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Pará inaugura nova era na pecuária com primeira exportação de carne rastreada para a China

O Pará dá um passo histórico na pecuária brasileira ao realizar a primeira exportação de carne bovina com rastreabilidade individual. A remessa de 108 toneladas, embarcada a partir do município de Xinguara, conhecido como a “capital do boi gordo”, teve como destino o mercado da China, um dos maiores importadores mundiais do produto. O feito marca o início de uma nova fase para o setor, que alia tecnologia, sustentabilidade e transparência na cadeia produtiva.

O embarque foi possível graças ao Sistema de Rastreabilidade Bovina Individual do Pará (SRBIPA), desenvolvido pelo governo estadual dentro do Programa Pecuária Sustentável do Pará, executado pela Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará). A iniciativa coloca o estado na vanguarda da rastreabilidade animal no Brasil, garantindo controle sanitário e identificação de cada bovino, desde o nascimento até o abate.

Do campo ao frigorífico: controle em tempo real

A operação pioneira envolveu mais de 350 bovinos machos da raça Nelore, com idades entre 13 e 24 meses. Os animais foram transportados em 22 caminhões até um frigorífico de Água Azul do Norte, credenciado com o Serviço de Inspeção Federal (SIF), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Cada animal recebeu dois brincos de identificação, um amarelo, com código visual, e outro azul, eletrônico, que utiliza radiofrequência para transmissão de dados. O sistema permite o acompanhamento detalhado do histórico de cada bovino, registrando local de nascimento, alimentação, manejo e movimentações entre propriedades.

Durante 90 dias antes do abate, o rebanho foi alimentado com silagem, capim e ração balanceada em um sistema de pasto rotacionado intensivo. A combinação de tecnologia e boas práticas resultou em rastreabilidade total, associada a um manejo sustentável e responsável. O primeiro lote exportado alcançou ganho médio de 592 quilos por animal, totalizando mais de 7.200 arrobas de carne — um resultado que comprova a eficiência produtiva e a qualidade do processo.

20250812164319-GF00024451-F00430118-1152x768-1-400x267 Pará inaugura nova era na pecuária com primeira exportação de carne rastreada para a China
Foto: Marco Santos / Agência Pará

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Um modelo de confiança para o mercado global

Segundo Jamir Macedo, diretor-geral da Adepará, o sistema de rastreabilidade inaugura um novo patamar de credibilidade para a carne paraense. “O SRBIPA é pioneiro no país e garante transparência total, desde a origem do animal até o produto final. Isso gera confiança para os consumidores e abre as portas de mercados internacionais mais exigentes”, afirma.

Além de consolidar a imagem do Pará como referência em pecuária sustentável, a rastreabilidade é uma resposta direta às demandas do mercado global, cada vez mais atento à procedência e ao impacto ambiental dos alimentos. Para o zootecnista Adriano Silva, gestor de uma das propriedades envolvidas, o controle individual é uma ferramenta estratégica. “Com o número de cada animal, conseguimos monitorar o ganho de peso e ajustar o manejo com precisão. Isso melhora a gestão, eleva a produtividade e agrega valor à carne produzida”, explica.

Rumo à rastreabilidade total até 2027

A experiência bem-sucedida do primeiro embarque é apenas o início de uma transformação mais ampla. A partir de janeiro de 2026, todo o transporte de bovinos e bubalinos no Pará deverá ser acompanhado pela Guia de Trânsito Animal (GTA) e pelo registro obrigatório no SRBIPA. Um ano depois, em 2027, todo o rebanho do estado — estimado em 26 milhões de cabeças — deverá estar identificado individualmente.

Para estimular a adesão, o governo estadual fornece gratuitamente os brincos de identificação a produtores com até 100 animais. A distribuição é feita por meio dos escritórios municipais da Adepará, que também orientam sobre o processo de cadastramento e monitoramento.

Com o avanço do programa, o Pará busca consolidar-se como o primeiro estado brasileiro a alcançar rastreabilidade total do rebanho. A meta é ambiciosa: transformar o território em uma vitrine internacional de pecuária sustentável, transparente e competitiva — conciliando produção em larga escala, responsabilidade ambiental e valorização do pequeno produtor.

A exportação inaugural para a China não representa apenas um contrato comercial. É um marco simbólico de mudança de paradigma. A carne paraense agora carrega, junto com sua origem amazônica, um selo de confiança e rastreabilidade que projeta o estado no mapa global da pecuária moderna.

Geraldo Alckmin se reúne na Pré-COP30 em Brasília e dá partida às vozes do mundo para a Cúpula do Clima em Belém

A partir desta segunda-feira (13), Brasília se torna o epicentro das negociações climáticas globais. A capital federal sedia a Reunião Ministerial Preparatória da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), conhecida como Pré-COP, último encontro político antes da conferência mundial que será realizada, em novembro, em Belém (PA).

Durante dois dias, ministros, diplomatas e especialistas de cerca de 50 países estarão reunidos para ajustar posições, costurar acordos e tentar destravar impasses que ainda dificultam o avanço da agenda climática internacional. A abertura oficial ocorre no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), com a presença do presidente em exercício Geraldo Alckmin.

O encontro busca mais do que preparar a logística da COP30: ele pretende alinhar o tom político da cúpula e fortalecer a confiança entre os países num momento em que o mundo cobra ações concretas contra o colapso climático.

Um ensaio diplomático para a COP30

A Pré-COP30 não integra o calendário oficial do Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), mas tornou-se um dos espaços mais estratégicos de articulação global. Por reunir os países que coordenam grupos regionais e blocos de negociação, o encontro funciona como um “ensaio diplomático” que antecipa o clima das discussões em Belém.

Os temas em pauta revelam a complexidade da conjuntura atual: financiamento climático, transição energética, adaptação às mudanças do clima e preservação da biodiversidade. Todos estão no centro da disputa entre países ricos, que historicamente mais poluíram, e as nações em desenvolvimento, que cobram recursos e apoio técnico para implementar uma transição justa e sustentável.

Para o Brasil, anfitrião tanto da Pré-COP quanto da conferência em Belém, o encontro também é uma oportunidade de reforçar sua liderança ambiental e diplomática. Ao sediar as discussões, o país busca se consolidar como mediador entre o Norte e o Sul globais, oferecendo pontes entre economias industrializadas e países emergentes — sobretudo os da Amazônia e do hemisfério sul — na construção de uma agenda comum de ação climática.

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Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

SAIBA MAIS: Pré-COP define o tom das negociações climáticas rumo à COP30 em Belém

A urgência das metas climáticas

Um dos pontos mais sensíveis do encontro é o balanço das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — os compromissos de cada país para reduzir emissões e adaptar-se aos impactos climáticos, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris.

Até o último dia 10 de outubro, apenas 62 das 196 nações signatárias haviam atualizado suas metas. A lentidão preocupa a presidência da COP30 e ameaça o cumprimento da meta global de limitar o aquecimento a 1,5°C. Entre os ausentes figuram grandes emissores como China e Índia, cujas decisões são consideradas cruciais para o sucesso do pacto climático.

A indefinição dessas potências adiciona incerteza ao cenário diplomático, mas também aumenta a relevância do papel brasileiro. O país tenta conduzir as conversas de forma a aproximar interesses e pressionar pela entrega das novas NDCs antes da conferência de Belém.

Liderança compartilhada e transição justa

Com Luiz Inácio Lula da Silva em viagem oficial a Roma, onde participa de encontros sobre segurança alimentar, coube a Geraldo Alckmin representar o país na abertura da Pré-COP30. A presença de Alckmin simboliza a continuidade do esforço diplomático do governo brasileiro para reposicionar o país no centro do debate climático global.

Mais do que um encontro de gabinete, a Pré-COP30 é um momento de virada. Ela ocorre em meio a eventos extremos, secas históricas, ondas de calor e incêndios florestais, que já ultrapassam fronteiras e pressionam governos a transformar discurso em política concreta.

Ao final da reunião, espera-se que Brasília entregue ao mundo um sinal de unidade e clareza sobre os caminhos a seguir. As conversas travadas nesses dois dias serão decisivas para definir o rumo das negociações em Belém e, em última instância, o compromisso real da comunidade internacional com o futuro do planeta.

Entenda como o Brasil redesenha a estrutura e o espírito da COP30

A COP30, conferência da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), marcará um ponto de virada na história das negociações climáticas. Pela primeira vez sob presidência brasileira, o encontro de 2025 em Belém traz um modelo de governança mais inclusivo e voltado à escuta social, simbolizando uma tentativa de reaproximar a política climática da vida real das pessoas.

Desde sua criação em 1995, a COP mantém um formato semelhante, reunindo os 198 países que compõem a Convenção e uma crescente presença da sociedade civil. Mas, ao longo dos anos, a estrutura evoluiu para incorporar novos atores e temas — da diplomacia à economia verde, da inovação tecnológica à justiça climática. Em 2025, o Brasil inova ao propor um formato que combina protagonismo político com participação popular, abrindo novas formas de diálogo entre governos, cientistas, empresas, povos tradicionais e juventudes.

A presidência brasileira e a nova arquitetura da COP30

O embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, foi designado presidente da COP30. Sua missão será conduzir negociações complexas e mediar posições divergentes entre países com interesses muitas vezes opostos. O papel da presidência é, antes de tudo, diplomático: criar pontes, garantir equilíbrio e buscar consensos em torno de metas comuns.

A estrutura sob o comando brasileiro está organizada em quatro eixos principais. O primeiro é a Cúpula de Chefes de Estado, que reunirá líderes mundiais em Belém nos dias 6 e 7 de novembro. Embora não tenha caráter deliberativo, o encontro deve definir o tom político das negociações que seguirão na conferência.

O segundo eixo é o das negociações oficiais, concentradas na chamada Blue Zone — espaço onde os delegados dos países debatem compromissos e metas que, posteriormente, se traduzem em decisões internacionais.

O terceiro eixo é a Agenda de Ação, criada em 2015, durante a COP21 de Paris. Ela amplia o foco das discussões, incluindo iniciativas voluntárias de governos locais, empresas, cidades e comunidades. Na COP30, essa agenda ganha uma dimensão estratégica: serão apresentados planos de aceleração com base no Primeiro Balanço Global (GST-1) — um mecanismo que avalia o progresso coletivo desde o Acordo de Paris e define novos rumos para a ação climática.

O quarto eixo é o da mobilização social, que busca envolver a sociedade no debate. O Brasil criou o Mutirão Global, uma ampla rede de diálogo e engajamento para aproximar o processo decisório das pessoas e movimentos que atuam diretamente nos territórios.

d742e16a-b8f0-4ba4-857b-4625039ffaca-400x238 Entenda como o Brasil redesenha a estrutura e o espírito da COP30

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Direção executiva e nova dinâmica de escuta social

A coordenação executiva da conferência está sob responsabilidade de Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Sua função é articular o diálogo com a sociedade civil e garantir que as múltiplas vozes — de organizações, comunidades e setores produtivos — encontrem espaço dentro do processo oficial. Essa é uma das inovações centrais da COP30: transformar o evento de cúpula em um ecossistema de participação contínua, em vez de um fórum restrito a diplomatas.

Outro destaque são os Campeões Climáticos, representantes nomeados pela UNFCCC para conectar governos, empresas e sociedade. O Brasil indicou o empresário Dan Ioschpe como Campeão de Alto Nível e Marcele Oliveira como Campeã da Juventude do Clima — ambos responsáveis por impulsionar ações práticas e ampliar o engajamento de jovens e lideranças locais.

Círculos e conselhos: inovação institucional brasileira

Entre as principais novidades estruturais estão os Círculos Temáticos, criados pelo Brasil para ampliar a colaboração entre diferentes setores. Esses grupos — liderados por ministros e articuladores — têm a missão de propor soluções concretas e apresentar resultados diretamente à Presidência da COP30.

Entre eles estão o Círculo de Balanço Ético Global, o Círculo de Ministros de Finanças (voltado ao mapa do caminho de Baku a Belém), o Círculo de Povos, e o Círculo de Presidentes de outras COPs, que promove a troca de experiências entre ex-presidências da conferência.

Complementando essa estrutura, foram instalados quatro conselhos estratégicos: de Adaptação, Científico, de Economistas e de Inovação Tecnológica e Inteligência Artificial. Cada um deles reúne especialistas convidados para oferecer recomendações de alto nível sobre políticas climáticas e caminhos de transição justa.

Um modelo de governança em rede

Com 29 enviados nacionais e internacionais, a COP30 se consolida como a edição mais participativa da história. O formato brasileiro aposta na escuta, na transparência e na construção coletiva de soluções — um desenho que reflete o papel do país como mediador global e potência ambiental.

Mais do que um evento, a conferência em Belém quer se tornar um marco político e simbólico: a transição de uma diplomacia climática centralizada para uma diplomacia de colaboração, onde a Amazônia é cenário e metáfora de uma nova forma de pensar o planeta.

A principal corrente do Atlântico pode começar a entrar em colapso já em 2055

As correntes do Oceano Atlântico que respondem às mudanças climáticas estão caminhando em direção a um ponto crítico que pode causar impactos severos antes do final deste século, segundo um novo estudo.

As correntes formam a Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), que circula o Oceano Atlântico como uma gigantesca correia transportadora, levando calor para o Hemisfério Norte antes de seguir para o sul novamente, pelo fundo do mar. Dependendo da quantidade de carbono emitida pelos humanos nas próximas décadas, a AMOC pode atingir um ponto crítico e começar a entrar em colapso já em 2055, com consequências dramáticas para diversas regiões, descobriram os pesquisadores.

Essa previsão assustadora, baseada em um cenário em que as emissões de carbono dobrarão entre agora e 2050, é considerada improvável — mas o resultado de um cenário muito mais provável, em que as emissões permanecerão em torno dos níveis atuais pelos próximos 25 anos, não é muito melhor, de acordo com o estudo. Mesmo que mantenhamos o aquecimento global neste século em 2,7 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais — um cenário “intermediário”, de acordo com o último relatório climático da ONU —, a AMOC começará a entrar em colapso em 2063, sugerem os resultados.

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Formação de águas superficiais

a Esquema das principais correntes oceânicas que cruzam a Dorsal Groenlândia-Escócia (GSR). As setas representam os caminhos e a transformação das águas (a): As taxas de transformação da massa de água (WMT) médias temporais (primeiros 50 anos do modelo) a 40N, decomposto na contribuição térmica e na contribuição de água doce. (b): As taxas de WMT em 40N ao longo de todo o quase-equilíbrio, com uma média móvel de 25 anos para reduzir a variabilidade. (c–e): As contribuições locais da WMT para o NADW ao longo dos primeiros 50 anos do modelo. Para cada célula da grade, determinamos a WMT média, conforme indicado pela região sombreada no detalhe do painel (a). Os resultados apresentados são da simulação de quase-equilíbrio

 

“A probabilidade de tombamento é muito maior do que se pensava anteriormente”, disse Sybren Drijfhout , professor de oceanografia física na Universidade de Southampton, no Reino Unido, e na Universidade de Utrecht, na Holanda, à Live Science. No geral, a probabilidade de o AMOC entrar em colapso neste século é de cerca de 50%, estima Drijfhout, que não participou da nova pesquisa, mas recentemente liderou um estudo semelhante publicado na Environment Research Letters .

No estudo, Drijfhout e colegas executaram os modelos climáticos mais recentes para um período que se estende além de 2100 e descobriram que cenários de alta emissão, ou aqueles que causam cerca de 4,4°C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais até o final deste século, sempre levaram a um colapso da AMOC. Cenários alinhados com o objetivo do Acordo de Paris de manter o aquecimento idealmente abaixo de 1,5°C também desencadearam um colapso em dois dos modelos, sugerindo que um colapso é mais provável do que os cientistas pensavam anteriormente, disse ele.

O novo estudo de modelagem, publicado em 24 de agosto no periódico Journal of Geophysical Research: Oceans , testou 25 modelos climáticos e encontrou um indicador que ajudou os pesquisadores a determinar quando a AMOC poderia atingir um ponto crítico.

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O gelo marinho retorna, mas o caos também… os cenários de colapso da AMOC, segundo René van Westen, pesquisador de pós-doutorado em física climática na Universidade de Utrecht

Ao contrário dos parâmetros comumente usados ​​para monitorar a AMOC indiretamente, como a temperatura da superfície do mar, este novo indicador é regido pela dinâmica da circulação do oceano Atlântico, disse o autor principal do estudo, René van Westen , pesquisador de pós-doutorado em física climática na Universidade de Utrecht

Van Westen e colegas demonstraram anteriormente que o fluxo de água doce do Atlântico a 34 graus sul, a latitude ao longo da ponta da África do Sul, é um bom indicador da estabilidade da AMOC e pode alertar os cientistas sobre um colapso iminente. Esse indicador funciona para condições ambientais que mudam lentamente, mas é menos útil para identificar tendências da AMOC em um clima em rápido aquecimento, disse van Westen.

“Portanto, nosso objetivo era desenvolver um novo indicador que também funcionasse em relação às mudanças climáticas”, disse ele.

Um novo marcador para a força da AMOC  

Para avaliar quando os pontos de inflexão serão atingidos, o novo estudo analisou a massa de água que afunda no fundo do oceano no Atlântico Norte.

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As águas profundas que alimentam a AMOC se formam no Oceano Atlântico Norte e nos mares nórdicos

Atualmente, a água da superfície perde calor para a atmosfera ao atingir o frio Atlântico Norte. Essa água da superfície torna-se tão fria, salgada e densa que afunda no fundo do oceano, formando correntes que percorrem o fundo do oceano até o Hemisfério Sul. O processo de afundamento da água fria e densa é chamado de formação de águas profundas e é o motor que impulsiona a AMOC. A formação de águas profundas pode ser medida por meio de mudanças na densidade da água do mar ou pela extrapolação de dados oceânicos em modelos climáticos.

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Circulação oceânica do Oceano Atlântico Norte subpolar oriental e dos mares nórdicos

a Esquema das principais correntes oceânicas que cruzam a Dorsal Groenlândia-Escócia (GSR). As setas representam os caminhos e a transformação das águas quentes do Atlântico (setas vermelhas) no NAC-NwAC em transbordamentos frios e densos (setas verdes) que saem dos Mares Nórdicos através do Estreito da Dinamarca e do Canal Faroé-Shetland (FSC). A Corrente Leste da Groenlândia (EGC) fria e fresca é mostrada por setas azuis. As seções a 70°N e no Atlântico Norte subpolar oriental (imitando a parte oriental da matriz do Programa 13 de Reviravolta no Atlântico Norte Subpolar ; OSNAP-Leste) usadas para calcular a circulação de reviravolta são mostradas como linhas pretas tracejadas. NAC: Corrente do Atlântico Norte, NwAC: Corrente Atlântica Norueguesa. b Representação esquemática do fluxo meridional através da GSR destacando como as águas densas de transbordamento dos Mares Nórdicos contribuem para o membro inferior da circulação de reviravolta no OSNAP-Leste.

“Quando essa quantidade se reduz a zero, significa que a superfície ficou muito leve e não houve afundamento”, que é essencialmente o momento em que a AMOC começa a entrar em colapso, disse van Westen.

A formação de águas profundas já está diminuindo devido ao aquecimento do ar no Atlântico Norte e ao derretimento do gelo do Ártico. O ar quente faz com que a água da superfície não perca calor suficiente para afundar, enquanto o derretimento do gelo dilui a concentração de sal na água e, assim, diminui sua densidade.

Os pesquisadores identificaram um componente da formação em águas profundas, o fluxo de flutuabilidade da superfície, que foi um “atalho” para estimar a formação em águas profundas no Atlântico Norte, disse van Westen. O fluxo de flutuabilidade da superfície é um parâmetro que combina mudanças no calor e na salinidade na superfície do oceano para entender como elas impactam a densidade da água.

Destacam-se as respostas na superfície, na alta troposfera e no oceano no LESTE. O aumento das emissões de AAs sobre o Sul e o Leste da Ásia (sombreamento roxo) reduz a insolação solar e suprime a convecção local (setas vermelhas), iniciando uma sequência de ondas de Rossby circumglobais (sombreamento azul e setas pretas) que se propagam para o leste e em direção aos polos e um deslocamento da corrente de jato em direção ao equador (setas cinzas). As mudanças na circulação atmosférica barotrópica geram uma anomalia de pressão do nível do mar semelhante à Oscilação do Atlântico Norte negativa no Atlântico Norte subpolar (centro de alta pressão laranja e centro de baixa pressão azul), suprimindo os ventos de oeste predominantes ao sul da Groenlândia (setas azul-claro). Ao reduzir a diferença de temperatura entre o ar e o mar e a velocidade do vento, as mudanças no vento injetam calor turbulento anômalo na superfície do Mar do Labrador (setas vermelhas), inibindo a produção de massas de água densas que compõem o ramo que flui para o sul do AMOC, resultando, assim, em um AMOC mais fraco e raso (sombreamento azul no oceano).

O calor e a salinidade podem ser monitorados diretamente por instrumentos ou satélites, mas o estudo examinou dados existentes de calor e salinidade em simulações da dinâmica da superfície do mar, com o fluxo de flutuabilidade da superfície se destacando em diferentes modelos e experimentos como um marcador claro da força da AMOC.

“A vantagem [do fluxo de flutuabilidade da superfície] é que ele pode ser calculado em muitos modelos climáticos”, disse van Westen.

O fluxo de flutuabilidade da superfície foi constante até 2020, disse van Westen, o que significa que quase não houve mudanças no AMOC antes disso — uma conclusão que é reforçada por uma pesquisa publicada em janeiro.

Desde 2020, no entanto, o fluxo de flutuabilidade da superfície aumentou, sugerindo que a AMOC está enfraquecendo. Os modelos mostraram que trajetórias de alta emissão podem desencadear um colapso da AMOC mais cedo do que trajetórias de emissão “intermediárias”, portanto, é urgente reduzir o uso de combustíveis fósseis, de acordo com o estudo.

“Um cenário de colapso da AMOC pode ser evitado ao seguir um cenário de baixa emissão”, disse van Westen, mas isso exigiria atingir emissões líquidas de carbono zero por volta de 2050.

Um “sério alerta climático” 

Um colapso da AMOC na década de 2060 é plausível e “muito preocupante”, disse Drijfhout, mas as incertezas são grandes demais para apontar anos precisos em que a AMOC entrará em colapso sob diferentes trajetórias de emissão.

As consequências seriam dramáticas e globais, mas a Europa seria particularmente afetada, disse Drijfhout. Um colapso da AMOC traria temperaturas muito mais baixas para o noroeste da Europa, bem como uma redução na precipitação, o que poderia levar a perdas agrícolas de cerca de 30%, disse ele. Os invernos na Europa seriam muito mais rigorosos, com mais tempestades e inundações ao longo da costa atlântica, resultantes da redistribuição da água pelo oceano à medida que a AMOC desacelera.

” Pode-se esperar uma elevação ainda maior do nível do mar nas costas leste dos Estados Unidos” devido a essa redistribuição, disse Drijfhout. E locais que não fazem fronteira com o Atlântico também podem ser afetados, como as regiões de monções na Ásia e na África , acrescentou.

Wopke Hoekstra , comissário europeu para o clima, emissões líquidas zero e crescimento limpo, descreveu as descobertas como um “sério alerta climático” em uma publicação nas redes sociais . “Este novo estudo diz que a Corrente do Golfo pode entrar em colapso durante a nossa geração”, alertou.

No entanto, de acordo com o estudo, os efeitos não serão sentidos imediatamente após o início do colapso da AMOC. Os autores estimam que levaria mais de 100 anos para que a AMOC enfraquecesse significativamente e novos padrões climáticos surgissem.

Mas Drijfhout acredita que o colapso pode ocorrer em apenas 50 anos. A AMOC é como uma fogueira com combustível cada vez menor, disse ele. “Se pararmos de jogar novos blocos de madeira no fogo, o fogo não se apaga imediatamente, mas continua queimando lentamente por algum tempo”, disse Drijfhout. “Para a AMOC, esse ‘tempo de queima lenta’ é de [cerca de] 50 anos”.

Relatório global alerta: a desconexão ecológica ameaça a vida na Terra

O planeta vive uma crise silenciosa e devastadora: a quebra das conexões naturais que mantêm a Terra viva. Um novo relatório global mostra que rios, florestas, pastagens e solos, os tecidos vitais do planeta, estão sendo fragmentados a um ritmo alarmante, comprometendo a segurança alimentar, a disponibilidade de água e a própria sobrevivência de milhões de espécies, incluindo a humana.

O Relatório Global sobre Conectividade Ecológica e Restauração da Terra, lançado durante o Congresso Mundial de Conservação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em Abu Dhabi, foi produzido pela Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD) em parceria com a Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS). O estudo revela que cerca de um terço das terras do planeta já foi profundamente transformado pela ação humana, deixando ecossistemas degradados e desconectados.

As paisagens naturais, antes entrelaçadas por fluxos de água, nutrientes e espécies, tornaram-se mosaicos quebrados. Mais de 60% dos rios do mundo foram represados ou desviados. O Mekong, que já abrigou a maior pesca continental do planeta, é agora cortado por barragens que interrompem as migrações dos peixes e ameaçam a segurança alimentar de milhões de pessoas. No Serengeti–Mara, as cercas e a expansão agrícola bloqueiam as rotas seculares de gnus e outras espécies selvagens, pondo em risco um dos últimos grandes espetáculos naturais da Terra.

aguas-amazonia-400x267 Relatório global alerta: a desconexão ecológica ameaça a vida na Terra
Uma forma inédita de medir o impacto humano nas águas da Amazônia

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A fragmentação não se limita aos rios ou savanas. O avanço de rodovias, ferrovias e cidades divide habitats e cria “ilhas de natureza” cercadas por concreto. Estima-se que a malha viária global aumentará 60% até 2050 — um crescimento que intensificará a pressão sobre ecossistemas já frágeis.

As consequências são graves. Quando a conectividade se rompe, os solos empobrecem, as colheitas encolhem, as secas se tornam mais intensas e as comunidades ficam mais expostas a inundações e incêndios. Hoje, a degradação da terra já afeta 40% da superfície terrestre e ameaça diretamente quase metade da população mundial. A forma como produzimos alimentos — somada à expansão urbana, à poluição e às mudanças climáticas — está provocando o colapso da teia ecológica que sustenta a vida.

A secretária executiva da UNCCD, Yasmine Fouad, resume a urgência: “A vida no planeta depende de sistemas de terra e água saudáveis, não apenas para a natureza, mas para as pessoas. Quando essas ligações se rompem, os mais vulneráveis sofrem primeiro. Restaurar ecossistemas também significa restaurar as conexões entre eles: precisamos reconectar para restaurar e restaurar para reconectar.”

Ecossistemas saudáveis são a verdadeira infraestrutura da natureza. Eles garantem o fluxo das águas, protegem contra eventos climáticos extremos e sustentam o abastecimento de alimentos e água potável. Restaurar a terra em larga escala significa também capturar carbono, reduzir riscos de desastres, preservar biodiversidade e criar empregos sustentáveis.

A secretária executiva da CMS, Amy Fraenkel, reforça que a proteção de habitats isolados não é suficiente. Sem corredores ecológicos e redes naturais restauradas, as espécies migratórias — de felinos e antílopes a peixes e aves — continuarão desaparecendo. “Esses animais são peças fundamentais de ecossistemas saudáveis. Proteger seus caminhos é proteger o nosso futuro comum.”

O cientista-chefe da UNCCD, Barron Orr, alerta: “Quando o solo se exaure e os rios se contaminam, a recuperação é lenta e cara. A prevenção e a restauração em larga escala são muito mais eficazes do que esperar o colapso para tentar reparar os danos.”

Há, contudo, exemplos inspiradores. O Cinturão Verde Europeu conecta 24 países, do norte da Europa ao Mediterrâneo, formando uma das maiores redes ecológicas do mundo. Na Costa Rica, corredores de fauna restauraram florestas, favoreceram o retorno de espécies como o jaguar e fortaleceram economias locais com o ecoturismo. Na Bolívia, comunidades indígenas utilizam práticas tradicionais de agrofloresta para recuperar paisagens e diversificar a renda, mostrando que o conhecimento ancestral é essencial para a resiliência climática.

O relatório chega no ponto médio da Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas (2021–2030), e reforça que metas globais de clima e biodiversidade só serão alcançadas se os países agirem juntos, com políticas que integrem conectividade ecológica, gestão do solo e infraestrutura sustentável.

Não se trata apenas de salvar a natureza, trata-se de restaurar a própria teia da vida de que dependemos.

Logística climática: Correios entregam a primeira carga internacional da COP30 em Belém

A engrenagem logística da COP30 começou a girar. Nesta semana, Belém recebeu a primeira tonelada de materiais e equipamentos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), em uma operação coordenada pelos Correios que simboliza o início prático da maior conferência climática já realizada no Brasil.

A carga inaugural chegou à Zona Azul do Parque da Cidade, um dos polos centrais do evento, em uma operação descrita como “100% eficiente” pelos organizadores. Trata-se da primeira de duas remessas vindas da sede da UNFCCC, em Bonn, na Alemanha — cidade que também abrigará o retorno dos equipamentos após o encerramento da conferência, em 24 de novembro. A segunda etapa, com cerca de quatro toneladas adicionais, deve desembarcar nos próximos dias.

Mais do que uma entrega técnica, a ação marca o início de uma estrutura global em movimento. A COP30 reunirá em Belém, entre 10 e 21 de novembro, cerca de 40 mil pessoas — entre delegações oficiais, cientistas, ativistas e jornalistas. Apenas o chamado “núcleo COP”, formado por equipes da ONU e representantes de países membros, soma aproximadamente 7 mil pessoas.

A complexidade desse deslocamento internacional de pessoas e equipamentos exige uma operação logística de precisão cirúrgica, que envolve desde o transporte aéreo e marítimo até a gestão integrada de armazenagem, desembaraço aduaneiro e entrega final. É nesse cenário que os Correios assumem um papel estratégico: ser o operador logístico oficial da COP30, com responsabilidade por cada etapa do processo.

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA-400x218 Logística climática: Correios entregam a primeira carga internacional da COP30 em Belém

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Essa função foi formalizada por meio de um Acordo de Cooperação Internacional firmado com a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) em julho de 2025. A parceria é simbólica por mais de um motivo. Além de consolidar os Correios como referência em logística sustentável, o pacto representa uma nova fase para a empresa pública — que alia tradição operacional à transição para um modelo empresarial voltado à sustentabilidade, inovação e geração de valor público.

No centro desse movimento está o Plano Estratégico 2025–2029 dos Correios, que integra a sustentabilidade ambiental como eixo transversal de suas atividades. A estatal aposta em soluções de transporte de baixo impacto, na compensação de emissões e em processos cada vez mais eficientes, reforçando seu papel não apenas como operadora postal, mas como parceira ativa em compromissos globais pela ação climática.

A COP30, por sua vez, é mais do que um evento — é uma vitrine mundial para o Brasil reafirmar sua liderança em temas ambientais e de transição ecológica. O encontro será um marco histórico: pela primeira vez, a conferência das Nações Unidas sobre o clima acontece na Amazônia, região estratégica para o futuro do planeta e para o debate sobre justiça climática.

Entre os temas centrais da conferência estão a redução das emissões de gases de efeito estufa, a adaptação às mudanças climáticas, o financiamento climático para países em desenvolvimento, as energias renováveis, as soluções de baixo carbono, a proteção da biodiversidade e a inclusão social nas estratégias de sustentabilidade.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) estima que o encontro deve movimentar toda a economia regional, com impacto positivo nos setores de turismo, hotelaria e serviços. A COP30 também deve impulsionar investimentos em infraestrutura verde e consolidar Belém como um centro de referência em sustentabilidade e inovação amazônica.

Por trás dos números e das negociações, há um simbolismo mais profundo. A chegada da bagagem diplomática da ONU — caixas, equipamentos e documentos — representa mais do que a preparação técnica de um evento. É o prenúncio de um encontro que colocará o Brasil, novamente, no coração das decisões sobre o futuro climático global.

De certa forma, cada caixa desembarcada carrega mais que tecnologia: traz a expectativa de que o país que abriga a maior floresta tropical do mundo assuma também o protagonismo de restaurar conexões — entre governos, povos e ecossistemas.

A COP30 será o teste definitivo da capacidade brasileira de unir logística, diplomacia e sustentabilidade em uma só operação. E a chegada dessa primeira tonelada em Belém é o ponto de partida para uma conferência que promete muito mais do que debates — promete ações concretas para o planeta.

Água, poder e resistência na selva do capital verde

A Amazônia guarda um tesouro invisível, mas vital: a água do Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA). Esse “oceano subterrâneo” recebe atenção crescente — e não por acaso. Ele encarna uma interseção essencial entre ecologia, poder e desigualdade, um ponto de inflexão que escancara os dilemas do “capitalismo verde” em tempos de crise climática global.

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará mostram que SAGA e a floresta amazônica vivem em simbiose: um não vive sem o outro. A floresta alimenta o aquífero com ciclo hídrico resiliente; o aquífero mantém a umidade necessária para as chuvas que irrigam todo o país. É um pacto natural muito além dos limites do solo — um pacto climático que sustenta a agricultura, as populações ribeirinhas e os rios que carregam vida.

Mas esse bem comum está sob cerco. O agronegócio, setor cujos lucros dependem da abundância hídrica, também é o que mais pressiona as bases desse sistema hídrico. Desmatamento, drenagem, queima de biomassa, monocultura extensiva — cada um desses processos corrói, lenta ou rapidamente, a floresta que gera chuva, que ajuda a recarregar o aquífero. Em outras palavras, o motor econômico que extrai riquezas da Amazônia corre o risco de destruir sua própria fonte de sustentação.

1000687673-400x223 Água, poder e resistência na selva do capital verde

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Nesse cenário, assume destaque político a privatização de serviços essenciais. A Companhia de Saneamento do Pará (COSANPA), cuja missão deveria ser proteger a água como direito público, foi colocada à venda, cedendo espaço à iniciativa privada. O governo do Pará, sob Helder Barbalho, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), justificou o leilão sob a bandeira da eficiência e modernização. Mas as vozes das comunidades, dos movimentos sociais, do movimento sindical alertam: quando água se torna mercadoria, os mais frágeis pagam o preço.

Há uma contradição gritante entre o discurso oficial, que invoca defesa ambiental e soberania hídrica, e as decisões práticas. A privatização da COSANPA, em um estado que detém a maior reserva subterrânea de água do mundo, evidencia que a soberania proclamada não se traduz em controle democrático sobre os bens naturais. O SAGA não é apenas uma reserva geológica: é também uma questão de quem decide o destino dos rios, das terras, das vozes das populações amazônicas.

Para além de ideais ou críticas, há uma pergunta real: quem deve gerir públicos tão preciosos como SAGA e os recursos hídricos da Amazônia? A alternativa ao modelo do “capitalismo verde” — que muitas vezes se reduz a marketização, créditos de carbono e concessões privadas — aponta para a gestão pública popular, onde comunidades locais, povos indígenas, trabalhadores rurais e as próprias instituições públicas tenham papel decisivo. É uma visão ecossocialista: um pacto que preserve a integridade ambiental e reforce a justiça social.

Se a COP 30 representa uma plataforma de expectativas globais, ela também representa um momento de denúncia: denunciar que discursos ecológicos não sejam usados para legitimar apropriações corporativas, que o “verde” não vire fachada e que o bem comum não seja diluído em contratos privados. O futuro da Amazônia, da água, e do próprio clima depende de escolhas estratégicas hoje — escolhas que colocam a vida acima do lucro.

Cúpula do Clima 2025

A Cúpula aconteceu durante a abertura da 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU. Antes da Cúpula, dez Diálogos de Soluções Climáticas de alto nível foram realizados de 22 a 24 de setembro, na Sede da ONU. Os diálogos visaram fornecer recomendações concretas para consolidar, acelerar e implementar soluções de ação climática antes da trigésima reunião da Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém.

Abertura

Líderes nacionais anunciando os compromissos em relação às mudanças climáticas e acelerando o ritmo rumo à 30ª reunião da Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), em novembro., em Belém. Quase 100 países compartilharam seus planos ou atualizaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs), que refletem as intenções de seus países de adotar medidas climáticas.

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O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, enfatizou que tanto a ciência quanto a economia impulsionam a ação climática. Embora o Acordo de Paris tenha feito a diferença, com a projeção de aumento da temperatura global caindo de 4°C para menos de 3°C se as NDCs atuais forem totalmente implementadas.

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O Secretário-Geral António Guterres discursando na abertura do debate geral da octogésima sessão da Assembleia Geral

Guterres enfatizou a necessidade de novos planos para 2035 que sejam mais abrangentes e rápidos. Ele afirmou que a COP 30 deve ser concluída com um plano global confiável para nos colocar no caminho certo:

☆ turbinando a transição para energia limpa;

☆ reduzindo drasticamente as emissões de metano;

☆ acabar com a destruição das florestas;

☆ redução das emissões da indústria pesada; e

☆ garantindo a justiça climática

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Katherine Hayhoe (em primeiro plano), professora e cientista climática, discursa na Cúpula do Clima 2025, um evento especial de alto nível sobre Ação Climática. À esquerda, Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam

Durante a abertura, os cientistas Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, e Katherine Hayhoe, da Universidade Tecnológica do Texas, apresentaram avaliações dos esforços atuais para atingir as metas do Acordo de Paris. Rockström alertou que os impactos associados a um aumento de temperatura acima de 1,5°C correm o risco de cruzar pontos de inflexão, levando a mudanças irreversíveis. Ele delineou um caminho que envolve reduções drásticas nas emissões, remoção em escala de CO2 e uma transição para longe dos combustíveis fósseis. “A janela ainda existe, mas é estreita”, acrescentou.

Hayhoe afirmou que, embora a ciência seja clara, a conscientização não leva necessariamente à ação. Afirmando que precisamos saber que não estamos sozinhos e que há esperança, ela enfatizou que cada ação para a transição da energia poluente, a transformação dos sistemas alimentares e o investimento em resiliência contribuem para o cumprimento das metas climáticas. Hayhoe apelou aos líderes para “escolherem a coragem em vez do medo, a ação em vez da demora e a esperança em vez do desespero”.

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Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, ao fundo a Ministra de Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva

Para ilustrar o impacto do Acordo de Paris desde sua adoção, Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, citou um aumento de 140% nas energias renováveis ​​e um aumento de 80% nos investimentos em energia limpa. Ela afirmou que as emissões da UE caíram quase 40% desde 1990, representando agora apenas 6% das emissões globais, e que a UE está a caminho de atingir sua meta de -55% para 2030. Von der Leyen anunciou que a UE apresentará formalmente sua nova NDC antes da COP 30, afirmou que a meta de redução de emissões ficaria entre 66% e 72%, descreveu o trabalho em torno de uma meta de 90% de redução de emissões para 2040, a fim de atingir a neutralidade climática até 2050, e delineou os esforços da UE nas áreas de parcerias globais e financiamento climático.

Após essas declarações, ministros de aproximadamente 60 países tomaram a palavra para compartilhar suas metas ou planos atualizados para suas NDCs.

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Luiz Inácio Lula da Silva , Presidente do Brasil

Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil, afirmou que que a nova NDC de seu país estabelece uma meta para toda a economia de reduzir suas emissões líquidas de GEE em 59-67% abaixo dos níveis de 2005 até 2035 e acabar com o desmatamento até 2030. Ele apelou aos países que ainda não submeteram suas NDCs para que o façam.

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Muitos enfatizaram a necessidade de uma transição justa que apoie o desenvolvimento sustentável e apelaram a todos os países para que honrassem seus compromissos com o financiamento climático e a transferência de tecnologia. Vários citaram os impactos das mudanças climáticas em seus países, observando a crescente frequência e intensidade de incêndios florestais, tempestades e furacões, inundações e secas.

Declarações Finais

Ana Toni, CEO da COP 30 e Secretária Nacional de Mudanças Climáticas do Brasil, disse que os participantes testemunharam país após país reforçando seu compromisso com o Acordo de Paris e o multilateralismo. Ressaltando que estamos em uma emergência climática, ela disse que o tempo é nosso recurso mais escasso. Ela elogiou o trabalho dos países na preparação de suas NDCs antes da COP 30.

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É possível limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, mas somente se os países agirem com urgência
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Ana Toni, CEO da COP 30

Observando que a sessão havia começado com um apelo claro da ciência, a Secretária-Geral Adjunta da ONU, Amina Mohammed, enfatizou que é possível limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, mas somente se os países agirem com urgência, determinação e solidariedade. Ela afirmou que cerca de 100 partes, representando mais de 66% das emissões globais, já apresentaram ou anunciaram suas novas metas para as NDCs e ressaltou que todos os países que ainda não finalizaram suas novas NDCs devem fazê-lo sem demora.

“ Não podemos evitar esta catástrofe sozinhos. Mas juntos, podemos . Definindo metas mais fortes, avançando em prazos mais curtos e assumindo compromissos mais profundos”, disse o Professor Hayhoe, vencedor do Prêmio Campeões da Terra da ONU de 2019

Momento ODS 2025

O Momento ODS 2025 reuniu Chefes de Estado e de Governo para impulsionar o multilateralismo e a responsabilidade compartilhada para cumprir a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O evento aconteceu em meados da Década de Ação para a Concretização dos Objetivos Globais e durante a comemoração do 80º aniversário das Nações Unidas.

a__o_clim_tica_SEM_LEGENDA Cúpula do Clima 2025 As discussões levaram em conta os resultados e objetivos dos principais eventos durante 2025 que colocaram em foco elementos específicos da estrutura dos ODS

A pauta incluiu declarações do Secretário-Geral da ONU e do Presidente da Assembleia Geral, uma visão geral do progresso dos ODS e painéis de discussão entre líderes mundiais e as partes interessadas.

O Secretário-Geral da ONU, para acelerar o ritmo sediou o Evento Especial de Alto Nível sobre Ação Climática fazendo parte da semana de alto nível da 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU e como uma plataforma para os líderes apresentarem suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). 

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA Cúpula do Clima 2025

Cerca de 100 países — incluindo quase 40 Chefes de Estado e de Governo — anunciaram na abertura Cúpula do Clima 2025 que  se comprometeram a finalizar ou definiram seu compromisso de implementar suas novas metas climáticas antes da COP30 em Belém, Brasil, em novembro.

Pela primeira vez, várias economias importantes, incluindo a China – o maior emissor mundial – e a Nigéria, anunciaram metas de redução de emissões para toda a economia, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores. Outras nações detalharam metas ambiciosas de energia renovável, planos para reduzir as emissões de metano, estratégias para proteger as florestas e medidas para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.

“A ciência exige ação. A lei a impõe. A economia a impõe. E as pessoas estão clamando por isso”, declarou o Secretário-Geral da ONU em sua declaração de abertura da Cúpula do Clima, que ele convocou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, à margem da 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU.

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Annalena Baerbock, recém-empossada Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas durante sua 80ª sessão, disse à Assembleia que agora é o momento dos líderes cumprirem as promessas da Carta das Nações Unidas. “Para forjar um futuro melhor, temos de trabalhar juntos – sermos melhores juntos. ”

Simon Stiell, Secretário Executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), fez seu discurso na abertura Cúpula do Clima 2025, enfatizando a necessidade de os países acelerarem a implementação de suas Contribuições Nacionais Determinadas (NDCs) para atingir o limite de aquecimento global estabelecido pelo Acordo de Paris. Stiell destacou a importância de um plano financeiro robusto para apoiar os países em desenvolvimento e a necessidade de os países demonstrarem como contribuirão para a ação climática global. A cúpula, realizada na sede da ONU, teve como objetivo pressionar as nações a elevarem seus compromissos climáticos antes da próxima COP30 em Belém, Brasil. Os comentários de Stiell fizeram parte de um esforço mais amplo para abordar a necessidade urgente de ação climática e garantir que as maiores economias do mundo contribuam para a meta global de limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius.

Brasília abre a Pré-COP30 e prepara o palco global para a Cúpula do Clima em Belém

Brasília se transforma, nestes dias 13 e 14 de outubro, em centro diplomático do planeta. A capital federal recebe a Pré-COP30, última grande etapa preparatória para a conferência do clima das Nações Unidas (ONU), que será sediada em novembro na cidade de Belém (PA).

Com a presença de cerca de 500 representantes de 50 países, o encontro é considerado estratégico para alinhar as posições políticas e técnicas que estarão em jogo durante a COP30, a mais importante cúpula ambiental do mundo.

O evento foi aberto oficialmente nesta segunda-feira (13), no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), com a participação do presidente em exercício Geraldo Alckmin, ministros de Estado, negociadores internacionais e lideranças ambientais.

Mais do que um encontro técnico, a Pré-COP é um termômetro político que antecipa o tom das negociações que ocorrerão em Belém. É nesse momento que se costuram alianças, se reduzem tensões e se desenham os compromissos que definirão o futuro da ação climática global.

O encontro que define o espírito da COP30

A série de debates em Brasília ocorre em um contexto decisivo. O mundo atravessa uma fase de tensão entre ambição e realidade: embora o Acordo de Paris estabeleça metas claras para limitar o aquecimento global, poucos países têm cumprido suas promessas de redução de emissões.

Durante a Pré-COP30, as discussões se concentram em quatro eixos centrais: financiamento climático, transição energética, adaptação às mudanças do clima e preservação da biodiversidade. Esses temas serão determinantes para orientar o rumo da conferência em Belém e avaliar se o mundo ainda está no caminho para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.

Um dos pontos mais sensíveis é o financiamento climático, ou seja, como garantir que países em desenvolvimento tenham recursos suficientes para investir em energias limpas e adaptação aos impactos da crise ambiental. Na pauta também estão mecanismos para acelerar a descarbonização das economias, fortalecer a cooperação científica e ampliar o papel dos bancos multilaterais no apoio à transição verde.

Visao-aerea-do-Eixo-Monumentla-em-Brasilia-400x200 Brasília abre a Pré-COP30 e prepara o palco global para a Cúpula do Clima em Belém
Reprodução

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Diplomacia em movimento: Brasil no centro do debate

O governo brasileiro atua nesta etapa como mediador e anfitrião, em sintonia com sua função de presidir a COP30. O país busca reforçar seu papel como articulador do diálogo entre Norte e Sul globais, aproximando economias avançadas e países emergentes em torno de soluções conjuntas.

A presença de Geraldo Alckmin na cerimônia de abertura simboliza o compromisso político do Brasil com uma agenda ambiental que une diplomacia, economia e desenvolvimento sustentável. O encontro conta ainda com a participação de ministros e representantes de países-chave, além de observadores das Nações Unidas e de organismos internacionais ligados ao clima e à energia.

A Pré-COP30 também serve como espaço de bastidores para avançar em negociações sobre as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — os compromissos que cada país apresenta à ONU para reduzir emissões e se adaptar aos impactos climáticos. Até o último dia 10 de outubro, 62 das 196 nações signatárias da Convenção do Clima haviam submetido suas novas metas.

Mas grandes emissores, como China e Índia, ainda não oficializaram seus planos, uma ausência que preocupa observadores internacionais e pode influenciar o ritmo das negociações em Belém.

De Brasília a Belém: a jornada até a COP30

A COP30, que ocorrerá de 10 a 21 de novembro, será a primeira conferência climática sediada na Amazônia e presidida pelo Brasil. O evento é visto como uma oportunidade histórica para reposicionar o país como protagonista nas negociações ambientais globais e projetar um modelo de desenvolvimento baseado na bioeconomia e na justiça climática.

O sucesso da Pré-COP30 é essencial para garantir que as discussões em Belém avancem em direção a resultados concretos. Mais do que acordos técnicos, o que está em jogo é a capacidade coletiva de restaurar a confiança entre os países e de transformar compromissos diplomáticos em ação real.

Ao longo das duas décadas de história das conferências do clima, poucos momentos foram tão simbólicos: a Amazônia, antes tratada como cenário da crise, agora se apresenta como ponto de partida para uma nova política planetária, mais inclusiva, solidária e ancorada na cooperação entre os povos.

Belém em preparação: Parque da Cidade como palco estratégico da COP30

O governador do Pará, Helder Barbalho, conduziu ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, uma visita técnica ao Parque da Cidade, que foi designado como sede dos debates da COP30, evento climático global programado para novembro de 2025 em Belém. A inspeção abrangeu desde áreas de lazer até prédios institucionais, e o objetivo maior foi articular o plano integrado de segurança para o período da conferência.

Na comitiva estavam Olmo Xavier, diretor de Infraestrutura da COP30; Fernando Ribeiro, presidente do Tribunal de Contas do Estado do Pará; Ualame Machado, secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social; e Alexandre Andrade, superintendente da Polícia Federal no Pará. Juntos, estado e União mapearam rotas, estruturas e protocolos de contingência para assegurar que Belém receba chefes de Estado, delegados internacionais, imprensa e cidadão visitante com segurança e organização.

Durante o trajeto pela área de lazer, foram visitadas quadras esportivas, ginásio poliesportivo, parque aquático, playground infantil e skate park — espaços que, até pouco tempo, atendiam à população local. Também passaram pelo Centro de Economia Criativa e pelo Centro Gastronômico, de onde foi possível observar as estruturas modulares provisórias que já começam a ser erguidas para acomodar salas de negociação e plenárias nas zonas Azul e Verde.

Helder explicou que a visita não foi apenas simbólica: “Recebemos o ministro e sua equipe para conhecer de perto as ações de preparação da Zona Azul e da Zona Verde, onde acontecerão os momentos da COP30. Também estamos debatendo com as forças de segurança locais o plano de contingência, considerando tanto as demandas cotidianas da cidade quanto as exigências diplomáticas e o fluxo populacional que o evento vai provocar.”

Lewandowski qualificou o andamento das instalações como “absolutamente inigualável”. Para ele, a integração entre União, Estado, prefeitura e também a atuação da ONU revelam que “tudo está bem preparado, extremamente organizado, com entrosamento entre as autoridades”. Ele afirmou que a expectativa é de que esta COP seja uma das melhores já realizadas no mundo.

20251010173737-GF00025131-F00453724-400x267 Belém em preparação: Parque da Cidade como palco estratégico da COP30
Divulgação – Agência Pará

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Parque da Cidade: entre uso social e legado institucional

Desde sua inauguração em junho, o Parque da Cidade se tornou ponto de convivência para a população de Belém. Em menos de dois meses de abertura ao público, o parque acolheu mais de 670 mil pessoas e sediou uma colônia de férias que beneficiou 10 mil crianças, adolescentes e idosos. Implantado na área de um antigo aeroporto, o parque cobre 500 mil metros quadrados e abriga mais de 2.500 árvores plantadas.

A partir de 18 de agosto, contudo, o parque foi fechado para adaptação: sob responsabilidade do governo federal e da ONU, as estruturas temporárias que vão compor a Blue Zone — destinadas a negociações oficiais — e a Green Zone — para debates paralelos e participação pública — começaram a ser instaladas.

Assim, o Parque da Cidade transita entre duas funções: espaço de lazer e símbolo de legado institucional. Durante a COP30, ele será cenário de debates diplomáticos, enquanto seu desenho arquitetônico e urbano representará ao mundo a capacidade de Belém de abrigar um evento desta envergadura.

Segurança, articulação e credibilidade

Além dos aspectos físicos, a visita técnica se concentrou no esqueleto invisível do evento: o plano de segurança. Elaborar um modelo que integre forças federais, estaduais, municipais e organismos da ONU exige coordenação rígida, protocolos preventivos e contingência para imprevistos.

A presença local de autoridades como o secretário de Segurança e o superintendente da Polícia Federal permitiu que os pontos sensíveis fossem debatidos em campo — como fluxos de pessoas, rotas de acesso diplomático, delimitação das zonas de exclusão, logística de deslocamento e resposta imediata a crises.

Lewandowski enfatizou que não identificou “nenhum ponto falho” no planejamento e que “o Brasil pode se orgulhar da COP que vai oferecer”, destacando o valor simbólico e político de um evento bem organizado para credibilidade internacional do país.

Entre o cotidiano e o monumental

O desafio de preparar uma cidade para receber uma conferência climática dessa magnitude é equilibrar o extraordinário com a rotina. Belém deverá conciliar atividades diplomáticas — restritas e protocolares — com movimento urbano, transporte, serviços públicos, segurança e fluxo turístico.

Em média, eventos desse porte geram um salto populacional temporário intenso. O plano de contingência precisa antecipar congestionamentos, demandas de saúde, integridade da infraestrutura e protocolos de segurança excepcionais. A visita de Lewandowski reforça essa preocupação como central para a visibilidade e o êxito da COP30.

Um palco simbólico para a Amazônia

Mais do que um espaço de debate, o Parque da Cidade será vitrine para a Amazônia no cenário internacional. Ao sediar negociações climáticas no coração de Belém, o território ganha protagonismo simbólico: política ambiental convergindo com cultura urbana, floresta e diplomacia.

A preparação final, articulada entre governo estadual e federal, reforça que esta COP será não apenas um evento técnico, mas uma demonstração de capacidade institucional brasileira, sob o olhar global. Se tudo seguir conforme o planejado, Belém entregará não só pavilhões, mas credibilidade — uma mensagem simbólica de que a Amazônia pode liderar um novo pacto climático global.

Estiagem prolongada adia chegada das chuvas e acende alerta em São Paulo

A estiagem que se arrasta pelo estado de São Paulo preocupa técnicos, meteorologistas e ambientalistas. O que antes era um período seco previsível entre o fim do inverno e o início da primavera agora parece se estender, atrasando a chegada das chuvas e elevando os riscos de incêndios florestais.

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) prorrogou até 31 de outubro a suspensão das queimadas controladas em todo o território paulista. A medida, que começou em agosto, abrange práticas agrícolas, queimadas de cana-de-açúcar e ações de controle de pragas. Mesmo assim, o perigo de incêndios ilegais persiste, sobretudo com a vegetação mais seca e as temperaturas em elevação.

Segundo a Defesa Civil do Estado de São Paulo, diversas regiões apresentaram, no último domingo (5), áreas em “nível roxo de emergência” — a classificação mais grave do sistema de alerta. A umidade do ar em níveis críticos e o calor intenso criam um cenário ideal para a propagação do fogo, o que ameaça não só o meio ambiente, mas também a saúde da população.

O fenômeno, segundo o técnico do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Lizandro Gemiacki, não é isolado. “O período seco tem se estendido por mais dias, e o início do período chuvoso tem sido adiado entre cinco e dez dias, empurrando as chuvas para o final da primavera”, explica. Essa mudança no calendário climático reforça uma tendência observada nos últimos anos: as estações estão se tornando menos previsíveis e mais extremas.

Um ciclo que se prolonga

Tradicionalmente, o fim do inverno marca a transição para dias mais úmidos e frescos. Entretanto, a recente persistência de períodos secos vem alterando esse padrão. A terra se torna poeira, a vegetação perde vigor e o ar fica mais pesado. A combinação de calor, vento e baixa umidade transforma qualquer fagulha em risco real de incêndio.

Gemiacki observa que é difícil isolar as causas exatas da estiagem prolongada. “Não temos como colocar a atmosfera em laboratório e separar causa e consequência. Tudo ocorre de forma interligada, e o clima responde em cadeia”, comenta.

Essa interdependência tem se mostrado cada vez mais complexa. Fenômenos globais e regionais atuam em conjunto, produzindo resultados que desafiam previsões e modelos climáticos. Entre eles estão as mudanças climáticas provocadas pela emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO₂) e o metano (CH₄); fenômenos oceânicos de larga escala, como El Niño e La Niña; o aquecimento anômalo do Oceano Atlântico; e oscilações polares e decadais, como a Oscilação Antártica e a Oscilação Decadal do Pacífico.

0g0a4564-400x239 Estiagem prolongada adia chegada das chuvas e acende alerta em São Paulo
Rovena Rosa/Agência Brasil

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Ondas que se amplificam

O técnico do Inmet compara o comportamento do clima a um sistema de ondas. “Quando duas ondas se somam, seus efeitos se amplificam. No ano passado, por exemplo, tivemos uma longa estiagem no centro do Brasil, intensificada pelo El Niño”, explica. Essas sobreposições de eventos climáticos criam ciclos mais secos e longos, que impactam diretamente a biodiversidade, a agricultura e o abastecimento hídrico.

Com as chuvas adiadas, as queimadas — legais ou ilegais — se tornam uma ameaça ainda mais grave. Desde a suspensão decretada pela Cetesb, o objetivo é reduzir qualquer atividade que envolva fogo, uma vez que, durante a estiagem, a propagação é rápida e difícil de conter. No entanto, o controle efetivo depende de algo além de decretos: exige vigilância permanente, fiscalização e punições rigorosas para quem desrespeita as normas ambientais.

“Quando o solo está seco e o vento sopra forte, o fogo foge do controle em minutos. É essencial intensificar a fiscalização e responsabilizar quem pratica queimadas ilegais”, reforça Gemiacki.

O novo normal climático

As variações climáticas sempre existiram, mas sua intensidade recente preocupa especialistas. O “novo normal” já não é feito de previsões seguras, mas de extremos: meses de seca seguidos por tempestades intensas, calor fora de época e invernos que se encurtam. O prolongamento da estiagem é mais um sintoma desse desequilíbrio global.

No campo, agricultores enfrentam perdas de produtividade e aumento dos custos com irrigação. Nas cidades, cresce o risco de desabastecimento e problemas respiratórios devido ao ar seco e à fumaça dos incêndios. No meio ambiente, biomas inteiros, como o Cerrado paulista e fragmentos da Mata Atlântica, ficam vulneráveis à degradação irreversível.

Em meio a essas incertezas, São Paulo vive um ponto de inflexão: entre esperar pela chuva ou mudar a forma de lidar com ela. A estiagem prolongada é um aviso claro de que o clima está em transformação — e que a gestão ambiental precisa se reinventar para acompanhar o ritmo da natureza.

Pré-COP define o tom das negociações climáticas rumo à COP30 em Belém

A capital brasileira se torna, por dois dias, o centro de debates que irão moldar o futuro das negociações climáticas globais. A Pré-COP, que acontece em Brasília nos dias 13 e 14 de outubro, reunirá delegados e observadores de cerca de 50 países, preparando o terreno para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), em novembro.

Organizado sob a liderança do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE), o encontro busca alinhar posições, reduzir divergências e fortalecer a cooperação internacional antes do evento oficial. De acordo com o presidente designado da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, a Pré-COP é uma oportunidade para amadurecer consensos que serão fundamentais nas negociações multilaterais em Belém.

“Não é o momento de sair com declarações finais, mas sim de fortalecer os laços, esclarecer posições e preparar o caminho para que a COP30 alcance os resultados esperados”, destacou a ministra Marina Silva.

Embora a reunião não faça parte do calendário oficial da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), seu papel político é central. Com cerca de 500 participantes, o evento prioriza países que lideram grupos regionais e articulações estratégicas dentro das negociações internacionais.

Pressão por novas metas e compromissos

Um dos principais temas da Pré-COP é o avanço das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — compromissos voluntários que cada país apresenta para reduzir suas emissões e se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas.

Até 10 de outubro, 62 países haviam submetido suas novas NDCs, de um total de 196 signatários do Acordo de Paris. No entanto, grandes emissores como China e Índia ainda não formalizaram suas metas, o que gera apreensão entre os negociadores.

Segundo a diretora executiva da COP30, Ana Toni, há expectativa de que até 125 países apresentem suas contribuições até o fim do ano. “Na primeira geração de NDCs, as metas eram genéricas, sem detalhamento de planos setoriais. Agora, há um esforço para vincular as metas a políticas concretas e planos de financiamento”, explicou.

O Brasil, que copreside a NDC Partnership, coalizão internacional que auxilia países na formulação e execução de suas metas, tem desempenhado papel-chave na mobilização técnica e política. Segundo Ana Toni, mais de 70 países receberam apoio direto do Brasil nesse processo.

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Reuters/Marx Vasconcelos/proibida reprodução

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Balanço climático e desafios globais

As NDCs submetidas até o momento serão analisadas no balanço global previsto para 23 de outubro, conduzido por especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O relatório medirá o impacto cumulativo das metas sobre o aumento da temperatura global.

O planeta já atingiu 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, o limite que o Acordo de Paris define como crucial para evitar efeitos irreversíveis sobre ecossistemas e populações. Antes da criação da Convenção do Clima, as projeções indicavam um aumento de até 6°C, cenário que tornaria a vida humana inviável em diversas regiões.

Segundo o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do MRE, o resultado do balanço mostrará o quão distante o mundo ainda está das metas necessárias. “Mesmo que algumas ações sejam mais efetivas do que o que está formalizado nas NDCs, o número final não deve nos deixar tranquilos”, observou.

A Pré-COP em Brasília marca o início da reta final para a COP30, que promete ser um marco histórico na diplomacia ambiental brasileira. A realização do evento em Belém reforça o papel da Amazônia como símbolo global da luta climática e pressiona governos, empresas e sociedade civil a acelerar compromissos concretos.

Com o mundo observando, o Brasil busca consolidar-se como articulador de uma agenda climática mais justa e ambiciosa, em um momento em que o tempo para reverter os impactos da crise ambiental se torna cada vez mais curto.

Terra Indígena Munduruku volta a enfrentar pressão do desmatamento

Após um breve período de respiro, a Terra Indígena Munduruku, no sudoeste do Pará, volta a figurar entre as áreas mais pressionadas pelo desmatamento na Amazônia. Entre abril e junho de 2025, o território liderou o ranking das terras indígenas com mais registros de derrubada de floresta, segundo o relatório Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas, elaborado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

O levantamento mostra uma reversão preocupante. Após uma operação de desintrusão concluída em janeiro — que havia retirado invasores e reduzido a devastação —, o território voltou a sofrer novas investidas. A pesquisadora do Imazon, Bianca Santos, alerta que as ações pontuais não bastam para garantir a proteção contínua da floresta e de seus povos. “Para gerar um efeito duradouro, é importante fortalecer a presença do Estado e envolver as próprias comunidades indígenas nas estratégias de preservação. Além disso, é essencial assegurar que os responsáveis por esses crimes sejam responsabilizados”, destaca.

Um retorno indesejado da devastação

Durante o primeiro trimestre do ano, a Terra Indígena Munduruku havia ficado fora do ranking das áreas mais ameaçadas, resultado direto da operação de fiscalização. No entanto, o segundo trimestre trouxe nova escalada da destruição: seis células de 10 por 10 quilômetros registraram desmatamento dentro dos limites da TI.

O relatório do Imazon utiliza uma metodologia distinta dos levantamentos que medem apenas o total desmatado. O território da Amazônia Legal é dividido em pequenas células, e a análise considera tanto o desmatamento dentro das áreas protegidas (pressão) quanto o desmatamento em torno delas, em um raio de até 10 quilômetros (ameaça). Essa abordagem permite antecipar focos de destruição e direcionar as ações de fiscalização antes que a devastação avance sobre os territórios.

“Nosso objetivo é oferecer uma leitura preventiva. Quando há desmatamento no entorno, significa que a floresta dentro da área protegida está em risco iminente”, explica Bianca. A lógica é simples: quanto maior a presença de derrubada ao redor, maior a probabilidade de que a fronteira do desmatamento avance.

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Márcio Lopes/Casa Civil BR

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Pará volta ao centro da crise ambiental

A volta da pressão sobre a TI Munduruku não é um caso isolado. O relatório mostra que o Pará continua como epicentro da devastação amazônica. Entre abril e junho, o estado concentrou seis dos dez territórios protegidos mais pressionados da Amazônia. A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu lidera a lista com 15 células de desmatamento dentro de seus limites — reflexo da expansão ilegal da pecuária e da grilagem de terras públicas.

No total, o Pará apresenta um mosaico de vulnerabilidades: terras indígenas, unidades de conservação estaduais e federais sofrem simultaneamente com invasões, queimadas e exploração ilegal de madeira. Mesmo com operações recentes de repressão, a falta de fiscalização contínua e de presença institucional no território cria brechas que rapidamente são ocupadas por novos agentes de destruição.

Amazonas lidera entre os territórios ameaçados

Enquanto o Pará concentra os territórios mais pressionados, o Amazonas aparece à frente quando se trata das áreas mais ameaçadas — aquelas cercadas por desmatamento crescente. O Parque Nacional Mapinguari (AM/RO) e a Reserva Extrativista Chico Mendes (AC) encabeçam o ranking, ambos com 21 células de devastação ao redor de seus limites.

Entre as terras indígenas, a TI Jacareúba/Katawixi, também no Amazonas, é a mais ameaçada, com dez células de desmatamento detectadas em sua zona de amortecimento. A expansão do desmate nessas bordas evidencia que as fronteiras de proteção ambiental estão sob ataque e que a floresta, mesmo dentro das áreas oficialmente protegidas, segue vulnerável.

O desafio da vigilância contínua

Os dados reforçam um ponto central: combater o desmatamento exige mais do que operações pontuais ou ações emergenciais. É preciso continuidade, presença territorial e coordenação entre órgãos ambientais e comunidades locais. As experiências de monitoramento participativo, que envolvem guardiões indígenas e vigilância comunitária, têm se mostrado eficazes quando acompanhadas de políticas públicas consistentes.

Sem essa estrutura, cada operação tende a ser apenas uma pausa na devastação — e não uma reversão do processo. “As ações de campo são fundamentais, mas precisam ser sustentadas por políticas de longo prazo. O desmatamento é dinâmico e se desloca rapidamente para áreas menos fiscalizadas”, observa Bianca.

O caso da Terra Indígena Munduruku resume um dilema recorrente na Amazônia: o ciclo entre avanço, repressão e retorno da destruição. Enquanto o Estado alternar entre presença temporária e ausência prolongada, a floresta seguirá sendo alvo fácil da exploração ilegal.

Mais do que números em um relatório, as “células de desmatamento” representam florestas, rios e vidas indígenas ameaçadas. Reverter essa tendência é um desafio que exige persistência — e um compromisso duradouro com a proteção da Amazônia e de seus povos.

Pará fortalece protagonismo indígena em cúpula global da natureza

O Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (SEPI), marcou presença na Cúpula Mundial dos Povos Indígenas e da Natureza, realizada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, evento que integra a programação oficial do Congresso Mundial da Natureza da IUCN 2025. Com o tema “Nosso conhecimento tradicional é a linguagem da Mãe Terra”, o encontro reuniu lideranças indígenas de todos os continentes, além de representantes de governos, instituições multilaterais e organizações internacionais voltadas à conservação ambiental.

Organizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), pelo Fórum Internacional Indígena sobre Biodiversidade (IIFB) e por Organizações de Povos Indígenas (OPI) membros da IUCN, a cúpula buscou consolidar o papel dos povos originários como protagonistas na governança global da natureza. Mais do que uma conferência, o evento simbolizou uma virada de paradigma: reconhecer o conhecimento ancestral como base essencial para restaurar o equilíbrio ecológico e enfrentar as crises climáticas.

Vozes que ecoam da floresta ao mundo

A secretária de Estado dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé, representou o estado no painel “Tudo, em todos os lugares, ao mesmo tempo: abordando os riscos do excesso climático”, que discutiu os impactos do colapso ambiental e as soluções possíveis a partir da sabedoria tradicional.

Em sua fala, Puyr destacou que os povos indígenas do Pará têm sido guardiões ativos da floresta e da vida. “Temos trabalhado incansavelmente para proteger nossos territórios e modos de vida. Representar o Pará é representar todos os povos indígenas do estado, mostrando que nosso conhecimento é uma ferramenta poderosa para enfrentar os desafios ambientais do planeta”, afirmou.

A participação paraense reafirma o papel do estado como liderança na agenda climática da Amazônia, fortalecendo o diálogo entre saberes tradicionais e políticas públicas. “Estar na Cúpula é garantir que nossas vozes sejam ouvidas nos espaços globais. O Pará mostra que é possível unir ciência, ancestralidade e gestão pública para construir um futuro em que floresta e vida caminhem juntas”, completou Puyr.

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Reprodução – ONU

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Um pavilhão que simboliza resistência e renovação

Durante o evento, foi inaugurado o Primeiro Pavilhão dos Povos Indígenas, espaço autogerido que simboliza o modo de vida nos territórios originários. O pavilhão apresenta experiências de conservação ambiental, gestão territorial, tecnologias sustentáveis e transmissão intergeracional de saberes.

Mais do que uma instalação expositiva, o pavilhão é um manifesto visual e político: afirma a autonomia das comunidades indígenas na produção de conhecimento e na construção de soluções para as crises climáticas. Essa iniciativa também busca fortalecer redes de colaboração entre povos tradicionais de diferentes regiões do planeta, criando um canal direto entre a Amazônia, os Andes, o Ártico e o Pacífico.

O Pará e a diplomacia do conhecimento tradicional

A presença da SEPI na Cúpula Mundial reflete o compromisso do Governo do Pará com uma política de justiça climática que valoriza os saberes indígenas e os coloca no centro da formulação de políticas públicas. Essa atuação está alinhada à estratégia do estado de consolidar-se como referência global em sustentabilidade e bioeconomia amazônica, especialmente no contexto da COP30, que será realizada em Belém em 2025.

A participação do Pará em fóruns internacionais também sinaliza uma transição diplomática importante: o estado deixa de ser apenas palco da biodiversidade e passa a ocupar um papel de liderança na construção de soluções ambientais globais. O protagonismo indígena torna-se, assim, um vetor estratégico da política externa subnacional, integrando espiritualidade, território e inovação.

A Cúpula Mundial dos Povos Indígenas e da Natureza não é apenas um evento de representação simbólica, mas um passo decisivo para redefinir a relação entre humanidade e meio ambiente. O encontro mostrou que o conhecimento tradicional, muitas vezes marginalizado por séculos, é hoje reconhecido como ciência viva — um saber que orienta práticas de manejo, agricultura sustentável, restauração florestal e equilíbrio espiritual com a Terra.

Ao participar dessa cúpula, o Pará reafirma que o futuro da Amazônia e do planeta depende da escuta atenta às vozes ancestrais. É nelas que reside o entendimento profundo de que a natureza não é um recurso, mas um ser vivo com o qual a humanidade compartilha destino.

Crianças, clima e futuro: o direito de sonhar existe

No Dia das Crianças, levanta-se um alerta urgente: em meio à emergência climática, quem mais sofre — muitas vezes em silêncio — são as crianças, especialmente aquelas na primeira infância. São elas que carregam no corpo e na alma a vulnerabilidade intensificada por secas, inundações, ondas de calor e deslocamentos. Não se trata apenas de estatísticas: é vida, é futuro.

A equipe da Política por Inteiro convidou uma turma muito especial para participar de uma ação simbólica, mas poderosa. Essas crianças aparecem de vez em quando em nossas reuniões, filhas, filhos, irmãs e sobrinhas e com sua presença nos lembram que sonhar é um direito inalienável. Propusemos a elas uma missão: desenhar aquilo que amam e que gostariam de ver permanecer no mundo. Desenhar o que desejam para o futuro. A tarefa, embora simples no imaginário infantil, carrega uma carga de alerta e esperança que ecoa no presente.

Os desenhos nos revelam sonhos, árvores frondosas, rios limpos, animais, amigos, sorrisos e denunciam medos: cidades inundadas, desertos silenciosos, natureza estéril. Mais do que isso, apontam para um pacto coletivo: aquilo que amamos hoje precisa resistir amanhã. E esse pacto só é possível se agirmos agora — com responsabilidade, urgência e compaixão.

A emergência climática impõe desafios colossais, mas o modo como os afetamos revela escolhas políticas e morais. Proteção ambiental não é tema periférico: é eixo vital dos direitos da infância. Não basta reconhecer que crianças são vulneráveis,  é preciso torná-las centrais nas estratégias de adaptação e mitigação. Internacionalmente, marcos como a Convenção sobre os Direitos da Criança e relatórios da UNICEF vêm alertando sobre o impacto desproporcional do clima nas gerações mais novas. Precisamos escutá-los e agir junto.

Olhar para esses desenhos como se não representassem apenas linhas e cores, mas visões de mundo possíveis, exige uma transformação narrativa: transformar a linguagem árida do relatório em linguagem sensível, afetiva, analítica. Cada menino e menina que desenhou pôs no papel o que não quer perder: rios que correm livres, florestas que protegem, céu azul que respira. Esses desejos convergem para o essencial: dignidade, segurança, liberdade ecológica.

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Entre as ideias centrais que emergem:

  1. A infância como guarda dos bens naturais: o que cuidamos hoje será o alicerce para o futuro que entregamos.

  2. A desigualdade climática: crianças pobres, indígenas, negras e periféricas sofrem riscos maiores — secas mais severas, inundações mais frequentes, falta de saneamento.

  3. O direito à participação: crianças devem ser ouvidas nas decisões que definirão seus territórios, suas moradas e seu bem-estar.

  4. A urgência da ação coletiva: governos, empresas, instituições e sociedade civil devem responder com políticas climáticas que respeitem o tempo humano, e não apenas metas numéricas.

  5. A poética do afeto: os desenhos reafirmam que lutar pelo clima é também lutar por aquilo que amamos — corações que se entrelaçam com florestas, com rios e com amigos.

Ao reescrever esta narrativa, rompemos a frieza técnica e acolhemos a dimensão simbólica. Não é suficiente dizer “aquecimento global aumentará secas”, é preciso mostrar que uma criança desenha uma árvore para que o mundo siga respirando. Não basta citar metas de 2050, é necessário colocar no presente a urgência de proteger quem mais necessita.

Essas crianças, com sua simplicidade potente, nos lembram que o direito à infância inclui a garantia de um ambiente saudável. A floresta com pássaros, o lago com peixes, a rua com matizes de verde: tudo isso que hoje pulsa nos traços infantis é urgência pública. Quando deixamos de proteger o presente, estamos roubando sonhos do amanhã.

Mais do que um dia de celebração, o Dia das Crianças se torna um momento de escuta e de compromisso. É convite para governos ouvirem vozes pequenas, mas que sabem bem o que querem: futuro. É alerta para que políticas climáticas sejam também políticas de infância e adolescência. É convoco coletivo para que, com o traço terno da imaginação juvenil, redesenharmos um mundo possível.

Que esses desenhos não fiquem apenas expostos em reuniões. Que sirvam de bússola para políticas ambientais, urbanas, educacionais, que reconheçam: cuidar da infância é cuidar do clima. E cuidar do clima é cuidar da infância.

Veja a íntegra do livro aqui: https://revistaamazonia.com.br/wp-content/uploads/2025/10/00_TalanoGraf-Crianca-1.webp

COP30: financiamento climático e transição energética a dez anos do Acordo de Paris

Em novembro, a Amazônia brasileira se transformará no centro do debate climático mundial. A 30ª Conferência das Partes (COP30), marcada para ocorrer de 10 a 21 de novembro em Belém (PA), será a primeira sediada em uma região de floresta tropical. Quando completam-se dez anos da assinatura do Acordo de Paris, o evento será palco de tensões, ambições e contradições: os prazos são repetidamente descumpridos, e a urgência para agir cresce em meio a atrasos e lacunas de compromisso. Ao lado da cúpula oficial, acontecerá a Cúpula dos Povos — espaço de articulação de organizações sociais, povos indígenas e movimentos populares que exigem que promessas se transformem em medidas concretas.

Embora as negociações entre Estados continuem no cerne da COP, a Cúpula dos Povos buscará “pressionar os governos” para fazer valer as vozes de quem protege a terra e sofre primeiro com os impactos da crise climática, segundo Francisco Kelvim, da comissão organizadora da mobilização social.

O mecanismo COP foi criado logo após a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, com o objetivo de gerar espaço formal de negociação entre países para mitigar os impactos ambientais do aquecimento global. A primeira edição ocorreu em 1995, em Berlim, e desde então ocorre anualmente como fórum diplomático. Hoje, num contexto cada vez mais fragmentado e polarizado, sua relevância é questionada por muitos — mas sua função de reunir Estados e sociedade continua essencial.

No horizonte desta COP30 estão temas como financiamento climático, mitigação e adaptação, transição energética justa e a revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que marcam o compromisso de cada país para a redução de gases de efeito estufa. Há também a expectativa de que as decisões tomadas em Belém reflitam um balanço global das ações climáticas nos dez anos após o Acordo de Paris.

Um decênio de compromissos não cumpridos

Doze anos se passaram desde o Acordo de Paris, cujo objetivo mais ambicioso é limitar o aquecimento global a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais. No entanto, os progressos até agora registram um cenário alarmante: segundo o Observatório do Clima, os planos atualmente submetidos levariam a um aquecimento de 2,7 ºC, quase o dobro da meta. Os países ainda não elevaram suas ambições de modo suficiente, e muitos sequer apresentaram novas NDCs para o período pós-2030. A carta conjunta das presidências das COP28, COP29 e COP30 convocou os países a ampliarem essas metas, propondo que os cortes globais de emissão atinjam 43% até 2030 e 60% até 2035.

O Brasil, por sua vez, afirma que seguirá avançando no cumprimento de metas e na mobilização internacional. Durante a COP, será lançado oficialmente o recém-proposto Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa nacional que pretende mobilizar recursos globais para conservar florestas tropicais em pé e transferir pagamentos por esse serviço ambiental. Essa proposta já vem sendo gestada nos últimos anos, e o governo brasileiro anunciou aporte inicial de US$ 1 bilhão ao fundo.

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Foto: Kiara Worth / IISD/ENB

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Transição energética, desigualdades e vozes excluídas

A transição energética, tema central em Belém, traz consigo uma tensão sistêmica: quem transita e quem paga o custo dessa mudança? Países do Norte Global defendem a eliminação progressiva de combustíveis fósseis e investem em mobilidade elétrica, enquanto países do Sul muitas vezes dependem desses combustíveis para sua matriz energética. Isso impõe pressão sobre ecossistemas ricos em minerais essenciais (como lítio, cobalto e terras raras), cujas extrações podem gerar impactos ambientais e sociais profundos, sobretudo sobre comunidades locais. A definição de “justiça” nessas transições será um dos grandes campos de disputa na COP30.

Durante as negociações preparatórias em Bonn, elaborou-se uma “nota informal” que sugere incluir direitos humanos, direitos laborais, participação indígena e perspectiva de gênero nos instrumentos de transição justa. Espera-se que Belém avance não apenas na retórica, mas na implementação concreta desses princípios.

Financiamento climático e a armadilha dos empréstimos

Um ponto decisivo da agenda será o cumprimento do Artigo 9 do Acordo de Paris, que obriga países desenvolvidos a prover financiamento climático aos países em desenvolvimento. Até hoje, esse financiamento ainda é insuficiente e bastante condicionado. Em muitos casos, ele assume a forma de empréstimos, aumentando a dívida dos países beneficiados.

Na COP29, foi elaborada a “Rota de Baku a Belém”, que define uma meta de mobilização de US$ 1,3 trilhão anuais para financiamento climático global. Contudo, até agora, não houve consenso político sobre quem deve contribuir — países em desenvolvimento mais ricos ou exclusivamente os países de maior renda. Durante o Sexto Diálogo de Alto Nível sobre Financiamento Climático, ficou evidente que o apoio à adaptação continua escasso, mesmo diante de tensões climáticas crescentes. Procedimentos como “canjes de dívida pela natureza” e emissão de “green bonds” foram apontados como possibilidades para liberar margens orçamentárias para ações climáticas.

Controvérsias e crítica ao modelo do TFFF

A ambiciosa proposta do TFFF também enfrenta críticas. Organizações como o Movement for the World’s Rainforests (WRM) denunciam que o modelo se aproxima do antigo REDD+ e pode repetir violações de direitos indígenas, falta de transparência e captura financeira. O WRM alerta que recursos podem não chegar às comunidades locais, e que o mecanismo fomentará mais dívida para países do Sul ao privilegiar retorno para investidores especulativos. Eles afirmam que esse tipo de financiamento, embora promissor, permanece subordinado à lógica de mercado capitalista.

Além disso, há riscos de duplicidade com os mercados voluntários de carbono, de concorrência entre fundos e de centralização de poder em instâncias financeiras. A governança, transparência e salvaguardas sociais serão pontos delicados de negociação.

Uma Cúpula paralela para alternativas reais

Em Belém, paralelamente à COP30, vai ocorrer a Cúpula dos Povos (de 12 a 16 de novembro). Até o momento, 1.000 entidades e comunidades são esperadas para demandar caminhos alternativos ao modelo extrativista e ao capitalismo global. Entre os temas de debate: soberania territorial e alimentar, justiça climática, resistências indígenas, mobilidade social, desigualdade e energias comunitárias. No dia 15, está previsto um chamado global à ação climática.

Kelvim sintetiza assim: “Não basta reformar o modelo produtivo; é urgente interromper essa lógica que concentra riqueza e destrói territórios. Os que mais sofrem precisam protagonizar a nova economia”.

A COP30 chegará carregada de expectativas, riscos e desafios. Se por um lado espera-se avanço técnico e financeiro, por outro a legitimidade social e os direitos das comunidades serão testados. Afinal, a crise climática exige mais que discursos: exige justiça, ação e transformação real.

Estados amazônicos vislumbram até US$ 20 bilhões em receita com créditos de carbono até 2030

Uma nova fronteira de financiamento climático se abre para os estados da Amazônia Legal: a implementação do mecanismo de REDD+ jurisdicional (JREDD+) pode gerar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões em receitas até 2030, com base na redução das emissões de desmatamento e degradação florestal nos territórios estaduais. Essa estimativa, elaborada pelo Earth Innovation Institute em colaboração com programas de conservação no Brasil e em outros países tropicais, projeta que alguns estados já poderão emitir 100 milhões de créditos até 2026 e angariar cerca de US$ 1,5 bilhão, o valor que supera o montante total recebido pelo Fundo Amazônia em doações desde 2008 (aproximadamente US$ 1,4 bilhão).

O que é JREDD+ e por que ele importa

O conceito de JREDD+ é uma extensão do mecanismo internacional REDD+: “Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal”, que inclui conservação, manejo sustentável e aumento de estoques de carbono florestal. Enquanto o REDD+ tradicional opera a partir de projetos locais ou nacionais, o JREDD+ mede reduções e emite créditos em âmbito estadual ou jurisdicional, consolidando esforços territoriais e facilitando a escala. (ou subnacional) se beneficie de compensações por resultados coletivos de conservação — o que pode dar mais previsibilidade, alinhamento entre políticas públicas e crédito de carbono, e evitar fragmentações setoriais.

Exemplos concretos: Tocantins e Acre

No Tocantins, o Estado já deu passos decisivos: estruturou seu programa JREDD+ em 2023, lançou edital para parceria privada, e firmou acordo com a trader suíça Mercuria Energy Group, por meio de seu fundo Silvania. Esse parceiro comprometeu-se a aportar R$ 20 milhões e a adquirir os créditos que vierem a ser emitidos nos próximos anos. Projeta-se que o Tocantins possa gerar 50 milhões de créditos até 2030, o que estaria associado a uma receita superior a R$ 2,5 bilhões.

Além disso, o Tocantins conquistou um marco técnico: tornou-se a primeira jurisdição subnacional do mundo a ter seu documento TREES aceito pela ART (Architecture for REDD+ Transactions), abrindo caminho para certificação e emissão formal dos créditos.

No Acre, o programa jurisdicional também avançou. O estado já firmou acordo com o banco Standard Chartered para negociação de seus créditos por um período de cinco anos. O Acre já vinha operando desde meados da década de 2010 em programas piloto de remuneração por serviços ambientais. Agora, estabelece uma linha de base para comparações entre 2023 e 2027, e pretende reduzir seu desmatamento em 50 % no período — já tendo alcançado 25 % na primeira fase. Estima-se que o Acre possa emitir entre 30 e 50 milhões de créditos até 2030.

Esses estados apostam que os recursos gerados em JREDD+ não fiquem apenas em mecanismos de comando e controle, mas possam integrar políticas públicas estaduais, alimentando um ciclo virtuoso de conservação e desenvolvimento sustentável.

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Papel de estados intermediários e expansão

Outros estados da Amazônia Legal já estão em diferentes etapas de estruturação de seus programas jurisdicionais. Segundo análise recente, seis estados brasileiros estão trabalhando com o padrão ART/TREES para seus programas subnacionais de JREDD+. O Pará negocia mercado de compradores e mecanismos de consentimento com comunidades. Mato Grosso conta com apoio técnico do Earth Innovation Institute e parceiros privados. Outros estados demonstram interesse e traçam seus projetos conceituais.

No estado do Piauí, por exemplo, iniciou-se parceria com a Silvania e a empresa técnica Systemica para lançar seu programa jurisdicional. A expectativa é emitir 20 milhões de créditos até 2030, caso se alcance uma redução de 10 % nas emissões por desmatamento e degradação.

Esses avanços fazem parte da campanha Race to Belém, que busca escalar programas jurisdicionais no Brasil por meio de apoio de capitais privados e instituições de conservação.

Benefícios, desafios e implicações políticas

Se bem executado, o JREDD+ pode transformar o perfil de financiamento da conservação ambiental nos estados amazônicos. Ele introduz um novo vetor de recursos além das doações tradicionais, promovendo autonomia orçamentária e legitimidade econômica aos governantes estaduais comprometidos com a proteção florestal.

Porém, os desafios são amplos:

  • Lineamento técnico: definir linhas de base confiáveis, auditorias independentes e mecanismos rigorosos de mensuração, relato e verificação (MRV) é essencial para garantir credibilidade.

  • Compartilhamento de benefícios: na estruturação dos programas, mais de 50 oficinas públicas já foram realizadas nos estados para definir como os recursos da venda de créditos serão distribuídos entre comunidades, municípios e políticas públicas.

  • Salvaguardas sociais e ambientais: os programas JREDD+ devem respeitar as salvaguardas de Cancún (incluindo direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais, participação, transparência e prevenção de “vazamentos” de desmatamento para outras áreas). Fundo Amazônia

  • Risco regulatório e institucional: a estabilidade normativa e a coerência entre políticas federais e estaduais são fundamentais.

  • Dependência de mercado: os créditos só gerarão receita se houver demanda ambiental internacional ou mecanismos nacionais que valorizem a compensação florestal.

Politicamente, o JREDD+ exige que cada estado “faça seu dever de casa” — ou seja, cumpra metas, monitore florestas e garanta integridade ambiental — para atrair compradores e credibilidade. Com isso, a lógica de pagamento passa de “evitar que alguém derrube” para “remunerar quem preserva”.

A capitalização de até US$ 20 bilhões em receitas por meio de JREDD+ representa uma virada estratégica para os estados da Amazônia. É uma aposta nos mercados climáticos, na governança estadual e no protagonismo florestal. Se o Brasil, até a COP30, reforçar mecanismos técnicos e institucionais, o programa poderá se tornar referência global de como floresta preservada gera valor — para o estado, para as comunidades e para o clima planetário.

Um novo pacto global para manter as florestas em pé: o fundo que vai pagar quem preserva

À beira da COP30, marcada para novembro em Belém (PA), o Brasil propõe um instrumento inédito de financiamento climático que pode transformar a lógica da conservação global: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Em entrevista concedida ao programa A Voz do Brasil, a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima Marina Silva detalhou como esse mecanismo será capaz não apenas de punir o desmatamento, mas de valorizar quem protege.

A ambição do TFFF é clara: remunerar os países que mantêm suas florestas tropicais preservadas — estima-se que mais de 70 nações poderão participar desse modelo inovador. A lógica vai além do controle da derrubada; é um reconhecimento financeiro de que preservação também entrega serviço ao equilíbrio climático planetário.

Segundo a ministra, o TFFF será abastecido por aportes de governos e investidores privados. A ideia é captar recursos com juros baixos — por exemplo, com taxas de cerca de 4 % — e emprestá-los com remuneração mais elevada — 5, 6 ou 7 %. A diferença (o “spread”) seria convertida em um fundo que, ao longo do tempo, pudesse gerar um fluxo estável de recursos para pagar os países que mantêm suas florestas em pé. A expectativa é que esse mecanismo movimente cerca de US$ 4 bilhões por ano.

Do lado nacional, o Brasil já anunciou seu compromisso: foi o primeiro país a confirmar aporte de US$ 1 bilhão para o fundo, durante evento na ONU. Essa contribuição pretende sinalizar aos demais que o Brasil assume a liderança — e a responsabilidade — nessa aposta de futuro.

Critérios de elegibilidade e governança

Para participar do TFFF, cada país deverá provar que suas florestas estão sendo efetivamente preservadas. Isso envolve compromissos de longo prazo — entre 25 e 30 anos — e monitoramento rigoroso por satélite, para assegurar que não haja desmatamento além de certo limiar permitido. Também haverá penalidades (ou descontos) para áreas desmatadas ou degradadas. Um diferencial é que obrigatoriamente 20 % dos recursos serão destinados a povos indígenas e comunidades tradicionais, valorizando quem historicamente cuida da floresta.

A governança do TFFF deverá contar com participação multilateral, com países doadores, países detentores de florestas, povos tradicionais e representantes da sociedade civil. A proposta busca uma estrutura transparente e inclusiva, capaz de evitar assimetrias e assegurar que os recursos efetivamente cheguem a quem preserva.

Min.-Marina-Silva-Marcelo-Camargo-Agencia-Brasil-400x239 Um novo pacto global para manter as florestas em pé: o fundo que vai pagar quem preserva
Min. Marina Silva Marcelo Camargo Agência Brasil

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Não se trata de uma proposta simples ou sem riscos. Para decolar, o TFFF precisa conquistar compromissos robustos de financiamento — inclusive do setor privado — e operar com credibilidade técnica e institucional. Países, investidores e organizações ambientais já vêm discutindo salvaguardas socioambientais, critérios de mensuração do desmatamento e mecanismos de responsabilização.

Se bem-sucedido, o TFFF pode se juntar a instrumentos históricos de conservação, como o Fundo Amazônia, mas com escala global e estrutura inovadora de remuneração por desempenho. Seus defensores enxergam nele a chance de transformar o modo como o mundo investe na floresta — de doações tradicionais para um modelo orientado por resultados.

Contexto climático e relevância da COP30

A COP30, presidida pelo Brasil, será palco para a entrega oficial do TFFF. A proposta já ganhou tração internacional: durante a Semana de Ação Climática em Londres, representantes de dezenas de países manifestaram apoio ao fundo e ao seu modelo de remuneração por floresta conservada.  O grupo dos BRICS também assumiu publicamente compromisso com o mecanismo.

Para países tropicais, a proposta soa como uma oportunidade inédita: em vez de “ser penalizados por desmatar menos”, poderiam “ser recompensados por não desmatar mais”. Essa mudança de lógica fortalece incentivos à preservação e dá previsibilidade a políticas ambientais nacionais.

Se o Brasil conseguir transformar o TFFF em realidade operacional na COP30, estará propondo ao mundo um novo pacto: o de pagar quem cuida da floresta — especialmente nos espaços que mais precisam de apoio. É uma aposta de que proteger florestas pode ser remunerador, justo e estratégico para o equilíbrio climático global.

Rumo à excelência: café robusta indígena alcança nota máxima e vira kit premium

Num resultado histórico para a cafeicultura brasileira, um microlote de café robusta amazônica produzido por indígenas em Rondônia atingiu a pontuação máxima de 100 pontos, algo inédito para a espécie Coffea canephora segundo o protocolo Fine Robusta Cupping Form, aprovado no Concurso Tribos. Agora, esse grão raro chega ao mercado em um kit exclusivo de R$ 599, reunindo 150 g de café em grãos e um moedor de alta precisão, oferecido pela plataforma Mercafé.

O responsável pelo feito é Rafael Mupimoku Suruí, cacique da etnia Paiter Suruí na Terra Indígena Sete de Setembro (RO). Ele produz o café na aldeia Linha 9, situada em uma área entre os municípios de Cacoal (RO), Espigão d’Oeste (RO) e Rondolândia (MT). Dois dos nove jurados independentes — entre eles o renomado avaliador Silvio Leite, autoridade em cafés especiais — concederam a nota máxima ao lote de Suruí.

Para Leite, “este café é um dos mais complexos e completos que já provei em toda a minha carreira”. Ele destaca que nunca antes havia sido registrada oficialmente uma robusta com nota 100 — sobretudo um exemplar amazônico. Ao expressar orgulho e emoção, Rafael Suruí enaltece como o projeto que apoiou sua produção foi fundamental para valorizar o trabalho indígena e revelar o potencial da floresta na xícara.

A empresa responsável pela iniciativa é o Grupo 3corações, líder no setor de cafés no Brasil. O grão premiado integra a linha de cafés especiais por meio do Projeto Tribos, dentro da marca Rituais 85+. Essa iniciativa busca valorizar a produção indígena sustentável, fortalecendo a relação entre comunidades locais e mercados de alto valor agregado. O 3corações relata que apoia agricultores indígenas com estrutura, assistência técnica e garantia de compra, estimulando práticas de cultivo que priorizem qualidade e sustentabilidade.

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Walela Soepilema – Ag. Brasil

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Este microlote será comercializado exclusivamente no e-commerce Mercafé, com o pacote especial de café e moedor. O valor de R$ 599 reflete a rareza do lote e o reconhecimento internacional obtido. O 3corações também informa que todos os lucros obtidos serão revertidos aos produtores indígenas envolvidos.

Embora Rondônia não produza os maiores volumes de café do país, destaca-se por ter a maior produtividade média entre os estados brasileiros, segundo dados da Conab. A espécie robusta, geralmente menos valorizada que o arábica, aparece aqui em um salto de prestígio, com uma qualidade sensorial que surpreende pelo equilíbrio e complexidade.

Esse feito simboliza uma virada: movimentos que até então trabalhavam com microlotes experimentais ganham visibilidade e mercado. O reconhecimento de um robusta com pontuação 100 não apenas consagra Rafael Suruí, mas abre caminho para que outros produtores indígenas — historicamente marginalizados dos circuitos premium — possam disputar espaço. A aposta do 3corações é de longo prazo: o Projeto Tribos mapeia diversas aldeias com café já plantado, apoia estrutura de pós-colheita, realiza capacitações e atua para integrar essas comunidades ao mercado de cafés especiais.

Também há desafios importantes pela frente. Rafael menciona que na última safra houve perdas no rendimento por conta de condições climáticas — ele defende que investimentos em irrigação poderiam elevar a produtividade de forma sustentável. Há um processo de amadurecimento que exige apoio técnico constante, infraestrutura, logística viável e incentivos que garantam preços justos.

Em resumo, a ascensão desse café robusta indígena à nota máxima é mais do que um recorde. É uma declaração: na floresta pode brotar excelência, sob o protagonismo dos povos que ali vivem. Se essa iniciativa inspirar continuidade, replicação e visibilidade ampla, ela pode marcar um novo capítulo para os cafés amazônicos e para a economia de muitos territórios indígenas.

O setor mineral anuncia caminho audacioso rumo à descarbonização até 2050

Em 9 de outubro de 2025, o setor mineral brasileiro assumiu um compromisso ambicioso: reduzir até 90 % de suas emissões diretas de carbono até o ano de 2050. A meta foi formalmente apresentada ao embaixador André Corrêa do Lago — Presidente Designado da COP30 — durante encontro organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). A iniciativa surge no contexto de uma coalizão recém-formada, a Coalizão Minerais Essenciais, que reúne 14 entidades e empresas com atuação no segmento mineral.

No encontro, foram debatidas três frentes prioritárias para a agenda climática: minerais essenciais, agricultura e setor elétrico. A proposta é construir soluções colaborativas e ambiciosas — envolvendo governo, empresas e sociedade civil — para fortalecer a posição do Brasil na arena global de sustentabilidade e garantir que a mineração contribua de fato para a transição energética justa.

Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), destacou que a articulação entre diferentes segmentos é um passo estratégico: “A criação de coalizões, onde diferentes setores dialogam entre si, é uma conquista importante. É espetacular que possamos construir uma posição conjunta a ser levada ao Presidente da COP30”, afirmou. A presença do IBRAM ressalta a intenção de transformar compromissos em práticas concretas no setor.

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Divulgação – Ibram

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O estudo entregue à presidência da COP30 contextualiza como o setor mineral pode contribuir não apenas para reduzir suas próprias emissões, mas também para mitigar impactos ao longo da cadeia do aço e da energia global. O documento elaborado pela Coalizão aponta que o Brasil, dotado de diversidade geológica e de uma matriz elétrica relativamente limpa, detém vantagens estratégicas para assumir papel central na geopolítica dos recursos minerais.

A proposta de redução de até 90 % das emissões diretas considera três escopos de ação. No primeiro, o foco é a descarbonização das operações próprias, com metas de redução de até 80 % e neutralização residual de 14 %, somando o índice de 90 %. Para isso, foram identificadas cinco alavancas essenciais: eficiência energética, uso de biocombustíveis, expansão da eletricidade renovável, eletrificação de maquinário e neutralização por meio da restauração de áreas degradadas.

No segundo escopo, considera-se a influência do setor mineral sobre a cadeia global do aço. A aposta está em insumos para rotas de redução direta (pelotas, briquetes) e em substituição de processos de altos-fornos por tecnologias menos emissivas. Estima-se que, em 2050, essas mudanças possam reduzir até 110 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (MtCO₂e).

O terceiro eixo recai sobre os minerais de transição (cobre, níquel, lítio, terras raras etc.). A Coalizão aposta que a produção desses insumos poderá dobrar até 2050, contribuindo para uma redução adicional estimada em até 300 MtCO₂e ao ano — equivalente às emissões combinadas de São Paulo e Minas Gerais atualmente.

Mas esse plano robusto não é viável sem um ambiente propício. O relatório destaca cinco pré-requisitos para tornar as metas plausíveis: um marco regulatório claro (inclusive com precificação de carbono), acesso a tecnologias maduras e economicamente viáveis, logística e infraestrutura energética adequadas, instrumentos financeiros verdes e taxonomias que valorizem produtos de menor pegada de carbono, além de incentivos ao longo da cadeia para práticas circulares.

A Vale, uma das protagonistas da coalizão, já posicionou-se favoravelmente ao compromisso. Gustavo Pimenta, presidente da companhia, disse que descarbonização faz parte do cerne do negócio e que o Brasil está no centro desta transição. “Temos um enorme potencial de produção dos minerais que o mundo precisa para uma economia de baixo carbono”, afirmou.

Apesar de ambiciosa, essa trajetória enfrenta desafios estruturais. Problemas relativos à infraestrutura de transporte, à escala do financiamento, ao custo elevado das tecnologias verdes e à resistência política/regulatória são obstáculos concretos. Mas o lançamento da meta coletiva representa um momento simbólico e prático: a mineração não quer mais ser vista como vilã da crise climática, mas como peça estratégica da solução.

Em última instância, o resultado dessa pauta dependerá menos das intenções e mais da capacidade real de execução dos planos. A trajetória de 2025 a 2050 exigirá governança transparente, controle técnico rigoroso e mecanismos efetivos de responsabilização. Se a promessa de reduzir 90 % das emissões até meados do século virar realidade, o setor mineral brasileiro poderá redirecionar seu legado: de grande poluidor a protagonista da era da descarbonização.