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CBF Impacta: o futebol brasileiro estreia sua revolução sustentável na COP30

Durante a COP30, em Belém, o futebol brasileiro entra oficialmente na era da sustentabilidade. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apresentará o CBF Impacta, um programa pioneiro que posiciona a entidade como a primeira confederação de futebol do mundo a buscar neutralidade total de carbono, energia, água e resíduos sólidos.

A proposta marca uma virada de página na história da CBF: mais que organizar competições e selecionar atletas, a instituição passa a tratar o futebol como plataforma de impacto social e ambiental, com metas verificáveis e compromissos públicos.

O futebol como vetor de transformação

O CBF Impacta é construído sobre três Zonas de Impacto — Ambiental, Social e de Governança — que estruturam a atuação da entidade segundo os princípios ESG. O programa une ciência, gestão e propósito para transformar o modo como o futebol brasileiro se relaciona com o planeta e com as pessoas.

Na Zona de Impacto Ambiental, a CBF assume a meta de se tornar a primeira confederação de futebol do mundo a alcançar neutralidade plena. O processo inclui inventários de emissões auditados, compensações certificadas e a implementação de um modelo de economia circular em todas as suas operações. Desde os centros de treinamento até as competições nacionais, o objetivo é reduzir o consumo, reciclar resíduos e investir em energia limpa.

Segundo representantes da área de sustentabilidade da entidade, o projeto nasce como parte de uma política institucional duradoura — e não como uma ação pontual. A neutralidade, nesse contexto, é entendida não apenas como um selo ambiental, mas como um novo padrão de responsabilidade no esporte.

Inclusão social e formação cidadã

A Zona de Impacto Social amplia o alcance do programa para além dos gramados. A CBF apresentará durante a COP30 a Estratégia Nacional do Futebol de Base, um movimento que redesenha o papel das categorias de formação no país. A iniciativa busca não apenas revelar talentos esportivos, mas garantir que todos os jovens participantes tenham acesso a uma trilha de desenvolvimento pessoal e profissional.

A proposta é clara: o futebol deve formar cidadãos, e não apenas jogadores. Por isso, a CBF promete incluir conteúdos de educação ambiental, saúde mental e cidadania nos programas de base, além de criar oportunidades para jovens que não seguirão a carreira profissional.

Esse eixo social se conecta a parcerias com governos locais, clubes, organizações do terceiro setor e empresas privadas interessadas em apoiar projetos de formação integral. A meta é que, até 2030, todos os torneios de base promovidos pela CBF contem com indicadores de impacto social e educativo.

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Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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Governança e transparência como pilares

A terceira frente, a Zona de Impacto de Governança, lança o Sistema de Sustentabilidade Financeira (Fair Play), inspirado em boas práticas internacionais de transparência e controle econômico. O mecanismo estabelece critérios de responsabilidade financeira para clubes e gestores, com foco em equilíbrio orçamentário, transparência administrativa e gestão ética.

Com isso, a CBF busca elevar o padrão de governança do futebol brasileiro, reduzindo desigualdades, prevenindo crises financeiras e fortalecendo a confiança nas instituições esportivas. Essa nova estrutura permitirá que torcedores, patrocinadores e órgãos públicos acompanhem de forma clara o desempenho socioambiental e econômico do futebol nacional.

Um legado que vai além do campo

O CBF Impacta não se limita à operação interna da confederação. O programa prevê ações complementares ligadas às competições, ao engajamento comunitário e à criação de novos modelos de legado para o esporte. Entre as propostas em estudo estão a neutralização de grandes eventos, programas de reflorestamento vinculados a torneios e o uso de tecnologia para rastrear indicadores de impacto em tempo real.

A iniciativa será apresentada oficialmente no dia 12 de novembro de 2025, durante a COP30, em Belém (PA). O evento acontecerá no Pavilhão Pará – Green Zone, Sala Samaumeira, das 11h às 12h15.

Com o lançamento do CBF Impacta, o Brasil envia ao mundo uma mensagem contundente: o futebol — paixão nacional e expressão cultural global — também pode ser protagonista na luta contra as mudanças climáticas. O esporte mais popular do planeta começa, assim, a disputar um novo campeonato: o da sustentabilidade.

Dia 2 da COP30: cidades e comunidades movem a ação climática

Belém viveu nesta terça-feira um segundo dia intenso da COP30, marcado pela força das soluções locais e pela crença de que a transição climática começa nos territórios — nas ruas, nas prefeituras, nas comunidades. A jornada girou em torno da adaptação, infraestrutura, cidades, água, resíduos, governos locais, ciência e tecnologia, economia circular e bioeconomia, com o mote: “Impulsionar a ação local para construir resiliência e melhorar vidas.”

Cidades e governos locais protagonizam a implementação

A campanha global Beat the Heat Implementation Drive, liderada pela Presidência da COP30 e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em parceria com a Cool Coalition, passou oficialmente da fase de planejamento à execução. O esforço mobiliza cidades e financiamentos para proteger 3,5 bilhões de pessoas do calor extremo em 185 cidades com soluções de resfriamento verde, como florestas urbanas, telhados vegetados e tecnologias de alta eficiência energética.

O Brasil também anunciou dois marcos importantes na Reunião Ministerial de Alto Nível sobre Urbanização e Mudança Climática:

  • o Plano para Acelerar a Governança Multinível (PAS), coordenado pelos Ministérios do Meio Ambiente e das Cidades em parceria com o ONU-Habitat, que busca integrar estruturas subnacionais em 100 NDCs até 2028 e capacitar 6 mil servidores públicos;

  • e a nova copresidência da Coalizão por Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (CHAMP), agora liderada conjuntamente por Brasil e Alemanha até 2027. A coalizão, apoiada por 77 países e pela União Europeia, inaugura também Plataformas Nacionais de Localização de Financiamento (CPLFs) em Camarões e Madagascar, com meta de mobilizar US$ 350 milhões até 2028 e envolver 200 governos locais.

Essas medidas marcam um ponto de virada: a governança climática multinível deixa de ser retórica e passa a estruturar a execução real da agenda climática.

Água no centro da adaptação climática

Em Belém, ministros e especialistas de mais de 50 países se reuniram na Reunião Ministerial “Águas da Mudança”, que culminou na Declaração Conjunta sobre Água e Ação Climática, reafirmando o papel da água como eixo central da adaptação global.

O destaque foi o Programa de Investimento em Água da América Latina e do Caribe, liderado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) e pela Parceria Global pela Água (GWP), com previsão de US$ 20 bilhões até 2030 para garantir segurança hídrica, modernizar sistemas de irrigação e fortalecer a resiliência a secas e enchentes.

O Brasil apresentou ainda dois Planos de Aceleração: um voltado à Gestão e Governança Participativa da Água e outro ao Acesso à Água Doce para Comunidades Vulneráveis, em parceria com a OCDE, o SIWI, a AGWA e a Wetlands International.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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Reduzindo o metano e promovendo economia circular

A iniciativa No Organic Waste (NOW), apoiada pelo Global Methane Hub, lançou um plano global para reduzir 30 % das emissões de metano de resíduos orgânicos até 2030. O compromisso de US$ 30 milhões — sendo US$ 10 milhões destinados à América Latina — financiará projetos urbanos, centrais de compostagem e redes de bancos de alimentos, com impacto direto: recuperação de 20 milhões de toneladas de alimentos excedentes por ano, alimentação de 50 milhões de pessoas e integração de 1 milhão de trabalhadores de resíduos na economia circular.

No Brasil, o tema foi ampliado pelo Mutirão pela Gestão Sustentável de Resíduos Eletrônicos e Inclusão Digital, liderado pelo Ministério das Comunicações e pela Presidência da COP30. A ação doou 100 computadores recondicionados a centros comunitários e celebrou a capacitação de 2.700 jovens em reciclagem e recondicionamento — exemplo de como tecnologia, inclusão e economia circular podem andar juntas.

Construções sustentáveis e zero emissões

Na área da infraestrutura, a Buildings Breakthrough Initiative, coordenada pela Global Alliance for Buildings and Construction (GlobalABC), anunciou padrões globais para edificações de quase zero emissão e alta resiliência (NZERBs). Seis países — Colômbia, França, Finlândia, Gana, Japão e Quênia — aderiram a um Marco Global de Ação sobre Compras Públicas, que busca transformar o mercado de obras públicas em motor de sustentabilidade.

Inovação e participação digital

A Maloca, plataforma interativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), também ganhou destaque ao expandir a participação global na COP30 por meio de ambientes virtuais imersivos, onde comunidades e povos indígenas apresentaram soluções em educação, agroecologia e infraestrutura verde.

Encerramento: a base como força da transformação

O dia terminou com a Plenária Ministerial Global Mutirão, reunindo ministros e prefeitos de mais de 80 países, reafirmando que o futuro do Acordo de Paris está sendo construído a partir da base — das cidades e comunidades que lideram, na prática, o combate à crise climática.


Agenda do Dia 3 – 12 de novembro

Temas: saúde, empregos, educação, cultura, justiça e direitos humanos, integração da informação e trabalhadores.
Eixo: Empoderar e capacitar pessoas para acelerar o progresso.

9:00 – 10:15 Lançamento de Alto Nível da Iniciativa Global “Empregos e Competências para a Nova Economia” e apresentação do primeiro Relatório e Agenda de Ação.
9:30 – 10:30 Promoção da Integridade da Informação sobre Mudança Climática.
10:30 – 12:00 Evento Ministerial de Alto Nível “Adaptação Indígena”.
12:30 – 13:30 Lançamento do PAS e Declaração Ministerial sobre Compras Públicas Sustentáveis para uma Transição Justa.
14:30 – 17:45 Evento de Alto Nível “Cúpula dos Proprietários de Ativos”.
17:00 – 18:00 Narrativas e Contação de Histórias para Enfrentar a Crise Climática.

R$20 milhões para comunidades: nova chamada da Teia da Sociobiodiversidade

Durante a COP30 em Belém, uma grande novidade foi anunciada: a Teia da Sociobiodiversidade, iniciativa conduzida pelo Fundo Casa Socioambiental em parceria com o Fundo Socioambiental CAIXA, vai liberar R$ 20 milhões para impulsionar projetos sustentáveis liderados por comunidades tradicionais e locais em todo o país. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas até 16 de dezembro, com a expectativa de selecionar pelo menos 200 propostas que receberão até R$ 100 mil cada.

Este novo ciclo não surge do nada: na edição anterior da Teia da Sociobiodiversidade foram apoiadas 202 iniciativas, que promoveram impacto direto em cerca de 354 mil pessoas e efeito indireto em aproximadamente 950 mil. Os projetos abarcaram todo o território brasileiro e operaram em diferentes biomas, fortalecendo cadeias produtivas, modos de vida tradicionais e redes comunitárias. O novo edital amplia essa ambição.

Há duas linhas temáticas centrais nessa ação: a primeira — “Negócios da Sociobiodiversidade” — olha para iniciativas econômicas que nascem da diversidade biológica e cultural de cada região, como casas de farinha comunitárias, hortas coletivas, sistemas agroecológicos. A segunda — “Soluções Baseadas na Natureza” — apoia intervenções que geram benefícios sociais, ambientais e econômicos a partir da própria natureza: restauração de ecossistemas, agroflorestas e jardins que capturam água ou regeneram solo. Conectar essas frentes é parte da estratégia.

O que chama atenção não é apenas o valor investido — que, somando duas edições, alcança R$ 40 milhões —, mas a filosofia que está por trás. A diretora-executiva do Fundo Casa Socioambiental, Cristina Orpheo, resume: “as pessoas e a natureza não estão em lados opostos — fazem parte do mesmo ecossistema. Quando o recurso chega no território, ele fortalece estruturas, cooperativas e redes, levando oportunidades para que as populações locais não precisem deixar os territórios para viver com dignidade.” A frase resume a mudança de paradigma: não se trata apenas de financiar projetos ambientais, mas de redesenhar relações sociais, culturais, econômicas e ecológicas.

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Divulgação

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Para os realizadores, o modelo representa um avanço importante no financiamento direto à base comunitária — ou seja, recursos que de fato chegam às organizações locais, sem passar por intermediários pesados. A parceria entre as duas instituições — uma especializada em filantropia socioambiental e outra um grande banco público com fundo dedicado — permite escalar o impacto. O edital promete levar à prática a convicção de que gerar renda, reforçar autonomia comunitária e proteger ecossistemas podem andar juntos.

Mas há também desafios implícitos: levar acesso democrático aos territórios mais remotos, garantir que os processos de seleção sejam transparentes e acessíveis às comunidades, oferecer suporte técnico e institucional para que os projetos façam a diferença de fato. As oficinas de tira-dúvidas anunciadas visam justamente reduzir essas barreiras — orientar como as comunidades podem submeter bons projetos, compreender requisitos e cumprir prazos.

É importante também observar que essas iniciativas não são fragmentos isolados, mas peças de um quebra-cabeça mais amplo: uma economia regenerativa que reconhece a biodiversidade, os saberes tradicionais e a mobilização social como ativos estratégicos. Em vez de imaginar comunidades visadas apenas como beneficiárias, o enfoque coloca as comunidades como agentes centrais, detentoras de conhecimento e protagonistas da transformação.

Ao alocar recursos diretamente nesses territórios, as instituições envolvidas apostam em algo mais profundo do que simples financiamento: apostam em autonomia, em fortalecimento coletivo e em possibilidades reais para que as pessoas moldem o futuro de seus territórios. Em um país marcado por desigualdades e modelos de exploração que ignoram naturezas locais e saberes tradicionais, este tipo de iniciativa traz uma fagulha de mudança estruturante — que requer não apenas dinheiro, mas escuta, parceria, tempo e comprometimento.

A mobilização de R$ 20 milhões, somada aos R$ 20 milhões de um ciclo anterior, representa o maior volume já investido em comunidades tradicionais pela parceria entre as instituições até agora. Mas mais importante que o valor é o legado: se mais de 350 mil pessoas foram beneficiadas diretamente, e quase 1 milhão indiretamente, o impacto pode ultrapassar esses números, se cada projeto bem-implementado gerar efeitos multiplicadores, fortalecer redes, inspirar novas iniciativas.

Este não é um chamado apenas para inscrições: é um convite às comunidades de todo o Brasil para imaginar, estruturar, executar projetos que valorizem a biodiversidade, a cultura e o território. O edital reafirma que os biomas brasileiros — sejam eles florestas, cerrados, mangues, caatingas ou campos — não são meros cenários de conservação, mas arenas vivas de construção social, cultural e ambiental. E que, quando as comunidades ganham o protagonismo, o financiamento deixa de ser auxílio e vira parceria de transformação.

Serviço:
Período de inscrições: de 11 de novembro a 16 de dezembro de 2025
Inscrições e edital: www.casa.org.br/teia

Parceria global mobiliza US$ 400 mi para cortar emissão de metano

Na conferência climática em Belém, representantes da cooperação internacional deram um passo decisivo para enfrentar um dos gases mais negligenciados no combate ao aquecimento global: o metano. A Global Methane Hub (GMH) e o Global Green Growth Institute (GGGI) anunciaram uma parceria ambiciosa chamada Catalyzing Green Growth: A Multi-Sector Strategy for Significantly Reducing Methane Emissions, com a meta de mobilizar mais de US$ 400 milhões para viabilizar projetos nos setores da agricultura, energia e resíduos.

O chão da iniciativa é simples, porém potente: o metano, apesar de ser menos comentado que o dióxido de carbono, exerce uma força aquecedora muito superior no curto prazo — e sua curta permanência na atmosfera torna possível frear parte do aquecimento com ganhos mais ágeis. A GMH aponta que, para conter o metano, é essencial agir em três elos-chave: agropecuária (responsável por cerca de 40% das emissões humanas segundo a própria GMH), energia (35%) e resíduos (20%).

A nova iniciativa busca transformar promessas em práticas, começando por apoiar países em desenvolvimento — cujo peso na equação global de emissões tende a crescer — a desenhar estratégias nacionais que conectem produção de alimentos, consumo de energia e descarte de resíduos a uma lógica de menor impacto climático. México, Nigéria e Senegal foram escolhidos como os primeiros “laboratórios” desse modelo, onde inovação tecnológica, inteligência artificial e instrumentos de financiamento verde serão testados para viabilizar a transição.

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COP30 – Divulgação

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Mais do que um anúncio simbólico, o protocolo coloca o enfrentamento do metano como ponto central da agenda climática: não apenas como mais uma meta num decreto, mas como motor de crescimento econômico limpo, de justiça climática e de fortalecimento de países vulneráveis. A GMH defende que adotar práticas mais limpas na agropecuária, na energia ou no manejo de resíduos não só reduz gases-estufa, como gera empregos, mobiliza investimentos e melhora a saúde das comunidades.

Essencial também é o posicionamento de que os instrumentos financeiros precisam deixar de olhar apenas para o carbono tradicional e incorporar o metano — tanto porque ele oferece uma “janela de oportunidade” para ganhos rápidos quanto porque muitas tecnologias de mitigação já existem ou podem ser adaptadas. A GGGI, que atua em mais de 50 países e desde longa data viabiliza programas de crescimento verde, se coloca como ponte entre os compromissos climáticos e a implementação concreta.

Ao mesmo tempo, a escolha de países em desenvolvimento como foco inicial reforça um princípio fundamental: a transição verde não será apenas uma correção ambiental, mas uma oportunidade de transformação estrutural, onde redução de emissões anda de mãos dadas com inclusão social, inovação tecnológica e resiliência econômica. A iniciativa assume que o metano — um gás que muitas vezes surge como subproduto de atividades como pecuária, extração de combustíveis ou gestão de resíduos — pode se tornar um “ganho rápido” no cenário climático se receber a atenção devida.

Por fim, o anúncio na COP30 envia uma mensagem clara: mitigar metano é uma das estratégias mais eficazes para frear o aquecimento em curso. Se o compromisso for traduzido em ações reais — nas fazendas, nas usinas de energia, nos aterros sanitários —, o impacto poderá ir além da redução de um gás: poderá impulsionar um novo ciclo de crescimento que une economia, clima e justiça social.

Brasil e China assumem protagonismo climático? Jornal internacional diz que ambos desafiam os EUA

A agência Xinhua destacou que a COP30, realizada em Belém (PA), transformou-se em um palco de liderança do Sul Global, diante da ausência dos Estados Unidos e da crescente articulação entre Brasil e China para impulsionar a cooperação climática internacional.

O encontro, que reúne representantes de quase 200 países, começou no dia 10 de novembro e deve definir os rumos da governança climática mundial para a próxima década.

“Esta COP deve acender uma década de aceleração e entrega”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a abertura. “Belém pode ser o ponto de virada da história climática.”

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(251110) — BELÉM (BRASIL), 10 de novembro de 2025 (Xinhua) — Participantes comparecem à cerimônia de abertura da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Belém, Brasil, em 10 de novembro de 2025. A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, conhecida como COP30, foi inaugurada nesta segunda-feira em Belém, no estado do Pará, com o objetivo de recolocar a luta contra as mudanças climáticas no centro das prioridades internacionais, segundo autoridades locais. (Foto de Lucio Tavora/Xinhua)

Brasil quer transformar discurso em ação

De acordo com a Xinhua, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que a conferência abandone a retórica vazia e avance em compromissos concretos.
Lula propôs a criação de um mecanismo de governança dentro da ONU, que assegure o cumprimento efetivo das metas climáticas — inclusive com possibilidade de sanções a países que descumprirem compromissos assumidos.

“A COP30 precisa ser a conferência da verdade e da ação. Não podemos mais aceitar promessas que não saem do papel”, afirmou Lula, citado pela agência.

Como anfitrião, o Brasil convidou países da América Latina e da África a colaborar na proteção da Amazônia e no desenvolvimento conjunto de energias renováveis, especialmente solar e eólica, como forma de gerar empregos e reduzir desigualdades.


Críticas à ausência dos Estados Unidos

A reportagem ressalta que a ausência de altos representantes do governo norte-americano foi amplamente criticada por líderes e especialistas.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que os Estados Unidos, maior emissor histórico de gases de efeito estufa, têm “grande responsabilidade pela crise climática” e falharam ao se ausentar em um momento decisivo.

“A postura dos EUA representa uma tentativa de obstruir o progresso global”, disse o economista político Samuel Spellmann, da Universidade Federal do Pará, em entrevista à Xinhua.

A ausência norte-americana, segundo analistas, reforçou o protagonismo do Sul Global, que agora busca maior autonomia na transição energética e no financiamento climático.


China e Brasil fortalecem aliança climática

A Xinhua destacou que a cooperação entre China e Brasil se tornou um dos principais eixos da COP30, especialmente nas áreas de energia limpa e tecnologia verde.
O país asiático, apontado como líder mundial em inovação energética, foi elogiado por Lula como modelo de transição sustentável.

“A China é exemplo de como inovação e desenvolvimento podem caminhar juntos com a proteção ambiental”, afirmou o presidente brasileiro.

De acordo com um livro branco publicado pelo Conselho de Estado da China, até o fim de outubro de 2025, Pequim havia firmado 55 acordos de cooperação climática com 43 países em desenvolvimento.
Essas parcerias incluem investimentos em tecnologia de baixo carbono, criação de mercados de carbono e iniciativas de adaptação climática.

Durante a COP30, o Pavilhão da China em Belém promove painéis sobre neutralidade de carbono, inovação em tecnologias limpas e estratégias para redução de emissões em setores produtivos.


Sul Global assume protagonismo climático

Segundo Fernando Romero Wimer, professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), a falta de ação dos países desenvolvidos está impulsionando o Sul Global a buscar soluções próprias.

“Estamos vendo uma transição para um modelo de cooperação entre países do Sul que não dependem mais das potências tradicionais”, afirmou.

A socióloga Leila da Costa Ferreira, da Unicamp, acrescentou que a solidariedade entre países em desenvolvimento é hoje “fundamental” para avançar na justiça climática.
Ela citou o papel da China na liderança tecnológica e o do Brasil na coordenação política e ambiental como exemplos de uma nova governança climática multipolar.


Guterres pede US$ 1,3 trilhão anuais até 2035

Durante a abertura do World Leaders Climate Action Summit, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que os países estabeleçam um roteiro para mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 em financiamento climático para nações em desenvolvimento.
O objetivo é garantir meios de adaptação, mitigação e transição energética justa, especialmente em regiões mais afetadas, como América Latina, África e Sudeste Asiático.

“Assim como o Rio Amazonas é alimentado por mil afluentes, a ação climática precisa de mil correntes de cooperação”, disse Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas.


Um novo mapa da diplomacia climática

Para a Xinhua, o tom da COP30 marca uma reconfiguração da liderança global:
em vez de depender das antigas potências, os países do Sul Global estão propondo sua própria agenda, baseada em cooperação técnica, autonomia financeira e inovação regional.

A agência conclui que o eixo Brasil-China, reforçado pela COP30, pode redefinir o futuro da política climática mundial — “não mais como uma promessa do Norte, mas como uma construção compartilhada entre as nações do Sul”.

“A COP da controvérsia”: Sky News aponta desafios e contradições na conferência em Belém

A Sky News destacou que a COP30, em andamento em Belém (PA), começou em meio a fortes controvérsias sobre sua localização, o custo do evento e o descompasso entre as promessas e ações climáticas de diversos países.
A conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que reúne líderes e especialistas de mais de 190 países, ocorre de 10 a 21 de novembro, no coração da Amazônia — uma escolha considerada “simbólica, mas arriscada”, segundo a emissora britânica.

“A COP30 chega em um momento particularmente delicado para a ação climática”, afirmou o jornalista Jake Levison, em reportagem publicada nesta terça-feira (11).


Belém, a cidade escolhida — e contestada

Para o governo brasileiro, sediar a conferência na Amazônia é um gesto de reafirmação ambiental e política.
Mas, segundo a Sky News, a escolha da cidade de Belém gerou críticas dentro e fora do país: com infraestrutura precária e forte desigualdade social, o município enfrenta dificuldades para receber os cerca de 50 mil participantesesperados.

A reportagem aponta que até motéis e salas de aula foram adaptados para acomodar visitantes, enquanto os preços dos hotéis subiram a níveis recordes, ultrapassando centenas de dólares por noite.

“Alguns países chegaram a pressionar o Brasil para mudar a cidade-sede”, informou a emissora.

O governo federal investiu US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) em obras emergenciais, incluindo novos hotéis, parques e drenagem urbana, mas as críticas continuam — especialmente sobre o impacto social e ambiental das obras.

skynews-belem-amazon-rainforest_7070883-1500x844 “A COP da controvérsia”: Sky News aponta desafios e contradições na conferência em Belém
A floresta amazônica e a cidade de Belém. Foto: Reuters

Petrobras e o paradoxo amazônico

Um dos pontos mais polêmicos levantados pela Sky News é o avanço da exploração de petróleo na Amazônia, mesmo às vésperas da COP.
A estatal Petrobras recebeu licença para perfuração na foz do Rio Amazonas apenas duas semanas antes da conferência, o que gerou repercussão negativa internacional.

“O governo brasileiro enfrenta críticas por continuar ampliando licenças de exploração de petróleo e gás, enquanto o país busca se posicionar como líder da agenda climática”, destaca a reportagem.

A decisão contradiz o discurso oficial de que esta seria “a COP da verdade” e da implementação, reforçando as acusações de “hipocrisia verde” feitas por ativistas.


Falta de líderes e clima de ceticismo

A Sky News também observou que menos de 60 chefes de Estado confirmaram presença na COP30 — número bem inferior aos 150 líderes que participaram da edição anterior, em Dubai.
Entre as ausências mais notadas está a do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que voltou a chamar as mudanças climáticas de “uma farsa” na Assembleia-Geral da ONU e retirou novamente o país do Acordo de Paris.

Outros líderes também se ausentaram por crises políticas internas — como o premiê da Bélgica — ou por desinteresse diplomático, o que reforça a percepção de esvaziamento político da conferência.

“As COPs nasceram para unir o mundo em torno da ação climática. Mas o que se vê agora é um mundo fragmentado e cansado”, resume o texto.


Contradições: Amazônia como palco e desafio

Belém, localizada na borda da floresta amazônica, foi escolhida por seu valor simbólico e estratégico — mas também se tornou símbolo das contradições do debate climático.
Enquanto o Brasil se apresenta como guardião da floresta, o país ainda figura entre os dez maiores emissores de CO₂ do planeta e pretende se tornar um dos cinco maiores produtores de petróleo até 2030.

A reportagem cita que moradores da Amazônia e povos indígenas vivem os impactos diretos da crise climática — como secas severas, queimadas e desmatamento — e questionam se o evento realmente trará mudanças práticas.

“A COP30 quer mostrar que a Amazônia é parte da solução climática, mas continua sendo tratada como fonte de exploração econômica”, afirma a Sky News.


Um divisor de águas — ou de promessas

A COP30 é vista como um ponto de virada: ocorre dez anos após o Acordo de Paris, em um momento em que as metas climáticas estão em risco.
Mais de dois terços dos países signatários perderam o prazo para atualizar seus compromissos de redução de emissões, e as temperaturas globais já superaram o limite de 1,5°C em alguns períodos de 2024.

Mesmo assim, há sinais de esperança: segundo a ONU, os novos planos climáticos são mais ambiciosos e podem representar a primeira queda global nas emissões, graças à expansão recorde de energia solar e eólica.
A expectativa é que China e Brasil assumam papel de liderança neste cenário — embora ambos enfrentem pressões internas e externas por maior coerência entre discurso e prática.

BBC mostra invasão de manifestantes na COP30: “Nossas florestas não estão à venda”

A BBC News mostrou que manifestantes romperam as barreiras de segurança e invadiram o local da COP30, em Belém (PA), na noite desta terça-feira (11), carregando faixas com frases como “Nossas florestas não estão à venda”.
Os protestos — liderados por grupos indígenas e movimentos juvenis de esquerda — resultaram em confronto com seguranças da ONU e militares brasileiros, deixando duas pessoas feridas e causando danos leves à estrutura do evento, segundo as Nações Unidas.

“Queremos nossas terras livres do agronegócio, do petróleo, dos garimpeiros e dos madeireiros ilegais. Não podemos comer dinheiro”, disse um líder indígena da comunidade Tupinambá, em declaração citada pela agência Reuters.


BBC relata correria e confronto no pavilhão principal

Repórteres da BBC descreveram cenas de tensão e correria dentro do centro de convenções onde ocorre a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30).
Os jornalistas viram funcionários da ONU correndo e pedindo que os delegados evacuassem o local, enquanto manifestantes chutavam portas e entoavam cânticos contra a exploração da Amazônia.

Nas redes sociais, vídeos mostraram indígenas com cocares e pinturas corporais empurrando grades de contenção e sendo contidos por policiais.
Alguns manifestantes exibiam bandeiras do movimento Juntos, ligado à juventude de esquerda no Brasil.

A ONU confirmou que a segurança foi reforçada e que as autoridades brasileiras estão investigando o incidente.

“Trata-se de uma violação de segurança incomum em uma conferência que segue protocolos rigorosos”, afirmou um porta-voz das Nações Unidas à BBC.


COP30 é marcada por promessas e contradições

A COP30 reúne delegações de quase 200 países até o dia 21 de novembro, e marca dez anos do Acordo de Paris, pacto internacional para limitar o aquecimento global a 1,5°C.
É a primeira vez que o evento ocorre no Brasil, na capital amazônica, uma escolha simbólica — e polêmica — por acontecer em meio à expansão do petróleo e à pressão por proteção da floresta.

Apesar de o governo brasileiro ter prometido que esta seria “a COP dos povos indígenas”, com 3 mil representantes originários de várias partes do mundo, o episódio evidenciou tensões entre discurso e prática.

“Os povos indígenas protegem 80% da biodiversidade restante do planeta, mas recebem menos de 1% do financiamento climático internacional”, destacou um relatório da ONU mencionado pela BBC.


Lula defende Amazônia como símbolo da COP da Verdade

Na abertura da conferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a COP30 será “a conferência da verdade”, e que o mundo precisa “derrotar o negacionismo climático e as fake news”.
Segundo Lula, a escolha de Belém como sede pretende mostrar que a Amazônia é parte essencial da solução climática, e não apenas uma região vulnerável.

“O bioma mais diverso do planeta é lar de 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas. A COP30 deve inspirar o mundo a agir com base na ciência e na solidariedade”, disse o presidente.

Mas, como destacou a BBC, a autorização recente para novos projetos de petróleo e gás no Brasil — inclusive na foz do Rio Amazonasprovocou críticas e acentuou a desconfiança entre ativistas e representantes indígenas.


“A COP30 será lembrada pela voz da floresta”

Com cartazes, tambores e cantos em línguas tradicionais, os manifestantes afirmaram que sua presença é um alerta ao mundo.

“Estamos aqui para lembrar que sem a Amazônia não há futuro. As florestas não estão à venda”, gritou uma das lideranças durante o protesto, segundo a BBC.

A invasão, embora pacífica na maior parte do tempo, expôs a distância entre as negociações diplomáticas e a realidade vivida pelas comunidades amazônicas — que enfrentam o avanço do desmatamento, da mineração e da crise climática em seus territórios.

“Não podemos comer dinheiro”: protesto indígena marca segundo dia da COP30, mostra Al Jazeera

Um grupo de manifestantes indígenas invadiu a área principal da COP30, em Belém, na noite desta terça-feira (11), em protesto contra a exploração econômica da Amazônia e a lentidão das ações climáticas.
A cena, registrada por agências internacionais e divulgada pela Al Jazeera, mostra indígenas rompendo barreiras de segurança e gritando palavras de ordem enquanto representantes de quase 200 países participavam das reuniões da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

“Queremos nossas terras livres do agronegócio, do petróleo, dos garimpeiros e madeireiros ilegais. Não podemos comer dinheiro”, declarou Gilmar, líder do povo Tupinambá, citado pela Al Jazeera.


Tensão em Belém marca início da COP30

De acordo com nota divulgada pela ONU, dois seguranças ficaram feridos e houve danos leves à estrutura do evento.
O protesto, liderado por povos indígenas da Amazônia e apoiado por ativistas climáticos, reuniu centenas de pessoas do lado de fora do centro de convenções e dezenas dentro do pavilhão principal, simbolizando a insatisfação com a distância entre discurso e prática nas negociações globais.

O episódio ocorreu horas depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que os participantes da COP30 deveriam se inspirar nos povos indígenas e comunidades tradicionais, para quem “a sustentabilidade sempre fez parte do modo de vida”.

“Precisamos seguir o exemplo dos povos que cuidam da floresta há séculos”, disse Lula durante o discurso de abertura.

Mas, segundo a Al Jazeera, os manifestantes responderam que as promessas do governo ainda não se traduzem em proteção efetiva — especialmente diante da continuação de atividades de exploração de petróleo e mineração na Amazônia.

 

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Manifestantes, incluindo indígenas, participam de uma manifestação à margem da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, Brasil, na terça-feira [Anderson Coelho/Reuters]

“Os Estados querem nossos recursos, mas não garantem nossos direitos”

O ativista Leo Cerda, um dos organizadores da flotilha Yaku Mama, que navegou 3 mil quilômetros pelo Rio Amazonas até Belém, afirmou à Al Jazeera que o movimento indígena tenta “proteger a natureza não só para si, mas para toda a humanidade”.

“A maioria dos Estados quer nossos recursos, mas não quer garantir os direitos dos povos indígenas”, disse Cerda.

O protesto coincidiu com a polêmica decisão da Petrobras, estatal brasileira, que recebeu licença para iniciar exploração de petróleo próximo à foz do Rio Amazonas, poucos dias antes do início da COP30 — o que foi visto como um contrassenso ambiental por parte dos manifestantes e observadores internacionais.


Indígenas pedem exclusão de mineração e petróleo em territórios protegidos

Em declaração conjunta divulgada antes da conferência, os Povos Indígenas da Bacia Amazônica e de todos os biomas do Brasil reforçaram a importância de proteger territórios tradicionais como estratégia essencial de mitigação climática.

O documento destaca que a Amazônia armazena cerca de 340 milhões de toneladas de carbono, funcionando como um dos maiores “freios” naturais ao aquecimento global.
O texto pede a exclusão total de atividades de mineração e petróleo em terras indígenas, não só no Brasil, mas também nas bacias do Congo e do Sudeste Asiático.


Ausência dos EUA e presença da indústria do petróleo ampliam críticas

A Al Jazeera também ressaltou que a ausência dos Estados Unidos na COP30 — após nova retirada do país do Acordo de Paris pelo presidente Donald Trumpreforçou o sentimento de descrença entre movimentos sociais.
Trump chegou a chamar a crise climática de “a maior farsa já imposta ao mundo”.

Enquanto isso, segundo dados do The Guardian, mais de 5.300 lobistas da indústria de combustíveis fósseisparticiparam de conferências climáticas da ONU nos últimos quatro anos — presença que gera desconfiança sobre o comprometimento real dos países com a transição energética.

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Um manifestante indígena é mantido por um membro da equipe enquanto os manifestantes forçam seu caminho para o local que sedia a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, Brasil, na terça-feira [Anderson Coelho/Reuters]

Um grito global pela floresta e pelos povos da Amazônia

A manifestação em Belém se junta a uma série de protestos simultâneos em defesa da floresta amazônica e dos direitos dos povos originários.
Os líderes indígenas afirmam que a Amazônia não é apenas um bioma, mas um organismo vivo — essencial para equilibrar o clima global.

“O que está em jogo não é só o futuro dos povos da floresta, mas o futuro da humanidade”, disse um dos manifestantes no local.

Como as mudanças climáticas estão desmontando a arte do vinho

Em meio à agitação das colheitas, o mundo do vinho enfrenta uma transformação silenciosa, porém profunda. As vinhas, que por séculos responderam com precisão ao ritmo das estações, agora se veem à mercê de um clima imprevisível. Ondas de calor, geadas fora de época e chuvas torrenciais estão reescrevendo o mapa do vinho e desafiando a sabedoria acumulada de gerações de viticultores.

Ao mesmo tempo, uma nova aliada desponta: a biotecnologia. Com ela, surgem ferramentas que buscam preservar a essência do terroir — o conjunto de solo, clima, geografia e tradição que define o caráter único de cada vinho — em meio a um planeta que muda mais depressa do que as videiras conseguem se adaptar.

Um encontro milenar entre natureza e engenho humano

Há cerca de onze mil anos, com o recuo das geleiras e o surgimento de vales férteis, os primeiros humanos começaram a cultivar plantas. Entre elas, uma espécie selvagem se destacou: a videira. As uvas silvestres eram doces e energéticas, e logo passaram a ser cultivadas. Estudos genéticos modernos indicam que esse processo ocorreu em duas regiões: o Cáucaso Meridional, onde hoje estão Geórgia, Armênia e Azerbaijão, e partes da Ásia Ocidental, como a Anatólia e o atual Irã.

O passo decisivo veio quando agricultores perceberam que algumas videiras tinham flores hermafroditas, capazes de autopolinização. Essas plantas frutificavam de maneira estável e previsível, e por isso foram selecionadas e multiplicadas. Com o tempo, as uvas domesticadas se tornaram diferentes de suas ancestrais selvagens — mais aromáticas, doces e resistentes.

Da descoberta ao ritual

Em algum momento, talvez por acaso, o suco de uva esquecido em uma ânfora transformou-se. Leveduras naturais, alimentando-se do açúcar, produziram álcool. Assim nasceu o vinho — uma coincidência biológica que se tornaria símbolo cultural.

A arqueologia mostra vestígios dessa descoberta há cerca de oito mil anos, nas planícies da Geórgia. Desde então, o vinho acompanhou a história humana: figurou em rituais egípcios, nas festas dionisíacas gregas, nas legiões romanas e nas peregrinações medievais que espalharam vinhedos pela Europa.

Producao-de-vinho Como as mudanças climáticas estão desmontando a arte do vinhoCada nova região adaptou a videira ao seu clima e solo, e cada colheita moldou uma identidade própria. A longa relação entre o homem e o vinho foi, essencialmente, um diálogo entre natureza e cultura — uma conversa que agora o clima ameaça interromper.

Quando o clima deixa de ser um aliado

Por milênios, as variações de temperatura e umidade aconteceram de forma gradual, permitindo que as videiras se ajustassem. Hoje, porém, a velocidade das mudanças rompeu essa harmonia. O calor crescente antecipa colheitas, acelera o amadurecimento e altera a composição das uvas.

Em regiões tradicionais, como a Borgonha e o Vale do Reno, as vindimas acontecem até três semanas mais cedo do que há um século. Na França e na Suíça, cada aumento de um grau Celsius antecipa a colheita em cerca de seis dias. O resultado é uma cadeia de transformações químicas: mais açúcar, menos acidez, maior teor alcoólico e desequilíbrio aromático.

Essas alterações comprometem o equilíbrio entre frescor e estrutura, pilar da identidade de cada vinho. Em outras palavras, o mesmo clima que durante séculos deu personalidade a uma garrafa de Pinot Noir ou Chardonnay agora ameaça apagá-la.

Doçura em excesso, frescor em declínio

O aumento da temperatura acelera a produção de açúcar, o que gera vinhos mais alcoólicos. Entre 1980 e 2001, o teor de álcool potencial dos vinhos do sul da França subiu cerca de 2%. Tendência semelhante é observada em Alsácia, Austrália e Califórnia, onde o aquecimento global responde por até metade desse aumento.

O problema é que o calor degrada o ácido málico, responsável pelo frescor e pela longevidade do vinho. O resultado são bebidas mais densas, menos vibrantes e com menor capacidade de envelhecimento. Além disso, a perda de acidez facilita a ação de microrganismos indesejados, como a levedura Brettanomyces, que provoca aromas de mofo e deterioração.

Como se não bastasse, o clima extremo tem causado perdas brutais. Em 2021, uma onda de frio na Europa central destruiu até 80% da safra em algumas áreas da Borgonha. Projeções indicam que até o fim do século 90% das regiões vinícolas tradicionais do Mediterrâneo e da Califórnia podem se tornar inviáveis para a viticultura convencional.

A arte do equilíbrio sob ameaça

O vinho nasce de uma sinfonia de fatores: o solo, o microclima, as leveduras naturais, a paciência do enólogo e a passagem do tempo. Cada descompasso nessa orquestra afeta o resultado final. Quando o amadurecimento ocorre depressa demais, o açúcar sobe antes que os taninos e os compostos aromáticos se completem. A colheita se torna um dilema: esperar e arriscar uvas passadas, ou colher cedo e perder profundidade.

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Esse conflito entre calendário e qualidade coloca em xeque o conceito de terroir — o conjunto de condições únicas que fazem um vinho ser daquele lugar e de nenhum outro.

Biosoluções: tecnologia a serviço do terroir

Diante dessa crise, a ciência enológica aposta nas biosoluções — combinações de enzimas, leveduras e bactérias especialmente selecionadas para manter a qualidade e a estabilidade do vinho em condições adversas.

Uma dessas inovações vem da empresa Novonesis, que desenvolveu uma cepa de levedura capaz de atuar em mostos com altos teores de açúcar e sob temperaturas elevadas. A fermentação se mantém estável, o álcool é produzido com eficiência e os aromas frutados permanecem equilibrados.

01-wine-gettyimages-bb2562-004 Como as mudanças climáticas estão desmontando a arte do vinhoEssas ferramentas permitem que vinicultores enfrentem safras imprevisíveis sem recorrer a correções químicas invasivas. Elas também reduzem o desperdício, melhoram o rendimento e aumentam a previsibilidade do processo — um ganho essencial num mundo onde cada colheita é um risco climático.

Mais do que truques tecnológicos, as biosoluções são pontes entre tradição e ciência, permitindo que o vinho mantenha sua autenticidade mesmo quando o clima insiste em mudá-la.

Do laboratório ao vinhedo

A adoção dessas tecnologias não transforma apenas o vinho, mas todo o modo de produzir.
Com análises microbianas e controle enzimático, os produtores conseguem adaptar processos às condições de cada safra, reduzindo o impacto ambiental e economizando recursos.

Alguns vinhedos experimentam irrigação inteligente, sensores climáticos e previsão de maturação baseada em IA. O objetivo é simples: devolver previsibilidade ao que se tornou imprevisível, garantindo que o sabor do vinho continue sendo o resultado da terra, e não da luta contra ela.

O fio de continuidade

Desde os primeiros agricultores do Cáucaso até os enólogos contemporâneos de Bordeaux e Mendoza, o vinho sempre foi uma história de adaptação. A diferença é que, agora, a velocidade da mudança é inédita.

A vinicultura vive uma encruzilhada: preservar o que o tempo moldou ou reinventar-se para sobreviver ao tempo que vem. As biosoluções não prometem milagres, mas oferecem tempo — o bem mais precioso para quem trabalha com a natureza.

Talvez o futuro do vinho resida na capacidade de unir a sabedoria ancestral dos vinhedos ao conhecimento de laboratório. Se conseguir isso, o vinho continuará sendo o que sempre foi: uma memória líquida do clima, da terra e da paciência humana diante do mundo em transformação.

Juruti, Pará, rumo a um futuro sustentável: Alcoa e recicleiros transformam resíduos em oportunidades

Em um movimento que redefine o conceito de responsabilidade corporativa e desenvolvimento local, a cidade de Juruti, no oeste do Pará, emerge como um laboratório de soluções ambientais e sociais na Amazônia. A Alcoa Corporation e a Fundação Alcoa, braço filantrópico da empresa, anunciaram investimentos estratégicos que somam aproximadamente R$ 32,3 milhões, focados em transformar a gestão de resíduos da cidade e elevar a dignidade dos trabalhadores locais.

Os anúncios, feitos em Belém na mesma data (11 de novembro de 2025), revelam uma abordagem de duas frentes: o fortalecimento da economia circular inclusiva e a implantação de uma infraestrutura de saneamento básico de nível superior, substituindo o atual lixão a céu aberto por um aterro sanitário licenciado.

Reciclagem Inclusiva: Capital Social e Ambiental

A Fundação Alcoa destinará um investimento de US$ 500 mil (cerca de R$ 2,8 milhões) em parceria com o Instituto Recicleiros para estruturar um ecossistema de reciclagem mais robusto e justo em Juruti. Este projeto não se limita à logística de resíduos; ele é um investimento direto no capital humano local.

O plano prevê a construção de uma nova unidade de reciclagem moderna e segura. Mais do que tijolos e equipamentos, o foco está em garantir trabalho digno e renda estável para as famílias dos catadores. A iniciativa beneficiará diretamente cerca de 40 catadores e suas famílias, oferecendo capacitação técnica, suporte inicial e a implantação de um plano municipal de coleta seletiva.

Erich Burger Netto, Diretor Institucional do Instituto Recicleiros, ressaltou o impacto transformador da colaboração: “O projeto Recicleiros demonstra de forma prática como podemos, simultaneamente, melhorar a vida das pessoas e proteger o meio ambiente. Com o apoio da Fundação Alcoa, Juruti tem a chance de se consolidar como um modelo de economia circular na Amazônia, fortalecendo a infraestrutura e a capacidade dos catadores locais.”

Complementando o investimento em Juruti, a Fundação Alcoa concedeu um subsídio adicional de US$ 90 mil (aproximadamente R$ 490 mil) para a Academia de Catadores Recicleiros. Esta plataforma de educação online e presencial oferece treinamento profissional em áreas cruciais como operações, segurança, administração e governança, elevando a profissionalização das cooperativas de catadores em todo o Brasil. Caroline Rossignol, Presidente da Fundação Alcoa, destacou o alinhamento do projeto com a visão da fundação: “Ao apoiarmos o trabalho do Recicleiros, estamos investindo em resiliência comunitária, ambiental e econômica, promovendo meios de vida mais dignos e abordando desafios ambientais relacionados aos resíduos.”

WhatsApp-Image-2025-11-11-at-18.44.07-400x267 Juruti, Pará, rumo a um futuro sustentável: Alcoa e recicleiros transformam resíduos em oportunidades
Divulgação

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Saneamento Básico: O Fim do Lixão em Juruti

Em paralelo, a Alcoa Corporation assumiu um compromisso de infraestrutura fundamental para a saúde pública e ambiental de Juruti, anunciando um aporte de R$ 29,5 milhões para construir o primeiro aterro sanitário licenciado do município.

O projeto de saneamento visa substituir o atual depósito irregular (lixão a céu aberto), um marco no progresso ambiental da região. Ao cumprir rigorosos padrões ambientais e de saúde pública, a nova instalação garantirá a disposição controlada e segura dos resíduos de aproximadamente 50 mil moradores, prevenindo a contaminação do solo, da água e do ar.

Daniel Santos, Presidente da Alcoa Corporation Brasil, enfatizou o valor central que move esta iniciativa: “O projeto do aterro é uma manifestação do compromisso inabalável da Alcoa Corporation com o bem-estar das comunidades na Amazônia. Ao aprimorarmos a infraestrutura de saneamento, estamos construindo comunidades mais limpas, seguras e saudáveis, honrando nosso valor de Cuidar das Pessoas.”

O novo aterro, que será o quarto licenciado no estado do Pará, terá uma capacidade total de 300 mil metros cúbicos. Com a engenharia em fase final e as cotações para a obra a serem iniciadas em breve, a previsão é que a construção comece em junho de 2026, com o início das operações projetado para meados de 2027.

A prefeita de Juruti, Lucídia Batista, celebrou a parceria público-privada: “O município de Juruti avança significativamente em direção a um futuro sustentável. Essa iniciativa reforça a importância da parceria entre o poder público e a iniciativa privada, representada pela Alcoa Corporation, como aliada na promoção do desenvolvimento ambiental e social do nosso município.”

Em um contexto global de urgência climática e social, as ações da Alcoa Corporation e da Fundação Alcoa em Juruti representam um modelo de desenvolvimento sustentável e inclusivo, onde o “potencial bruto” da comunidade e do meio ambiente se transforma em “progresso real” – um propósito que a empresa busca cumprir em todas as suas operações.

A esperança do emprego verde: Brasileiros apostam na sustentabilidade para a geração de renda

A transição energética e a busca por uma economia sustentável há muito tempo deixaram de ser apenas uma pauta ambiental e climática, consolidando-se como um tema central de desenvolvimento social e econômico. No Brasil, essa mudança de paradigma é recebida com entusiasmo pela população, que enxerga na chamada “economia verde” um motor robusto para a geração de novos e melhores empregos.

Uma pesquisa recente, fruto da colaboração entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Nexus , quantifica essa confiança em números expressivos. De acordo com o levantamento, realizado com 2.021 entrevistados em 27 estados do país, 75% dos brasileiros — ou três em cada quatro pessoas — acreditam firmemente que a virada sustentável do país resultará na criação de novas oportunidades de trabalho.

Otimismo Majoritário e a Expectativa de Geração em Massa

O otimismo não é apenas marginal; ele domina o espectro de percepções. Mais da metade dos entrevistados (54%) nutre uma expectativa ainda maior, apostando no surgimento de “muitos empregos” decorrentes da transformação econômica. Uma parcela adicional de 21% espera o surgimento de “poucos novos empregos”, consolidando a percepção positiva de que a sustentabilidade é sinônimo de desenvolvimento do mercado de trabalho.

Em contrapartida, a visão cética ou pessimista é minoritária. Apenas 16% dos entrevistados expressaram receio de que a transição para a economia sustentável possa, na verdade, piorar a oferta de trabalho. Dentro desse grupo, 9% preveem uma diminuição genérica na geração de postos, 5% acreditam que a redução será “muito” acentuada, e apenas 2% temem o completo desaparecimento das oportunidades.

Renda e Escolaridade: Fatores de Convergência

A pesquisa da ABDI e Nexus oferece uma lente analítica crucial para entender como a crença na economia verde se distribui na sociedade brasileira, revelando uma forte correlação entre a esperança de novos empregos e o nível socioeconômico e educacional do entrevistado.

O presidente da ABDI, Ricardo Cappelli, contextualiza esse dado: “Numa economia sustentável haverá a necessidade de profissionais mais qualificados e, portanto, com salários maiores. Assim, é natural que quem tem mais estudo e renda perceba melhor as oportunidades que essa mudança pode trazer.” A análise corrobora a tese de que a economia verde tende a ser percebida como um vetor de qualificação profissional e, consequentemente, de ascensão social.

A análise por faixas de renda demonstra essa progressão:

  • Entre os entrevistados com renda acima de cinco salários mínimos, 78% acreditam no aumento da oferta de empregos.
  • A mesma taxa (78%) é encontrada na faixa de dois a cinco salários mínimos.
  • A confiança se mantém alta (76%) entre aqueles que recebem entre um e dois salários mínimos.
  • Apesar de ainda ser majoritário, o índice de confiança é ligeiramente menor (67%) no grupo que recebe até um salário mínimo.

A escolaridade segue um padrão similar. A crença na criação de empregos verdes é maior entre os níveis mais altos de instrução: 79% dos entrevistados com ensino superior completo e 78% dos que possuem ensino médio compartilham dessa visão otimista. Entre aqueles com ensino fundamental completo, 68% ainda veem melhorias no mercado de trabalho com o avanço da economia sustentável. Esses dados sugerem um alinhamento entre a percepção das elites e dos estratos médios e altos com as projeções de que a qualificação em áreas sustentáveis será o grande diferencial do futuro.

desenvolvimento-sustentavel-paineis-solares-cidade-min-300x200 A esperança do emprego verde: Brasileiros apostam na sustentabilidade para a geração de renda

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Variações de Gênero, Idade e Região

O estudo aprofunda a análise ao detalhar a percepção da transição sob a ótica de fatores demográficos:

  • Gênero: Os homens (59%) demonstram uma confiança maior no surgimento de novos postos de trabalho do que as mulheres (49%). Essa disparidade pode refletir uma sub-representação feminina em setores tradicionais que historicamente dominaram a pauta da sustentabilidade, como engenharia e infraestrutura, embora a transição econômica abra vasto campo para novas áreas de atuação.
  • Idade: A confiança na transformação é notoriamente maior entre os jovens. O ápice do otimismo está na faixa de 16 a 24 anos (62%), seguido de perto pelo grupo de 25 a 40 anos (59%). O índice cai nas faixas etárias subsequentes, atingindo 49% entre 41 a 59 anos e 46% entre os maiores de 60 anos. A nova geração, que já incorpora a crise climática como uma realidade imediata, percebe as soluções verdes não como uma alternativa, mas como a principal fonte de injeção de capital e inovação no mercado.
  • Regiões: O apoio à economia verde é alto em todo o país, mas com variações que espelham a dinâmica econômica regional. As regiões Sudeste e Sul lideram, com 78% de adesão. O Norte e o Centro-Oeste seguem com 73%, demonstrando o interesse em conciliar o desenvolvimento do agronegócio e da bioeconomia com a sustentabilidade. O Nordeste, por sua vez, registra 67% de confiança, evidenciando o potencial da região para receber investimentos em energias renováveis, como a solar e a eólica.

A pesquisa da ABDI e Nexus, realizada em meados de julho, não apenas confirma o amplo apoio popular à agenda verde, mas também fornece um mapa de expectativas que deve guiar as políticas públicas. O desafio para o Brasil, no contexto de eventos como a COP30, é transformar essa confiança em ações concretas que garantam que os investimentos na transição — sejam eles em energias renováveis, bioeconomia ou infraestrutura resiliente — se traduzam, de fato, em empregos qualificados, bem remunerados e acessíveis a todas as camadas da população.

Mobilidade verde: A mega coalizão do transporte se une na COP30 para descarbonizar o Brasil

A luta global contra a crise climática exige que todos os setores da economia redefinam suas operações. No Brasil, esta urgência se manifesta de forma decisiva no setor de transportes, historicamente dependente de combustíveis fósseis. Na efervescência da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, emergiu um compromisso de peso: a Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, que acaba de alcançar a impressionante marca de 121 adesões.

Essa aliança multissetorial — que engloba empresas privadas, concessionárias de serviços públicos, secretarias municipais e diversas associações ligadas à mobilidade — não se contenta com promessas tímidas. O pacto estabelece um objetivo ambicioso e mensurável: a redução em até 70% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) do setor até 2050. Este compromisso colossal representa um passo fundamental para o cumprimento das metas climáticas do Brasil e sinaliza que a transformação da matriz logística nacional é inevitável.

A Magnitude do Desafio e a Ambição da Meta

O transporte é o segundo maior emissor de carbono no país e peça central na economia e na vida urbana. Atualmente, o setor é responsável por cerca de 11% das emissões nacionais, despejando aproximadamente 260 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e) na atmosfera anualmente. O plano da Coalizão, delineado em 90 ações detalhadas, projeta que a meta de 70% de redução culminará no corte de cerca de 287 milhões de toneladas de CO₂e até o meio do século.

A cifra demonstra a escala da ambição e o profundo impacto que a descarbonização pode ter no balanço de GEE do Brasil. A transformação não envolve apenas a substituição de motores, mas uma revisão completa da infraestrutura, da logística de cargas e do planejamento urbano. É um esforço que exige capital intensivo, inovação tecnológica e, acima de tudo, coordenação política e empresarial.

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Divulgação – COP30

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Liderança e Estrutura Estratégica da Coalizão

A força motriz por trás desta iniciativa, que nasceu em 2024, reside na articulação de quatro pilares institucionais de peso: a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e a Motiva, uma empresa focada em serviços de infraestrutura para mobilidade. A união de entidades do agronegócio, da indústria, de serviços e do poder público sublinha a compreensão de que a descarbonização não é um custo, mas sim uma condição para a competitividade futura do país.

A adesão de 121 parceiros reflete uma rara convergência de interesses entre o setor privado, que busca segurança regulatória e acesso a tecnologias verdes, e o setor público, que precisa de apoio técnico e financeiro para implementar mudanças estruturais em escala municipal e regional.

As Seis Frentes de Transformação e o Roteiro de Ação

O plano de ação da Coalizão, lançado em maio, funciona como um roteiro detalhado para a transição energética e logística do país. As 90 propostas estão estrategicamente divididas em seis frentes, garantindo que a transformação seja holística e atinja todos os modais de transporte:

  1. Infraestrutura e Interseccionalidades: Foco na modernização e no planejamento integrado.
  2. Mobilidade Urbana: Priorização de soluções de baixo carbono para o transporte coletivo e individual nas cidades.
  3. Transporte Rodoviário: Maior desafio devido à predominância deste modal, exigindo substituição de frotas.
  4. Transporte Ferroviário: Estímulo à expansão e utilização da malha, um modal intrinsecamente menos poluente para longas distâncias.
  5. Transporte Aéreo: Buscando alternativas como o Combustível Sustentável de Aviação (SAF).
  6. Transporte Aquaviário e Cabotagem: Otimização e adoção de tecnologias limpas em portos e embarcações.

Entre as propostas de maior impacto, destacam-se a revisão urgente da matriz logística, para balancear o sistema em favor dos modais ferroviário e aquaviário, o estímulo maciço ao uso de biocombustíveis (aproveitando a expertise e a capacidade produtiva brasileira) e a ampliação da eletrificação de frotas. Este último ponto é crucial, pois o Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas e renováveis do mundo, o que potencializa o impacto positivo da adoção de veículos elétricos.

Integrando Compromisso Privado à Política Pública Nacional

Um dos aspectos mais estratégicos da Coalizão é sua ativa interlocução com o governo federal. O grupo mantém diálogo aberto com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o Ministério dos Transportes e o Ministério de Portos e Aeroportos.

Este engajamento visa garantir que as propostas técnicas e setoriais da Coalizão sejam incorporadas ao Plano Nacional sobre Mudança do Clima, o documento oficial que o Brasil apresenta e ratifica na COP30. Ao transformar as sugestões da indústria em políticas de Estado, a aliança assegura que a descarbonização do transporte não seja apenas uma iniciativa de mercado, mas um projeto nacional de longo prazo, com previsibilidade e segurança jurídica para investimentos.

A Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, com suas 121 adesões, representa mais do que um número na COP30. Ela simboliza a maturidade do setor produtivo brasileiro em assumir a responsabilidade climática, apresentando um plano de ação robusto e articulado para remodelar o transporte, pavimentando o caminho para um futuro logístico que seja, ao mesmo tempo, eficiente e ecologicamente sustentável.

Da promessa à ação: o fundo de perdas e danos entra em operação, injetando US$ 250 milhões em resiliência global

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), sediada em Belém do Pará, inicia suas atividades com um marco financeiro histórico, sinalizando uma mudança crucial de paradigma: da retórica climática para a implementação prática. Logo no primeiro dia das negociações, a diretora executiva da COP30, Ana Toni, anunciou o início das operações do aguardado Fundo de Perdas e Danos, com a abertura de uma primeira e substancial rodada de financiamento no valor de US$ 250 milhões em pedidos de propostas para projetos.

Este anúncio ressoa como a concretização de uma década de reivindicações do Sul Global e atesta a capacidade da COP30 de ser, de fato, a “COP da implementação”. O Fundo, desenhado para ser uma tábua de salvação financeira para as nações mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos, finalmente sai do papel e direciona capital diretamente para a reconstrução e a resiliência em comunidades devastadas.

A Longa Jornada da Compensação Climática

A jornada do Fundo de Perdas e Danos foi longa e marcada por tensões diplomáticas. Concebido inicialmente na COP27, realizada no Egito em 2022, ele representou uma vitória histórica para os países em desenvolvimento, que há muito exigiam que as nações industrializadas, historicamente responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa, arcassem com os custos dos danos irrecuperáveis. Sua arquitetura foi finalmente estabelecida na COP28, em Dubai, no ano seguinte.

Ainda que o montante total arrecadado até o momento, através de doações voluntárias de países como Japão, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Alemanha, some aproximadamente US$ 420 milhões, o anúncio de que US$ 250 milhões estão disponíveis imediatamente para propostas de projetos injeta um senso de urgência e credibilidade no mecanismo.

“Temos uma grande notícia a respeito, um fundo feito recentemente na COP28 que começou a operar. Eles fizeram 250 chamados para propostas, e isso mostra como esse fundo, criado dois anos atrás, pode começar a implementar propostas para projetos,” afirmou Ana Toni, sublinhando a importância da aceleração do financiamento para que as soluções cheguem efetivamente à ponta, onde a crise climática cobra seu preço mais alto.

c9b0f710-60c8-45ea-92de-28211734ba59-400x266 Da promessa à ação: o fundo de perdas e danos entra em operação, injetando US$ 250 milhões em resiliência global
Foto: Fernando Donasci/MMA

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Foco na Resiliência e na Reconstrução Digna

A operacionalização do fundo, sob a administração interina do Banco Mundial e supervisionada por um conselho de 26 membros (com uma representação equitativa, sendo 14 de países pobres ou emergentes e 12 de países desenvolvidos), garante que os recursos sejam canalizados para desafios multidimensionais.

O documento de fundação do mecanismo é explícito quanto ao seu escopo. O financiamento não se limita apenas à reparação física, mas visa a recuperação integral e resiliente. Serão contempladas propostas que abordem:

  1. Emergências relacionadas com o clima: Resposta rápida a desastres iminentes ou recém-ocorridos.
  2. Subida do nível do mar: Projetos de adaptação e proteção costeira.
  3. Deslocamento, relocação e migração: Apoio a populações forçadas a abandonar suas terras e lares.
  4. Informações e dados climáticos insuficientes: Investimento em monitoramento e sistemas de alerta precoce.
  5. Reconstrução e recuperação resilientes: Garantindo que a infraestrutura danificada seja substituída por construções capazes de suportar futuros choques climáticos.

A injeção inicial de US$ 250 milhões representa um catalisador vital para transformar estas áreas de vulnerabilidade em focos de resiliência e inovação.

O Compromisso Complementar com os CIF

Para além do Fundo de Perdas e Danos, a COP30 reforçou seu papel de plataforma de financiamento com o anúncio de novos aportes para os Fundos de Investimento Climático (CIF). Ana Toni confirmou que o programa ARISE (Acelerando Investimentos em Resiliência e Inovações para Economias Sustentáveis), uma iniciativa lançada em outubro, receberá um aporte inicial de US$ 100 milhões.

O montante é resultado de contribuições significativas de duas nações europeias: o governo da Alemanha destinou US$ 63,25 milhões, e a Espanha contribuiu com US$ 36,8 milhões.

“Este é exatamente o tipo de exemplo que queríamos desta COP: que fosse uma COP da implementação, que fortalecesse o multilateralismo e que mostrasse como as pessoas podem ser impactadas positivamente por essa transição energética”, salientou a diretora executiva.

Os aportes para o ARISE, juntamente com a operacionalização do Fundo de Perdas e Danos, pintam o quadro de uma conferência que está ativamente orquestrando a injeção de capital em projetos concretos. Belém, com sua localização estratégica na Amazônia, consagra-se não apenas como um local de debates, mas como o ponto de partida para a materialização de um sistema financeiro climático global mais robusto, equitativo e, finalmente, operacional. Esta é a prova de que as decisões tomadas em conferências anteriores estão, de fato, se traduzindo em mecanismos tangíveis de proteção e desenvolvimento para o futuro do planeta.

O legado científico da Embrapa e a adaptação da agricultura tropical ao desafio climático global

O debate urgente sobre a mudança climática encontra um ponto de inflexão na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), sediada em Belém, no Pará. É neste palco de discussões globais que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresenta uma contribuição científica de peso: o livro bilíngue, em português e inglês, intitulado “Ciência para o Clima e Soluções da Agricultura Brasileira”. Lançado estrategicamente em 11 de novembro de 2025, a publicação transcende as fronteiras do conhecimento nacional, oferecendo um farol de estratégias e tecnologias para a produção sustentável em ambientes tropicais e subtropicais.

O cerne da obra reside em consolidar a experiência acumulada pela Embrapa e seus parceiros ao longo do século, focando na criação de sistemas produtivos resilientes e no desenvolvimento de metodologias rigorosas para mensurar o impacto ambiental do setor. O livro não é meramente um catálogo de pesquisas; ele se posiciona como um manual pragmático,destinado a dois públicos cruciais: os agricultores, que operam na linha de frente da produção, e os formuladores de políticas públicas, que detêm o poder de moldar o futuro do agronegócio.

Inovação Tropical: Respostas para o Mundo

A agricultura brasileira, particularmente aquela desenvolvida sob o dossel de climas tropicais, enfrenta desafios singulares impostos pela instabilidade climática. O livro da Embrapa, coordenado pelo pesquisador Giampaolo Queiroz Pellegrino, da Embrapa Digital (Campinas, SP) e por Beata Emoke Madari, especialista em balanço de carbono da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás), oferece alternativas concretas para não apenas adaptar o setor às novas realidades climáticas, mas também para reduzir significativamente suas emissões de gases de efeito estufa (GEE).

O material é uma compilação da inteligência agronômica nacional, desdobrada em sete capítulos com a colaboração de mais de 50 autores. Ele detalha indicadores de adaptação, o uso de tecnologias de mitigação e, fundamentalmente, sistemas produtivos sustentáveis que têm demonstrado sucesso na prática. O objetivo é duplo: garantir a segurança alimentar e, simultaneamente, assegurar a sustentabilidade ambiental das cadeias produtivas.

A Pressão do Mercado Global e a Pegada de Carbono

A relevância internacional desta publicação é sublinhada pelo contexto regulatório do mercado global. O pesquisador Giampaolo Pellegrino enfatiza que setores do agronegócio com forte vocação exportadora são particularmente vulneráveis às exigências ambientais internacionais. O mercado consumidor, cada vez mais consciente, impõe barreiras não tarifárias e demonstra uma clara preferência por “produtos com baixa pegada de carbono” e, crucially, “produtos desvinculados do desmatamento”.

Nesse sentido, o livro é uma ferramenta estratégica que capacita o agronegócio brasileiro a atender a essa demanda. Ao fornecer metodologias críveis para quantificar a remoção de carbono no solo (o chamado sequestro de carbono) e para mensurar o balanço de GEE em sistemas agropecuários, a Embrapa oferece ao Brasil um cartão de visitas científico que valida a sustentabilidade de sua produção.

A dimensão internacional do projeto é intencional. Como destaca Beata Emoke Madari, as soluções desenvolvidas em solo brasileiro para a agricultura tropical e subtropical possuem uma universalidade notável. Países em zonas climáticas semelhantes podem se beneficiar diretamente do conhecimento e das tecnologias apresentadas, posicionando o Brasil não apenas como um gigante produtor, mas também como um polo irradiador de inovação climática na agricultura.

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Logo – Embrapa

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Um Recurso de Acesso Universal

A decisão de lançar a obra em uma Conferência das Nações Unidas e disponibilizá-la gratuitamente e em formato bilíngue (português e inglês) na internet maximiza seu alcance e impacto. Isso assegura que a ciência e as soluções da agricultura brasileira cheguem a pesquisadores, diplomatas, investidores e agricultores em qualquer parte do globo, reforçando o compromisso do Brasil com a transparência e a cooperação internacional no combate à crise climática.

O livro é, portanto, mais do que uma soma de pesquisas; é um manifesto de resiliência e um plano de ação que une a produtividade alimentar à responsabilidade ecológica. Ele demonstra que a ciência é o alicerce indispensável para construir um futuro onde a agricultura tropical possa prosperar, garantindo a segurança alimentar sem comprometer a saúde do planeta.

COP30: avanço nas metas climáticas marca início da conferência em Belém

O primeiro dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) terminou com um sinal de progresso no cenário global de ação climática: 111 países já apresentaram seus relatórios de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), metas nacionais que definem compromissos de redução de emissões e adaptação à crise climática. O anúncio foi feito pela diretora executiva da COP30, Ana Toni, durante coletiva de imprensa realizada na tarde desta segunda-feira (10), em Belém.

O marco representa um avanço expressivo em relação a fevereiro, quando apenas 79 nações haviam protocolado seus planos. Para Toni, o resultado simboliza um fortalecimento do multilateralismo em um contexto global de tensões geopolíticas e desafios econômicos. “Temos 194 países credenciados para Belém e 111 já apresentaram suas metas. Isso mostra que o sistema multilateral ainda é capaz de produzir resultados concretos”, afirmou.

Compromissos em curso e lacunas a preencher

As NDCs são um instrumento central do Acordo de Paris, assinado em 2015, que exige a atualização dos planos nacionais de ação climática a cada cinco anos. Esses documentos reúnem metas de redução de gases de efeito estufa, investimentos em energias renováveis e estratégias de adaptação às mudanças climáticas.

Contudo, embora o número de submissões tenha crescido, especialistas alertam que a ambição das metas ainda está aquém do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C — objetivo definido no Acordo de Paris. A expectativa é que os novos compromissos apresentados na COP30 possam elevar a ambição coletiva e aproximar o mundo da neutralidade de emissões até 2050.

Segundo a diretora, a adoção formal da agenda de negociações também foi um passo relevante. “Nos últimos quatro anos não conseguimos abrir a agenda no primeiro dia da COP. Isso pode parecer um detalhe, mas é o que permite que todos os temas avancem. Neste momento geopolítico, começar de forma coordenada é uma vitória”, observou Ana Toni.

O documento de trabalho, aprovado pelos representantes dos países, estabelece 145 temas prioritários a serem debatidos até o fim da conferência, marcada para 21 de novembro. Entre eles, destacam-se financiamento climático, mecanismos de compensação de carbono, políticas de adaptação e transferência de tecnologia para nações em desenvolvimento.

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Fonte: COP30 Brasil 2025

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Tecnologia: o elo frágil das negociações

A cooperação tecnológica aparece como um dos tópicos mais sensíveis das negociações. O Acordo de Paris prevê que países desenvolvidos compartilhem conhecimento, infraestrutura e recursos técnicos com os mais vulneráveis — condição essencial para que todos possam cumprir suas NDCs.

“Esse é um dos temas mais desafiadores. Precisamos garantir transferência de capacidades e tecnologias para que países em desenvolvimento possam acelerar seus planos de mitigação e adaptação”, afirmou Toni.

O impasse sobre o tema vem desde a SB60 – Conferência sobre Mudança Climática de Bonn, realizada em junho na Alemanha. O encontro, preparatório para a COP30, deixou em aberto a definição de mecanismos de financiamento e cooperação técnica entre nações. Enquanto países africanos e latino-americanos pedem acesso facilitado a tecnologias limpas, nações industrializadas insistem em proteger direitos de propriedade intelectual e patentes corporativas.

Multilateralismo em reconstrução

O contexto em Belém reflete um esforço para reconstruir a confiança no multilateralismo climático, abalada por crises energéticas, guerras e retrocessos ambientais nos últimos anos. Desde a pandemia, várias COPs anteriores — incluindo as de Glasgow, Sharm el-Sheikh e Dubai — enfrentaram dificuldades em adotar agendas consensuais logo no início.

A abertura ordenada em Belém é, portanto, vista como um indicativo de retomada da governança global. “Conseguir que todos os países concordem com a agenda desde o primeiro dia é sinal de diálogo e cooperação. Isso cria um ambiente mais produtivo para decisões concretas”, avaliou uma fonte da Secretaria-Geral da ONU.

A COP30, sediada no Parque da Cidade de Belém, reúne delegações de 194 países, além de cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil. O evento deve discutir também a Agenda de Ação Climática 2035, que inclui temas como florestas, oceanos, energia limpa e segurança alimentar.

Com o aumento no número de NDCs apresentadas e a retomada das negociações multilaterais, Belém se consolida como palco simbólico de uma transição — não apenas energética, mas também política, em direção a um consenso global pela sobrevivência climática.

Implante cerebral menor que um grão de sal transmite dados a laser e promete revolucionar a neurociência

Pesquisadores da Universidade Cornell desenvolveram um implante cerebral menor que um grão de sal, capaz de transmitir sinais neurais usando feixes de luz. O dispositivo opera de forma totalmente sem fio e foi testado com sucesso em camundongos durante mais de um ano, segundo estudo publicado na revista Nature Electronics.

A façanha coloca a engenharia biomédica diante de um novo marco: o menor implante neural funcional já criado, com potencial para transformar o monitoramento cerebral em algo contínuo, seguro e quase invisível.

Um cérebro conectado pela luz

O microdispositivo foi batizado de MOTE — sigla em inglês para Microscale Optoelectronic Tetherless Electrode. Ele é alimentado e conectado apenas por lasers infravermelhos, que atravessam o crânio e o tecido cerebral sem causar danos.

A mesma luz que fornece energia também serve para transmitir dados de volta, permitindo que o chip envie informações sobre a atividade dos neurônios em tempo real.

Para o pesquisador Alyosha Molnar, coautor do estudo, o avanço é inédito: “É o menor implante capaz de medir e reportar atividade elétrica cerebral de forma totalmente sem fio.”

O tamanho de um sal, o poder de um satélite

O novo chip mede apenas 300 micrômetros de comprimento e 70 de largura — menor que o diâmetro de um fio de cabelo. Dentro dele, um diodo semicondutor de arseneto de gálio e alumínio capta a luz para alimentar os circuitos e envia de volta pulsos ópticos com os dados cerebrais.

A comunicação usa modulação por posição de pulso, a mesma técnica empregada em transmissões ópticas de satélite. Isso garante eficiência extrema: a transmissão de dados ocorre com gasto mínimo de energia, sem aquecimento do tecido.

Com esse sistema, os pesquisadores conseguiram registrar a atividade elétrica de neurônios individuais de maneira contínua, mantendo a integridade biológica dos animais.

Testes de longa duração em animais

Os testes começaram em culturas de células e depois avançaram para o cérebro de camundongos. O implante foi inserido no córtex responsável pelo tato dos bigodes — região usada para estudos sensoriais.

Durante mais de doze meses, o MOTE registrou disparos neurais e ondas cerebrais sem causar inflamação ou alterar o comportamento dos animais. A durabilidade e a estabilidade dos dados superaram as de qualquer outro modelo já testado.

O experimento provou que é possível monitorar o cérebro por longos períodos sem cabos, baterias ou riscos de rejeição.

Por que a miniaturização importa

Implantes cerebrais convencionais dependem de fios ou estruturas rígidas que irritam o tecido cerebral e provocam cicatrização. A miniaturização do MOTE elimina esse problema.

O dispositivo acompanha os movimentos naturais do cérebro — que se expande e contrai levemente a cada batimento cardíaco — sem gerar atrito. Isso reduz a resposta imune e amplia a vida útil do implante.

Mais do que uma conquista tecnológica, essa redução de escala representa uma nova forma de interação entre eletrônica e biologia, em que a presença do dispositivo é quase imperceptível.

Caminhos para a medicina e além

O chip da Cornell pode abrir novas fronteiras na pesquisa de doenças neurológicas como Alzheimer, Parkinson e epilepsia. Ele também poderá ajudar a compreender como o cérebro aprende e se adapta a terapias.

Molnar e sua equipe acreditam que versões futuras do implante poderão funcionar até durante exames de ressonância magnética, algo impossível com materiais metálicos.

Além do cérebro, a mesma tecnologia pode ser adaptada para o estudo da medula espinhal, retina e até tecidos musculares, permitindo observar com precisão a comunicação entre neurônios e células do corpo.

Ética e responsabilidade tecnológica

Com avanços tão profundos na leitura e transmissão de dados neurais, surgem também dilemas éticos. Implantes quase invisíveis levantam discussões sobre privacidade mental e segurança da informação.

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Os pesquisadores insistem que o propósito do projeto é puramente médico e científico. “A miniaturização mostra o que é tecnicamente possível. O desafio é garantir que seja seguro, ético e usado para curar, não para invadir”, ressalta Molnar.

O futuro da interface cérebro-máquina

A criação do MOTE marca um ponto de virada na história dos implantes neurais. Pela primeira vez, a tecnologia alcança uma escala em que a energia, os dados e o corpo se comunicam unicamente por luz.

A fronteira entre cérebro e máquina torna-se quase imperceptível, e o que antes parecia ficção científica agora se torna protótipo real.

Daqui em diante, as perguntas deixam de ser “se” e passam a ser “quando”. E talvez, no futuro próximo, a mente humana se conecte à tecnologia com a mesma leveza com que um raio de luz atravessa o vidro.

Flotilha Yaku Mama chega à COP30 com mensagem de união dos povos indígenas da Amazônia

Depois de navegar por mais de 2.000 quilômetros pelos rios da Amazônia, a Flotilha Yaku Mama atracou nesta segunda-feira (10) em Belém, levando ao coração da COP30 uma mensagem poderosa de solidariedade, resistência e urgência climática. A expedição reuniu cerca de 60 lideranças indígenas, ativistas e defensores ambientais de países amazônicos, que desembarcaram na capital paraense com uma pauta comum: proteger a floresta e garantir os direitos dos povos originários.

A jornada começou no Equador, passou pela Colômbia e seguiu o curso do rio Amazonas até chegar à cidade-sede da conferência, no Parque da Cidade, onde líderes indígenas foram recebidos por representantes da sociedade civil e autoridades ambientais. A viagem de 25 dias transformou-se em um ato simbólico e político, conectando territórios, culturas e vozes que compartilham uma mesma causa — a defesa da Amazônia e dos modos de vida tradicionais.

Travessia por solidariedade e resistência

Batizada de “Mãe Água” em quéchua, a flotilha Yaku Mama é mais do que uma expedição fluvial. É um manifesto pela vida e pela interdependência entre os povos da floresta. A iniciativa foi idealizada por organizações indígenas da região, entre elas a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com apoio de redes ambientais e movimentos transfronteiriços.

“Para nós, o mais importante é construir solidariedade além das fronteiras”, explica Lucia Ixchiu, porta-voz da flotilha e ativista indígena da Guatemala. “A situação global é muito difícil. Precisamos nos unir para defender nossos rios e combater a poluição que ameaça o Amazonas e nossos territórios.”

Durante o percurso, as embarcações fizeram paradas estratégicas em comunidades ribeirinhas e aldeias amazônicas, onde os viajantes promoveram assembleias, rituais e rodas de diálogo sobre o papel dos povos indígenas na mitigação das mudanças climáticas. Em cada parada, novas lideranças se somaram ao movimento, transformando o rio em um espaço de encontro e mobilização.

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Karen Toro/Reuters/proibida reprodução

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Um manifesto fluvial na COP30

A chegada da flotilha a Belém foi marcada por cantos, faixas e uma cerimônia tradicional à beira do rio Guamá. Os participantes entregaram um documento com suas principais reivindicações aos organizadores da COP30 e representantes da ONU, solicitando maior protagonismo indígena nas decisões sobre o clima e a biodiversidade.

Entre os pontos do manifesto estão o combate à mineração ilegal e à exploração de petróleo, o fim da extração irregular de madeira, e o acesso à água potável nas comunidades amazônicas. As lideranças também exigem o reconhecimento da gestão territorial indígena como política climática efetiva, argumentando que proteger os territórios tradicionais é uma das formas mais eficazes de conter o aquecimento global.

Para Pablo Inuma Flores, líder indígena da região do Baixo Madre de Dios, no Peru, a travessia simboliza um pacto pela sustentabilidade. “Queremos zero combustíveis fósseis, zero mineração ilegal, zero extrativismo destrutivo e zero desmatamento. É hora de transição e de respeito à natureza”, declarou.

A Amazônia como sujeito político

A presença da flotilha na COP30 reforça a importância da Amazônia como sujeito político global. Para os povos que vivem na floresta, a crise climática não é um tema distante, mas uma realidade diária, expressa na contaminação das águas, nas queimadas e na perda de territórios.

Durante as atividades paralelas da conferência, as lideranças indígenas participarão de debates no Pavilhão Brasil e em eventos da Articulação dos Povos Indígenas da Amazônia (COICA), reforçando o papel da governança comunitária e dos conhecimentos tradicionais na formulação de políticas climáticas.

A viagem da Yaku Mama também busca visibilidade internacional para os conflitos socioambientais na região, como o avanço de projetos de mineração, hidrelétricas e agronegócio sobre terras indígenas. “Os povos da floresta estão dizendo ao mundo que sem a Amazônia não há futuro climático possível”, resume Ixchiu.

Uma mensagem que atravessa fronteiras

A chegada da flotilha ecoa o espírito da COP30, que tem como lema “O Momento é de Ação Climática”. A jornada simboliza a urgência de soluções integradas e de uma nova governança baseada na escuta e na cooperação entre países amazônicos.

“Essa travessia é um lembrete de que a luta pelo clima começa nos territórios”, disse uma representante da Apib. “A Amazônia une nossos destinos — e é hora de o mundo reconhecer isso.”

A flotilha Yaku Mama permanece em Belém durante toda a conferência, promovendo atividades culturais, painéis e encontros de articulação regional. O movimento espera que sua presença na COP30 sirva de ponto de virada para políticas mais inclusivas e justas, onde as vozes indígenas deixem de ser apenas convidadas e passem a ocupar o centro das decisões globais.

Pavilhão Brasil na COP30 promove diálogo nacional sobre ação climática

No coração do Parque da Cidade de Belém, o Pavilhão Brasil foi oficialmente inaugurado nesta segunda-feira (10), marcando o início de uma intensa programação de debates, encontros e diálogos durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). O espaço, localizado na Zona Azul do evento, abrigará 286 atividades voltadas à participação social, com foco em temas como financiamento climático, mitigação, adaptação e metas nacionais.

Durante a cerimônia de abertura, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, descreveu o pavilhão como “um Parlamento Climático” — um espaço de convergência entre governo, sociedade civil, juventude, academia e setor produtivo.
“Esse espaço é o nosso ParlaCOP. Aqui vamos debater os temas mais urgentes e ouvir as vozes da sociedade que estão moldando a nova agenda climática do país”, afirmou a ministra, destacando o caráter democrático e inclusivo do espaço.

Um palco para o Brasil no centro do debate global

O Pavilhão Brasil é o principal espaço nacional dentro da estrutura oficial da COP30, reunindo painéis, mesas-redondas e apresentações com duração máxima de 60 minutos. A programação se estende diariamente das 10h às 19h e será dividida entre quatro auditórios temáticos — Sumaúma e Cumaru, na Zona Azul, e Jadaíra e Uruçu, na Zona Verde.

Na Zona Azul, as discussões se concentrarão na dimensão internacional da política climática brasileira, com foco na implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil no âmbito do Acordo de Paris.
Esses debates vão abordar a cooperação com outros países, mecanismos de financiamento climático e as novas metas de redução de emissões até 2035, inseridas no Plano Clima, guia das ações brasileiras para enfrentar a crise climática.

Já na Zona Verde, as atividades se voltarão para o contexto doméstico: políticas públicas de adaptação, resiliência comunitária, bioeconomia, educação ambiental, florestas e segurança alimentar estarão entre os temas em destaque. A proposta é aproximar o debate global da realidade cotidiana dos brasileiros, mostrando como a ação climática pode transformar o desenvolvimento local e regional.

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Bruno Peres/Agência Brasil

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“O momento é de ação climática”

O tema escolhido para o Pavilhão Brasil em 2025 é “O Momento é de Ação Climática”, um chamado à urgência diante da crise planetária. Para Marina Silva, o lema sintetiza o espírito desta COP, sediada pela primeira vez na Amazônia.
“Muitas coisas que serão debatidas aqui vão fortalecer a agenda de negociação global, principalmente em temas como financiamento, mitigação e adaptação. É o momento de agir, não apenas de prometer”, disse a ministra, em discurso emocionado.

A campeã da juventude da COP30, Marcele Oliveira, reforçou a importância da diversidade e da representatividade no espaço: “Quando falamos de mudança do clima, falamos de vida. Este pavilhão vai mostrar a história de um Brasil plural, diverso e capaz de liderar pelo exemplo”.

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30 e diplomata de carreira do Itamaraty, destacou o simbolismo da iniciativa:
“Uma COP no Brasil é uma oportunidade de mostrar ao mundo nossa capacidade de diálogo e inovação. O Pavilhão Brasil é um convite para que todos mergulhem nesse universo e participem ativamente das soluções”, afirmou.

Participação social como eixo central

Com 286 atividades programadas, o pavilhão se consolida como um dos maiores espaços de participação social já montados em uma COP no país. A curadoria foi organizada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), envolvendo também universidades, coletivos comunitários e organizações da sociedade civil.

Além dos debates, o espaço abrigará lançamentos de iniciativas e relatórios, apresentações culturais e sessões de diálogo intergeracional, ampliando a visibilidade de ações que articulam ciência, cultura e política climática.

Belém, capital da ação climática

A realização da COP30 em Belém — e a inauguração de um pavilhão inteiramente dedicado à diversidade brasileira — têm também um valor simbólico. Situada na entrada da Amazônia, a cidade se transforma em vitrine da sustentabilidade e da capacidade de articulação do Brasil nas negociações globais.
Para Marina Silva, o Pavilhão Brasil é “um retrato da sociedade que o país deseja construir: inclusiva, sustentável e capaz de inspirar o mundo”.

BNDES lança ofensiva verde para mobilizar R$ 73 bilhões em investimentos climáticos

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um novo movimento para reposicionar o Brasil na economia verde global. A Chamada Pública de Mitigação Climática, apresentada durante a abertura do Pavilhão BNDES na COP30, em Belém, recebeu 45 propostas de fundos de investimento e tem potencial para mobilizar R$ 73,7 bilhões em projetos voltados à adaptação e à mitigação das mudanças climáticas.

O número expressivo de propostas reflete a crescente maturidade do mercado de impacto no país e o interesse de investidores em apostar na transição ecológica brasileira. As iniciativas inscritas abrangem descarbonização industrial, transição energética, restauração ecológica, reflorestamento, tecnologias para agricultura sustentável e infraestrutura resiliente ao clima.

Segundo o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o volume de propostas demonstra que há “um ecossistema vibrante de inovação climática no Brasil”, pronto para ser escalado. O banco recebeu R$ 21 bilhões em pedidos de apoio financeiro direto, sinalizando forte demanda por capital público capaz de destravar investimentos privados de longo prazo.

Um novo ciclo de investimento verde

O anúncio, feito no coração da Amazônia durante a COP30, marca também o retorno do BNDES à política de investimento direto em empresas, por meio da modalidade de equity — prática que havia sido reduzida nos últimos anos. Segundo Mercadante, o movimento inaugura um novo ciclo para o banco, com foco em inovação e tecnologia.

“Estamos retomando a capacidade do BNDES de ser sócio de bons projetos. Isso significa investir não apenas em crédito, mas em capital produtivo, inovação e novas tecnologias”, afirmou o presidente. Ele destacou que dois investimentos já foram aprovados: um fundo de venture capital voltado para startups de impacto e uma empresa de Santa Catarina especializada em bioinsumos para agricultura sustentável.

A meta é selecionar até sete fundos de investimento com foco em descarbonização, transição energética e reflorestamento, que receberão aportes do banco e de parceiros institucionais. O resultado final da seleção será divulgado em janeiro de 2026, dando início à estruturação dos primeiros projetos no primeiro semestre do ano.

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Impacto sistêmico e papel estratégico do BNDES

O BNDES vem se consolidando como o principal articulador do financiamento climático no Brasil. Nos últimos anos, a instituição ampliou sua atuação na criação de fundos verdes, como o Programa de Apoio à Estruturação de Concessões de Saneamento (BNDES Sanitation) e o Fundo Clima, operado em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Com a nova chamada pública, o banco pretende reforçar a visão de que sustentabilidade e competitividade industrial podem andar juntas. “O Brasil pode ser uma potência verde global se combinar sua matriz energética limpa, sua biodiversidade e sua capacidade produtiva. O BNDES quer ser o elo que conecta esses ativos a capital e inovação”, disse Mercadante durante o evento.

A proposta é que cada fundo atue como catalisador de investimentos privados, multiplicando o efeito de cada real aportado pelo banco. Em outras palavras, o objetivo é mobilizar dez vezes o valor investido, criando um círculo virtuoso de inovação, geração de emprego e descarbonização econômica.

COP30 e o papel do Brasil na agenda global

O anúncio no Pavilhão BNDES, instalado dentro do espaço oficial da COP30, simboliza a tentativa de o Brasil reposicionar o Estado como indutor da economia de baixo carbono. O evento contou com a presença de representantes de fundos nacionais e internacionais, além de lideranças empresariais e ambientais.

Belém, que sedia a conferência, foi escolhida como palco estratégico para o lançamento. A cidade representa tanto o desafio quanto o potencial da transição verde: é a porta de entrada para a Amazônia e o epicentro das discussões sobre bioeconomia, florestas e finanças sustentáveis.

Para analistas, a iniciativa reflete um amadurecimento institucional do BNDES, que vem recuperando seu papel histórico de banco de desenvolvimento, agora com foco explícito em transformação climática. Mais do que financiar obras, a instituição busca fomentar um novo modelo de crescimento, baseado em baixo carbono, inovação tecnológica e inclusão social.

A nova rodada de investimentos, portanto, não é apenas um anúncio financeiro: é um gesto político e simbólico que aponta para um Brasil que pretende liderar a transição global para uma economia verde.

Fome e crise climática: um mesmo desafio, diz Marina Silva

A relação entre fome, pobreza e emergência climática voltou ao centro das discussões globais durante a COP30, realizada em Belém. Em um dos debates mais aguardados da conferência, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que a fome e a crise climática são faces de um mesmo problema — e que enfrentá-las separadamente é um erro estratégico.

O argumento da ministra ecoa uma constatação cada vez mais visível no Brasil e no mundo: os eventos climáticos extremos não apenas destroem ecossistemas, mas também as bases da segurança alimentar e econômica. “As pessoas perdem seus sistemas alimentares, seus locais de trabalho, quando há uma enchente, um tufão ou um furacão, agravados pela mudança do clima. Elas ficam mais vulneráveis”, afirmou Marina, ao citar o tornado que atingiu o Paraná dias antes, arrasando comunidades e ceifando vidas.

O encontro — intitulado “Combate à Pobreza para a Justiça Climática” — reuniu ministros e autoridades de diferentes países em um diálogo sobre como políticas sociais e ambientais podem convergir para criar resiliência. A sessão foi conduzida em formato ministerial de alto nível e marcou um dos momentos de maior adesão política dentro da programação da COP30.

Desigualdade e clima no mesmo eixo

Ao defender que o enfrentamento da desigualdade e da mudança climática sejam tratados de forma integrada, Marina destacou que “é perfeitamente possível — e necessário — pensar o combate à pobreza e à crise climática como um único processo de transformação”. Segundo ela, não há sustentabilidade possível sem justiça social.

A ministra ressaltou que políticas públicas precisam ir além da mitigação de emissões e incorporar metas de proteção a populações vulneráveis. Essa abordagem, afirmou, é o único caminho para garantir que a transição ecológica seja também uma transição justa. O conceito, já defendido em fóruns internacionais, vem ganhando espaço em iniciativas como o Plano Clima, em fase de revisão pelo governo brasileiro, e em discussões sobre o Fundo Verde para o Clima, mantido pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

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Michell Mello/Fiocruz Amazônia

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O papel da agricultura e dos povos tradicionais

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, reforçou durante o evento a importância de fortalecer as redes de proteção social diante dos desastres climáticos. Segundo ele, as políticas de transferência de renda e a agricultura familiar são pilares essenciais da resposta brasileira à insegurança alimentar e aos impactos ambientais.

“Não há segurança alimentar nem resiliência climática sem aqueles que cuidam da terra, das águas e das sementes”, declarou Dias. “A agricultura familiar fornece a maior parte dos nossos alimentos, enquanto os povos tradicionais são guardiões de técnicas ancestrais de plantio e da diversidade genética que sustenta nossas mesas.”

O ministro defendeu que a “floresta produtiva” — conceito que une conservação, inclusão social e geração de renda — deve ser vista como um modelo de desenvolvimento nacional. Essa visão se alinha a iniciativas já em curso, como o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) e programas de restauração de áreas degradadas liderados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.

Declaração de Belém: um pacto global

O debate foi reforçado pela recente Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, aprovada em 7 de novembro por 43 países e a União Europeia durante a Cúpula do Clima. O documento, construído com forte protagonismo do Brasil, reconhece a interdependência entre ação climática e proteção social — e propõe que os programas de combate à fome sejam tratados como instrumentos de mitigação e adaptação.

A ministra da Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha, Reem Alabali-Radovan, elogiou a liderança brasileira na formulação da declaração. Para ela, o texto representa “um passo pioneiro na articulação entre ação climática, proteção social e segurança alimentar”. A ministra destacou ainda que “a proteção do planeta e das pessoas deve caminhar lado a lado”, e que a agricultura sustentável é peça central para garantir que ninguém seja deixado para trás.

Um novo pacto entre justiça e clima

A participação de Marina Silva e Wellington Dias simboliza a tentativa do Brasil de se posicionar como mediador global entre as agendas ambiental e social. Ao unir fome e clima em uma mesma narrativa, o país aposta em um discurso que busca influenciar o eixo central das negociações da COP30: a implementação real e equitativa do Acordo de Paris.

Belém, cidade-sede da conferência, tornou-se neste contexto um palco emblemático. No coração da Amazônia, o debate sobre a fome e o clima deixa de ser abstrato e ganha contornos humanos — o de comunidades que vivem entre a abundância natural e a ameaça constante de perder tudo.