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COP30 e o vocabulário do clima: o que está em jogo nas negociações globais

Enquanto os pavilhões da COP30 se espalham por Belém, o clima de expectativa se mistura a um emaranhado de siglas e expressões que moldam o futuro das negociações ambientais. O inglês é a língua oficial da conferência, mas o verdadeiro idioma que conecta líderes, ativistas e cientistas é o da urgência climática — e compreender seus termos é compreender o que está em disputa no planeta.

A Conferência das Partes é o grande fórum global que, desde 1995, reúne países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Criada na Rio-92, ela definiu um princípio central: o de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, reconhecendo que as nações historicamente mais poluentes devem liderar a redução das emissões.

Desde então, cada COP busca traduzir essa lógica em compromissos concretos. O Acordo de Paris, firmado na COP21 de 2015, foi um marco: reuniu esforços para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Essa meta deu origem à chamada Missão 1,5, que se tornou símbolo de esperança e também de cobrança sobre os países que ainda resistem à transição energética.

Mas o caminho até Belém é repleto de lacunas. O Livro de Regras de Paris, elaborado na COP24 em Katowice, buscou operacionalizar o acordo, definindo como medir, relatar e revisar metas. Entre os mecanismos mais debatidos está o Artigo 6, que cria as bases para um mercado global de carbono, permitindo que países e empresas compensem emissões através de créditos ambientais — uma ferramenta promissora, mas ainda envolta em disputas sobre transparência e integridade climática.

Justiça e responsabilidade compartilhada

A Justiça Climática tornou-se um conceito-chave nas últimas conferências. Mais do que uma questão ambiental, trata-se de um debate ético e social: como garantir que a transição para economias de baixo carbono não reproduza desigualdades históricas? Países em desenvolvimento, especialmente do Sul Global, defendem que o financiamento climático deve ser ampliado e previsível.

Esse compromisso aparece na Nova Meta Quantificada Global de Finanças Climáticas (NCQG), acordada na COP29 em Baku, que pretende elevar os recursos disponíveis de 300 bilhões a 1,3 trilhão de dólares até 2035. Esses valores seriam destinados à adaptação e mitigação em países mais vulneráveis.

Na prática, isso significa viabilizar políticas de adaptação climática — como sistemas de drenagem urbana, reflorestamento e agricultura sustentável — e também ações de mitigação, que buscam reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO₂) e o metano (CH₄).

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REUTERS/Marx Vasconcelos/File Photo

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Balanços, metas e transparência

Outro instrumento essencial é o Global Stocktake (GST), o balanço global que avalia o cumprimento das metas do Acordo de Paris. O primeiro relatório, apresentado na COP28 em Dubai, revelou um cenário preocupante: o mundo ainda está distante de alcançar o limite de 1,5°C.

A cada cinco anos, cada país deve atualizar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — planos que detalham como cada nação pretende reduzir suas emissões. O Brasil, por exemplo, submeteu sua terceira versão em 2024, estabelecendo uma redução entre 59% e 67% até 2035 e a neutralidade de carbono até 2050, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Esses dados integram os Relatórios Bienais de Transparência (BTRs), documentos obrigatórios que permitem avaliar a coerência entre o discurso e a prática. É o equivalente a uma auditoria climática internacional — fundamental para manter a confiança entre as partes.

De Bonn a Belém: uma rota de esperança

Antes de cada COP, os negociadores se reúnem na Conferência de Bonn (SB60), um espaço técnico na Alemanha onde são alinhados pontos críticos. De lá saiu o chamado Mapa do Caminho de Baku a Belém, que delineia a rota para consolidar os novos mecanismos financeiros e garantir o avanço da Troika climática, uma aliança entre os Emirados Árabes Unidos, o Azerbaijão e o Brasil — países que presidem as COPs 28, 29 e 30 — comprometidos em manter viva a ambição da Missão 1,5°C.

Ao longo dessas três décadas, a agenda climática se expandiu muito além dos muros das negociações diplomáticas. Hoje, termos como perdas e danos, sumidouros de carbono e ponto de não retorno deixaram de ser jargões técnicos para se tornarem metáforas do nosso tempo: a linha tênue entre o colapso e a regeneração.

A COP30, em Belém, não é apenas uma conferência — é um convite a traduzir esse vocabulário em ação concreta, combinando ciência, solidariedade e vontade política para redesenhar o futuro comum da humanidade.

Projeto Orion: Brasil inaugura uma nova era em biossegurança global

Único no mundo, o Projeto Orion colocará o Brasil na vanguarda da pesquisa científica e da governança em biossegurança. A iniciativa integrará um laboratório de contenção biológica de nível máximo (BSL-4) ao Sirius, acelerador de partículas de última geração localizado em Campinas (SP), administrado pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

Com um investimento estimado em 280 milhões de dólares e conclusão prevista para 2027, o Orion será o único complexo do planeta a unir um laboratório BSL-4 a uma fonte de luz síncrotron. Essa combinação permitirá pesquisas inéditas em biologia estrutural e análise de patógenos altamente letais, colocando o Brasil em um novo patamar científico e estratégico. A Alemanha figura como parceira internacional central na cooperação técnica.

Da Rio-92 à COP30: o amadurecimento de uma agenda estratégica

Nas últimas três décadas, o Brasil se consolidou como um ator-chave na governança ambiental e climática global, sediando eventos históricos como a Rio-92 e a Rio+20. Às vésperas da COP30, em novembro de 2025, o país avança também no campo da biossegurança e da biosegurança — temas que ganham centralidade em um século marcado por rápidas transformações tecnológicas e riscos emergentes.

A ministra Luciana Santos, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destacou que o Orion representa “um divisor de águas para a soberania científica e para a segurança sanitária nacional”, fortalecendo o papel do Brasil como articulador de políticas de inovação responsáveis.

Enquanto a biotecnologia expande fronteiras em saúde, agricultura e meio ambiente, crescem também as preocupações com o uso dual dessas tecnologias — isto é, sua aplicação tanto para fins benéficos quanto para riscos de segurança. A biossegurança busca prevenir exposições acidentais a agentes biológicos, enquanto a biosegurança atua para evitar acessos não autorizados, perdas ou uso indevido de materiais e dados sensíveis.

De compromissos globais à política nacional

O marco internacional mais importante nessa trajetória foi o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, adotado em 2000 no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). O tratado estabeleceu mecanismos legais para monitorar e regular organismos geneticamente modificados (OGMs), vinculando biossegurança às práticas de engenharia genética.

O Brasil respondeu com a Lei de Biossegurança de 2005, que reformulou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e criou o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), sob coordenação do MCTI. O país passou, então, a integrar de forma ativa a rede internacional de prevenção e monitoramento de riscos biotecnológicos.

Com a pandemia de COVID-19, a necessidade de fortalecer a infraestrutura científica tornou-se urgente. Grupos técnicos da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDEN), vinculada ao Conselho de Segurança Nacional, iniciaram estudos para criar uma Política Nacional de Biossegurança e Biosegurança mais abrangente — incluindo a instalação de um laboratório BSL-4 capaz de responder a agentes desconhecidos e altamente patogênicos.

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Foto: Bruno Peres/MCTIC

SAIBA MAIS: Brasil e Reino Unido lideram ação global contra o metano

Orion: inovação, soberania e cooperação internacional

Lançado em 2024 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Orion é parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e recebe recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). O projeto conta com apoio do Ministério da Saúde (MS) e dialoga com a política Nova Indústria Brasil (NIB), reforçando a integração entre defesa, ciência e saúde pública.

A expectativa é que o complexo também fortaleça o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), estratégia que articula pesquisa, produção e inovação em favor do Sistema Único de Saúde (SUS).

Atualmente, a América Latina não dispõe de infraestrutura laboratorial para pesquisa com organismos de alta patogenicidade. Mesmo com avanços em biociências, a região depende de apoio externo para estudos de alto risco biológico. Entre os países do BRICS, o Brasil é o único sem um laboratório BSL-4 — uma lacuna que o Orion pretende preencher.

Mais do que um investimento em infraestrutura, o Orion expressa uma visão de futuro: a de que ciência, segurança e cooperação internacional podem caminhar juntas. O projeto reforça a ambição brasileira de alcançar autonomia estratégica na biotecnologia e na saúde, ao mesmo tempo em que contribui para a construção de um sistema global mais ético, equitativo e resiliente diante dos desafios do Antropoceno.

COP30 pode marcar uma nova era na governança climática global

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, até 21 de novembro de 2025, é mais do que um encontro internacional: representa uma oportunidade para redefinir o rumo das negociações climáticas e consolidar o protagonismo do Sul Global na agenda ambiental mundial.

Em entrevista exclusiva ao jornalista Luís Boaventura, da CGTN Brasil, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que a COP30 pode se tornar um marco para a próxima década, tanto pela sua localização simbólica na Amazônia quanto pela necessidade de implementar compromissos assumidos nas últimas três décadas de conferências climáticas.

Segundo a ministra, os acordos firmados desde a Rio-92 continuam sendo a base de um pacto global inacabado, que precisa agora se traduzir em ações concretas e mensuráveis. “Chegou o momento de fazer valer o que já foi acordado, e isso passa por uma nova visão de cooperação internacional que reconheça as desigualdades históricas e valorize o papel dos países em desenvolvimento”, afirmou Marina.

Para ela, a COP30 em Belém não é apenas uma conferência: é um convite para olhar o mundo a partir da Amazônia — um território que simboliza tanto a urgência climática quanto o potencial de soluções sustentáveis. Ao reunir lideranças, cientistas, povos indígenas e jovens de diversas partes do planeta, a conferência tem o desafio de tornar o discurso climático mais inclusivo e conectado às realidades locais.

A ministra destacou ainda que o Sul Global — formado por países historicamente marginalizados nas decisões econômicas e ambientais — pode assumir agora um papel de liderança. Essa liderança, no entanto, deve se basear em um novo modelo de desenvolvimento que una economia e ecologia, inovação tecnológica e saberes tradicionais, crescimento e conservação.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

SAIBA MAIS: Free Zone: arte, ciência e juventude na COP30 em Belém

“Os países do Sul Global podem mostrar ao mundo que é possível produzir, gerar riqueza e, ao mesmo tempo, regenerar. A economia verde não é apenas um conceito, é uma oportunidade para fazer diferente”, pontuou Marina.

Durante a entrevista, a ministra também reconheceu o papel da China como uma das principais parceiras do Brasil na transição para uma economia de baixo carbono. Segundo ela, o país asiático tem dado contribuições importantes por meio do desenvolvimento de tecnologias limpas, especialmente na produção de carros elétricos e em projetos de reflorestamento em larga escala.

Essas iniciativas, avalia Marina, demonstram que é possível alinhar crescimento econômico e responsabilidade climática, criando novas cadeias produtivas mais limpas e inclusivas. “O futuro depende de uma nova lógica de cooperação, onde inovação, justiça climática e solidariedade caminhem juntas”, afirmou.

A entrevista reforça o tom otimista — mas também desafiador — que marca o início da COP30. Ao sediar o evento na Amazônia, o Brasil assume a responsabilidade simbólica de ser um mediador entre mundos: o da política global e o dos territórios que vivem, cotidianamente, os efeitos da crise climática.

A expectativa é que, até o encerramento da conferência, novas parcerias sejam firmadas em torno de temas como financiamento climático, transição justa, proteção das florestas tropicais e redução de emissões de carbono. Mais do que metas, o momento pede mecanismos de implementação que garantam que as promessas climáticas saiam do papel.

A fala de Marina Silva sintetiza esse espírito: “Belém pode ser o ponto de inflexão. Se o mundo compreender o que a Amazônia está dizendo, podemos inaugurar uma nova fase — uma década de ação real, guiada pela ética da vida”.

Comunidades em ação: ecovilas e CSAs frente às mudanças climáticas

Em pleno encontro mundial sobre o clima, surge em Belém uma convocação mais silenciosa, mas não menos urgente: a chamada para fortalecer o poder das comunidades. No dia 12 de novembro, na sede do Instituto Via Amazônia, no bairro da Sacramenta, dezenas de pessoas se reúnem de 15h às 20h para o evento “O Poder das Comunidades” — uma iniciativa que se volta para as ecovilas e as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSAs) como protagonistas na construção de um futuro mais resiliente.

Vivemos numa era em que os extremos climatológicos se acentuam, os ecossistemas fragilizam-se e os modos convencionais de produzir e viver se mostram cada vez mais vulneráveis. Nesse cenário, as ecovilas se destacam como experiências de convivência regenerativa, e as CSAs como redes de cooperação entre quem planta, quem consome e quem compõe uma economia local fortalecida. O encontro marca o reconhecimento de que a transição ecológica não pode ser apenas tecnocrática ou centrada em grandes atores globais — ela precisa emergir dessas comunidades pequenas, conectadas, comprometidas com a vida da terra.

A Ecovila Iandê, em Santa Bárbara do Pará, e a CSA Iandê estão à frente dessa convocação. Essas experiências se ancoram em princípios como agrofloresta, permacultura, habitação de baixo impacto e produção de alimentos colaborativos — em outras palavras, reinventam a forma como nos relacionamos com a terra, com o outro, com o alimento. Ao reunir pessoas num mesmo espaço para debater e trocar saberes, o evento quer inspirar a criação de novos ciclos de cuidado, ação conjunta e mudança de paradigma.

O poder das comunidades surge, então, como potência de regeneração: quando agricultores e consumidores trocam papéis, quando o solo é visto como parceiro e não como mera fonte de extração, quando as relações humanas se reencantam com o território. No encontro, haverá momentos de diálogo, de troca de vivências e de construção coletiva de práticas que — mesmo parecendo locais — reverberam globalmente. Afinal, não se trata apenas de manter hortas produzindo ou comunidades autossuficientes, mas de mudar o padrão: da dependência ao cuidado, da fragmentação à cooperação, da urgência à ação consciente.

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Divulgação – Ecovila Iandê

VEJA TAMBÉM: Como se locomover em Belém durante a COP30? Veja as principais linhas de ônibus criadas para o evento

Neste momento histórico, onde políticas públicas e mercados ainda patinam para dar conta da crise climática, ecovilas e CSAs oferecem pistas concretas de como vidas sustentáveis podem se articular. Elas cultivam não apenas alimentos, mas essencialmente vínculos: entre pessoas, com a natureza e com o futuro. O evento em Belém se propõe a ser esse catalisador — conectando atores, fortalecendo redes e visibilizando essas práticas que já se fazem e que precisam se multiplicar.

Participar é uma forma de apostar no local como ponto de mudança. Na sede do Instituto Via Amazônia, o encontro será espaço de inspiração e proposição. As vagas são limitadas, pois o sentido é coletivo e o número reduzido favorece o encontro mais denso entre pessoas. A inscrição — simples — abre caminho para que cada participante leve consigo não só conhecimento, mas uma rede em crescimento.

No fim, o evento transmite uma mensagem poderosa: cuidar da terra é cuidar da vida. E isso se faz juntos. Seja na ecovila que restabelece equilíbrio ao solo; seja na CSA que reconecta produtor e consumidora; seja no ato de comparecer, trocar, transformar. Essa é a força das comunidades — pequenas, estrategicamente conectadas, profundamente humanas — frente aos desafios que se espalham — globais no nome, locais no efeito.

E se o impacto da crise climática se mede em regiões, populações e territórios, a resposta também se mede ali — na cooperação, na produção de alimentos que respeitam os ciclos da natureza, no fortalecimento de cadeias curtas e solidárias, na construção de redes sociais que encaram o desafio com raiz e com horizonte. Em Belém, no dia 12, as comunidades se reúnem para reafirmar: nós somos a mudança que o planeta pede.

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Brasil e Reino Unido lideram ação global contra o metano

Belém volta a ser palco de decisões que podem redefinir o rumo da política climática global. Em uma reunião paralela à COP30, realizada ontem na capital paraense, Brasil, China e Reino Unido lideraram um encontro internacional sobre a redução de emissões de metano e outros gases de efeito estufa não-CO₂ — uma frente que especialistas consideram decisiva para manter o planeta dentro do limite de aquecimento de 1,5°C.

A cúpula contou ainda com representantes de Barbados, França e Alemanha, e teve o apoio da presidência da COP30. Também participaram organizações internacionais como a Climate and Clean Air Coalition (CCAC) e a Bloomberg Philanthropies, reforçando o caráter multilateral do debate.

A ministra Marina Silva e o secretário britânico Ed Miliband, responsável pela pasta de Segurança Energética e Net Zero, anunciaram o lançamento do Acelerador de Ação dos Países sobre Superpoluentes — uma iniciativa conjunta que busca apoiar 30 países em desenvolvimento na redução de emissões de metano e hidrofluorocarbonos (HFCs) até 2030.

A primeira etapa mobilizará US$ 150 milhões, com um investimento inicial de US$ 25 milhões destinado a um grupo de sete países — Brasil, Camboja, Indonésia, Cazaquistão, México, Nigéria e África do Sul. Em cada nação, serão criadas Unidades Nacionais de Superpoluentes, estruturas técnicas voltadas à coordenação de políticas públicas, inovação tecnológica e monitoramento contínuo das emissões.

“Gases de vida curta, como o metano, aquecem mais intensamente que o CO₂, mas permanecem menos tempo na atmosfera. Reduzi-los é a forma mais rápida e eficaz de frear o aquecimento global e diminuir a frequência de desastres climáticos”, afirmou Marina Silva, ao destacar que a mitigação desses poluentes pode ser decisiva para “ganhar tempo” na corrida pela descarbonização.

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Imagem: Tatiana Grozetskaya / Shutterstock.com

SAIBA MAIS: Lula e a missão de reduzir o metano: um serviço histórico à Terra

O Reino Unido, por sua vez, apresentou um pacote de seis medidas para acelerar o corte das emissões de metano no setor de óleo e gás. O plano inclui monitoramento mais rigoroso, eliminação da queima rotineira até 2030, apoio técnico e financeiro a países de renda baixa e média, e o desenvolvimento de um mercado de intensidade de metano próximo de zero, que premiará empresas com desempenho ambiental mais limpo.

Para Ed Miliband, a agenda não se limita à retórica. “Reduzir o metano e outros gases de efeito estufa não-CO₂ é uma das maneiras mais rápidas de frear o aquecimento global e limpar o ar que respiramos. O Reino Unido tem orgulho de estar na COP30, trabalhando com parceiros internacionais para transformar ambição em ação concreta”, declarou.

A estratégia lançada em Belém reflete uma mudança de foco na diplomacia climática: enquanto o dióxido de carbono continua sendo o maior responsável pelo aquecimento, cientistas apontam que combater superpoluentes como metano, óxido nitroso e HFCs pode gerar ganhos imediatos. O metano, por exemplo, é 84 vezes mais potente que o CO₂ em termos de aquecimento nos primeiros 20 anos após sua emissão, mas se dissipa mais rapidamente. Essa diferença o torna um alvo crucial para políticas de curto prazo.

A reunião em Belém, segundo fontes da presidência da COP30, marca o início de uma agenda paralela voltada a soluções de implementação imediata. A proposta é que o Acelerador sirva como plataforma de colaboração técnica e financeira para países que precisam reduzir emissões sem comprometer seu desenvolvimento socioeconômico.

Ao final do encontro, representantes das seis nações presentes concordaram que os superpoluentes precisam ganhar centralidade nos próximos ciclos de negociação climática — não apenas como complemento, mas como eixo estratégico de ação. Para o Brasil, a iniciativa reforça seu papel de articulador do Sul Global e anfitrião de uma COP que se propõe a unir urgência científica, justiça climática e cooperação internacional.

Free Zone: arte, ciência e juventude na COP30 em Belém

Em Belém (Pará), o cenário da conferência climática ganha um formato além das salas de negociação: nasce ali, de 10 a 21 de novembro, a Free Zone Cultural Action. Instalada na Praça da Bandeira, no bairro da Campina, essa iniciativa gratuita convida a uma imersão na Amazônia — não apenas como tema, mas como território vivo de debate, arte e mobilização.

A Free Zone abre as portas amanhã às 9h, após o lançamento oficial voltado à imprensa no dia 9, a partir das 16h, com evento de convidados. A partir do segundo dia, o público em geral poderá percorrer o circuito formado por dez domos geodésicos — estruturas construídas com materiais de baixo impacto ambiental (como madeira, alumínio, linóleo e cobertura reutilizável) — que sustentam diferentes espaços temáticos. Cada domo representa uma “ideia de futuro”, ao mesmo tempo que reconhece as raízes das comunidades amazônicas.

Dentro desses domos habitam zonas de conteúdo específico: a Zona Vozes, onde se sediará o fórum internacional da COJOVEM; a Zona Crono, teatro-arena que acolhe o espetáculo Cronoecológico, produzido pelo Instituto Artô; a Zona Tela, voltada para curtas e documentários; a Zona Ecos, que vai expor e ofertar bens e serviços da sociobioeconomia amazônica; a Zona Sabores, uma praça de alimentação inspirada no cotidiano ribeirinho e nos sabores regionais. Ali, cultura, ciência e cidadania se entrelaçam.

A correalização da Free Zone pela Instituto Cultural Artô e pela COJOVEM reforça dois vetores: a arte como vetor de transformação e o protagonismo jovem na Amazônia. Para a fundadora e diretora executiva da COJOVEM, Karla Braga, o objetivo não é apenas ter jovens “no palco”, mas fazê-los parte ativa das decisões — capacitados para transitar entre o local e o global, olhando para a Amazônia como lugar de crítica e inovação. A meta é clara: que segmentos que historicamente sofrem os impactos da crise climática assumam voz, lugar e potência.

FREEZONE-Praca-da-Bandeira-231-1024x683-1-400x267 Free Zone: arte, ciência e juventude na COP30 em Belém
Reprodução

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O fórum internacional, que reúne lideranças, especialistas e jovens de diferentes países, propõe debates sobre transição justa, adaptação, descarbonização, perdas e danos — e encara estes temas com o rigor da agenda da UNFCCC, porém a partir da vivência de quem está nos territórios. A arte entra como mediadora, tradução, provocação: o espetáculo, o debate, o documentário, a feira de economia criativa, o sabor da comida local — tudo converge para tornar a urgência climática algo humano, plural, imediato.

Além disso, a sustentabilidade não está apenas no discurso: a montagem da Free Zone foi pensada para usar materiais que busquem baixo impacto; a gestão de resíduos está a cargo da Cooperativa de Catadores Concaves – reforçando inclusão social e responsabilidade econômica. Esse cuidado técnico só reforça o simbolismo: a Amazônia como palco de convivência entre saberes ancestrais e tecnologias de futuro.

Mais que estrutura, a Free Zone é um convite. A cada visitante cabe decidir: observar como espectador ou assumir a condição de parte do debate. São esperadas até 10 mil pessoas por dia, em jornadas que vão das 8h até 2h (com shows até meia-noite). Todas as atividades são gratuitas; em alguns casos, haverá inscrição simples para garantir participação em fóruns ou oficinas. A programação completa está no site oficial da Free Zone e nas redes sociais do evento.

Em última instância, a Free Zone se configura como mutirão global — pela vida, pelo clima, pela Amazônia — e assume presença procurada: o espaço não está à margem da COP, mas conectado a ela, porém com o pé no chão amazônico. É ali, nesse encontro entre arte, ciência, juventude e cidadania, que se poderá vislumbrar como o debate climático se traduz em expressão, em território, em potência de transformação.

Revista Amazônia, de Novembro mergulha no clima da COP30 e celebra o protagonismo da floresta

A edição de novembro da Revista Amazônia chega em clima de COP30, a Conferência do Clima das Nações Unidas que transforma Belém no centro das discussões globais sobre o futuro do planeta. Nesta edição especial, a revista reúne reportagens exclusivas sobre ciência, políticas públicas, inovação e a urgência de ações concretas para conter os efeitos das mudanças climáticas.

Captura-de-tela-2025-11-08-140122 Revista Amazônia, de Novembro mergulha no clima da COP30 e celebra o protagonismo da florestaLogo nas primeiras páginas, o leitor encontra a cobertura do Congresso Mundial de Conservação da IUCN 2025, que reforça o papel da biodiversidade como eixo central da agenda climática. O evento, realizado em Abu Dhabi, destacou a necessidade de acelerar a implementação das metas de 2030, com um apelo à cooperação internacional e ao engajamento da sociedade civil.

Captura-de-tela-2025-11-08-140410 Revista Amazônia, de Novembro mergulha no clima da COP30 e celebra o protagonismo da florestaA matéria “Crise Invisível da Amazônia” revela um panorama detalhado da degradação florestal na região, mapeando queimadas, desmatamento e distúrbios que ainda escapam às políticas de controle. O estudo alerta que a perda de cobertura vegetal e o estresse térmico das florestas estão se tornando cada vez mais intensos e persistentes, comprometendo a capacidade de regeneração natural.

Captura-de-tela-2025-11-08-140245 Revista Amazônia, de Novembro mergulha no clima da COP30 e celebra o protagonismo da floresta

Entre as iniciativas científicas de destaque, o projeto AmazonFACE ganha espaço com suas torres experimentais gigantes instaladas próximo a Manaus. A estrutura, inédita no mundo, expõe uma área de floresta madura a concentrações elevadas de CO₂, simulando as condições climáticas futuras. O objetivo é compreender como a Amazônia reagirá ao aumento de gases de efeito estufa e quais estratégias podem garantir sua resistência nas próximas décadas.

Captura-de-tela-2025-11-08-140316 Revista Amazônia, de Novembro mergulha no clima da COP30 e celebra o protagonismo da florestaA edição também traz a cobertura do Congresso da Organização Meteorológica Mundial, que endossou o programa global de alerta precoce para desastres. A proposta busca garantir que cada país tenha capacidade de antecipar eventos extremos e proteger comunidades vulneráveis, reduzindo perdas humanas e econômicas.

Saiba mais- Revista Amazônia – Edição de Setembro traz o esquenta da COP30 e destaca o protagonismo amazônico nas soluções globais para o clima

 

Durante a COP30, a revista destaca o lançamento da Plataforma Natureza ON, ferramenta brasileira que mapeia áreas de risco climático no território nacional. Desenvolvida com tecnologia de nuvem de dados e inteligência artificial, a iniciativa será apresentada oficialmente em Belém e promete auxiliar gestores e pesquisadores no planejamento de ações de adaptação e mitigação.

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No campo da bioeconomia, a reportagem sobre o novo Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia mostra como o Pará inaugura um modelo pioneiro no mundo. Instalado nos Armazéns 5 e 6 do Complexo Porto Futuro, em Belém, o parque une ciência, tecnologia e saberes tradicionais para transformar o potencial da floresta viva em geração de renda, empregos verdes e inovação sustentável.

Outras matérias completam esta edição:
– A humanidade rumo ao caos climático
– Aumento recorde de CO₂ mostra que a Amazônia está vacilando
– A fragmentação das florestas globais dobrou entre 2000 e 2020
– Incêndios florestais globais se tornam cada vez mais intensos
– As florestas amazônicas queimadas permanecem quentes e estressadas por décadas
– Árvores que se beneficiam de raios e ecossistemas que resistem à seca
– O impacto da seca extrema nas pastagens e arbustais
– Inovações que convertem luz solar em água doce sem energia externa
– A desestabilização dos elementos de inflexão do sistema terrestre

A edição de novembro celebra o papel histórico da Amazônia como anfitriã da COP30 e mostra que o mundo inteiro volta seus olhos para a floresta, não apenas como símbolo, mas como solução viva para o equilíbrio do clima global.

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Dez anos após Paris, COP30 expõe urgência por ação e não apenas promessas

Dez anos depois de conduzir o Acordo de Paris, o diplomata francês Laurent Fabius voltou a ser protagonista no debate climático, agora em Belém, durante a COP30. Ao revisitar a trajetória iniciada em 2015, Fabius — que presidiu a COP21 — destacou que o planeta avançou, mas ainda não o suficiente para evitar o pior. Seu recado aos líderes reunidos na Amazônia é direto: o tempo das promessas acabou; o que se espera agora é implementação, inclusão e inovação.

O Acordo de Paris foi um marco histórico. Pela primeira vez, 195 países se comprometeram com metas nacionais para conter o aquecimento global e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Naquele momento, os modelos científicos projetavam um aumento médio de 4°C até o final do século — um cenário de colapso climático. Uma década depois, as políticas adotadas conseguiram reduzir a projeção para algo entre 2,5°C e 2,8°C, o que, segundo Fabius, já representa milhões de vidas salvas. Ainda assim, o diplomata reforça que essa nova margem continua perigosa, com potencial para intensificar secas, enchentes, incêndios e migrações em massa.

“Devemos acreditar na ciência quando ela afirma que é necessário implementar o que já foi decidido”, alertou. Para ele, o desafio agora é menos diplomático e mais operacional: transformar compromissos em ações tangíveis, especialmente no campo do financiamento climático e da transição energética. “Sabemos o que precisa ser feito. O problema é fazer”, resumiu.

O desafio dos “três Is”: implementação, inclusão e inovação

Na visão de Fabius, o avanço real das próximas conferências depende de três eixos que ele chama de “os três Is”: implementação, inclusão e inovação. O primeiro refere-se à urgência de colocar em prática o que foi pactuado — uma cobrança direta aos países desenvolvidos, que ainda falham em cumprir as promessas de destinar US$ 100 bilhões anuais ao financiamento climático dos países mais vulneráveis. O segundo, à inclusão dos países de baixa emissão e das comunidades afetadas que, embora menos responsáveis pela crise, são as mais atingidas por seus efeitos. E o terceiro, à inovação, indispensável para viabilizar tecnologias de energia limpa e adaptação urbana.

A COP30, ao ser sediada na Amazônia brasileira, ganha uma dimensão simbólica e política poderosa. A floresta, essencial para o equilíbrio climático global, é também um retrato das contradições entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. Fabius ressaltou que a realização da conferência em Belém reforça a necessidade de escutar os territórios e seus povos. “É aqui que se sente primeiro o impacto da crise climática e onde a resposta deve começar”, afirmou.

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA-400x218 Dez anos após Paris, COP30 expõe urgência por ação e não apenas promessas

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Multilateralismo em tempos de fragmentação

O ex-ministro francês reconheceu, no entanto, que o multilateralismo — a cooperação entre nações em torno de objetivos comuns — enfrenta uma fase de fragilidade. “Sabemos que há obstáculos com alguns atores que não aceitam o multilateralismo, não apenas os Estados Unidos”, disse. Apesar disso, ele acredita que a COP30 pode se tornar um ponto de virada se conseguir articular atores subnacionais, como governos estaduais e municipais, e o setor privado. “O importante é agir. A Califórnia, por exemplo, estará presente em Belém, e isso mostra que a transição é possível mesmo quando os governos centrais hesitam”, completou.

De fato, a expectativa em torno da COP30 é que ela seja menos uma vitrine de novas promessas e mais um laboratório de implementação. A ênfase desloca-se das metas para os mecanismos: como financiar, como adaptar, como monitorar. Nesse contexto, a liderança de Fabius — hoje à frente do grupo de ex-presidentes de COPs — resgata o papel da diplomacia climática como ponte entre ciência e política.

O papel do Brasil e o futuro da cooperação climática

O Brasil, anfitrião da conferência, aparece no centro desse debate. Ao mesmo tempo em que tenta mostrar resultados na redução do desmatamento, o país enfrenta o desafio de conciliar a proteção ambiental com o desenvolvimento econômico e a inclusão social. A presença de Fabius em Belém foi lida como um gesto de confiança no protagonismo brasileiro. “Se o Acordo de Paris representou um pacto global, a COP30 pode ser o ponto em que esse pacto começa a sair do papel”, disse um assessor do governo francês.

Dez anos depois do acordo que redefiniu a governança climática mundial, o balanço de Laurent Fabius é claro: houve progresso, mas ele ainda é insuficiente. O diplomata francês sintetiza o dilema com uma frase que ecoa entre os corredores da conferência: “Cada grau importa — e cada decisão, també

BNDES, Marinha e Cemaden firmam pacto inédito para resposta a desastres

Em um momento em que o Brasil enfrenta a intensificação de eventos climáticos extremos, uma nova frente de cooperação nasce para unir ciência, defesa e financiamento público em torno da prevenção de desastres. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Marinha do Brasil e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) assinaram nesta sexta-feira (7), em Belém, um protocolo de intenções que promete transformar a forma como o país responde a riscos ambientais.

A cerimônia ocorreu a bordo do navio-aeródromo Atlântico, ancorado no porto de Belém e utilizado como base das Forças Armadas durante a COP30. O local, simbólico por sua posição estratégica na foz amazônica, serviu de cenário para um pacto que articula tecnologia, logística e política pública em favor da vida.

Cooperação para tempos de emergência

A iniciativa surge diante do aumento da frequência e intensidade de chuvas, enchentes, secas e ondas de calor — fenômenos agravados pela crise climática. O acordo prevê a integração de capacidades técnicas e financeiras das instituições, articulando monitoramento, resposta emergencial e reconstrução.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, destacou que o esforço conjunto representa “um compromisso com a vida”. “Vemos que as chuvas são mais intensas, as enchentes mais destrutivas, as secas mais prolongadas. Esses eventos impactam principalmente as populações mais vulneráveis. Por isso, precisamos agir de maneira integrada, com base em ciência e tecnologia”, afirmou.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, anunciou que o banco destinará R$ 30 milhões imediatos ao programa e prevê ampliar o investimento para R$ 50 milhões, com apoio de parceiros públicos e privados. O objetivo é criar um modelo nacional de resposta rápida, conectando os alertas do Cemaden às operações de campo das Forças Armadas e às linhas de crédito emergenciais do BNDES.

“Queremos estruturar um sistema inteligente de prevenção e ação, com o apoio da Marinha e de outros bancos como o Banco do Brasil e a Caixa. É uma forma de o Estado agir com agilidade, eficiência e solidariedade quando o desastre acontece”, afirmou Mercadante.

O protocolo também reforça o compromisso do Brasil com o Marco de Sendai para Redução de Riscos de Desastres e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), alinhando a política climática nacional às diretrizes globais de resiliência.

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Foto Tânia Rêgo/Agência Brasil

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A força da Marinha na linha de frente

A Marinha entra como braço operacional do Estado, por meio de seu Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais de Defesa Civil. O comandante da instituição, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, classificou o protocolo como um marco na construção de um “modelo integrado de prevenção e resposta”.

“A união de capacidades operacionais, científicas e de desenvolvimento é um esforço coordenado pela vida. Representa a convergência de defesa, ciência e fomento em prol do dever permanente do Estado de servir à população”, disse o almirante.

Com presença constante nas regiões mais remotas do país, a Marinha traz sua expertise em logística e mobilização, além de estrutura para atuação em áreas isoladas, como comunidades ribeirinhas e litorâneas.

Ciência a serviço da prevenção

O Cemaden, vinculado ao MCTI, aportará ao acordo sua experiência em monitoramento e modelagem preditiva, com o uso de algoritmos e dados meteorológicos avançados. A diretora do centro, Regina Alvalá, destacou que o país já foi capaz de emitir alertas com até seis dias de antecedência, como nas enchentes recentes no Rio Grande do Sul, mas precisa aprimorar a resposta.

“Com o apoio da Marinha, poderemos ampliar a capacidade de resposta. E com o BNDES, teremos condições de investir em desenvolvimento tecnológico, pesquisas e novas ferramentas de monitoramento”, afirmou Alvalá.

História e simbolismo amazônico

Durante a cerimônia, o BNDES homenageou o militar português Pedro Teixeira, cuja expedição pelo Rio Amazonas, no século XVII, consolidou a incorporação da região ao território brasileiro. Uma placa comemorativa foi entregue ao Comando da Marinha, e o reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gilmar Pereira da Silva, anunciou a criação de uma comissão de estudos dedicada ao legado do explorador.

O gesto, em meio à COP30, simboliza um novo pacto entre ciência, soberania e sustentabilidade na Amazônia — um território que, hoje como no passado, define o futuro do Brasil.

Exposição digital celebra a diversidade e o pertencimento nos biomas do Brasil

Mais do que uma mostra de arte, “Você Já Escutou a Terra?” é um convite à escuta profunda. A exposição digital lançada pelo Museu da Pessoa reúne mais de cinquenta histórias de vida captadas entre 2024 e 2025 em todos os seis biomas brasileiros — Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. São relatos de comunidades que vivem e resistem em meio às transformações do território, revelando como cada gesto humano carrega um diálogo com a natureza.

Disponível gratuitamente até 1º de fevereiro de 2026, a exposição propõe uma imersão sensorial em vídeos, sons e imagens. A curadoria de Ailton Krenak e Karen Worcman aposta em uma “escuta biocêntrica”, na qual todas as formas de vida — humanas, animais ou vegetais — têm valor e voz. “De onde nós viemos e para onde nós estamos indo? A terra tem resposta para todos nós, nos lugares de onde nos originamos”, reflete Krenak, reconhecido pensador indígena e ambientalista.

A arte de escutar o invisível

Em tempos de ruído e urgência, a exposição propõe desacelerar. Cada narrativa registrada — de agricultores, artistas, povos indígenas, quilombolas, cientistas e guardiões da natureza — amplia a percepção de que o Brasil é uma trama viva de memórias e ecossistemas interdependentes. A experiência convida o público a perceber que o território é também uma entidade com a qual se dialoga e se aprende.

Karen Worcman, fundadora do Museu da Pessoa, afirma que o projeto reforça o papel das histórias de vida como ferramentas de transformação social. “Queremos que cada visitante se reconheça como parte dessa grande teia comum de vida. As memórias são sementes que ajudam a reconstruir vínculos com o planeta”, diz.

Essa visão é sustentada por uma estética que combina testemunho e poética. Os vídeos e áudios — gravados em aldeias, comunidades rurais e centros urbanos — revelam o poder da voz e do silêncio, do som da floresta ao barulho do vento nos campos. A tecnologia, nesse contexto, torna-se meio de reconexão, não de distanciamento: escutar a Terra é reaprender a habitar o mundo.

up_ag_25908_593f5d48-94e5-7ce3-ea85-76c3748f9014-400x267 Exposição digital celebra a diversidade e o pertencimento nos biomas do Brasil
Ag. Pará

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Imersão presencial em Belém

Além da versão digital, a mostra ganha uma encarnação física no Museu do Estado do Pará, localizado no histórico Palácio Lauro Sodré, em Belém. A experiência imersiva, em cartaz até 1º de fevereiro de 2026, convida o visitante a “entrar sob a crosta terrestre”. O espaço é transformado por um grande manto coletivo feito de resíduos e tecidos, acompanhado por uma trilha sonora criada por Benjamin Taubkin e uma expografia assinada por Marcelo Larrea.

Organizada em quatro módulos — Cabine Manto, O Manto (Escutando a Terra), Rios de Memória e Fala, Museu da Pessoa —, a exposição propõe um percurso de escuta ativa. Em vez de observar, o visitante é convidado a sentir. Em vez de interpretar, a ouvir. Cada ambiente recria camadas do solo e da memória, mesclando arte, som e afeto.

Entre arte, memória e ecologia

“Você Já Escutou a Terra?” é um projeto que nasce no cruzamento entre cultura, ecologia e espiritualidade. Ao reunir diferentes modos de viver e contar o território, a mostra resgata a ancestralidade como ferramenta de futuro. Nesse sentido, o trabalho de Krenak e Worcman expande o conceito de museu: mais do que um espaço de guarda, ele se torna um território de encontro.

Em um mundo que fala demais e escuta de menos, essa exposição propõe uma pausa. Escutar a Terra, afinal, é escutar a nós mesmos — e talvez reencontrar o sentido de pertencimento que sustenta a vida em comum.

O poder das comunidades: ecovilas e CSAs mostram caminhos de resiliência diante da crise climática

Enquanto líderes mundiais debatem acordos e metas na COP30, em Belém, uma rede de iniciativas comunitárias vem mostrando que a resposta à crise climática pode começar no quintal, nas hortas coletivas e nas ecovilas que resgatam modos de vida mais conectados à natureza.

No dia 12 de novembro, o evento O Poder das Comunidades será realizado na sede do Instituto Via Amazônia, em Belém (PA), reunindo representantes de ecovilas, Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSAs) e organizações parceiras. A proposta é simples, mas transformadora: fortalecer as conexões entre pessoas e territórios que vêm regenerando o solo, promovendo alimentação saudável e construindo economias solidárias em meio à emergência climática.

O encontro é uma realização da Ecovila Iandê e da CSA Iandê, ambas sediadas em Santa Bárbara do Pará, com apoio do Instituto Via Amazônia, da Rede Global de Ecovilas, da CSA Brasil e da ABRASCA (Associação Brasileira de Comunidades que Sustentam a Agricultura).

A atividade ocorrerá das 15h às 20h, com entrada gratuita mediante inscrição prévia, disponível neste formulário.

A força que nasce da terra

O evento surge num momento em que a Amazônia se torna palco da maior conferência climática do planeta, e o protagonismo das comunidades locais ganha visibilidade global. Mais do que um encontro, O Poder das Comunidades é um convite para repensar a relação entre pessoas, alimento e território.

As CSAs (Comunidades que Sustentam a Agricultura) são modelos colaborativos que unem agricultores e consumidores em uma relação direta, sem intermediação. As famílias participantes compartilham os custos e benefícios da produção agrícola, garantindo estabilidade financeira para os produtores e alimentos frescos e agroecológicos para quem consome.

Já as ecovilas são experiências de convivência baseadas na sustentabilidade, na cooperação e no respeito aos ciclos naturais. Em um mundo que enfrenta eventos climáticos extremos e colapsos ambientais, elas oferecem uma alternativa real de reorganização social e ecológica — pequenas comunidades que funcionam como laboratórios vivos de regeneração.

A ecologia das relações

“Cuidar da terra, cuidar da vida” é o lema do encontro, que se traduz em práticas cotidianas. Ao promover a troca de saberes e fortalecer redes locais, o evento propõe uma visão de resiliência comunitária — a capacidade das pessoas de se adaptarem e reagirem aos impactos do clima sem perder seus vínculos com o território.

Os debates e oficinas previstos buscam inspirar a criação de novas CSAs, ampliar o diálogo entre ecovilas e políticas públicas e mostrar que soluções sustentáveis podem nascer da união entre agricultura, espiritualidade e inovação social.

Segundo os organizadores, O Poder das Comunidades pretende ampliar a consciência sobre o papel das pequenas ações locais na grande transformação global. “Cada horta, cada comunidade, cada grupo que se organiza para produzir e partilhar alimentos está desenhando uma nova economia do cuidado, que valoriza o território e o bem viver”, resume um dos idealizadores da Ecovila Iandê.

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Comunidades como agentes da transição

À medida que governos e corporações discutem descarbonização e energias limpas, experiências como as CSAs mostram que a transição ecológica também precisa ser social. Elas fortalecem a economia regional, reduzem a dependência de cadeias longas e poluentes e promovem o reencantamento das relações humanas com a terra.

Na COP30, que transformou Belém em centro do debate climático global, o evento simboliza uma virada de perspectiva: olhar para a base da sociedade e reconhecer que as comunidades são as verdadeiras guardiãs da sustentabilidade.

“Nosso poder está na união”, dizem os organizadores — e a frase ganha um novo significado diante da urgência planetária. Quando as políticas públicas ainda caminham devagar, a mobilização social cria os atalhos necessários para um futuro possível.

Mais do que um evento, O Poder das Comunidades é um manifesto vivo sobre a força das pessoas que decidem plantar o amanhã, uma semente de esperança lançada em meio à COP30, sob as árvores da Amazônia.

Local: Sede do instituto Via Amazônia – passagem Santos Dumont, Bairro da Sacramenta, Belém/PA

Dias: 12 de novembro (quarta-feira)
Horário: de 15h às 20h
Inscreva-se aqui: https://forms.gle/s2yWb3kYvKgPAYVu6

Compromisso de Belém marca liderança do Brasil na corrida pelos combustíveis sustentáveis

O Brasil assumiu oficialmente o protagonismo na diplomacia climática ao lançar o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, conhecido como Belém 4X, durante os eventos que antecedem a COP30. A iniciativa, copatrocinada por Itália e Japão, busca mobilizar apoio político e cooperação internacional para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, consolidando o país amazônico como uma das vozes centrais na transição para uma economia de baixo carbono.

O plano propõe ampliar a produção e o uso de alternativas limpas como hidrogênio verde, biogás, biocombustíveis e combustíveis sintéticos — fontes capazes de substituir o petróleo em setores de difícil descarbonização, como transporte pesado, aviação e indústrias de base. A meta global foi construída com base em análises da Agência Internacional de Energia (IEA), que também se comprometeu a monitorar anualmente o progresso do acordo.

Para o governo brasileiro, o Belém 4X traduz a ambição do país em liderar a nova era da energia limpa, articulando o avanço tecnológico com o potencial natural e científico da Amazônia. Ao lado de parceiros estratégicos, o Brasil quer consolidar uma rota energética capaz de equilibrar crescimento econômico, soberania ambiental e inclusão social.

“O Brasil quer ser reconhecido não apenas por preservar, mas por liderar o caminho da transformação energética global”, declarou um diplomata do Ministério das Relações Exteriores. “O Compromisso de Belém simboliza o esforço de construir pontes entre países desenvolvidos e em desenvolvimento em torno de soluções justas e acessíveis.”

Até o momento, 19 países aderiram ao acordo: Armênia, Belarus, Brasil, Canadá, Chile, Guatemala, Guiné, Índia, Itália, Japão, Maldivas, México, Moçambique, Myanmar, Países Baixos, Panamá, Coreia do Norte, Sudão e Zâmbia. A amplitude geográfica demonstra que a transição energética é uma pauta global, e não exclusiva das nações ricas.

Segundo a IEA, o desafio central é escalar a produção de combustíveis sustentáveis a preços competitivos, de modo que possam complementar a eletrificação e substituir definitivamente o uso de combustíveis fósseis. Essa mudança exigirá investimentos bilionários, redes logísticas inteligentes e marcos regulatórios que incentivem inovação, segurança energética e acesso equitativo à tecnologia.

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COP30 – Divulgação

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A diplomacia climática brasileira, que já havia obtido destaque na Declaração de Belém — documento que conecta ação climática à erradicação da pobreza —, reforça agora a ideia de que a transição verde também deve ser socialmente justa. O país aposta na sinergia entre bioenergia, florestas e comunidades locais para criar um modelo inclusivo de economia circular.

Especialistas lembram que o Belém 4X consolida uma agenda de credibilidade internacional construída desde a COP27, quando o Brasil reposicionou sua política externa em torno da neutralidade de carbono e da valorização das florestas tropicais. Agora, com o mundo reunido em Belém, o país mostra que também quer liderar a revolução energética global, unindo ciência, diplomacia e inovação.

O compromisso segue aberto para novas adesões, com o Brasil exercendo papel de articulador de uma coalizão de transição energética global. Para analistas, o movimento também reforça o alinhamento entre o Itamaraty e os ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente, criando uma política climática de Estado, com foco em soberania e prosperidade compartilhada.

Com a assinatura do Belém 4X, a COP30 ganha um símbolo concreto da cooperação que o Brasil quer ver florescer: uma energia limpa que nasce do diálogo entre povos e biomas — e que tem, em Belém, o epicentro da esperança planetária.

Quem ensina a filantropia global a chegar à Amazônia? Fundo Casa mostra o caminho

Às vésperas da COP30, um encontro inusitado no Museu Paraense Emílio Goeldi virou símbolo de um novo diálogo global sobre filantropia climática.
Durante uma visita oficial à capital paraense, o Príncipe William, herdeiro do trono britânico, se reuniu com líderes de organizações socioambientais do Sul Global para discutir como tornar o fluxo de recursos internacionais mais ágil e eficaz. Entre os convidados estava Regilon Matos, o Régis, Gestor de Programas do Fundo Casa Socioambiental, que há duas décadas conecta comunidades de base e financiadores globais.

“Foi um daqueles encontros que você demora a perceber o tamanho do que viveu”, relembra Régis.
Ele havia ido a Belém como parte da comitiva do Fundo Casa para participar da COY20 – Conferência de Juventude pelo Clima e da própria COP30, quando recebeu um convite inesperado da Embaixada Britânica no Brasil para integrar uma roda de conversa sobre filantropia de impacto.
O encontro, promovido pela Next Generation Foundation, reuniu também Paula Tanscheit, da Alianza Socioambiental Fondos del Sur, e Fernanda Biasoli, do FunBEA, representando a Casa do Sul Global, rede que articula fundos comunitários de países em desenvolvimento.

Segundo Régis, o príncipe demonstrou genuíno interesse em compreender como os recursos internacionais podem chegar, com segurança e eficácia, às comunidades da Amazônia e de outros biomas brasileiros.
“Expliquei que existem desafios logísticos, claro. Mas existem muito mais soluções”, afirmou. “Os fundos da Rede Comuá e da Alianza Fondos del Sur desenvolveram mecanismos financeiros sólidos e transparentes para fazer o dinheiro chegar onde ele é mais necessário — às organizações locais que vivem a floresta todos os dias.”

Um modelo descentralizado de confiança e protagonismo

O Fundo Casa Socioambiental, criado em 2005, é referência na filantropia socioambiental brasileira. Seu diferencial está em um modelo de financiamento descentralizado e de base comunitária, que privilegia a autonomia dos territórios e o protagonismo local.
Ao longo de 20 anos, a organização já apoiou mais de 4,7 mil projetos em todo o país, abrangendo comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas, urbanas e rurais.

Esse histórico faz do Fundo Casa um elo essencial entre financiadores internacionais e soluções locais, garantindo capilaridade e transparência.
“Existimos para mobilizar uma poderosa rede de apoio a pequenas iniciativas da sociedade civil e garantir que os recursos fluam com autonomia e confiança”, explica Cristina Orpheo, diretora-executiva da instituição. “As soluções estão nos territórios — é lá que o enfrentamento da crise climática acontece de fato.”

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Reprodução

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Filantropia comunitária como estratégia climática

A atuação do Fundo Casa vai além do repasse de recursos. A organização entende a filantropia comunitária como parte estratégica da ação climática: fortalecer comunidades é fortalecer a resiliência dos ecossistemas.
Entre suas chamadas de 2025 estão “Fortalecendo o protagonismo local na agenda climática”, voltada à incidência política e à participação de organizações de base na formulação de políticas públicas; “Mata Atlântica Viva”, focada em restauração e conservação; e a segunda edição da “Educação para o Bem-Viver”, realizada em parceria com a Imaginable Futures.

Essas iniciativas demonstram uma visão ampliada de sustentabilidade — social, cultural e ambiental — e uma confiança de que as soluções mais eficazes contra as mudanças climáticas não vêm apenas de grandes cúpulas internacionais, mas das comunidades que vivem nos territórios em transformação.

Do encontro à inspiração global

A conversa com o Príncipe William sintetiza o que o Fundo Casa representa: uma ponte viva entre o local e o global.
Enquanto o mundo busca formas de ampliar o impacto da filantropia climática, o modelo brasileiro mostra que democratizar o acesso aos recursos é também uma forma de justiça climática.
“Ele queria entender o ‘como’ — como fazer o dinheiro chegar. E nossa resposta foi simples: com confiança, com redes, com escuta”, resume Régis.
A partir desse diálogo, o Fundo Casa reforça que a filantropia comunitária latino-americana não é apenas destinatária de recursos, mas produtora de conhecimento, metodologia e resultados mensuráveis, capaz de inspirar novas práticas globais.

Em um momento em que a COP30 coloca o planeta diante de decisões cruciais, o exemplo do Fundo Casa aponta um caminho concreto: o futuro da ação climática passa por financiar quem já cuida da Terra.

Declaração de Belém une ação climática à luta contra a fome e a pobreza

Documento firmado por 43 países e a União Europeia propõe novo paradigma global que conecta justiça social, segurança alimentar e transição climática

Em um movimento que redefine o papel da justiça social nas políticas climáticas globais, líderes de 43 países e da União Europeia adotaram nesta sexta-feira (7) a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, durante a Cúpula de Líderes da COP30.
O documento reconhece que os efeitos da crise climática recaem de forma desproporcional sobre as populações mais vulneráveis — e propõe que o combate à fome e à pobreza caminhe lado a lado com a transição ecológica.

A Declaração marca um ponto de inflexão no debate internacional: pela primeira vez, a comunidade global reconhece oficialmente que a ação climática só é eficaz se for também uma ação de justiça social.
“Não se pode separar a ação climática da justiça social”, afirmou o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, que copreside o Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. “Os países e comunidades mais pobres, que menos contribuíram para o aquecimento global, estão sofrendo suas piores consequências”, completou.

Um pacto pela centralidade das pessoas

Três dias após a reunião da Aliança Global em Doha, no Catar, onde foram apresentados resultados concretos da Iniciativa de Planejamento de Implementação Acelerada, a Declaração de Belém reforça a urgência de reorientar o financiamento climático.
O foco deixa de ser apenas a mitigação de emissões e passa a incluir adaptação centrada nas pessoas — com medidas como sistemas de proteção social resilientes, seguros agrícolas para pequenos produtores e programas de fortalecimento comunitário diante de secas e enchentes.

Essas ações devem garantir meios de vida sustentáveis para agricultores familiares, povos da floresta e comunidades tradicionais, promovendo empregos dignos e inclusão econômica nas cadeias verdes.
“Os impactos climáticos já estão comprometendo a segurança alimentar e empurrando milhões de pessoas para uma situação de maior vulnerabilidade”, destacou Mafalda Duarte, diretora-executiva do Fundo Verde para o Clima, o principal mecanismo público global de financiamento climático.
Segundo ela, o novo compromisso reforça a determinação compartilhada de “nutrir tanto as pessoas quanto o planeta”, integrando proteção social e sustentabilidade.

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Ricardo Stuckert/PR

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Compromissos mensuráveis e acompanhamento internacional

A Declaração de Belém está alinhada à ambição da presidência brasileira de fazer da COP30 a “COP da Ação”.
O texto define oito metas mensuráveis em áreas como segurança alimentar, adaptação rural e inclusão de mulheres e jovens em políticas climáticas, com monitoramento internacional a partir de um Plano de Aceleração de Soluções (PAS) — ferramenta que integrará a Agenda de Ação da COP30.

A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada sob a presidência brasileira do G20 em 2024, é reconhecida como mecanismo operativo e flexível para apoiar a implementação desses compromissos em nível nacional.
Os países signatários também são encorajados a incorporar essas estratégias em seus Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), com uma primeira revisão de progresso prevista para 2028 e um balanço geral até 2030.

Uma coalizão diversa e global

A coalizão formada por 44 signatários inclui nações de todos os continentes — entre elas Brasil, Chile, China, Cuba, Alemanha, Indonésia, Malásia, México, Noruega, República do Congo, Ruanda, Espanha, Sudão, Reino Unido e Zimbábue — o que demonstra um consenso crescente em torno da ideia de “ação climática centrada nas pessoas”.
A diversidade dessa aliança é vista como uma de suas maiores forças: ela une países industrializados e em desenvolvimento em torno de uma agenda que não apenas busca reduzir emissões, mas também preservar vidas e meios de subsistência.

O contexto global dá ainda mais peso ao documento. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 673 milhões de pessoas enfrentam algum grau de fome, enquanto os eventos climáticos extremos seguem se intensificando em todo o planeta.
Diante desse cenário, cresce o consenso de que a adaptação de países e comunidades vulneráveis é uma prioridade imediata — especialmente quando se reconhece que, mesmo com esforços de mitigação, os impactos climáticos continuarão se agravando até o fim do século.

Essa visão é compartilhada por vozes influentes fora do setor público. Em um recente memorando global, o filantropo Bill Gates defendeu uma mudança estrutural na estratégia climática internacional, com foco maior em resultados de bem-estar humano, e não apenas em métricas de temperatura ou emissões.

O desafio de uma nova governança climática

A Declaração de Belém representa mais que um compromisso político — é um chamado à reconfiguração das prioridades da governança climática global.
Ao colocar as pessoas e os territórios mais afetados no centro da ação, o texto sugere que o sucesso das políticas climáticas dependerá menos da diplomacia entre Estados e mais da cooperação entre sociedades, articulando ciência, inovação e solidariedade planetária.

Por um clima justo: a Declaração de Belém contra o racismo ambiental

Na abertura da grande conferência climática que ocorre em Belém, emergiu um pacto singular, capaz de alterar a forma como o mundo encara tanto clima quanto justiça. No dia 7 de novembro de 2025, os representantes reunidos firmaram a Declaração de Belém sobre o Combate ao Racismo Ambiental — um documento que rompe com a velha dicotomia entre meio ambiente e direitos humanos, afirmando que a devastação ecológica é também um espelho das desigualdades raciais do passado e do presente.

Ao longo do texto, reconhece-se que legados de colonialismo, discriminação persistente e exclusão das decisões nacionais e internacionais foram — e são — responsáveis por que determinados grupos, como afrodescendentes, povos indígenas e comunidades locais tradicionais, suportem o ônus maior da degradação ambiental, da poluição e dos riscos climáticos. A crise da Terra, como se afirma, é simultaneamente crise da justiça racial. A Declaração convoca todas as nações a ampliarem seu olhar: não basta salvar florestas ou reduzir emissões — é necessário transformar quem decide, quem participa, quem usufrui dos recursos e quem fica à margem.

Essa nova narrativa propõe uma agenda integrada, onde a erradicação da pobreza, a promoção da igualdade étnico-racial e a proteção ambiental caminham de mãos dadas. O desenvolvimento sustentável ganha sentido apenas quando equidade e celebração dos saberes tradicionais se ancoram na ação concreta. A pertinência desse movimento torna-se ainda mais forte em Belém, porta de entrada da Amazônia, onde a própria paisagem testemunha os dilemas ecológicos e humanos entrelaçados.

de-saneamento-basico-em-ruas-e-canais-no-bairro-da-terra-firme-periferia-de-belem-no-para-1536x1024-1-400x267 Por um clima justo: a Declaração de Belém contra o racismo ambiental
Imagem: Antonio Cicero/Photo Press/Folhapress

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A Declaração chega também em momento emblemático: o Brasil, como país-anfitrião da COP30, articula internamente o vínculo entre as agendas climática e de igualdade étnico-racial. Ainda no âmbito da presidência do G20, houve menção à promoção da igualdade étnico-racial como novo objetivo de desenvolvimento sustentável voluntário. Nesse contexto, a Declaração de Belém simboliza a tentativa de internacionalizar essa convergência, convidando outros Estados a se engajarem num compromisso que ultrapassa fronteiras.

Ainda que o documento assuma caráter de apelo mais do que obrigação vinculante, seus endossos iniciais — Brasil, Colômbia, Equador, China, Moçambique, Bolívia, entre outros — mostram uma diversidade geográfica e cultural sugerindo que a reflexão não é mais periférica, mas central. A adesão aberta durante a COP30 sinaliza que a construção será coletiva. No entanto, a verdadeira prova será a implementação: como converter palavras em mecanismos que permitam participação plena de comunidades historicamente excluídas? Como assegurar que os recursos para adaptação, mitigação, conservação e compensações cheguem às suas terras, seus territórios, seus corpos?

A escolha de Belém como palco não é acidental. As florestas amazônicas testemunham, todos os dias, como extração, turismo, agronegócio, mudança climática e o legado colonial convergem em uma crise que ultrapassa árvores e carbono. Ao afirmar que a crise ecológica é também racial, a Declaração desafia diplomatas, negociadores e ativistas a repensarem suas prioridades, seus cronogramas, suas métricas. É um chamado para que o combate ao cambio climático se abra ao protagonismo de quem sempre esteve na linha de frente da natureza — e da história.

Esse pacto exige que a diplomacia climática, e não apenas os técnicos, adotem lentes de justiça. Que os mecanismos de financiamento não só fluam, mas cheguem com equidade. Que a ciência converse com saberes ancestrais. Que a proteção das florestas signifique mais do que evitar o desmatamento — significa proteger povos, culturas, memórias. Em outras palavras, que a sustentabilidade envolva vidas.

Enquanto a COP30 avança, a Declaração de Belém joga luz sobre uma ideia simples, porém negligenciada: não existe clima justo sem justiça racial. E não existe justiça racial fora de um planeta habitável. A promessa agora é pôr este duplo imperativo no centro das negociações. E cabe aos países, às comunidades, às instituições garantirem que esse pacto saia dos discursos e entre no mundo concreto das leis, dos fundos, das decisões, das vidas.

Líderes em Belém traçam nova era para combustíveis fósseis, florestas e financiamento

Na orla da Amazônia, em Belém, o mundo se encontrou para dar o tom da próxima grande conferência climática. Antes mesmo do início formal da COP30, as grandes potências, líderes emergentes e representantes de comunidades presentes na região articularam três eixos estratégicos que poderão definir o sucesso — ou o fracasso — dos próximos anos: abandonar os combustíveis fósseis, ampliar o financiamento climático e proteger as florestas tropicais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a dianteira desse diálogo, convocando a comunidade global a sair de Belém com metas transformadoras. Ele exigiu que os países apresentem NDCs alinhadas à meta de 1,5 °C firmada em Dubai e lançou o Compromisso de Belém — com o objetivo de quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e dobrar a eficiência energética até 2030. Em seu discurso, lembrou que não se trata apenas de reduzir emissões, mas de redefinir como o mundo extrai energia, vive em sociedade e valoriza o planeta.

No centro da mobilização em Belém está também o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), o fundo de falésias da agenda climática brasileira. A ideia é audaciosa: uma dotação de até US$ 125 bilhões que combine recursos públicos, filantrópicos e privados para remunerar países que mantêm suas florestas em pé — em vez de destruí-las. Segundo o briefing preliminar, cada hectare de floresta em pé poderia render cerca de US$ 4 por ano ao país detentor, com deduções para destruição ou degradação. Fern+2The Global Foundation+2 Entre os compromissos anunciados em Belém, figuram US$ 3 bilhões da Noruega, US$ 500 milhões da França, US$ 1 bilhão do Brasil e US$ 1 bilhão da Indonésia — com sinais de que outras contribuições ainda virão.

Paralelamente, o Baku to Belém Roadmap foi apresentado como um plano para mobilizar pelo menos US$ 1,3 trilhão em financiamento climático até 2035. Embora não seja um conjunto de obrigações, mas de recomendações, a iniciativa representa um esforço de articulação entre o Brasil e o Azerbaijão para desenhar o caminho da transição. O problema, segundo observadores, é insistir para que o roteiro não acabe sendo “apenas mais um relatório”.

A justiça ambiental ganhou lugar de destaque com a Declaração de Belém sobre o Combate ao Racismo Ambiental — a primeira iniciativa internacional a vincular formalmente justiça racial e ação climática sob o mesmo arcabouço. O documento reconhece que a crise climática e a poluição afetam de forma desproporcional comunidades indígenas, afrodescendentes e locais e afirma que qualquer futuro sustentável depende de igualdade e reparação.

azevedo-travassos-petroleo-gas-nordeste-1536x1020-1-300x199 Líderes em Belém traçam nova era para combustíveis fósseis, florestas e financiamento

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Entre os discursos, houve toques urgentes: o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, lembrou que “nossa economia não é o problema. Nossa economia é a chave para proteger ainda melhor o nosso clima.” Em contraponto, o ministro das Ilhas Marshall, Kalani Kaneko, afirmou que mesmo os países-vítima precisam ver mudanças reais nos papéis dos emissores maiores — não apenas promessas em discursos.

Especialistas analisaram com atenção. Para Cláudio Ângelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, o fato de Lula colocar como tema central da COP30 o abandono de combustíveis fósseis representa “um grande avanço” — especialmente quando muitos grandes emissores optaram por agendas mais brandas. Já Ani Dasgupta, presidente e CEO do World Resources Institute, ressaltou que o encontro mostrou que investir em economias mais limpas deixou de ser apenas questão ambiental para se tornar “questão de segurança e competitividade de longo prazo”.

Por outro lado, nem todos os sinais são positivos — o recuo marcado do Reino Unido em contribuir para o TFFF, por exemplo, gerou críticas de ex-ministros e alertas sobre futura falta de ambição. Isso reforça que o grande desafio não está tanto em definir prioridades, mas em traduzir essas prioridades em compromissos concretos e cronogramas de entrega.

Agora, os próximos dias e semanas da COP30 serão um teste de realidade. Não basta discursar sobre parar com fósseis, mobilizar trilhões ou salvar florestas: será necessário negociar arranjos técnicos, estabelecer métricas de resultado, garantir transparência nas promessas financeiras e assegurar que comunidades tradicionais sejam beneficiadas — não apenas consultadas. A diplomacia climática entra num novo estágio: não apenas chamar países para a mesa, mas desenhar instituições, regras, fluxos de recursos e mecanismos de responsabilização.

Se Belém se tornar o lugar onde se falou menos e agiu mais, então a COP30 poderá deixar um legado real para além dos discursos. Caso contrário, corre-se o risco de que os novos “marcos” sejam apenas testes para repensar promessas em futuros encontros — sem que o mundo veja na Amazônia o início de uma virada que vale não só para o Brasil, mas para todo o planeta.

Amazônia em diálogo global: ciência, tradição e diplomacia na Casa Goeldi

No coração de Belém, o histórico parque zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) se prepara para se transformar em palco de um encontro entre ciência, tradição e diplomacia para o clima. A partir do dia 10 de novembro de 2025, o edifício que abrigou o naturalista suíço Emílio Goeldi será apresentado em sua nova roupagem: restaurado, revigorado e inaugurado como um centro de inovação social, científica e educacional — fruto de uma parceria entre a Embaixada da Suíça no Brasil, o MPEG, o governo do Pará, o Instituto Peabiru e o setor privado.

A chamada “Casa Goeldi” mantém o eco de uma longa história: sob a direção de Goeldi, o instituto centenário se consolidou como o centro de referência no estudo da Amazônia — até hoje abriga acervos de fauna, flora e cultura amazônica. Agora, revitalizada, ela se propõe a abrir as portas para uma nova era: uma casa-laboratório onde se conectam comunidades tradicionais, pesquisadores, artistas e inovadores, sob a tinção de cooperação suíço-brasileira. “Ao revitalizar esse espaço histórico e transformá-lo em centro de ciência e conexão entre comunidades tradicionais e pesquisadores, reafirmamos que o futuro do planeta depende de abordagens inovadoras, sustentáveis e colaborativas”, afirmou o embaixador da Suíça, Hanspeter Mock, durante o anúncio do projeto.

Paralelamente, o chalé vizinho vai se tornar a “Planetary Embassy” — uma instalação da rede Swissnex que, durante a COP30, funcionará como uma verdadeira embaixada da Terra. Embutida na paisagem viva do parque zoobotânico, essa embaixada conecta cosmologias indígenas, saberes ancestrais e inovações suíças em sustentabilidade, com a ambição de reinventar o que hoje entendemos por diplomacia. > “Com a Planetary Embassy, a questão é como transportar a tradição da Suíça como mediadora de diálogo para o mundo pós-humano.” afirmou Benjamin Bollmann, CEO da Swissnex no Brasil.

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SAIBA MAIS: O Pulso da Amazônia na COP30: Ciência e Ancestralidade no Museu Goeldi

Entre 9 e 21 de novembro de 2025, o serviço diplomático suíço-brasileiro, por meio do pavilhão, vai reunir cientistas, startups, representantes de comunidades indígenas, artistas visuais e jovens pesquisadores. A programação irá explorar temas como bioeconomia amazônica, diplomacia entre espécies, economia circular e tecnologia para regeneração de ecossistemas. A mostra “Imagining Planetary Diplomacy”, por sua vez, levará ao público visões de convivência planetária elaboradas por jovens da Suíça, Brasil e do mundo, numa combinação de arte, ciência e cosmologias da Terra.

O sentido simbólico dessa ação é amplo. Não se trata apenas de abrir um novo edifício ou sediar um pavilhão durante uma grande conferência global — trata-se de mudar o enquadramento: a Amazônia deixará de ser meramente tratada como reserva de biodiversidade ou palco de crises ambientais para se tornar um laboratório vivo de diplomacia planetária. O MPEG, fundado em 1866, já é reconhecido como um dos mais antigos centros de pesquisa da Amazônia, com ações que cruzam ciências naturais, humanas e da terra. O que se inaugura agora é uma nova fase em que a tradição científica de Belém se conecta com a emergência global das crises da Terra — em diálogo com atores locais e globais.

No evento de lançamento, marcado para as 8h de segunda-feira, a apresentação do projeto de restauração reunirá doadores, potenciais apoiadores e parceiros estratégicos. A vontade explícita é transformar a antiga casa em “espaço suíço-brasileiro de referência na Amazônia, dedicado à ciência, à inovação e à valorização dos saberes tradicionais, com atividades de pesquisa, educação e cultura abertas ao público”. Assim, a Casa e o pavilhão se inscrevem como parte de um movimento mais amplo: repensar o papel das comunidades tradicionais, da ciência e da inovação no enfrentamento da emergência climática, dentro de uma região que é central ao equilíbrio planetário.

Ao mesmo tempo, a iniciativa evidencia a inserção diplomática da Suíça na Amazônia — não apenas como investidora ou parceira técnica, mas como mediadora de reflexões e espaços de encontro entre culturas, seres humanos e o mundo não humano. O pavilhão Swissnex mostra como diplomacia, inovação e arte podem convergir num mesmo espaço. Mesmo mais do que isso: cria-se um “lugar de tensão criativa”, onde saberes ancestrais e conhecimento científico global se combinam para imaginar futuros possíveis.

A escolha do local — o parque zoobotânico do MPEG, rodeado de árvores, aves, répteis e trilhas — não é apenas estética. É proposital: o ambiente físico torna-se parte da narrativa. A diplomacia planetária acontece ali, “entre as árvores, plantas e animais da Amazônia”, como define o site da Swissnex. Em suma: a Amazônia aparece agora não como cenário secundário, mas como agente ativo na construção de soluções globais para o clima.

Essa iniciativa desafia as noções tradicionais de diplomacia (que normalmente se desenrolam entre Estados e em cidades-sedes) e propõe uma diplomacia ampliada — que inclui espécies, ecossistemas, territórios e saberes indígenas. É, portanto, um movimento simbólico e prático para reafirmar que a preservação da memória, da ciência e da cultura amazônica está entalhada no futuro da Terra.

SERVIÇO:
Apresentação do projeto de restauração da Casa Goeldi – “Road to Belém”
Data/hora: segunda-feira (10 de novembro), às 8h
Local: Chalé João Batista de Sá – Parque Zoobotânico Museu Paraense Emílio Goeldi, Av. Gov Magalhães Barata, 376 – São Braz, Belém-PA.
Programação completa: Presença Suíça – Museu Goeldi na COP30

A batalha inadiável da transição energética: Brasil na COP30 e o roteiro para a reconstrução inteligente

O palco da COP30 em Belém serve de tela para a verdade incontornável: o destino da luta contra a crise climática será decidido no setor de energia. Este setor, responsável por 75% das emissões globais de gases de efeito estufa, é o motor de um modelo de desenvolvimento, com mais de 200 anos de idade, que a Terra já não comporta. O desafio é gigantesco, mas a inação não é uma opção.

O compromisso de acelerar uma transição energética justa, ordenada e equitativa, selado na COP28 Dubai, levou 28 Conferências das Partes para ser formalizado. No entanto, a ciência e a tecnologia já nos deram a chave para desmantelar o motor do aquecimento global sem a necessidade de paralisar a economia mundial. A evolução para um modelo centrado em energias limpas é segura, viável e inevitável.

O Crescimento Silencioso das Soluções

Apesar da magnitude do desafio dos combustíveis fósseis, a transformação já está em curso. O uso global de fontes renováveis triplicou na última década, e a primeira metade de 2025 registrou um marco histórico: a energia renovável ultrapassou o carvão, tornando-se a maior fonte individual de geração de eletricidade no mundo. Essa ascensão é reforçada pela lógica econômica: em muitas regiões, a energia solar e eólica já são mais acessíveis que as fontes fósseis, um fato amplificado pela vertiginosa queda de 90% no preço das baterias.

Neste cenário, o Brasil se posiciona não apenas como observador, mas como um líder de longa data. Desde a década de 1970, o país investe em larga escala em alternativas renováveis, consolidando uma matriz elétrica que hoje é composta por 90% de fontes limpas. Essa liderança se manifesta também na vanguarda dos biocombustíveis, sendo o segundo maior produtor global e um pioneiro no desenvolvimento de motores flexíveis. O etanol, com uma fatia de 30% na gasolina nacional, e o biodiesel, com 15% no diesel, são soluções imediatamente disponíveis para a descarbonização de setores críticos como a indústria e os transportes.

É lamentável que essa liderança tecnológica encontre barreiras regulatórias globais. A resistência da Organização Marítima Internacional (IMO) em adotar biocombustíveis, como o etanol, representa um freio injustificável no processo de descarbonização do transporte marítimo e ilustra a persistência de interesses entrincheirados.

A Contradição Financeira e a Sombra do Conflito

Apesar dos avanços setoriais, 2024 registrou um novo e deprimente recorde de emissões de carbono no setor energético, o maior desde 1957. Esta trajetória de fracasso é mantida por uma contradição flagrante: enquanto a comunidade internacional se compromete com a sustentabilidade, os fluxos financeiros caminham no sentido oposto.

Em 2023, os 65 maiores bancos do mundo canalizaram 869 bilhões de dólares para o setor de petróleo e gás, uma montanha de incentivos que sabota a transição. Desde a adoção do fundamental Acordo de Paris, a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global reduziu-se em meros três pontos percentuais, caindo de 83% para 80%. Este é um ritmo de mudança inaceitável.

A fragilidade geopolítica também se manifesta como um obstáculo climático. O conflito na Ucrânia, por exemplo, não apenas reverteu anos de esforços na redução de emissões, mas levou à reabertura de minas de carvão na Europa, evidenciando o quão facilmente a segurança energética, quando não baseada em fontes limpas, pode ser sacrificada em tempos de crise. É uma ironia macabra que o mundo gaste em armas o dobro do que destina à ação climática, pavimentando, assim, o caminho para o apocalipse. Não haverá segurança energética ou paz em um mundo conflagrado.

o-ceu-do-por-do-sol-alimenta-a-energia-eolica-e-solar-gerada-pela-ia-400x229 A batalha inadiável da transição energética: Brasil na COP30 e o roteiro para a reconstrução inteligente

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Justiça Climática e a Cadeia de Valor

A transição energética não pode ser apenas um debate técnico; ela é um novo paradigma para o desenvolvimento, com potencial de promover transformações estruturais. Em 2023, o setor renovável foi responsável por 10% do aumento do PIB Global e gerou 35 milhões de empregos.

Crucialmente, a transição depende de minerais críticos — essenciais para baterias, painéis solares e sistemas de energia. Para que esse modelo seja justo, os países do Sul Global não podem ser reduzidos a meros extratores de matéria-prima. É imperativo que eles participem de todas as etapas da cadeia global de valor, gerando emprego qualificado e renda e, assim, gozando de segurança energética em sua totalidade.

A urgência da transição também está intrinsecamente ligada ao combate à pobreza energética. Dois bilhões de pessoas ainda não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar, e 660 milhões dependem de geradores a diesel ou lamparinas para obter luz. Cerca de 200 milhões de crianças frequentam escolas sem acesso à eletricidade. Sem energia, não há conexão digital, hospitais funcionando ou agricultura moderna.

O equacionamento desta injustiça passa, fundamentalmente, pela revisão do sistema financeiro global. Enquanto a injustiça de dívidas externas impagáveis persistir e condicionalidades discriminatórias impedirem o desenvolvimento, o progresso real andará em círculos. Uma proposta central é explorar mecanismos inovadores de troca de dívida por financiamento de iniciativas de mitigação e transição energética. Uma alternativa válida para os países em desenvolvimento é direcionar parte dos lucros da exploração de petróleo para a criação de Fundos de Transição, como o que será estabelecido pelo Brasil, visando financiar o enfrentamento da mudança do clima e promover a justiça climática.

O Mapa do Caminho de Belém

O mundo precisa de um mapa claro para encerrar a dependência dos combustíveis fósseis. A COP30 se apresenta como o momento de selar um roteiro de ações concretas, que requerem compromissos centrais:

  1. Implementar o acordo de Dubai: Triplicar a capacidade de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030.
  2. Combate à Pobreza Energética: Colocar a eliminação da pobreza energética no centro dos Planos Climáticos Nacionais (NDCs), incluindo metas específicas para cocção limpa e acesso universal à eletricidade.
  3. Compromisso de Belém: Aderir ao Compromisso de Belém para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, acelerando a descarbonização dos setores mais resistentes.

Os cientistas já cumpriram seu papel ao fornecer os dados e as soluções. O fardo da decisão recai agora sobre os líderes. O século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente. A decisão é nossa, e o tempo urge.

O Pulso da Amazônia na COP30: Ciência e Ancestralidade no Museu Goeldi

Belém se prepara para ser o epicentro global do debate climático, mas, para além dos palcos diplomáticos, o verdadeiro pulso da Amazônia vibrará nos espaços do Museu Paraense Emílio Goeldi. Uma das instituições de pesquisa mais antigas e prestigiadas da região, o Goeldi se transformará em um polo de programação paralela durante a COP30, oferecendo um contraponto essencial: a ciência produzida na Amazônia e a sabedoria ancestral dos povos tradicionais como as verdadeiras bússolas para enfrentar a crise climática.

Essa convergência de saberes, que vai de 7 a 22 de novembro, desdobra-se em uma tripla jornada de conhecimento, ocupando diferentes setores da instituição e traduzindo a complexidade do bioma em diálogos acessíveis e transformadores.WhatsApp-Image-2025-11-07-at-17.26.13-1-400x500 O Pulso da Amazônia na COP30: Ciência e Ancestralidade no Museu Goeldi

 

A Tripla Jornada de Diálogos Transformadores

O Parque Zoobotânico e o Campus de Pesquisa do Goeldi sediarão três grandes frentes de discussão, cada uma com um foco estratégico para o futuro da região.

De 11 a 21 de novembro, a Casa da Ciência toma conta do Parque Zoobotânico. Organizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), este espaço se dedica a traduzir pesquisas complexas em narrativas acessíveis, firmando a ciência como um instrumento vital de transformação social e ambiental. A programação, concentrada na Biblioteca Clara Galvão e no Auditório Alexandre Rodrigues Ferreira, será um convite aberto ao público para reconhecer a importância da pesquisa como pilar da resiliência amazônica.

Paralelamente, a Estação Amazônia Sempre, uma colaboração entre o Museu Goeldi e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), funcionará como um hub de alto nível entre 8 e 21 de novembro. Este é o ponto de encontro onde a ciência formal se cruza com a geopolítica do desenvolvimento. A estação reunirá cientistas, instituições de ensino e pesquisa, organizações não-governamentais, representantes de governos da Pan-Amazônia e grupos da sociedade civil, desenhando um futuro sustentável para a floresta em um diálogo franco e focado em soluções práticas. Os debates ocorrerão no Auditório do Centro de Exposições Eduardo Galvão e no Chalé Rodolfo de Siqueira Rodrigues.

Em um movimento de resgate histórico e ativismo, o Campus de Pesquisa do bairro da Terra Firme sediará o Espaço Chico Mendes. Essa ação, liderada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Comitê Chico Mendes, com a coordenação de Ângela Mendes, filha do icônico seringueiro e ativista ambiental, traz para o centro do debate a voz de povos e comunidades tradicionais. De 7 a 22 de novembro, o espaço será dedicado à construção de alianças e ao fortalecimento da ação coletiva, honrando o legado da luta ambiental e posicionando os saberes tradicionais como insubstituíveis na gestão da crise climática.

WhatsApp-Image-2025-11-07-at-17.26.13-1-400x500 O Pulso da Amazônia na COP30: Ciência e Ancestralidade no Museu Goeldi

A Floresta em Arte e Herança

A programação não se limita aos debates; o Goeldi também abre suas portas para uma profunda reflexão cultural e artística sobre a Amazônia, sediando exposições que celebram a diversidade e a força política dos povos originários.

A partir de 8 de novembro, o Castelinho será o cenário de Impressões da Floresta, uma mostra que traduz a sutileza do bioma em arte. As artistas Laura Calhoun e Anna Leal, em parceria com comunidades rurais da Floresta Nacional de Caxiuanã, apresentam um trabalho artesanal que utiliza pigmentos naturais e uma técnica de transferência para estampar formas e cores das plantas em tecidos e papel, revelando a beleza da natureza com um olhar sustentável e minimalista. A mostra inaugura a partir de sábado, 9 de novembro, com entrada gratuita.

No Centro de Exposições Eduardo Galvão, o público poderá mergulhar em duas mostras de peso. A primeira, Brasil: Terra Indígena, abre no domingo, 9 de novembro. Realizada pelo Instituto Cultural Vale, o Centro Cultural Vale Maranhão (CCVM) e o Museu Goeldi, esta exposição inédita é um mergulho na produção cultural de mais de 305 povos indígenas. Ao reunir expressões materiais, acervo etnográfico e fotografias de 45 artistas indígenas contemporâneos, a mostra sublinha o papel político destas comunidades na formação e sustentação da cultura brasileira e do próprio território.

WhatsApp-Image-2025-11-07-at-17.26.14-400x500 O Pulso da Amazônia na COP30: Ciência e Ancestralidade no Museu Goeldi

Complementando esse panorama, a mostra de longa duração Diversidades Amazônicas será inaugurada para o público a partir de 11 de novembro. Exclusiva do Museu Goeldi, ela se propõe a ser o posicionamento definitivo da instituição sobre a emergência climática, revelando a vasta sociobiodiversidade do bioma a partir do olhar de pesquisadores de áreas como arqueologia, zoologia e botânica, integrando também as contribuições vitais de povos indígenas e tradicionais.

Além das mostras fotográficas e etnográficas, a arte contemporânea da floresta ganha destaque com os murais no Centro de Exposições. O trabalho do Coletivo Mahku (povo Huni Kuin), ao lado das obras das artistas Drika Chagas e Cely Feliz, reafirma que a expressão artística é, na Amazônia, um ato de resistência, memória e projeção de futuro.

Ao sediar essa programação multifacetada e de alto impacto, o Museu Goeldi consolida-se durante a COP30 não apenas como um ponto de encontro, mas como o curador da resiliência amazônica, garantindo que as soluções mais genuínas para o planeta sejam ouvidas no palco global, com a força da ciência e a profundidade da história.

SERVIÇO
Local: Centro de Exposições Eduardo Galvão (Av. Magalhães Barata, 376 – São Brás,
Belém – PA)
Abertura ao público: 10/11 (segunda-feira), às 17h – apresentação à imprensa e
convidados.
Abertura ao público: a partir de terça-feira (11/11) – com entrada gratuita, de domingo a
domingo, das 9h até às 16h (até 21/11)
Leia mais: https://encurtador.com.br/viD

Casa da Mata Atlântica leva mensagem de urgência à COP30 em Belém

Enquanto os holofotes da COP30 se voltam para a Amazônia, a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) leva à conferência uma mensagem clara: sem a conservação e restauração do bioma mais ameaçado do país, não há futuro climático possível para o Brasil.

De 12 a 15 de novembro, a Casa da Mata Atlântica será instalada na Universidade da Amazônia (Unama), no bairro Umarizal, em Belém. O espaço funcionará como um ponto de encontro entre ciência, arte, cultura e política pública, reunindo ambientalistas, pesquisadores, gestores, lideranças comunitárias e artistas.

Com programação gratuita e aberta, o evento contará com debates, oficinas e apresentações culturais que destacam a interdependência entre os biomas brasileiros e o papel essencial da Mata Atlântica no equilíbrio climático, na segurança hídrica e no bem-estar social.

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A floresta urbana que sustenta o país

“A Mata Atlântica é onde grande parte do Brasil urbano vive, produz e consome. Conservar e restaurar esse bioma é reconstruir o país que queremos — justo, resiliente e comprometido com a vida”, resume Tânia Martins, coordenadora-geral da RMA.

Hoje, o bioma já perdeu cerca de 70% de sua cobertura original e concentra o maior número de espécies ameaçadas de extinção no país. Mesmo assim, abriga a maior parte da população brasileira e as principais bacias hidrográficas. “Não basta restaurar o que foi destruído. É preciso garantir que o que ainda existe seja protegido”, reforça Tânia.

A Casa da Mata Atlântica nasce como um espaço simbólico e político de defesa dessa floresta — um bioma vital para o equilíbrio climático e para a economia nacional. A iniciativa conta com o apoio da Fundação SOS Mata Atlântica e do Fundo Casa Socioambiental.

A Amazônia recebe a Mata Atlântica

A abertura acontece na quarta-feira (12), às 19h, com o painel “A Amazônia recebe a Mata Atlântica”, que marcará o início das atividades da Casa. Participam João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima; Nilto Tatto e Ivan Valente, deputados federais com atuação socioambiental; João Cláudio Arroyo, economista e professor da Unama; e Tânia Martins, da RMA.

A jornalista e escritora Cristina Serra será mestre de cerimônia. Entre os convidados também estão Antônio Herman Benjamin, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e referência mundial em Direito Ambiental, e a atriz Lucélia Santos, reconhecida por sua militância ambiental. Cristina Serra aproveitará o evento para lançar seu novo livro Cidade Rachada.

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Arte, ciência e mobilização

Durante os quatro dias de programação, a Casa promoverá oficinas e rodas de conversa sobre biomimética, educação ambiental e protagonismo feminino. Haverá ainda a Feira da Restauração e a Marcha pelo Clima, em parceria com movimentos da sociedade civil. O encerramento musical, intitulado Música da Floresta, ficará por conta da cantora Sandra Duailib.

As discussões vão abordar desde os desafios da restauração florestal até a criação de novas Unidades de Conservação (UCs), fundamentais para frear a perda de espécies e garantir o cumprimento das metas globais de biodiversidade.

Segundo levantamento recente da SOS Mata Atlântica, muitas áreas em regeneração acabam sendo novamente desmatadas poucos anos depois. Por isso, a Casa defende que a conservação das florestas maduras seja a prioridade, com a restauração atuando como estratégia complementar para reconectar paisagens e ecossistemas.

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Uma construção coletiva pela floresta

A Casa da Mata Atlântica é resultado da união de dezenas de entidades da sociedade civil. Entre elas estão a Funbea, Rebea, Defensores do Planeta, AMLD, Society for Ecological Restoration (SER), Instituto 5 Elementos, Apremavi, ISA, WWF-Brasil, IDS, Gambá, Anama, Observatório do Código Florestal, Rede Mineira de Educação Ambiental, Rede de Mulheres Ambientalistas da América Latina, e o FBOMS.

Essa ampla articulação reflete a diversidade de saberes e vozes que sustentam a conservação do bioma e a construção de políticas públicas voltadas à justiça climática e socioambiental.

“A Casa é uma semente de diálogo e de resistência”, afirma Tânia Martins. “Um convite para lembrar que conservar a Mata Atlântica é, ao mesmo tempo, conservar o clima, a água e o futuro do país.”

Serviço
Casa da Mata Atlântica – COP30
Local: Universidade da Amazônia (Unama), Av. Alcindo Cacela, 287, Umarizal, Belém (PA)
Datas: 12 a 15 de novembro
Mais informações: rma.org.br | cop30.events/hubs