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Flotilha Yaku Mama chega à COP30 com mensagem de união dos povos indígenas da Amazônia

Depois de navegar por mais de 2.000 quilômetros pelos rios da Amazônia, a Flotilha Yaku Mama atracou nesta segunda-feira (10) em Belém, levando ao coração da COP30 uma mensagem poderosa de solidariedade, resistência e urgência climática. A expedição reuniu cerca de 60 lideranças indígenas, ativistas e defensores ambientais de países amazônicos, que desembarcaram na capital paraense com uma pauta comum: proteger a floresta e garantir os direitos dos povos originários.

A jornada começou no Equador, passou pela Colômbia e seguiu o curso do rio Amazonas até chegar à cidade-sede da conferência, no Parque da Cidade, onde líderes indígenas foram recebidos por representantes da sociedade civil e autoridades ambientais. A viagem de 25 dias transformou-se em um ato simbólico e político, conectando territórios, culturas e vozes que compartilham uma mesma causa — a defesa da Amazônia e dos modos de vida tradicionais.

Travessia por solidariedade e resistência

Batizada de “Mãe Água” em quéchua, a flotilha Yaku Mama é mais do que uma expedição fluvial. É um manifesto pela vida e pela interdependência entre os povos da floresta. A iniciativa foi idealizada por organizações indígenas da região, entre elas a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com apoio de redes ambientais e movimentos transfronteiriços.

“Para nós, o mais importante é construir solidariedade além das fronteiras”, explica Lucia Ixchiu, porta-voz da flotilha e ativista indígena da Guatemala. “A situação global é muito difícil. Precisamos nos unir para defender nossos rios e combater a poluição que ameaça o Amazonas e nossos territórios.”

Durante o percurso, as embarcações fizeram paradas estratégicas em comunidades ribeirinhas e aldeias amazônicas, onde os viajantes promoveram assembleias, rituais e rodas de diálogo sobre o papel dos povos indígenas na mitigação das mudanças climáticas. Em cada parada, novas lideranças se somaram ao movimento, transformando o rio em um espaço de encontro e mobilização.

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Karen Toro/Reuters/proibida reprodução

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Um manifesto fluvial na COP30

A chegada da flotilha a Belém foi marcada por cantos, faixas e uma cerimônia tradicional à beira do rio Guamá. Os participantes entregaram um documento com suas principais reivindicações aos organizadores da COP30 e representantes da ONU, solicitando maior protagonismo indígena nas decisões sobre o clima e a biodiversidade.

Entre os pontos do manifesto estão o combate à mineração ilegal e à exploração de petróleo, o fim da extração irregular de madeira, e o acesso à água potável nas comunidades amazônicas. As lideranças também exigem o reconhecimento da gestão territorial indígena como política climática efetiva, argumentando que proteger os territórios tradicionais é uma das formas mais eficazes de conter o aquecimento global.

Para Pablo Inuma Flores, líder indígena da região do Baixo Madre de Dios, no Peru, a travessia simboliza um pacto pela sustentabilidade. “Queremos zero combustíveis fósseis, zero mineração ilegal, zero extrativismo destrutivo e zero desmatamento. É hora de transição e de respeito à natureza”, declarou.

A Amazônia como sujeito político

A presença da flotilha na COP30 reforça a importância da Amazônia como sujeito político global. Para os povos que vivem na floresta, a crise climática não é um tema distante, mas uma realidade diária, expressa na contaminação das águas, nas queimadas e na perda de territórios.

Durante as atividades paralelas da conferência, as lideranças indígenas participarão de debates no Pavilhão Brasil e em eventos da Articulação dos Povos Indígenas da Amazônia (COICA), reforçando o papel da governança comunitária e dos conhecimentos tradicionais na formulação de políticas climáticas.

A viagem da Yaku Mama também busca visibilidade internacional para os conflitos socioambientais na região, como o avanço de projetos de mineração, hidrelétricas e agronegócio sobre terras indígenas. “Os povos da floresta estão dizendo ao mundo que sem a Amazônia não há futuro climático possível”, resume Ixchiu.

Uma mensagem que atravessa fronteiras

A chegada da flotilha ecoa o espírito da COP30, que tem como lema “O Momento é de Ação Climática”. A jornada simboliza a urgência de soluções integradas e de uma nova governança baseada na escuta e na cooperação entre países amazônicos.

“Essa travessia é um lembrete de que a luta pelo clima começa nos territórios”, disse uma representante da Apib. “A Amazônia une nossos destinos — e é hora de o mundo reconhecer isso.”

A flotilha Yaku Mama permanece em Belém durante toda a conferência, promovendo atividades culturais, painéis e encontros de articulação regional. O movimento espera que sua presença na COP30 sirva de ponto de virada para políticas mais inclusivas e justas, onde as vozes indígenas deixem de ser apenas convidadas e passem a ocupar o centro das decisões globais.

Pavilhão Brasil na COP30 promove diálogo nacional sobre ação climática

No coração do Parque da Cidade de Belém, o Pavilhão Brasil foi oficialmente inaugurado nesta segunda-feira (10), marcando o início de uma intensa programação de debates, encontros e diálogos durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). O espaço, localizado na Zona Azul do evento, abrigará 286 atividades voltadas à participação social, com foco em temas como financiamento climático, mitigação, adaptação e metas nacionais.

Durante a cerimônia de abertura, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, descreveu o pavilhão como “um Parlamento Climático” — um espaço de convergência entre governo, sociedade civil, juventude, academia e setor produtivo.
“Esse espaço é o nosso ParlaCOP. Aqui vamos debater os temas mais urgentes e ouvir as vozes da sociedade que estão moldando a nova agenda climática do país”, afirmou a ministra, destacando o caráter democrático e inclusivo do espaço.

Um palco para o Brasil no centro do debate global

O Pavilhão Brasil é o principal espaço nacional dentro da estrutura oficial da COP30, reunindo painéis, mesas-redondas e apresentações com duração máxima de 60 minutos. A programação se estende diariamente das 10h às 19h e será dividida entre quatro auditórios temáticos — Sumaúma e Cumaru, na Zona Azul, e Jadaíra e Uruçu, na Zona Verde.

Na Zona Azul, as discussões se concentrarão na dimensão internacional da política climática brasileira, com foco na implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil no âmbito do Acordo de Paris.
Esses debates vão abordar a cooperação com outros países, mecanismos de financiamento climático e as novas metas de redução de emissões até 2035, inseridas no Plano Clima, guia das ações brasileiras para enfrentar a crise climática.

Já na Zona Verde, as atividades se voltarão para o contexto doméstico: políticas públicas de adaptação, resiliência comunitária, bioeconomia, educação ambiental, florestas e segurança alimentar estarão entre os temas em destaque. A proposta é aproximar o debate global da realidade cotidiana dos brasileiros, mostrando como a ação climática pode transformar o desenvolvimento local e regional.

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Bruno Peres/Agência Brasil

SAIBA MAISMunicípios paraenses ganham palco global no Pavilhão Pará na COP30

“O momento é de ação climática”

O tema escolhido para o Pavilhão Brasil em 2025 é “O Momento é de Ação Climática”, um chamado à urgência diante da crise planetária. Para Marina Silva, o lema sintetiza o espírito desta COP, sediada pela primeira vez na Amazônia.
“Muitas coisas que serão debatidas aqui vão fortalecer a agenda de negociação global, principalmente em temas como financiamento, mitigação e adaptação. É o momento de agir, não apenas de prometer”, disse a ministra, em discurso emocionado.

A campeã da juventude da COP30, Marcele Oliveira, reforçou a importância da diversidade e da representatividade no espaço: “Quando falamos de mudança do clima, falamos de vida. Este pavilhão vai mostrar a história de um Brasil plural, diverso e capaz de liderar pelo exemplo”.

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30 e diplomata de carreira do Itamaraty, destacou o simbolismo da iniciativa:
“Uma COP no Brasil é uma oportunidade de mostrar ao mundo nossa capacidade de diálogo e inovação. O Pavilhão Brasil é um convite para que todos mergulhem nesse universo e participem ativamente das soluções”, afirmou.

Participação social como eixo central

Com 286 atividades programadas, o pavilhão se consolida como um dos maiores espaços de participação social já montados em uma COP no país. A curadoria foi organizada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), envolvendo também universidades, coletivos comunitários e organizações da sociedade civil.

Além dos debates, o espaço abrigará lançamentos de iniciativas e relatórios, apresentações culturais e sessões de diálogo intergeracional, ampliando a visibilidade de ações que articulam ciência, cultura e política climática.

Belém, capital da ação climática

A realização da COP30 em Belém — e a inauguração de um pavilhão inteiramente dedicado à diversidade brasileira — têm também um valor simbólico. Situada na entrada da Amazônia, a cidade se transforma em vitrine da sustentabilidade e da capacidade de articulação do Brasil nas negociações globais.
Para Marina Silva, o Pavilhão Brasil é “um retrato da sociedade que o país deseja construir: inclusiva, sustentável e capaz de inspirar o mundo”.

BNDES lança ofensiva verde para mobilizar R$ 73 bilhões em investimentos climáticos

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um novo movimento para reposicionar o Brasil na economia verde global. A Chamada Pública de Mitigação Climática, apresentada durante a abertura do Pavilhão BNDES na COP30, em Belém, recebeu 45 propostas de fundos de investimento e tem potencial para mobilizar R$ 73,7 bilhões em projetos voltados à adaptação e à mitigação das mudanças climáticas.

O número expressivo de propostas reflete a crescente maturidade do mercado de impacto no país e o interesse de investidores em apostar na transição ecológica brasileira. As iniciativas inscritas abrangem descarbonização industrial, transição energética, restauração ecológica, reflorestamento, tecnologias para agricultura sustentável e infraestrutura resiliente ao clima.

Segundo o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o volume de propostas demonstra que há “um ecossistema vibrante de inovação climática no Brasil”, pronto para ser escalado. O banco recebeu R$ 21 bilhões em pedidos de apoio financeiro direto, sinalizando forte demanda por capital público capaz de destravar investimentos privados de longo prazo.

Um novo ciclo de investimento verde

O anúncio, feito no coração da Amazônia durante a COP30, marca também o retorno do BNDES à política de investimento direto em empresas, por meio da modalidade de equity — prática que havia sido reduzida nos últimos anos. Segundo Mercadante, o movimento inaugura um novo ciclo para o banco, com foco em inovação e tecnologia.

“Estamos retomando a capacidade do BNDES de ser sócio de bons projetos. Isso significa investir não apenas em crédito, mas em capital produtivo, inovação e novas tecnologias”, afirmou o presidente. Ele destacou que dois investimentos já foram aprovados: um fundo de venture capital voltado para startups de impacto e uma empresa de Santa Catarina especializada em bioinsumos para agricultura sustentável.

A meta é selecionar até sete fundos de investimento com foco em descarbonização, transição energética e reflorestamento, que receberão aportes do banco e de parceiros institucionais. O resultado final da seleção será divulgado em janeiro de 2026, dando início à estruturação dos primeiros projetos no primeiro semestre do ano.

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Divulgação

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Impacto sistêmico e papel estratégico do BNDES

O BNDES vem se consolidando como o principal articulador do financiamento climático no Brasil. Nos últimos anos, a instituição ampliou sua atuação na criação de fundos verdes, como o Programa de Apoio à Estruturação de Concessões de Saneamento (BNDES Sanitation) e o Fundo Clima, operado em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Com a nova chamada pública, o banco pretende reforçar a visão de que sustentabilidade e competitividade industrial podem andar juntas. “O Brasil pode ser uma potência verde global se combinar sua matriz energética limpa, sua biodiversidade e sua capacidade produtiva. O BNDES quer ser o elo que conecta esses ativos a capital e inovação”, disse Mercadante durante o evento.

A proposta é que cada fundo atue como catalisador de investimentos privados, multiplicando o efeito de cada real aportado pelo banco. Em outras palavras, o objetivo é mobilizar dez vezes o valor investido, criando um círculo virtuoso de inovação, geração de emprego e descarbonização econômica.

COP30 e o papel do Brasil na agenda global

O anúncio no Pavilhão BNDES, instalado dentro do espaço oficial da COP30, simboliza a tentativa de o Brasil reposicionar o Estado como indutor da economia de baixo carbono. O evento contou com a presença de representantes de fundos nacionais e internacionais, além de lideranças empresariais e ambientais.

Belém, que sedia a conferência, foi escolhida como palco estratégico para o lançamento. A cidade representa tanto o desafio quanto o potencial da transição verde: é a porta de entrada para a Amazônia e o epicentro das discussões sobre bioeconomia, florestas e finanças sustentáveis.

Para analistas, a iniciativa reflete um amadurecimento institucional do BNDES, que vem recuperando seu papel histórico de banco de desenvolvimento, agora com foco explícito em transformação climática. Mais do que financiar obras, a instituição busca fomentar um novo modelo de crescimento, baseado em baixo carbono, inovação tecnológica e inclusão social.

A nova rodada de investimentos, portanto, não é apenas um anúncio financeiro: é um gesto político e simbólico que aponta para um Brasil que pretende liderar a transição global para uma economia verde.

Fome e crise climática: um mesmo desafio, diz Marina Silva

A relação entre fome, pobreza e emergência climática voltou ao centro das discussões globais durante a COP30, realizada em Belém. Em um dos debates mais aguardados da conferência, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que a fome e a crise climática são faces de um mesmo problema — e que enfrentá-las separadamente é um erro estratégico.

O argumento da ministra ecoa uma constatação cada vez mais visível no Brasil e no mundo: os eventos climáticos extremos não apenas destroem ecossistemas, mas também as bases da segurança alimentar e econômica. “As pessoas perdem seus sistemas alimentares, seus locais de trabalho, quando há uma enchente, um tufão ou um furacão, agravados pela mudança do clima. Elas ficam mais vulneráveis”, afirmou Marina, ao citar o tornado que atingiu o Paraná dias antes, arrasando comunidades e ceifando vidas.

O encontro — intitulado “Combate à Pobreza para a Justiça Climática” — reuniu ministros e autoridades de diferentes países em um diálogo sobre como políticas sociais e ambientais podem convergir para criar resiliência. A sessão foi conduzida em formato ministerial de alto nível e marcou um dos momentos de maior adesão política dentro da programação da COP30.

Desigualdade e clima no mesmo eixo

Ao defender que o enfrentamento da desigualdade e da mudança climática sejam tratados de forma integrada, Marina destacou que “é perfeitamente possível — e necessário — pensar o combate à pobreza e à crise climática como um único processo de transformação”. Segundo ela, não há sustentabilidade possível sem justiça social.

A ministra ressaltou que políticas públicas precisam ir além da mitigação de emissões e incorporar metas de proteção a populações vulneráveis. Essa abordagem, afirmou, é o único caminho para garantir que a transição ecológica seja também uma transição justa. O conceito, já defendido em fóruns internacionais, vem ganhando espaço em iniciativas como o Plano Clima, em fase de revisão pelo governo brasileiro, e em discussões sobre o Fundo Verde para o Clima, mantido pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

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Michell Mello/Fiocruz Amazônia

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O papel da agricultura e dos povos tradicionais

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, reforçou durante o evento a importância de fortalecer as redes de proteção social diante dos desastres climáticos. Segundo ele, as políticas de transferência de renda e a agricultura familiar são pilares essenciais da resposta brasileira à insegurança alimentar e aos impactos ambientais.

“Não há segurança alimentar nem resiliência climática sem aqueles que cuidam da terra, das águas e das sementes”, declarou Dias. “A agricultura familiar fornece a maior parte dos nossos alimentos, enquanto os povos tradicionais são guardiões de técnicas ancestrais de plantio e da diversidade genética que sustenta nossas mesas.”

O ministro defendeu que a “floresta produtiva” — conceito que une conservação, inclusão social e geração de renda — deve ser vista como um modelo de desenvolvimento nacional. Essa visão se alinha a iniciativas já em curso, como o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) e programas de restauração de áreas degradadas liderados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.

Declaração de Belém: um pacto global

O debate foi reforçado pela recente Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, aprovada em 7 de novembro por 43 países e a União Europeia durante a Cúpula do Clima. O documento, construído com forte protagonismo do Brasil, reconhece a interdependência entre ação climática e proteção social — e propõe que os programas de combate à fome sejam tratados como instrumentos de mitigação e adaptação.

A ministra da Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha, Reem Alabali-Radovan, elogiou a liderança brasileira na formulação da declaração. Para ela, o texto representa “um passo pioneiro na articulação entre ação climática, proteção social e segurança alimentar”. A ministra destacou ainda que “a proteção do planeta e das pessoas deve caminhar lado a lado”, e que a agricultura sustentável é peça central para garantir que ninguém seja deixado para trás.

Um novo pacto entre justiça e clima

A participação de Marina Silva e Wellington Dias simboliza a tentativa do Brasil de se posicionar como mediador global entre as agendas ambiental e social. Ao unir fome e clima em uma mesma narrativa, o país aposta em um discurso que busca influenciar o eixo central das negociações da COP30: a implementação real e equitativa do Acordo de Paris.

Belém, cidade-sede da conferência, tornou-se neste contexto um palco emblemático. No coração da Amazônia, o debate sobre a fome e o clima deixa de ser abstrato e ganha contornos humanos — o de comunidades que vivem entre a abundância natural e a ameaça constante de perder tudo.

COP30: negociações avançam após acordo sobre a Agenda de Ações

As negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) começaram oficialmente em Belém, nesta segunda-feira (10), marcando o início de um processo decisivo para a consolidação de compromissos globais diante da crise climática. Após intensas rodadas preliminares, os países chegaram a um consenso sobre a chamada Agenda de Ações, que orientará as deliberações até o dia 21 de novembro.

O encontro, organizado sob a liderança do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, e do secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, começou com uma vitória diplomática: a aprovação de uma agenda ampliada, que passou de 100 para 111 itens prioritários.

Esses temas, que refletem o esforço coletivo de 194 países e da União Europeia, abrangem desde o financiamento climático e as transições energéticas até a justiça social e os direitos humanos. A CEO da conferência, Ana Toni, reforçou que a COP30 é um marco simbólico e prático para transformar o debate em ação, especialmente por ocorrer na Amazônia, região onde o impacto das mudanças climáticas é sentido de forma mais imediata.

Um acordo construído na madrugada

A aprovação da agenda só foi possível após intensas negociações que se estenderam até as 23h do domingo (9). Havia impasses sobre oito propostas de inclusão de novos tópicos — entre elas, o financiamento de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, o comércio internacional, a revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), o relatório bienal de transparência (BRT), e questões específicas relacionadas à transição climática na África, mudanças em áreas montanhosas, saúde e clima, além da implementação do Balanço Global (GST) em regiões de florestas.

Segundo Túlio Andrade, diretor de estratégia e alinhamento da COP30, o item sobre o GST em florestas foi retirado para evitar travamentos. Já o tema “saúde e clima” foi incorporado à pauta de adaptação climática, fortalecendo a abordagem integrada entre saúde pública e meio ambiente. “Os pontos mais complexos serão avaliados em consultas diretas da presidência e apresentados em plenária até quarta-feira (12)”, afirmou Andrade.

Durante coletiva, André Corrêa do Lago destacou o esforço das delegações em construir consenso. “O acordo alcançado ontem à noite foi um passo fundamental. Ele nos permite começar as negociações sem atraso e mostra ao mundo a relevância dos recursos adicionais para enfrentar a crise climática”, declarou o diplomata, em tom otimista.

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Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

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Agenda estruturada por blocos temáticos

Para dar ritmo às discussões, a presidência da conferência estruturou os debates em blocos temáticos, distribuídos ao longo das duas semanas. O formato busca garantir que todos os eixos — científicos, sociais, econômicos e ambientais — avancem de maneira coordenada, permitindo que a COP30 traduza compromissos em medidas práticas.

Nos dias 10 e 11 de novembro, as discussões concentram-se em Adaptação, Cidades, Infraestrutura, Água, Resíduos, Governos Locais, Bioeconomia, Economia Circular, Ciência, Tecnologia e Inteligência Artificial. O foco é construir estratégias de resiliência climática e preparar sistemas urbanos e produtivos para os impactos já em curso.

Nos dias 12 e 13, a pauta se volta para Saúde, Emprego, Educação, Cultura, Justiça e Direitos Humanos, além de um Balanço Ético Global — iniciativa inédita que pretende inserir dimensões morais e de integridade nas políticas climáticas internacionais.

Entre 14 e 15 de novembro, a conferência mergulha em temas econômicos estruturantes: energia, indústria, transporte, comércio, finanças e mercados de carbono, incluindo gases não-CO₂. Esse bloco é considerado central para destravar o financiamento de transições justas e definir novos mecanismos de precificação do carbono.

Nos dias 17 e 18, o foco retorna à natureza e às pessoas. Serão debatidas florestas, oceanos e biodiversidade, com atenção especial a povos indígenas, comunidades locais e tradicionais, crianças e jovens, e empreendedores de pequeno e médio porte.

Por fim, 19 e 20 de novembro marcam o encerramento temático da COP30, com o bloco “Raízes da Alimentação, Agricultura e Equidade”, que inclui agricultura familiar, pesca, sistemas alimentares e segurança alimentar, além de pautas de gênero, raça e turismo sustentável.

Um momento decisivo para a diplomacia climática

A COP30 ocorre num contexto em que o mundo busca acelerar compromissos assumidos desde o Acordo de Paris, adotado em 2015. Belém, sede do encontro, tornou-se o epicentro de uma nova fase da diplomacia ambiental, na qual o desafio é transformar metas em resultados mensuráveis, especialmente em países em desenvolvimento.

Mais do que uma conferência técnica, a COP30 se desenha como um palco de convergência entre ciência, política e justiça climática — um espaço onde o equilíbrio entre urgência e cooperação internacional será decisivo para o futuro do planeta.

Vale está presente na COP30 para compartilhar soluções e discutir caminhos que levem a avanços na agenda climática

Com um conjunto de iniciativas que reforçam seu compromisso com a agenda climática e o desenvolvimento dos territórios e das comunidades, a Vale estará presente na 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA). A participação da empresa evidencia a sinergia da Vale com alguns temas que guiarão os debates da conferência: transição energética e descarbonização, proteção de florestas e da biodiversidade, impulso à bioeconomia e a promoção de uma mineração mais sustentável, com ênfase especial na Amazônia, onde a empresa atua há mais de 40 anos.

“Temos participado das COPs porque entendemos que para avançar na agenda climática é necessário um esforço coletivo e consistente, que envolve diferentes setores da sociedade. A mineração é essencial na jornada em direção a uma economia de baixo carbono. A atividade deve buscar ser justa e inclusiva, integrando proteção e recuperação ambiental, circularidade, bem-estar das comunidades e empregados, e desenvolvimento socioeconômico”, afirma Gustavo Pimenta, presidente da Vale.

Como forma de contribuir para as discussões na COP30, executivos da empresa irão participar de painéis e debates com representantes da sociedade civil, governos e setor privado. Entre os destaques, estará o exemplo da atuação da Vale na região de Carajás (PA), na Amazônia, onde a empresa alia desenvolvimento socioeconômico com proteção e recuperação da floresta e apoio às comunidades locais.

“A COP30 representa uma oportunidade para o Brasil se posicionar de forma estratégica na agenda global de sustentabilidade”, afirma Grazielle Parenti, vice-presidente de Sustentabilidade da Vale. “Nós, da Vale, estamos bem-posicionados nesse cenário. Além de a descarbonização estar fortemente conectada ao nosso negócio, temos um papel importante na proteção de florestas e da biodiversidade e no desenvolvimento dos territórios e das comunidades próximas às nossas operações, com ações concretas como a meta para retirar 500 mil pessoas da pobreza extrema no Brasil até 2030”.

Na COP30, a Vale participará de iniciativas que vão apoiar a promoção do debate sobre o enfrentamento das mudanças climáticas e o papel que o setor privado tem a exercer. A CASE – Casa de Soluções, em parceria com outras grandes empresas brasileiras, tem como proposta apresentar soluções com potencial de escala global, reforçando o papel do Brasil como protagonista climático.

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Em parceria com a Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), a Vale irá sediar a Casa da Biodiversidade na sede do Instituto Tecnológico Vale (ITV), com o intuito de contribuir para que a pauta de biodiversidade acompanhe o mesmo ritmo da pauta de mudanças climáticas durante a COP.

“As discussões sobre clima e natureza passam necessariamente pela dimensão de pessoas, de comunidades resilientes, de diversidade e de fortalecimento das identidades. Acreditamos em uma transição justa, na qual os recursos humanos, materiais e financeiros sejam direcionados para uma economia que gere valor para as pessoas e para o planeta”, afirma Hugo Barreto, diretor de Clima, Natureza e Investimento Cultural da Vale, que menciona também ações culturais da Vale em Belém como a articulação e patrocínio ao Museu das Amazônias e à exposição Brasil Terra Indígena no Museu Emílio Goeldi.

Entre as iniciativas que a Vale vai apresentar na Conferência, estão:

Coalizão de Minerais Essenciais – A Vale irá apresentar na EY House o relatório da Coalizão Minerais Essenciais. Coordenado por Vale, Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), o estudo aponta caminhos potenciais para reduzir em até 90% as próprias emissões de carbono do setor de mineração brasileiro e contribuir para a diminuição das emissões totais do Brasil até 2050. O documento também reforça que o setor mineral brasileiro tem potencial de reduzir as emissões globais da cadeia do aço e apoiar o processo de eletrificação global.

Apoio à transição energética do planeta e à descarbonização da siderurgia – A Vale fornece minérios e metais essenciais para a transição energética e o combate às mudanças climáticas. A empresa assumiu metas de redução de emissões: 33% nos escopos 1 e 2 até 2030, 15% de redução no escopo 3 até 2035, e emissões líquidas zero até 2050.

Para descarbonizar suas operações, a Vale testa caminhões bicombustíveis e uso ampliado de biodiesel, entre outras iniciativas.

Na siderurgia, a empresa investe em inovação, qualidade e parcerias para descarbonizar o setor. Foram firmados acordos com mais de 50 clientes com soluções para descarbonização. A Vale criou o briquete de minério de ferro, que reduz emissões em até 10% e pode viabilizar o aço verde com o uso de hidrogênio.

No transporte marítimo, a empresa busca zerar emissões até 2050 com tecnologias como as velas rotativas e desenvolve navios com tanques multicombustíveis com potencial de reduzir emissões em até 80%.

 

Atuação na Amazônia: vocação para soluções baseadas na natureza – A Vale atua há 40 anos na Amazônia com responsabilidade socioambiental, protegendo 800 mil hectares no Mosaico de Carajás, em parceria com o ICMBio. Suas operações ocupam apenas 3% da área. Nos últimos dez anos, investiu mais de R$ 1 bilhão em ações sociais, ambientais, culturais e de inovação, sendo R$ 910 milhões de forma voluntária.

A empresa fomenta a bioeconomia por meio do Fundo Vale e parcerias que fortalecem cadeias produtivas sustentáveis. O Fundo Vale já mobilizou 90 parceiros e investiu R$ 400 milhões, apoiando 400 negócios de impacto. Mais de 60 mil pessoas foram beneficiadas e 18 mil hectares recuperados.

A Vale também catalisa investimentos mistos e promove negócios com impacto positivo em biodiversidade e clima. Esses negócios ganham escala e autonomia, gerando reinvestimentos sustentáveis. A atuação da Vale busca deixar legados duradouros para a Amazônia e seus povos. Tudo isso reforça o compromisso da empresa com a preservação e o desenvolvimento sustentável da região.

 

Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável – Atuando há 15 anos na Amazônia, o ITV é um centro de pesquisa multidisciplinar que investiu nesse período cerca de R$ 600 milhões em projetos que impulsionam o desenvolvimento sustentável no bioma amazônico e no Brasil. Em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) o ITV-DS desenvolve o projeto Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB), o maior esforço de sequenciamento genético da fauna e flora já realizado do país. Com US$ 25 milhões em investimentos até 2027, o GBB ampliará o monitoramento e a conservação de espécies, além de impulsionar a bioeconomia, aplicando DNA ambiental em larga escala e promovendo a capacitação de especialistas para fortalecer a preservação da biodiversidade.

Durante a COP30, o ITV receberá a Casa da Biodiversidade.

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Economia Circular – Alinhada ao movimento global de cuidado com o planeta, a circularidade se materializa na Vale por meio do Programa de Mineração Circular. Com ele, a empresa busca alcançar o máximo aproveitamento de suas reservas minerais com a menor geração de estéril e rejeito possível, além da neutralidade em emissão de carbono em toda a cadeia de valor do processo produtivo de minério de ferro.

O Programa já identificou mais de 100 iniciativas de Mineração Circular na Vale, sendo que diversas estão em execução e mostram que a circularidade é uma realidade nas operações. Em 2024, foram produzidos 12.7 milhões de toneladas de minério de ferro por meio de fontes circulares e, até 2030, há o potencial de que aproximadamente 10% da produção anual de minério de ferro seja proveniente da mineração circular.

O programa tem três eixos: reaproveitamento e redução de rejeito, aproveitamento de estéril e desenvolvimento de coprodutos.

Espaços em que a Vale estará presente durante a COP 30

Espaço C.A.S.E

A Vale é uma das fundadoras da iniciativa C.A.S.E. (Climate Action Solutions & Engagement), em parceria com outras grandes empresas brasileiras. A proposta é evidenciar projetos com potencial de escala global, reforçando o papel do Brasil como protagonista climático. Com essa abordagem, a C.A.S.E. – Casa de Soluções se estabelece como uma plataforma de articulação coletiva, voltada a fortalecer o papel do setor privado brasileiro na transição para uma economia mais sustentável, inclusiva e resiliente.

Casa da Biodiversidade

A “Casa”, sediada no Instituto Tecnológico Vale, é coordenada pela Abema (Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente), em parceria com a Vale, o Instituto Tecnológico Vale (ITV) e outros parceiros. Será um espaço dedicado a trocas entre governos, comunidades, academia, setor privado, sociedade civil organizada e organismos internacionais. O objetivo será integrar as agendas das três Convenções do Rio – Clima (UNFCCC), Biodiversidade (CDB) e Combate à Desertificação (UNCCD) – conectando escalas e setores.

Entenda as diferenças entre os fundos que promovem a proteção das florestas brasileiras e tropicais

O Brasil chegou à COP30 com um anúncio ambicioso: o lançamento do fundo Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), acompanhado de mais de US$ 5,5 bilhões em compromissos iniciais.Por outro lado, o país já opera há anos o Fundo Amazônia, que tem foco específico na Amazônia Legal.

Assim, embora ambos os mecanismos atuem em prol do meio ambiente, eles se diferenciam em escopo, modelo financeiro, mecanismo de repasse e governança. Vamos explorar essas diferenças com clareza.

Origem e escopo de atuação

O Fundo Amazônia foi criado em 2008 com a missão de captar doações para apoiar o combate ao desmatamento, o manejo sustentável e a recuperação na Amazônia Legal brasileira.

Já o TFFF surge como proposta no âmbito internacional. Foi apresentada pelo Brasil durante a COP28 em Dubai (2023) e ganha corpo na COP30.

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No escopo, o TFFF é voltado para “florestas tropicais de países em desenvolvimento”, não apenas para o Brasil.

Em contraste, o Fundo Amazônia atua exclusivamente na Amazônia Brasileira, ou seja, dentro da chamada Amazônia Legal.

Modelo de financiamento

No caso do Fundo Amazônia, os recursos são provenientes de doações não reembolsáveis de governos estrangeiros (como Noruega e Alemanha) e de empresas nacionais.

GettyImages-1583885831-1 Entenda as diferenças entre os fundos que promovem a proteção das florestas brasileiras e tropicaisPor outro lado, o TFFF se configura como um mecanismo híbrido, que busca captar investimentos públicos e privados, com potencial de gerar retorno financeiro aos investidores.

Vale destacar que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que “não será doação, será investimento” no caso do TFFF.

Mecanismo de repasse de recursos

No Fundo Amazônia, os recursos são repassados por meio de editais para projetos de órgãos governamentais brasileiros, ONGs ou outras entidades que atuam na Amazônia. A gestão é operada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio do Comitê Orientador (COFA).

Já o TFFF propõe remuneração anual fixa aos países que mantêm ou restauram floresta, com pelo menos 20% dos recursos destinados a povos indígenas e comunidades locais.

Governança e participação dos povos indígenas e comunidades locais

Um dos elementos modernos do TFFF é a exigência de participação de comunidades indígenas no processo e de um percentual mínimo para essas comunidades. O Greenpeace destaca que esse mecanismo reconhece “guardião da floresta” como ator essencial.

No Fundo Amazônia, embora existam critérios e participação de diversas entidades nacionais, o modelo historicamente foi mais centralizado nos recursos públicos e doações externas.

Metas e ambições

O TFFF estabeleceu metas ambiciosas: alcançar US$ 10 bilhões em aportes até 2026 e um total de até US$ 125 bilhões ao longo do tempo.

Enquanto isso, o Fundo Amazônia concentra-se no território brasileiro, com foco na redução do desmatamento e no manejo florestal sustentável, dentro de desafios políticos e operacionais nacionais.

Impactos previstos e desafios

Ambos os fundos assumem que a floresta em pé vale mais do que a floresta destruída, tanto em serviços ecossistêmicos quanto em regulação climática e biodiversidade.

No entanto, o TFFF ainda enfrenta desafios práticos: critérios de elegibilidade, monitoramento de degradação (além de desmatamento), governança robusta e dependência de mercados financeiros.

Para o Brasil, isso representa uma oportunidade histórica, mas exige coerência e articulação entre governo, investidores e comunidades locais. A execução será a chave.

Por que a diferen­ça importa para a Amazônia e o mundo?

Para a Amazônia brasileira, o Fundo Amazônia continua sendo uma ferramenta relevante de financiamento vinculado à conservação e ao desenvolvimento sustentável. Ele opera em âmbito nacional e está familiarizado com a realidade local.

Já o TFFF tem o potencial de mobilizar capital global, fortalecer a posição do Brasil como líder em conservação de florestas tropicais e incluir uma lógica de remuneração por serviço ambiental de floresta em pé. Isso implica maior escala e um novo paradigma de financiamento.

Dessa maneira, a distinção entre os dois fundos não é apenas técnica: ela reflete diferentes caminhos de financiamento florestal — um nacional e focado, o outro global e ambicioso.

Como isso pode impactar comunidades e ecossistemas?

Comunidades indígenas, povos tradicionais e agricultores familiares são peças-chave nesse cenário. O TFFF prevê que pelo menos 20% dos recursos sejam destinados a essas comunidades. Isso significa respeito a saberes ancestrais, inclusão e autonomia local.

Para os ecossistemas, especialmente a Amazônia Legal, essa dupla abordagem (Fundo Amazônia + TFFF) pode gerar fontes estáveis de financiamento, suporte à restauração e à conservação, além de criar incentivos para que a floresta em pé seja valorizada como capital natural.

Considerações finais

Em resumo, o Fundo Amazônia e o TFFF operam com propósitos próximos — preservar florestas, reduzir desmatamento, promover sustentabilidade — mas com estratégias distintas. O primeiro é mais restrito ao Brasil; o segundo tem alcance global e lógica de investimento.

Para o Brasil e para o mundo, a articulação de ambos os fundos pode significar uma nova era para o financiamento florestal: mais coerente, mais sistêmico, mais justo. Resta acompanhar como esses mecanismos serão operacionalizados e como os resultados virão na prática.

Vale lembrar que, como artigo de reflexão, este conteúdo não substitui a análise especializada de investimentos ou políticas públicas. Recomendamos seguir a evolução desses instrumentos em fontes oficiais e de confiança.

Para conhecer mais sobre o TFFF, veja a explicação da National Geographic Brasil. Confira aqui. Para mais detalhes sobre o Fundo Amazônia, consulte a página da Greenpeace Brasil sobre financiamento florestal. saiba mais aqui.

Com isso, esperamos que você tenha um panorama claro dessas iniciativas que podem transformar a forma como valorizamos e financiamo­s as florestas tropicais — e, em especial, a Amazônia.

TechZone no PCT Guamá debate cidades inteligentes e IA na Amazônia

No Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá (PCT Guamá), em Belém, o primeiro dia da TechZone reuniu pesquisadores, gestores públicos e empreendedores em torno de um desafio comum: pensar a Amazônia como território de inovação tecnológica e sustentabilidade. A programação de abertura teve como eixo o tema “Cidades Inteligentes e Sustentáveis”, conectando projetos que unem ciência, conectividade e inteligência artificial (IA) ao desenvolvimento urbano e ambiental da região.

O painel “A Vanguarda Tecnológica no Diagnóstico da Saúde e Monitoramento Ambiental na Amazônia” apresentou soluções que aplicam IA para melhorar a qualidade de vida das populações amazônicas. Entre os destaques, a pesquisadora Luciana da Silva, da Rede Genômica para Medicina de Precisão e Vigilância de Doenças Infecciosas (REVIGEN), vinculada ao Instituto Evandro Chagas, mostrou como a genômica e a medicina de precisão estão transformando o enfrentamento de doenças como dengue, tuberculose, malária e Covid-19.

“Estamos retirando essas tecnologias de centros concentrados no Sul e Sudeste e expandindo seu acesso para o Norte e Nordeste, levando inovação a quem mais precisa”, destacou Luciana. O projeto propõe o uso de sequenciamento genético e dados ambientais para personalizar tratamentos e antecipar surtos, aproximando a pesquisa científica da saúde pública local.

Outro projeto apresentado foi o INCT STREAM – Processamento e Transmissão de Sinais para Análise e Monitoramento Ambiental, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Coordenado por Aldebaro Klautau, o programa utiliza sensoriamento multimodal, robótica e IA para analisar dados ambientais e apoiar a gestão sustentável de biomas e áreas agrícolas. “Discutimos tecnologias como 5G e 6G, sensores e satélites aplicados à regularização fundiária, inventário florestal e inclusão digital. Nosso foco é monitorar o ambiente com eficiência e baixo custo”, explicou Klautau.

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Redes inteligentes e inovação social

A agenda também destacou o INCT IAmazônia – Inteligência Artificial Aplicada às Cidades Inteligentes e Sustentáveis na Amazônia Brasileira, que busca integrar IA a políticas públicas e serviços urbanos. A iniciativa, composta por mais de 35 instituições de pesquisa e empresas, trabalha para desenvolver redes inteligentes voltadas a transporte, saúde, educação e saneamento adaptadas às especificidades amazônicas.

Para Evelin Gomes, pesquisadora do IAmazônia, o projeto coloca a Amazônia no centro da agenda tecnológica global. “Nosso objetivo é tornar as cidades mais resilientes às mudanças climáticas e incluir comunidades tradicionais no processo de inovação. É um projeto que dialoga diretamente com os temas da COP30, sediada aqui em Belém”, destacou.

Smart City Canaã e conectividade sustentável

O segundo painel apresentou a Smart City Canaã dos Carajás, iniciativa da Prefeitura de Canaã dos Carajás em parceria com a UFPA. A proposta combina infraestrutura tecnológica e engajamento social para criar uma cidade mais eficiente e participativa. “É essencial mostrar que a tecnologia pode ser desenvolvida para beneficiar a comunidade, independentemente do território”, afirmou Bárbara Andrade, secretária de Planejamento do município.

O projeto aposta em centros de dados locais, oficinas de capacitação e hackathons para fomentar o protagonismo digital, fortalecendo o ecossistema de inovação no interior do Pará.

Na sequência, a Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Pará (Prodepa) conduziu uma palestra sobre conectividade e inclusão digital na Amazônia, apresentando avanços em infraestrutura de rede e governança digital. Também foi lançada a Estratégia Paraense de Inteligência Artificial (EPIA) e o Marco Legal Estadual de IA, iniciativas do Governo do Pará que consolidam a inovação tecnológica como eixo do desenvolvimento sustentável.

“A inteligência artificial é uma ferramenta essencial para a gestão pública e a preservação ambiental. Nosso foco é usar a tecnologia de forma ética, responsável e sustentável”, afirmou Lilian Haber, procuradora do Estado.

Continuidade da programação

A TechZone é promovida pelo PCT Guamá, pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), pela Prodepa e pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).
A programação segue nesta terça-feira (11), com debates voltados aos recursos hídricos da Amazônia, incluindo soluções inovadoras para comunidades costeiras e o uso sustentável da água na região — um dos temas estratégicos para o futuro climático e social da floresta.

Ciência e tradição se encontram na Tecnofam Terena

No dia 10 de novembro de 2025, a Aldeia Lagoinha, no Território Indígena Taunay/Ipegue, em Aquidauana, MS, será palco da terceira edição da Tecnofam Terena, evento inspirado na Tecnofam (Tecnologias e Conhecimentos para a Agricultura Familiar) realizada em Dourados desde 2014. O evento será das 7h às 16h45 para agricultores, alunos, professores e lideranças locais. A iniciativa tem como objetivo promover o diálogo entre o conhecimento tradicional indígena e as inovações da agricultura familiar, fortalecendo a troca de saberes e práticas sustentáveis.

Pela primeira vez, o evento contará com a participação direta de instituições de pesquisa, transferência de tecnologia e extensão rural, ampliando o alcance dos giros técnicos por áreas experimentais, oficinas tecnológicas, apresentações culturais, palestras e espaço de exposições de projetos. A Embrapa é uma dessas instituições, que participa com quatro oficinas conduzidas por pesquisadores e por um técnico agrícola das unidades Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) e Embrapa Pantanal (Corumbá, MS).

A engenheira florestal Iara Ferreira da Silva Terena, uma das organizadoras do evento, explica que o Tecnofam Terena nasceu dentro da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Pastor Reginaldo Miguel – HOYENÓ’O, a partir de uma visita de alunos ao Tecnofam promovido pela Embrapa em Dourados. “Levamos os estudantes do curso técnico em Agroecologia para conhecer o evento em 2022. A intenção foi mostrar, na prática, a perspectiva de inovação e tecnologia que eles estudavam em sala de aula. Ao retornarmos, surgiu a ideia de fazermos algo parecido para trazer um pouco do que foi visto no evento”, relembra. A partir dessa experiência, nasceu o projeto que hoje mobiliza as sete aldeias do território e o distrito de Taunay, reunindo agricultores, alunos, professores e lideranças locais.

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O pesquisador e chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste, Auro Akio Otsubo, destaca que a Tecnofam Terena é um desdobramento direto das ações da Tecnofam e um exemplo concreto de como a transferência de tecnologia pode gerar resultados duradouros nas comunidades. “A Tecnofam tem se mostrado um importante instrumento de aprendizagem e integração entre produtores, técnicos e estudantes. Muitas vezes, os impactos são difíceis de mensurar, mas sabemos que o reflexo dessas trocas é muito grande. Os participantes retornam às suas comunidades, aplicam o que aprenderam e promovem melhorias que vão além do que conseguimos acompanhar diretamente”, afirma.

Oficinas tecnológicas

Inspirado pela experiência de Dourados, a Tecnofam Terena também contará com oficinas tecnológicas que unem ciência e tradição. Uma delas será conduzida pelo próprio Otsubo, com o tema “Mandioca que sustenta: Oficina Tecnológica Heve Xupú para Boas Práticas de Seleção e Preparo de Material de Plantio de Mandioca em Território Indígena do Pantanal”. A capacitação vai abordar qualidade e manejo do material de plantio, além de aspectos ligados à sanidade e controle de pragas. “A mandioca é parte fundamental da alimentação das famílias indígenas e também uma importante fonte de renda. Por isso, o tema é estratégico para o fortalecimento produtivo das aldeias”, explica o pesquisador.

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A edição deste ano incorpora temas ligados à soberania alimentar, com oficinas sobre hortaliças, fruticultura, batata-doce e criação de galinhas caipiras, atividades demandadas pelas próprias comunidades. “Tudo isso reforça o papel da Embrapa em sua missão de apoiar o desenvolvimento regional e fortalecer os sistemas produtivos da agricultura familiar e indígena”, completa Otsubo.

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Outra oficina promovida pela Embrapa Agropecuária Oeste é intitulada “Da semente à roça: Oficina Tecnológica para Mudas de hortaliças, maracujá e mamão”, ministrada pelo pesquisador Ivo de Sá Motta. A atividade vai abordar o processo completo de produção de mudas, desde a escolha das sementes até o manejo do solo e das culturas. “Os participantes vão aprender, na prática, a produzir mudas de hortaliças e frutíferas com qualidade, utilizando adequadamente substratos, recipientes e sementes”, explica Motta.

TecnofamTerena_2025-pag2_arte-do-Professor-Heber-Delfino Ciência e tradição se encontram na Tecnofam Terena Segundo o pesquisador, a escolha das espécies trabalhadas (hortaliças, maracujá e mamão) está diretamente relacionada à segurança alimentar e nutricional das famílias indígenas. “São culturas de ciclo rápido, que garantem retorno econômico em pequenas áreas e contribuem para uma alimentação mais diversificada e saudável”, observa. Ele destaca ainda que o evento é uma oportunidade de disseminar tecnologias consolidadas, fortalecendo a sustentabilidade das práticas agrícolas nas aldeias. “Os jovens são estratégicos nesse movimento. Serão eles que atuarão, daqui para frente, na condução das atividades produtivas nas comunidades”, enfatiza.

A Embrapa Pantanal (Corumbá, MS) também estará no evento, apresentando ao público o tema “Mudas de batatas e tubérculos” por meio de oficina ministrada pelo técnico agrícola Marcos Tadeu Borges Daniel Araújo. Ele vai mostrar nove variedades de batata-doce mesa e uma ornamental, destacando o potencial produtivo, o manejo adequado e a importância nutricional dessa cultura.

Durante a oficina, ele abordará as diferenças entre as variedades, as boas práticas de plantio e colheita e a importância da batata-doce na alimentação saudável das famílias indígenas. “A batata-doce é um alimento acessível, rico em energia e nutrientes, que pode contribuir tanto para a segurança alimentar das famílias quanto para a criação de aves mais saudáveis”, destaca o técnico.

Araújo reforça a conexão entre as pesquisas da área vegetal e o projeto “Galinhas Saudáveis – Vale a Pena!”, mostrando que o excedente de produção ou os tubérculos não aproveitados podem ser utilizados na alimentação das aves, fortalecendo o conceito de aproveitamento integral e sustentabilidade nos quintais das aldeias.

Em seguida, a pesquisadora Adriana Melo de Araújo, da Embrapa Pantanal, fará palestra sobre o projeto “Galinhas saudáveis – Vale a Pena”, desenvolvido pela Embrapa Pantanal em parceria com a Agraer e com apoio da Emenda Parlamentar 2025, leva às aldeias Terena de Aquidauana, MS, práticas de criação segura e manejo sanitário de aves de quintal, fortalecendo a segurança alimentar e a autonomia das famílias indígenas.

Segundo a pesquisadora, o projeto já beneficia comunidades das aldeias Cachoeirinha, Taunay/Ipegue e Córrego Seco, promovendo aprendizado coletivo e geração de renda local. “Nosso objetivo é fortalecer a segurança alimentar das famílias e valorizar o conhecimento tradicional, integrando ciência e cultura. Quando a tecnologia chega de forma simples e adaptada, ela se torna uma ferramenta de autonomia e desenvolvimento dentro das comunidades”, afirma a pesquisadora.

Diálogo de Saberes

Para Iara, o evento representa uma oportunidade única de aproximação entre a comunidade indígena e as tecnologias desenvolvidas pela pesquisa. “A Tecnofam representa uma oportunidade valiosa para a nossa comunidade, agricultores e alunos, pois nos conecta a inovações e tecnologias que antes estavam fora do nosso alcance. Esse evento é um espaço de aprendizado e troca que fortalece a agricultura familiar, apresentando soluções práticas e adaptadas à nossa realidade”, afirma. Ela destaca ainda que a presença de instituições de pesquisa consolida parcerias e estimula o diálogo entre a escola, os produtores e os pesquisadores.

Para Otsubo, o modelo da Tecnofam consolidou-se como uma estratégia de sucesso voltada à agricultura familiar e já desperta o interesse de instituições e municípios de outras regiões do país. “A Tecnofam preencheu uma lacuna existente de eventos voltados especificamente a esse público. Hoje, ela é reconhecida nacionalmente, inclusive por instituições como a ANATER, como referência para levar tecnologia e inovação de forma adaptada às realidades locais”, avalia o pesquisador.

FIINSA COP30 propõe um capital que escuta a Amazônia

O primeiro painel, “Capital que alavanca impacto: como garantir resultados reais?”, discutiu o desafio de repensar a lógica financeira aplicada à Amazônia. A conversa, mediada por Carlos Koury, diretor de novos negócios do Idesam, reuniu Paulo Reis, da Associação dos Negócios da Sociobioeconomia da Amazônia (ASSOBIO); Denis Minev, da Bemol; Sandro Baré, do Fundo Indígena Podáali; Marcia Soares, do Fundo Vale; e Melissa Sendic, da Climate and Land Use Alliance (CLUA).

O consenso entre os debatedores foi direto: não há desenvolvimento sustentável sem diálogo com quem vive na Amazônia.

“Não basta investir na Amazônia, é preciso investir com a Amazônia”, afirmou Sandro Baré, indígena do povo Baré e diretor financeiro do Fundo Podáali. Ele defendeu que os povos indígenas e comunidades tradicionais precisam ocupar espaço nos processos de decisão sobre o destino dos recursos. “A inclusão não é apenas uma questão ética, é o que garante que o impacto seja verdadeiro e duradouro”, completou.

Na mesma linha, Paulo Reis destacou que o capital de impacto só tem legitimidade quando respeita as dinâmicas locais. “O desenvolvimento da Amazônia precisa partir do território, respeitando a cultura, o tempo e o conhecimento de quem vive aqui”, disse o presidente da ASSOBIO.

Melissa Sendic, da CLUA, reforçou o desafio de conciliar finanças globais e ecossistemas vivos. “A lógica financeira precisa se alinhar à lógica da floresta. O retorno e o impacto caminham juntos quando o capital reconhece o valor dos modos de vida locais”, afirmou.

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Quem senta à mesa do futuro amazônico

No segundo painel, “Quem senta à mesa: equilibrando forças no ecossistema amazônico”, o debate avançou sobre representatividade e protagonismo regional. Mediado por Marcus Bessa, do Impact Hub Manaus, o painel reuniu Bruna de Vita, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA); Tatiana Schor, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Noanny Maia, da Cacauaré Amazônia; Taciana Coutinho, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); e José Damasceno Karipuna, da The Nature Conservancy (TNC).

Os participantes convergiram em um ponto essencial: a sustentabilidade exige inclusão e diversidade na tomada de decisões.

“Equilibrar forças é permitir que quem produz na floresta tenha voz e espaço nas decisões sobre o futuro dela”, afirmou Noanny Maia, empreendedora e fundadora da Cacauaré.

Bruna de Vita destacou que o equilíbrio precisa estar refletido nas políticas públicas. “A bioeconomia amazônica só vai prosperar quando as políticas forem construídas com quem vive o território. A presença das mulheres, das comunidades e dos povos tradicionais dá legitimidade e força a esse processo”, afirmou a representante do MMA.

Tatiana Schor, do BID, ressaltou que os bancos multilaterais também têm papel na criação de novos instrumentos financeiros que valorizem o conhecimento local e reduzam desigualdades históricas. “O capital precisa se humanizar”, disse.

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Uma nova gramática da economia amazônica

Ao longo do dia, o FIINSA segue com painéis, rodas de conversa e uma feira de produtos da sociobiodiversidade, conectando startups, comunidades e fundos de investimento. O evento transforma Belém em laboratório vivo da transição para uma bioeconomia regenerativa, onde o valor é medido não apenas em cifras, mas em floresta em pé, renda local e inclusão social.

A iniciativa é patrocinada pelo Fundo Vale, Soros Economic Development Fund, Bemol, CNP Seguradora e o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) da Suframa. Conta ainda com apoio do Instituto Sabin, Bezos Earth Fund, Carbon Disclosure Project (CDP) e Amazon Investor Coalition.

Entre os parceiros estão o Projeto Saúde e Alegria, a Rede Amazônidas pelo Clima (RAC), o Centro de Empreendedorismo da Amazônia, a Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto (ANIM), o Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), o Instituto Arapyaú e a Casa Amazônia.

Ao propor que o capital escute o território, o FIINSA aponta uma direção clara: o futuro da Amazônia será construído não apenas com recursos, mas com respeito, escuta e corresponsabilidade.

Jovem ativista mineira de 13 anos é convidada para representar o Brasil na COP-30, em Belém

A estudante mineira Júlia Bonitese, de apenas 13 anos, foi convidada oficialmente a participar da COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém (PA). Júlia participará do painel “Diálogo Intergeracional de Alto Nível sobre Crianças e Clima”, dia 17 de novembro, dentro da Zona Azul, área reservada a embaixadores, autoridades e líderes globais — o que faz de sua presença um marco histórico para a representatividade infantojuvenil brasileira no debate climático internacional.

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Júlia Bonitese, Rodrigo Ravena (Secretário do Meio Ambiente da cidade de São Paulo), Katrin Stjernfeldt Jammeh (prefeita de Malmö, na Suécia) e Gino Van Begin (Secretário-Geral do ICLEI).
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Fundadora do projeto Pequenos Protetores do Planeta (@projeto.ppp), Júlia atua desde os 8 anos como ativista ambiental e defensora dos direitos de crianças e adolescentes na agenda climática. É Embaixadora da Justiça Climática pela Plant-for-the-Planet Brasil, consultora da organização internacional Child Rights Connect, ligada à ONU, e membro da Rede Primeira Infância de Minas Gerais.

Em seu projeto, ela promove ações presenciais de educação ambiental, como palestras, plantios e campanhas, além de conduzir o programa “Papo Natural”, em que entrevista especialistas no YouTube sobre temas como preservação, sustentabilidade e participação cidadã. Júlia também é presença constante em fóruns e câmaras legislativas, defendendo o direito de voz das crianças. Dentre essas participações, atuou na elaboração e apresentação da “Declaração das Juventudes de Belo Horizonte pelo Clima” na Câmara Municipal, junto à LCOY, e compôs a mesa de debates no evento nacional “Crianças e Jovens Rumo à COP-30”, em Brasília.

Reconhecida como uma das principais vozes da juventude ambiental no país, Júlia já recebeu dois prêmios nacionais e um internacional: foi a primeira criança agraciada com o Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade, o mais importante do Brasil na área, e recebeu o título de Embaixadora Regional da América Latina e Caribe pela Plant-for-the-Planet Global. Em 2024, representou o Brasil no ICLEI World Congress, onde encerrou o evento diante de centenas de líderes políticos mundiais.
Na COP-30, Júlia apresentará uma fala voltada à educação ambiental, à redução das desigualdades e à responsabilidade compartilhada entre governos, empresas e cidadãos. Sua mensagem principal destaca o protagonismo das crianças e jovens como agentes de mudança, não apenas vítimas da crise climática.

“Meu sonho é que as decisões sobre o clima também considerem a voz das crianças. Somos nós que viveremos as consequências do que está sendo decidido agora”, diz Júlia.

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A escola tem papel central na rotina e na visão de mundo de Júlia que, além de se dedicar prioritariamente aos estudos, vê na educação ambiental parte essencial da formação de crianças e adolescentes. Para ela, é por meio da escola que o conhecimento se transforma em consciência e ação. Ao conciliar os estudos com projetos e eventos socioambientais, demonstra que aprender e agir podem caminhar juntos, sem abrir mão das experiências próprias da infância.

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Júlia Bonitese recebe o prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade
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Mesmo reconhecida por sua atuação em projetos e eventos de relevância global, Júlia diz que o projeto deve ser de muitos, e ressalta que gostaria muito de expandi-lo a mais crianças e jovens e a mais territórios pois, para ela, ampliar o acesso ao conhecimento é o caminho para transformar o mundo. “É preciso conhecer para desejar proteger — esse é o lema do meu projeto. E por isso eu desejo chegar a mais e mais crianças e jovens a cada dia, para que eles tenham a chance de conhecer os problemas climáticos e se identificarem como solução. Juntos somos força!”, afirma.

Com atividades desenvolvidas de forma independente e sem apoio corporativo, Júlia sente por não conseguir expandir suas ações presenciais e também o programa Papo Natural. “Tudo tem um custo e nem sempre dá pra fazer tudo o que eu planejo. O Papo Natural está parado por causa dos gastos com estúdio e edição, mas o projeto tem muito potencial. Nele eu dou voz a outras crianças e levo conhecimento sem fronteiras. É só entrar no YouTube”, explica.

Impasse adia apresentação do Plano Clima brasileiro na COP30

O governo brasileiro adiou novamente o lançamento do Plano Clima, documento que define a estratégia nacional para reduzir emissões de gases de efeito estufa e ampliar a resiliência frente às mudanças climáticas. A nova previsão é que o anúncio ocorra no final da próxima semana, durante a reta final da COP30, que acontece em Belém, no Pará.

A decisão foi tomada após impasses sobre como contabilizar e distribuir responsabilidades pela redução das emissões associadas ao desmatamento em imóveis rurais privados — uma fatia crucial do total de gases lançados pelo Brasil na atmosfera. O entrave ocorre no momento em que o país tenta demonstrar ao mundo a viabilidade de suas metas climáticas e consolidar-se como liderança na agenda de descarbonização.

Divergência sobre emissões rurais trava consenso

O Plano Clima é um dos pilares da atualização da NDC brasileira — a Contribuição Nacionalmente Determinada, compromisso assumido pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris. A versão em discussão prevê que a redução das emissões geradas pelo desmatamento em áreas privadas alcance 232 milhões de toneladas de carbono até 2035, o que representaria quase metade (49%) do esforço nacional para atingir a meta mais ambiciosa.

O desafio é que esse recorte do desmatamento corresponde a 813 milhões de toneladas de carbono das 2,039 gigatoneladas de CO₂ equivalente (GtCO₂e) emitidas pelo país em 2022, segundo o Inventário Nacional de Emissões de GEE. A proposta original do plano setorial da agropecuária, colocada em consulta pública, previa reduzir 581 milhões de toneladas dentro do setor. No entanto, representantes do agronegócio se opuseram a assumir a responsabilidade direta pela mitigação do desmatamento, mesmo com a previsão de incentivos financeiros e tecnológicos.

Setor agropecuário resiste à vinculação com metas de desmatamento

Fontes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) afirmam que a resistência partiu de entidades ligadas à produção agrícola, que alegam que a meta impõe ao setor uma carga desproporcional de responsabilidade. Já integrantes da equipe técnica do governo sustentam que sem a inclusão do desmatamento rural privado, o Brasil não atingirá sua NDC.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem defendido que o Plano Clima seja integrado e vinculante, articulando mitigação e adaptação em 16 planos setoriais — incluindo agropecuária, energia, transportes e indústria. Contudo, até a tarde de segunda-feira (10), não havia consenso político suficiente para submeter o documento à Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

Adaptação também em compasso de espera

Além da parte de mitigação, o Plano Nacional de Adaptação (PNA), que define 12 metas e estratégias para preparar o país frente a eventos extremos, também não foi formalmente entregue à ONU. Apesar de tecnicamente concluído, o documento depende da validação do plano principal.

O adiamento reforça as dificuldades internas de conciliar interesses ambientais, econômicos e setoriais, especialmente em um contexto em que o governo tenta conciliar o discurso de liderança climática com a necessidade de manter competitividade na produção agroexportadora.

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Contexto internacional e pressão sobre o Brasil

A indefinição ocorre em meio à crescente pressão internacional para que o Brasil apresente planos concretos de implementação, não apenas metas. O país tem sido apontado como peça-chave para o sucesso da COP30, tanto pelo seu papel como guardião da Amazônia quanto por seu potencial de liderar uma transição justa e sustentável.

Na conferência, líderes de diferentes países acompanham atentamente as negociações. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) destacam o Brasil como um dos poucos países capazes de promover redução estrutural de emissões via controle do desmatamento.

Com o adiamento, o governo corre contra o tempo para apresentar uma versão revisada do Plano Clima ainda durante a conferência, evitando que o impasse interno comprometa sua imagem como anfitrião e articulador global da ação climática.

Um teste político e simbólico

Mais do que uma disputa técnica, o adiamento expõe o teste político da transição climática no Brasil. O plano, quando finalmente anunciado, será o principal instrumento para orientar políticas públicas, investimentos e compromissos internacionais até 2035. Sua ausência momentânea revela que o desafio da descarbonização não é apenas tecnológico, mas também de coordenação institucional e pacto federativo.

Em Belém, onde a COP30 ocorre com forte apelo à implementação e à resiliência, o episódio soa como um lembrete: o sucesso da transição verde brasileira depende menos de promessas e mais de consenso interno e execução concreta.

COP30: O progresso invisível da sustentabilidade

Todos os anos, o debate global sobre sustentabilidade retorna com novas promessas, relatórios de progresso e a mesma sensação incômoda de estagnação. Mas talvez o problema não esteja na falta de avanço — e sim na forma como estamos medindo. O progresso sustentável, muitas vezes, não é feito de grandes anúncios, e sim de transformações silenciosas que remodelam a infraestrutura, a energia e a maneira como as indústrias funcionam.

A realização da COP30 em Belém, no coração da Amazônia, marca uma virada simbólica e prática nesse olhar. Mais do que uma conferência, ela é um teste sobre como medir resultados reais e duradouros. Pela primeira vez, a ênfase recai não apenas sobre metas e compromissos, mas sobre execução e comprovação.

O foco brasileiro — em especial o do Pará, anfitrião da cúpula — é transformar ambição em prática. A ideia de “mutirão”, que permeia o discurso nacional, reflete uma transição global em curso: sair das promessas para o progresso estrutural, sustentado por colaboração entre governos, empresas e comunidades.

A transição que vem das bases

A verdadeira limitação da sustentabilidade hoje não é a inovação tecnológica, mas a capacidade da infraestrutura de acompanhar o ritmo dessa transformação. O setor elétrico é um exemplo claro. Em todo o mundo, operadores enfrentam o desafio de integrar fontes renováveis intermitentes, equilibrar a demanda em tempo real e evitar o desperdício de energia limpa.

No Brasil, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) se tornou um caso emblemático dessa nova fase. Com o uso de plataformas digitais de gestão energética, foi possível recuperar mais de 211 mil MWh de energia renovável — o suficiente para abastecer cerca de 20 mil residências por um ano. O ganho não é apenas técnico: trata-se de eficiência econômica e ambiental. A iniciativa evitou perdas estimadas em US$ 11,4 milhões, reforçando que a digitalização é hoje um pilar essencial da transição energética.

Esses números ilustram um ponto central da COP30: sustentabilidade não é mais uma meta isolada de carbono, mas uma questão de capacidade sistêmica. A integração de dados, redes inteligentes e infraestrutura resiliente é o que permite transformar energia limpa em desenvolvimento sustentável.

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COP30 – Divulgação

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Medir o que realmente importa

Grande parte das métricas ESG ainda se baseia em indicadores anuais e linhas de base estáticas — insuficientes para acompanhar o dinamismo de uma economia em transição. O progresso real acontece nos ajustes finos: quando restrições de infraestrutura são superadas, quando dados preditivos otimizam fluxos energéticos em tempo real e quando clusters industriais começam a cooperar para reduzir emissões coletivamente.

São avanços não lineares, difíceis de traduzir em gráficos simples. Eles acontecem de forma distribuída, em conexões invisíveis entre sistemas elétricos, cadeias produtivas e plataformas digitais. É justamente essa complexidade que exige novas formas de medir e comunicar o progresso sustentável.

Da intenção à infraestrutura

O que se vê, portanto, é uma mudança de paradigma. A sustentabilidade deixou de ser apenas uma intenção ética ou ambiental para se tornar uma questão de infraestrutura e coordenação. As soluções digitais — da inteligência artificial aplicada à gestão energética ao compartilhamento de dados industriais — estão redefinindo o que significa “progresso verde”.

Belém, ao sediar a COP30, se torna o palco dessa virada: de uma agenda focada em promessas, para uma voltada à execução. A cúpula buscará debater como financiar a resiliência climática, digitalizar a transição energética e construir sistemas capazes de sustentar o crescimento econômico sem ampliar as emissões.

Esse é o novo capítulo da sustentabilidade global. Ele não será contado apenas por metas de carbono, mas pela capacidade de criar redes conectadas, inteligentes e duradouras. O desafio, agora, é enxergar esse progresso — e acelerar a sua replicação.

Cidades no centro: COP30 avança da ambição à ação

No segundo dia da COP30, a capital paraense acordou com uma mensagem clara: a ação climática começa nas cidades, nos bairros e nas comunidades. A cúpula da ONU sobre mudança do clima, realizada às margens da Amazônia, dedica esta terça-feira (11) ao tema “Adaptação, Cidades e Infraestrutura”, com ênfase na governança local, bioeconomia, economia circular e uso de tecnologia e inteligência artificial para enfrentar a crise climática.

A força do local no combate global

A agenda do dia reflete um novo espírito da conferência: transformar ambição em implementação. Em vez de grandes promessas, a COP30 quer mostrar soluções concretas, lideradas por governos locais, prefeituras e comunidades. De edificações resilientes a sistemas de alerta precoce, as ações destacadas reforçam que o futuro sustentável se constrói de baixo para cima, com cidades no centro das decisões globais.

Eventos como a Reunião Ministerial de Alto Nível sobre Governança Multinível e o mutirão global Beat the Heat reforçam a ideia de que o combate ao aquecimento global passa pela cooperação entre escalas de governo. É nesse contexto que o Plano para Acelerar a Governança Multinível e a Coalizão por Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (CHAMP) entram em cena, formalizando compromissos e inspirando novas políticas.

Ação climática com base científica e dados globais

O dia também marca o lançamento do Yearbook of Global Climate Action 2025, relatório anual de ação climática global produzido pelos Climate Champions em parceria com a UN Climate Change (ONU Clima). O documento, com dados do portal NAZCA, mostra que 95% dos países já envolvem cidades, empresas e sociedade civil na execução de suas metas climáticas — um sinal de que a “ação de toda a sociedade” está ganhando força.

O relatório, porém, alerta para a necessidade de alinhar ambição nacional e execução local, com maior financiamento e capacidade técnica. Em sintonia com o espírito do “mutirão climático” defendido pelo Brasil, o segundo dia da conferência celebra o poder da ação multinível e colaborativa, que conecta comunidades e fortalece resiliência.

Mais detalhes, incluindo prefácios dos Campeões de Alto Nível do Clima, Nigar Arpadarai (COP29), Dan Ioschpe (COP30) e Simon Stiell, podem ser encontrados na UN Climate Change Newsroom.

2025-09-15t154954z_1_lynxnpel8e0nx_rtroptp_4_onu-cop30-equipe-limita-400x239 Cidades no centro: COP30 avança da ambição à ação
Reuters/Marx Vasconcelos/proibida reprodução

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Coletiva de Imprensa

Às 18h (PC Room 1), a CEO da COP30, Ana Toni, conduzirá a coletiva diária, acompanhada de lideranças que debaterão o papel dos governos locais na aceleração da implementação climática. As atualizações podem ser acompanhadas pelo canal oficial da COP30 no WhatsApp.

Agenda do Dia – Terça, 11 de Novembro

10:30 – 12:00 | Painel Ministerial de Alto Nível – Governança Multinível para o Acordo de Paris
Lançamento oficial do Plano para Acelerar a Governança Multinível e institucionalização da CHAMP, consolidando compromissos entre países.
Local: SE Room 3, Parnaíba (GCA Amphitheatre), Zona Azul – Aberto

10:30 – 12:00 | Evento Ministerial – Gestão de Resíduos e Economia Circular
A iniciativa “Circular Economy NOW!” mostra como transformar resíduos em recursos, com foco em cidades, setor informal e inclusão comunitária.
Local: Sala GCA 2, Madeira – Aberto

12:30 – 14:00 | Evento Ministerial – Água e Ação Climática: “Águas da Mudança”
Debate sobre cooperação hídrica global e avanços no ODS 6, conectando resultados da COP28 e COP29 com o Fórum Político de Alto Nível e a ONU Água.
Local: Sala de Eventos Especiais 2, Madeira (Square-40), Zona Azul – Aberto

12:30 – 13:30 | Apresentação – Alertas Precoces para Todos (EW4All)
Lançamento do Relatório Global de Síntese sobre Gestão Abrangente de Riscos, com soluções locais para ampliação dos sistemas de alerta.
Local: Sala de Ação 4, Espaços Temáticos da Agenda de Ação, Zona Azul – Aberto

12:30 – 14:00 | Reunião Ministerial – Conselho Intergovernamental para Edifícios e Clima (ICBC)
Primeiro encontro do ICBC, voltado à descarbonização do setor da construção e à implementação do Chamado à Ação de Belém pelo Clima.
Local: Sala São Francisco, Zona Azul – Aberto

14:00 – 15:00 | Lançamento – Programa de Investimento em Água da América Latina e Caribe (LAC-IP)
O LAC-IP mobilizará US$ 20 bilhões em investimentos hídricos resilientes até 2030.
Local: Sala de Ação 4, Espaços Temáticos da Agenda de Ação, Zona Azul – Aberto

14:30 – 16:00 | Sessão de Alto Nível – Beat the Heat / Mutirão contra o Calor Extremo
Implementação do Beat the Heat Implementation Drive, parceria entre a Presidência da COP30 e a Cool Coalition, sob o PNUMA.
Local: Sala de Eventos Especiais 3, Parnaíba (Anfiteatro GCA), Zona Azul – Aberto

16:30 – 18:00 | Plenária – Mutirão para Ação Climática Multinível
Reunião Ministerial sobre Urbanização e Mudanças Climáticas, organizada pelo Ministério das Cidades do Brasil e o ONU-Habitat, com foco em cidades no centro das novas NDCs 3.0.
Local: Sala SE Parnaíba (Teatro) – Aberto

18:15 – 19:15 | Evento de Abertura – Agenda Global de Ação Climática (GCA Opening)
Início oficial das duas semanas de atividades da Agenda de Ação Climática Global, celebrando uma década de avanços desde o lançamento da Marrakech Partnership.
Local: Sala de Ação 6 – Aberto ao público

Loja de Inconveniência convida Belém a romper o silêncio sobre violência infantil

A aproximação da COP30 em Belém traz consigo eventos que ultrapassam a pauta técnica de emissões e acordos climáticos: entre essas iniciativas está a instalação denominada “Loja de Inconveniência”, promovida pela Vibra Energia, no espaço da Casa Brasil Belém 2025. A ideia pode parecer paradoxal: uma “loja” que, em vez de bens de consumo, oferece confrontos com realidades duras — neste caso, a violência sexual contra crianças e adolescentes —, exigindo não menos que ação dos visitantes.
Em pleno ambiente da conferência global, onde as atenções se voltam ao futuro climático, surge esse recado direto: enquanto falamos de preservação, redução de carbono e transição energética, existe uma crise silenciosa acontecendo ao lado. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, apenas 8,5 % dos casos de exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil são formalmente denunciados; no mesmo ritmo, o Polícia Rodoviária Federal identificou mais de 17 mil pontos vulneráveis em rodovias federais (Mapear 2023/2024) para esse tipo de crime. A “Loja de Inconveniência” joga esses números, e o silenciamento que os acompanha, à cara de quem passa.
O funcionamento da instalação, acessível gratuitamente na Casa Brasil Belém 2025 (Praça Waldemar Henrique, nas proximidades das Docas de Belém), ocorre até o dia 21/11, entre 12h e 21h. Ao entrar, o público não encontra as guloseimas habituais de uma loja de conveniência — encontra dado bruto, inquietante, exposição visual da vulnerabilidade infantil e adolescente. A mensagem é clara: a proteção da infância não pode esperar. A Vibra, maior plataforma multienergia do país, convida cada visitante a se tornar parte da mudança e a denunciar, via Disque 100, casos e suspeitas.
Para a empresa, essa dimensão social se soma à sua atuação energética: a Vibra já investiu mais de R$ 7 bilhões em projetos de transição energética, e detém presença em todos os segmentos — combustíveis, lubrificantes, aviação, agronegócio — sob a bandeira de produzir mais que energia: produzir impacto. Integrar o combate à violência sexual infantil e adolescente no seu pilar ESG reforça esse posicionamento. Ao colocar a “Loja de Inconveniência” no contexto da COP30, ela sinaliza que a urgência climática e a urgência da proteção da infância não são esferas distintas, mas partes de um futuro interligado.

 

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Divulgação

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A escolha da Casa Brasil — espaço de diálogo, mobilização e visibilidade nacional — não é acidental. Ao trazer o tema para o centro da conferência, a iniciativa amplia o alcance: delegados, representantes, imprensa, visitantes internacionais circulam no local e se deparam com uma realidade brasileira que exige atenção global. A instalação funciona como provocação e ponto de viragem: após o choque inicial, o convite é concretizar em ação individual e coletiva.
Isso implica repensar o que entendemos por “segurança” e “sustentabilidade”. Mobilidade urbana pode upstreamar vulnerabilidades, igualando acessos, mas também expondo crianças a rotas de risco. A Amazônia, palco da COP30, não está imune a essas dinâmicas. Ao conectar violência sexual infantil ao contexto da conferência, há um ganho – tornar visível o invisível, traduzir números em rostos, em histórias, em urgência.
A “Loja de Inconveniência” não só chama para denúncia — ela exige engajamento. O ambiente imersivo demanda que cada pessoa que entra se pergunte: “O que eu faço com essa informação? E qual ação concreta tomo?” A Vibra aposta que a mudança de atitude começa ali — no simples ato de entrar e escutar.
É justo afirmar que a COP30 está servindo de catalisador não apenas para políticas climáticas, mas para mobilizações sociais ampliadas. Se o clima muda — e muda rápido —, as formas de vulnerabilidade também se transformam. Ao somar à agenda da conferência a proteção de crianças e adolescentes, a iniciativa amplia a noção de sustentabilidade: não apenas floresta, oceano ou carbono, mas vida, dignidade, futuro.
Quando a loja fechar suas portas no dia 21/11, resta à Belém, à Amazônia, ao país — e ao mundo que aqui aportou — lembrar que o legado de um evento global não se mede só em megawatts ou hectares preservados, mas em pessoas mais seguras, mais livres e com futuro. A instalação da Vibra está lá para que isso seja visível, decisivo e urgente.

UNAMA abre feira de bioeconomia gratuita em Belém durante a COP30

A cidade de Belém caminha para um novembro de intensa mobilização ambiental. A Universidade da Amazônia (UNAMA) assumiu o papel de anfitriã de uma sequência de iniciativas que transpõem os muros universitários para atingir a comunidade — com feira, oficinas, arte, debates e bioeconomia — todas em torno da grande conferência global de clima, a COP30. A partir de 8 de novembro, no campus Alcindo Cacela, haverá de fato um convite à participação pública, gratuito e aberto, para discutir, criar e viver a agenda amazônica no centro das atenções mundiais.

O momento alto é a Feira de Negócios e da Bioeconomia, marcada para os dias 11 a 14 de novembro, das 8h às 20h. São cerca de 100 stands que ocuparão o espaço universitário para expor biojoias, produtos artesanais paraenses, iguarias regionais, e diversos itens que se inserem na cadeia da bioeconomia local — uma economia que flui da Amazônia, da floresta e dos saberes tradicionais. A feira não é apenas vitrine: é oportunidade de geração de renda para artesãos, de visibilidade para empreendedores locais e de encontro entre inovação, natureza e mercado.

Por trás da iniciativa está o pró-reitor de Pesquisa e Extensão da UNAMA, João Cláudio Arroyo, que lembra que “há dois anos criamos um plano de ação para fortalecer esse legado”. Ele faz referência a projetos como o “Ser Recicla” (coleta seletiva e reciclagem), o “Lives COP30” (programa online sobre meio ambiente) e a “Cartilha COP30” (guia didático de educação ambiental) — iniciativas que já vinham preparando o terreno. A UNAMA, assim, articula ensino, extensão e ação pública, colocando a academia como mediadora entre comunidades e desafios ambientais.

FOTO-QUEZIA-DIASS-400x300 UNAMA abre feira de bioeconomia gratuita em Belém durante a COP30
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Mas a mobilização não se restringe à feira. No sábado 8, às 14h, o Auditório David Mufarrej dará início ao II Encontro Ecossocialista Latinoamericano e Caribenho (EELAC), evento promovido pela Associação Alternativa Terrazul, que se estenderá até o dia 11 com debates sobre justiça social, saúde, clima e preservação dos territórios indígenas. Nos dias 10 e 11, o foco recai sobre os biomas amazônicos e sobre a Mata Atlântica, no evento organizado pela Rede Mata Atlântica no próprio campus da UNAMA. Programações diárias entre 9h e 18h abrem espaço para reflexões que conectam a Amazônia às mudanças climáticas, à saúde pública, à cultura e ao território.

Na sexta-feira 14, às 19h, o debate com o ativista Thiago Ávila trará à cena o conflito palestino-israelense e sua interface com a emergência climática e geopolítica — um recado claro de que o ambiente se entrelaça a múltiplos fatores, não apenas à floresta. A programação artística também entra em cena: no debate sobre Amazônia e Mata Atlântica haverá shows dos artistas paraenses Sandra Duailibe e Nilson Chaves, integrando cultura e reflexão.

O que a UNAMA promove é, portanto, um espaço híbrido: feira de economia local, palco de debates internacionais, oficina de conscientização, ponto de encontro entre arte e ciência. E tudo gratuito, aberto à população. É uma aposta de mobilização social: trazer para a comunidade não apenas o discurso climático, mas a prática, a economia, o artesanato, a cultura da Amazônia — no mesmo cenário em que se realiza a COP30.

Esse tipo de iniciativa revela uma visão estratégica: a Amazônia não é apenas palco ou tema da conferência, ela é agente. A UNAMA coloca-se na fronteira dessa ação, oferecendo não apenas espaço físico, mas um projeto de mobilização que conecta estudantes, comunidade, artesãos, pesquisadores e público geral. A feira, os debates, os shows e as oficinas são pontos de convergência onde ciência, cultura e mercado se encontram.

Em última instância, a COP30, sediada em Belém, ganha uma extensão na cidade, além dos palácios e plenárias internacionais. Ela desce para o campus, para a praça de feira, para o bate-papo comunitário. A UNAMA mostra que um evento de âmbito global pode — e deve — criar ressonância local. Que o ruído dos bastidores internacionais se traduza em feira de biojoias, em oficina de reciclagem, em roda de conversa sobre territórios indígenas.

Quando a feira abrir suas portas e quando o público começar a percorrer os corredores da UNAMA, estará em pleno fluxo de uma Amazônia que não espera, mas atua. E talvez esse seja o maior legado: não apenas as resoluções da COP30, mas a mobilização cotidiana, tangível e persistente que surge aqui e agora, em Belém, no campus Alcindo Cacela.

Discussão climática flopou? Presidente da COP30 diz que “países ricos perderam o entusiasmo” na discussão

O presidente da COP30, o diplomata brasileiro André Corrêa do Lago, afirmou que os países ricos “perderam o entusiasmo” para combater a crise climática, enquanto a China avança na produção e no uso de tecnologias de energia limpa.
A declaração foi feita em entrevista a jornalistas em Belém (PA), cidade que sedia a conferência climática das Nações Unidas até 21 de novembro.
Segundo o The Guardian, Corrêa do Lago classificou a COP30 como “a conferência da implementação”, mas também “a conferência da realidade”, em que o mundo precisa admitir que as promessas feitas desde o Acordo de Paris estão longe de se cumprir.

“O entusiasmo do Norte Global está diminuindo, enquanto o Sul Global está se movendo”, disse o diplomata. “A China está oferecendo soluções que servem a todos, não apenas a ela.”


Brasil cobra ação e vê China liderar a transição energética

The Guardian destaca que Corrêa do Lago apontou a liderança chinesa como um exemplo de pragmatismo e eficiência.
Apesar de ser o maior emissor de gases de efeito estufa, o país asiático é também o maior produtor e consumidor de energia limpa do planeta.
Segundo ele, os avanços em energia solar e equipamentos de baixo carbono tornaram a China um modelo para a nova economia verde.

“Os painéis solares estão mais baratos e são competitivos com os combustíveis fósseis. Se você pensa em mudanças climáticas, isso é algo positivo”, afirmou o presidente da COP30.

Para o diplomata, a queda no engajamento político dos países desenvolvidos é um sinal preocupante.
Enquanto as economias do Norte perdem impulso, países em desenvolvimento começam a se mover com mais força, embora ainda dependam de recursos financeiros e tecnológicos prometidos e não entregues.


O desafio: cumprir o Acordo de Paris antes que o tempo acabe

Durante as próximas duas semanas, representantes de 194 países tentarão definir um caminho para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, conforme previsto no Acordo de Paris.
Mas, de acordo com dados citados pelo Guardian, os planos nacionais de emissões atuais levariam a um aumento de até 2,5°C, o que seria devastador para ecossistemas e populações vulneráveis.

Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS) cobrou metas mais ambiciosas e um “roteiro claro para cortes mais profundos nas emissões”, segundo a embaixadora de Palau na ONU, Ilana Seid.

“O progresso tem sido insuficiente. Precisamos de uma resposta concreta. O limite de 1,5°C deve ser a nossa estrela do norte”, afirmou.


Brasil aposta na implementação, mas divisões persistem

O governo brasileiro quer fazer da COP30 a conferência da implementação — o momento de colocar em prática os compromissos já assumidos:

  • Triplicar a geração de energia renovável até 2030;
  • Dobrar a eficiência energética global;
  • Reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.

No entanto, a reportagem do Guardian observa que divergências entre países desenvolvidos e em desenvolvimentoseguem marcando o início das negociações.
Mesmo após seis meses de articulação diplomática, o Brasil não conseguiu evitar conflitos sobre o foco da agenda e sobre como financiar a transição justa.


Metano: promessa global enfraquecida

O Guardian também revelou que uma promessa climática-chave da COP26, em Glasgow, está sendo descumprida.
Compromisso Global do Metano, firmado por 159 países e que previa reduzir em 30% as emissões do gás até 2030, está em colapso.
Dados da empresa de satélites Kayrros mostram que as emissões de seis dos principais signatários (incluindo EUA e Austrália) estão hoje 8,5% acima dos níveis de 2020.

“Apesar das promessas, as emissões de metano continuam subindo”, disse Antoine Rostand, presidente da Kayrros.
“O relógio está correndo — e a inação tem um custo devastador.”

O metano é 80 vezes mais potente que o CO₂ no curto prazo e responde por um terço do aquecimento global recente.
Para Durwood Zaelke, presidente do Instituto de Governança e Desenvolvimento Sustentável, o momento exige um novo acordo global vinculante sobre o metano, e não apenas compromissos voluntários.

“As promessas não estão sendo cumpridas. Precisamos de regras, não de intenções”, afirmou.


O retrato da COP30 segundo o The Guardian

A cobertura do The Guardian descreve um cenário de frustração e esperança contida:

  • Sul Global tenta assumir protagonismo;
  • Norte Global desacelera suas ambições;
  • E o Brasil tenta conduzir o debate entre pragmatismo e urgência moral.

Com o planeta se aproximando de pontos de não retorno, a COP30 é vista como a última grande chance de restaurar a confiança climática internacional.

“O entusiasmo diminuiu, mas a realidade não espera”, conclui a reportagem.

COP30 deve focar em pessoas, não apenas em metas, diz Organização Internacional para as Migrações

Durante a COP30, que acontece entre 10 e 21 de novembro em Belém (PA), a Organização Internacional para as Migrações (OIM) faz um chamado global: proteger as pessoas na linha de frente da crise climática, garantindo que nenhum grupo vulnerável seja deixado para trás.
Para a instituição, a ação climática precisa ser centrada nas pessoas, justa e inclusiva, considerando tanto quem luta para permanecer em seus territórios quanto aqueles que precisam se deslocar por causa dos impactos ambientais.

“As decisões tomadas em Belém devem colocar as pessoas — não apenas as metas — no centro da ação climática”, afirma a OIM em nota oficial.


O deslocamento humano como consequência da crise climática

Segundo dados recentes da OIM, mais de 45 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas em 2024 por causa de desastres naturais — o maior número já registrado.
Secas prolongadas, enchentes, tempestades, ondas de calor e elevação do nível do mar têm destruído comunidades inteiras e forçado deslocamentos internos em diferentes regiões do planeta.

A organização alerta que a mobilidade climática já é uma realidade global e que governos precisam garantir que migrar seja uma escolha segura, e não uma medida desesperada.

“O financiamento climático deve chegar a quem mais precisa — para que famílias possam se adaptar, reconstruir suas vidas ou se deslocar com dignidade quando necessário”, destaca a nota.


O Pavilhão da OIM na COP30

A OIM participa da conferência em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e a Secretaria Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável.
Seu pavilhão na COP30 reunirá experiências e histórias de diversas partes do mundo, mostrando como comunidades estão transformando os desafios da crise climática em iniciativas de resiliência e inovação.

Os visitantes poderão:

  • Ouvir relatos diretos de pessoas que enfrentam os impactos climáticos no dia a dia — de líderes indígenas a famílias deslocadas;

  • Conhecer projetos liderados por jovens que transformam ideias locais em soluções globais;

  • Acompanhar painéis técnicos com especialistas discutindo como a mobilidade humana pode fortalecer as estratégias de adaptação climática.

“As comunidades afetadas não devem apenas ser ouvidas, mas liderar as decisões que moldam seu próprio futuro”, reforça a organização.


Um apelo humanitário e urgente

A OIM ressalta que a ação climática precisa ultrapassar as negociações técnicas e se conectar com realidades humanas.
Com milhões de pessoas já deslocadas, e outras ameaçadas por eventos extremos, o tempo para agir é agora.

“Podemos transformar ambição em ação — e construir um mundo onde ninguém seja deixado para trás”, conclui a OIM.

COP da Verdade? DW diz que mundo está “longe das metas climáticas”

A Deutsche Welle (DW) classificou a COP30, que começou em Belém (PA), como a “conferência da verdade” — um momento decisivo em que líderes mundiais precisarão enfrentar a realidade da crise climática e mostrar resultados concretos após décadas de promessas.
Apesar da importância simbólica de sediar o evento no coração da Amazônia, a DW alerta: o mundo já ultrapassou o limite de 1,5°C de aquecimento definido em Paris, e nenhum país está cumprindo suas metas climáticas.

“O encontro no Brasil precisa ser mais do que retórica. É hora de transformar compromissos em ação real”, escreveu o repórter Tim Schauenberg, correspondente de clima da DW.


A COP da Amazônia: esperança e pressão

Com entre 40 e 50 mil participantes, incluindo representantes de quase 200 países, a COP30 acontece em uma Belém transformada para receber o maior evento ambiental da década.
A cidade adaptou portos e hospedagens — inclusive navios e antigos clubes reformados — para acomodar as delegações que chegam à Amazônia.

O local é mais do que simbólico. A Amazônia, lembra a DW, é “o pulmão do planeta” e um epicentro da crise ambiental, onde secas, incêndios e mudanças no regime de chuvas já afetam ecossistemas e comunidades locais.
A região, ao mesmo tempo rica em biodiversidade e marcada pela desigualdade social, ilustra a urgência de unir desenvolvimento e conservação — um dos principais desafios da conferência.


“Conferência da Verdade”: o recado de Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu o encontro como a “conferência da verdade”, reforçando que o momento exige reconhecer a gravidade da crise climática e agir de forma coordenada.
O governo brasileiro também batizou o evento de “COP da Implementação”, com o objetivo de executar promessas antigas e recuperar a confiança internacional.

Mas a DW lembra: apesar do discurso otimista, menos de 70 países entregaram novas metas de redução de emissões (as NDCs) até novembro, descumprindo prazos importantes.

“Estamos frustrados”, reconheceu o presidente da conferência, André Corrêa do Lago.
“Dois prazos já passaram sem que os países cumprissem seus compromissos. Isso é preocupante.”


Brasil tenta liderar em meio a um mundo dividido

Para o Brasil, a COP30 é uma oportunidade de reafirmar liderança global e mostrar que é possível conciliar progresso econômico e sustentabilidade.
Mas o contexto internacional é adverso.
A DW destaca que guerras, disputas comerciais e a retirada dos EUA do Acordo de Paris — sob o governo de Donald Trumpfragilizaram o multilateralismo climático.

Ainda assim, o Brasil chega com propostas concretas.
Entre elas, o “Tropical Forest Forever Facility”, um fundo que deve reunir US$ 125 bilhões para remunerar países e comunidades que protegem florestas tropicais.
Segundo o plano, 20% dos recursos seriam destinados diretamente a povos indígenas e comunidades locais.

A DW define a iniciativa como “um projeto de prestígio para o Brasil”, mas pondera que a meta de captação é ambiciosa e dependerá de forte apoio internacional.


Alemanha desacelera e China avança

A DW também analisa o papel da Alemanha, que não deve cumprir sua meta de neutralidade de carbono até 2045.
O governo alemão, segundo o texto, amplia investimentos em gás fóssil e enfraquece políticas de energia renovável, o que preocupa especialistas.

“Se a Alemanha recua, todo o bloco europeu perde força”, alertou Niklas Höhne, do Climate Action Tracker.

Enquanto isso, a China vem assumindo papel cada vez mais protagonista, mas ainda prioriza seus interesses nacionais.

“O mundo precisa de ambição concreta e transferência real de tecnologia — não de novos discursos”, afirmou Mohamed Adow, da ONG africana Power Shift Africa.


Um encontro entre a verdade e a urgência

Para a DW, a COP30 será “um teste de credibilidade global”: a chance de provar se a diplomacia climática ainda é capaz de entregar resultados.
Com o planeta já 1,3°C mais quente do que na era pré-industrial, o desafio é evitar que a próxima década se torne a da irreversibilidade.

“Belem é o lugar certo para encarar a verdade: o tempo de esperar acabou”, conclui o artigo.

Mais ambição na COP30? ONU diz que Acordo de Paris está funcionando, mas num “ritmo insuficiente”

O secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, abriu oficialmente a COP30, em Belém (PA), com um discurso que combinou otimismo cauteloso e um forte chamado à ação global.
Diante de delegações de quase 200 países, Stiell afirmou que o Acordo de Paris está funcionando, mas alertou que o ritmo atual “ainda é insuficiente para evitar uma catástrofe climática”.

“O Acordo de Paris está entregando progresso real. Mas precisamos nos esforçar com muito mais coragem”, disse o representante das Nações Unidas.


“Bem-vindos ao futuro que desenhamos em Paris”

No discurso, Stiell lembrou que há dez anos, durante a COP21 em Paris, o mundo “desenhava o futuro” que hoje começa a tomar forma — com a curva global de emissões finalmente em queda.
Segundo ele, governos legislaram e mercados responderam, resultando em avanços inéditos na transição energética.

“A curva de emissões foi dobrada para baixo. Mas ainda há muito trabalho a fazer. Precisamos agir muito mais rápido — tanto na redução das emissões quanto no fortalecimento da resiliência climática”, afirmou.

O chefe da ONU Clima destacou que o planeta ainda pode retornar à meta de 1,5°C após um eventual “ultrapasse temporário”, mas que isso exigirá coordenação e velocidade inéditas.
“Lamentar não é uma estratégia. Precisamos de soluções”, declarou.


Belém como símbolo da cooperação

Stiell comparou a COP30 à própria hidrografia amazônica, destacando que o progresso climático depende de muitos fluxos de colaboração internacional:

“O rio Amazonas não é um único curso d’água, mas um sistema sustentado por milhares de afluentes.
Assim também deve ser o processo da COP — movido por múltiplas correntes de cooperação global.”

O diplomata lembrou que nenhum país pode arcar sozinho com as perdas provocadas por eventos climáticos extremos e que “vacilar diante da fome, da seca e dos desastres seria imperdoável”.
“A economia dessa transição é tão clara quanto o custo da inação”, disse.


Transição energética e novo pacto financeiro

O discurso também apresentou as prioridades concretas para a conferência em Belém:

  • Implementar o “Roteiro Baku-Belém”, com meta de US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático até 2035;

  • Acelerar a transição energética justa, definindo acordos práticos para triplicar o uso de renováveis e dobrar a eficiência energética;

  • Colocar em prática o Programa de Implementação Tecnológica aprovado em conferências anteriores;

  • Definir indicadores claros para o Objetivo Global de Adaptação, que ajudará países a lidar com desastres climáticos;

  • Transformar compromissos em resultados mensuráveis, garantindo que a COP30 seja lembrada pela ação, não apenas pelas promessas.

“Precisamos unir o mundo das negociações à realidade da economia. Cada gigawatt de energia limpa cria empregos e reduz a poluição.
Cada ação de adaptação salva vidas e protege comunidades. Essa é a história de crescimento do século XXI”, afirmou.


Um apelo direto: “Lutem contra a crise, não uns contra os outros”

Encerrando a fala, Stiell citou Franklin Roosevelt, lembrando que a história pertence “a quem está na arena, coberto de poeira e suor, lutando com coragem”.

“Na arena da COP30, o papel de vocês não é lutar entre si — é lutar juntos contra a crise climática.”

O chefe da ONU reforçou que o mundo entrou em uma década decisiva, em que “hesitar não é mais uma opção”.

“Paris está funcionando. Mas precisamos nos esforçar ainda mais. Este é o momento de agir com coragem e ambição”, concluiu.