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Dilma Rousseff afirmou que reunião em Beijing redefiniu políticas de gênero

A Reunião de Líderes Globais sobre Mulheres realizada em Beijing, de 13 a 14 de outubro de 2025, foi anunciada por Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), como muito mais do que uma celebração histórica: para ela, esse encontro representou uma chance estratégica de definir rumos concretos para o futuro da igualdade de gênero.

Rousseff recordou que se passaram trinta anos desde a Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Beijing em 1995, que resultou na Declaração de Beijing e na Plataforma de Ação — documentos, ela afirmou, com alcance internacional sem precedentes para promover os direitos das mulheres. Ao olhar para os desafios atuais, ela reforçou que o evento em 2025 não deveria servir apenas para revisitar promessas, mas para convertê-las em políticas tangíveis. “Das promessas para as políticas”, foi a expressão usada por Rousseff para sinalizar essa transição.

Segundo ela, o mundo atravessava múltiplas crises — socioeconômicas, sanitárias, ambientais — e, frente a isso, as mulheres já não se colocavam apenas como receptoras de políticas públicas, mas como agentes centrais da transformação. Para Rousseff, o empoderamento feminino não era um ideal distante, mas um imperativo para construir sociedades mais justas, sustentáveis e pacíficas.

No exercício de seu papel como presidente do NBD, instituição que reúne os países do BRICS, Rousseff destacou que bancos multilaterais e instituições financeiras precisavam ir além de fornecer recursos: deveriam alinhar seus investimentos às realidades de gênero, reconhecendo desigualdades e promovendo acessos iguais a serviços essenciais como água, energia, transporte e moradia, especialmente onde as mulheres historicamente foram excluídas.

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Foto: Roberto Stuckert Filho

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Outro ponto que ela enfatizou foi a importância de que a reunião global em Beijing sinalizasse não só intenções simbólicas, mas compromissos novos e prioridades renovadas para a próxima geração. Rousseff acreditou que este momento exigia coragem, clareza e vontade coletiva para transformar o legado histórico em avanços concretos.

Também chamou atenção para a iniciativa de Governança Global da China (IGG), que, para Rousseff, chegava em momento crítico. Ela a descreveu como instrumento para promover mudança de paradigma — do unilateralismo para parceria — e para reafirmar que igualdade de gênero não poderia ficar à margem do desenvolvimento global, mas devia figurar como eixo central de governança, políticas públicas e cooperação internacional.

Interpretação e contexto

O discurso de Dilma Rousseff sugeriu que, embora muito tenha avançado desde 1995, persistem lacunas substanciais. A diferença entre compromisso formal e implementação concreta foi um tema subjacente, e sua ênfase em políticas (em vez de princípios) sublinhou que enfrentar desigualdades exige institucionalidade, investimento contínuo e vontade política.

Além disso, sua perspectiva liga diretamente duas agendas que às vezes correm paralelas: gênero e sustentabilidade, ou igualdade de gênero e justiça social. Ao destacar acesso a serviços básicos e infraestrutura, ela indicou que empoderamento feminino depende não apenas de reconhecimento legal, mas de condições materiais — moradia decente, transporte, energia, água potável — que afetam diretamente o cotidiano das mulheres, especialmente nas áreas rurais ou em comunidades vulneráveis.

A presença do NBD, sob sua liderança, como agente desse processo, também sugere uma estratégia em que finanças internacionais e investimentos privados podem ser orientados para políticas de gênero — algo que vai além de mera filantropia, para se tornar parte integral do desenho das economias futuras.

Por fim, ao conectar o evento global em Beijing com Agenda 2030 e com os instrumentos deixados pela Conferência de 1995, Rousseff tentou posicionar o Brasil e o NBD como atores que não apenas homenageiam o passado, mas que aspiram ser construtores ativos de um futuro onde igualdade, inclusão e poder de transformação das mulheres sejam parte central da ordem social e econômica global.

BNDES liberou R$ 250 milhões para restaurar biomas degradados

No início de outubro de 2025, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um aporte significativo: R$ 250 milhões destinados à restauração ecológica de mais de 24 mil hectares degradados nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. O anúncio representou o maior financiamento já aprovado pelo BNDES com recursos do Fundo Clima para recuperação de mata nativa no país.

O convênio foi formalizado com a Suzano, multinacional brasileira líder na produção de celulose, que opera vastas áreas florestais no país. O plano envolveu recuperar vegetação em regiões de preservação permanente e reserva legal em diversos estados, entre os quais São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Pará e Mato Grosso do Sul, contemplando parte dos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia.

Objetivos e escopo da restauração

Segundo o BNDES, o projeto previa atuação em cerca de 24.304 hectares degradados, somando áreas de solo exposto, pastagens, vegetação secundária e zonas agrícolas que poderiam se beneficiar de intervenções de restauração adaptativas. Um ponto importante era que cerca de 60% dessas áreas pertenciam a imóveis de terceiros, parceiros da Suzano, o que implicaria em ações de restauração colaborativa.

As metas envolviam não só recompor ecossistemas, mas também restaurar funções ecológicas: reduzir erosão, proteger nascentes e recursos hídricos, reconectar corredores ecológicos e recuperar biodiversidade local. Esperava-se que as áreas restauradas capturassem aproximadamente 228 mil toneladas de CO₂ equivalente por ano.

Além disso, parte do esforço seria direcionada à regularização ambiental de mais de mil imóveis rurais nos estados contemplados, uma medida que integrou aspectos jurídicos, ambientais e de governança no projeto.

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Contexto: o papel do Fundo Clima e o desafio das monoculturas de eucalipto

O Fundo Clima, criado em 2009, consiste em instrumento público de financiamento de iniciativas de mitigação e adaptação climática, incluindo restauração florestal. O aporte da ordem de R$ 250 milhões representou, de fato, o maior desembolso desse tipo até então autorizado pelo BNDES dentro desse programa.

A escolha da Suzano não foi casual. A empresa mantém cerca de 1,5 milhão de hectares plantados de eucalipto, usados para produção de celulose, distribuídos entre os biomas Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado, dentro de seus 2,6 milhões de hectares de florestas sob controle. Esse cenário insere o projeto num contexto mais amplo: o Brasil ocupa o nono lugar mundial em áreas plantadas com eucalipto, com mais de 7,8 milhões de hectares espalhados por vários estados como Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Bahia.

As monoculturas intensivas de eucalipto têm sido alvo de alertas de pesquisadores. Um estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apontou que essas monoculturas podem reduzir em quase 30% a diversidade de invertebrados bentônicos. Além disso, o manejo intensa dessas plantações tende a esgotar nutrientes do solo — porque os ciclos de retorno de matéria orgânica não são suficientes para compensar a retirada —, o que pode levar à acidificação. O uso elevado de água pelas plantações também é um risco apontado por estudos da Universidade Estadual de Goiás: solos desprotegidos ficam mais sujeitos à erosão, ao aumento de temperatura local e à intensificação do impacto das chuvas. Outro aspecto preocupante refere-se à alelopatia: folhas de eucalipto podem liberar compostos químicos no ambiente aquático ao serem carregadas pela chuva, prejudicando organismos aquáticos.

Significados, riscos e desafios

Esse investimento do BNDES aponta para uma tentativa de aliar restauração ecológica a compromissos climáticos e ao modelo de bioeconomia. Se entregue conforme o previsto, o projeto poderia servir como modelo de parcerias público-privadas para reflorestamento em escala, integrando objetivos ambientais, sociais e produtivos.

No entanto, há desafios. A restauração de ecossistemas complexos requer monitoramento, adaptabilidade e insumos técnicos diversificados. A garantia de continuidade ao longo dos anos, diante de pressões econômicas, é essencial. Além disso, a dimensão territorial e os riscos de retrocessos, por retomadas de práticas intensivas, são elementos que colocam pressão sobre a eficácia real.

Ainda, a articulação entre os interesses econômicos de empresas florestais e as exigências ambientais demanda mecanismos sólidos de governança, transparência e envolvimento local. O fato de grande parte da restauração incidir sobre imóveis de terceiros e parceiros implica coordenação cuidadosa e equidade nas relações.

Por fim, o aporte reforça uma estratégia em voga no Brasil: utilizar a restauração florestal como instrumento de mitigação de emissões de gases de efeito estufa e como componente da agenda climática nacional. Se bem executado, pode render ao Brasil não apenas ganhos ambientais locais, mas credibilidade internacional e protagonismo nas negociações climáticas.

IPAM propôs ampliação de áreas protegidas para COP30 amazônica

Em meados de outubro de 2025, os olhos da comunidade científica e da esfera política se voltaram para uma carta enviada ao editor da revista Nature, redigida pelos diretores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho e André Guimarães. Nesse texto formal, mas carregado de urgência, os pesquisadores defenderam que o Brasil poderia deixar um legado decisivo na COP30, em Belém, se ampliasse de modo substancial as áreas de floresta sob proteção legal na Amazônia. Eles apresentaram uma visão estratégica: unir a preservação do bioma às responsabilidades climáticas globais, em um gesto capaz de reforçar credibilidade nacional e compromisso internacional.

Moutinho e Guimarães destacaram que, legalmente, muitas dessas florestas já deveriam estar destin­adas à conservação, mas o processo de definição tem sido adiado por estados e governos federais. Essa demora, segundo eles, deixou um imenso território vulnerável à grilagem, ao garimpo ilegal e aos incêndios florestais — ameaças que corroem, diariamente, o capital natural da Amazônia. Eles propuseram que as chamadas FPNDs (Florestas Públicas Não Destinadas), hoje com cerca de 50 milhões de hectares no bioma, sejam oficialmente convertidas em unidades de conservação ou de uso sustentável, com prioridade para povos indígenas, comunidades tradicionais e extrativistas.

desmatamento-em-labrea-municipio-do-sul-do-amazonas-foto-victor-moriyama-amazonia-em-chamas-2021-2-400x239 IPAM propôs ampliação de áreas protegidas para COP30 amazônica
Victor Moriyama/Greenpeace

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Para aprofundar essa proteção, sugeriram ainda que se estendam salvaguardas a mais 30 milhões de hectares de vegetação florestal. Parte desse território já pertence a pequenos proprietários, que poderiam continuar produzindo, sob apoio técnico e financeiro, e ao mesmo tempo ser remunerados pela preservação da vegetação remanescente. Outra parcela, excedente de Reserva Legal em grandes propriedades, legalmente passível de desmatamento, poderia ser incorporada a programas como o Conserv, que paga por serviços ambientais associados à manutenção de áreas naturais.

Os pesquisadores lembraram que proteger mais florestas traz benefícios diretos ao país: mais de 90% da agricultura brasileira depende de chuvas, e a floresta amazônica cumpre papel essencial na geração e manutenção desses regimes pluviométricos. Assim, ampliar a conservação não é apenas uma medida ecológica, mas uma estratégia para garantir segurança alimentar e mitigar impactos climáticos globais.

Um dado alarmante citado na carta: das perdas de vegetação nativa no bioma amazônico, cerca de 36,5% ocorrem em florestas públicas não destinadas. No primeiro semestre de 2025, foram desmatados mais de 69 mil hectares nessas áreas, enquanto 32,7 milhões de hectares seguem sob risco de ocupação ilegal.

Para além dos argumentos técnicos, o IPAM fez um apelo simbólico: ao destinar essas terras à conservação, o Brasil poderia reivindicar a “maior contribuição individual de uma nação ao combate da crise climática” — imagem potente para ganhar relevância no contexto da COP30.

Essa proposta, se acolhida, poderia transformar o perfil brasileiro no cenário internacional: não apenas como país amazônico, mas como ator que entrega resultados ambiciosos e estruturados de conservação. Em outras palavras, não se pede apenas discurso, mas compromisso institucional de longo prazo.

A carta do IPAM foi recebida como um desafio e uma chamada, especialmente para um momento em que o Brasil, por sediar a conferência, tem sob os olhos do mundo a expectativa de mostrar liderança global. A proteção das florestas públicas não destinadas pode ser um fio condutor entre diplomacia climática e ação efetiva no território.

Congresso atuou fortemente nos preparativos da COP30 climática

Durante a realização da Pré-COP, em Brasília, o Congresso Nacional assumiu protagonismo nas articulações climáticas. Na terça-feira, dia 14 de outubro, as subcomissões da Câmara dos Deputados e do Senado se uniram em audiência conjunta para debater os seis eixos temáticos da COP30 e reafirmar o papel legislativo na construção da agenda climática brasileira.

O encontro, que integrou a programação da Pré-COP, reuniu representantes de mais de 60 países e tinha como meta viabilizar consensos que deveriam ser submetidos às chefias de Estado na conferência de Belém (PA).

Papel ampliado do Parlamento

A senadora Leila Barros (PDT-DF), que presidia a subcomissão no Senado, recordou que o engajamento parlamentar na arena climática vinha se ampliando nos meses anteriores. Ela destacou que as subcomissões do Legislativo, presididas, respectivamente, pela deputada Duda Salabert (PDT-MG) na Câmara e por ela no Senado, vinham buscando dar voz e legitimidade democrática ao processo de formulação da COP30.

Leila ressaltou que o Parlamento tinha o dever de dar respaldo legal e institucional às decisões que seriam tomadas na conferência, alinhando-as ao Acordo de Paris. Ela mencionou os seis eixos temáticos estruturantes adotados pela presidência brasileira da COP30: transição energética justa; florestas e biodiversidade; adaptação e resiliência; financiamento climático; cidades sustentáveis e inclusivas; e participação social.

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Edilson Rodrigues/Agência Senado
Fonte: Agência Câmara de Notícias

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Vozes do Nordeste e protagonismo social

O deputado Fernando Mineiro (PT-RN) deu voz ao protagonismo nordestino, lembrando que parlamentares da região vinham atuando com temas como desertificação na Caatinga e desafios do semiárido. Para ele, integrar essas pautas ao debate nacional conferia relevância política e territorial ao Congresso no contexto climático.

A deputada Dandara (PT-MG), presidente da Comissão de Amazônia e Povos Originários na Câmara, elogiou a intensa participação da sociedade civil nas audiências preparatórias da COP30. Ela citou que a Pré-COP das Juventudes, que congregou representantes de todos os biomas, permitiu a apresentação de propostas de financiamento e metas por jovens, mulheres, negros, indígenas e quilombolas, agregando diversidade de perspectivas ao debate climático.

Desafios legislativos e avanços regulatórios

O deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE) alertou para os obstáculos que pairavam sobre a pauta ambiental no Congresso. Ele criticou a perspectiva de derrubada de vetos presidenciais à Lei de Licenciamento Ambiental (Lei 15.190/25), apelidada de “PL da devastação”, e sustentou que, à medida em que a COP se aproximava, o Congresso não poderia votar medidas que fragilizassem a proteção ambiental.

Por outro lado, os parlamentares celebraram a aprovação da Lei 15.042/24, que instituiu o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa — o mercado de carbono nacional. Esse mecanismo foi citado como peça central para impulsionar a transição energética no Brasil, conectando metas climáticas às decisões econômicas e regulatórias.

Significados e legado

A audiência das subcomissões durante a Pré-COP deixou evidente que o Congresso buscou se posicionar como parceiro estratégico, não apenas como observador externo, no processo climático nacional. Ao debater e influenciar os eixos da COP30 — que envolvem áreas cruciais como energia, biodiversidade, adaptação e justiça social —, o Legislativo buscou legitimar as decisões futuras e garantir que estas tenham base legal, institucional e participação social.

Além disso, ao articular a presença parlamentar com a mobilização civil — especialmente de jovens, povos originários, mulheres e populações rurais — o Congresso procurou fortalecer a dimensão democrática do processo climático. A interlocução entre Executivo, Legislativo e sociedade civil, já tensionada em outras arenas políticas, aqui se expandiu para o tema existencial das mudanças climáticas.

Por fim, o evento demonstrou que avanços regulatórios como mercados de carbono e mecanismos de licenciamento ambiental seriam testados no Congresso, enquanto o debate sobre legitimidade, governança e participação social se tornou parte central da agenda da COP30. A mobilização do Legislativo — expressa nessa audiência conjunta — projetou uma expectativa relevante: que Belém não fosse apenas palco de compromissos simbólicos, mas de decisões concretas respaldadas por instituições representativas.

Brasil defendeu descarbonização na COP30 com confiança renovada

Durante a intensa semana de debates sobre clima em Brasília, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, concedeu entrevista ao programa Bom Dia, Ministro e reforçou a narrativa que o Brasil pretendia levar à COP30: a de um país profundamente comprometido com a descarbonização e que se apresentaria ao mundo com “cabeça erguida”. Em suas palavras, o Brasil seria “o país que mais descarboniza no mundo” e a conferência climática que ocorreria em Belém (PA) não seria apenas a “COP da floresta”, mas sobretudo a “COP das energias limpas e renováveis”.

Silveira destacou que o país ostentava uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, com cerca de 90 % de energia proveniente de fontes renováveis e limpas. Essa condição, em sua visão, transformaria o Brasil em porta-voz de credibilidade na COP30, exibindo ao mundo um projeto nacional pautado em sustentabilidade e inovação no setor energético.

Ele aproveitou para enumerar avanços concretos recentes no setor de biocombustíveis: o etanol, por exemplo, passou a compor 30 % da mistura da gasolina (antes era 27 %). No caso do biodiesel, o índice B10 foi ajustado para B15. Essas mudanças, segundo o ministro, foram viabilizadas pela “lei do combustível do futuro”, aprovada em aproximadamente um ano de tramitação, e geraram milhares de novos empregos.

Screenshot-2025-07-31-120431-400x184 Brasil defendeu descarbonização na COP30 com confiança renovada
Fonte: COP30 Brasil 2025

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Na avaliação de Silveira, esses êxitos não nasceram apenas das potencialidades naturais do Brasil, mas também da robustez institucional, estabilidade política, jurídica e macroeconômica, que atrai investidores estrangeiros. Ele afirmou que empresas ao redor do mundo, especialmente aquelas preocupadas com compliance e sustentabilidade, exigem que seus centros de operação estejam alinhados a matrizes limpas e renováveis.

Durante a entrevista, também foram abordados os data centers, considerados estratégicos para a infraestrutura digital moderna. Segundo o ministro, o Brasil tinha potencial para se tornar um polo atraente dessa cadeia: já havia negociações para que empresas como o TikTok investissem em instalações no Ceará, com aporte estimado em R$ 50 bilhões. Ele contava com conversas em curso com investidores chineses e estadunidenses para trazer ainda mais capital ao país nesse segmento.

Outro ponto citado por Silveira foi a medida provisória aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para instituir o Redata, regime especial de tributação para serviços de data center no Brasil. Segundo ele, esse regime prevê incentivos condicionados a contrapartidas em pesquisa e desenvolvimento, além de estimular o adensamento das cadeias digitais em regiões menos favorecidas (Norte, Nordeste e Centro-Oeste).

Silveira resumiu que a MP já havia sido encaminhada ao Congresso e que sua adoção representaria uma peça adicional no mosaico que reforçava a atratividade nacional frente a empresas globais, muitas das quais demandam que armazenamento de dados e processamento sejam sustentados por energia renovável.

Ao longo da entrevista, circulou ao fundo o contraste entre a visão ambiciosa do governo e os desafios práticos de um setor tecnológico global competitivo. Para Silveira, o momento era de mostrar que sustentabilidade, ética e competitividade não são opostos, mas integrados no projeto de desenvolvimento brasileiro.

Pré-COP30 reúne Brasil e comunidade global pelo multilateralismo

A Brasília de outubro respira clima internacional. Nos dias 13 e 14, a cidade abrigou a Pré-COP30, etapa decisiva para preparar as negociações climáticas que culminarão na Conferência das Partes (COP30), marcada para novembro em Belém. Desde a abertura, a mensagem é clara: não basta traçar metas – é hora de implementá-las de fato e reafirmar o multilateralismo climático.

Na cerimônia inaugural, participaram o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, o secretário-executivo da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), Simon Stiell, além de representantes dos Círculos da Presidência da COP30 sob mediação do presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, e da diretora executiva da COP30, Ana Toni. O foco: acelerar a entrega dos compromissos climáticos assumidos pelos países, especialmente as novas versões das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).

Alckmin abriu com uma síntese dos três pilares definidos pela presidência brasileira da COP30: o fortalecimento do regime climático multilateral, a conexão dos compromissos com a realidade das pessoas e a aceleração da implementação do Acordo de Paris. Citou já estar em curso a NDC 3.0 brasileira, apresentada em Baku, que prevê redução das emissões líquidas entre 59 % e 67 % em relação a 2005 até 2035 — um corte que representaria entre 850 milhões e 1,5 bilhão de toneladas de CO₂ evitadas. Essa ambição evidencia que, para Brasília, combate climático e resiliência devem avançar juntas.

Simon Stiell destacou que, nas semanas que antecedem a COP30, será publicado um relatório que avalia o nível de ambição dos novos instrumentos nacionais climáticos, assim como documentos de transparência e planos de adaptação (NAPs). Ele fez um apelo às partes que ainda não apresentaram suas novas NDCs para que o façam o quanto antes, de modo que os delegados cheguem a Belém com panorama completo para deliberar.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

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No discurso de Alckmin também emergiu uma narrativa de autodemo: o Brasil já ultrapassa 80 % de geração elétrica por fontes renováveis — nível superior ao de 69 países que ainda operam com 50 %. Isso foi usado para reforçar que a transição energética no Brasil não é só idealismo, mas caminho possível e rentável, que pode servir de exemplo regional.

Stiell, por sua vez, lembrou que investimentos em energia limpa já somaram mais de 2 trilhões de dólares globalmente no último ano. A capacidade adicional instalada quase que inteiramente provém de fontes renováveis, mas ele reforça que o desafio agora é distribuir equitativamente os benefícios dessa transição.

Para que a COP30 seja bem-sucedida, Stiell enfatizou que os resultados devem ser claros: mostrar que o multilateralismo ainda entrega, dando concretude aos discursos com metas mensuráveis. O Brasil, disse ele, precisa agir não como protagonista isolado, mas como parte de uma cooperação plural para garantir que nenhum país fique para trás.

Logo após a abertura, os Círculos da Presidência da COP30 fizeram seus balanços. No Círculo de Finanças, liderado pelo ministro Fernando Haddad, foram detalhadas três iniciativas estratégicas: o Fundo Florestas para Sempre (TFFF) — que propõe um novo modelo de financiamento baseado em investimentos, não apenas em doações —; a Coalizão Aberta para Integração dos Mercados de Carbono, visando interoperabilidade entre sistemas regulados; e a Supertaxonomia, que busca padronização e integridade entre taxonomias nacionais para orientar investimentos sustentáveis.

No Círculo dos Presidentes, Laurent Fabius (ex-presidente da COP21) enviou vídeo lembrando que não se trata de inventar metas novas, e sim implementar as já acordadas. Do Círculo dos Povos, a ministra Sônia Guajajara enfatizou que a COP30 terá a maior delegação indígena de sua história, destacando os territórios tradicionais como sumidouros de carbono e reivindicando que seus saberes sejam integrados às políticas climáticas. E no Círculo do Balanço Ético Global (BEG), representado pela ministra Marina Silva em nome do presidente Lula e de António Guterres, ponderou-se que a crise climática também é uma crise moral: o BEG deve trazer escuta planetária e diálogo sobre coerência entre decisão política e urgência de ação.

Essa Pré-COP deixou claro que Belém não poderá ser palco de discursos vazios. O Brasil chega à conferência com ambições audaciosas — e também sob expectativa internacional de mostrar que pode mover o tabuleiro dos compromissos climáticos para a arena das entregas. A transição energética, o financiamento climático e a justiça ambiental serão os eixos que definirão o sucesso desta jornada coletiva.

Caminhos para financiar resiliência e proteger comunidades

O Brasil vive um momento de urgência climática. Todos os anos somos atravessados por novas tragédias, enchentes arrastam famílias, secas castigam regiões inteiras, deslizamentos destroem lares e esperanças. Para enfrentar esse cenário, não basta debater em gabinetes: precisamos combinar iniciativas do poder público, da sociedade civil, do setor privado e da cooperação internacional em frentes articuladas e estruturantes.

É exatamente esse o espírito do II Congresso de Resiliência Climática, promovido pela Defesa Civil do Estado de São Paulo, que ocorrerá no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, no dia 16 de outubro de 2025, das 9h às 16h. O evento reunirá especialistas nacionais e internacionais, gestores públicos, lideranças empresariais e representantes da sociedade civil para uma agenda urgente: financiamento público e privado para reduzir riscos e responder a desastres.

O tema desta edição: “financiamento público e privado para a redução de riscos e desastres”, não é mero slogan. Ele reflete o desafio central que atravessa governos, organizações e comunidades: como viabilizar recursos (fiscais, financeiros, tecnológicos) para transformar projetos de resiliência em ações efetivas? Como fazer com que cidades vulneráveis não fiquem sujeitas à tragédia quando o próximo desastre vier?

Durante o congresso haverá painéis com autoridades, conferencistas internacionais e grandes nomes do setor privado. Serão momentos para apresentar políticas bem-sucedidas, estudos de caso, inovações tecnológicas, mecanismos de governança colaborativa e modelos de parcerias que ajudam a prevenir catástrofes e fortalecer a capacidade de resposta das comunidades afetadas.

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Ao final, todos os participantes receberão certificado de presença. A inscrição já está aberta e gratuita, pelo Sympla: https://www.sympla.com.br/evento/ii-congresso-de-resiliencia-climatica/3140488 Sympla

É importante destacar o papel do Movimento União BR, que apoia o congresso e atua há anos conectando doadores, organizações e voluntários em crises emergenciais e estruturais. Essa articulação entre iniciativa privada, sociedade civil e gestão pública é essencial para viabilizar ações de impacto e promover um legado perene em resiliência social e ambiental.

O encontro será palco de reflexões profundas: como alinhar instrumentos financeiros, fundos de calamidade, crédito subsidiado, seguros de risco climático com políticas urbanas, infraestrutura verde, planejamento territorial e mobilização comunitária? Como garantir que os recursos cheguem de fato aos territórios mais vulneráveis, com controle social, transparência e adaptabilidade às realidades locais?

Ao revés de discursos técnicos distantes, este congresso pretende ser um espaço de escuta ativa e construção coletiva. Que gestores aprendam com experiências bem-sucedidas de outros estados e países; que empresas compreendam seu papel estratégico ao investir em resiliência; que atores das periferias mostrem quais são os gargalos reais na base; que pesquisadores proponham novas métricas e soluções integradas.

A escolha do Palácio dos Bandeirantes não é simbólica apenas pela sua grandiosidade institucional: é um convite simbólico para que os poderes públicos assumam protagonismo na construção de um futuro mais seguro e inclusivo. Que as decisões tomadas não fiquem restritas ao auditório, que reverberem nos orçamentos municipais, nos planos diretores, nas redes sociais, nos quintais mais frágeis.

Sabemos que o Brasil não pode esperar. A cada estação chuvosa, a cada estiagem prolongada, a cada alerta ignorado, vidas são colocadas em risco. Mas também sabemos que resiliência não é destino fixo: ela se constrói no dia a dia, por meio de alianças estratégicas, governança compartilhada e inovação com impacto.

Se você atua no setor público, no terceiro setor, na academia ou nas empresas, sua presença pode fazer a diferença: no aprendizado coletivo, nas redes que serão formadas, nas ideias que florescerão e, principalmente, nas alianças que perdurarão. Venha somar. Cada gesto conta. Que este congresso seja um passo concreto para um Brasil mais preparado, humano e resiliente.

Ações fortalecem vigilância da água e saúde pública no Alto Solimões

Em uma das regiões mais desafiadoras do país em termos de acesso e logística, o Alto Solimões, no Amazonas, vem recebendo atenção especial para garantir que a população tenha água potável e segura. A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) ampliou em outubro as ações de monitoramento da qualidade da água nos municípios de Tabatinga, Benjamin Constant e Atalaia do Norte, reforçando a integração entre saúde pública, meio ambiente e infraestrutura hídrica.

As visitas técnicas, realizadas entre 6 e 10 de outubro, envolveram a Gerência de Riscos Não Biológicos (GRNB) da Diretoria de Vigilância Ambiental da FVS-RCP, com apoio das secretarias municipais de Meio Ambiente, Saúde e Educação. A iniciativa faz parte de uma estratégia de cooperação entre Estado e municípios, voltada à ampliação da vigilância ambiental e à promoção de hábitos de consumo mais seguros nas comunidades amazônicas.

Segundo a diretora-presidente da FVS-RCP, Tatyana Amorim, o trabalho conjunto tem impacto direto na prevenção de doenças de veiculação hídrica. “Cada supervisão é uma oportunidade de fortalecer o controle da qualidade da água e proteger a saúde da população. Garantir segurança hídrica é também garantir dignidade e bem-estar para quem vive nas áreas mais remotas do Amazonas”, afirma.

Durante as atividades, as equipes visitaram três Estações de Tratamento de Água (ETAs) em cada município, avaliando o processo completo de captação, filtragem e distribuição. O levantamento confirmou que as estruturas estão em conformidade com os padrões de potabilidade, com exceção do parâmetro de flúor, que apresentou variações abaixo do ideal. Ainda assim, as demais etapas do tratamento — como coagulação, filtração, desinfecção e controle de turbidez — estão funcionando adequadamente, assegurando água segura à população.

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FOTOS: Divulgação/ FVS-RCP

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O gerente da GRNB, Ronaldo Adriano, destaca que a intensificação do monitoramento responde a alertas recentes sobre a qualidade dos rios da região. “O Rio Solimões é o coração dessa parte do estado, e sua saúde reflete diretamente na saúde das pessoas. Por isso, reforçamos a importância de um trabalho integrado entre vigilância e meio ambiente, unindo esforços com os municípios e parceiros locais para aprimorar o monitoramento das águas”, explica.

Essas ações fazem parte do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), que tem como meta assegurar à população brasileira o acesso a água em quantidade suficiente e qualidade compatível com os padrões de potabilidade definidos pela legislação federal. O programa atua tanto em grandes centros urbanos quanto em comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas, onde o desafio logístico é maior.

No Amazonas, a FVS-RCP é responsável por coordenar o Vigiagua em parceria com prefeituras e órgãos locais. Até setembro de 2025, a fundação distribuiu mais de 3,8 milhões de frascos de hipoclorito de sódio, com concentração de 2,5%, para desinfecção de água em comunidades vulneráveis à escassez de água potável. Só na região do Alto Solimões, foram entregues 286.950 frascos, medida que reforça o compromisso com a saúde preventiva e a segurança hídrica.

Os resultados refletem um esforço contínuo do governo estadual para descentralizar políticas públicas de saúde e meio ambiente, aproximando-as das realidades amazônicas. As ações de vigilância da água no interior não apenas previnem doenças, mas também fortalecem a autonomia técnica dos municípios, promovendo uma cultura de cuidado coletivo com os recursos hídricos — um bem essencial para a vida e o desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Estação Central da COP leva mudanças climáticas à sala de aula

Às vésperas da COP30, marcar presença no ambiente educacional tornou-se estratégia essencial — e o Observatório do Clima (OC) embarca nessa missão com o projeto Estação Central da COP. A iniciativa foi pensada para munir professores, gestores e coletivos pedagógicos com ferramentas — físicas e digitais — que permitam inserir nos currículos escolares o debate sobre mudanças climáticas, justiça ambiental e o papel transformador da participação juvenil.

O ponto de partida é simples: acessar a plataforma da Estação Central da COP, inscrever-se e ter acesso imediato ao kit digital com conteúdos elaborados por especialistas em clima. Posteriormente, quem desejar poderá concorrer ao envio do kit impresso, limitado em número de unidades, ao realizar uma atividade com estudantes e registrá-la em vídeo. O prazo para envio desses vídeos vai até 27 de outubro de 2025, com sugestão de que cada produção contenha também uma mensagem da comunidade escolar para a COP30.

Ao transformar salas de aula em “estações” de debate e descoberta, o projeto visa dialogar com estudantes do ensino fundamental (últimos anos) e do ensino médio, fomentando curiosidade sobre os fenômenos climáticos e a urgência de respostas sociais, políticas e científicas. Os kits incluem um guia passo a passo para implantação da Estação, materiais de ambientação (como cartazes, bandeiras, adesivos e bottons), e conteúdos de estudo — como o almanaque climático, o guia ilustrado “Eunice”, um álbum de figurinhas temático, um guia do Acordo de Paris e textos introdutórios sobre a COP.

Não se trata apenas de distribuir conteúdo: o OC aposta em multiplicação ativa. Ao solicitar o kit físico, o educador deve colocar os materiais em prática, criar oficinas, rodas de conversa, exposições ou atividades criativas e registrar o resultado em vídeo. As produções são exibidas nos canais da Estação Central e são também uma vitrine para boas práticas pedagógicas territoriais — uma forma de valorizar iniciativas locais e inspirar outras escolas.

2025-09-15t154954z_1_lynxnpel8e0nx_rtroptp_4_onu-cop30-equipe-limita-400x239 Estação Central da COP leva mudanças climáticas à sala de aula
Reuters/Marx Vasconcelos/proibida reprodução

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Há um duplo propósito nesse esforço: primeiro, ampliar o acesso a conteúdos educativos confiáveis e bem construídos; segundo, conectar a lógica curricular com os desafios globais, contribuindo para que jovens compreendam que decisões tomadas na COP também reverberam no cotidiano local — nas cidades, nas florestas, nas periferias. A coordenadora de engajamento e mobilização do OC, Joana Amaral, sintetiza essa ambição ao afirmar que o projeto busca “circular informações relevantes, acessíveis e fortalecer o protagonismo dos jovens na compreensão e defesa ambiental”.

Outro ponto importante do projeto é seu alinhamento com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os materiais foram concebidos para dialogar com metas de aprendizagem, como o incentivo à consciência socioambiental, ao reconhecimento das transformações climáticas e à construção de autonomia reflexiva em face de cenários ambientais regionais e globais.

O Observatório do Clima, fundado em 2002, é uma rede consolidada na agenda ambiental brasileira. Conta hoje com 162 organizações de diversas áreas (sociedade civil, institutos de pesquisa, movimentos socioambientais) e coordena projetos como o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa). Desde 2013, o SEEG tem disponibilizado dados sobre emissões nacionais, setoriais e locais, servindo como base técnica e informativa para políticas, pesquisas e educação.

Ao investir em educação climática num momento de alta visibilidade — com a realização da COP30 em Belém — o OC busca ampliar a conscientização ambiental no país. Se o palco formal da conferência exigirá negociações diplomáticas e políticas, a Estação Central da COP aposta numa ocupação cidadã da sala de aula: cada aluno que compreender melhor o clima, cada estudante que questionar políticas ambientais, cada mensagem enviada à COP30 constitui uma peça do diálogo mais amplo entre ciência, sociedade e poder.

Pois a crise climática não se debate apenas em conferências internacionais: ela conquista espaços também no cotidiano escolar. E se, até agora, o tema já convivia com lacunas curriculares e resistências, iniciativas como essa mostram que é possível tornar a sala de aula parte ativa do debate climático — e não apenas receptora passiva de conteúdos.

A COP30 será palco de grandes decisões e compromissos globais. Se, dentro do pavilhão, governos e delegações negociam metas, nas escolas, jovens bem informados podem ampliar o alcance dessas decisões. A Estação Central da COP é um caminho para aproximar esses mundos — conectar diplomacia e viva experiência local —, formando cidadãos capazes de transformar realidade e pedir conta das escolhas climáticas de agora e de amanhã.

Greenline negocia ativos verdes de R$ 400 milhões na B4

A crescente pressão por transparência e impacto concreto nas mudanças climáticas tem dado espaço a modelos inovadores de mercado — entre eles, os ativos verdes negociados na Bolsa de Ação Climática B4. No Brasil, uma empresa chama atenção por negociar cerca de R$ 400 milhões em créditos de carbono baseados em uma metodologia inédita. Trata-se da Greenline Carbonsat, que conseguiu listar seus projetos Cauré I e Cauré II na B4 após extensa auditoria técnica e verificação de sua abordagem própria de geração de créditos.

A B4 Capital, fundada em agosto de 2023, é a primeira Bolsa de Ação Climática do Brasil. A plataforma funciona como um espaço onde empresas compradoras, geradores de créditos de carbono e entidades se conectam para negociar ativos ambientais, com uso de blockchain para garantir rastreabilidade, registro público e imutabilidade das transações.

Os números atuais da B4 demonstram que o mercado brasileiro de carbono voluntário já opera com estruturas mais maduras e conectadas. São centenas de projetos submetidos ou listados; milhões de toneladas de CO₂ equivalente ofertadas; dezenas de milhares de hectares monitorados.

No caso específico da Greenline Carbonsat, seus dois projetos de crédito, Cauré I e Cauré II, juntos abrangem cerca de 75 mil hectares monitorados, gerando aproximadamente 5,27 milhões de toneladas de CO₂ equivalente em créditos, que estimam alcançar valor de R$ 400 milhões em mercado.

A metodologia usada pela Greenline, chamada GREENLINE/GREENSAT, aposta em dados de satélite global para mensurar o sequestro líquido de carbono em escalas desde 100 hectares — uma capacidade que reduz a dependência de inventários presenciais, particularmente úteis em áreas remotas ou de difícil acesso. A abordagem já recebeu certificação de eficácia superior a 99% pela Bureau Veritas, reconhecida certificadora internacional.

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Reprodução

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Apesar dos avanços, há considerações críticas: especialistas apontam para desafios de validação, especialmente no que tange à adicionalidade — isto é, quanto do carbono “protegido” sob esses projetos seria realmente preservado caso a iniciativa não existisse. Um estudo realizado pela Climate Policy Initiative em parceria com a PUC-Rio propõe novas formas de modelar essa adicionalidade, considerando não apenas tendências históricas de desmatamento, mas também fatores econômicos, logísticos, produtividade e variáveis de mercado que afetam decisões de uso da terra. Isso poderia influenciar a percepção de risco ou de impacto real dos ativos ambientais em negociação.

A chegada de regulações mais claras no Brasil, como a lei que instituiu o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), ajuda a reforçar esse ambiente institucional, oferecendo regras mais definidas para uso, emissão e negociação de créditos de carbono. A proximidade da COP30, que será realizada no Pará em novembro de 2025, intensifica esse cenário — governos, empresas e investidores veem o evento como concentrador de atenção internacional, oportunidades de articulação e demonstração de compromisso climático.

Lucio Lopez, fundador da Greenline Carbonsat, ressalta que o processo para validar sua metodologia e obter certificação, bem como listar os projetos na B4, levou mais de dois anos de auditorias técnicas e avaliações. Para ele, esse rigor é essencial não apenas para conquistar mercado, mas para assegurar credibilidade aos benefícios ambientais anunciados.

Em suma, a negociação de ativos verdes da Greenline Carbonsat representa uma confluência de inovação metodológica, compromisso verificável e ambiente regulatório favorável — mas não sem desafios técnicos e éticos. A verdadeira prova será manter padrões elevados de transparência, adicionalidade e monitoramento contínuo, para que esse tipo de ativo sirva não apenas para movimentação financeira, mas para concretizar mitigação real de emissões. Às vésperas da COP30, esse tipo de iniciativa pode mostrar se o Brasil está preparado para liderar um mercado climático consistente, tanto internamente quanto em diálogo global.

Ministro diz que Brasil não corre risco energético hoje

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, assegurou nesta terça-feira (14) que o Brasil não enfrenta risco energético — e descreveu como “pontual e momentânea” a queda de energia registradas em estados das cinco regiões do país. Ele atribuiu o evento a falhas técnicas na infraestrutura do Sistema Interligado Nacional (SIN), e não a um déficit de geração elétrica.

Durante participação no programa Bom Dia, Ministro, organizado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Silveira reforçou que apagões são caracterizados por falta de capacidade de geração — condição que, segundo ele, não se aplica ao cenário atual. Ele recordou a crise de 2001, quando escassez hídrica comprometeu reservatórios e levou ao racionamento nacional, e disse que o país, hoje, está longe desse patamar.

Interrupção em cadeia: incêndio, desligamentos e recuperação

De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), por volta de 0h32 ocorreu um incêndio em um reator da Subestação de Bateias, no Paraná, que desligou toda a instalação de 500 kV e provocou aplique de carga equivalente a cerca de 10 000 MW nos quatro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

Na ocasião, a região Sul exportava cerca de 5 000 MW para o Sudeste / Centro-Oeste, e o desligamento abrupto provocou um desequilíbrio que acionou o Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC) — mecanismo de proteção que interrompe partes da rede de forma controlada para evitar colapsos sistêmicos.

Segundo o ONS, o restabelecimento ocorreu de forma gradual: em até 1h30min, as regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste voltaram ao normal, enquanto o Sul foi totalmente restabelecido cerca de 2h30 após o evento.

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Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

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Entre a percepção pública e realidade técnica

Silveira argumentou que o uso popular da palavra “apagão” pode gerar confusão em episódios como este. Ele disse que um apagão técnico — termo estrito — ocorre quando falta geração suficiente para atender à demanda. No caso atual, não houve escassez de geração. “Essa interrupção foi pontual, de origem técnica no sistema, e durou cerca de 1h30min”, disse o ministro.

Segundo ele, o sistema elétrico brasileiro — hoje fortemente interligado e sustentado por geração diversificada (hidroelétricas, termelétricas e outras fontes) — oferece “energia suficiente para a demanda do país”. Ele citou que em 2021, uma situação equivalente ocorreu, mas naquela época se deveu a falhas no planejamento de usinas térmicas, algo que ele afirma ter sido sanado no atual modelo.

Por que essa falha provocou apagão generalizado?

Especialistas e registros da imprensa apontam que, apesar da ocorrência ser localizada, ela desencadeou efeitos em cadeia — principalmente porque a subestação atingida tinha papel estratégico de interconexão entre regiões.

Com a interrupção de 10 000 MW de carga, o sistema reagiu desligando trechos em diferentes estados para conter desequilíbrios. O consumo no momento chegou a 72 GW de demanda, segundo Silveira, o que torna a perda de energia expressiva em relação ao total.

Após acionar proteções automáticas, o ONS atuou junto aos agentes de operação e distribuição para restaurar a normalidade. Segundo Silveira, esse tipo de incidente faz parte da “resiliência do sistema”, que é projetado para enfrentar contingências sem comprometer o sistema como um todo.

Lições, limites e o que monitorar

O episódio expôs fragilidades pontuais no sistema de transmissão e a dependência que ele tem de componentes críticos como subestações de alta tensão. Embora o ministério minimize seu impacto sobre a capacidade de geração, ele serve como alerta para manutenção, modernização e investimento em infraestrutura de rede.

Também será importante monitorar os relatórios técnicos resultantes da análise da perturbação — o Relatório de Análise da Perturbação (RAP), que está previsto para ser elaborado nos próximos dias pelo ONS. Uma reunião preliminar já foi anunciada com agentes do setor para apurar causas e responsabilidades.

Para reforçar sua tese, Silveira recorreu à comparação histórica: “Não é o caso agora” — ele quer distanciar o episódio das crises energéticas de 2001 e 2021. No entanto, para muitos analistas, o evento revela que, por mais que a geração esteja segura, a robustez da rede elétrica e a confiabilidade da transmissão são igualmente determinantes para evitar apagões.

O Brasil atravessou uma noite com queda de energia em grande parte do país, mas, segundo as autoridades, não foi um apagão no sentido clássico. Para o governo, a integridade da capacidade energética permanece. Agora cabe à investigação técnica aprofundada — e à capacidade do sistema de se blindar diante de falhas pontuais — evitar que episódios semelhantes se repitam.

Se quiser, posso produzir uma versão resumida para veículos matutinos, criar um infográfico sobre o percurso da queda de energia, ou simular perguntas e respostas para esclarecer pontos técnicos ao público. Você quer algum desses formatos?

Petrobras enfrenta risco de perder sonda se licença para perfurar não sair até dia 21

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou nesta terça-feira (14) que aguarda com urgência a liberação de licença ambiental pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para operar no bloco da Foz do Amazonas. Segundo ela, se a autorização não sair até o dia 21 de outubro — data-limite do contrato da sonda de perfuração —, a estatal pode perder o direito de uso dessa embarcação tecnológica, o que forçaria a reiniciar o processo de licenciamento com nova sonda contratada.

Em entrevista após participar do Conselho Empresarial de Petróleo e Gás da Firjan, no Rio, Chambriard disse esperar que uma reunião marcada para quinta-feira (16) entre equipes da Petrobras e Ibama possa resolver pendências regulatórias e destravar a autorização para perfuração. “Até onde me foi informado, havia uma demanda por esclarecimentos. Espero que nessa reunião tudo esteja resolvido para iniciar a perfuração”, declarou.

Risco de perda contratual e escassez de sondas tecnológicas

A executiva enfatizou que a sonda em questão é rara e tecnológica, estando entre as poucas de última geração existentes no mundo atualmente. Se for removida, a recomposição contratual pode levar tempo — e todo o licenciamento precisará ser refeito do zero. Em relação aos custos, Chambriard citou que a sonda gera despesa diária de cerca de R$ 4,2 milhões para a Petrobras enquanto permanece ociosa.

Segundo reportagem da Reuters, a estatal já acumula aproximadamente R$ 180 milhões em custos de espera com a sonda no local da Foz do Amazonas.

Estado do licenciamento ambiental

Embora a Petrobras sustente que já cumpriu etapas tecnicamente exigidas, o Ibama ainda fez solicitacões adicionais. Recentemente, o órgão ambiente pediu novos esclarecimentos técnicos, apontando incertezas nos planos de resposta a emergências e proteção à fauna marinha.

A própria Agência Brasil reportou que o Ibama aprovou o simulado de resposta a vazamentos (Avaliação Pré-Operacional, ou APO) que a Petrobras realizou em agosto, etapa visto como final antes da autorização para perfuração. Porém, a aprovação da APO não configura licença automática: ajustes foram requisitados para que o projeto ambiental atenda requisitos específicos regionais.

Em maio de 2025, o Ibama aprovou o conceito do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada (PPAF) — parte do plano de emergência da Petrobras como etapa prévia ao licenciamento. A aprovação do PPAF foi considerada “penúltima etapa” antes da licença de perfuração.

Mesmo assim, o Ibama ressalta que a licença final depende da comprovação de ajustes exigidos, especialmente em relação à fauna marinha e às condicionantes para a operação ambientalmente segura.

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Presidente da Petrobras, Magda Chambriard – foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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Politização técnica e pressão institucional

Nos bastidores, o licenciamento da Foz do Amazonas toca questões políticas, econômicas e ambientais sensíveis. Técnicos do Ibama, em documentos internos, já recomendaram a negativa da licença, citando deficiências na proposta da Petrobras e riscos elevados.

Ainda assim, a diretoria do Ibama acabou reavaliando e aprovando o PPAF, contrariando pareceres de analistas internos. O presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, já declarou que nenhum técnico assinará licença sem garantias robustas de segurança.

Essa tensão técnica-politica decorre do fato de que a Foz do Amazonas é apontada como a nova fronteira de exploração petrolífera brasileira, dentro da chamada Margem Equatorial, que envolve blocos concedidos entre o Amapá e o Rio Grande do Norte. Muitos desses blocos dependem de decisões similares de licenciamento ambiental para viabilização futura.

Consequências e cenários futuros

Se a licença não sair até o dia limite do contrato da sonda, a Petrobras perde a embarcação e terá que reiniciar o processo de licenciamento para nova sonda, o que pode atrasar significativamente o cronograma de exploração. Magda Chambriard enfatizou que isso colocaria em risco os planos da empresa para perfurações exploratórias em águas profundas na região da Foz do Amazonas.

Um dos riscos de tal atraso é a necessidade de readequar os documentos ambientais já preparados — inclusive o PPAF e o simulado de resposta — para nova sonda, o que pode gerar novos questionamentos técnicos e burocráticos junto ao Ibama.

Além disso, os custos acumulados pelo tempo de inatividade são expressivos: já se fala em centenas de milhões de reais. A estratégia da estatal nos próximos dias será essencial. Se a licença sair até o encontro do dia 16, a Petrobras poderá movimentar esforços para iniciar a perfuração antes do vencimento do contrato. Caso contrário, a empresa poderá ficar presa num impasse regulatório e operacional.

A reunião prevista para quinta-feira (16) entre as equipes da estatal e do Ibama será decisiva para decidir se a sonda permanecerá in loco ou será recolhida. Para a Petrobras, o prazo de 21 de outubro não é apenas uma data administrativa, mas um ponto de inflexão para sua ambição de explorar a nova fronteira petrolífera brasileira.

Marina Silva: ações concretas para combustíveis devem falar mais

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, levantou nesta terça-feira (14), durante a Pré-COP em Brasília, um dos debates mais delicados da agenda climática: como mover o mundo além das negociações e efetivar ações reais para afastar a dependência dos combustíveis fósseis, petróleo, carvão e gás. O ponto central de sua intervenção foi defender o uso de adicionalidades, instrumentos fora da pauta formal de negociação da COP30, para impulsionar medidas concretas de transição energética e romper a rigidez do protocolo técnico.

Segundo Marina, embora o tema dos combustíveis fósseis não figure entre os 140 itens previstos para debate em Belém, ele já obteve um avanço simbólico na COP28: o documento final em Dubai incorporou o artigo 28 do Balanço Global (GST), que trata explicitamente da transição para além dos combustíveis fósseis, “de forma justa, ordenada e equitativa, com o objetivo de acelerar ações até 2050”.

Na visão da ministra, as adicionalidades oferecem a margem de manobra para manter esse tema vivo — mesmo quando ele não consta da agenda formal. “Precisamos de esforço que considere capacidades distintas, tempos de transição diferentes e as diversas realidades de pessoas e países”, afirmou. O uso dessas ferramenta, segundo ela, pode criar pontes entre discurso técnico e urgência prática.

Um dos pilares dessa proposta é a redestinação de subsídios do setor fóssil para iniciativas de energia limpa. Marina destacou que os subsídios aos combustíveis fósseis, conforme metodologia adotada, oscilam entre US$ 1,5 trilhão e US$ 7 trilhões globalmente, enquanto os incentivos aos renováveis ficam em torno de US$ 170 bilhões nos países do G20 (ou cerca de US$ 500 bilhões se somado o investimento privado). Ela defendeu que essa transferência “é o ponto de partida” para virar o jogo.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Para reforçar essa proposta, Marina utilizou o compromisso brasileiro com o desmatamento ilegal zero até 2030 como exemplo de política nacional que articula metas ambientais e mecanismos de implementação. Segundo ela, esse modelo poderia inspirar planos nacionais de transição energética, com critérios consensuais e adaptados às circunstâncias de cada país, assim como ocorre com as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas).

Marina recordou que, até a COP28, as decisões climáticas evitavam mencionar de forma explícita o abandono dos combustíveis fósseis. O artifício do artigo 28 representou um avanço simbólico, mas precisa ser convertido em ação. “Decisões anteriores evitavam mencionar direta e claramente essa necessidade”, disse.

O tom de sua fala aponta uma tensão latente nas negociações climáticas contemporâneas: como reconciliar processos multilaterais — lentos, pautados por consenso — com a urgência climática que exige mudança rápida. Marina insistiu que a COP30 precisa superar o risco de ficar presa em disputas protocolares e voltar-se ao excesso de formalismo: “ações devem superar negociações”.

Esse tipo de discurso surge em meio a um contexto global de crescente pressão sobre combustíveis fósseis. A COP28 foi considerada um ponto de inflexão: pela primeira vez, um texto de COP endossou de modo explícito a transição energética, orientando os países a “se afastar dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos” de maneira alinhada às metas do Acordo de Paris.

Mas essa narrativa foi esculpida com cautela diplomática: os termos “eliminar” ou “banir” combustíveis fósseis não apareceram textualmente; o verbete aprovado foi “transição”. Ainda assim, ativistas e países vulneráveis consideraram esse avanço um sinal de que o “elefante na sala” finalmente foi reconhecido nas negociações climáticas.

Nos corredores da Pré-COP, esse pano de fundo conferiu urgência às propostas de Marina. Ela reconheceu que o regime climático terá de lidar com contradições: países com capacidades distintas, prazos de transição assimétricos e realidades socioeconômicas diversas. A estratégia com adicionalidades é apresentada como um mecanismo de convívio entre esse pluralismo e uma ambição mais firme.

A ministra concluiu sugerindo que a COP30 em Belém deve ser um momento de convergência entre técnica e movimento social, entre diplomacia e ação concreta. Se esse compromisso for efetivo, a conferência terá deixado de ser palco de retórica e se tornado alavanca de transformações reais.

Plataforma “Mutirão COP30” lança convocação global para ação climática colaborativa

Na esteira dos preparativos para a COP30, a presidência brasileira lançou oficialmente nesta segunda-feira a plataforma de mobilização chamada Mutirão COP30, concebida como uma vitrine digital para agrupar e expandir iniciativas climáticas em todo o mundo. Inspirada no conceito indígena tupi-guarani de mutirão, um esforço coletivo espontâneo e solidário, a iniciativa busca articular ações locais e globais que fortaleçam o compromisso com o combate às mudanças climáticas.

O Mutirão COP30 pretende operar como um espaço de convergência, onde cidadãos, organizações, comunidades e governos possam registrar, visibilizar e alinhar ações climáticas ao processo da Organização das Nações Unidas (ONU) para enfrentar a crise ambiental. A ideia é que, por meio dessa plataforma, iniciativas locais, muitas vezes invisíveis, ganhem escala, reconhecimento e conexão com agendas nacionais e internacionais.

Um apelo por participação descentralizada

Segundo a presidência da COP30, o Mutirão visa estimular iniciativas que emergem de dentro das comunidades — aquelas definidas pelas próprias pessoas segundo suas prioridades, capacidades e contexto local. Em vez de impor ações vindas “de cima”, quer-se construir uma governança climática mais horizontal e duradoura.

A plataforma já está organizada em torno dos seis eixos que norteiam a Agenda de Ações da COP30:

  • Energia, Indústria e Transporte

  • Florestas, Oceanos e Biodiversidade

  • Agricultura e Sistemas Alimentares

  • Cidades, Infraestrutura e Água

  • Desenvolvimento Humano e Social

  • Questões Transversais

Esse alinhamento estratégico facilita que cada ação localizada — seja um mutirão de limpeza de área natural, uma campanha de mobilidade urbana sustentável ou um plantio comunitário — possa ser incorporada ao grande mosaico climático global.

Funcionalidades e exemplos de ação

A plataforma oferece diversas formas de participação presencial e virtual. Ações podem ser registradas como eventos locais, mutirões temáticos (limpeza urbana, compostagem, hortas comunitárias, mobilidade sustentável etc.) ou como campanhas online de conscientização, debates em redes sociais ou oficinas remotas.

Por exemplo, já estão previstos mutirões de plantio de árvores, limpeza de rios e praias, compostagem urbana e ações de educação ambiental. A própria plataforma incentiva que até mutirões virtuais sejam organizados, com transmissões, trocas de materiais e compartilhamento de resultados.

Além disso, a plataforma serve como uma vitrine: quem propõe uma ação local pode ganhar visibilidade internacional e conectar-se a parcerias que ampliem o impacto.

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Reproduçao

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Contexto e urgência estratégica

O lançamento do Mutirão COP30 ocorre num momento crítico das negociações climáticas globais. O primeiro Balanço Global (Global Stocktake, GST) indicou que os esforços atuais ainda estão abaixo do necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris, acentuando a urgência de converter intenções em ações efetivas.

A plataforma se posiciona como um instrumento complementar ao aparato diplomático tradicional: enquanto negociações entre Estados costumam se concentrar em metas, financiamento e regulações, o Mutirão busca conectar o macro ao micro — o grande debate ao cotidiano.

Segundo o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, “o Mutirão Global é um chamado a todos, não somente para falar sobre mudança, mas para ser a mudança”. A presidente-executiva da COP30, Ana Toni, complementou que, quando ações locais são visibilizadas e conectadas, podem desencadear “efeitos em cadeia que influenciam sistemas, políticas e resultados”.

Desafios e potenciais críticos

Embora o conceito seja atraente, operar uma plataforma global com apelo local enfrenta obstáculos reais:

  • Desigualdade digital e acesso: em muitas regiões, a conectividade de internet é limitada, o que pode excluir personas ou comunidades com recursos restritos.

  • Sustentação institucional e recursos: manter a plataforma viva, moderada e funcional exige investimento contínuo em manutenção, curadoria e suporte técnico.

  • Coerência entre ações e metas globais: ações locais podem divergir em escala, metodologia ou efetividade, o que exige mecanismos de filtro, metas mínimas ou critérios de qualidade.

  • Integração com estruturas formais de governança climática: para que o Mutirão não fique isolado, é necessário que seus resultados possam dialogar com negociações formais, mecanismos de financiamento e pactos entre países.

Se bem-sucedido, o Mutirão COP30 pode tornar-se um canal vivo de catalisação da implementação climática — mais do que uma vitrine, uma rede de ação permanente. Ele oferece uma alavanca simbólica e prática para tornar visível a pluralidade de iniciativas que emergem nas bordas da governança.

Caminhos adiante

Com a COP30 marcada para ocorrer entre 10 e 21 de novembro de 2025, na cidade de Belém (Pará), o Mutirão terá pouco tempo para engajar atores, formatar processos e mostrar resultados iniciais. Será necessário promover campanhas de atenção, fortalecer parcerias institucionais (governos, ONGs, universidades, setor privado) e estimular adesão desde já.

A plataforma também pode servir como laboratório vivo: à medida que ações locais surgirem e forem avaliadas, será possível aprimorar critérios de medição de impacto, cruzar dados e alimentar negociações internacionais com evidências concretas. Em outras palavras, o Mutirão pode ajudar a conectar o “quem faz” ao “quem decide”.

Se tiver interesse, posso produzir uma versão mais curta para redes sociais, um infográfico explicativo ou até mesmo um release para imprensa. Você prefere que eu prepare algum desses formatos?

Brasil defende COP30 sem impasses e cobra presença dos EUA nas negociações climáticas

Em Brasília, o embaixador André Corrêa do Lago, indicado como presidente da COP30, afirmou nesta segunda-feira que o principal desafio da conferência climática que será realizada no Brasil é garantir que os debates avancem, sem que impasses travem decisões essenciais. Em discurso durante a abertura da Pré-COP, que ocorre em Brasília, ele disse que o governo brasileiro busca uma conferência “aberta e sem bloqueios”, mas reconheceu que os Estados Unidos ainda não indicaram oficialmente sua delegação para o evento.

“Queremos evitar bloqueios de um lado ou de outro que sejam provocados pelo desejo de colocar na agenda coisas que não estão na agenda. Então, a primeira coisa é assegurar a boa vontade de todos para que a COP possa começar já com negociações”, declarou Corrêa do Lago. Ele enfatizou que, da parte do Brasil, já há convite estendido a todas as nações e que esta será uma COP que receberá delegações sem restrições.

Incerteza sobre participação dos EUA

A ausência de confirmação por parte dos Estados Unidos preocupa os organizadores. Corrêa do Lago confirmou que, até então, o governo norte-americano não indicou representantes para a conferência. “Ainda não há uma indicação de delegação [dos Estados Unidos]”, afirmou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta, na última semana de setembro, a Donald Trump, convidando-o expressamente a participar da COP30.

Para Corrêa do Lago, a efetividade da conferência dependerá também da participação de todas as partes envolvidas, sobretudo os grandes emissores. Em tom diplomático, ele reitera que o Brasil quer sediar uma reunião inclusiva: “essa é uma COP aberta e todos serão bem-vindos”.

Na manhã anterior à cerimônia oficial de abertura da Pré-COP, Corrêa do Lago manifestou frustração com o ritmo das entregas das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para a COP30. Até o momento, apenas 62 países apresentaram suas metas, o que representa um atraso significativo. As NDCs são compromissos que cada nação assume no âmbito do Acordo de Paris, definindo metas de redução de emissões e estratégias de adaptação. Segundo relato da sociedade civil, mesmo a União Europeia não completou suas submissões de NDCs até o momento.

Esse cenário incerto aumenta a pressão para que a COP30 em Belém entregue resultados concretos. A Pré-COP, que se estende por dois dias, foi desenhada como etapa preparatória para alinhar agendas, reduzir lacunas e fortalecer o multilateralismo nas negociações climáticas

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Ambições brasileiras e temas-chave da Pré-COP

Em Brasília, o Brasil tem tentado liderar pelo exemplo. Durante a abertura do evento preparatório, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que atua como chefe da delegação brasileira, reafirmou três pilares que devem nortear a COP30: reforçar o multilateralismo climático, conectar o regime climático às realidades da população e acelerar a implementação dos compromissos do Acordo de Paris. Alckmin também destacou que o país apresentou recentemente sua nova NDC (versão 3.0), que propõe redução de emissões líquidas entre 59% e 67% até 2035 em comparação a 2005.

Entre os temas mais debatidos na Pré-COP estão: financiamento climático, transparência, balanço global (GST, sigla em inglês para Global Stocktake), transição justa e adaptação ao impacto climático. A ministra do Meio Ambiente e Clima, Marina Silva, criticou o patamar ainda insuficiente de recursos destinados à proteção florestal. Ela propôs mecanismos como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e reforço do REDD+ para suprir os gargalos.

O Brasil busca, por meio da presidência da COP30, impulsionar o equilíbrio entre demandas ambientais, justiça climática e viabilidade econômica. Corrêa do Lago enfatizou que a primeira barreira é garantir que as negociações não sejam atrapalhadas por manobras protocolares ou outras disputas menores — especialmente aquelas que tentam inserir “temas não previstos” na agenda oficial. Ele antevê que a boa vontade diplomática será crucial para que a conferência comece com debates substantivos, em vez de estagnações.

O desafio da COP30: mais do que discursos, ação

A menos de um mês do evento principal, a COP30 em Belém carrega uma expectativa pesada: não basta prometer. Os participantes esperam que o encontro traga decisões claras, especialmente em relação ao financiamento climático e à redução de emissões. A lacuna de US$ 1,3 trilhão por ano projetada para as necessidades climáticas nos países em desenvolvimento fará parte das discussões centrais.

Se os Estados Unidos, um dos maiores emissores históricos, permanecerem ausentes ou com delegação mínima, isso pode fragilizar o diálogo global. A COP30 será testada não apenas pela solidez técnica de seus documentos finais, mas pela capacidade de reunir os atores mais críticos.

Para o Brasil, o papel de mediador será decisivo. Corrêa do Lago sinaliza que a presidência brasileira não pretende intervir nos méritos das posições alheias, mas quer garantir que eventuais “travas” diplomáticas não inviabilizem o processo. Restará ver se essa estratégia será suficiente para adiar menos e decidir mais.

Mel com sabor de chocolate nasce da união entre ciência e biodiversidade

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) criaram um produto inédito que transforma resíduos do cacau em um mel com sabor de chocolate. A inovação, publicada na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering, combina tecnologia verde, valorização da biodiversidade e potencial econômico para pequenos produtores.

A equipe utilizou o mel de abelhas nativas sem ferrão como solvente natural para extrair compostos bioativos das cascas da amêndoa de cacau, parte do fruto normalmente descartada após a fabricação de chocolate. O resultado é um mel enriquecido com teobromina, cafeína e compostos fenólicos, substâncias conhecidas por seus efeitos antioxidantes e estimulantes.

“O apelo do sabor é evidente, mas o valor nutricional e cosmético do produto é ainda mais interessante”, afirma Felipe Sanchez Bragagnolo, autor principal do estudo e pós-doutorando na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (FCA-Unicamp), com apoio da FAPESP.

Da casca do cacau ao mel funcional

A ideia de transformar o que seria rejeito agrícola em um novo ingrediente partiu de uma observação simples: as cascas da amêndoa de cacau concentram compostos valiosos, mas pouco aproveitados pela indústria. Para extrair essas substâncias, os pesquisadores recorreram a um método conhecido como extração assistida por ultrassom — técnica que usa ondas sonoras para romper o material vegetal e liberar seus componentes no solvente.

No caso, o solvente não foi um líquido industrial, mas o próprio mel de abelhas nativas. Essa escolha deu ao processo um caráter ambientalmente responsável e, ao mesmo tempo, gerou um produto com apelo sensorial e funcional.

Foram testados méis de cinco espécies brasileiras: borá (Tetragona clavipes), jataí (Tetragonisca angustula), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), mandaguari (Scaptotrigona postica) e moça-branca (Frieseomelitta varia). O mel da mandaguari foi o primeiro utilizado para otimização do processo, por apresentar equilíbrio entre teor de água e viscosidade. As cascas de cacau foram cedidas pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), em São José do Rio Preto.

Segundo os pesquisadores, o mel absorve parte dos compostos do cacau, adquirindo notas sensoriais de chocolate. O sabor varia conforme a proporção entre mel e casca, mas os primeiros testes indicam uma semelhança marcante com o doce original.

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(foto: Lucas Rubio/iNaturalist

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Tecnologia verde e potencial comercial

A avaliação de sustentabilidade do processo foi realizada com o software Path2Green, desenvolvido pelo grupo coordenado pelo professor Mauricio Ariel Rostagno, também da FCA-Unicamp. O sistema mede a conformidade de processos industriais com os princípios da química verde, avaliando fatores como transporte, purificação e reaproveitamento de resíduos.

O novo produto atingiu pontuação positiva de +0,118 em uma escala que vai de –1 a +1, graças ao uso de solvente natural, à baixa demanda energética e à eliminação de etapas químicas poluentes.

“O método é simples, rápido e adaptável”, explica Rostagno. “Com equipamentos acessíveis, cooperativas ou pequenas indústrias que já trabalhem com mel ou cacau podem incorporar o processo e ampliar sua linha de produtos com alto valor agregado.”

A tecnologia já tem patente depositada e está em busca de parceiros interessados em licenciamento, por meio da Inova Unicamp: agência de inovação da universidade.

Biodiversidade e futuro da pesquisa

Além de ampliar o aproveitamento do cacau, o projeto destaca o papel das abelhas nativas brasileiras, fundamentais para a polinização de ecossistemas e para a economia local. Esses méis, mais aquosos e menos viscosos que os da abelha-europeia (Apis mellifera), mostraram ser solventes ideais para processos sustentáveis.

A equipe agora investiga outro aspecto promissor: o impacto do ultrassom na microbiologia do mel. A técnica parece romper a parede celular de microrganismos que degradam o produto, o que pode aumentar seu tempo de prateleira e reduzir a necessidade de refrigeração.

O grupo também planeja novas aplicações para o uso do mel como solvente ecológico na extração de compostos de outros resíduos vegetais, fortalecendo a integração entre bioeconomia e inovação tecnológica.

“O projeto mostra como ciência, biodiversidade e sustentabilidade podem caminhar juntas”, resume Bragagnolo. “Nosso objetivo é transformar o que era descarte em um produto nobre, que traz benefícios ambientais, econômicos e sensoriais.”

O Cuidado do Pará em pauta global: CIIR Leva a humanização e a inclusão para o fórum mundial planetree nos EUA

Belém (PA) – O compromisso do Governo do Pará com um modelo de saúde pública focado na excelência e na humanização transcende as fronteiras do país. Nesta segunda-feira (13), o Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR) iniciou sua participação no prestigiado Fórum Mundial sobre Cuidados Centrados na Pessoa Planetree 2025, em Baltimore, nos Estados Unidos. O evento, que se estende até o dia 16 de outubro, é um dos mais influentes do mundo, congregando gestores, profissionais e instituições dedicadas a redefinir a qualidade assistencial em escala global.

A presença do CIIR em solo americano é mais do que uma participação em um congresso; é um passo estratégico em seu processo de certificação internacional Planetree. Esta chancela reconhece formalmente organizações de saúde que comprovam um compromisso inabalável com o modelo de “cuidado centrado na pessoa”, onde a experiência do paciente, seus valores e suas necessidades guiam todas as práticas assistenciais. A busca pela certificação não apenas valida o modelo humanizado já adotado pelo Centro, que administra a média e alta complexidade de reabilitação no Sistema Único de Saúde (SUS) no Pará, mas também alinha suas operações às referências mais avançadas da saúde global.

A comitiva paraense é composta por lideranças e especialistas que representam a vanguarda do setor no estado. Entre eles estão José Neto, diretor Operacional Norte do Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH) – organização social que administra o CIIR em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) –, Rejane Xavier, diretora Executiva do CIIR, e Renato Arraes, médico ortopedista infantil e coordenador do grupo de ortopedia pediátrica.

 

20251013161346-GC00071571-F00267732-400x266 O Cuidado do Pará em pauta global: CIIR Leva a humanização e a inclusão para o fórum mundial planetree nos EUA
Foto: Danielle Carvalho – Ascom CIIR

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Compartilhando o Cuidado do Pará com o Mundo

O Fórum Planetree serve como um vibrante palco para o intercâmbio de experiências e boas práticas. Os representantes do CIIR participarão de painéis, palestras e exposições, compartilhando os resultados e as inovações desenvolvidas no Pará. “Estar neste evento é uma oportunidade de mostrar o quanto o trabalho realizado no Pará dialoga com as melhores práticas do mundo, reafirmando nosso compromisso com um cuidado que valoriza pessoas, ciência e resultados”, destacou a diretora executiva, Rejane Xavier.

A equipe do CIIR levou uma diversidade de projetos que refletem a complexidade e o caráter inclusivo da reabilitação na Amazônia. Selecionados para apresentação nas categorias pôsteres e palestras, os trabalhos abordam:

  • Inclusão e Acessibilidade: Um projeto sobre o “Treinamento de Libras em Serviço”, visando garantir uma “Assistência Inclusiva, Humanizada e Segura ao Usuário Surdo”.
  • Atenção Especializada: Um eixo formativo focado em “Capacitar Profissionais para o Cuidado de Pessoas com TEA” (Transtorno do Espectro Autista) e a apresentação de “Práticas baseadas em evidências no tratamento do autismo” realizadas no Cetea (Centro Especializado em TEA).
  • Saúde Comunitária e Sustentabilidade: A iniciativa “Humanização sem Fronteiras: Atendimento Multiprofissional Humanizado em Comunidades Quilombolas no Município do Acará (PA)” e o estudo sobre “O Impacto das Práticas Ambientais Sustentáveis no CIIR no Engajamento em Cuidados Centrados na Pessoa”.
  • Resultados Clínicos: A palestra “Pequenos Passos, Grandes Mudanças: O Impacto das Cirurgias Ortopédicas Pediátricas no Pará”, evidenciando o efeito transformador do CIIR na vida das crianças paraenses.

A terceira participação do CIIR na Conferência Planetree consolida o Centro como referência nacional em reabilitação e cuidado integral à pessoa com deficiência. Para o estado do Pará, este momento tem um significado especial, pois projeta internacionalmente suas políticas de saúde e inclusão. Ao destacar o protagonismo paraense em pautas globais de humanização e evidência científica, a participação dialoga e intensifica o preparo da capital, Belém, para sediar o importante evento internacional que ocorrerá em novembro.

O CIIR, que é referência na assistência de média e alta complexidade às Pessoas com Deficiência visual, física, auditiva e intelectual no âmbito do SUS, mostra que o cuidado com o cidadão, a inovação na reabilitação e a gestão baseada em evidências são pilares inegociáveis para o futuro da saúde pública na Amazônia.

Monitoramento do Círio Garante Saúde a Milhões de Fiéis.

O balanço do Centro Integrado de Operações e Controle em Saúde (CIOCS) em Belém, referente ao Círio de Nazaré , revela a atuação coordenada entre diversas instituições para garantir a segurança e a resposta em saúde pública durante o evento. O CIOCS, ativado pela em parceria com a e outros parceiros, operou por três dias, monitorando em tempo real os atendimentos nos postos de saúde e serviços ao longo das procissões da Trasladação e do Círio.

A estrutura de vigilância e prevenção se mostrou essencial para um evento de massa que, em , reuniu cerca de milhões de pessoas, segundo a Diretoria da Festa. A integração permitiu uma resposta eficiente a ocorrências variadas. No total, os postos de atendimento registraram ocorrências no sábado () e atendimentos no domingo (), com remoções realizadas no dia da grande procissão.

Entre os casos notificados, a agilidade do sistema foi testada em situações como um acidente por arma branca próximo ao percurso, que exigiu rápido acionamento do para transporte da vítima. A vigilância epidemiológica também foi acionada para acompanhar um caso de suspeita de rotavírus em um bebê, atendido em um hospital estadual, demonstrando a importância do da unidade.

20251013105439-GC00071564-F00267698-400x300 Monitoramento do Círio Garante Saúde a Milhões de Fiéis.
Divulgação – Agência Pará

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A coordenadora do, Veronilce Borges da Silva, avaliou o trabalho como “altamente positivo”, destacando a consolidação dos fluxos e a integração bem-sucedida entre as equipes da e . Essa sinergia garante uma resposta eficiente e fortalece a capacidade de monitoramento do estado em grandes concentrações humanas.

O CIOCS funcionou com cerca de profissionais por dia, incluindo técnicos, equipes de áreas técnicas, além de representantes de instituições parceiras. A estrutura, equipada com tecnologia de ponta, permitiu o gerenciamento de informações em tempo real, a análise de dados epidemiológicos e a coordenação ágil das respostas de assistência.

A Secretária de Estado de Saúde Pública, Ivete Vaz, ressaltou que o sucesso do CIOCS reflete o compromisso do com a segurança em saúde da população. O Círio de Nazaré, sendo o maior evento religioso do Brasil, exige um esforço conjunto das esferas municipal e estadual para a gestão do , em conformidade com as diretrizes do para a vigilância e resposta a riscos em grandes eventos.

Com a desativação da estrutura, o CIOCS se estabelece como uma ferramenta fundamental de coordenação e resposta em saúde pública, comprovando a capacidade do Pará de assegurar cuidado, prevenção e segurança aos milhões de romeiros e visitantes da maior manifestação de fé da Amazônia.

Adeus, alagamentos: Belém repensa a drenagem para a COP30.

Belém (PA) — O Governo do Pará concluiu obras essenciais de drenagem profunda em quatro vias estratégicas do bairro do Marco, em Belém. As interseções entre as avenidas Dr. Freitas, Brigadeiro Protásio, Boulevard e Duque de Caxias ganharam melhorias estruturais que fazem parte dos legados da COP30, programada para novembro de 2025. As intervenções prometem reduzir alagamentos, melhorar a mobilidade urbana e fortalecer a infraestrutura contra eventos de chuva intensa.

Segundo o secretário de Obras Públicas do Pará, Ruy Cabral, as obras não apenas beneficiam quem reside naquela área, mas também quem transita por ela diariamente. “Diminuir os riscos de alagamentos, reduzir danos às vias e melhorar as condições de mobilidade urbana” são metas já visíveis no resultado do serviço.

Os trechos afetados envolvem áreas próximas ao Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) da Polícia Militar, à Vila COP30, ao Aeroporto Internacional de Belém, ao Parque da Cidade e ao Hangar — Centro de Convenções & Feiras da Amazônia. Esses locais compõem parte da malha logística para receber o evento climático, cuja demanda por infraestrutura funcional é grande.

Foram instalados mais de três quilômetros de tubulações de Polietileno de Alta Densidade (PEAD), material resistente à corrosão, que eleva a durabilidade do sistema de drenagem e aumenta a capacidade de vazão de águas pluviais. As redes novas foram integradas aos sistemas existentes, com construção de poços de visita (bueiros) e caixas de inspeção, o que facilita futuras manutenções e evita problemas como refluxo ou acúmulo de água.

20251013133016-GC00071568-F00267719-400x266 Adeus, alagamentos: Belém repensa a drenagem para a COP30.
Foto: Leonardo Macêdo/Ascom Seop

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Também foi feita a limpeza de bueiros e remoção de entulhos, medida preventiva essencial para evitar obstruções. Após a drenagem, foram aplicados 33.143 metros cúbicos de asfalto para recompor o pavimento das vias impactadas. As calçadas danificadas pelas escavações e obras também foram reconstruídas.

Para Idelbergue Rodrigues, trabalhador informal que circula pela área das obras, a mudança já apareceu: “Qualquer chuvinha já causava alagamento. Isso afetava nossas vendas, o trânsito. Agora ficou muito melhor”, afirma. O alívio é visível no cotidiano, especialmente em dias de chuva fraca, quando antes a água tomava ruas, impedindo passagem de pedestres, motos, veículos.

A ação mobilizou cerca de 150 trabalhadores diretos, atuando ao longo de aproximadamente dois quilômetros de vias, com técnicas específicas de escoramento nas escavações profundas para garantir a segurança entorno das estruturas já existentes. Esse trabalho estruturante insere-se em um conjunto mais amplo de obras que o estado tem realizado para adequar Belém aos impactos climáticos esperados, bem como para deixar uma cidade mais preparada no pós COP30.

Especialistas e autoridades têm destacado esses investimentos em drenagem, saneamento, macrodrenagem e mobilidade urbana como parte de um esforço maior. Belém vem recebendo obras estruturantes nas bacias do Tucunduba, Una, Murutucu e Tamandaré, além da reurbanização de canais em diversos bairros, beneficiando centenas de milhares de pessoas.

Esses projetos expõem uma estratégia clara de adaptação climática: em vez de esperar que enchentes e alagamentos comprometam vidas, bens e serviços, o estado investe em drenagem profunda e infraestrutura resistente. Entretanto, o desafio vai além da obra concluída. Manutenções regulares, operação eficiente dos sistemas de drenagem e comprometimento permanente das gestões públicas serão fundamentais para que esses benefícios se prolonguem.

Com a COP30 à vista, Belém aparece como um laboratório urbano de transformações: as ruas mais secas, o asfalto recém-posto, o tráfego que flui melhor em dias de chuva são sinais visíveis de mudança. Porém, esse legado só se sustenta se for incorporado à rotina da cidade — não apenas como preparação para um evento global, mas como parte de uma política pública contínua de infraestrutura, drenagem, mobilidade e resiliência climática.

No DF, indígenas pedem demarcação de terras e ação climática

A artesã Luana Kaingang, de 34 anos, vive em uma comunidade de 58 famílias em Porto Alegre (RS), onde o artesanato tradicional depende do cultivo de plantas nativas como a criciúma, a taquara e o komag. Mas o que antes crescia em abundância hoje sofre com longas estiagens e temporais intensos. “Essas plantas não crescem como antes. Isso prejudica nossa produção e a renda da comunidade”, relata.

As mudanças climáticas têm afetado diretamente o sustento de povos indígenas em várias regiões do país — e, diante desse cenário, centenas de lideranças se reuniram nesta segunda-feira (13), em Brasília, para pedir a aceleração da demarcação de terras e a adoção de políticas de enfrentamento à crise ambiental.

O ato, promovido pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) com apoio da Avaaz, reuniu cerca de 200 representantes de diferentes etnias. Eles caminharam até o gramado em frente ao Ministério da Justiça e realizaram falas públicas em defesa da regularização fundiária e da proteção climática.

“Escudo contra o desmatamento”

Segundo o diretor-executivo da Apib, Kleber Karipuna, cada território indígena demarcado funciona como um “escudo” contra o desmatamento. Ele destaca que estudos científicos comprovam a relação direta entre a proteção de terras indígenas e a conservação ambiental.

“A ciência comprova o que já sabemos: terra demarcada é floresta em pé e viva. Só nossos territórios na Amazônia geram 80% das chuvas que alimentam o agronegócio no Brasil”, afirmou Karipuna.

Entre 2001 e 2021, as Terras Indígenas da Amazônia absorveram cerca de 340 milhões de toneladas de CO₂ da atmosfera — volume equivalente às emissões anuais de combustíveis fósseis do Reino Unido. Além disso, essas áreas perderam historicamente apenas 1,74% de sua vegetação original, índice muito inferior ao observado em regiões fora dos territórios tradicionais.

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Valter Campanato/Agência Brasil

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Propostas indígenas para o clima

O evento fez parte da campanha “A Resposta Somos Nós”, da Apib, e marcou também a apresentação da NDC Indígena — proposta construída por lideranças de diferentes povos para inserir a proteção de territórios, saberes e modos de vida nas metas oficiais do Brasil no Acordo de Paris.

Segundo a entidade, há 104 Terras Indígenas que aguardam apenas as etapas finais de regularização no Executivo Federal. A Apib defende que a conclusão desses processos é essencial não apenas para garantir direitos constitucionais, mas também para fortalecer a política climática nacional.

Impactos no Sul e no Centro-Oeste

Entre os participantes da manifestação estava também a jovem artesã Kauane Félix, de 24 anos, do povo Kaingang, moradora da zona rural de Nova Laranjeiras (PR). Com o filho de dois anos nos braços, ela contou que o desmatamento de araucárias e o uso de agrotóxicos próximos à comunidade vêm comprometendo a alimentação local.

“Está impactando o milho, o feijão, a mandioca e também as frutas nativas, como a pitanga. Quando eu era criança, fazia frio nesta época do ano. Agora, está calor”, disse.

No Paraná, comunidades Kaingang têm desenvolvido ações de reflorestamento com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que auxilia no lançamento de sementes por helicóptero em áreas degradadas.

Na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, a indígena Sally Nhandeva, de 21 anos, relata outro tipo de pressão: ameaças de fazendeiros e pulverização de agrotóxicos em áreas próximas. “Queremos viver sem os agrotóxicos dos vizinhos e proteger nossa floresta. Eles entram na nossa comunidade querendo nos despejar”, conta.

Sally vive em território já demarcado, o que, segundo ela, oferece alguma segurança. Ainda assim, afirma que o medo é constante. “Se a gente fugir, quem vai lutar por nós?”, questiona.

Território como política climática

As manifestações reforçam a conexão direta entre justiça climática e segurança territorial. Para as lideranças indígenas, a demarcação das terras não é apenas uma questão fundiária, mas uma estratégia fundamental de preservação ambiental e de enfrentamento às mudanças climáticas.

Em um país que se prepara para sediar a COP30, em 2026, em Belém, as vozes indígenas cobram do governo que políticas de clima incluam, de forma efetiva, a proteção dos territórios e dos modos de vida tradicionais. “Demarcação é política climática”, resume uma das faixas erguidas no ato.