A Deutsche Welle (DW) classificou a COP30, que começou em Belém (PA), como a “conferência da verdade” — um momento decisivo em que líderes mundiais precisarão enfrentar a realidade da crise climática e mostrar resultados concretos após décadas de promessas. Apesar da importância simbólica de sediar o evento no coração da Amazônia, a DW alerta: o mundo já ultrapassou o limite de 1,5°C de aquecimento definido em Paris, e nenhum país está cumprindo suas metas climáticas.
“O encontro no Brasil precisa ser mais do que retórica. É hora de transformar compromissos em ação real”, escreveu o repórter Tim Schauenberg, correspondente de clima da DW.
A COP da Amazônia: esperança e pressão
Com entre 40 e 50 mil participantes, incluindo representantes de quase 200 países, a COP30 acontece em uma Belém transformada para receber o maior evento ambiental da década. A cidade adaptou portos e hospedagens — inclusive navios e antigos clubes reformados — para acomodar as delegações que chegam à Amazônia.
O local é mais do que simbólico. A Amazônia, lembra a DW, é “o pulmão do planeta” e um epicentro da crise ambiental, onde secas, incêndios e mudanças no regime de chuvas já afetam ecossistemas e comunidades locais. A região, ao mesmo tempo rica em biodiversidade e marcada pela desigualdade social, ilustra a urgência de unir desenvolvimento e conservação — um dos principais desafios da conferência.
“Conferência da Verdade”: o recado de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu o encontro como a “conferência da verdade”, reforçando que o momento exige reconhecer a gravidade da crise climática e agir de forma coordenada. O governo brasileiro também batizou o evento de “COP da Implementação”, com o objetivo de executar promessas antigas e recuperar a confiança internacional.
Mas a DW lembra: apesar do discurso otimista, menos de 70 países entregaram novas metas de redução de emissões (as NDCs) até novembro, descumprindo prazos importantes.
“Estamos frustrados”, reconheceu o presidente da conferência, André Corrêa do Lago. “Dois prazos já passaram sem que os países cumprissem seus compromissos. Isso é preocupante.”
Brasil tenta liderar em meio a um mundo dividido
Para o Brasil, a COP30 é uma oportunidade de reafirmar liderança global e mostrar que é possível conciliar progresso econômico e sustentabilidade. Mas o contexto internacional é adverso. A DW destaca que guerras, disputas comerciais e a retirada dos EUA do Acordo de Paris — sob o governo de Donald Trump — fragilizaram o multilateralismo climático.
Ainda assim, o Brasil chega com propostas concretas. Entre elas, o “Tropical Forest Forever Facility”, um fundo que deve reunir US$ 125 bilhões para remunerar países e comunidades que protegem florestas tropicais. Segundo o plano, 20% dos recursos seriam destinados diretamente a povos indígenas e comunidades locais.
A DW define a iniciativa como “um projeto de prestígio para o Brasil”, mas pondera que a meta de captação é ambiciosa e dependerá de forte apoio internacional.
Alemanha desacelera e China avança
A DW também analisa o papel da Alemanha, que não deve cumprir sua meta de neutralidade de carbono até 2045. O governo alemão, segundo o texto, amplia investimentos em gás fóssil e enfraquece políticas de energia renovável, o que preocupa especialistas.
“Se a Alemanha recua, todo o bloco europeu perde força”, alertou Niklas Höhne, do Climate Action Tracker.
Enquanto isso, a China vem assumindo papel cada vez mais protagonista, mas ainda prioriza seus interesses nacionais.
“O mundo precisa de ambição concreta e transferência real de tecnologia — não de novos discursos”, afirmou Mohamed Adow, da ONG africana Power Shift Africa.
Um encontro entre a verdade e a urgência
Para a DW, a COP30 será “um teste de credibilidade global”: a chance de provar se a diplomacia climática ainda é capaz de entregar resultados. Com o planeta já 1,3°C mais quente do que na era pré-industrial, o desafio é evitar que a próxima década se torne a da irreversibilidade.
“Belem é o lugar certo para encarar a verdade: o tempo de esperar acabou”, conclui o artigo.
O secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, abriu oficialmente a COP30, em Belém (PA), com um discurso que combinou otimismo cauteloso e um forte chamado à ação global. Diante de delegações de quase 200 países, Stiell afirmou que o Acordo de Paris está funcionando, mas alertou que o ritmo atual “ainda é insuficiente para evitar uma catástrofe climática”.
“O Acordo de Paris está entregando progresso real. Mas precisamos nos esforçar com muito mais coragem”, disse o representante das Nações Unidas.
“Bem-vindos ao futuro que desenhamos em Paris”
No discurso, Stiell lembrou que há dez anos, durante a COP21 em Paris, o mundo “desenhava o futuro” que hoje começa a tomar forma — com a curva global de emissões finalmente em queda. Segundo ele, governos legislaram e mercados responderam, resultando em avanços inéditos na transição energética.
“A curva de emissões foi dobrada para baixo. Mas ainda há muito trabalho a fazer. Precisamos agir muito mais rápido — tanto na redução das emissões quanto no fortalecimento da resiliência climática”, afirmou.
O chefe da ONU Clima destacou que o planeta ainda pode retornar à meta de 1,5°C após um eventual “ultrapasse temporário”, mas que isso exigirá coordenação e velocidade inéditas. “Lamentar não é uma estratégia. Precisamos de soluções”, declarou.
Belém como símbolo da cooperação
Stiell comparou a COP30 à própria hidrografia amazônica, destacando que o progresso climático depende de muitos fluxos de colaboração internacional:
“O rio Amazonas não é um único curso d’água, mas um sistema sustentado por milhares de afluentes. Assim também deve ser o processo da COP — movido por múltiplas correntes de cooperação global.”
O diplomata lembrou que nenhum país pode arcar sozinho com as perdas provocadas por eventos climáticos extremos e que “vacilar diante da fome, da seca e dos desastres seria imperdoável”. “A economia dessa transição é tão clara quanto o custo da inação”, disse.
Transição energética e novo pacto financeiro
O discurso também apresentou as prioridades concretas para a conferência em Belém:
Implementar o “Roteiro Baku-Belém”, com meta de US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático até 2035;
Acelerar a transição energética justa, definindo acordos práticos para triplicar o uso de renováveis e dobrar a eficiência energética;
Colocar em prática o Programa de Implementação Tecnológica aprovado em conferências anteriores;
Definir indicadores claros para o Objetivo Global de Adaptação, que ajudará países a lidar com desastres climáticos;
Transformar compromissos em resultados mensuráveis, garantindo que a COP30 seja lembrada pela ação, não apenas pelas promessas.
“Precisamos unir o mundo das negociações à realidade da economia. Cada gigawatt de energia limpa cria empregos e reduz a poluição. Cada ação de adaptação salva vidas e protege comunidades. Essa é a história de crescimento do século XXI”, afirmou.
Um apelo direto: “Lutem contra a crise, não uns contra os outros”
Encerrando a fala, Stiell citou Franklin Roosevelt, lembrando que a história pertence “a quem está na arena, coberto de poeira e suor, lutando com coragem”.
“Na arena da COP30, o papel de vocês não é lutar entre si — é lutar juntos contra a crise climática.”
O chefe da ONU reforçou que o mundo entrou em uma década decisiva, em que “hesitar não é mais uma opção”.
“Paris está funcionando. Mas precisamos nos esforçar ainda mais. Este é o momento de agir com coragem e ambição”, concluiu.
A COP30, conferência global sobre o clima da ONU, começou nesta segunda-feira (10) em Belém (PA), e promete ser uma das mais desafiadoras das últimas décadas. Mais de 50 mil delegados de 190 países, entre cientistas, diplomatas, indígenas e líderes ambientais, se reúnem por 11 dias no coração da Amazônia, tentando encontrar respostas para uma pergunta que já parece urgente demais: quem vai pagar pela crise climática — e como o mundo pode agir antes que seja tarde?
A Al Jazeera publicou um extenso explainer sobre o encontro, apontando que a conferência ocorre em meio a desacordos diplomáticos, pressões financeiras e novos recordes de aquecimento global. A reportagem destaca que, apesar do otimismo do Brasil, “os delegados chegam divididos sobre como — e quem — deve liderar a ação climática”.
Um menino chuta uma bola de futebol perto da sinalização para a conferência climática da ONU COP30 em Belém, Brasil [Arquivo: Jorge Saenz/AP]
O que é a COP e por que ela importa
A COP (Conferência das Partes) é o principal fórum da ONU sobre mudanças climáticas, criado a partir da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), firmada em 1992 no Rio de Janeiro. Desde 1995, os países se reúnem anualmente para discutir formas de reduzir as emissões de carbono e adaptar sociedades aos impactos do aquecimento global.
O tratado estabeleceu o princípio da “responsabilidade comum, porém diferenciada” — ou seja, países ricos, historicamente mais poluentes, devem arcar com maior parte dos custos da transição climática. A COP30, sediada pelo Brasil, é considerada uma oportunidade histórica para reconstruir a confiança internacionalapós anos de promessas não cumpridas.
A agenda de Belém: menos promessas, mais implementação
O governo brasileiro quer fazer desta a “COP da Implementação”, deixando de lado novas metas e priorizando a execução das promessas anteriores. O presidente da conferência, André Corrêa do Lago, enviou uma carta aos negociadores defendendo a ideia de mutirão— um termo de origem indígena que significa união em torno de um objetivo comum.
“Ou decidimos mudar por escolha, juntos, ou a mudança nos será imposta pela tragédia”, escreveu Corrêa do Lago. “Podemos mudar, mas precisamos fazer isso juntos.”
Entre os principais objetivos brasileiros estão:
Criar um roteiro global de implementação climática para a próxima década;
Avançar no “Tropical Forests Forever Facility”, fundo de US$ 25 bilhões voltado à conservação de florestas e biodiversidade, com expectativa de atrair mais US$ 100 bilhões do setor privado;
Consolidar acordos sobre a transição energética, incluindo a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, prometida na COP28.
Quem está participando (e quem ficou de fora)
Mais de 50 mil pessoas se inscreveram para a conferência em Belém — entre elas, representantes de governos, ONGs, povos indígenas e delegações de quase 200 países. Blocos políticos como o G77 (países em desenvolvimento), a Aliança dos Pequenos Estados Insulares e o grupo BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) devem ter papel ativo nas negociações.
Mas a ausência de grandes potências pesa. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a retirar o país do Acordo de Paris e chamou a crise climática de “a maior farsa já criada”. Sem delegação norte-americana e com China e Índia enviando apenas vice-ministros, a Al Jazeera destaca que “a conferência começa com um vácuo de liderança global”.
A falta de infraestrutura em Belém também virou notícia: os altos preços de hotéis e a escassez de vagas fizeram o governo brasileiro disponibilizar cabines gratuitas em navios para delegações de países mais pobres.
O que mudou desde a COP29
Apesar dos impasses, houve avanços parciais desde a última conferência, em 2024:
Energia limpa: energia solar e eólica representaram 90% da nova capacidade instalada no mundo, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável.
Mobilidade elétrica:1 em cada 5 carros vendidos no mundo em 2024 foi elétrico.
Empregos verdes: o setor de energia limpa já emprega mais pessoas que o de combustíveis fósseis.
Investimentos: os investimentos globais em energia limpa devem atingir US$ 2,2 trilhões em 2025 — o dobro do gasto em petróleo e carvão.
Mas o aquecimento global também se acelera. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, o planeta já aqueceu 1,3°C desde a era pré-industrial, e a barreira de 1,5°C pode ser ultrapassada antes de 2030.
“Mesmo um pequeno ultrapasse terá consequências dramáticas”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Isso pode empurrar ecossistemas para pontos de não retorno e expor bilhões de pessoas a condições inabitáveis.”
O peso simbólico da Amazônia
A escolha da Amazônia como sede da COP30 é carregada de simbolismo. O evento ocorre na região que mais armazena carbono no planeta — e também uma das mais ameaçadas. Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o desafio é transformar a floresta no centro das soluções climáticas e não apenas no retrato da destruição.
“Precisamos de roteiros para reverter o desmatamento, superar a dependência dos fósseis e mobilizar recursos para isso”, afirmou Lula na abertura da conferência preparatória.
Um planeta em risco
O explainer da Al Jazeera conclui lembrando que 2025 foi um ano de desastres climáticos extremos:
Ondas de calor recordes atingiram Índia e Paquistão, com picos de 48°C e colheitas devastadas;
Incêndios florestais no Mediterrâneo obrigaram 100 mil pessoas a deixarem suas casas;
Secas severas atingiram a Turquia e o sul da Europa, reduzindo chuvas em até 70%;
No Brasil, tornados e enchentes no Sul provocaram perdas humanas e econômicas inéditas.
A COP30, afirma a Al Jazeera, “é o teste de fogo de uma geração que precisa escolher entre a cooperação e o colapso climático”.
O lançamento da RAIZ marca uma inflexão na diplomacia agrícola brasileira. O país, que há décadas é reconhecido como potência agroambiental, passa a se colocar como líder de um esforço coordenado de regeneração de terras. A proposta parte de uma visão integradora: combater a degradação não apenas como uma questão ambiental, mas como estratégia de desenvolvimento e justiça social.
De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 2 bilhões de hectares do planeta estão degradados, afetando 3,2 bilhões de pessoas. Esse impacto compromete diretamente a produção de alimentos, a estabilidade climática e o sustento de comunidades rurais. Dados da FAO mostram que 10 milhões de hectares de florestas são perdidos a cada ano, e o Global Forest Watch aponta que 6,7 milhões de hectares de florestas tropicais primárias desapareceram apenas em 2024 — um alerta contundente sobre a necessidade de ação imediata.
Do “Caminho Verde” à cooperação global
Inspirada em experiências já consolidadas, a RAIZ busca expandir o alcance do Programa Caminho Verde, criado pelo MAPA para incentivar práticas produtivas sustentáveis, como a integração entre lavoura, pecuária e floresta, e o uso eficiente de recursos naturais. A nova plataforma pretende reunir governos, investidores e organizações multilaterais em torno de metas concretas de restauração, mitigação de emissões e geração de renda.
Segundo fontes do Mapa, a iniciativa atuará em duas frentes: mobilizar recursos financeiros e disseminar tecnologias de baixo carbono aplicadas à agricultura e à recuperação de solos. A meta é conectar soluções de ponta — muitas desenvolvidas no Brasil — a regiões do mundo que enfrentam os maiores índices de desertificação e erosão, especialmente na África, Ásia e América Latina.
A RAIZ surge em um momento em que o mundo busca conciliar crescimento econômico e segurança alimentar com estabilidade climática. Com a população global projetada para ultrapassar 9 bilhões de pessoas até 2050, a restauração de áreas degradadas é vista como condição indispensável para garantir o abastecimento de alimentos de forma sustentável.
O Brasil, que responde por uma das agriculturas mais produtivas do planeta, tem defendido nos fóruns internacionais que a restauração de solos agrícolas deve ser tratada como investimento em futuro — e não como custo ambiental. A RAIZ pretende materializar essa visão, articulando o conhecimento técnico acumulado por instituições brasileiras com a capacidade de financiamento de parceiros internacionais.
A COP da implementação e o legado amazônico
Apresentada em Belém, a iniciativa reforça o caráter simbólico e prático da COP30, primeira conferência climática sediada na Amazônia. A floresta, ao mesmo tempo em que é o epicentro da biodiversidade mundial, também abriga milhões de hectares de áreas que precisam de manejo sustentável e regeneração.
A RAIZ traduz, portanto, o espírito da “COP da Implementação”: transformar compromissos em resultados tangíveis. Mais do que um programa técnico, o projeto representa uma narrativa de futuro em que a agricultura é vista não como vilã do clima, mas como aliada da regeneração planetária.
Se a COP30 é o palco da urgência, a RAIZ surge como a semente do que o Brasil deseja deixar como legado — uma diplomacia ambiental baseada em cooperação, ciência e solidariedade.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) começou em Belém com um sinal de unidade: a aprovação da Agenda de Ações, documento que reúne 111 itens prioritários que deverão guiar as negociações até o dia 21. O acordo, alcançado na véspera após intensas tratativas entre as delegações, foi descrito pelo presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, como “um passo essencial para que o mundo veja resultados concretos e coordenados”.
A conferência, organizada sob a liderança da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), marca o início de uma nova fase do processo climático global. Após anos de debates sobre metas e compromissos, Belém pretende consolidar o ciclo da implementação — quando acordos deixam o papel e passam a influenciar a vida das pessoas.
Negociações até a última hora
Na noite anterior à abertura, os negociadores estenderam as discussões até quase meia-noite. O impasse girava em torno de oito novos temas propostos para inclusão na agenda: financiamento de países desenvolvidos para países em desenvolvimento; comércio internacional; revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs); avaliação dos Relatórios Bienais de Transparência (BRTs); condições especiais para a transição climática em países africanos; saúde e clima; mudanças climáticas em áreas de montanha; e a implementação do Balanço Global (Global Stocktake – GST) nas florestas.
Segundo Túlio Andrade, diretor de estratégia e alinhamento da COP30, o item sobre florestas foi retirado voluntariamente, evitando atrasos no início das negociações. Já o tema “saúde e clima” foi incorporado ao eixo de adaptação, refletindo a crescente atenção às conexões entre meio ambiente e saúde pública. Outros pontos, como as condições específicas para países africanos e as mudanças nas áreas de montanha, serão analisados diretamente pela presidência da conferência.
“Essas consultas serão conduzidas pela presidência a partir de hoje, e a expectativa é que tenhamos uma definição até quarta-feira”, explicou Andrade, destacando o esforço de conciliação entre diferentes blocos de países.
Durante coletiva à imprensa, o embaixador André Corrêa do Lago celebrou o acordo alcançado. “As delegações mostraram maturidade política e espírito de cooperação. Esse consenso permitirá que avancemos rapidamente para os debates de fundo e, mais importante, que possamos comunicar ao mundo o valor concreto dessas ações”, afirmou.
O secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, reforçou o simbolismo do início das negociações em Belém, destacando que “cada item da Agenda de Ações representa uma oportunidade de aproximar compromissos globais da realidade das comunidades”.
A CEO da COP30, Ana Toni, enfatizou que a conferência não é apenas um evento diplomático, mas um processo de transformação. “Belém é mais do que o cenário da COP. É um lembrete de que as decisões tomadas aqui impactarão vidas e territórios. O Brasil quis mostrar que a Amazônia não é apenas um tema, é o centro da solução climática”, afirmou.
Um roteiro em blocos temáticos
Com a agenda aprovada, as sessões da COP30 foram divididas em blocos temáticos que refletem a abrangência da crise climática. Os primeiros dias, 10 e 11 de novembro, estão dedicados a adaptação, cidades, infraestrutura, água, resíduos, governos locais, bioeconomia, economia circular e inovação tecnológica — áreas que tratam da construção de resiliência em diferentes escalas.
Nos dias 12 e 13, os debates se voltam para saúde, emprego, educação, cultura, justiça climática, direitos humanos e integridade da informação, culminando com o Balanço Ético Global, que busca integrar equidade e responsabilidade moral à governança climática.
A partir de 14 de novembro, o foco será a transformação dos sistemas de energia, indústria, transporte, comércio e finanças, além da regulação dos mercados de carbono e das emissões de gases não-CO₂.
Entre 17 e 18, as discussões se voltam para a gestão ambiental e comunitária, com ênfase em florestas, oceanos e biodiversidade, valorizando povos indígenas, comunidades tradicionais e empreendedores locais. Por fim, nos dias 19 e 20, a pauta abrange alimentação, agricultura, pesca, equidade de gênero, afrodescendência e turismo sustentável, consolidando o caráter inclusivo da conferência.
Um processo em movimento
O desafio agora será transformar a extensa lista de 111 itens em resultados tangíveis. Com apenas duas semanas de trabalho, as delegações terão de equilibrar ambição e realismo político. Para Corrêa do Lago, o momento exige “clareza de propósito e disposição para ouvir”.
A COP30 inicia, portanto, com o difícil equilíbrio entre urgência e cooperação. Belém se torna, mais uma vez, o ponto onde o mundo busca alinhar discursos e práticas — um encontro entre a floresta e a diplomacia, entre o ideal e a execução.
Camadas de areia, silhuetas longas e o calor cortante do deserto não parecem cenário provável para um avanço médico. Ainda assim, é exatamente entre camelos, lhamas e alpacas — os mamíferos conhecidos como camelídeos — que a ciência encontrou uma chave improvável para os mistérios do cérebro humano.
Esses animais produzem uma versão inusitada de anticorpos, batizada de nanocorpos: minúsculos fragmentos de proteínas imunes, dez vezes menores que os anticorpos convencionais. O que os torna tão fascinantes não é apenas o tamanho, mas a capacidade única de atravessar a barreira hematoencefálica — a fortaleza natural que protege o cérebro de substâncias externas, mas também impede a maioria dos remédios de chegar até ele.
Em um artigo de revisão publicado em Trends in Pharmacological Sciences, os pesquisadores Philippe Rondard e Pierre-André Lafon afirmam que os nanocorpos podem abrir uma nova era para a medicina do cérebro, unindo a precisão biológica das terapias baseadas em anticorpos à agilidade química das pequenas moléculas.
“Os nanocorpos de camelídeos abrem uma nova era de terapias biológicas para distúrbios cerebrais e revolucionam nosso modo de pensar sobre os medicamentos”, resume Rondard.
O acaso de uma descoberta belga
A história dos nanocorpos começou por acaso, nos anos 1990, em um laboratório da Universidade de Bruxelas, quando cientistas belgas investigavam o sistema imunológico de camelos. Ao analisar o sangue, perceberam algo fora do padrão: os anticorpos desses animais eram incompletos — faltavam-lhes as cadeias leves, uma das metades típicas da estrutura em “Y” das proteínas imunológicas.
No início, o achado pareceu um erro experimental. Só mais tarde perceberam que era uma característica evolutiva genuína. Esses fragmentos menores, que logo ganharam o nome de nanobodies (ou nanocorpos), mostraram-se não apenas funcionais, mas surpreendentemente eficazes.
Com apenas uma fração do tamanho de um anticorpo comum, eles são estáveis, solúveis e fáceis de manipular em laboratório. Por isso, podem ser desenhados para reconhecer alvos moleculares extremamente específicos — como receptores cerebrais envolvidos em memória, aprendizado e emoção —, locais onde os medicamentos tradicionais costumam agir de forma imprecisa e gerar efeitos colaterais.
“Essas são proteínas pequenas e altamente solúveis, capazes de entrar passivamente no cérebro”, explica Lafon. “Diferentemente dos fármacos hidrofóbicos que tentam atravessar a barreira cerebral, os nanocorpos oferecem uma penetração mais eficiente e menos tóxica.”
O muro invisível do cérebro
A barreira hematoencefálica é uma das maiores conquistas evolutivas do corpo humano — e, paradoxalmente, um dos maiores desafios da farmacologia moderna.
Ela funciona como um filtro seletivo, impedindo a entrada de toxinas, microrganismos e até moléculas úteis, como remédios. Apenas substâncias com características químicas específicas conseguem cruzá-la, e mesmo assim, em quantidades limitadas.
Hoje, menos de 2% dos medicamentos desenvolvidos para doenças neurológicas conseguem atravessar essa barreira de forma eficaz. Isso explica por que, apesar do avanço da neurociência, as terapias para Alzheimer, esquizofrenia e Parkinson ainda são imprecisas, muitas vezes focadas em aliviar sintomas e não em tratar causas.
Os nanocorpos prometem mudar esse cenário. Por serem extremamente pequenos e flexíveis, podem se infiltrar por canais e interstícios microscópicos que bloqueiam moléculas maiores. Além disso, são altamente estáveis em temperaturas e pH variados, o que os torna ideais para formulações biotecnológicas e terapias de longa duração.
Um novo tipo de remédio
Nos experimentos mais recentes, equipes internacionais usaram nanocorpos em modelos animais de esquizofrenia, com resultados animadores.
Um desses estudos desenvolveu um nanocorpo projetado para se ligar ao receptor metabotrópico de glutamato tipo 2 (mGlu2), uma proteína do cérebro envolvida na regulação do neurotransmissor glutamato — fundamental para a memória e a cognição.
Após a injeção, o nanocorpo conseguiu atravessar a barreira cerebral e se concentrar nas regiões responsáveis pela emoção e pela aprendizagem. Mais do que isso: restaurou o desempenho cognitivo dos animais em testes de memória e atenção.
Diferentemente de drogas tradicionais, que inundam o cérebro com substâncias químicas, o nanocorpo agiu como um modulador alostérico positivo — um tipo de “afinador” que melhora o funcionamento natural do receptor apenas quando ele é ativado.
Essa sutileza é o que encanta os neurofarmacologistas: precisão terapêutica sem toxicidade, algo raríssimo em psiquiatria.
Nos testes, os efeitos positivos duraram mais de uma semana e não houve sinais de inflamação ou danos cerebrais. Em linguagem simples: o cérebro “aceitou” bem a intervenção.
Entre a biotecnologia e a biologia
A ideia de “biológicos” — medicamentos baseados em proteínas produzidas por organismos vivos — não é nova. Anticorpos monoclonais, por exemplo, já são usados no tratamento de câncer e doenças autoimunes.
O que diferencia os nanocorpos é sua dimensão e versatilidade. Por serem minúsculos, podem ser produzidos em bactérias, leveduras ou até plantas, reduzindo custos e ampliando o acesso.
Eles também podem ser fundidos a outras moléculas, criando combinações que aumentam a meia-vida no sangue ou direcionam o fármaco a regiões específicas do corpo.
Em teoria, isso permitiria, no futuro, desenhar nanocorpos “inteligentes”: um para o Alzheimer, outro para a esquizofrenia, outro para depressão resistente — todos atuando com precisão milimétrica em regiões distintas do cérebro.
A promessa e o cuidado
Apesar do entusiasmo, os pesquisadores pedem cautela.
Antes de chegar aos pacientes, é preciso garantir que os nanocorpos sejam seguros, estáveis e consistentes em sua produção.
“É necessário avaliar a estabilidade, confirmar o dobramento correto e evitar a agregação”, explica Rondard. “Precisamos obter nanocorpos de grau clínico e formulações estáveis que mantenham sua atividade por longos períodos.”
A equipe já estuda o comportamento dessas moléculas em uso crônico, e os resultados preliminares são promissores. Mas o caminho até os ensaios clínicos humanos ainda envolve etapas rigorosas de validação, escalonamento industrial e aprovação regulatória.
Ainda assim, muitos cientistas acreditam que os nanocorpos podem se tornar a próxima geração de medicamentos biológicos — uma fronteira entre a química e a biologia, entre o laboratório e a natureza.
Por que isso importa
Tratar doenças cerebrais é um dos maiores desafios da medicina contemporânea.
O envelhecimento populacional acelera o número de diagnósticos de Alzheimer, enquanto os transtornos mentais afetam mais de 970 milhões de pessoas no planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Apesar disso, os remédios disponíveis hoje ainda são de eficácia limitada e trazem efeitos colaterais severos — sedação, ganho de peso, fadiga, perda cognitiva.
A promessa dos nanocorpos é oferecer terapias mais seletivas, menos tóxicas e de ação prolongada, capazes de modular circuitos neuronais sem causar desequilíbrio químico generalizado.
Em outras palavras, tratar o cérebro sem violentá-lo.
A natureza como farmacêutica
Há algo de poético no fato de que a próxima geração de terapias cerebrais possa vir de animais acostumados a longas travessias silenciosas.
Os camelos, lhamas e alpacas — símbolo de resistência — talvez sejam, agora, aliados da resiliência humana diante da fragilidade mental.
Essa ironia da natureza — onde um sistema imunológico adaptado ao deserto pode salvar mentes perdidas na névoa da demência — reforça uma lição antiga: a biotecnologia começa no olhar curioso sobre o que a vida já inventou.
O futuro já começou
Embora o caminho até as farmácias ainda seja longo, o campo dos nanocorpos cresce rápido.
Empresas de biotecnologia na Europa e na América do Norte já iniciaram pesquisas clínicas voltadas para doenças autoimunes e infecções virais. O cérebro, no entanto, é a próxima fronteira — e talvez a mais desafiadora.
Se os resultados continuarem positivos, poderemos, dentro de uma década, ter tratamentos personalizados baseados em nanocorpos, desenhados para restaurar circuitos neuronais específicos.
Enquanto isso, o mundo científico observa com expectativa essa improvável aliança entre neurociência e zoologia — um lembrete de que o futuro da medicina pode estar, literalmente, no sangue dos camelos.
Do deserto ao cérebro
Os nanocorpos são mais do que curiosidades moleculares; representam um novo paradigma terapêutico. Pequenos, estáveis, específicos e biocompatíveis, eles podem transformar a maneira como a medicina lida com as doenças cerebrais.
A cura do Alzheimer e o controle da esquizofrenia podem não vir de uma molécula sintética, mas de um fragmento proteico nascido em um organismo milenar.
E se, no fim, a mente humana se reencontrar consigo mesma graças a uma proteína do deserto, será apenas mais uma prova de que a natureza — paciente e engenhosa — sempre esteve alguns passos à frente da nossa ciência.
No coração da Amazônia, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) começou com um chamado global à urgência e à esperança. Na cerimônia de abertura, em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Governo do Brasil) afirmou que a humanidade “segue na direção certa, mas na velocidade errada” para conter a crise climática. O discurso, marcado por tom político e moral, reafirmou o papel do Brasil como voz do Sul Global e propôs uma nova governança mundial para o clima.
Para o presidente, trazer a conferência para Belém foi uma decisão “política e simbólica”, desenhada para aproximar o debate climático da realidade concreta de quem vive e protege a floresta. “A Amazônia não é uma abstração. É lar, economia, cultura, vida. Ao sediar a COP aqui, mostramos que ela é parte da solução e não apenas do problema”, declarou. Lula lembrou que o bioma abriga cerca de 50 milhões de pessoas, entre elas 400 povos indígenas, e destacou que a conferência deve deixar legados duradouros para os moradores da região.
Três eixos para uma nova era climática
O presidente estruturou seu discurso em três eixos que, segundo ele, devem guiar as negociações da COP30:
Cumprimento dos compromissos climáticos já assumidos, em especial os definidos no Acordo de Paris;
Fortalecimento da governança global, com instituições mais robustas e transparentes;
Centralidade das pessoas nas decisões sobre clima, com foco em justiça social e proteção das populações mais vulneráveis.
Lula defendeu a criação de um Conselho Global do Clima, vinculado à Assembleia Geral das Nações Unidas, que funcione como um fórum permanente de coordenação política e de responsabilização entre os países. “Precisamos de instituições à altura da crise que enfrentamos”, afirmou, em referência ao desequilíbrio entre compromissos assumidos e ações efetivas.
Ao retomar a definição do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, Lula reafirmou que esta deve ser “a COP da Verdade” e “a COP da Implementação”. Para ele, o momento exige enfrentar o negacionismo climático e transformar promessas em políticas reais. “A mudança do clima já não é uma ameaça do futuro, é uma tragédia do presente”, disse, lembrando as enchentes no Sul do Brasil e o furacão Melissa, que recentemente devastou o Caribe. “Vivemos uma era em que os obscurantistas rejeitam as evidências científicas e atacam as instituições. É hora de impor uma nova derrota ao negacionismo.”
O presidente foi enfático ao afirmar que o ritmo atual de redução das emissões é insuficiente. “Apesar dos avanços desde Paris, ainda andamos devagar. Estamos na direção certa, mas na velocidade errada”, disse, ecoando um dos trechos mais marcantes do discurso.
Belém como símbolo e mutirão global
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, reforçou o caráter histórico da conferência, chamando-a de início da “década da implementação”. “Esta COP precisa ser lembrada como a COP da ação, que transforma compromissos em resultados concretos”, afirmou. O diplomata agradeceu o empenho do Governo do Pará e da Casa Civil da Presidência na organização do evento e destacou o espírito coletivo que tornou a conferência possível. “A COP30 é fruto de um mutirão, uma palavra brasileira que o mundo aprendeu e que resume a essência desta conferência: trabalhar juntos”, completou.
O secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, também usou uma metáfora poderosa: “Estamos na foz do maior rio do mundo, e o que ele nos ensina é que grandes resultados vêm da convergência de muitos fluxos. A COP precisa funcionar assim — movida pela cooperação e pela coragem”. Ele enfatizou que a economia da transição energética é irreversível: “As energias renováveis já superaram o carvão como principal fonte global. Agora é hora de transformar ambição em ação”.
Da COP29 à era da entrega
O ex-presidente da COP29, Mukhtar Babayev, ao transferir simbolicamente a liderança do processo climático global ao Brasil, disse que “a COP30 inaugura o primeiro ciclo de entrega total do Acordo de Paris”. Segundo ele, “não há mais espaço para promessas sem ação”. Babayev lembrou que a conferência de Baku consolidou um marco financeiro e que a de Belém deve transformá-lo em resultados tangíveis, especialmente para os países em desenvolvimento.
Com discursos convergentes, a abertura da COP30 consolidou uma mensagem inequívoca: o tempo da hesitação acabou. O desafio agora é acelerar a transição, fortalecer a cooperação e garantir que as decisões tomadas na Amazônia reverberem em todo o planeta. Como resumiu Lula: “Queremos inspirar o mundo a transformar compromissos em ação concreta”.
Na abertura da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em Belém, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, fez um discurso que combinou emoção pessoal, memória diplomática e uma convocação direta à ação. Ao declarar aberta a conferência, o diplomata definiu o evento como “a COP da Verdade” — aquela que precisa transformar compromissos em resultados concretos.
Durante o pronunciamento, Corrêa do Lago destacou que o Brasil vive um momento singular de união entre diferentes esferas de governo e instituições em torno da agenda climática. Citou a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da primeira-dama Janja Lula da Silva, do presidente do Senado, de governadores e prefeitos, como sinal de convergência inédita em torno da pauta ambiental. “O mundo precisa ver que o Brasil está unido por uma agenda que será excepcional para o crescimento, a criação de empregos e a melhoria da vida das pessoas”, afirmou.
O diplomata fez questão de agradecer ao governador do Pará, Helder Barbalho (Governo do Pará), anfitrião da conferência, e ao ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (Casa Civil), responsável pela coordenação das obras e da logística do evento. Para ele, o esforço coletivo simboliza o espírito de “mutirão” — palavra de origem indígena que, segundo ele, se tornou conhecida internacionalmente durante o processo de preparação da COP30. “É por meio do mutirão que poderemos implementar as decisões desta COP e das anteriores”, disse.
Corrêa do Lago, diplomata de carreira com mais de quatro décadas de atuação no Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores), lembrou que participou da Conferência Rio-92 — momento em que nasceu a Convenção do Clima — e situou a atual conferência dentro de uma trajetória de avanços e urgências. “Em 1992, eu era um jovem diplomata fascinado pelo tema e pelas possibilidades que ele abria para o Brasil. Hoje, temos a responsabilidade de transformar esse legado em resultados”, afirmou.
O presidente da COP30 prestou homenagem à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (MMA), a quem chamou de “inspiração para a presidência brasileira da COP”. Reforçou também o papel dos chamados “campeões” da conferência, como o empresário Dan Ioschpe, campeão de alto nível, e a jovem Marcela Oliveira, campeã da juventude, que integram a estrutura de engajamento da presidência.
Em tom reflexivo, Corrêa do Lago exaltou o multilateralismo como caminho indispensável para o enfrentamento da crise climática. Lembrou o Protocolo de Montreal, que eliminou 95% dos gases que destruíam a camada de ozônio, e o Acordo de Paris, que reduziu as projeções de aquecimento global, como provas de que a cooperação internacional funciona quando há compromisso coletivo. “A ciência, a educação e a cultura são o caminho que temos que seguir”, defendeu.
Mas o embaixador fez questão de temperar o otimismo com realismo: “Estamos quase lá, mas ainda há muito a fazer”. Afirmou que o elemento que mais mudou sua percepção sobre o processo climático global foi a urgência. Citou desastres recentes no Brasil, como os alagamentos no Paraná, e em outros países — Filipinas e Jamaica — como lembretes trágicos de que a mudança do clima já está em curso. “Temos uma responsabilidade imensa. A urgência é o elemento adicional agora tão presente, lembrado a cada tragédia”, declarou.
Uma COP de implementação e adaptação
Ao definir os rumos da conferência, Corrêa do Lago afirmou que a COP30 precisa ser lembrada como uma “COP de implementação”, voltada à execução de compromissos já assumidos em Baku, na COP29 (UNFCCC COP29), e como uma “COP de adaptação”, que avance na integração entre clima, economia e geração de empregos. “Queremos que esta seja uma COP que apresente soluções”, disse, reforçando o papel da ciência e das políticas públicas baseadas em evidências.
Encerrando seu discurso, o diplomata agradeceu novamente ao presidente Lula pela confiança e prometeu corresponder às expectativas. “Talvez eu tenha sido escolhido porque consegui reunir uma equipe incrível. Com ela, faremos o que o senhor espera: uma COP que acredita na ciência e que entrega resultados concretos”, afirmou.
Ao dar início formal à conferência, o presidente da COP30 deixou uma mensagem clara: esta é a hora da ação coletiva. Mais do que negociações, a COP de Belém é um teste de credibilidade para o multilateralismo e para o próprio futuro do planeta.
Na abertura da COP30, em Belém, o secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, fez um discurso incisivo: a transição energética global precisa de mais financiamento e de mais velocidade. Para ele, o mundo já entrou na era da transformação climática — e o papel do Brasil é crucial para que ela seja justa, inclusiva e eficiente.
“Agora é a hora de focar em como fazer essa transição de forma justa, acelerando a aplicação das energias renováveis e dobrando a eficiência energética. Precisamos colocar em prática o mapa de Baku para Belém”, afirmou, numa referência à COP29, realizada no Azerbaijão em 2024.
Na conferência anterior, os países haviam aprovado uma nova meta de financiamento climático: triplicar os recursos para nações em desenvolvimento, passando de US$ 100 bilhões anuais para US$ 300 bilhões até 2035. Além disso, definiram o objetivo de elevar o total de aportes públicos e privados para US$ 1,3 trilhão por ano até o mesmo prazo. O acordo, contudo, foi considerado insuficiente por muitos países do Sul Global, que defendem US$ 1,3 trilhão anuais apenas em financiamento climático direto — posição apoiada pela delegação brasileira.
O papel do Brasil e o “mapa de Baku para Belém”
Ao mencionar a agenda de ação brasileira para a COP30, Stiell destacou que o plano proposto pelo país é central para acelerar a transição energética e fortalecer a resiliência das comunidades mais afetadas pelas mudanças do clima. “A agenda de ação não é algo supérfluo, é crucial para a missão. Cada gigawatt de energia limpa cria empregos, fortalece comunidades e protege cadeias produtivas. Essa é a história de crescimento do século XXI — a transformação econômica da nossa era”, declarou.
A fala ecoa o tom de urgência que marcou as intervenções de líderes globais em Belém. O secretário enfatizou que a transição energética não deve ser vista apenas como meta ambiental, mas como estratégia de desenvolvimento e segurança global. A Organização das Nações Unidas (ONU), segundo ele, aposta na cooperação internacional como chave para destravar investimentos e garantir justiça climática.
Dez anos do Acordo de Paris: avanços e frustrações
Ao completar uma década de vigência, o Acordo de Paris foi lembrado por Stiell como um marco que alterou o rumo das emissões globais de gases de efeito estufa. Ele reconheceu que a curva de emissões começou a cair graças a políticas públicas e à pressão de mercados mais atentos à sustentabilidade, mas advertiu que “ainda não estamos no caminho certo”.
Citando o relatório da ONU divulgado em outubro, o secretário alertou que o mundo não conseguirá limitar o aquecimento global a 1,5°C nas próximas décadas sem um aumento drástico na ambição das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) — os compromissos nacionais de redução de emissões. “A ciência é clara: podemos e devemos reduzir as temperaturas ao limite de 1,5ºC, mesmo após um desvio temporário”, afirmou.
Ele lembrou que os efeitos da inação climática já corroem economias e vidas. “Desastres climáticos estão consumindo duas casas decimais do PIB mundial. Secas devastam plantações, os preços sobem, a fome se espalha, milhões são forçados a deixar suas terras. Tudo isso enquanto já temos as soluções. Se não agirmos agora, isso jamais será perdoado”, alertou.
Para Stiell, a retomada do declínio nas emissões depende de cooperação internacional efetiva e de um novo pacto financeiro global. Ele defendeu que países desenvolvidos cumpram suas promessas de apoio técnico e econômico, enquanto os países em desenvolvimento ampliam seus planos de energia limpa e adaptação.
Na visão do secretário, Belém simboliza o ponto de virada: a conferência que precisa transformar as promessas em ação concreta. “Não podemos esperar pelas NDCs para agir. Temos de preencher as lacunas e inovar agora”, concluiu, reforçando que a COP30 deve inaugurar uma nova fase do Acordo de Paris — a da implementação plena.
Com isso, o recado de Stiell ecoa como um chamado à realidade: o tempo da hesitação acabou. E, diante da escalada de eventos extremos, o mundo precisa decidir entre financiar o futuro ou pagar o preço da inércia.
Enquanto Belém se transforma no epicentro das discussões globais sobre o clima, um evento paralelo promete mostrar que a Amazônia também pode ser polo de inovação tecnológica.
Entre os dias 10 e 14 de novembro, o Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá recebe a Tech Zone, uma das atividades integradas à programação oficial da COP30.
O evento é gratuito e aberto ao público, sem necessidade de credenciamento na conferência. Interessados podem reservar ingressos diários pelo site Sympla.
Mais do que um encontro técnico, a Tech Zone quer aproximar ciência, startups e comunidades locais para discutir como a tecnologia pode contribuir para mitigar e adaptar os impactos das mudanças climáticas na região amazônica.
Cidades inteligentes e o futuro urbano sustentável
A abertura da Tech Zone foca nas chamadas “cidades inteligentes”, conceito que combina infraestrutura digital, energia limpa e planejamento urbano sustentável para melhorar a qualidade de vida.
Pesquisadores, gestores públicos e empreendedores debatem soluções em mobilidade, eficiência energética, saneamento, gestão de resíduos e governança de dados.
A proposta é explorar modelos de cidades amazônicas sustentáveis, que possam crescer de forma planejada sem repetir erros das metrópoles que se expandiram sem estrutura ambiental.
De acordo com os organizadores, as discussões devem priorizar estratégias de urbanização verde, com ênfase em inovação social e inclusão digital.
Água, bioeconomia e preservação: os temas da Amazônia
O segundo dia da programação é dedicado a um dos maiores desafios regionais: os recursos hídricos. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e de instituições internacionais apresentam estudos sobre monitoramento de bacias, qualidade da água e tecnologias de tratamento em áreas isoladas.
Nos dias seguintes, os painéis se voltam para a bioeconomia — setor estratégico que combina inovação tecnológica, saberes tradicionais e sustentabilidade produtiva.
Serão apresentados projetos de rastreabilidade de produtos florestais, sistemas de georreferenciamento para monitoramento ambiental e soluções de IA aplicadas à conservação de ecossistemas.
Além disso, startups da região Norte mostrarão aplicativos e sensores desenvolvidos para o acompanhamento de áreas de preservação, mapeamento de desmatamento e uso sustentável de recursos naturais.
Um parque que é vitrine de inovação amazônica
Localizado a cerca de 10 quilômetros do Parque da Cidade, onde ficam as Zonas Azul e Verde da COP30, o PCT Guamá é o primeiro parque tecnológico da região Norte e um dos principais polos de pesquisa aplicada à Amazônia.
Fundado por meio de parceria entre a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet-PA), a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o parque é gerido pela Fundação Guamá.
A instituição abriga dezenas de laboratórios e empresas de base tecnológica, voltadas ao desenvolvimento de soluções em energia renovável, agricultura sustentável, biotecnologia e transformação digital.
Ao sediar a Tech Zone, o PCT amplia sua vocação de conectar pesquisa científica, inovação empresarial e políticas públicas, reforçando o papel da Amazônia como laboratório vivo de soluções climáticas.
A COP30 além das zonas oficiais
A criação da Tech Zone representa um movimento simbólico: levar o espírito da COP para fora das áreas restritas às delegações.
Ao realizar atividades abertas no PCT Guamá, a organização da conferência busca democratizar o acesso aos debates e aproximar a população de Belém das discussões sobre o futuro climático e tecnológico da região.
Essa abertura também dá visibilidade ao potencial científico local. “O parque é um espaço onde ciência e inovação caminham juntas, e sediar um evento da COP30 reforça que o desenvolvimento sustentável começa dentro da Amazônia”, destacam os coordenadores da Tech Zone.
Inovação a serviço do clima
Com uma agenda que atravessa temas como financiamento climático, energias renováveis, agricultura de baixo carbono e cidades resilientes, a Tech Zone pretende deixar um legado duradouro.
Ao reunir pesquisadores, startups e instituições públicas, o evento busca fortalecer ecossistemas de inovação verde e criar conexões entre conhecimento acadêmico, empreendedorismo e políticas ambientais.
Mais do que uma vitrine tecnológica, o encontro é uma convocação para pensar a Amazônia como território de soluções globais. A floresta e as cidades amazônicas podem ser não apenas objetos de estudo, mas protagonistas da transição ecológica que o mundo precisa.
Serviço Evento: Tech Zone – COP30 Data: 10 a 14 de novembro de 2025 Local: Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, Belém (PA) Inscrições: gratuitas pelo site Sympla Horário: das 9h às 18h Realização: Fundação Guamá, Sectet-PA, UFPA e Ufra
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) começou em Belém sob o signo da urgência. Em seu primeiro discurso como presidente da conferência, o embaixador André Corrêa do Lago, diplomata brasileiro de longa trajetória em negociações ambientais, convocou os países participantes a transformar compromissos em resultados concretos diante do agravamento da crise climática.
O embaixador fez referência direta ao tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, na última semana, deixando seis mortos e centenas de feridos. A tragédia, segundo ele, simboliza o que está em jogo: vidas, comunidades e economias cada vez mais expostas a eventos extremos. “A questão da urgência é o elemento adicional. Somos lembrados, com grande tristeza, por tragédias recentes no Brasil, nas Filipinas e na Jamaica. Temos uma responsabilidade imensa”, afirmou.
Ele foi eleito por aclamação para presidir a COP30, reforçando a liderança do Brasil em um momento decisivo para o futuro do Acordo de Paris. Corrêa do Lago sublinhou que esta é uma conferência “de implementação”, dedicada a tirar do papel os compromissos assumidos ao longo das últimas décadas. “Espero que seja lembrada também como uma COP de adaptação, que integre o clima à economia, à geração de empregos e à educação — e que escute a ciência”, destacou.
De Baku a Belém: a transição das metas ao cumprimento
Antes do discurso do brasileiro, o palco da COP30 foi ocupado por Mukhtar Babayev, ministro do Meio Ambiente do Azerbaijão e presidente da COP29, realizada em Baku no ano anterior. Ele apresentou um balanço das decisões tomadas em 2024, centradas no financiamento climático para países em desenvolvimento — tema que agora retorna com ainda mais força à agenda de Belém.
Na conferência de Baku, os países concordaram em triplicar o volume de recursos climáticos internacionais, elevando a meta de US$ 100 bilhões anuais para US$ 300 bilhões até 2035, além de ampliar o total combinado de fontes públicas e privadas para US$ 1,3 trilhão por ano. Mesmo assim, o valor foi considerado insuficiente por nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil, que defendem um piso anual de US$ 1,3 trilhão exclusivamente em financiamento climático.
“O objetivo financeiro de Baku vai ser um sucesso se mantivermos o espírito do acordo. As comunidades precisam ser protegidas e ter financiamento real”, afirmou Babayev. Ele defendeu a continuidade das metas no sistema das Nações Unidas e insistiu que “a construção de novos acordos não é em vão”.
Um novo eixo para a ação climática
O discurso inaugural em Belém marca um ponto de inflexão nas negociações climáticas globais. Corrêa do Lago destacou que a COP30, sediada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o apoio do Itamaraty e do Governo do Brasil, pretende consolidar avanços em adaptação e financiamento — e ampliar o diálogo entre ciência, cultura e políticas públicas.
A menção às tragédias climáticas recentes, como o tornado no Paraná, serviu de lembrete de que o impacto das mudanças do clima não é uma previsão distante, mas uma realidade presente. O embaixador afirmou que a COP de Belém deve ser um marco para vincular a agenda ambiental às dimensões econômica e social, conectando desenvolvimento sustentável à criação de empregos verdes e à transição energética.
“Esta é uma COP que deve unir ciência, cultura e multilateralismo. Só assim poderemos dar respostas à altura da crise”, ressaltou Corrêa do Lago, ecoando a expectativa de que a conferência brasileira seja lembrada como a COP da implementação — o momento em que o mundo decidiu agir.
Com o início das negociações, Belém se torna o centro de um debate que ultrapassa fronteiras: como financiar a adaptação dos mais vulneráveis, reduzir emissões e transformar compromissos em medidas tangíveis. O caminho, como indicou o presidente da COP30, exige mais do que promessas — exige urgência, solidariedade e ação coordenada.
Durante a COP30, em Belém, a Defensoria Pública da União (DPU) lançou nesta segunda-feira (10) uma iniciativa inédita: uma consulta pública para a criação do Protocolo de Atuação em Desastres e Emergências Socioambientais, documento que definirá as diretrizes nacionais para a atuação de defensores públicos em contextos de crise ambiental, climática e humanitária. As contribuições podem ser enviadas até 3 de dezembro pelo portal Brasil Participativo.
A proposta representa um passo decisivo para consolidar uma política institucional de resposta às emergências ambientais, integrando o enfoque dos direitos humanos e da justiça climática em todas as fases da gestão de desastres: prevenção, resposta, reparação e não repetição. O texto em debate busca transformar a experiência acumulada pela DPU em casos emblemáticos, como o rompimento da barragem de Brumadinho, a tragédia do Rio Doce, a crise humanitária Yanomami e as enchentes no Rio Grande do Sul, em referência técnica para futuras ações.
Segundo a DPU, o protocolo não pretende apenas orientar o trabalho jurídico em situações de crise, mas fortalecer o papel da Defensoria como ponte entre o Estado e as populações afetadas. O objetivo é ampliar a escuta e o protagonismo das comunidades vulnerabilizadas, promovendo um modelo de resposta mais justo e participativo.
Para o defensor público federal Giorgi Augustus Sales, chefe da Assessoria de Meio Ambiente, Mudança Climática e Mobilidade Humana (AMA) da DPU, o lançamento da consulta durante a COP30 reforça a dimensão política do gesto. “Queremos ouvir quem mais sente os impactos das crises climáticas: comunidades atingidas por enchentes, secas extremas, deslizamentos e outros desastres socioambientais. Realizar essa escuta durante a COP30 é reafirmar nosso compromisso com a justiça climática e com a proteção das populações mais vulnerabilizadas”, afirmou.
O anúncio vem em um momento em que o país acumula uma série de emergências climáticas de grande impacto. O aumento da frequência e intensidade de eventos extremos — como os ciclones no Sul, a seca severa na Amazônia e as inundações urbanas nas grandes cidades — tem imposto desafios inéditos à gestão pública e à garantia de direitos fundamentais. Nesse cenário, a DPU busca consolidar-se como ator estratégico na construção de respostas integradas e baseadas em direitos humanos.
A elaboração do protocolo vem sendo desenvolvida de forma colaborativa, com o apoio de defensores públicos, especialistas em gestão de desastres e organizações da sociedade civil. Além de normatizar procedimentos, o texto prevê a criação de redes regionais de atuação emergencial e o estabelecimento de fluxos para o encaminhamento de demandas urgentes em contextos de calamidade.
Outro eixo importante da política da DPU na área é o Mapeamento Interseccional de Vulnerabilidades Climáticas, realizado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O estudo cruza dados do Censo 2022, do Cadastro Único e do Sistema Nacional de Desastres, permitindo identificar os territórios com maior exposição a riscos climáticos, levando em conta fatores como renda, raça, gênero e localização geográfica.
De acordo com os pesquisadores, a ferramenta poderá orientar políticas públicas mais precisas e direcionar recursos para as áreas mais afetadas. A expectativa é que os resultados do mapeamento também sirvam como base técnica para o futuro protocolo.
O esforço da DPU reflete uma tendência mais ampla dentro das instituições públicas brasileiras: a incorporação do tema climático como eixo transversal de atuação. Ao integrar a dimensão ambiental às políticas de direitos humanos e assistência social, o órgão busca alinhar-se à agenda internacional de justiça climática e aos compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris.
A consulta pública permanecerá aberta até dezembro e será seguida por uma rodada de debates técnicos, a partir dos quais o documento final deverá ser consolidado e aprovado pelo Conselho Superior da DPU. A expectativa é que o protocolo entre em vigor em 2026, servindo como referência para a atuação das defensorias estaduais e demais órgãos públicos.
Uma nova pesquisa revela como a cultura pode se tornar uma poderosa aliada no enfrentamento da crise climática no Brasil. O estudo “Cultura e Clima – Percepções e Práticas no Brasil”, conduzido pela organização C de Cultura e pela produtora Outra Onda Conteúdo, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), mostra que 82,1% dos brasileiros estão preocupados com as mudanças climáticas, e mais da metade se considera “profundamente preocupada”.
Os resultados, que serão apresentados oficialmente na COP30, em Belém, revelam uma conexão direta entre as percepções ambientais e o papel da cultura como vetor de engajamento. Segundo o levantamento, 83,5% dos participantes acreditam que livros, filmes, músicas e museus ajudam a compreender melhor a crise climática. Além disso, 73,3% enxergam a cultura como ferramenta prática para enfrentá-la, e 62,6% afirmam ter mudado hábitos ambientais ou sociais após contato com obras culturais.
Apesar dessa consciência crescente, o sentimento de impotência ainda é expressivo: 52,4% dos entrevistados disseram não saber como contribuir efetivamente. Para Mariana Resegue, diretora-executiva da C de Cultura, esse dado revela uma lacuna entre o reconhecimento do problema e a capacidade de ação. “As pessoas compreendem a gravidade da crise, mas muitas ainda não veem caminhos claros para agir. Falta comunicação sobre como a cultura pode inspirar e orientar mudanças concretas”, afirma.
A pesquisa aponta também que quase 90% dos entrevistados desejam políticos comprometidos com sustentabilidade e justiça social, embora a intensidade dessa preocupação varie conforme a orientação ideológica. Entre os que se identificam com a esquerda, 98,8% consideram o tema essencial; entre os de direita, o número cai para 52,1%. Nas eleições de 2024, 55,1% dos eleitores de esquerda afirmaram ter levado em conta propostas ambientais na hora do voto, contra 40,4% dos eleitores de direita.
Esses resultados sugerem que o debate climático ainda encontra barreiras na polarização política, mas indicam um avanço na incorporação do tema ao debate público. “O desafio é fazer com que a sustentabilidade deixe de ser vista como bandeira partidária e se torne valor comum”, analisa Mariana Resegue.
Um dos achados mais significativos do estudo é a relevância das populações tradicionais. Para 77,5% dos entrevistados, povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais são fundamentais para ajudar o Brasil a lidar com as mudanças climáticas. No entanto, apenas 34,3% reconhecem que esses grupos são os mais vulneráveis aos impactos da crise ambiental. Essa discrepância revela uma percepção parcial: o reconhecimento do papel ativo dessas comunidades não vem acompanhado da compreensão de sua exposição desigual aos riscos.
O estudo também reforça a função estratégica da cultura na tradução de temas científicos complexos em narrativas acessíveis e emocionais. Filmes, músicas, exposições e iniciativas comunitárias, segundo os dados, são meios eficazes para ampliar o alcance da informação e fortalecer o senso coletivo de responsabilidade climática.
Para Mariana Resegue, “a cultura é uma plataforma essencial para conectar ciência e emoção, transformando conhecimento em mobilização social”. Ela acrescenta que o objetivo da pesquisa é “inspirar políticas públicas e investimentos que integrem cultura e clima, especialmente em programas de educação ambiental e comunicação científica”.
Ao lançar o estudo durante a COP30, os realizadores buscam reforçar o papel do Brasil como exemplo global de diálogo entre diversidade cultural e sustentabilidade. A pesquisa não apenas mede percepções, mas propõe uma agenda de futuro: aproximar o imaginário cultural das metas ambientais e reconhecer o poder simbólico da arte na formação de uma consciência climática nacional.
Em plena COP30, o Brasil dá um passo simbólico rumo à descarbonização de sua matriz energética. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anunciou, nesta segunda-feira (10), o arquivamento definitivo do processo de licenciamento da Usina Termelétrica Ouro Negro, em Pedras Altas (RS). O empreendimento, proposto pela Ouro Negro Energia LTDA, previa uma planta de 600 megawatts (MW) movida a carvão mineral — e era o último projeto desse tipo ainda em análise no país.
A decisão encerra um ciclo de mais de uma década de debates, contestações e resistências técnicas e sociais. O local escolhido para o empreendimento foi classificado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) como área crítica em disponibilidade hídrica, o que já havia motivado a negativa de captação de água desde 2016. O Ibama apontou falhas no plano de risco e emergência da empresa, incluindo carências em sistemas de combate a incêndios e ausência de estratégias adequadas para proteção da fauna. Mesmo após notificações formais em 2023, a empresa não apresentou complementações.
Para o Instituto Internacional Arayara, a decisão representa uma conquista da sociedade civil e um divisor de águas na política energética brasileira. “Em plena COP30, o arquivamento da UTE Ouro Negro simboliza o início do fim da era do carvão no Brasil”, afirmou o diretor técnico da organização, Juliano Bueno de Araújo. Ele classificou o projeto como “tecnicamente inconsistente, socialmente injustificável e ambientalmente inviável”, destacando a importância do protagonismo da população gaúcha e das comunidades locais que se mobilizaram contra a iniciativa.
O encerramento da UTE Ouro Negro soma-se à desistência, em fevereiro de 2025, do licenciamento da UTE Nova Seival, também no Rio Grande do Sul. O projeto, de 726 MW, foi abandonado pelo empreendedor diante de lacunas técnicas e do potencial impacto socioambiental. Com isso, o país elimina da pauta novos projetos a carvão mineral, consolidando uma tendência de transição energética mais limpa.
Mas o cenário não é de completa vitória ambiental. Segundo o engenheiro John Wurdig, membro da Arayara e do Observatório do Carvão Mineral (OCM), ainda há usinas em operação com garantias de funcionamento até 2040. Entre elas, estão a UTE Candiota, o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda e a UTE Pampa Sul. Essas unidades continuam emitindo grandes volumes de gases de efeito estufa e operam com carvão de baixo poder calorífico e alto teor de cinzas e enxofre.
Wurdig alerta ainda para a força política do lobby carvoeiro, que busca prorrogar subsídios ao carvão mineral por meio de emendas no Projeto de Lei de Conversão nº 10/2025, derivado da Medida Provisória nº 1.304/2025. O texto, que aguarda decisão presidencial, prevê a extensão de incentivos até 2040 e a outorga de funcionamento para as usinas até 2050.
Apesar das resistências, o arquivamento da UTE Ouro Negro tem valor estratégico e simbólico. O Brasil, que já é reconhecido por ter uma matriz elétrica majoritariamente renovável, dá um sinal claro de que pretende eliminar gradualmente o uso do carvão mineral, alinhando-se às metas globais do Acordo de Paris e fortalecendo sua liderança climática no Sul Global.
A Agência Brasil informou que tenta contato com a Ouro Negro Energia LTDA para obter posicionamento sobre a decisão. Até o momento, a empresa não se manifestou.
Enquanto líderes mundiais se reúnem em Belém (PA) para o início da COP30, a atenção internacional volta-se também à inovação tecnológica como ferramenta essencial para enfrentar a crise climática. O portal holandês Innovation Origins (IO+) publicou nesta segunda-feira (10) uma análise sobre o papel das tecnologias emergentes e startups climáticas, destacando que “a ciência e a inovação serão protagonistas” da conferência realizada às margens da Amazônia.
“Esta COP deveria ser o ponto de virada — o momento em que os países voltam a levar a sério o compromisso de Paris, de limitar o aquecimento global a 1,5°C”, diz o artigo. “Mas, com lideranças ausentes e metas diluídas, surge a dúvida: continuará sendo apenas conversa?”
COP30 em meio a ceticismo e cansaço climático
A reportagem lembra que a conferência ocorre após dois anos consecutivos de recordes de temperatura global e em um cenário de desconfiança diplomática, agravado por conflitos, disputas comerciais e incertezas políticas. Mesmo assim, o evento em Belém é visto como uma oportunidade para “reacender a chama da ação climática”, sobretudo nas áreas de ciência, tecnologia e inovação verde.
Entre os participantes estão o primeiro-ministro interino da Holanda, Dick Schoof, e a ministra do Clima, Sophie Hermans. Já Estados Unidos, China, Índia e Rússia optaram por não enviar seus principais líderes, limitando-se a delegações técnicas — um sinal de baixo engajamento político global, segundo o portal.
Um breve retrospecto das últimas conferências
O Innovation Origins relembra os principais resultados das COPs anteriores — avanços, retrocessos e promessas ainda não cumpridas:
COP21 (Paris, 2015): assinatura do Acordo de Paris, com a meta de limitar o aquecimento a 1,5°C.
COP27 (Egito, 2022): criação do fundo internacional de “perdas e danos” para países vulneráveis.
COP28 (Dubai, 2023): pela primeira vez, países concordaram em reduzir o uso de combustíveis fósseis.
COP29 (Azerbaijão, 2024): promessas financeiras ampliadas, mas insuficientes diante da crise.
COP30 (Belém, 2025): ainda incerta, a conferência deve focar em tecnologia climática e transição energética.
Tecnologia como chave da transição climática
Um dos eixos da COP30 é o papel da ciência e tecnologia na resposta global ao aquecimento. De acordo com o portal, o foco das primeiras sessões em Belém será justamente o uso de inteligência artificial, inovação industrial e captura de carbono como soluções para reduzir emissões e criar uma economia de baixo carbono.
A Holanda, reconhecida por seu ecossistema de inovação sustentável, é apontada como exemplo de país que alia pesquisa científica e investimento privado para acelerar a descarbonização. O portal destaca três startups que estão redefinindo a fronteira da tecnologia climática:
1. Paebbl — CO₂ que vira cimento
A empresa Paebbl, sediada em Roterdã, inaugurou a primeira usina de mineralização contínua de CO₂ do mundo. A tecnologia captura dióxido de carbono do ar e o transforma em um mineral sólido capaz de substituir o cimento, um dos materiais mais poluentes da indústria da construção civil. A planta piloto já armazena até 500 toneladas de CO₂ por ano, reduzindo emissões e tornando materiais de construção mais sustentáveis. A empresa recebeu investimento de US$ 25 milhões da Amazon para escalar o processo globalmente.
2. Carbyon — Captura Direta de Ar
Com sede em Eindhoven, a startup Carbyon desenvolve máquinas móveis de captura direta de ar (DAC), que removem CO₂ da atmosfera em qualquer lugar com energia renovável disponível. Cada unidade Carbyon Go pode remover 3.000 kg de CO₂ por ano, o equivalente ao que 150 árvores absorvem no mesmo período. Segundo a empresa, a tecnologia é 200 vezes mais rápida que outros sistemas de captura, com consumo energético reduzido — um passo promissor rumo à neutralidade climática.
3. SeaO₂ — Capturando CO₂ do oceano
O spin-off SeaO₂, ligado à Universidade de Tecnologia de Delft, aposta em um método inovador: filtrar CO₂ da água do mar. Usando um processo eletroquímico, a tecnologia é mais eficiente do que a captura atmosférica, pois a água contém 150 vezes mais CO₂ que o ar. O projeto-piloto remove 25 toneladas de CO₂ por ano, com meta de chegar a 1 milhão de toneladas até 2030. Além de combater o aquecimento global, a tecnologia ajuda a reduzir a acidificação dos oceanos.
Inovação climática como esperança
Para o portal holandês, o avanço dessas tecnologias mostra que a inovação pode ser o elo entre promessas e resultados— e que a COP30 precisa reconhecer a urgência de transformar soluções de laboratório em políticas e mercados concretos.
“Empresas e parcerias em todo o mundo podem ter um impacto real. Mas isso exige vontade política e mecanismos globais de implementação”, conclui a análise do Innovation Origins.
Em meio ao ceticismo, a COP30 começa em Belém com uma mensagem clara: o futuro climático pode depender tanto da ciência quanto da diplomacia.
Enquanto o mundo se reúne em Belém (PA) para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) avalia que o encontro marca o início de uma década decisiva na luta global contra o aquecimento do planeta.
Realizada em meio a recordes históricos de temperatura e à escalada nas emissões de gases de efeito estufa, a conferência enfrenta um cenário desafiador: relações internacionais tensas, disputas comerciais e diferentes visões sobre o futuro da matriz energética global.
“Esta tem o potencial de ser uma das COPs mais importantes da última década”, afirmou Ruth do Coutto, vice-diretora da Divisão de Clima da UNEP. “Mas é impossível negar que estamos enfrentando fortes ventos contrários.”
A UNEP elenca seis grandes frentes de negociação que definirão o rumo das próximas políticas climáticas — e, em última instância, o futuro do planeta.
Francisca Arara, chefe do Secretariado dos Povos Indígenas do Acre, afirma que os grupos indígenas estão prestando um “serviço ao mundo” ao combater o desmatamento, considerado crucial para limitar as mudanças climáticas. Crédito: UNEP/Florian Fussstetter
1. Como evitar o colapso climático global
O Relatório de Lacuna de Emissões 2025 (Emissions Gap Report), divulgado pela UNEP às vésperas da conferência, mostra que os compromissos nacionais atuais colocam o mundo em uma trajetória de aquecimento entre 2,3°C e 2,5°C até o fim do século — muito além do limite de 1,5°C estabelecido no Acordo de Paris.
Segundo o estudo, a superação temporária da marca de 1,5°C é praticamente inevitável na próxima década. O desafio, agora, é reduzir a duração e a intensidade desse “overshoot” por meio de cortes profundos em setores de alta emissão, como energia, transporte e indústria.
Durante a COP30, os países serão pressionados a apresentar planos imediatos de descarbonização, com metas verificáveis e mecanismos de implementação.
2. Como proteger comunidades vulneráveis
A adaptação será outro tema central em Belém. O Relatório de Lacuna de Adaptação 2025, também da UNEP, estima que nações em desenvolvimento precisarão de US$ 310 bilhões anuais até 2035 para se preparar para os efeitos extremos do clima — e atualmente dispõem de apenas uma fração desse valor.
A conferência deve definir uma nova meta global de financiamento para adaptação, além de estabelecer indicadores para o Marco Global de Adaptação. Entre as medidas discutidas, estão o fortalecimento de sistemas de alerta precoce, que segundo a UNEP, podem gerar até 15 vezes mais economia do que o investimento realizado em prevenção.
3. Como cumprir a promessa trilionária de financiamento climático
Azerbaijão e Brasil, respectivamente anfitriões da COP29 e COP30, apresentaram antes do evento um roteiro conjunto para mobilizar US$ 1,3 trilhão anuais até 2035 para ações climáticas em países em desenvolvimento.
A UNEP avalia que esse volume só será viável se fundos públicos forem usados para atrair capital privado em larga escala. Isso exige reforma nos bancos multilaterais de desenvolvimento, soluções de dívida inovadoras e instrumentos financeiros capazes de converter promessas em fluxos reais de investimento.
4. Como acelerar soluções criativas e sustentáveis
Além das negociações formais, a COP30 será palco para iniciativas inovadoras que buscam respostas práticas à crise climática.
Entre elas, o Beat the Heat Implementation Drive, liderado pelo Brasil e pela UNEP, que estimula soluções locais contra o calor extremo, como telhados frios, áreas verdes urbanas e sistemas de alerta comunitários.
Outro destaque é o Bairro do Mutirão para Cidades, Água e Infraestrutura, projeto brasileiro que mostra como design inteligente e economia circular podem transformar bairros em espaços resilientes e sustentáveis.
A UNEP também lançará o Food Waste Breakthrough, plano global de cinco anos para reduzir o desperdício de alimentos em 50%, com potencial de diminuir em até 7% as emissões de metano.
Já o Tropical Forest Forever Facility propõe pagar países para manter florestas em pé, combinando financiamento misto e mecanismos jurisdicionais de REDD+. A expectativa é que o programa forneça mais da metade dos recursos necessários para conservar as florestas tropicais.
5. Como garantir uma transição justa e inclusiva
A UNEP reforça que a transição energética só será bem-sucedida se for socialmente justa. Embora as energias renováveis já ofereçam a eletricidade mais barata do planeta, comunidades dependentes de indústrias de alto carbono não podem ser deixadas para trás.
Na COP30, está prevista a criação do Mecanismo de Ação de Belém para a Transição Justa, que deve detalhar como governos e empresas podem colocar as pessoas no centro da transformação econômica — com capacitação profissional, geração de empregos verdes e diversificação produtiva.
Também será debatida a redução de poluentes de vida curta, como o metano, altamente eficazes para frear o aquecimento global a baixo custo, especialmente no setor de petróleo e gás.
6. Como resgatar o espírito do Acordo de Paris
A COP30 carrega uma forte carga simbólica. Dez anos após o histórico Acordo de Paris, especialistas defendem que o encontro em Belém precisa reacender o espírito de cooperação e urgência que marcou 2015.
Graças ao acordo, o mundo conseguiu reduzir a projeção de aquecimento de 3,5°C para cerca de 2,4°C — um avanço considerável, mas ainda insuficiente para evitar danos irreversíveis.
“Ainda há tempo para evitar o pior,” afirmou Ruth do Coutto, da UNEP. “Mas precisamos agir com a mesma determinação que demonstramos há uma década.”
A COP30 é vista, portanto, como o ponto de partida de uma nova década de entrega, em que compromissos climáticos se traduzem em resultados concretos e mensuráveis.
Um chamado global à ação
Com a Amazônia no centro do debate, a UNEP reforça que o sucesso da COP30 depende da capacidade coletiva de transformar promessas em implementação real. O mundo já sabe o que precisa ser feito — o desafio, agora, é agir com rapidez, justiça e cooperação.
Belém (PA) se tornou oficialmente o centro do debate climático global.
Com a presença de delegações de quase 200 países, a COP30 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas teve início nesta segunda-feira (10), marcando o início de duas semanas de discussões que podem redefinir o futuro da política climática internacional.
Sob o lema de que esta será a “COP da implementação”, o Brasil, país-sede, quer transformar promessas em resultados concretos. A expectativa é que as negociações deixem de se limitar a compromissos e metas futuras, passando para planos práticos de ação, financiamentos e transição energética justa.
“Negociações exigem consenso. Implementação é quando os países realmente fazem o que disseram que fariam”, resumiu André Corrêa do Lago, presidente da COP30 e embaixador brasileiro.
Um início simbólico na Amazônia
As primeiras sessões plenárias foram abertas em Belém, capital paraense, às margens da floresta amazônica — o maior bioma tropical do planeta. A cerimônia marcou a transição entre Mukhtar Babayev, ministro do Meio Ambiente do Azerbaijão e presidente da COP29, e o governo brasileiro, que agora assume oficialmente a liderança global do debate.
“O sucesso da COP30 depende de fazer valer os compromissos assumidos em Baku”, afirmou Babayev, referindo-se à meta de US$ 300 bilhões anuais em financiamento climático até 2035, com previsão de chegar a US$ 1,3 trilhão a partir de parcerias público-privadas e fundos verdes.
Líderes mundiais e novos rumos
Nos dias anteriores à abertura oficial, mais de 50 chefes de Estado e de governo participaram da Cúpula de Líderes da Amazônia, em 6 e 7 de novembro, também em Belém. Entre os presentes estavam Keir Starmer (Reino Unido), Ursula von der Leyen (União Europeia) e Friedrich Merz (Alemanha). Líderes dos Estados Unidos, China, Índia e Rússia não compareceram, mas enviaram mensagens de cooperação ao Brasil.
Com a saída das delegações presidenciais, entram em cena agora os negociadores técnicos e ministros de meio ambiente, que tentarão construir consensos sobre financiamento climático, redução de emissões e transição energética.
Brasil quer resultados práticos: a COP da execução
Diferente das conferências anteriores, marcadas por longas negociações e declarações simbólicas, o governo brasileiro promete fazer da COP30 um ponto de virada. O foco, segundo o Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente, será “implementar o que já foi acordado” — e não abrir novas promessas.
As negociações deverão produzir uma série de “roadmaps” (roteiros) sobre temas essenciais:
Financiamento climático – como viabilizar os US$ 300 bilhões anuais prometidos em Baku.
Transição energética justa – plano para a substituição gradual dos combustíveis fósseis.
Expansão da energia limpa – metas para acelerar o uso de renováveis e reduzir emissões.
Justiça social e climática – mecanismos de inclusão de comunidades vulneráveis e povos indígenas.
Em alguns casos, os acordos finais podem não sair nesta conferência — mas sim inaugurar fóruns permanentes que continuarão nas próximas COPs.
O que está em jogo na COP30
Mais do que uma conferência, a COP30 é vista como um teste de credibilidade do Acordo de Paris, firmado em 2015. Cientistas alertam que, com o aquecimento global se acelerando mais rapidamente do que em qualquer outro período dos últimos 24 mil anos, o mundo se aproxima de pontos de não retorno — como o colapso das geleiras, o derretimento do Ártico e o desequilíbrio da Amazônia.
Entre os temas centrais da conferência estão:
Energia e descarbonização
Finanças sustentáveis
Proteção da Amazônia e dos biomas tropicais
Saúde, biodiversidade e segurança alimentar
Transporte e cidades resilientes
Gênero, juventude e equidade climática
A conferência reunirá ministros, diplomatas, cientistas, lideranças indígenas, empresários e representantes da sociedade civil, todos com o mesmo desafio: agir antes que o aquecimento ultrapasse 1,5°C.
Um momento decisivo para o planeta
O Brasil quer provar que é possível liderar a ação climática com base em resultados, não apenas discursos. A realização da COP30 na Amazônia simboliza essa nova etapa — uma tentativa de transformar a floresta no epicentro de soluções globais, e não apenas no retrato das urgências ambientais.
“O mundo já sabe o que precisa ser feito. O desafio agora é fazer”, resume um dos negociadores brasileiros.
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A Suíça anunciou neste domingo (9) uma doação de 5 milhões de francos suíços — o equivalente a cerca de R$ 33 milhões — ao Fundo Amazônia, reforçando a aliança entre o país europeu e o Brasil na agenda ambiental. O anúncio foi feito durante o evento “Presença Suíça na COP30”, realizado em Belém, véspera da abertura da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).
A cerimônia contou com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, instituição responsável pela gestão do fundo. A nova contribuição suíça soma-se aos recursos de nações como Noruega, Alemanha e Reino Unido, reafirmando a retomada do protagonismo internacional do Brasil no combate ao desmatamento e na proteção da Amazônia.
Criado em 2008, o Fundo Amazônia é um dos principais mecanismos de financiamento de projetos de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal. A iniciativa apoia ações que vão desde o monitoramento por satélite até o fortalecimento da bioeconomia, a inclusão produtiva e a valorização dos saberes tradicionais de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
Segundo dados do BNDES, o fundo já beneficiou mais de 260 mil pessoas, apoiando 144 projetos e 600 organizações comunitárias em toda a região amazônica. Os investimentos abrangem desde a promoção do manejo florestal sustentável até o incentivo à pesquisa científica e à restauração de áreas degradadas.
O fundo havia sido paralisado em 2019 e retomado em 2023, após reestruturação do governo federal. Desde então, voltou a receber aportes internacionais e se tornou símbolo da nova política ambiental brasileira. Para Marina Silva, a reativação e o fortalecimento do Fundo Amazônia representam “a reconstrução da confiança do mundo no compromisso do Brasil com o clima e com seus povos da floresta”.
Durante o evento, representantes do governo suíço ressaltaram que o país vê o apoio ao fundo como parte de uma estratégia global de cooperação climática e solidariedade financeira com países em desenvolvimento. “A Amazônia é vital para o equilíbrio climático do planeta. Apoiar o Brasil nesse esforço é também proteger nosso próprio futuro”, afirmou o embaixador suíço no Brasil, segundo comunicado da Embaixada da Suíça no Brasil.
O anúncio reforça o papel de Belém como palco simbólico das negociações climáticas que começam nesta segunda-feira (10). A COP30, que reúne delegações de 194 países e da União Europeia, discutirá os caminhos para fortalecer a implementação do Acordo de Paris e aprimorar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — compromissos voluntários de cada país para reduzir emissões de gases de efeito estufa.
O Brasil apresentou metas ambiciosas: reduzir entre 59% e 67% suas emissões até 2035, abrangendo todos os gases e setores da economia. Segundo levantamento da Agência Brasil, 79 países já divulgaram suas novas NDCs, respondendo por 64% das emissões globais, enquanto 118 nações ainda não atualizaram seus compromissos.
Analistas avaliam que o gesto suíço vai além do valor financeiro: é um sinal político de confiança nas instituições ambientais brasileiras e na estabilidade das políticas públicas voltadas à floresta. O movimento ocorre em um momento em que o Brasil busca consolidar um papel de liderança entre os países do Sul Global, aproximando diplomacia climática, economia verde e justiça social.
A expectativa é que outras nações sigam o exemplo, ampliando o fluxo de recursos para o Fundo Amazônia e para mecanismos semelhantes de financiamento climático. A ministra Marina Silva lembrou que a preservação da Amazônia “é um esforço coletivo que precisa ser sustentado pela cooperação internacional e pelo compromisso real com a transição ecológica”.
Com a COP30, Belém se transforma em vitrine global para o debate sobre o futuro climático do planeta — e o gesto da Suíça, ainda que simbólico, aponta que a reconstrução da confiança entre as nações pode, de fato, abrir caminho para uma nova etapa da ação climática mundial.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que começa nesta segunda-feira (10) em Belém, já nasce marcada por uma convocação simbólica: transformar a Amazônia em ponto de virada para uma nova fase da ação climática global. Em sua décima e última carta à comunidade internacional, o presidente-designado da cúpula, o diplomata André Corrêa do Lago, convidou as nações a fazer da conferência “um ciclo de ação”, substituindo discursos por compromissos concretos e cooperativos.
A mensagem encerra um percurso iniciado meses antes, quando Corrêa do Lago — que já foi negociador do Acordo de Paris — começou a publicar cartas abertas com reflexões sobre o papel das negociações multilaterais em um mundo cada vez mais pressionado por crises ambientais e sociais. Nesta última, ele reforça a ideia de que o tempo do diagnóstico já passou. Agora, diz, é hora de restaurar “a aliança entre o planeta e as gerações humanas”.
O embaixador vê na COP30 a chance de retomar o espírito cooperativo que marcou a ECO-92, também realizada no Brasil, e que deu origem à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). “Em Belém, honraremos essa continuidade: a capacidade de nossa espécie de cooperar, renovar-se e agir em conjunto diante da incerteza”, escreveu.
Para Corrêa do Lago, o desafio central é transformar o formato tradicional das conferências — frequentemente dominado por disputas políticas — em um “laboratório de soluções” capaz de unir quase 200 países sob uma agenda comum. “Mais do que negociar, precisamos agir como uma equipe global, canalizando nossa inteligência coletiva em prol da proteção das pessoas, das economias e dos ecossistemas”, declarou.
O diplomata propõe que Belém simbolize o início de um novo ciclo — um pacto moral e prático entre o Norte e o Sul globais. A carta destaca que o Brasil, ao sediar o encontro no coração da Amazônia, assume o papel de anfitrião de uma transição histórica, na qual o desenvolvimento sustentável e a justiça climática precisam caminhar lado a lado.
Entre as prioridades da conferência estão a implementação plena do Acordo de Paris, o reforço do multilateralismo e a conexão do regime climático à vida cotidiana das pessoas. Corrêa do Lago afirma que “a COP da Verdade”, como definiu o encontro, deve ser um marco entre a escolha e a imposição: “Ou decidimos mudar por escolha, juntos, ou seremos forçados a mudar pela tragédia.”
As negociações de Belém terão como foco principal a revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — os compromissos de cada país para reduzir emissões de gases de efeito estufa. O Brasil anunciou sua meta revisada: cortar entre 59% e 67% das emissões até 2035, incluindo todos os gases e setores da economia. Segundo dados da Agência Brasil, 79 países já apresentaram suas novas metas, representando 64% das emissões globais. Os 118 restantes, responsáveis pelos outros 36%, ainda não oficializaram seus compromissos.
Além das NDCs, a COP30 discutirá mecanismos de financiamento climático — ponto sensível para países em desenvolvimento, que cobram dos mais ricos o cumprimento de promessas feitas em cúpulas anteriores. A meta de mobilizar US$ 100 bilhões anuais em apoio à transição ecológica e à adaptação ainda está distante de ser atingida.
Para Corrêa do Lago, a superação dessas lacunas depende da capacidade de os países reconhecerem o que está em jogo. “Mais importante do que o que fazemos e como fazemos é termos clareza sobre por que o fazemos”, afirmou. A COP30, diz ele, deve ser o espaço em que o mundo decide agir não apenas por sobrevivência, mas por um sentido de responsabilidade compartilhada.
Ao fim da carta, o diplomata resume o espírito que espera ver florescer nas negociações de Belém: “Com esta décima carta, concluo um ciclo de palavras para que o mundo abra um ciclo de ação.”
Belém se transforma no epicentro das negociações internacionais sobre o clima com o início da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Até o dia 21 de novembro, delegações de 194 países e da União Europeia se reúnem para enfrentar um triplo desafio: garantir financiamento efetivo, acelerar a transição energética e ampliar a adaptação a eventos climáticos extremos.
É a primeira vez que uma COP acontece na Amazônia, o bioma com maior biodiversidade do planeta e regulador essencial do clima global. Mais de 50 mil pessoas, entre negociadores, cientistas, representantes de governos, instituições e movimentos sociais, devem circular pela capital paraense, transformando Belém no principal palco de uma discussão que ultrapassa fronteiras.
A COP da verdade
Ao abrir a conferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi direto: “A COP30 é a COP da verdade”. Lula tem insistido que sem um plano de financiamento sólido, metas de transição energética e abandono gradual dos combustíveis fósseis, o Acordo de Paris corre o risco de se tornar letra morta.
Nos últimos dias, o evento ganhou força com a realização da Cúpula do Clima, que reuniu cerca de 70 chefes de Estado e de governo. O presidente brasileiro buscou um consenso em torno de ações práticas para conter o aumento da temperatura global a 1,5°C — limite considerado crítico pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
“Lula trouxe para a mesa a questão essencial: o fim dos combustíveis fósseis”, avalia Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, rede que reúne mais de 130 organizações da sociedade civil. “Ele quer ver sair de Belém um roteiro concreto de como se dará essa transição — quem começa primeiro, qual o prazo e o volume de recursos envolvidos.”
Segundo a plataforma Climate Watch, petróleo, gás e carvão ainda respondem por 75% das emissões globais de gases de efeito estufa. Outros 11,7% vêm da agricultura e 2,7% do desmatamento e da mudança do uso da terra.
Entre promessas e incertezas
O contexto internacional é desafiador. Conflitos armados, retrocessos políticos e o aumento recente das emissões de CO₂ colocam em risco os compromissos climáticos firmados há uma década no Acordo de Paris. Menos de 80 países atualizaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), metas que indicam quanto cada nação se compromete a reduzir emissões.
Na carta final antes da conferência, o presidente-designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, apelou para que Belém se torne “um ciclo de ação” e não apenas de promessas. A tarefa não é simples: todos os acordos precisam ser aprovados por consenso entre as 198 partes da Convenção do Clima — um processo longo e minucioso.
Três grandes eixos devem dominar as negociações: adaptação climática, transição justa e financiamento. O primeiro busca definir indicadores para medir o progresso dos países na preparação diante de desastres ambientais. O segundo discute políticas que garantam que trabalhadores e comunidades afetadas pela descarbonização não fiquem para trás.
Mas é o financiamento que se mostra o maior obstáculo. Países ricos prometeram mobilizar US$ 100 bilhões anuais para apoiar nações em desenvolvimento — promessa que ainda não se concretizou. Para tentar reverter esse quadro, a presidência conjunta da COP29 e COP30 apresentou o “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, que prevê mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano em investimentos climáticos.
No caso do Brasil, um dos instrumentos anunciados é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund), lançado durante a Cúpula do Clima. Com aportes prometidos de US$ 5,5 bilhões, o fundo destinará 20% dos recursos a comunidades tradicionais e povos indígenas, fortalecendo a proteção das florestas tropicais em cerca de 70 países.
A força da sociedade civil
Muito além da diplomacia, Belém vive um momento histórico de mobilização social. A chamada Zona Verde — espaço público da COP, instalada no Parque da Cidade — recebe instituições, coletivos, comunidades e startups que apresentam soluções para a crise climática.
A participação indígena promete ser a maior da história das conferências do clima, com mais de 3 mil representantes. No Pavilhão do Círculo dos Povos, diferentes vozes dialogam sobre justiça climática e proteção dos biomas. Paralelamente, a Cúpula dos Povos — organizada pela sociedade civil — realiza uma série de atividades na Universidade Federal do Pará (UFPA), incluindo uma barqueata pelo Rio Guamá e uma grande marcha prevista para o dia 15.
“Clima não é um tema distante; ele afeta o preço do alimento, a conta de luz e o cotidiano das pessoas”, lembra Astrini. Para o coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Dinamam Tuxá, a COP30 deve ser lembrada como o momento em que os acordos começaram, de fato, a ser cumpridos. “Precisamos estar na mesa de negociação de igual para igual”, afirma.
Belém, mais do que sede, tornou-se símbolo. Se o mundo espera um novo ciclo de ação climática, é na Amazônia que ele precisa começar.