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Sebrae lança edição global do Inova Amazônia e leva startups da floresta ao mundo

A Amazônia entrou de vez na rota da inovação global. Durante a COP30, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lançou o Inova Amazônia Global Edition, um edital inédito voltado à internacionalização de 80 startups da região que unem tecnologia, sustentabilidade e impacto socioambiental.

O anúncio foi feito na Green Zone, espaço voltado à sociedade civil dentro da conferência, pelo diretor técnico do Sebrae, Bruno Quick. A iniciativa marca uma nova etapa na política de bioeconomia da instituição: após impulsionar a criação de centenas de negócios inovadores, o foco agora é ampliar fronteiras, atrair investimentos internacionais e consolidar a Amazônia como potência de inovação verde.

“Chegamos à COP30 com empreendedores capazes de transformar cadeias produtivas inteiras. O Inova Amazônia Global Edition nasce para acelerar essas empresas para o mundo, mostrando que inovação de alta performance também brota na floresta”, afirmou Quick, ao lado de parceiros estratégicos.

Escalada internacional com base sustentável

O novo edital vai selecionar 80 empresas amazônicas que já participaram de programas de aceleração e demonstram maturidade para competir em mercados globais. O processo prevê uma trilha de desenvolvimento dividida em etapas interconectadas: capacitação online, mentorias especializadas, rodadas de negócios, missões internacionais e aproximação com fundos de investimento.

A proposta é clara — impulsionar negócios com base científica e impacto ambiental positivo, capazes de escalar globalmente sem perder suas raízes locais. Segundo Quick, o programa reafirma a vocação da Amazônia como território de soluções tecnológicas e modelos produtivos competitivos. “É daqui que surgem as próximas empresas que podem se tornar unicórnios brasileiros”, completou.

O edital conta com apoio de instituições como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Representando o PNUD, Elisa Calcaterra destacou a importância da parceria para ampliar o alcance da bioeconomia amazônica. Já Juliana Ghizzi, diretora de Política de Propriedade Intelectual e Infraestrutura do MDIC, reforçou que o programa é um instrumento decisivo para transformar conhecimento e biodiversidade em oportunidades sustentáveis.

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Foto: Wesley Santos

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Histórias que nasceram da floresta

Desde sua criação em 2021, o Inova Amazônia já se tornou referência no ecossistema de bioeconomia. Foi dele que surgiram histórias como a da Engenho, startup paraense que transformou o açaí em um “café” natural, sem cafeína. Hoje exportado para os Estados Unidos, Europa, Austrália e América Latina, o produto nasceu de um protótipo caseiro e ganhou o mundo após mentorias e conexões promovidas pelo Sebrae.

“Cresci em cinco anos o que levaria uma década. O Inova Amazônia foi a virada de chave — gosto de dizer que o Sebrae é meu caminho asfaltado”, conta Valda Gonçalves, fundadora da Engenho.

Outro exemplo é a Saboaria Rondônia, primeira indústria de cosméticos naturais instalada em área rural amazônica. Com bioativos como buriti e copaíba, a empresa une rastreabilidade, sofisticação e valorização das cadeias extrativistas, especialmente entre mulheres. “O programa consolidou uma visão de futuro em que floresta, empreendedorismo e inovação caminham juntas”, afirma Jaqueline Freire, idealizadora da marca.

Impacto e resultados

Em apenas duas edições, o Inova Amazônia já acelerou 409 empresas e apoiou 660 ideias, distribuindo R$ 16 milhões em bolsas para empreendedores. Os resultados comprovam o impacto:

  • 17% das empresas depositaram patentes;

  • 22% receberam investimentos;

  • 31% iniciaram processos de internacionalização;

  • 56% contrataram novos empregados;

  • 62% aumentaram o faturamento;

  • 90% desenvolveram novos produtos.

Com a versão Global, o Sebrae busca agora inserir essas empresas na rota dos grandes fundos internacionais, ampliando o acesso a capital, tecnologia e conhecimento. “A Amazônia pode liderar uma nova economia baseada em ciência e uso sustentável da floresta. Nosso papel é garantir que essas startups tenham acesso ao que o mundo tem de mais avançado”, reforça Bruno Quick.

O Sebrae na COP30

A presença do Sebrae em Belém também reflete esse novo posicionamento. Na Green Zone, o estande da instituição ocupa 400 metros quadrados e oferece uma experiência imersiva inspirada na diversidade amazônica. O espaço combina cultura, negócios e sensorialidade: há auditório para debates, loja colaborativa de produtos da bioeconomia e o “PedaCine do Brasil”, que exibe documentários e webséries sobre inovação e sustentabilidade.

De 10 a 21 de novembro, a programação inclui degustações regionais, apresentações culturais e ativações urbanas, além da Zona do Empreendedorismo (En-Zone) no Parque Belém Porto Futuro. O objetivo é conectar lideranças, investidores e empreendedores, promovendo a Amazônia como território de inovação global.

Mais informações estão disponíveis na Agência Sebrae de Notícias.

COP30 Dia 4: Da Saúde à Justiça Climática – Pessoas no Foco

Nesta quinta-feira, durante os trabalhos da COP30, a Conferência volta sua atenção para as pessoas: saúde, educação, cultura, justiça, integridade da informação, direitos humanos, trabalhadores e o equilíbrio ético global. Adaptar-se a um clima que muda rapidamente implica mais do que reduzir emissões — significa proteger vidas, reforçar sistemas e enfrentar desigualdades.

Logo no início dos debates, assume destaque o lançamento do Plano de Ação de Belém para a Saúde (BHAP), promovido pelo Brasil em parceria com a World Health Organization (OMS). Esse plano marca um momento decisivo para colocar a saúde no centro da adaptação climática mundial: pretende fortalecer a vigilância de riscos, ampliar capacidades locais e impulsionar a inovação para proteger comunidades vulneráveis.

Em paralelo, a agenda da educação ganha visibilidade com a Mesa-Redonda Ministerial sobre Educação Verde, organizada pelo UNESCO e pelo governo brasileiro. A proposta é explorar como escolas, professores e sistemas de ensino preparam sociedades para viver em um mundo mais quente, tornando a adaptação um projeto coletivo de aprendizagem, conhecimento e justiça.

Esses dois eixos — saúde e educação — não são temas isolados: são âncoras de uma abordagem mais ampla que coloca o desenvolvimento humano, o saber e a equidade na linha de frente da adaptação climática. A mensagem é clara: se não fortalecermos vidas em salas de aula, clínicas e comunidades, a ação climática não será completa.

Outro ponto central do dia é o financiamento. A adaptação nos setores de saúde e educação requer recursos, cooperação internacional e investimentos alinhados aos sistemas resilientes. Bancos multilaterais, fundos climáticos e parceiros de desenvolvimento são convocados a realinhar seus fluxos para reforçar saúde, educação e a equidade no enfrentamento do clima.

A programação do dia dará visibilidade a uma série de painéis e eventos, começando cedo pela manhã. No segmento “Dia da Justiça, Clima e Direitos Humanos” serão realizadas sessões como o “Diálogo entre Magistrados sobre o Judiciário e a Justiça Climática” e “Juízes e Clima: Perspectivas do Sistema da ONU, Academia, Instituições Financeiras Multilaterais e ONGs Ambientais”. A expectativa é de que o poder judiciário — com representantes como a Supremo Tribunal Federal (STF) — participe ativamente no processo de responsabilização e implementação da futura Declaração de Belém dos Juízes sobre Mudança do Clima.
Local: Sala de Eventos Especiais 1 – São Francisco e Sala de Eventos Especiais 2 – Madeira. Horário: 9h00-19h00.

Logo após, das 9h00 às 12h00, haverá o evento de alto nível “Reunião Ministerial de Saúde e Clima: O Plano de Ação de Belém para a Adaptação do Setor de Saúde às Mudanças Climáticas”. Nesse espaço serão debatidas estratégias para preparar os sistemas de saúde à crescente incidência de riscos relacionados ao clima — ondas de calor, epidemias, insegurança alimentar e outros impactos que já se fazem sentir.
Local: Plenário 2 – Tocantins, Área E, Zona Azul.

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Às 12h30, o foco muda para a contabilidade de carbono: a ISO e o GHG Protocol apresentarão juntos áreas prioritárias para cooperação internacional, com o objetivo de aprimorar sistemas de contabilidade de carbono e garantir comparabilidade e interoperabilidade.
Local: Sala de Ação 6, Áreas Temáticas da Agenda de Ação.

Na parte da tarde, às 15h00, acontece a mesa-redonda sobre “Arquitetura Tropical: Do Patrimônio à Ação”. Trata-se de repensar construções e edifícios em clima tropical — o setor de edificações pode responder por até 42 % das emissões globais de CO₂ — e explorar como o design tropical, baseado na Modernismo Tropical, pode gerar comunidades de baixo carbono e sensíveis ao clima. Participam arquitetos como Marcelo Joulia, Marcelo Rosenbaum, Natalia Figueredo e David Fontcuberta, com moderação de Paula Szejnfeld Sirkis.
Local: AquaPraça. Horário: 15h00-16h00.

Simultaneamente das 15h00 às 18h00, a Presidência da COP30, a United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) e a ACE – Action for Climate Empowerment promovem o evento “Empoderando uma Sociedade Informada e Engajada para uma Ação Climática Eficaz”. Sob o Programa de Trabalho de Glasgow e dentro do tema da integridade da informação, o diálogo reunirá governos, juventude, educadores, comunicadores e sociedade civil para explorar como garantir que a ação climática se apoie em uma informação confiável e acessível.
Local: Plenário Tocantins.

Das 15h30 às 18h30 realiza-se a Mesa-Redonda Ministerial de Alto Nível sobre Educação Verde da COP30, organizada pelo Ministério da Educação do Brasil em cooperação com a UNESCO. A discussão gira em torno de como a educação — desde currículo até avaliações e alfabetização climática — pode ser mobilizada como ferramenta de adaptação e transformação.
Local: Plenário 2 – Tocantins, Área E, Zona Azul.

Às 17h30 começa o painel “Integridade da Informação e Ação Climática no Brasil: Sinergias entre Governo e Sociedade Civil”. Este evento marca o lançamento de ferramentas e resultados de uma rede temática dedicada à integridade da informação sobre mudanças climáticas — envolvendo o Rede Pela Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas (RPIIC) e ministerialmente coordenado pelos ministérios brasileiros. O objetivo é colocar a transparência, a participação e a qualidade da informação como pré-condições para uma ação climática legítima e eficaz.
Local: Pavilhão do Brasil na Zona Verde, Sala Jandair. Horário: 17h30-18h30.

Ei, às 18h00, segue o “Diálogo Climático de Belém com Povos Indígenas”, organizado pela Presidência da COP30 e pela UNFCCC. Representantes indígenas das sete Regiões Socioculturais da ONU terão breves intervenções, seguidas por moderação conjunta com a Presidência da COP30 e a Secretaria Executiva da UNFCCC. A meta é fortalecer a incorporação dos conhecimentos, valores e prioridades indígenas no esforço climático global.
Local: Sala de Reuniões 17, Área E. Horário: 18h00-19h00.

Em síntese, o quarto dia da COP30 reafirma que adaptação climática não é apenas técnica ou ambiental — é humana. É garantir que a saúde dos povos seja preservada, que a educação abra caminhos para sociedades resilientes, que a justiça e os direitos humanos avancem lado a lado com a ciência e que a informação, os trabalhadores e a cultura recebam a atenção que merecem. Neste dia, a COP30 conecta o urbano e o local, o sistema e a comunidade, o saber e a ação — com um claro compromisso: “Ninguém será deixado para trás”.

Bioeconomia paraense movimenta R$ 13,5 bilhões e revela desafios de inclusão e sustentabilidade

Durante a COP30, realizada em Belém, a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) apresentou um relatório inédito que lança luz sobre a dimensão econômica e social da bioeconomia no Pará. O documento, resultado da Rede Pará de Estudos sobre Contas Regionais e Bioeconomia, estima que o setor movimentou R$ 13,5 bilhões em 2021, consolidando-se como vetor estratégico para o desenvolvimento sustentável e a valorização da sociobiodiversidade amazônica.

O estudo foi desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). A pesquisa segue metodologias reconhecidas internacionalmente, como as da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que garante precisão na mensuração das cadeias produtivas baseadas em recursos naturais e práticas tradicionais.

As cadeias que movem a floresta

O relatório mapeia cadeias emblemáticas da economia da floresta — mandioca, açaí, cupuaçu, cacau, mel, pesca e oleaginosas como andiroba, copaíba e dendê. Juntas, essas atividades formam um mosaico econômico que combina tradição, inovação e resiliência. Segundo a pesquisa, cada R$ 1 investido na bioeconomia gera R$ 1,13 no PIB, além de R$ 0,19 em massa salarial e R$ 0,06 em tributos, comprovando seu impacto multiplicador.

Contudo, o levantamento revela uma contradição profunda: a força produtiva da sociobiodiversidade convive com altos níveis de informalidade. A cadeia da mandioca, por exemplo, tem Valor Bruto da Produção (VBP) estimado em R$ 7 bilhões, mas apenas R$ 10 milhões são formalmente registrados — reflexo de uma economia invisível, movida por pequenas casas de farinha e redes comunitárias que escapam ao alcance das políticas públicas.

20251111151335-GF00025448-F00465541-400x267 Bioeconomia paraense movimenta R$ 13,5 bilhões e revela desafios de inclusão e sustentabilidade
Bruno Cruz/Ag. Pará

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Desigualdade e oportunidades na sociobiodiversidade

A análise também destaca desigualdades marcantes. No caso da castanha-do-pará, apenas 2,94% do valor final permanece com os extrativistas, enquanto a indústria concentra mais de 95% da renda. Por outro lado, experiências cooperativas em torno dos óleos de andiroba e copaíba mostram outro caminho: quando há organização social, as comunidades chegam a reter até 32% do valor total, o que reforça o papel das cooperativas como instrumentos de emancipação econômica.

“Ter dados concretos sobre essas cadeias muda completamente a forma de pensar políticas públicas”, observa Daniel Silva, professor da Unifesspa. “O Pará agora tem um retrato que mostra a robustez e a importância econômica da bioeconomia.”

Comércio, industrialização e integração regional

O relatório também detalha fluxos comerciais dentro e fora do Estado. O cacau paraense é majoritariamente escoado para a Bahia, principal polo chocolateiro do país, enquanto a pesca e a aquicultura mantêm alto grau de formalização e exportam para estados como São Paulo, Goiás e o Distrito Federal. A análise das Notas Fiscais Eletrônicas permitiu rastrear esses fluxos e identificar gargalos logísticos, abrindo espaço para estratégias de industrialização local e agregação de valor no território paraense.

Bioeconomia sob pressão climática

A crise climática já impõe perdas significativas. Em municípios como Marabá e São Domingos do Araguaia, queimadas e secas prolongadas vêm devastando babaçuais e castanhais. No oeste do Estado, há registros de queda na floração das castanheiras e prejuízos em culturas alimentares básicas, como feijão, banana e macaxeira. Mapas elaborados com base na plataforma AdaptaBrasil apontam áreas de alta vulnerabilidade e baixa capacidade adaptativa — um alerta para políticas urgentes de adaptação climática.

Caminhos para o futuro

O relatório propõe medidas estruturais: criar políticas específicas para a economia informal, fortalecer cooperativas, investir em adaptação climática e incentivar a industrialização verde. Também anuncia uma nova agenda de pesquisa voltada à restauração florestal, ao protagonismo feminino nas cadeias produtivas e ao desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade.

Para Atyliana Dias, diretora de Estatística e Gestão da Informação da Fapespa, a iniciativa simboliza uma virada metodológica: “A Rede de Bioeconomia representa um passo decisivo para mensurar a Amazônia produtiva com rigor e sensibilidade. É uma ciência que escuta a floresta e traduz seus números em políticas concretas.”

A cooperação entre universidades e órgãos públicos reforça a ideia de que o futuro da Amazônia não se mede apenas em hectares ou toneladas, mas na capacidade de alinhar ciência, cultura e desenvolvimento humano em um mesmo projeto de sociedade.

Jovens da EETEPA vivenciam inovação em barco movido a hidrogênio verde na COP30

Em meio à efervescência de ideias e soluções sustentáveis que tomam conta de Belém durante a COP30, um grupo de estudantes da Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (EETEPA) Dr. Celso Malcher teve uma experiência que transcendeu os limites da sala de aula. Na manhã desta quarta-feira (12), vinte alunos participaram de uma visita técnica à embarcação JAQ H1, o primeiro barco brasileiro movido a hidrogênio verde, ancorado na Estação das Docas.

O projeto, fruto de uma parceria entre o Grupo Náutica, a montadora GWM Brasil e o Itaipu Parquetec, representa um marco para a inovação náutica e para o avanço das tecnologias limpas no país. A embarcação utiliza o hidrogênio como fonte de energia renovável, emitindo apenas vapor d’água, e vem sendo apresentada durante a conferência como um exemplo concreto da transição energética em curso.

A Amazônia no centro da inovação

A atividade integrou a programação educativa da COP30 e foi acompanhada por pesquisadores, gestores e representantes do Instituto Mondó, responsável pelo painel “Impulsionando Territórios: parcerias e saberes para o desenvolvimento sustentável”. O debate destacou o papel da educação técnica e da juventude amazônica na construção de um futuro de baixo carbono.

Para Andrey Rabelo, coordenador da EETEPA e painelista do encontro, o aprendizado vivido ali vai muito além da teoria.
“É uma oportunidade que amplia horizontes. Os alunos vivenciaram como ciência e tecnologia se conectam à sustentabilidade, percebendo que o desenvolvimento da Amazônia passa por inovação e consciência ambiental”, destacou.

O painel também trouxe reflexões sobre a importância das parcerias público-privadas na formação de capital humano voltado à economia verde. A ideia central é que as transições energéticas e climáticas só serão sustentáveis se forem, antes de tudo, inclusivas — com protagonismo das novas gerações e dos territórios amazônicos.

20251112125433-GC00072399-F00273331-400x267 Jovens da EETEPA vivenciam inovação em barco movido a hidrogênio verde na COP30
Foto: Priscila Castro

Juventude inspirada pela tecnologia limpa

Entre os alunos, a curiosidade se misturou à esperança. Safira Corrêa Oliveira, estudante do curso técnico de Meio Ambiente, contou que o contato direto com a tecnologia reforçou seu desejo de atuar na área da pesquisa ambiental.
“Ver de perto uma inovação que pode mudar o mundo é inspirador. O hidrogênio verde é uma alternativa real para reduzir impactos e mostra que a Amazônia pode liderar soluções climáticas”, afirmou.

Já Amanda Noemi, aluna do curso técnico em Logística, ressaltou como a experiência amplia o olhar sobre o papel da sustentabilidade nas profissões do futuro.
“Percebi que tecnologia e meio ambiente caminham juntos. A escola nos dá a base, mas é nessas vivências que a gente entende o que significa fazer parte de um mundo em transformação”, observou.

Os estudantes percorreram o interior do JAQ H1, guiados por engenheiros e técnicos do projeto, que explicaram desde o processo de geração e armazenamento do hidrogênio até os mecanismos de propulsão. O barco é silencioso, não emite gases poluentes e tem autonomia para longas distâncias — características que o tornam uma referência em mobilidade sustentável para regiões ribeirinhas.

20251112125436-GC00072399-F00273335-400x267 Jovens da EETEPA vivenciam inovação em barco movido a hidrogênio verde na COP30
Foto: Priscila Castro

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Ciência, juventude e o futuro da Amazônia

Para Júlia Jungmann, diretora de Relações Institucionais do Instituto Mondó, o protagonismo dos jovens é indispensável para o futuro da Amazônia.
“Iniciativas como essa mostram que a educação é a semente da transformação. Esses estudantes serão os próximos líderes da transição ecológica, e é essencial que participem desde já das discussões e das práticas de inovação. Não há como preservar a floresta sem ouvir quem vive sob suas árvores”, enfatizou.

A presença dos alunos no barco simbolizou o encontro entre tradição e futuro: jovens formados em escolas técnicas paraenses, vivendo a experiência de uma tecnologia que pode revolucionar o transporte fluvial na Amazônia — e, ao mesmo tempo, aprender que ciência e sustentabilidade precisam estar enraizadas na realidade local.

O evento também reforçou o papel da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (SECTET) na promoção de ações educativas durante a COP30. A secretaria tem ampliado programas voltados à pesquisa aplicada e à inovação sustentável em escolas técnicas do estado, conectando os currículos ao contexto amazônico e às demandas da economia verde.

Um símbolo do que vem pela frente

Ao final da visita, os estudantes se reuniram no convés do JAQ H1, observando as águas do Guamá e refletindo sobre o futuro. Para muitos, foi a primeira vez a bordo de uma embarcação movida por energia limpa; para todos, a certeza de que a transição energética também passa pela educação.

Como sintetizou o professor Andrey Rabelo: “Quando um aluno entende que pode usar o conhecimento técnico para regenerar o planeta, ele deixa de ser apenas estudante e passa a ser protagonista da mudança”.

A experiência deixou claro que o futuro da Amazônia será construído não apenas com grandes projetos, mas com pessoas curiosas, criativas e comprometidas — exatamente como aqueles jovens da EETEPA que, em pleno COP30, navegaram rumo a uma nova era de possibilidades sustentáveis.

Belém recebe painel sobre turismo que devolve à natureza e à cultura

Na tarde de segunda-feira (11) em Belém, no estande “Conheça o Brasil” da Ministério do Turismo (MTur), o turismo ganhou nova fisionomia. O painel “Turismo Regenerativo: além da sustentabilidade nos oceanos” trouxe ao palco uma ideia que vai além de conservar ou minimizar impactos: trata-se de dar à natureza e às comunidades mais do que se toma delas. A proposta é clara: o turismo deve regenerar — ecossistemas, vidas, culturas e economias locais.

Um convite à transformação

A velejadora e escritora Heloisa Schurmann abriu o debate com um relato comovente de três décadas de navegação. “O oceano é a nossa casa”, disse ela, ao lembrar que observou fenômenos como praias engolidas, recifes fragilizados e pescadores deslocados. Sua mensagem foi simples, mas poderosa: mais do que turismo, precisamos de compromisso. “Criamos o projeto Voz dos Oceanos para conscientizar sobre o que realmente está acontecendo”, contou.

Em sequência, Conservação Internacional Brasil (CI-Brasil) apresentou o que já se move de fato nessa direção. A pesquisadora Nátali Piccoli explicou o exemplo do litoral sul da Bahia, onde empreendedores locais reconfiguraram o modelo de turismo de massa. Eles criaram uma governança comunitária e o “manual da Aliança Futuri” para orientar práticas responsáveis de hospedagem e visitação. Em 2024, segundo ela, aquelas iniciativas movimentaram cerca de R$ 10 milhões entre conservação, pesquisa e observação de baleias.

Amazônia: oportunidade e especificidade

Representando o Pará, Allyson Neri, da diretoria de Produtos Turísticos da Secretaria de Turismo do Pará (Setur), lembrou que a Amazônia traz um cenário singular — mais de 500 km de praias fluviais e costeiras, manguezais, comunidades ribeirinhas e modos de vida que não se encaixam no paradigma de “sol e resort”. “Não buscamos o turismo de massa, mas um turismo que respeite os limites da natureza e o modo de vida das comunidades”, afirmou. Ele citou como exemplo o projeto piloto na Reserva Extrativista Marinha de Soure (Arquipélago do Marajó), onde se implantou um banheiro ecológico em parceria com moradores locais — iniciativa finalista do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade.

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Divulgação

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O que significa turismo regenerativo

Se o turismo tradicional muitas vezes gera impactos — deslocamento de comunidades, desgaste ambiental ou exploração superficial — o turismo regenerativo se refere a modelos em que visitantes, operadoras, comunidades e natureza entram em um ciclo virtuoso: a visita gera recursos que retornam ao ambiente e às pessoas, fortalece identidade cultural, restaura ecossistemas e cria sentido. Em outras palavras, o visitante deixa algo bom, e não apenas retira. O relatório da CI-Brasil define que o turismo regenerativo “não apenas minimiza impactos negativos”, mas “deixa um impacto positivo nos lugares visitados, nos moradores destes destinos e no próprio visitante”.

No contexto amazônico, essa definição ganha camadas adicionais: natureza rica, comunidades tradicionais vulneráveis, economias locais frágeis e pressões de mercado e clima elevadas. Por isso, o painel em Belém simboliza mais que um debate — representa um pivô para reposicionar o turismo da Amazônia como instrumento de justiça ambiental, sociocultural e econômica.

Do discurso à prática: desafios e oportunidades

O painel trouxe ainda pistas sobre como avançar. Primeiro, a governança local emerge como condição base: comunidades devem ser protagonistas, e não meros recipientes de promoção turística. O exemplo da Aliança Futuri mostra que empreendedores e moradores atuando juntos dão credibilidade e impacto.

Segundo, a diversificação de atividades e o respeito aos limites naturais são fundamentais. No litoral sul da Bahia, em vez de resorts de grande escala, adotou-se modelo de experiências autênticas, hospedagem moderada, alimentação local, vivência cultural — apontando que qualidade muitas vezes supera quantidade.

Terceiro, há necessidade de monitoramento e geração de valor. O turismo regenerativo se sustenta quando atividades geram renda justa, fortalecem economias locais e mantêm ou restauram ecossistemas. O relato de 10 milhões de reais de atividade vinculada à conservação demonstra que tal modelo é viável.

Por fim, vale notar a articulação com a agenda da COP30. Integrado à conferência em Belém, o painel destaca que turismo, clima e biodiversidade são inseparáveis. Em regiões como a Amazônia, onde a conservação ecológica, os direitos das comunidades tradicionais e o turismo se cruzam, o turismo regenerativo pode ser parte da solução para adaptação e mitigação.

Quando se diz que o turismo “é a nossa casa”, como Heloisa Schurmann lembrou, a Amazônia e seus oceanos, rios e mangues merecem mais do que visitação: merecem cuidado, reciprocidade e regeneração. Esse painel deixa claro que a transição para formas de turismo regenerativo é possível — mas exige vontade política, investimento, envolvimento comunitário e uma mudança de perspectiva: da exploração ao cuidado mútuo.

O turismo regenerativo na COP30 em Belém talvez seja o prenúncio de um novo ciclo: onde viajar significa deixar lugar melhor do que achou, onde a natureza e as pessoas caminham juntas. E se a Amazônia for o laboratório, que ele sirva de inspiração para o mundo.

Remo entra no clima da COP30 e lança campanha pela sustentabilidade em Belém

Enquanto Belém recebe líderes de quase 200 países para discutir o futuro do planeta, o Clube do Remo também faz a sua parte.
O tradicional time paraense lançou a campanha “O Rei da COP30 – Único Leão do Norte na proteção da Amazônia, uma iniciativa que une esporte, meio ambiente e conscientização social no embalo da conferência climática da ONU.

O projeto faz parte de uma agenda interna de sustentabilidade do clube, com ações educativas e de engajamento comunitário na capital paraense.

“Estamos realizando um trabalho de educação ambiental para mostrar à comunidade a importância do cuidado com o destino dos resíduos”, explicou Renato Medeiros, diretor de Sustentabilidade do Remo.


Campanha ambiental em plena Baía do Guajará

No último domingo (9), o Remo promoveu uma ação de conscientização ambiental nas margens da Baía do Guajará, próximo à sede náutica do clube.
Durante o treino da equipe náutica, atletas e voluntários realizaram uma limpeza simbólica das águas e conversaram com moradores ribeirinhos sobre o descarte correto de lixo e a preservação dos rios amazônicos.

Segundo o clube, a campanha busca envolver torcedores, atletas e comunidades vizinhas em uma rede de ações sustentáveis permanentes.

“O projeto fortalece o vínculo entre esporte e cidadania ambiental”, destacou Medeiros. “Queremos inspirar outras instituições esportivas a adotar práticas de sustentabilidade em suas rotinas.”


Futebol com propósito: o Leão e a agenda da ONU

A campanha marca também a adesão do Remo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas — um conjunto de metas globais voltadas ao equilíbrio social, ambiental e econômico até 2030.

A ação se encaixa especialmente no ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, que incentiva a criação de espaços públicos verdes, seguros e acessíveis, fortalecendo o sentimento de pertencimento e cuidado com o meio ambiente.

O clube pretende ainda expandir o projeto para escolas e comunidades de Belém nos próximos meses, com atividades educativas e eventos de coleta e reciclagem.


Remo vive bom momento dentro e fora de campo

Enquanto o time segue firme na disputa pelo acesso à Série B, o clube aproveita a visibilidade da COP30 para reforçar sua imagem como agente de transformação social.
Belém, cidade que sedia o maior evento climático do planeta, se tornou o epicentro de iniciativas ambientais e culturais— e o Remo, com mais de um século de história, quer mostrar que o futebol também pode liderar mudanças.

“Ser o Leão da Amazônia significa proteger a nossa casa. A COP30 é um momento de reflexão, e o Remo quer estar no lado certo dessa história”, afirmou o dirigente.


🌱 O Rei da COP30 – campanha do Remo em destaque

  • Local: Belém (PA)

  • Ação: Educação ambiental e limpeza simbólica na Baía do Guajará

  • ODS relacionado: Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11)

  • Objetivo: Conscientizar sobre o descarte correto de resíduos e estimular a sustentabilidade

  • Próximos passos: Expansão para escolas e comunidades de Belém

Sedap debate políticas de natureza e territórios amazônicos na COP30

Na capital paraense, durante o evento COP30, a Sedap participou de uma sessão estratégica chamada “Desafios e oportunidades para conectar a ação climática e a biodiversidade na Amazônia, por meio de investimentos em soluções baseadas na natureza de propriedade local”, realizada no dia 11 de novembro, no Museu Paraense Emílio Goeldi. Essa iniciativa, parte do ciclo denominado Estação Amazônia Sempre, reuniu representantes de comunidades tradicionais, pesquisadores e governos para debater como transformar boas intenções em políticas públicas efetivas para a Amazônia.

O painel contou com participação de múltiplas vozes: o mediador André Miccolis, ligado ao CIFOR‑ICRAF; a quilombola e pesquisadora Márcia Carmo Souza (Quilombo de Itamoari); o indígena e pesquisador Wendel Tembé (TI Alto Rio Guamá/IFPA Castanhal); o representante da Sedap, engenheiro de pesca Tiago Catuxo; e o professor Thomas Mitschein, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A diversidade de perfis é um primeiro indicativo da tentativa de a Sedap e seus parceiros integrarem diferentes saberes — comunitários, acadêmicos, governamentais — na formulação de políticas baseadas na natureza.

Territórios, natureza e governança

Durante o encontro, Tiago Catuxo destacou que “o grande desafio de fazer política pública baseada na natureza é entender a diversidade de ambientes, territórios e culturas do Estado. O importante desse processo é construir essas políticas com as comunidades, elas não podem ser criadas dentro de gabinetes e aí há a necessidade de você ir aos territórios.” Esse reconhecimento coloca a Sedap numa posi­ção de escuta e colaboração — ainda que, como o próprio painel indica, o caminho para implementação seja desafiador.

De fato, para Márcia Carmo Souza, no Quilombo de Itamoari, a ação climática na Amazônia passa por lidar com ameaças concretas como agrotóxicos, garimpo ou secas prolongadas: “Hoje nós somos constantemente ameaçados por conta do uso dos agrotóxicos, das secas e também do garimpo que é uma ameaça constante. O nosso objetivo é buscar projetos que apoiem as boas práticas, sem prejudicar o meio ambiente.” Sua fala evidencia que políticas ambientais precisam estar atreladas a justiça territorial, reconhecimento cultural e autonomia dos povos.

Por sua vez, Wendel Tembé trouxe à discussão o papel prático da agrofloresta como solução de segurança alimentar, conservação e justiça ambiental: “Esse projeto de agrofloresta para nós é a solução, porque a gente vai diminuir queimadas, diminuir o envenenamento e vai colocar comida de boa qualidade no nosso prato. O rumo é esse, procurar iniciativas, parceiros e autoridades do exterior para que os recursos cheguem aos povos indígenas, negros e quilombolas.” Essa afirmação conecta diretamente a biodiversidade local à economia de baixo carbono e à soberania alimentar.

Soluções baseadas na natureza: o que são e por que importam

A expressão “soluções baseadas na natureza” designa intervenções que aliam conservação ou restauração de ecossistemas à mitigação e adaptação climática, ao mesmo tempo que promovem bem-estar humano e justiça social. No contexto amazônico, isso significa cuidar de florestas, rios, biodiversidade e comunidades de modo interligado.
A Sedap, por meio de seu envolvimento no painel e na programação da COP30, sinaliza que está aberta a incorporar esse tipo de política pública no Estado do Pará — considerando não apenas a pesca e agropecuária, mas também cadeias produtivas sustentáveis, bioeconomia, territórios tradicionais e governança participativa. De acordo com o portal institucional, a Sedap formula, planeja e coordena políticas de desenvolvimento agropecuário e pesqueiro no Pará.

20251111184527-GC00072379-F00273156E-400x267 Sedap debate políticas de natureza e territórios amazônicos na COP30

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A estrutura de participação: compromissos e agenda

O evento faz parte de uma programação mais ampla da Sedap na COP30. Na agenda divulgada, a Sedap participará de pelo menos três outras sessões:

  • Dia 12, às 15h30 – Painel “O papel da Política de Territórios Sustentáveis na transição para baixas emissões” (Sala Seringueira, Green Zone, Pavilhão Pará)

  • Dia 19, às 15h45 – Painel “Indicações Geográficas: Proteção de Saberes Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável” (Câmara Setorial de Agricultura e Economia Verde, Green Zone)

  • Dia 20, das 17h15 às 18h30 – Painel “Agricultura – Descarbonização e Agricultura de Baixo Carbono na Amazônia Legal”; seguido, das 18h45 às 19h45, de “Agricultura – Cadeias Produtivas e Sustentabilidade: Políticas Públicas para a Bioeconomia Amazônica”.

Essa multiplicidade de temas revela o escopo da atuação: do território à cadeia produtiva, da cultura à governança, da ciência à ação social.

Reflexão analítica: desafios e caminhos

O painel evidencia três grandes desafios para que políticas baseadas na natureza avancem de forma concreta na Amazônia:

  1. Diversidade territorial – A Amazônia paraense não é uniforme. Territórios indígenas, quilombolas, ribeirinhos, assentados agrícolas e florestas convivem em mosaico. Fazer política pública “única” não funciona. Tal como Catuxo assinalou, é preciso “ir aos territórios”.

  2. Integração de saberes – A inclusão dos saberes indígenas e tradicionais não é retórica: é central. Wendel Tembé e Márcia Souza mostraram que saberes locais, agroflorestas, práticas de conservação comunitária trazem eficácia, legitimidade e impacto. Ciência e tradição precisam se conectar.

  3. Financiamento e governança – Projetos de Nature-Based Solutions requerem recursos, cadeias produtivas, mercado, infraestrutura, e sobretudo participação social. O painel apontou que muitos recursos ainda não chegam ou não fluem de forma justa para os que vivem nos territórios.

As políticas públicas, nesse cenário, devem caminhar no sentido de articular todos esses vetores — território, cultura, economia, ambiente — e não tratá-los de modo separado. Essa lógica sistêmica e intersetorial era justamente parte da mensagem central do painel organizado pela Sedap. Em síntese, “territórios sustentáveis” não são apenas reservas ou áreas de preservação, mas ambientes vivos de produção, cultura, clima e mudança.

Além disso, por se integrar à COP30 e à programação de alto nível em Belém, o evento fortalece a articulação entre o local e o global: a Amazônia deixa de ser cenário remoto e passa a ser laboratório de políticas climáticas. A Sedap, com essa participação, posiciona-se como elo entre governo estadual, comunidades e agenda internacional.

Com o painel “Estação Amazônia Sempre”, a Sedap reafirma que a construção de políticas de natureza não é tarefa de gabinete, mas de campo. Territórios, povos e ecossistemas precisam estar no centro da ação climática. O desafio é grande — mas a oportunidade também: a Amazônia pode se tornar referência mundial em soluções integradas, baseadas na natureza e orientadas para justiça e sustentabilidade.

Clube de futebol brasileiro lançou camisa em homenagem à COP30 em Belém; veja qual foi

Novo uniforme celebra a floresta e reforça a conexão do Leão Azul com a realização da Conferência do Clima na capital paraense.

Em dezembro de 2024, o Clube do Remo apresentou o terceiro uniforme da temporada 2025, uma camisa especial que homenageou a Floresta Amazônica e celebrou a realização da COP30, em Belém.

Com design simbólico e conceito sustentável, o manto foi lançado na cor azul-marinho, representando as águas que banham a capital paraense. As mangas verdes trouxeram folhas da floresta, reforçando a conexão do clube com a natureza e com o território amazônico.

Carrossel-Camisa-03_01 Clube de futebol brasileiro lançou camisa em homenagem à COP30 em Belém; veja qual foi

O uniforme contou ainda com selos especiais na barra e nas costas, que simbolizaram o “Rei da Amazônia” — como é conhecido o Remo — e fizeram alusão à COP30, um dos eventos mais importantes do planeta na luta contra as mudanças climáticas.

“Esta camisa representou a luta pela nossa Amazônia e mostrou que somos mais do que um time: somos um símbolo dessa terra”, afirmou o clube no lançamento.

O design foi desenvolvido pelo departamento de marketing do Remo, em parceria com a Volt Sport, sob direção do designer Fernando Santiago. Segundo a marca, o trabalho exigiu pesquisa minuciosa e buscou unir estética, significado e propósito ambiental.

Carrossel-Camisa-03_02 Clube de futebol brasileiro lançou camisa em homenagem à COP30 em Belém; veja qual foi

“Queríamos entregar uma camisa que não fosse apenas bonita, mas também cheia de significado. Ela homenageou a Amazônia e destacou a importância da COP30 para o futuro do planeta”, explicou Fernando Kleimmann, sócio-diretor da Volt.

O lançamento manteve a tradição do clube de criar coleções com impacto ambiental positivo. Em 2021, o Remo já havia apresentado uma camisa feita com tecido produzido a partir da retirada de garrafas PET dos oceanos, ajudando a remover mais de 400 mil unidades de circulação.

“Sempre lembramos que somos um clube da Amazônia. Essa camisa reforçou nossas raízes e a ligação da torcida com a região e com Belém, que será palco da COP30”, destacou Diego Freitas, gerente de marketing do Leão.

Carrossel-Camisa-03_03 Clube de futebol brasileiro lançou camisa em homenagem à COP30 em Belém; veja qual foi

A nova camisa do Remo foi disponibilizada em dezembro de 2024, nas lojas oficiais e no site do clube, com preço de R$ 279,99.

Belém inaugura ponto de coleta que paga em Pix por recicláveis

Na movimentada Praça Princesa Isabel, em Belém, surge um novo equipamento que propõe virar jogo na relação entre resíduos e renda. Nesta quarta-feira (12), será inaugurada a primeira unidade no Pará da Estação Preço de Fábrica — um ponto de coleta que remunera diretamente em Pix quem entregar vidro, papel ou plástico para reciclagem. A iniciativa conecta economia circular, tecnologia e cidadania à urgência de tratar os desafios ambientais da Amazônia.

A dinâmica é simples e audaciosa. O projeto — fruto da parceria entre o Grupo Boticário e a startup Green Mining — convida qualquer pessoa a baixar o aplicativo da Green Mining, cadastrar-se, levar os materiais aceitos (papel branco, papelão, papel cartão, plástico PET verde/azul/transparente e vidro) ao ponto de entrega e, a partir de um peso mínimo acumulado, receber crédito via Pix na sexta-feira. Segundo o anúncio, o pagamento será acima dos valores de mercado tradicionais.

Por que essa iniciativa importa? Em primeiro lugar, porque transfere valor direto a quem separa resíduos — catadores autônomos, pessoas com pouco acesso à renda extra, quem quer colaborar com o ambiente e ainda ganhar por isso. A proposta se articula num cenário onde a logística reversa no Brasil enfrenta falhas históricas, intermediários fazem a diferença e os resíduos acabam em aterros ou rios. Com a Estação Preço de Fábrica, o valor é repassado ao individuo que entrega, enquanto o material segue para beneficiamento industrial.

Além disso, o projeto amadurece o conceito de economia circular na Amazônia — região marcada por desafios únicos de infraestrutura, coleta e destinação. Ao instalar o equipamento em Belém durante a COP30, o símbolo é duplo: conecta o discurso global ao território local, e materializa a ideia de que “resíduo é recurso”. O diretor de ESG do Grupo Boticário, Luis Meyer, afirma que o momento fortalece “ações sustentáveis … especialmente em uma região com desafios únicos”. O CEO da Green Mining, Rodrigo Oliveira, reforça que “queremos levar dignidade aos catadores autônomos e fortalecer uma rede colaborativa de reciclagem”.

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Na prática, o usuário faz o cadastro, informa o material, leva até o local e recebe um recibo. Quando o valor acumulado atinge R$ 10, o sistema deposita automaticamente o montante via Pix — às sextas-feiras. A iniciativa menciona que, em outras localidades onde já foi aplicada, o modelo já contribuiu para fortalecer a cadeia de reciclagem e gerar renda para comunidades vulneráveis.

O ponto de coleta aceita vidro, papel branco, papelão, papel cartão e plástico PET verde, transparente e azul. Além do Grupo Boticário e da Green Mining, o projeto conta com apoio da Electrolux Group América Latina e da Prefeitura de Belém, que ampliam o escopo para eletrodomésticos e fortalecem a cadeia local de resíduos sólidos.

Do ponto de vista estratégico, a implantação em Belém representa um ensaio de economia circular adaptada à Amazônia — com logística, remuneração direta, tecnologia de cadastro e pagamento, e articulação entre iniciativa privada, startups, governo local e população. O modelo sugere que o futuro dos resíduos pode estar em valorizar quem vive da coleta, em vez de somente penalizar quem gera resíduos.

Mas há desafios à vista. A replicação exige infraestrutura — transporte dos materiais, separação adequada, beneficiamento industrial, mercado para as recicláveis e educação para o descarte correto. A ação durante a COP30 ajuda a dar visibilidade, mas para que o impacto seja sustentável será preciso acompanhamento, escala e vinculação ao desenvolvimento local. Ainda assim, é um passo concreto que demonstra como um ponto de coleta pode virar pivô de transformação social e ambiental.

Em síntese, a Estação Preço de Fábrica em Belém une três vetores: remuneração imediata, circulação de materiais recicláveis e articulação territorial. Num cenário onde a economia do descarte quase sempre beneficia intermediários ou gera fragilidade para os coletores, esse modelo propõe que o valor flua para quem entrega. Se funcionar bem, pode se tornar referência para outras cidades amazônicas e regiões com desafios similares.

À medida que o planeta discute neutralidade, descarbonização e economia verde nos fóruns internacionais, iniciativas como essa demonstram que a ação também pode (e deve) começar na praça da cidade — com vidro, papel e plástico virando renda, e pessoas virando agentes da mudança.

Quem faz a COP30 acontecer: voluntários paraenses recebem o mundo em Belém

Mais de 1,3 mil jovens certificados atuam no acolhimento dos participantes da Conferência do Clima, mostrando o espírito hospitaleiro do Pará e a força da juventude amazônica.

Belém vive dias históricos com a realização da COP30 — e quem dá o tom de hospitalidade amazônica são os mais de 1,3 mil voluntários que se preparam há meses para receber participantes do mundo todo.

Entre eles está Samira Trindade, de 22 anos, estudante e integrante do Greenpeace, que conversou com o Agência Pará. Ela conta que participar do evento é a chance de unir o que ama e o que acredita:

“É uma experiência única. Sempre me interessei por meio ambiente e, agora, posso colocar isso em prática. Nunca vi uma estrutura como a de Belém, é incrível viver tudo isso”, diz.

Os voluntários passaram por 120 horas de capacitação, com cursos e oficinas sobre sustentabilidade, hospitalidade, diversidade cultural, comunicação e atendimento ao público. Também aprenderam sobre transporte, segurança, saúde e acessibilidade — tudo para garantir uma experiência acolhedora e organizada aos visitantes.

De acordo com Victor Dias, titular da Sectet (Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica), o grupo simboliza o espírito colaborativo do povo paraense:

“Cada um deles mostra ao mundo a capacidade do Pará de unir profissionalismo e sensibilidade num evento global”, afirma.

Distribuídos em pontos estratégicos — como as zonas Azul e Verde da COP30, área hoteleira, pontos turísticos e navios de hospedagem — os voluntários são o primeiro contato de muitos estrangeiros com a cultura amazônica.

Para Oswaldo Neto, engenheiro civil de 25 anos, a experiência é transformadora:

“É emocionante estar onde o futuro do planeta é discutido. Cada dia é um novo desafio, e temos a chance de aprender com pessoas do mundo inteiro”, conta.

O Programa Voluntariado COP30, criado pelo Governo do Pará em parceria com o Governo Federal, reforça o papel da juventude amazônica na construção de um evento que é, ao mesmo tempo, global e profundamente local — com a cara, o sotaque e a hospitalidade do povo de Belém.

Empresas se reúnem em Belém para traçar caminhos de uma economia de baixo carbono

Em meio ao cenário de debates e compromissos globais da COP30, a cidade de Belém se torna palco, nesta quarta-feira (12), de uma das principais articulações empresariais pela sustentabilidade: o SB COP – Diálogo Empresarial para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA). O encontro ocorre das 9h às 17h, na sede da federação, e marca o protagonismo do setor industrial brasileiro nas discussões sobre transição ecológica e inovação climática.

O seminário integra a programação paralela da COP30, e reúne empresários, formuladores de políticas públicas e especialistas nacionais e internacionais em seis painéis temáticos. O objetivo é claro: acelerar a transformação da economia brasileira rumo a um modelo de desenvolvimento sustentável, capaz de alinhar competitividade, inovação e neutralidade de carbono.

Mais do que um evento técnico, o SB COP se apresenta como um espaço de convergência entre a indústria e as metas globais do Acordo de Paris. A iniciativa parte da Sustainable Business COP (SB COP) — uma coalizão empresarial criada pela CNI para articular soluções concretas que ampliem a participação do setor produtivo nas negociações climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Da teoria à prática: 48 casos de sucesso empresarial

Durante o encontro, a SB COP fará o reconhecimento de 48 cases de sucesso provenientes de diferentes países e segmentos industriais. Essas experiências — reunidas no SB COP Awards — evidenciam como a inovação tecnológica, a eficiência energética e os novos modelos de negócios vêm moldando o futuro de uma economia global de baixo carbono.

São exemplos que demonstram a transição possível: desde cadeias produtivas sustentáveis e soluções em economia circular até programas de descarbonização e de restauração ambiental em larga escala. O propósito é inspirar e fortalecer o intercâmbio entre empresas e governos, fomentando o compartilhamento de práticas que podem ser replicadas em toda a América Latina.

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O papel da indústria brasileira na COP30

A sessão de abertura contará com a presença do presidente da CNI, Ricardo Alban, do chair da SB COP, Ricardo Mussa, do high-level da coalizão, Dan Ioschpe, e do presidente da FIEPA, Alex Carvalho. Juntos, eles devem reforçar a mensagem de que o setor industrial tem papel estratégico na construção de uma nova economia amazônica, baseada na valorização dos recursos naturais, na bioeconomia e na inovação verde.

Para a CNI, a transição para uma economia de baixo carbono não é apenas uma obrigação ambiental, mas uma oportunidade de crescimento competitivo. A entidade defende políticas de incentivo à modernização industrial e ao investimento em tecnologias limpas, além de mecanismos financeiros capazes de impulsionar pequenas e médias empresas na corrida pela descarbonização.

Segundo os organizadores, o evento também busca aproximar o empresariado brasileiro dos debates globais sobre precificação de carbono, energias renováveis e integração entre políticas públicas e estratégias corporativas.

Diálogo, cooperação e futuro sustentável

Mais do que discutir desafios, o encontro pretende desenhar caminhos de cooperação entre o setor produtivo e as esferas governamentais. O conceito central do evento — “Diálogo Empresarial para uma Economia de Baixo Carbono” — traduz a urgência de um pacto de longo prazo entre inovação, sustentabilidade e competitividade.

Para a CNI, construir esse novo modelo econômico passa por interligar agendas ambientais, industriais e sociais, reconhecendo que a neutralidade climática depende da articulação entre empresas, governos e sociedade civil.

A programação completa do evento está disponível na Agência de Notícias da Indústria, que também acompanha a cobertura especial da participação do Sistema Indústria na COP30, com reportagens, entrevistas e bastidores sobre o papel da indústria brasileira nas negociações climáticas.

Belém, mais uma vez, se torna o ponto de encontro entre a economia e o clima — e o setor produtivo, protagonista de uma nova fase da transição sustentável global.

Relatório Amazônia 2025 propõe conectividade ecológica e social

Na 30ª conferência global sobre mudanças climáticas — a COP30 — realizada em Belém, um documento ganhou destaque como peça-chave de reflexão e ação: o Relatório de Avaliação da Amazônia 2025. Sob o título “Conectividade da Amazônia para um Planeta Vivo”, o estudo assume que a floresta amazônica — e todos os seus rios, povos, ecossistemas e saberes — não podem mais ser tratados como fragmentos isolados no tabuleiro da mudança climática. Eles são parte de uma teia, e essa teia está sob risco.

O sentido da proposta é profundo: no passado, muito se falou de conservação em termos de unidades protegidas, de fronteiras marcadas, de zonas verdes. O relatório diz: sim, essas proteções importam, mas se forem ilhas desconectadas, perderão eficácia. A Amazônia só funciona como sistema se houver fluxo — de água, de biodiversidade, de ideias, de pessoas. Com esse conceito, o documento avança para além do tradicional “proteger a floresta” e propõe “proteger a interconexão”.

Organizado em oito capítulos, o estudo aborda temas como “Conectividade regional a global”, “Interrupções na conectividade”, “Conectividade dos povos amazônicos” e “Conectividade do conhecimento”. Em cada um deles, são descritos diagnósticos, evidências e recomendações de ação. Por exemplo, ao focar nos povos amazônicos, destaca-se que estes não são apenas habitantes da floresta, mas cientistas e guardiões desse ecossistema há milênios — e que suas ciências, muitas vezes invisibilizadas, precisam ocupar o centro das políticas. Um dos cientistas-copresidentes envolvidos, Carlos Nobre, afirma que “a Amazônia está na beira do ponto de não retorno, então temos de salvá-la mantendo sua conectividade ecológica e sociocultural”.

Isso significa várias coisas ao mesmo tempo. Primeiro, torná-la resiliente: ecossistemas que perdem conexões — seja pelo desmatamento, ruptura de rios, estradas — ficam mais vulneráveis a secas, incêndios, extinções em cadeia. Segundo, colocar as comunidades no centro: as pessoas que habitam a floresta não só dependem dela, como também a mantêm viva, com saberes ancestrais que informam a conservação, a agroecologia, o uso de recursos. Terceiro, repensar políticas públicas: não basta dividir ministerialmente “florestas”, “água”, “territórios”; é preciso atuar com interseção entre clima, cultura, economia, saúde. O relatório deixa claro que promover conectividade requer mobilizar fluxos de recursos, informações e pessoas — inclusive entre países amazônicos, em colaboração transfronteiriça.

1.1CarlosNobre_AmazonBasinMap_ENG-400x554 Relatório Amazônia 2025 propõe conectividade ecológica e social
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Na prática, significa que um corredor florestal, uma rede de rios, uma estrada bem planejada, uma linha de comunicação digital, uma visão de bioeconomia regional — tudo isso faz parte da mesma malha. Por isso, os capítulos que tratam de “paisagens de produção” e “socioeconomias” são tão importantes: conectar não é só abrir estradas entre florestas, mas também integrar modos de vida, produção sustentável, inclusão e ciência. E o conhecimento indígena entra como chave: como afirmam as lideranças presentes no relatório, sem essa ponte entre ciência acadêmica e ciência originária não se salva a Amazônia.

Em resumo, o relatório entrega uma visão renovada: a Amazônia não é uma reserva à margem do mundo, mas um catalisador para o futuro do planeta. Seu funcionamento ou colapso reverbera globalmente. E, se queremos que funcione, temos de cuidar das conexões — entre rios e cidades, entre comunidades e políticas, entre fronteiras e florestas. A chamada à ação é clara: tempo de silos e zonas isoladas já passou. Agora o desafio é pactuar redes de cooperação, incluir vozes que sempre estiveram à margem, e assumir que a natureza, os humanos e os sistemas estão de fato conectados. É uma nova arquitetura para a conservação — e, talvez, para a própria sobrevivência.

Após tornado devastador, Rio Bonito do Iguaçu tenta se reconstruir

Quando o vento virou tempestade em Rio Bonito do Iguaçu, no interior do Paraná, o tempo parecia ter parado. Em poucos minutos, o céu desabou sobre casas, escolas e memórias. O tornado, com ventos que superaram 330 km/h, deixou um rastro de destruição e uma cidade inteira em estado de choque. Agora, o que se vê nas ruas é o início de uma reconstrução que vai além do concreto — é um esforço coletivo para restabelecer a vida.

Seu José Sabatino Filho, de 89 anos, ainda tenta compreender o que aconteceu. “Foi questão de um minuto. Só ouvi o estouro, e começou a cair tudo”, contou, apontando para o terreno onde antes ficava sua casa. No quintal, restam telhas quebradas e o silêncio de quem sobreviveu por pouco. Atrás da antiga residência, outras cinco casas foram completamente destruídas.

O relato de José se repete em dezenas de famílias. O impacto do tornado, que atingiu o município em 9 de novembro, foi um dos mais severos já registrados no estado. Segundo a Defesa Civil do Paraná, centenas de moradias foram destruídas parcial ou totalmente, e mais de 1,3 mil pessoas já se cadastraram para receber auxílio emergencial.

Entre as vítimas indiretas da tragédia está Cleiton Wieczorkovski, que voltava de Laranjeiras do Sul quando percebeu que o posto de combustível na entrada da cidade havia sido arrancado do chão. “Quando vi o redemoinho preto passando, entendi que minha casa tinha ido junto. Não havia nada a fazer”, lembra.

Ruínas e reconstrução

Em meio ao cenário de entulho, um dos símbolos da destruição foi o ginásio do principal colégio estadual da cidade. A estrutura metálica, completamente retorcida, virou metáfora do impacto da natureza sobre a infraestrutura local. Ao lado, o Colégio Estadual Rio Bonito do Iguaçu também ficou em ruínas.

Mas a reconstrução já começou. Uma força-tarefa conjunta entre o Governo do Estado do Paraná e a prefeitura prevê que as aulas sejam retomadas até fevereiro de 2026. A reforma da escola tem início imediato, enquanto a recuperação do ginásio ocorrerá em uma segunda etapa. O objetivo é garantir condições básicas para professores e alunos retomarem as atividades.

Enquanto máquinas e caminhões limpam os escombros, um outro movimento se espalha: o da solidariedade. Pontos de arrecadação foram montados por toda a cidade, recebendo desde produtos de higiene e água potável até protetor solar para os voluntários que trabalham sob o sol forte.

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Priscila Ribeiro/Proibida reprodução

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Corrente humana de apoio

Entre as voluntárias, Simone Regina Cosseau coordena um dos centros de doação. “As pessoas pedem muito produtos de limpeza, baldes, vassouras, e fraldas grandes. Também pedem protetor solar — quem está nas ruas reconstruindo precisa se proteger”, explica. A mobilização, segundo ela, tem sido espontânea, com doações vindas de cidades vizinhas.

De Cascavel e outros municípios da região, caminhões chegam com mantimentos e ferramentas. O apoio institucional também cresce: a 15ª Brigada de Infantaria do Exército Brasileiro montou dez barracas no centro da cidade para abrigar famílias e equipes de resgate, especialmente diante da previsão de chuvas para os próximos dias.

Um futuro a reconstruir

Rio Bonito do Iguaçu tenta agora equilibrar o trauma com a esperança. O município, que antes era conhecido pela tranquilidade e pela agricultura familiar, se vê desafiado a renascer. A solidariedade e o apoio entre vizinhos se tornaram o combustível da reconstrução.

O poder público trabalha para acelerar o repasse de recursos e reconstruir as infraestruturas críticas, mas o verdadeiro alicerce está nas mãos das pessoas comuns — aquelas que, mesmo diante do caos, se organizam para varrer os destroços e reconstruir não apenas suas casas, mas a confiança em recomeçar.

Como diz seu José, olhando o terreno vazio onde antes havia um lar: “A casa a gente levanta de novo. O importante é que a gente está vivo.”

Cientista alerta que aquecimento acima de 1,5 °C pode durar mais tempo

Em Belém, à beira da COP30, uma das vozes científicas mais claras chama atenção para um alerta que muitos evitam ouvir. Marina Hirota, pesquisadora com formação em meteorologia, matemática aplicada e ecologia, aponta que não estamos apenas próximos de ultrapassar o limiar de 1,5 °C de aquecimento global — já o fizemos, ou estamos muito próximos disso — e que permanecer neste patamar por tempo prolongado pode desencadear consequências profundas. Essa não é mais uma especulação acadêmica; é uma condição que o planeta já vive.

Ela lembra que a política climática global estabelecia metas claras: o pico das emissões antes de 2025, seguido por uma queda de cerca de 43% até 2030. No entanto, a trajetória foi descumprida. “Já deveríamos ter virado a curva entre 2020 e 2025”, afirma. Agora, ao invés de apenas mirar metas longínquas, a urgência real é diminuir o tempo que ficamos acima do limiar seguro — a chamada fase de overshooting. Quando o aquecimento ultrapassa 1,5 °C, sistemas como recifes de coral, florestas tropicais ou as correntes oceânicas podem iniciar mudanças irreversíveis.

Nesse sentido, Marina compara o planeta a um organismo: “Podemos pensar nesses sistemas como o corpo humano. Fígado, coração, estômago funcionando bem, um equilibra o outro. Se os corais desaparecem, o oceano aquece, e a Amazônia enfrenta secas mais extremas, todo o sistema enfraquece.” A metáfora ajuda a entender que uma falha em um “órgão” ecológico reverbera em outros, gerando impactos que vão além de estatísticas.

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Ela destaca igualmente um desafio de comunicação. O discurso científico é recheado de jargões, probabilidades e modelos complexos — mas a vida real de milhões de pessoas segue pautada por fazer o “fim do mês”, não o “fim do mundo”. Em uma conversa com um motoboy, ele disse: “eu não posso pensar no fim do mundo, eu tenho que pensar no fim do mês”. Marina então enfatiza que o trabalho de cientistas, jornalistas e comunicadores precisa criar pontes entre o tempo climático e o tempo vivido — o que ela chama de “traduzir conceitos” para a realidade cotidiana.

Além disso, a pesquisadora ressalta que não há solução apenas em laboratórios ou fórmulas técnicas: a ação climática exige mobilização social coletiva, escolhas políticas e mudança de hábitos. “O ser humano funciona muito em efeito manada. Precisamos agir no nosso cotidiano, ser exemplo para outras pessoas. Iniciativas que integram cientistas em torno de uma mesma mensagem são muito efetivas.” Essa frase resume um ponto-chave: se a ciência dá o diagnóstico, a sociedade precisa agir.

Marina também lembra a importância de integrar diferentes saberes e territórios, especialmente no contexto da Amazônia ou de regiões vulneráveis: entender o sistema terrestre como interligado, e reconhecer que mitigar o aquecimento envolve proteger florestas, melhorar a saúde dos ecossistemas e garantir justiça social. Quando a COP30 fala de metas globais, ela pergunta: “Mas onde está o tempo que essas comunidades terão para se adaptar? Onde está a equidade nessas soluções?”

Em suma, a mensagem que ecoa na conferência é urgente e simples: reduzir o tempo acima de 1,5 °C, conectar ciência e sociedade, transformar metas em ação — e agir agora. O planeta pode não dar aviso prévio. E se os “órgãos” desse organismo começaram a falhar, a janela de recuperação pode estar se fechando.

Moradia precária marca áreas protegidas na Amazônia Legal

Nas expansivas regiões da Amazônia Legal, onde florestas e rios guardam saberes ancestrais e modos de vida milenares, encontra-se uma realidade que contrasta com o discurso de preservação. Um levantamento recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que as pessoas que vivem em unidades de conservação ambiental, terras indígenas e territórios quilombolas na Amazônia Legal enfrentam condições de moradia muito mais precárias do que a média nacional — e, em muitos casos, do que similares em outras regiões do Brasil.

O estudo analisou 1.053 áreas protegidas na Amazônia Legal — entre elas 430 unidades de conservação ambiental, 378 terras indígenas e 245 territórios quilombolas — que juntas cobrem quase metade da extensão da região. O levantamento foi divulgado no contexto da COP30, em Belém, o que reforça o vínculo entre as discussões climáticas globais e as condições quotidianas que persistem nos territórios mais vulneráveis da floresta.

Os números são contundentes. Em unidades de conservação ambiental na Amazônia Legal, 75,19% dos moradores viviam em lares com algum tipo de precariedade nos serviços básicos de água, esgoto ou coleta de lixo — quase três vezes a média nacional de 27,28%. Em cerca de 22% desses domicílios coexistem simultaneamente falhas no abastecimento de água, esgoto e gestão de lixo — frente a 3% da população brasileira como um todo.

Quando olhamos para as terras indígenas na Amazônia Legal, o cenário se agrava ainda mais: 98,04% dos moradores convivem com alguma precariedade nessas três dimensões básicas — para efeito de comparação, em terras indígenas de todo o país o índice é 92,75%. Aproximadamente 75,05% dos moradores de terras indígenas nessa região viviam em lares que tinham simultaneamente os três tipos de falha — número bem acima dos 58,09% identificados nacionalmente.

Nos territórios quilombolas da Amazônia Legal, o padrão se repete — 96,90% das pessoas enfrentam ao menos uma condição de precariedade, frente a 85,89% da média nacional para esse tipo de área. Cerca de 36,55% residem em moradias onde água, esgoto e lixo apresentam falhas simultâneas — comparado a 28,19% no conjunto dos territórios quilombolas brasileiros.

Esses dados não apenas apontam para desigualdades: revelam que a condição de viver em áreas protegidas não significa necessariamente acesso garantido a serviços básicos, mesmo quando essas zonas deveriam contar com políticas públicas prioritárias. A analista do IBGE Marta de Oliveira Antunes observa: “as regiões mais isoladas dificultam a chegada de infraestrutura, mas há ainda falta de investimento adaptado para essas realidades mais rurais e remotas.”

A alfabetização também traz desvantagem. Entre moradores de unidades de conservação ambiental na Amazônia Legal a taxa de alfabetização era de 87,08% — abaixo da média nacional nas mesmas categorias: 91,16% para unidades de conservação de todo o país, e 93% para a população como um todo. Já nas terras indígenas da região, a taxa caiu para 77,25%, frente a 79,44% do total nacional em terras indígenas.

amazonia-_-reproducao-acervo-CNN-Brasil--400x225 Moradia precária marca áreas protegidas na Amazônia Legal
Foto – CNN Brasil

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Quando se considera o território como eixo da crise climática e ambiental, esses números ganham ainda mais peso. Aquela história de “proteger a floresta” não pode obscurecer a vida humana que persiste nos limites desse mesmo território. A falta de saneamento ou abastecimento adequado, por exemplo, aumenta a vulnerabilidade às doenças, às mudanças de regime hídrico, às enchentes ou secas — fatores que reverberam diretamente na adaptação às mudanças climáticas.

Em outras palavras: a justiça climática exige olhar para dentro das áreas protegidas tanto quanto para proteger as florestas. Porque se o discurso ambiental ignora a vida que habita ali, se a política de conservação separa a natureza das pessoas, a transição se torna excludente. O estudo do IBGE expõe justamente isso — que proteger nem sempre significa prover, e que há uma contradição grave quando territórios reconhecidos por sua importância ecológica vivem com falhas estruturais persistentes.

O momento de divulgação também importa: durante a COP30, quando líderes, negociadores e atores globais falam de neutralidade, desmatamento, financiamento climático, é preciso lembrar que nem tudo se resume a metrica global. A vida nas margens da Amazônia — das comunidades indígenas, quilombolas e habitantes de unidades de conservação — espera por infraestrutura básica, por dignidade e inclusão. E isso não aparece em metas de carbono ou em metas de área preservada: aparece na torneira que não corre, no esgoto sem destino certo, no lixo que se acumula ou no agravamento da crise sanitária.

Para que os compromissos assumidos em conferências internacionais realmente toquem realidades vulneráveis, é imprescindível que se façam sinergias entre conservação ambiental, direitos humanos e desenvolvimento local. A ambição climática que ignora essas franjas corre o risco de perpetuar desigualdades — de fato, fazer da proteção da Amazônia um exercício simbólico enquanto muitos de seus habitantes vivem em condições de precariedade extrema.

Em último caso, o estudo do IBGE serve como alarme: reafirma que áreas protegidas não são sinônimo automático de qualidade de vida, e que permanecem lacunas persistentes no acesso a serviços essenciais. Que a Amazônia Legal — territórios apresentados como corredores de biodiversidade e mitigação climática — seja também escada para os seus habitantes, e não bloqueio ao seu bem-estar. Só assim será possível transformar a preservação em prosperidade, e a conservação em justiça.

Cúpula dos Povos escala mobilização fluvial pela justiça climática

Em Belém, à margem do vasto Rio Guamá, as águas se transformam em palco de resistência e de esperança. Nesta quarta-feira, 12 de novembro de 2025, a Cúpula dos Povos movimenta gerações, territórios e vozes que, por vezes, ficam à margem das negociações formais da mudança climática. Enquanto a COP30 avança nos corredores oficiais, este encontro paralelo aponta para outra lógica: a da vida que acontece, a da justiça que brota dos rios, das florestas, das periferias.

Pela manhã, barcos se alinharão no campus Guamá da Universidade Federal do Pará e seguirão em barqueata rumo à Baía do Guajará, reunindo mais de 200 embarcações e cerca de 5 mil pessoas de diversas origens — indígenas, ribeirinhos, quilombolas, jovens, mulheres, agricultores familiares. O trajeto será simbólico e político: navegará por zonas impactadas por obras, por territórios à beira da especulação imobiliária, como a Vila da Barca, palco vivo das contradições que muitos atributos da “transição verde” ignoram.

A barqueata não é um espetáculo isolado. Ela inaugura uma programação intensa que vai até dia 16, no campus da UFPA. Lá, das 8h às 22h, serão realizados fóruns, plenárias e manifestações culturais que conectam luta territorial, racismo ambiental, soberania alimentar, direito à cidade e transição energética — sempre a partir da perspectiva de que o clima se decide nos territórios e não apenas em salas de Estado.

Uma das leituras possíveis é que este evento questiona os rumos da governança climática global: enquanto muitos fóruns se concentram em metas e tecnologias, a Cúpula dos Povos aposta nas vidas, nos corpos, nas águas — e na ideia de que a justiça climática precisa proteger quem vive na linha de frente das mudanças. “As águas da Amazônia estão trazendo as vozes que o mundo precisa ouvir: as de quem defende a vida, os territórios e o clima”, afirma , ativista equatoriano da Comissão Política da Cúpula.

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Bruno Peres/Agência Brasil

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A dinâmica cultural amplia esse olhar. A Feira dos Povos, a Casa das Sabedorias Ancestrais e as apresentações artísticas criam espaços de escuta, ritual e registro. A mobilização não se limita à crítica mas constrói visibilidade — e alternativas. A barqueata se torna, então, um manifesto que atravessa a água, e a programação da Cúpula é o terreno onde a mobilização ganha volume, contrasta com discursos oficiais e reafirma quem sabe do futuro.

Ao mesmo tempo, o cenário revela o fosso que separa promessa e prática. A Vila da Barca, palco da barqueata, é uma comunidade que vive décadas de abandono, saneamento deficiente e especulação. Nela, as lutas da Amazônia encontram a cidade — e deixam claro que “transição” se constrói junto, com quem está no território. A Cúpula, então, emerge como voz que exige: não mais “soluções para” mas “soluções com”.

A vigência desse encontro na COP30 reforça que o tempo da mudança não espera apenas que se alcance uma meta até 2030 — está em curso agora, nas águas, nas árvores, nas ruas, nos barcos. O chamado que ecoa em Belém é para que a conferência oficial olhe também para quem vive na linha de frente dos impactos, e para que a justiça climática seja mais que lema: seja processo, mobilização, presença.

Em suma, a Cúpula dos Povos oferece um contraponto fecundo à agenda diplomática da COP30. Ela mostra que não basta assinar compromissos — é preciso ouvir as vozes que jamais foram chamadas, transformar práticas que foram invisíveis em protagonismo real, e engrenar a mudança no cotidiano. Se o barco parte nesta manhã, leva consigo não apenas corpos e vozes, mas territórios inteiros. E é deles que o futuro do clima talvez precise aprender mais do que de qualquer sala de negociações.

FreeZone na COP30 reúne juventude, arte e clima em Belém

Na ampla e pulsante agenda da COP30 em Belém, a FreeZone Cultural Action aparece como um dos palcos mais vivos da convergência entre clima, cultura e cidadania. O espaço — instalado na Praça da Bandeira, em Belém (PA) — se abre com uma programação intensa e diversificada, que nesta quarta-feira, 12 de novembro, mobiliza desde fóruns e painéis até cinema, teatro e música regional. A iniciativa, organizada pelo Instituto Cultural Artô, com apoio do Comando Militar do Norte e da Prefeitura de Belém, assume lugar de protagonismo ao dar voz à juventude amazônica, aos saberes tradicionais e aos desafios da crise climática.

A programação do dia assinala momentos-chave. Pela manhã, das 10h30 às 11h30, na Zona Vozes (Domo 5), o painel “Reciclagem que Transforma: Impacto Social e Econômico” reúne nomes como Roseli Nogueira Machado (Grupo Recicla BR), Victoria Santos, Aline Bresciani Doro (Novelis), Roberto Laureano da Rocha (ANCAT) e Débora Ribeiro Baia (Concaves). O debate coloca a economia circular como ponte entre meio ambiente, inclusão e geração de renda — uma abordagem que convoca a sociedade a perceber que lixo deixado de ser resíduo vira chance de cooperação e futuro compartilhado.

Na sequência, das 11h30 às 12h30, no mesmo domo, ocorre o lançamento da plataforma UON.EARTH, voltada à sustentabilidade e tecnologia. A apresentação da plataforma revela um movimento que atravessa os limites do discurso ambiental e investe em inovação aplicada: tecnologia como aliada da natureza e da sociedade.

À tarde, das 14h às 15h30, o Fórum Cojovem “O Futuro Justo e Sustentável pela Perspectiva da Juventude”, novamente na Zona Vozes (Domo 5), reúne jovens lideranças e especialistas para tratar da conservação ambiental, sociobiodiversidade e os desafios que as novas gerações enfrentam. E às 16h, no mesmo espaço, ocorre o lançamento da pesquisa Amazônia Jovem 2025, desenvolvida por Cojovem – Cooperação da Juventude Amazônida pelo Desenvolvimento Sustentável. O estudo traz dados inéditos de 667 jovens dos nove estados da Amazônia Legal, e revela que 78% vivem algum tipo de conflito territorial e 80% manifestam ansiedade em relação ao futuro de seus territórios — evidências que apontam como a crise climática atravessa identidades, pertencimentos e a própria vida comunitária.

o-espao-aberto-a-pessoas-de-todas-as-idades-t3xv96cj-400x214 FreeZone na COP30 reúne juventude, arte e clima em Belém
Divulgação

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A riqueza da programação se estende ao cinema, com sessões na Zona Vozes (Domo 4) ao longo da tarde: das 10h às 11h50 “500 Almas”; 14h às 15h20 “Utopia Tropical”; 15h30 às 16h “Coparente”; e 16h15 às 18h “Global”. Cada título abre janelas para narrativas que conectam Amazônia, mundo e transformação.

No teatro, às 17h, na Zona Crono (Domo 1), sobe o espetáculo “CronoEcoLógico”, performance cênica sobre tempo, natureza e transformação — uma experimentação artística que convoca o espectador a refletir sobre ritmo, ambiente e futuro.

Quando o sol se põe, a música toma conta: na Zona Sonora (Palco 2) começam as apresentações regionais. Às 18h o Grupo Folclórico Encantos do Sol; 18h40 Grupo Folclórico Parananim; 19h20 Grupo Folclórico Vaiangá; às 20h o cantor Junior Neves; às 21h30 Luann Kassio; às 23h Thiago Costa; e à meia-noite Allanzinho. A jornada testemunha como cultura popular, arte amazônica e debate climático se entrelaçam.

A FreeZone Cultural Action ocupa uma área de 10 mil m² na Praça da Bandeira, com domos geodésicos e cenografia inspirada nos modos de vida amazônicos. O espaço pretende conectar saberes tradicionais e futuros possíveis, configurando-se como um elo vital entre a sociedade civil e a agenda climática global. A proposta é clara: tornar acessível o debate sobre mudanças climáticas, sem que ele se restrinja a fóruns técnicos ou audiências fechadas, e, ao contrário, colocar a cidadania, a arte e a participação como eixos centrais.

O evento é gratuito, de acesso aberto, reforçando o compromisso da instituição promotora de não excluir vozes. A participação está aberta a jovens, comunidades tradicionais, artistas, pesquisadores, cidadãos de Belém e demais visitantes da COP30.

Por que esse dia importa

Este dia da FreeZone não é apenas mais uma sessão de painéis ou shows. É um recado de que a Amazônia não é tema distante, mas viveza, escuta e protagonismo. A pesquisa Amazônia Jovem 2025, por exemplo, joga luz sobre realidades que muitas vezes ficam fora das lentes globais: jovens amazônicos que enfrentam disputas por território, ansiedade climática e a necessidade de protagonizar suas próprias narrativas. A plataforma UON.EARTH sinaliza que tecnologia e sustentabilidade precisam caminhar juntas, e que o debate ambiental se conecta com inovação. O painel sobre reciclagem indica que economia circular não é teoria distante, mas prática concreta de impacto social e econômico. E a programação cultural demonstra que arte, festa e resistência também são instrumentos de transformação — no centro da Amazônia, durante a COP.

Essa convergência entre debate, arte e tecnologia revela que a transição para um mundo mais sustentável passa, também, pelo território, pela juventude e pela cultura local. A FreeZone mostra que falar de clima não é apenas lamentar, mas produzir — produzir ideias, redes, alianças, ritmos e comunidades. Em um momento internacional que exige urgência, esse dia reforça que não basta tratar o planeta como cenário: trata-se de viver de modo diferente nele.

SERVIÇO: FREEZONE CULTURAL ACTION
Local: Praça da Bandeira, Belém (PA)
Data: 9 a 21 de novembro
Horário: 8h às 22h (shows até 00h)
Acesso: gratuito e aberto ao público. Para participar dos fóruns da Cojovem e do espetáculo teatral CronoEcoLógico (apresentado diariamente às 17h), é necessário reservar ingresso pelo aplicativo oficial da FreeZone.
Programação completa e atualizada: https://freezoneculturalaction.com/progra

CBF Impacta: o futebol brasileiro estreia sua revolução sustentável na COP30

Durante a COP30, em Belém, o futebol brasileiro entra oficialmente na era da sustentabilidade. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apresentará o CBF Impacta, um programa pioneiro que posiciona a entidade como a primeira confederação de futebol do mundo a buscar neutralidade total de carbono, energia, água e resíduos sólidos.

A proposta marca uma virada de página na história da CBF: mais que organizar competições e selecionar atletas, a instituição passa a tratar o futebol como plataforma de impacto social e ambiental, com metas verificáveis e compromissos públicos.

O futebol como vetor de transformação

O CBF Impacta é construído sobre três Zonas de Impacto — Ambiental, Social e de Governança — que estruturam a atuação da entidade segundo os princípios ESG. O programa une ciência, gestão e propósito para transformar o modo como o futebol brasileiro se relaciona com o planeta e com as pessoas.

Na Zona de Impacto Ambiental, a CBF assume a meta de se tornar a primeira confederação de futebol do mundo a alcançar neutralidade plena. O processo inclui inventários de emissões auditados, compensações certificadas e a implementação de um modelo de economia circular em todas as suas operações. Desde os centros de treinamento até as competições nacionais, o objetivo é reduzir o consumo, reciclar resíduos e investir em energia limpa.

Segundo representantes da área de sustentabilidade da entidade, o projeto nasce como parte de uma política institucional duradoura — e não como uma ação pontual. A neutralidade, nesse contexto, é entendida não apenas como um selo ambiental, mas como um novo padrão de responsabilidade no esporte.

Inclusão social e formação cidadã

A Zona de Impacto Social amplia o alcance do programa para além dos gramados. A CBF apresentará durante a COP30 a Estratégia Nacional do Futebol de Base, um movimento que redesenha o papel das categorias de formação no país. A iniciativa busca não apenas revelar talentos esportivos, mas garantir que todos os jovens participantes tenham acesso a uma trilha de desenvolvimento pessoal e profissional.

A proposta é clara: o futebol deve formar cidadãos, e não apenas jogadores. Por isso, a CBF promete incluir conteúdos de educação ambiental, saúde mental e cidadania nos programas de base, além de criar oportunidades para jovens que não seguirão a carreira profissional.

Esse eixo social se conecta a parcerias com governos locais, clubes, organizações do terceiro setor e empresas privadas interessadas em apoiar projetos de formação integral. A meta é que, até 2030, todos os torneios de base promovidos pela CBF contem com indicadores de impacto social e educativo.

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Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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Governança e transparência como pilares

A terceira frente, a Zona de Impacto de Governança, lança o Sistema de Sustentabilidade Financeira (Fair Play), inspirado em boas práticas internacionais de transparência e controle econômico. O mecanismo estabelece critérios de responsabilidade financeira para clubes e gestores, com foco em equilíbrio orçamentário, transparência administrativa e gestão ética.

Com isso, a CBF busca elevar o padrão de governança do futebol brasileiro, reduzindo desigualdades, prevenindo crises financeiras e fortalecendo a confiança nas instituições esportivas. Essa nova estrutura permitirá que torcedores, patrocinadores e órgãos públicos acompanhem de forma clara o desempenho socioambiental e econômico do futebol nacional.

Um legado que vai além do campo

O CBF Impacta não se limita à operação interna da confederação. O programa prevê ações complementares ligadas às competições, ao engajamento comunitário e à criação de novos modelos de legado para o esporte. Entre as propostas em estudo estão a neutralização de grandes eventos, programas de reflorestamento vinculados a torneios e o uso de tecnologia para rastrear indicadores de impacto em tempo real.

A iniciativa será apresentada oficialmente no dia 12 de novembro de 2025, durante a COP30, em Belém (PA). O evento acontecerá no Pavilhão Pará – Green Zone, Sala Samaumeira, das 11h às 12h15.

Com o lançamento do CBF Impacta, o Brasil envia ao mundo uma mensagem contundente: o futebol — paixão nacional e expressão cultural global — também pode ser protagonista na luta contra as mudanças climáticas. O esporte mais popular do planeta começa, assim, a disputar um novo campeonato: o da sustentabilidade.

Dia 2 da COP30: cidades e comunidades movem a ação climática

Belém viveu nesta terça-feira um segundo dia intenso da COP30, marcado pela força das soluções locais e pela crença de que a transição climática começa nos territórios — nas ruas, nas prefeituras, nas comunidades. A jornada girou em torno da adaptação, infraestrutura, cidades, água, resíduos, governos locais, ciência e tecnologia, economia circular e bioeconomia, com o mote: “Impulsionar a ação local para construir resiliência e melhorar vidas.”

Cidades e governos locais protagonizam a implementação

A campanha global Beat the Heat Implementation Drive, liderada pela Presidência da COP30 e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em parceria com a Cool Coalition, passou oficialmente da fase de planejamento à execução. O esforço mobiliza cidades e financiamentos para proteger 3,5 bilhões de pessoas do calor extremo em 185 cidades com soluções de resfriamento verde, como florestas urbanas, telhados vegetados e tecnologias de alta eficiência energética.

O Brasil também anunciou dois marcos importantes na Reunião Ministerial de Alto Nível sobre Urbanização e Mudança Climática:

  • o Plano para Acelerar a Governança Multinível (PAS), coordenado pelos Ministérios do Meio Ambiente e das Cidades em parceria com o ONU-Habitat, que busca integrar estruturas subnacionais em 100 NDCs até 2028 e capacitar 6 mil servidores públicos;

  • e a nova copresidência da Coalizão por Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (CHAMP), agora liderada conjuntamente por Brasil e Alemanha até 2027. A coalizão, apoiada por 77 países e pela União Europeia, inaugura também Plataformas Nacionais de Localização de Financiamento (CPLFs) em Camarões e Madagascar, com meta de mobilizar US$ 350 milhões até 2028 e envolver 200 governos locais.

Essas medidas marcam um ponto de virada: a governança climática multinível deixa de ser retórica e passa a estruturar a execução real da agenda climática.

Água no centro da adaptação climática

Em Belém, ministros e especialistas de mais de 50 países se reuniram na Reunião Ministerial “Águas da Mudança”, que culminou na Declaração Conjunta sobre Água e Ação Climática, reafirmando o papel da água como eixo central da adaptação global.

O destaque foi o Programa de Investimento em Água da América Latina e do Caribe, liderado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) e pela Parceria Global pela Água (GWP), com previsão de US$ 20 bilhões até 2030 para garantir segurança hídrica, modernizar sistemas de irrigação e fortalecer a resiliência a secas e enchentes.

O Brasil apresentou ainda dois Planos de Aceleração: um voltado à Gestão e Governança Participativa da Água e outro ao Acesso à Água Doce para Comunidades Vulneráveis, em parceria com a OCDE, o SIWI, a AGWA e a Wetlands International.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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Reduzindo o metano e promovendo economia circular

A iniciativa No Organic Waste (NOW), apoiada pelo Global Methane Hub, lançou um plano global para reduzir 30 % das emissões de metano de resíduos orgânicos até 2030. O compromisso de US$ 30 milhões — sendo US$ 10 milhões destinados à América Latina — financiará projetos urbanos, centrais de compostagem e redes de bancos de alimentos, com impacto direto: recuperação de 20 milhões de toneladas de alimentos excedentes por ano, alimentação de 50 milhões de pessoas e integração de 1 milhão de trabalhadores de resíduos na economia circular.

No Brasil, o tema foi ampliado pelo Mutirão pela Gestão Sustentável de Resíduos Eletrônicos e Inclusão Digital, liderado pelo Ministério das Comunicações e pela Presidência da COP30. A ação doou 100 computadores recondicionados a centros comunitários e celebrou a capacitação de 2.700 jovens em reciclagem e recondicionamento — exemplo de como tecnologia, inclusão e economia circular podem andar juntas.

Construções sustentáveis e zero emissões

Na área da infraestrutura, a Buildings Breakthrough Initiative, coordenada pela Global Alliance for Buildings and Construction (GlobalABC), anunciou padrões globais para edificações de quase zero emissão e alta resiliência (NZERBs). Seis países — Colômbia, França, Finlândia, Gana, Japão e Quênia — aderiram a um Marco Global de Ação sobre Compras Públicas, que busca transformar o mercado de obras públicas em motor de sustentabilidade.

Inovação e participação digital

A Maloca, plataforma interativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), também ganhou destaque ao expandir a participação global na COP30 por meio de ambientes virtuais imersivos, onde comunidades e povos indígenas apresentaram soluções em educação, agroecologia e infraestrutura verde.

Encerramento: a base como força da transformação

O dia terminou com a Plenária Ministerial Global Mutirão, reunindo ministros e prefeitos de mais de 80 países, reafirmando que o futuro do Acordo de Paris está sendo construído a partir da base — das cidades e comunidades que lideram, na prática, o combate à crise climática.


Agenda do Dia 3 – 12 de novembro

Temas: saúde, empregos, educação, cultura, justiça e direitos humanos, integração da informação e trabalhadores.
Eixo: Empoderar e capacitar pessoas para acelerar o progresso.

9:00 – 10:15 Lançamento de Alto Nível da Iniciativa Global “Empregos e Competências para a Nova Economia” e apresentação do primeiro Relatório e Agenda de Ação.
9:30 – 10:30 Promoção da Integridade da Informação sobre Mudança Climática.
10:30 – 12:00 Evento Ministerial de Alto Nível “Adaptação Indígena”.
12:30 – 13:30 Lançamento do PAS e Declaração Ministerial sobre Compras Públicas Sustentáveis para uma Transição Justa.
14:30 – 17:45 Evento de Alto Nível “Cúpula dos Proprietários de Ativos”.
17:00 – 18:00 Narrativas e Contação de Histórias para Enfrentar a Crise Climática.

R$20 milhões para comunidades: nova chamada da Teia da Sociobiodiversidade

Durante a COP30 em Belém, uma grande novidade foi anunciada: a Teia da Sociobiodiversidade, iniciativa conduzida pelo Fundo Casa Socioambiental em parceria com o Fundo Socioambiental CAIXA, vai liberar R$ 20 milhões para impulsionar projetos sustentáveis liderados por comunidades tradicionais e locais em todo o país. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas até 16 de dezembro, com a expectativa de selecionar pelo menos 200 propostas que receberão até R$ 100 mil cada.

Este novo ciclo não surge do nada: na edição anterior da Teia da Sociobiodiversidade foram apoiadas 202 iniciativas, que promoveram impacto direto em cerca de 354 mil pessoas e efeito indireto em aproximadamente 950 mil. Os projetos abarcaram todo o território brasileiro e operaram em diferentes biomas, fortalecendo cadeias produtivas, modos de vida tradicionais e redes comunitárias. O novo edital amplia essa ambição.

Há duas linhas temáticas centrais nessa ação: a primeira — “Negócios da Sociobiodiversidade” — olha para iniciativas econômicas que nascem da diversidade biológica e cultural de cada região, como casas de farinha comunitárias, hortas coletivas, sistemas agroecológicos. A segunda — “Soluções Baseadas na Natureza” — apoia intervenções que geram benefícios sociais, ambientais e econômicos a partir da própria natureza: restauração de ecossistemas, agroflorestas e jardins que capturam água ou regeneram solo. Conectar essas frentes é parte da estratégia.

O que chama atenção não é apenas o valor investido — que, somando duas edições, alcança R$ 40 milhões —, mas a filosofia que está por trás. A diretora-executiva do Fundo Casa Socioambiental, Cristina Orpheo, resume: “as pessoas e a natureza não estão em lados opostos — fazem parte do mesmo ecossistema. Quando o recurso chega no território, ele fortalece estruturas, cooperativas e redes, levando oportunidades para que as populações locais não precisem deixar os territórios para viver com dignidade.” A frase resume a mudança de paradigma: não se trata apenas de financiar projetos ambientais, mas de redesenhar relações sociais, culturais, econômicas e ecológicas.

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Para os realizadores, o modelo representa um avanço importante no financiamento direto à base comunitária — ou seja, recursos que de fato chegam às organizações locais, sem passar por intermediários pesados. A parceria entre as duas instituições — uma especializada em filantropia socioambiental e outra um grande banco público com fundo dedicado — permite escalar o impacto. O edital promete levar à prática a convicção de que gerar renda, reforçar autonomia comunitária e proteger ecossistemas podem andar juntos.

Mas há também desafios implícitos: levar acesso democrático aos territórios mais remotos, garantir que os processos de seleção sejam transparentes e acessíveis às comunidades, oferecer suporte técnico e institucional para que os projetos façam a diferença de fato. As oficinas de tira-dúvidas anunciadas visam justamente reduzir essas barreiras — orientar como as comunidades podem submeter bons projetos, compreender requisitos e cumprir prazos.

É importante também observar que essas iniciativas não são fragmentos isolados, mas peças de um quebra-cabeça mais amplo: uma economia regenerativa que reconhece a biodiversidade, os saberes tradicionais e a mobilização social como ativos estratégicos. Em vez de imaginar comunidades visadas apenas como beneficiárias, o enfoque coloca as comunidades como agentes centrais, detentoras de conhecimento e protagonistas da transformação.

Ao alocar recursos diretamente nesses territórios, as instituições envolvidas apostam em algo mais profundo do que simples financiamento: apostam em autonomia, em fortalecimento coletivo e em possibilidades reais para que as pessoas moldem o futuro de seus territórios. Em um país marcado por desigualdades e modelos de exploração que ignoram naturezas locais e saberes tradicionais, este tipo de iniciativa traz uma fagulha de mudança estruturante — que requer não apenas dinheiro, mas escuta, parceria, tempo e comprometimento.

A mobilização de R$ 20 milhões, somada aos R$ 20 milhões de um ciclo anterior, representa o maior volume já investido em comunidades tradicionais pela parceria entre as instituições até agora. Mas mais importante que o valor é o legado: se mais de 350 mil pessoas foram beneficiadas diretamente, e quase 1 milhão indiretamente, o impacto pode ultrapassar esses números, se cada projeto bem-implementado gerar efeitos multiplicadores, fortalecer redes, inspirar novas iniciativas.

Este não é um chamado apenas para inscrições: é um convite às comunidades de todo o Brasil para imaginar, estruturar, executar projetos que valorizem a biodiversidade, a cultura e o território. O edital reafirma que os biomas brasileiros — sejam eles florestas, cerrados, mangues, caatingas ou campos — não são meros cenários de conservação, mas arenas vivas de construção social, cultural e ambiental. E que, quando as comunidades ganham o protagonismo, o financiamento deixa de ser auxílio e vira parceria de transformação.

Serviço:
Período de inscrições: de 11 de novembro a 16 de dezembro de 2025
Inscrições e edital: www.casa.org.br/teia