecnologias limpas e sustentabilidade. Ela é a primeira do tipo na América Latina e chega ao mundo como um anúncio ambicioso: será lançada oficialmente em Belém durante a COP30, de 10 a 21 de novembro. A ideia é que o barco inaugure sua operação no local mesmo das discussões climáticas globais.

Com 9,5 metros de comprimento e 3 metros de largura, o casco de alumínio é projetado para exercer funções práticas desde o início: fará coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos nas ilhas habitadas da capital paraense. Ao navegar, não emite ruído nem gases poluentes — o único “resíduo” do motor é água pura. Para ampliar sua autonomia, o barco ainda possui sistema de aproveitamento de energia solar.

A embarcação ficará sob responsabilidade da Fadesp (Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa), uma instituição sem fins lucrativos ligada à Universidade Federal do Pará (UFPA), cuja missão é apoiar o desenvolvimento científico, social e tecnológico da Amazônia. Essa estrutura vai receber não apenas o barco, mas também um posto náutico de produção de hidrogênio verde em Belém. Esse posto usará energia solar para gerar e armazenar o combustível localmente, possibilitando o reabastecimento contínuo das embarcações após a COP30.

primeiro_barco_100_movido_a_hidrogenio_verde_-_credito_william_brisida_-itaipu_binacional_2-400x267 Um barco com zero emissões que navega rumo à COP30
Foto: William Brisida/Itaipu Binacional

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O processo de produção do hidrogênio verde, explicou o gestor do Centro de Tecnologias de Hidrogênio do Parquetec, Daniel Cantane, funciona por eletrólise: moléculas de água são separadas em hidrogênio e oxigênio por meio de eletricidade. Quando essa eletricidade provém de fonte limpa — como a geração hidráulica de Itaipu — o hidrogênio obtido é considerado “verde”, isto é, sem emitir dióxido de carbono em seu ciclo produtivo. No caso do barco, a combustão gera apenas água pura, devolvida ao rio.

Mas essa embarcação é mais do que uma solução de mobilidade limpa: é um experimento prático de como o hidrogênio verde pode ocupar espaço real no transporte, sobretudo em regiões onde o uso de vias fluviais é intenso. O diretor-geral brasileiro de Itaipu, Enio Verri, vislumbra que, com o tempo, barcos movidos a hidrogênio possam transportar passageiros nas áreas amazônicas, substituir embarcações convencionais em comunidades ribeirinhas e até operar em operações de extração de petróleo em locais como a Margem Equatorial, em oposição ao uso de combustíveis fósseis poluentes.

Esse episódio lança luz sobre um ponto importante: o hidrogênio verde não é ficção. No Parquetec já existem outras aplicações em desenvolvimento, que visam descarbonizar processos industriais, frotas de caminhões e ônibus em centros urbanos — casos em que o hidrogênio verde pode se tornar peça chave na matriz energética limpa.

A construção desse barco e seu lançamento numa COP em Belém fazem um gesto simbólico poderoso: conectar a Amazônia e suas águas às tecnologias de ponta que o planeta forçará cada vez mais. A ideia é que, enquanto as delegações discutem metas, metas nacionais, financiamento climático e compensações, lá no rio uma embarcação movida a pura água navegue como testemunha viva de que outro modelo é possível.

Essa embarcação também inaugura uma narrativa: que inovação não precisa ficar em laboratórios ou painéis de projeção — ela pode se mover no mundo real, cortar o espelho da água, recolher lixo, servir comunidades ribeirinhas e testar os limites do que considerávamos apenas futurista.

Pedalando rumo à conscientização climática

Partindo do Rio de Janeiro e com destino a Belém, no Pará, o geógrafo e ambientalista Leandro Costa empreende uma missão singular: percorrer 3,5 mil quilômetros de bicicleta e, ao longo desse trajeto, levar crianças e comunidades a refletirem sobre a COP30 e o papel de cada um no enfrentamento da crise climática.

Para Leandro, a bicicleta é mais do que um meio de transporte: é uma ferramenta de educação ambiental inserida no cotidiano das pessoas. Ele resume sua motivação assim: “é preciso trazer esse debate para dentro das vidas, para que as pessoas saibam agir, não só ouvirem discursos abstratos”. Ele defende que o ato de pedalar incorpora um impacto real, ao evitar emissões — e, simultaneamente, abre o diálogo com jovens e adultos sobre escolhas sustentáveis.

A estrada entre o Rio e Belém assume função simbólica. Leandro compara essa travessia à trajetória histórica do Brasil nas negociações climáticas: da Eco-92, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, até a COP 30 que se avizinha. Ele busca entender como a sociedade percebe e vive essas conferências climáticas e mostrar, na pele, que o caminho da mudança passa pela ação cotidiana.

Com apoio institucional da Embaixada da Bélgica, da Embaixada da Holanda e do Instituto Piabanha, o ciclista já percorreu cerca de metade do trajeto planejado. O Projeto Piabanha é uma organização ambiental que atua com programas socioambientais em parceria com pescadores, universidades e empresas, especialmente na bacia do rio Paraíba do Sul.

Em Brasília, ele foi recebido pelo embaixador belga, Chris Hoornaert, que reforçou que a iniciativa transcende a pedagogia, servindo também como estímulo para negociadores climáticos manterem firme compromisso até o final das conferências.

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Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

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Pedal, diálogo e impacto local

Diariamente, Leandro percorre entre 70 km e 110 km, privilegiando horários com sol menos intenso, para evitar os efeitos severos da seca extrema — um fenômeno que ele associa direta e indiretamente às mudanças climáticas. Até a chegada em Brasília, já havia rodado cerca de 1,5 mil quilômetros desde o início da jornada em 21 de setembro.

Em cada parada, visita escolas e comunidades, dialogando com crianças e adolescentes sobre a COP 30 e a responsabilidade individual e coletiva frente às mudanças climáticas. Ele escuta as percepções locais sobre degradação ambiental, usos da terra, estradas empoeiradas ou asfalto em deterioração — vislumbres do Brasil real que não aparecem quando se viaja de carro ou ônibus.

Em sua bagagem, Leandro carrega não apenas equipamentos e mantimentos, mas também narrativas dos territórios percorridos — perspectivas, visões e questionamentos. Essas vozes serão reunidas e transformadas em um painel digital a ser exibido em Belém, em parceria com o The Climate Reality Project Brasil. Ele aposta no gesto simbólico de não emitir quase uma tonelada de CO₂ equivalente ao longo da viagem e, sobretudo, em deixar uma semente viva nas comunidades: de reflexão, de protagonismo, de mobilização local.

Entre o micro e o global: pedagogia climática em movimento

O projeto dissolve a distância entre discurso global e cotidiano. Falar sobre conferências, metas climáticas e neutralização de carbono pode soar distante — mas quando jovens veem que aquela bicicleta atravessa regiões com matas degradadas, rios assoreados ou cidades vulneráveis, elas se tornam visões tangíveis de um problema que precisam sentir para compreender.

Há também outro movimento: coletar experiências e vozes para fortalecer uma narrativa plural na COP. O discurso global não deve ser apenas de técnicos de alto nível, mas espelhar o que se vive no interior do país, nas periferias, nas cabeceiras de rios, nas comunidades rurais e urbana marginalizada. Leandro está, entre pedais e conversas, construindo pontes entre quem negocia e quem vive o impacto.

O percurso é, também, uma metáfora: o esforço contínuo, as subidas e descidas, o desgaste físico e os momentos de contemplação — tudo remete ao processo coletivo de superar resistências e encontrar caminhos para uma transição justa e eficaz.

Um convite à ação local

Quando ele passa por uma escola, não entrega apenas cartazes ou folhetos: abre um espaço de escuta e responsabilidade. Pergunta a crianças: “o que muda se sua família usar bicicleta?” Ou: “se você tivesse de convencer um prefeito a priorizar ciclovias, o que diria?” É na provocação que a semente da mudança pode germinar. Ele vê, também, o contrário: nos centros urbanos vulneráveis — favelas, periferias — a bicicleta já aparece como instrumento cotidiano de mobilidade. No início da jornada, em estradas próximas ao Rio, percebeu que muitos moradores já a utilizavam como meio de locomoção essencial, não apenas recreativo.

Esse encontro entre mobilidade leve, educação e clima reitera uma convicção: a transformação não depende só de grandes políticas nacionais, mas de uma multiplicação de gestos locais combinados.

Brasil lança leilão verde com proteção contra risco cambial

Na quarta-feira, dia 8 de outubro de 2025, o governo federal anunciou o terceiro leilão do Programa Eco Invest Brasil, uma iniciativa que já mobilizou mais de R$ 75 bilhões em suas duas primeiras edições. O anúncio traz uma novidade relevante: a introdução de um mecanismo de proteção cambial (hedge) para investidores internacionais — uma aposta na mitigação da volatilidade do real como vetor para atrair capital externo de longo prazo (eco invest brasil).

O Eco Invest Brasil, coordenado pelos Ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente e Mudança do Clima, se consolida como ferramenta central de mobilização de capital privado para a transformação ecológica da economia brasileira. Esta terceira rodada será voltada a investimentos de participação societária (equity) em empresas e startups com atuação em setores como bioeconomia, transição energética e economia circular com prioridade para projetos de superalimentos, hidrogênio verde, biocombustíveis sustentáveis, bioplásticos e reciclagem de baterias.

O prazo para as instituições financeiras interessadas apresentarem suas propostas vai até 19 de novembro de 2025. Parte dos recursos deverá ser canalizada por meio do Fundo Clima, ampliando o apoio a negócios inovadores e sustentáveis no país.

Capital catalítico, inovação e escala

Desde sua criação em 2024, o Eco Invest Brasil adota o conceito de capital catalítico: o Estado assume risco inicial mais elevado para gerar confiança e atrair aportes privados. Nos dois leilões anteriores, o programa já havia mobilizado mais de R$ 75 bilhões — com cerca de R$ 46 bilhões vindos de investidores estrangeiros.

No primeiro leilão, homologado em novembro de 2024, o mecanismo alocou R$ 6,81 bilhões de capital público catalítico, com potencial de alavancar até R$ 44,36 bilhões em investimentos privados e públicos em projetos verdes nos próximos anos. Já o segundo leilão, com foco em recuperação de áreas degradadas, contou com demanda de R$ 17,3 bilhões e projeta viabilizar até R$ 31,4 bilhões em investimentos até 2027, visando restaurar cerca de 1,5 milhão de hectares degradados.

Essa escala crescente demonstra o amadurecimento da agenda verde nacional e o interesse crescente do setor financeiro em produtos que conjugam impacto socioambiental e retorno sustentável.

Proteção cambial como inovação estratégica

A grande novidade do terceiro leilão é o mecanismo de proteção cambial, pensado para amortecer o risco de oscilação do real e tornar os investimentos externos mais previsíveis. Em outras palavras: um estímulo para que capital estrangeiro se comprometa por prazos mais longos no ecossistema verde brasileiro.

Paralelamente, com base no modelo do Eco Invest, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançou a plataforma FX Edge, uma iniciativa global que busca mitigar risco cambial em economias emergentes, com base em ferramentas similares às do programa brasileiro. O modelo brasileiro de financiamento climático sobressaiu como referência mundial, apontando caminhos para outros países que enfrentam barreiras similares ao captar recursos verdes.

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Divulgação

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Implicações econômicas e sociais

A migração do modelo de financiamento via dívida para participação societária significa que o programa busca maior envolvimento e comprometimento de empresas emergentes e inovadoras, especialmente em seus estágios de crescimento, startup ou escala. Isso permite que empreendimentos com maior risco inicial — mas alto potencial de impacto — captem recursos que antes lhes eram inacessíveis.

Ademais, ao incorporar o Fundo Clima como via de destinação parcial, o leilão reforça o entrelaçamento entre políticas climáticas e modelos de mercado. O Fundo Clima, gerido pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, é um instrumento estruturado para apoiar projetos que mitiguem ou adaptem mudanças climáticas, frequentemente com concessão de recursos reembolsáveis ou subvencionados.

Com esse arsenal, o terceiro leilão reforça dois pontos cruciais: a criação de valor econômico a partir da sustentabilidade e a articulação entre instrumentos públicos e privados para viabilizar essa transição.

Uma agenda verde com pegada brasileira

O anúncio do terceiro leilão do Eco Invest Brasil não é apenas mais uma operação financeira: é uma estratégia de Estado que conjuga risco, inovação e vocação climática. Ao proteger o investidor internacional contra a volatilidade cambial, ao mirar participação societária e ao usar capital público como fator catalisador, o governo avança em um pacto para que o Brasil não seja apenas beneficiário, mas protagonista na agenda global de finanças verdes.

A introdução da proteção cambial e a internacionalização do modelo (via FX Edge) indicam que o Brasil busca exportar essa experiência como ferramenta global — uma narrativa de que proteger florestas, inovar em financiamento e mobilizar capital não são aventuras isoladas, mas uma nova normalidade possível.

Em outras palavras: o Brasil quer se colocar como laboratório e referência para economias emergentes que desejam crescer sem comprometer seus ecossistemas. Rumo à COP30, o Eco Invest se apresenta como pilar desse relevo.

Indígenas elevam a voz em Brasília e exigem a derrubada imediata do Marco Temporal

A manifestação desta quinta-feira (2) representa o ponto alto de uma mobilização contínua na capital federal, onde os povos originários exigem que o Supremo Tribunal Federal paute e julgue os recursos que questionam a constitucionalidade da polêmica lei. Para as comunidades, a norma do marco temporal não é apenas um entrave burocrático, mas uma afronta direta aos seus direitos fundamentais e um catalisador da violência em seus territórios.

O Marco Temporal: Uma Ameaça à Própria Constituição

A tese  marco temporal opera como um divisor de águas: estabelece o dia 5 de outubro de 1988 como a data limite para o reconhecimento da posse indígena. Na prática, este critério ignora o histórico de violência, esbulho, remoções forçadas e perseguições sofridas pelos povos originários ao longo de séculos. Ao exigir a presença física ou a disputa judicial em uma data específica, a lei penaliza justamente aqueles que foram expulsos de suas terras pela violência, desconsiderando a natureza permanente dos seus direitos.

Kretã Kaingang, uma das vozes que se levantaram no ato, foi enfático ao denunciar o impacto destrutivo da lei. “A lei ataca todos os direitos e muda todo o Artigo 231 [da Constituição], que garante os direitos originários aos nossos territórios”, afirmou, sublinhando que a legislação de 2023 é um reforço ao “marco contrário” que há anos “vem dizimando os povos indígenas no Brasil”. O Artigo 231 reconhece aos povos indígenas o direito à sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, além dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, um reconhecimento que a nova lei busca esvaziar.

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Lideranças indígenas reunidos em Brasília

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A urgência do julgamento é amplificada pelos eventos recentes. A mobilização em outubro, mês da posse do ministro Edson Fachin na presidência do STF e das celebrações dos 37 anos da promulgação da Carta Magna, busca pressionar a nova gestão da Corte a dar prioridade à matéria. “É necessário que a gente faça a luta este ano para que seja pautado pelo presidente que assumiu nesta semana a questão da inconstitucionalidade da Lei 14.701 para a gente colocar um ponto final no marco temporal e para que o nosso povo possa ter paz”, completou Kretã. A luta pela paz, nesse contexto, é intrinsecamente ligada à garantia do território e do modo de vida.

O Embate Histórico entre os Poderes da República

A polêmica do marco temporal desencadeou um intenso cabo de guerra institucional, colocando o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional em lados opostos na definição dos direitos territoriais indígenas. A Suprema Corte já havia se posicionado de forma decisiva em setembro de 2023, quando, em uma decisão histórica, julgou a tese inconstitucional. O STF reconheceu que os direitos dos povos originários sobre suas terras são anteriores à própria criação do Estado brasileiro e à promulgação da Constituição Federal de 1988.

Na sequência, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou seu poder executivo para vetar o projeto de lei que visava validar essa tese. Contudo, em uma demonstração de força política, o Congresso Nacional derrubou o veto presidencial em dezembro de 2023, restabelecendo a validade do marco temporal e transformando-o na Lei 14.701/2023. Esse ciclo de decisões, vetos e reviravoltas jogou a palavra final de volta para o STF.

O tribunal agora deve se debruçar sobre os recursos que contestam a lei promulgada, reacendendo o debate jurídico e político. A tentativa de uma solução consensual no Supremo Tribunal Federal também fracassou recentemente. Representantes da Articulação dos Povos Indígenas (Apib) abandonaram uma audiência de conciliação após o ministro Gilmar Mendes rejeitar o pedido de suspensão imediata da lei.

A presença dos povos Kaingang, Xokleng, Guarani e Kaiowá em Brasília, portanto, transcende o protesto; é um apelo dramático à última instância judicial do país. A demarcação de terras, que deveria ser um ato administrativo de cumprimento constitucional, transformou-se em uma batalha política e judicial de grandes proporções. A inconstitucionalidade do marco temporal, já reconhecida pelo STF em sua decisão anterior, é o alicerce que a mobilização indígena busca restabelecer, na esperança de que os direitos originários previstos na Constituição de 1988 finalmente prevaleçam sobre os interesses econômicos e a legislação infraconstitucional.

Mudanças climáticas deixam de ser ameaça para serem realidade dolorosa na Amazônia

Os dados são do inquérito de percepção Mais Dados Mais Saúde: Clima e Saúde na Amazônia Legal, uma pesquisa detalhada divulgada nesta quarta-feira (8). O levantamento, conduzido pela Umane e Vital Strategies, com o apoio do Instituto Devive e disponível para consulta no Observatório da Saúde Pública, entrevistou 4.037 pessoas online entre maio e julho de 2025. Os resultados pintam um quadro urgente, mostrando como um modelo de desenvolvimento predatório e excludente tem aprofundado a pobreza e as desigualdades na região.

O Custo Humano e Econômico do Calor Extremo

Os efeitos climáticos extrapolam as questões ambientais, refletindo diretamente no bolso e na saúde dos amazônidas. Entre os entrevistados, as consequências mais sentidas são majoritariamente econômicas e de infraestrutura:

  • Aumento da conta de energia elétrica (83,4%).
  • Aumento da temperatura média (82,4%).
  • Aumento da poluição do ar (75%).
  • Maior ocorrência de desastres ambientais (74,4%).
  • Aumento do preço dos alimentos (73%).

Essa combinação de calor extremo, desastres e aumento de custos representa um ciclo vicioso, onde as famílias mais pobres, que já dependem de economias frágeis, são as primeiras a sentir o peso da crise. Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies e responsável técnica pela pesquisa, destacou que a priorização de hidrelétricas, grandes negócios agropecuários e desmatamento é a raiz do problema. “Esse modelo de desenvolvimento acaba sendo excludente e predatório, reforçando pobrezas e desigualdades. E os povos tradicionais são afetados diretamente por essas consequências”, afirmou em entrevista à Agência Brasil.

Os relatos coletados pela pesquisa confirmam que o impacto não é hipotético: nos últimos dois anos, cerca de dois terços (64,7%) dos moradores viveram ondas de calor com temperaturas acima da média. Além disso, aproximadamente um terço relatou ter acompanhado eventos de seca persistente e incêndios florestais com fumaça intensa, comprometendo suas atividades diárias.

desmatamento-em-labrea-municipio-do-sul-do-amazonas-foto-victor-moriyama-amazonia-em-chamas-2021-2-400x239 Mudanças climáticas deixam de ser ameaça para serem realidade dolorosa na Amazônia
Victor Moriyama/Greenpeace

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Povos Tradicionais: Os Mais Expostos, mas Também os Mais Resilientes

Se os moradores da Amazônia Legal como um todo já sentem os efeitos, a pressão sobre os povos e comunidades tradicionais é ainda mais aguda. Além de estarem mais expostos devido à menor renda e escolaridade, a degradação ambiental afeta diretamente seus modos de vida e subsistência. Entre eles, os relatos de piora na qualidade da água (24,1%) e problemas na produção de alimentos (21,4%) são particularmente fortes, atingindo a base da sua sobrevivência.

Apesar da vulnerabilidade extrema, a pesquisa aponta para uma notável capacidade de resposta dentro dessas comunidades. A organização social, em rede e de forma comunitária, surge como um mecanismo de mitigação vital, uma verdadeira “reinvenção” em face da adversidade, conforme destaca Luciana Vasconcelos Sardinha.

Os hábitos cotidianos da população amazônida já demonstram uma crescente consciência: metade dos entrevistados (53,3%) reduziu práticas que acreditam contribuir para o problema, e 38,4% sentem culpa por desperdiçar energia. A prática de separar o lixo para reciclagem é comum (64%), chegando a 70,1% entre os povos tradicionais.

A diretora da Vital Strategies defende que a solução está em valorizar esses saberes ancestrais. “O respeito a essa diversidade cultural, que vem desses saberes (tradicionais) é muito importante quando a gente pensa em como solucionar ou melhorar a qualidade de vida”, explica.

A crise climática, portanto, demanda uma resposta que transcenda o ambientalismo isolado, exigindo políticas públicas que foquem na redução das desigualdades regionais. Para Luciana, é fundamental fortalecer as governanças para permitir um planejamento integrado, que consiga unir esforços e mobilizar os recursos necessários, que são “sempre escassos”. Um modelo de desenvolvimento sustentável e participativo, que considere o protagonismo dos povos tradicionais, é a única via para mitigar os impactos de um problema que não espera pelo futuro: “Isso não é um problema para o futuro. Isso é um problema atual e que traz muitos impactos”, conclui a responsável pela pesquisa.

Crédito rural transforma sonho de mãe solo do Marajó em realidade.

O acesso ao crédito rural transforma a realidade de 34 famílias extrativistas de açaí, incluindo a mãe solo Nielma Liarte, no município de Bagre, na Ilha do Marajó, Pará. A conquista foi viabilizada pelo trabalho da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater), que elaborou os projetos para captação dos recursos junto ao Banco da Amazônia (Basa), dentro das diretrizes do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A iniciativa não apenas celebra conquistas individuais, mas também consolida um movimento de desenvolvimento rural sustentável na região.

O Açai como Protagonista do Desenvolvimento no Marajó

O Marajó, com sua beleza singular e desafios sociais complexos, testemunha uma importante injeção de recursos e conhecimento técnico que promete revitalizar a economia local, historicamente ligada ao extrativismo. No centro desse processo está a cultura do açaí, que, ao receber o apoio do crédito rural orientado, se reafirma como a principal força econômica da várzea.

A comunidade de Tiririca, em Bagre, exemplifica essa mudança. É lá que mora Nielma Liarte, produtora de açaí e mãe solo de duas crianças. Aos 26 anos, ela recebeu um presente que transcende a data de seu aniversário: a aprovação de um financiamento de quase R$ 40 mil.

“Eu me sinto realmente presenteada. É meu primeiro crédito rural e eu acredito que o primeiro de muitos. Com o dinheiro, vou aumentar a área produtiva, que já é considerada muito próspera, muito bonita, e intensificar manejo”, conta Nielma. Seu Sítio Dois Irmãos, batizado em homenagem aos filhos Thaís, de 9, e Lucas, de 11, já é conhecido por sua prosperidade, chegando a coletar, no auge da safra, cerca de meia tonelada de açaí por fim-de-semana.

A rotina de Nielma é um retrato da resiliência amazônica. Ela complementa a renda familiar com a venda de roupas, viajando em sua rabeta de casco pelo Rio Tiririca para negociar com a vizinhança ribeirinha. A colheita do açaí é uma batalha solitária e coletiva: “A colheita de açaí, por exemplo, é comigo mesma, subindo nas palmeiras, e também contrato outros peconheiros para ajudar”, detalha a extrativista, demonstrando a força de trabalho que sustenta seu lar.

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Divulgação – Agência Pará

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Fortalecimento da Agricultura Familiar e Extrativismo Sustentável

A história de Nielma Liarte se soma à de outras 33 famílias de Bagre, incluindo assentados da reforma agrária, que, na última semana, assinaram os contratos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) com o Banco da Amazônia (Basa), após a assistência técnica da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater).

O impacto financeiro é expressivo: os valores individuais dos créditos variam entre R$ 39 mil e R$ 52 mil, totalizando um montante de R$ 1,5 milhão destinado a investimentos em áreas de várzea que compreendem entre três e quatro hectares, espalhadas por nove comunidades. A atuação da Emater foi crucial, não apenas na elaboração minuciosa dos projetos técnicos exigidos, mas na orientação para que esses investimentos gerassem o máximo de impacto social e ambiental.

Os especialistas da Emater preveem que, com a aplicação das técnicas e manejos orientados pelo órgão, a produtividade do açaí nessas áreas pode aumentar em até 80% no prazo de dois anos. Esse salto produtivo não visa apenas o aumento da renda, mas a consolidação da segurança alimentar e o estabelecimento de uma atividade lucrativa e duradoura.

Marinaldo Lobato, técnico em agropecuária e chefe do escritório local da Emater em Bagre, ressalta a dimensão humanitária e estratégica da ação. “Antes de tudo, é preciso melhorar a qualidade de vida para essas famílias – muitas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, dependendo de bolsa-família e seguro-defeso. O açaí já existe como atividade protagonista: sempre existiu; mas, com o crédito, ele vem fortalecido como atividade lucrativa e sustentável em longo prazo, para as gerações presentes e as novas gerações, pelo acesso à tecnologia e à modernização”, explica Lobato.

A assistência técnica e a extensão rural, por meio da Emater, funcionam como a ponte que conecta o potencial da terra e o esforço do trabalhador rural às políticas públicas de desenvolvimento. Ao traduzir a necessidade de investimento em projetos bancáveis e ao introduzir o manejo técnico, o órgão transforma o extrativismo tradicional em um negócio agrícola moderno e ecologicamente equilibrado. O resultado é a emancipação econômica das famílias, a valorização da produção local e a reafirmação do compromisso com um desenvolvimento amazônico que seja, sobretudo, justo e sustentável.

Crea-MG cancela registros de engenheiros por Brumadinho e reacende debate sobre ética na mineração

Seis anos depois do rompimento da barragem da Vale S.A. em Brumadinho, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) anunciou o cancelamento definitivo do registro profissional de 15 engenheiros envolvidos no desastre. A decisão, comunicada em 6 de outubro, marca o encerramento de um longo processo administrativo e reabre a discussão sobre responsabilidade técnica, ética e segurança na engenharia brasileira.

Segundo o órgão, as penalidades já transitaram em julgado e, portanto, não cabem mais recursos. Treze dos cancelamentos já constam oficialmente no site do conselho. Os engenheiros estão agora impedidos de exercer qualquer atividade profissional vinculada à engenharia — não podem emitir Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs), assinar projetos ou manter contratos que exijam registro ativo.

O Crea-MG afirma que todos os processos foram conduzidos com rigor, em respeito à ampla defesa e ao contraditório, conforme o Código de Ética Profissional. As investigações incluíram oitivas de partes, análises documentais e diligências técnicas, passando pelo julgamento das Câmaras Especializadas e do Plenário do Conselho. Após essa etapa, os autos seguiram para o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), instância máxima do sistema, que confirmou o cancelamento dos registros.

A decisão tem um peso simbólico que vai além da punição administrativa. Para a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão – Brumadinho (Avabrum), ela funciona como um alerta à categoria: práticas que desrespeitem princípios éticos e comprometam a segurança pública não terão espaço na engenharia. “Essa sanção tem caráter pedagógico”, afirmou a entidade em nota.

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Tânia Rêgo/Agência Brasil

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Memória e responsabilidade técnica

O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019, deixou 272 mortos e é considerado o maior acidente de trabalho da história do país. Cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos soterraram comunidades inteiras e contaminaram o Rio Paraopeba, com metais pesados como ferro, manganês, chumbo e mercúrio.

Embora o Crea reconheça que a medida não repara as perdas humanas e ambientais, o órgão afirma que a decisão reafirma a centralidade da ética e da responsabilidade técnica. “A segurança das pessoas deve estar acima de qualquer interesse”, destacou o comunicado.

A barragem era operada pela Vale S.A., que, procurada pela Agência Brasil, preferiu não comentar a suspensão dos registros. A empresa, uma das maiores mineradoras do mundo, já havia sido responsabilizada por falhas no monitoramento da estrutura e enfrenta processos judiciais e ambientais.

Junto à BHP Billiton, a Vale também é acionista da Samarco, responsável pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015 — tragédia que matou 19 pessoas e devastou o Rio Doce. A sequência de desastres consolidou uma crise de credibilidade sobre a governança da mineração brasileira e sobre a própria noção de “desenvolvimento sustentável” adotada pelo setor.

Um país em busca de novas referências

Especialistas apontam que a punição do Crea-MG, embora tardia, representa um marco para o fortalecimento da cultura de prevenção e fiscalização. Ao mesmo tempo, expõe a lentidão dos mecanismos de responsabilização técnica no país. Levar mais de cinco anos para o cancelamento de registros de profissionais diretamente associados a um colapso estrutural de grandes proporções revela as dificuldades de articulação entre órgãos de controle, empresas e a própria Justiça.

Desde Brumadinho, normas de segurança para barragens foram revistas, e novos instrumentos de monitoramento foram criados, incluindo o Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens do Agência Nacional de Mineração (ANM). Mas ainda há lacunas — especialmente no acompanhamento de pequenas e médias estruturas e na responsabilização de empresas e dirigentes.

Mais do que um ato administrativo, o cancelamento dos engenheiros traduz um gesto político e ético: o de colocar o valor da vida acima da lógica do lucro. E reforça um recado que as famílias das vítimas vêm tentando fazer ecoar desde 2019 — que a engenharia, quando submete a segurança humana à rentabilidade, se desvia de sua própria essência.

O caso Brumadinho continua a servir como espelho da relação do Brasil com seus recursos naturais, com suas vítimas e com sua própria memória.