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Quase-desmatamento-zero: lições e alertas para o Brasil

A divulgação de uma das menores taxas de desmatamento da história do país representa uma vitória da sociedade brasileira — e carrega consigo duas grandes lições e dois alertas que merecem reflexão. Segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no último ciclo anual houve um desempenho muito positivo, com o bioma Amazônia atingindo níveis que há muito não se verificavam.

A primeira lição é que o objetivo de “desmatamento zero” está, de fato, ao alcance — não é apenas uma meta simbólica, mas uma possibilidade real se houver vontade política e engajamento social. A atual administração assumiu um cenário difícil: no segundo semestre de 2022 houve aumento de cerca de 50% nos alertas de desmatamento após quatro anos de descontrole. Entretanto, graças à aplicação de um conjunto robusto de políticas públicas e repressão ao crime ambiental – desenhadas sob a coordenação da ministra Marina Silva desde o início do governo atual – a devastação retornou aos patamares da fase de redução entre 2011 e 2014. Ao mesmo tempo, no bioma Cerrado, registrou-se o segundo ano consecutivo de queda nas taxas de destruição. Isso demonstra que políticas de monitoramento, fiscalização, embargos e incentivos funcionam de fato.

A segunda lição é que o Ibama — frequentemente retratado como antagonista ou “oposição” às diretrizes de governo — mostrou que pode operar em consonância com a agenda ambiental, caso existam mandato claro e respaldo institucional. Mesmo diante de críticas oriundas do mais alto escalão, o órgão entregou resultados consistentes no atual mandato. Essa aparente retomada de eficácia reforça que instituições independentes e técnicas continuam tendo papel decisivo na governança ambiental.

Mas há dois importantes alertas que emergem desse momento de conquista. O primeiro alerta aponta que, com as “facilidades” de redução já alcançadas, os próximos passos serão mais difíceis — e dependerão cada vez mais de alternativas econômicas eficazes para a Amazônia, o Cerrado e outros biomas, bem como de fortalecimento institucional contínuo. Os setores que lucram com a destruição — desapropriação de terras, grilagem, extração ilegal — estarão sob pressão e provavelmente adotarão estratégias mais agressivas. A reação de fragmentos do agronegócio à divulgação do Plano Clima, a pressão do Congresso para retomar o chamado “PL da Devastação” e a discussão em torno do asfaltamento da BR‑319 – que pode comprometer o controle do desmatamento – são exemplos claros de que a situação ainda está vulnerável.

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Arquivo/Agência Brasil

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O segundo alerta é que controlar o desmatamento não basta para resolver todas as emissões brasileiras de gases de efeito estufa. O foco precisará se deslocar para outros setores — energia, transporte, indústria — porque políticas florestais e de uso da terra, embora essenciais, não representam a única solução. Como alertou Márcio Astrini, secretário-executivo da Observatório do Clima (OC), “o governo dá com uma mão e tira com a outra”: a mesma administração que avança na redução do desmatamento avança simultaneamente na produção de petróleo, contrariando a ciência e potencialmente sabotando o alcance de metas climáticas maiores. Em outras palavras, o setor florestal não pode servir como carta-valete para justificar esquemas que ampliem dependência de combustíveis fósseis ou revertam ganhos ambientais.

A atuação do Observatório do Clima também merece destaque. Fundado em 2002, o OC reúne uma rede de organizações da sociedade civil, institutos de pesquisa e movimentos sociais com o propósito de construir “um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável”. A plataforma de dados SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa) é uma das ferramentas que permitem monitorar de forma independente a evolução das emissões e o uso da terra no país.

No balanço final, o que se tem é uma vitória importante — mas frágil. O Brasil conseguiu retomar o controle sobre parte do ciclo de devastação ambiental, provando que a combinação de vontade política, técnicas de monitoramento por satélite, fiscalização reforçada e envolvimento da sociedade funciona. Porém, essa nova fase exige estratégias mais sofisticadas e integração entre políticas florestais, econômicas e de desenvolvimento. Afinal, conter a derrubada de árvores é só uma face do desafio climático. É igualmente vital garantir que os fluxos de produção, uso de solo, consumo de energia e sobreposição de interesses econômicos não revertam os avanços. Somente assim o país poderá transformar esse momento de conquista em uma trajetória duradoura rumo ao desmatamento zero e à neutralidade climática.

AgriZone: 400 eventos gratuitos mostram agricultura e clima

A Embrapa divulgou nesta semana a programação de aproximadamente 400 eventos que irão se desenrolar ao longo dos 12 dias da COP30, entre 10 e 21 de novembro, em Belém (PA). O palco dessa série intensa de atividades será a AgriZone — um espaço dedicado à agricultura sustentável e ao debate sobre a mudança do clima — que ficará instalado a menos de 2 km da chamada “Blue Zone”, onde ocorrem as negociações oficiais da conferência.

A partir de uma chamada pública realizada pela Embrapa, foram recebidas cerca de 450 propostas de organizações que atuam direta ou indiretamente nos campos da agricultura, da segurança alimentar e da adaptação ou mitigação das mudanças climáticas. Um grupo de trabalho formado por pesquisadores e técnicos de diferentes áreas selecionou as propostas, garantindo uma programação plural e inclusiva. O resultado? Um mosaico de mais de 400 atividades — palestras, workshops, seminários, mesas-redondas — realizadas em cinco auditórios da AgriZone, cobrindo temas como segurança alimentar, resiliência climática, bioeconomia, economia circular, gênero, justiça climática, recuperação de áreas degradadas, agricultura digital, água & clima, agricultura familiar, pecuária de baixo carbono e cooperativismo.

A AgriZone se apresenta como um ambiente de imersão: ali os participantes poderão conhecer vitrines virtuais de soluções sustentáveis, experiências culturais e gastronômicas, e “vitrines vivas” com mais de 70 tecnologias para agricultura de baixo carbono, adaptadas ao clima tropical — um reconhecimento importante de que a agricultura no Brasil não se limita ao modelo dos países temperados, mas carrega potencial e diferenças próprias. Conforme destacou Ana Euler, diretora de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia da Embrapa, a proposta é que a AgriZone funcione “acima de tudo como uma convocatória à ação” — um espaço técnico, científico e político para que diferentes agriculturas se desenvolvam de forma sustentável, resiliente e justa, na esteira dos desafios climáticos.

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Divulgação

SAIBA MAIS: Embrapa abre inscrições para eventos na COP30 em espaço dedicado à agricultura sustentável

Além disso, a localização e o acesso à AgriZone reforçam sua vocação de diálogo aberto. O espaço funcionará com entrada gratuita durante o período da COP30, das 10 h às 18 h (ou, em algumas fontes, das 10 h às 22 h) diariamente, mediante credenciamento prévio — ou mesmo inscrição presencial no local — o que amplia a oportunidade ao público geral de participar, além dos delegados oficiais. Vale destacar que a AgriZone foi oficialmente incorporada à rota de transporte da conferência, via sistema de ônibus exclusivo da COP30, o que facilita o acesso de delegações, pesquisadores, atores da sociedade civil e público em geral.

O evento integra a iniciativa “Jornada pelo Clima”, idealizada pela Embrapa, que tem por objetivo explorar os desafios e as soluções para uma agricultura de baixo carbono, inclusiva e resiliente nos diferentes biomas brasileiros, além de valorizar a ciência agropecuária nacional como pilar da transformação sustentável. A iniciativa conta com o patrocínio e apoio de diversos parceiros: o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) como patrocinadores master; a parceria institucional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA); patrocínios “diamante” de empresas como Nestlé, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura e Bayer; patrocinador ouro a Caixa Econômica Federal; e outras parcerias menores.

Em suma, a AgriZone aparece como mais que um local de encontros acadêmicos ou técnicos: ela funciona como uma vitrine tangível das inovações adaptadas à realidade brasileira — e tropical — da agricultura, e como um espaço de mobilização que busca posicionar o setor produtivo como protagonista da trajetória para uma economia de baixo carbono, da regeneração ambiental e da segurança alimentar mundial. Ao mesmo tempo, o caráter público e gratuito das atividades permite que atores variados — desde produtores familiares até grandes cooperativas, além de entidades da sociedade civil — participem desse diálogo. Para quem estiver em Belém ou planejar participar da COP30, a AgriZone representa uma porta de entrada para vivenciar como a ciência, a tecnologia e a cooperação internacional podem convergir em torno da agricultura sustentável.

Serviço – AgriZone / COP30

Local: Embrapa Amazônia Oriental – Belém (PA)
Distância da Green & Blue Zone: 1,8 km
Período: 10 a 21 de novembro de 2025 (entrada gratuita mediante inscrição on-line ou no local)
Organização: Embrapa e parceiros
Contato: [email protected]
Mais informações: http://www.embrapa.br/cop30

Ricos poluem 400 vezes mais que pobres, diz relatório da Oxfam

A desigualdade climática nunca foi tão evidente. Segundo o relatório Saque Climático: como poucos ricos e poderosos estão levando o planeta ao colapso, divulgado pela Oxfam em 29 de outubro, o 0,1% mais rico da população mundial emite, em apenas um dia, mais gases de efeito estufa do que metade dos mais pobres. A cada 24 horas, um integrante dessa elite libera cerca de 800 quilos de CO₂ equivalente, enquanto uma pessoa da base econômica emite apenas dois quilos.

Os dados revelam um abismo crescente na responsabilidade pela crise climática. Em 24 anos, a participação dos super-ricos nas emissões globais aumentou 32%, enquanto a dos mais pobres caiu 3%. O estudo, baseado em estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mostra que quase 90% do “orçamento de carbono” restante para limitar o aquecimento global a 1,5°C — meta do Acordo de Paris — já foi consumido.

De acordo com a diretora-executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, o relatório reforça a urgência de aplicar o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas — conceito que reconhece que todos os países devem agir contra o aquecimento global, mas em proporções compatíveis com seu impacto e capacidade. “Nosso modo de vida coletivo reflete essa desigualdade. Quem mais contribui para a crise precisa ser o primeiro a agir”, afirma Santiago.

O documento também quantifica o peso da elite global no desequilíbrio climático. Se toda a população mundial tivesse o mesmo padrão de emissão dos mais ricos, o planeta ultrapassaria o limite seguro de aquecimento em menos de três semanas. O estilo de vida e os investimentos dessa minoria concentram uma carga desproporcional de carbono, enquanto os efeitos — secas, enchentes e perda de biodiversidade — recaem sobre os mais vulneráveis.

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Tânia Rêgo/Agência Brasil

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A Oxfam calcula que os mais ricos precisariam reduzir suas emissões individuais em 99% até 2030 para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C. O desafio, porém, vai além do consumo pessoal: grande parte das emissões vem do poder financeiro. Cerca de 60% dos investimentos da elite global estão aplicados em setores altamente emissores, como petróleo, gás e mineração. Segundo o relatório, o bilionário médio é responsável por 1,9 milhão de toneladas de CO₂e por ano apenas por meio de seus investimentos — o equivalente à pegada de 400 mil pessoas comuns.

O impacto não é apenas ambiental, mas também político. O relatório mostra como o poder econômico dos grandes emissores influencia espaços de decisão internacional, como a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP). Na COP29, realizada em 2024 em Baku, no Azerbaijão, 1.773 participantes ligados às indústrias de carvão, petróleo e gás receberam credenciais oficiais — um número superior ao total de delegados dos dez países mais vulneráveis ao clima somados.

Esse desequilíbrio reforça a contradição central da transição climática: os que mais lucram com a destruição do planeta também ocupam os espaços onde se decidem as políticas para contê-la. “Essas elites não apenas poluem mais, como moldam as regras do jogo climático global”, observa Santiago.

Entre as soluções propostas, a Oxfam defende a taxação progressiva sobre fortunas e investimentos poluentes, a limitação da influência de grandes corporações nos fóruns climáticos, a redistribuição do orçamento verde global e o fortalecimento da participação da sociedade civil, de comunidades tradicionais e de povos indígenas nas decisões.

Para o diretor-executivo da Oxfam Internacional, Amitabh Behar, a crise climática é, antes de tudo, uma crise de desigualdade. “Os indivíduos mais ricos financiam e lucram com a destruição do clima, enquanto a maioria da população mundial paga o preço das consequências fatais do seu poder sem controle”, resume.

O relatório reacende o debate sobre justiça climática às vésperas da COP30 — que será realizada em Belém, em 2025 — e desafia governos, empresas e cidadãos a encarar a crise não apenas como um problema ambiental, mas como uma questão ética e civilizatória.

BNDES mobiliza bilhões e faz das florestas vetor de desenvolvimento

O maior banco de fomento do Brasil decidiu virar a chave da restauração e posicionar a floresta como motor de desenvolvimento. O BNDES mobilizou desde 2023 cerca de R$ 3,4 bilhões em iniciativas de conservação, recuperação e manejo de florestas — um movimento que reafirma que os recursos verdes podem e devem gerar valor econômico, emprego e inovação.

Tudo isso ocorre no contexto da reativação do Fundo Amazônia, que depois de quatro anos de paralisação voltou a operar com vigor. A combinação entre retomada institucional e nova estratégia do banco coloca o país em rota para cumprir sua ambiciosa meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 — parte do compromisso firmado no Acordo de Paris.

Mas o que significa na prática esse volume de recursos? São 70 milhões de mudas plantadas, 23,5 mil empregos gerados, uma bioeconomia emergente de espécies nativas e um impulso para que a floresta não mais apareça apenas como reserva, mas como ativo para a economia e o clima.

O banco público não atua só como financiador passivo. Ele está propondo diferentes frentes: linhas de crédito com condições favoráveis para agendas de restauração, concessões florestais que estão abrindo espaço para o setor privado participar da recuperação e do manejo sustentável — e editais de recursos não reembolsáveis para projetos em terras indígenas e biomas vulneráveis.

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Valter Campanato/Agência Brasil

SAIBA MAIS: BNDES liberou R$ 250 milhões para restaurar biomas degradados

Um exemplo prático dessa estratégia é a aprovação de um financiamento de R$ 250 milhões à Suzano S.A. para restaurar 24.304 hectares de áreas degradadas nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, o maior volume até então com recursos do fundo público-climático.

Outro exemplo é o programa de concessões florestais na Floresta Nacional do Bom Futuro, com meta de restaurar 12 mil hectares e proteger outros 78 mil, numa concessão de 40 anos que prevê R$ 886 milhões de receita e R$ 62 milhões em investimentos sociais.

Mais do que uma estratégia ambiental, o BNDES trata a agenda florestal como econômica e social. Segundo a diretora socioambiental do banco, Tereza Campello, a floresta em pé deve valer mais do que derrubada, e a restauração deve gerar retorno, assunto encerrado com discurso e agora com escala.

Para que o Brasil atinja sua meta de reduzir entre 59% e 67% das emissões de gás carbônico até 2035 (comparado a 2005) conforme a sua NDC, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima afirmou que a estratégia tem dois pilares inseparáveis: parar o desmatamento e restaurar florestas.

Neste cenário, a restauração torna-se catalisadora de uma transição ecológica onde comunidades tradicionais, terras indígenas, cadeias produtivas nativas, manejo florestal e créditos de carbono se entrelaçam. O banco lançou sua plataforma “BNDES Florestas”, que reúne e dá visibilidade a essas iniciativas como parte de uma nova frente estratégica.

A virada pretendida está clara: não se trata apenas de plantar árvores ou salvaguardar biomas, mas de estruturar uma floresta que conta para o clima, para a economia, para a equidade. Em vez de depender exclusivamente de recursos públicos, o modelo busca atrair investimento privado, estruturar cadeias florestais, fortalecer comunidades e garantir que a floresta deixe de ser custo para virar oportunidade.

É um movimento de escala. É também um movimento de tempo. Se a conferência global em COP30 vai buscar resultados práticos, o BNDES está chegando com um portfólio que já nasce em execução, não apenas em promessas. A floresta está voltando ao centro da política de clima — desta vez, com olhos no desenvolvimento, no emprego e no impacto real.

Banzeiro da Esperança: a jornada fluvial que leva as vozes da Amazônia à COP30

De Manaus a Belém, uma expedição cultural e política navega os rios amazônicos para levar mensagens de resistência, sabedoria e esperança à COP30. O “Banzeiro da Esperança”, idealizado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e pela Virada Sustentável, é mais do que um barco: é um símbolo de união entre comunidades ribeirinhas, povos indígenas, quilombolas e jovens da floresta.

Partindo de Manaus em 4 de novembro, o barco fará paradas em Parintins e Santarém, antes de atracar em Belém no dia 7, levando a bordo um mosaico de experiências, expressões artísticas e propostas para o futuro da Amazônia. A jornada culminará com a entrega da Carta da Amazônia, documento coletivo com recomendações sobre adaptação climática, conservação ambiental e fortalecimento da sociobioeconomia.

Uma viagem pela Amazônia real

Durante a navegação, painéis, rodas de conversa, oficinas e manifestações artísticas transformarão o barco em um espaço flutuante de aprendizado e intercâmbio. O superintendente-geral da FAS, Virgilio Viana, define a iniciativa como um ato de enfrentamento à injustiça climática: “Quem menos contribuiu para o problema é quem mais sofre seus impactos. O Banzeiro é um movimento para que essas vozes sejam escutadas no coração das negociações globais.”

A programação inclui painéis sobre a COP30 e as agendas climáticas da região, oficinas de audiovisual, murais de memórias, exposições fotográficas e momentos de escuta comunitária. Em Parintins, o barco fará uma parada especial com os bois-bumbás Caprichoso e Garantido, ícones da cultura amazônica.

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Cultura, ancestralidade e ação

Ao chegar a Belém, o “Banzeiro da Esperança” se transforma em um Centro Cultural flutuante, com exposições, apresentações musicais, performances e debates abertos ao público. Segundo André Palhano, cofundador da Virada Sustentável, a arte tem papel essencial na construção de consciência ambiental: “A cultura é uma linguagem de mobilização e esperança. Ela faz as pessoas se conectarem ao que está em jogo — o futuro do planeta.”

Um dos pontos altos da programação será a Mostra Amazônia Negra, dedicada à valorização das expressões afro-amazônicas. A agenda também trará debates sobre sociobioeconomia, oficinas de comunicação e encontros com lideranças que participaram da Jornada de Formação para a COP30, realizada desde julho com apoio de organizações comunitárias.

Mais de mil pessoas participaram dessas formações, que resultaram em 71 planos de ação climática, dos quais 30 foram selecionados para integrar o projeto Banzeiro. Para Valcléia Lima, superintendente adjunta da FAS, o processo fortalece o protagonismo local: “As pessoas da Amazônia precisam ser as primeiras a falar e a serem escutadas. Essa é a essência da COP30.”

A Carta da Amazônia

Durante a COP30, o Banzeiro entregará oficialmente a Carta da Amazônia a representantes governamentais, negociadores e sociedade civil. O documento reunirá propostas sobre financiamento climático, proteção territorial e educação ambiental — fruto de escutas coletivas ao longo do percurso.

A iniciativa é um esforço conjunto entre instituições públicas, movimentos sociais e empresas que compartilham o compromisso de ampliar a participação amazônica nos debates globais sobre clima. Entre os parceiros estão o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e a Rede Conexão Povos da Floresta.

Mobilização e parcerias

O projeto é viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura, apresentado pela Sabesp, com realização da FAS, Virada Sustentável e Ministério da Cultura. Conta com patrocínio da Heineken, SPIN, Vale, e WEG, além de apoio da Bemol, Ecosia, Edenred, Instituto Itaúsa e Suzano. A Rede Amazônica é a parceira de mídia oficial do projeto.

Em cada parada, o Banzeiro carrega histórias, canções e ideias que cruzam o rio para chegar a Belém — e de lá, ao mundo. Mais do que uma viagem, é um ato coletivo de esperança, reafirmando que a Amazônia não é apenas território de floresta, mas de futuro.

Brasil quer fazer da COP30 a “COP da adaptação” e busca acordo global para financiar ações contra impactos climáticos

Enquanto o mundo se aproxima da COP30 em Belém, marcada para novembro, o Brasil pretende sair da conferência com algo mais do que discursos: um acordo concreto que amplie os recursos destinados à adaptação climática. O presidente da COP30 e embaixador brasileiro, André Corrêa do Lago, afirma que o país trabalha por um “pacote de adaptação”, capaz de transformar compromissos em resultados visíveis.

Segundo Corrêa do Lago, a COP de Belém deve marcar uma virada de página nas negociações climáticas, saindo da retórica para a implementação efetiva de medidas já discutidas. “As negociações têm que ter resultados. A gente precisa mostrar progresso nessa agenda, provar que ela não está perdendo espaço”, destacou o diplomata em entrevista à Reuters.

O contexto, porém, é desafiador. No cenário global, o entusiasmo político e o fluxo de recursos destinados ao meio ambiente vêm diminuindo, mesmo diante do aumento de desastres naturais e eventos climáticos extremos. É nesse ambiente de escassez e urgência que o Brasil tenta reposicionar a conversa sobre clima, defendendo que investir em adaptação é investir na sobrevivência das populações.

Um relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que o mundo precisará de US$ 310 bilhões anuais até 2035 para lidar com o aumento do nível do mar, ondas de calor e outras consequências do aquecimento global — um valor 12 vezes superior ao que é investido atualmente.

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Reprodução

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A COP da adaptação

Corrêa do Lago vem se referindo à COP30 como “a COP da adaptação”. Para ele, os governos e comunidades locais não querem mais apenas compromissos ou promessas — querem recursos reais. “O mais importante hoje é a implementação. E ela não depende mais de negociação, mas de cumprir o que já foi acordado”, explicou.

A estratégia brasileira é mostrar que a agenda climática não é apenas ambiental, mas também social e econômica. “As pessoas precisam sentir os resultados no cotidiano. Adaptar-se significa proteger vidas, garantir segurança alimentar e infraestrutura resiliente”, reforça o embaixador.

A adaptação é uma das duas vertentes centrais do Acordo de Paris, firmado em 2015, ao lado da mitigação, que busca reduzir emissões e conter o aquecimento. Se a mitigação tenta frear o problema, a adaptação ensina a sobreviver a ele. Para o diplomata, ambas precisam avançar juntas, mas a segunda se tornou mais urgente diante da lentidão global em cortar emissões.

Financiamento em crise

O principal desafio, no entanto, é o financiamento climático. O modelo de repasses a fundo perdido, predominante até hoje, vem encolhendo. O resultado da COP29 em Baku, no Azerbaijão, evidenciou o impasse: países ricos prometeram apenas US$ 300 bilhões, quando seriam necessários US$ 1,3 trilhão para cumprir as metas atuais.

A retração se explica por fatores geopolíticos. Os Estados Unidos se afastaram do Acordo de Paris, e a Europa direciona parte crescente de seus recursos à defesa, reduzindo a margem para investimentos verdes.

Em resposta, Corrêa do Lago e seu antecessor, o presidente da COP29 Mukhtar Babayev, prepararam o chamado “Mapa do Caminho”, um relatório com alternativas para ampliar o financiamento climático. O documento, que será apresentado antes da conferência em Belém, propõe medidas como reduzir a burocracia para aprovação de projetos, aumentar a capacidade dos bancos de desenvolvimento de atrair capital privado e criar mecanismos de troca de dívidas por investimentos em adaptação.

Apesar do potencial, o diplomata reconhece que o relatório é apenas consultivo e sem força legal. “É um conjunto de recomendações. Não sabemos ainda se vai influenciar decisões concretas, mas já é um passo”, afirmou.

Implementar o que já foi negociado

Corrêa do Lago defende que o que já foi acordado nos fóruns internacionais seria suficiente para conter 90% do aumento da temperatura global — desde que haja recursos e vontade política. “A questão agora é cumprir o que está no papel. Não precisamos renegociar tudo; precisamos agir.”

Com a COP30 prestes a começar, Belém se prepara para ser palco não apenas de discursos, mas de decisões práticas sobre como financiar o futuro climático do planeta. O desafio brasileiro é mostrar que a adaptação não é apenas uma resposta à crise, mas uma estratégia de sobrevivência e desenvolvimento.

Bordas urbanas revelam novo horizonte para a restauração florestal

Um novo estudo da Universidade de São Paulo (USP) e da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil) revela uma fronteira até agora pouco explorada da recuperação ambiental: as bordas urbanas. Esses territórios, situados entre o urbano consolidado e o rural, somam cerca de 410 mil hectares com potencial para restauração florestal em todo o Estado de São Paulo — o equivalente a quase um terço da meta paulista de restaurar 1,5 milhão de hectares até 2050.

A pesquisa foi conduzida por cientistas do Núcleo de Análise e Síntese de Soluções Baseadas na Natureza – BIOTA Síntese, um Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Publicado na revista Scientific Reports, o estudo analisou três décadas de dados do Projeto MapBiomas (1990–2020), distinguindo pela primeira vez as áreas urbanas densas, as bordas urbanas e as zonas rurais do território paulista.

Os resultados mostram que a regeneração natural vem superando o desmatamento nas bordas urbanas desde 2005, mesmo sob forte pressão do crescimento das cidades. “Essas áreas estão próximas das pessoas e têm alto potencial para gerar benefícios ambientais e sociais”, explica Luciana Schwandner Ferreira, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP).

Coordenado por Jean Paul Metzger, professor do Instituto de Biociências da USP (IB-USP) e líder do BIOTA Síntese, o estudo destaca que as bordas urbanas representam uma oportunidade estratégica: nelas, os custos de restauração tendem a ser menores e os ganhos coletivos, maiores. “Mesmo sem políticas específicas, as taxas de regeneração são expressivas. Políticas voltadas a essas áreas poderiam ampliar e consolidar esse processo, aproximando a restauração dos 96% de paulistas que vivem em cidades”, avalia o pesquisador.

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A macrometrópole paulista, formada por 174 municípios, é um laboratório natural para essa transformação. A proximidade com áreas preservadas, como o Parque Estadual da Serra do Mar, favorece a regeneração natural e reduz custos operacionais. Quando o plantio ativo é necessário, a logística é mais eficiente e o impacto social se multiplica, gerando emprego e fortalecendo economias locais.

Os 410 mil hectares identificados equivalem a 51% da área total das bordas urbanas do Estado. Desses, 235 mil hectares estão localizados na macrometrópole e beneficiam diretamente 32,7 milhões de pessoas. Além disso, 39 mil hectares correspondem a áreas de preservação permanente (APPs) — margens de rios, encostas e topos de morro — que necessitam de restauração imediata conforme o Código Florestal Brasileiro.

O estudo também alerta para a complexidade social dessas regiões. As bordas urbanas abrigam uma diversidade de usos da terra — bairros populares, áreas agrícolas familiares, zonas industriais e espaços de lazer — o que exige políticas de restauração contextualizadas. O objetivo, segundo os pesquisadores, é conciliar múltiplos interesses e evitar riscos sociais, como deslocamentos forçados ou processos de gentrificação decorrentes da valorização ambiental.

Por isso, o estudo defende abordagens flexíveis: em alguns locais, a regeneração natural pode ser suficiente; em outros, são recomendados modelos produtivos com espécies nativas voltados à alimentação, madeira ou serviços ecossistêmicos; e, em certos casos, intervenções de infraestrutura verde urbana podem integrar a restauração à vida cotidiana das cidades.

Além da recuperação da biodiversidade e da proteção dos recursos hídricos, restaurar áreas periurbanas pode trazer ganhos diretos à qualidade de vida — reduzindo ilhas de calor, melhorando o ar e oferecendo espaços de lazer e convivência. A pesquisa reforça que a restauração ecológica, quando articulada ao planejamento urbano, torna-se também uma ferramenta de saúde pública, mitigação climática e justiça ambiental.

O trabalho integra o projeto “Resiliência e adaptação à mudança do clima nas cidades: tempo de agir com soluções baseadas na natureza”, financiado pela FAPESP, e contou com bolsas de pós-doutorado (processos 22/07415-0 e 22/09161-6). O artigo completo, Urban boundaries are an underexplored frontier for ecological restoration, pode ser consultado em nature.com.

PNUD lança campanha global para enfrentar a desinformação

O mundo está entrando em uma nova fase da ação climática — e a hora de agir é agora. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançou no dia 27 de outubro de 2025 a campanha #ClimateCounts com um propósito claro: dar rosto, corpo e urgência à crise climática — por meio de números que falam, imagens que impactam e cidadãos que exigem mudança.

Essa iniciativa reúne 30 factos essenciais sobre o clima, cada um acompanhado de um visual de impacto, e entrega uma mensagem poderosa: a mudança climática não é uma discussão abstrata à beira-mar, mas uma realidade que molda o nosso dia a dia — seja o alimento que colocamos no prato, a água que cai da torneira ou o futuro que deixaremos para as próximas gerações.

A desinformação cresce em paralelo com os impactos do aquecimento global — mitos, exageros, visões parcializadas e, em alguns casos, negações. A campanha #ClimateCounts assume o desafio de inverter esse padrão: ao tornar os dados acessíveis, claros e visuais, busca elevar a literacia climática e capacitar indivíduos e comunidades a agir — e a exigir mais e melhor dos decisores. Em um momento em que os países preparam novas metas nacionais de clima (as chamadas NDCs) e se dirigem à COP30 em Belém (10-21 de novembro), a mensagem é firme: “Não temos tempo a perder”.

Por meio da iniciativa Climate Promise, o PNUD já apoia mais de 140 países com mais de US$ 2,45 bilhões em financiamento de subsídios. Essa estrutura sustenta os esforços que a campanha quer tornar visíveis — destacando que a ação climática não é apenas um ideal ou slogan, mas uma realidade com recursos, estruturas e comunidades empenhadas. Ao destacar áreas como adaptação, mitigação, florestas, mercados de carbono, risco climático e segurança, o PNUD demonstra que todo plano precisa se apoiar em ciência, políticas públicas robustas e participação popular.

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A criatividade da campanha está no seu formato: em vez de relatórios longos e cheios de jargões, o esforço opta por 30 factos curtos e impactantes — acompanhados por visuais que traduzem escala, urgência e solução. Trata-se de tornar o tema pessoal: as mudanças climáticas afetam mulheres e homens de modos diferentes; atingem o mais vulnerável primeiro e com mais severidade; ameaçam não apenas o meio ambiente, mas a justiça, a saúde, a alimentação, a economia. E, ao mesmo tempo, oferecem uma rota para prosperidade, resiliência e equidade — se agirmos com determinação.

Na prática, a campanha propõe ao cidadão comum: observe, entenda, compartilhe e atue. Se a crise é global, a resposta pode e deve começar localmente — em bairros, escolas, redes sociais, grupos comunitários. Uma pessoa que conhece esses factos tem poder: de questionar metas frágeis, de exigir compromisso, de situar a gravidade da situação no contexto das suas escolhas quotidianas. E, mais importante, de transformar consciência em ação.

Quando olhamos para a COP30 em Belém, não se trata apenas de negociar grandes blocos ou elaborar discursos — é uma conferência de “implementação”, aquela em que se espera transformar promessas em progresso real. E a #ClimateCounts surge exatamente para isso: para que cada número conte, cada cidadão participe, cada meta encontre correspondência em resultados. A década que se abre diante de nós exige, mais do que nunca, clareza, ambição e colaboração. Se realmente o que é bom para o planeta é bom para as pessoas, então o momento de agir é hoje — com conhecimento, urgência e esperança.

Conheça mais sobre a campanha e o pocketbook com os 30 fatos sobre as mudanças climáticas clicando aqui: https://climatepromise.undp.org/research-and-reports/climate-counts-pocketbook

 

Amapá aposta na sociobioeconomia para transformar floresta em valor

Na terça‑feira, 21 de outubro de 2025, governo do Amapá, recebeu a equipe técnica envolvida na construção do Plano Estadual de Apoio à Sociobioeconomia (PEAS), juntamente com representantes da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amapá (Sema), da Procuradoria‑Geral de Justiça do Estado do Amapá (PGE) e consultores do plano, para a etapa final de ajustes antes do lançamento oficial do instrumento de gestão, que está previsto para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), a realizar‑se em novembro em Belém (PA).

Durante o encontro, o governador sublinhou o papel central da sociobioeconomia como alternativa estratégica para o estado. Ele lembrou que, embora o tema do petróleo – a partir de pesquisas na costa amapaense – tenha recebido muita atenção, a aposta de sua gestão é diferente: transformar os ativos ambientais do Amapá em negócios “éticos, verdes e sustentáveis”. Ele enfatizou que o plano está sendo refinado para “transformar nossos ativos ambientais em negócios éticos e verdes e sustentáveis”.

O plano, instituído por meio de decreto em junho de 2024, moderniza a abordagem de desenvolvimento da Sema, valoriza saberes tradicionais, considera a biodiversidade amazônica e busca posicionar o Amapá como protagonista na bioeconomia global. Entre seus eixos estão o fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis, atração de investimentos verdes, geração de emprego e renda, pesquisa em biotecnologia, economia de baixo carbono, economia circular, consumo consciente e bem‑estar social — tudo isso operando em consonância com a preservação da floresta.

A secretária da Sema, Taísa Mendonça, destacou que esse é o primeiro plano estadual no Brasil a integrar de modo estratégico as dimensões social e bioeconômica. Segundo ela, o plano trabalha com indicadores sociais, aliados a um modelo de desenvolvimento que mantém a floresta viva. Ela classificou a iniciativa como revolucionária, pois traz soluções que nascem da floresta, com baixo carbono, preservação da biodiversidade e desenvolvimento socioeconômico responsável.

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Foto: Israel Cardoso/GEA

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O consultor técnico do plano, Sérgio Moreira, declarou tratar‑se de “um dia histórico”, afirmando que o Amapá agora inicia um futuro em que “o Estado tem petróleo e esse petróleo vai financiar esse futuro, que começa agora: florestas preservadas, rios limpos e pessoas felizes, com renda, dignidade e cidadania”. Essa fala reforça o caráter híbrido da proposta: não se trata apenas de explorar os recursos naturais ou de só investir na economia tradicional, mas de fundir conservação com inovação, conhecimento e valor agregado.

A trajetória do plano inclui múltiplas etapas. Inicialmente, foi elaborado o diagnóstico do território: levantamento de cadeias produtivas, mapeamento de comunidades tradicionais, extrativistas, agricultores familiares e empreendedores, além de oficinas participativas realizadas por diferentes regiões do estado. Em segundo lugar, a fase atual refere‑se aos ajustes finais do documento, com vistas à sua apresentação oficial em breve. A meta é que em cerca de duas semanas o refinamento esteja concluído. Conforme informado, o plano mapeou até 11 cadeias produtivas com potencial econômico a partir dos ativos ambientais do estado — um chamariz para investidores voltados aos negócios verdes.

Do ponto de vista interpretativo, este plano representa uma virada no paradigma de desenvolvimento para o Amapá. Em vez de seguir apenas o roteiro tradicional de exploração de recursos, ou esperar que o petróleo seja a grande “salvação” econômica, o governo aposta numa bioeconomia que reconhece a floresta não como obstáculo, mas como ativo. A floresta e a biodiversidade são colocadas no centro da equação de valor. Essa mudança de narrativa é relevante, porque o Amapá — historicamente com índices socioeconômicos baixos — aparece agora como uma nova fronteira de desenvolvimento, onde a preservação e o empreendedorismo se articulam.

A longa duração das políticas ambientais sem impacto amplo sugeria que era necessário criar instrumentos mais integrados e estratégicos; o PEAS surge como resposta. Ele propõe converter preservação em oportunidades produtivas — por exemplo, transformar a produção de açaí, madeira de manejo sustentável, pescado, biocosméticos, entre outros produtos da sociobiodiversidade, em economia organizada, regulamentada, de alto valor agregado e com respeito às comunidades que vivem da floresta.

Além disso, o plano traz o elemento da justiça socioambiental. As comunidades ribeirinhas, extrativistas, quilombolas e indígenas são chamadas não apenas como beneficiárias, mas como co‑criadoras do sistema de valor. Em oficinas e mapeamentos, essas vozes foram ouvidas para gerar soluções adaptadas às realidades locais, e não impor um modelo externo. Isso é fundamental para que o desenvolvimento não se traduza em expulsão ou descaracterização cultural, mas sim em protagonismo local.

No âmbito das políticas climáticas, o PEAS contribui para que o Amapá diga ao mundo: “Sim, estamos na Amazônia, mas temos projeto de futuro que combina floresta em pé com renda, turismo, cadeia produtiva, bioeconomia.” Apresentá‑lo na COP30 significa que o estado busca inserção internacional, atração de parcerias, investimentos e reconhecimento como laboratório de desenvolvimento tropical sustentável.

É preciso, porém, que a promessa vire execução. Dois desafios saltam aos olhos: a articulação entre diferentes órgãos governamentais (o plano envolve cerca de dez secretarias/órgãos estaduais) e a garantia de que os negócios verdes possuam efetiva viabilidade econômica, logística, regularização fundiária e acesso a mercado. Conforme mencionado em fontes, o processo vem contando com o apoio da GCF Task Force (Força‑Tarefa de Governadores para o Clima e Florestas), da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e do CIAT (Centro Internacional de Agricultura Tropical). A sinergia entre governança local, parceiros internacionais e mercado será decisiva para que a promessa se realize.

Por fim, o plano traz consigo um convite: ao mercado, para ver oportunidades na floresta amazônica de forma sustentável; às comunidades, para assumir protagonismo; ao Estado, para coordenar instrumentos; e ao planeta, para evoluir rumo a um modelo de desenvolvimento que não sacrifique natureza por riqueza, mas que amplie riqueza por meio da natureza.

Curso gratuito prepara guias para conduzir visitantes nos Lençóis Maranhenses

A Secretaria de Estado do Turismo do Maranhão (Setur‑MA) lança uma nova etapa de qualificação profissional voltada para condutores turísticos com o curso “Condutor de Visitantes em Ambientes Naturais”. O treinamento, gratuito, será realizado entre os dias 29 e 31 de outubro no Auditório do Edifício João Goulart, Praça Dom Pedro II, em São Luís, com aulas das 14 h às 18 h. O foco recai sobre a atividade de condução de visitantes na região dos Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM).

Ao longo das 16 horas de capacitação, a Setur‑MA, por meio da sua Superintendência de Qualificação Profissional, em parceria com o Sindicato Estadual dos Guias de Turismo do Maranhão (SINDEGTUR‑MA), oferece um programa que vai além da teoria. Estão previstos módulos sobre o plano de manejo da unidade de conservação, as regras que orientam a condução de visitantes e as portarias que regulam a profissão de condutor ou guia de turismo em ambientes naturais. Além disso, o curso inclui um bloco com aulas práticas de primeiros socorros — conduzido pelo Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA) — com simulações de ocorrências envolvendo urgências e emergências médico‑hospitalares. Tal módulo reforça a dimensão de segurança que acompanha a atividade de condução em áreas naturais.

O caráter participativo e gratuito da iniciativa visa qualificar guias que já atuam ou pretendem atuar diretamente no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Ao receberem o certificado de conclusão, os participantes estarão aptos a atender às exigências do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para atuação como condutor de visitantes em ambiente natural.

Este curso manifesta mais do que uma simples oferta de formação: ele sinaliza uma direção estratégica para o turismo no Maranhão — é uma aposta na valorização dos profissionais que fazem contato direto com o visitante, num dos destinos naturais mais emblemáticos do Brasil. A capacitação pretende elevar o nível técnico e social dos condutores, para que não apenas conheçam trilhas e rotas, mas também consigam gerir riscos, zelar pelo meio ambiente e proporcionar uma experiência de qualidade. Em essência, trata‑se de fortalecer a credibilidade do destino, porque um condutor bem preparado reflete no acolhimento, segurança e valorização ambiental.

Além do conteúdo técnico‑operacional — normas, portarias, primeiros socorros —, o curso reconhece que o turismo em áreas naturais exige sensibilidade ao patrimônio ecológico e cultural. Conduzir visitantes nos Lençóis Maranhenses não é apenas guiar numa paisagem; é apresentar aquilo que está vivo, frágeis e precioso, e fazê‑lo de modo que o visitante respeite tanto a natureza quanto as comunidades locais. Nesse sentido, preparar o condutor para agir com postura, domínio de protocolos, capacidade de resposta em caso de emergência e consciência ambiental se torna parte da experiência turística como um todo.

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Tomaz Silva/Agência Brasil

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A parceria entre Setur‑MA e SINDEGTUR‑MA reforça a importância do elo institucional no setor do turismo. O sindicato representa os guias que atuam no estado, agrupando profissionais, promovendo sua qualificação e auxiliando na concretização de estratégias de valorização da categoria. Por outro lado, a inclusão do CBMMA como parceiro prático do curso insere uma dimensão de segurança que muitas vezes é negligenciada em formações tradicionais de turismo — o que demonstra que o Maranhão está levando em conta o cenário mais amplo: natureza + pessoas + segurança + boas práticas.

Para os participantes, a formação significa uma oportunidade de crescimento profissional. O certificado concedido abre portas para atuação formalizada e reconhecida junto ao ICMBio, um aspecto fundamental em uma área natural protegida que recebe cada vez mais visitantes nacionais e estrangeiros. Além disso, a vivência prática em emergência amplia a competência do condutor para lidar com situações reais — não apenas roteirizar passeios, mas também garantir que eles ocorram com responsabilidade.

De forma mais ampla, a implementação deste curso reflete uma tendência no turismo brasileiro: valorizar a atuação profissional local, qualificar o atendimento nos destinos e garantir que as experiências turísticas sejam ao mesmo tempo seguras, sustentáveis e envolventes. O Maranhão, com o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e seus atrativos únicos, está assumindo esse papel com clareza. Guiar visitantes ali não será apenas apontar dunas e lagoas, mas conduzir uma narrativa de natureza, cultura, história e cuidado — e preparar pessoas para isso faz toda a diferença.

Em resumo, o curso “Condutor de Visitantes em Ambientes Naturais” oferecido pela Setur‑MA de 29 a 31 de outubro tem todos os ingredientes para impactar positivamente o turismo no Maranhão: formação gratuita, carga horária estruturada, conteúdo técnico‑operacional e prático, parcerias institucionais relevantes e foco claro no destino Lençóis Maranhenses. Os guias que participarem estarão mais bem equipados para enfrentar os desafios próprios da condução em ambientes naturais — e a empresa turística maranhense terá, em contrapartida, profissionais mais qualificados e comprometidos com a qualidade do serviço. É um investimento no capital humano do turismo, com reverberações diretas na experiência dos visitantes e na reputação do destino.

Polícia Militar do Pará se prepara em mandarim para a COP30

Na manhã desta quarta‑feira (29/10/2025), foi realizada a cerimônia de certificação de mais uma turma do curso de mandarim básico voltado para agentes da Polícia Militar do Pará (PMPA). O programa é resultado de uma parceria com a Universidade do Estado do Pará (Uepa) e o Instituto Confúcio, e tem como foco preparar os policiais para um novo cenário na cidade de Belém, que sediará a COP30 — Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025.

Com carga horária de 60 horas, o curso misturou teoria e prática nas aulas presenciais do Instituto Confúcio na Uepa. Nas aulas dinâmicas e interativas, os participantes aprenderam desde expressões básicas do mandarim até termos específicos que possam surgir em situações de atendimento policial ou de emergência. Além disso, conheceram elementos da cultura chinesa e da etiqueta, entendendo que a comunicação respeitosa com visitantes estrangeiros constitui parte essencial de uma atuação policial cada vez mais globalizada.

Para o soldado Daniel Brito, que figurou entre os formandos, a iniciativa abre novas possibilidades: “Com certeza, o curso vai nos ajudar a atender melhor pessoas que virão a Belém, facilitando a comunicação, principalmente com os grupos chineses. Isso reforça a imagem de uma polícia moderna, preparada para eventos internacionais e para acolher pessoas de diferentes nacionalidades na nossa capital.” A declaração revela que o olhar da PMPA não está restrito apenas à segurança interna tradicional, mas também ao papel de “primeiro contato” institucional de uma cidade que receberá visitantes e delegações de todo o mundo.

O comandante‑geral da PMPA, coronel Sérgio Neves, ressaltou que a capacitação está alinhada à estratégia de modernização da corporação e à expectativa de receber grandes eventos. Ele colocou o curso como parte de um esforço contínuo pela segurança pública eficiente, preparada para acompanhar a transformação de Belém em um destino de repercussão internacional. O reitor da Uepa, Clay Chagas, por sua vez, frisou a importância da parceria interinstitucional e elogiou a dedicação dos policiais: segundo ele, a cidade “que conhecíamos não existe mais” — e a capacidade de acolhimento se torna um diferencial determinante.

20251029163437-GC00072005-F00270619E-400x267 Polícia Militar do Pará se prepara em mandarim para a COP30
Divulgação – Ag. Pará

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A diretora chinesa do Instituto Confúcio da Uepa, Sun Jing, destacou o empenho dos participantes e afirmou que “esse aprendizado contribui, de forma prática, para o trabalho da polícia na COP30, por exemplo, ajudando a desempenhar as tarefas com mais confiança e eficiência”. A referência à COP30 deixa claro que o curso – embora de aparência linguística – carrega um propósito mais amplo: promover a integração institucional, a receptividade internacional e a imagem de Belém como um hub global em meio à Amazônia.

Nos últimos dois anos, mais de 400 policiais militares já foram capacitados pela Uepa em cursos de idiomas como inglês, espanhol e mandarim, em outra ação desenvolvida em parceria com a corporação. A turma mais recente ampliou o alcance do projeto: a segunda fase desse curso de mandarim formou mais 54 agentes entre julho e outubro de 2025. Esse movimento de formação contínua reflete o compromisso da PMPA de superar barreiras de comunicação, reconhecer a cultura de visitação e turismo construindo uma atuação policial que seja simultaneamente segura, acolhedora e internacional.

O momento da certificação expressa, portanto, um momento de transição simbólica: Belém não é somente um território de segurança estadual. Está se afirmando como palco de eventos globais e precisa de instituições que se adaptem a essa nova condição. A PMPA, ao preparar seus agentes para dialogar – inclusive em chinês – com grupos estrangeiros, sinaliza que está disposta a atuar para além do policiamento tradicional. Trata‑se de ver o policial como agente de interface entre a cidade‑capital, seus visitantes e – mais amplamente – o mundo.

A iniciativa também permite refletir sobre os benefícios mais amplos da formação linguística e cultural para a segurança pública. Em um evento internacional de grande porte como a COP30, onde delegações, especialistas, imprensa e visitantes provenientes de diferentes regiões do planeta se encontram, a primeira imagem da cidade está muitas vezes no encontro com a polícia, com os agentes de rua, com a recepção institucional. Um atendimento adequado, eficiente, sensível à cultura alheia, reduz atritos e fortalece a segurança preventiva. Como consequência, a formação em mandarim para policiais torna‑se tanto um investimento prático quanto simbólico.

A parceria entre a PMPA, a Uepa e o Instituto Confúcio representa, portanto, não apenas um curso de idioma, mas a consolidação de um salto na relação entre segurança, turismo, internacionalização e interculturalidade. A cidade de Belém, ao abrir‑se para o mundo, exige agentes públicos que não apenas façam rodar rodas do policiamento, mas participem de uma lógica de presença global — e isso passa por conhecer uma palavra, uma cultura, um gesto. Nesse sentido, o soldado Daniel Brito e seus companheiros formandos não só receberam uma certificação, mas assumem um papel mais complexo: o de interlocutores de Belém com o mundo.

Mobilização social inicia plano para a bacia do Rio Tarumã-Açu, no Amazonas

No próximo dia 30 de outubro, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã‑Açu (CBHTA) realizará em Manaus um “Workshop de Mobilização para a Elaboração do Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu”. O evento, promovido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema), em parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), reunirá associações comunitárias, organizações da sociedade civil, usuários da bacia e representantes do poder público.

O encontro ocorrerá das 9h às 12h no auditório da concessionária Águas de Manaus, na avenida André Araújo 1.981, bairro Aleixo, zona centro-sul de Manaus. O foco é mobilizar e identificar os diferentes atores que usam e dependem da bacia do Rio Tarumã-Açu, além de fomentar o diálogo entre comunidade, entidades e poder público, como alicerce para a construção participativa do plano.

De acordo com o secretário da Sema, Eduardo Taveira, o plano de bacia constitui “um instrumento essencial para o planejamento e a gestão sustentável dos recursos hídricos”. A fase de mobilização é considerada fundamental, pois garante que as decisões futuras reflitam de fato as necessidades da bacia e das comunidades que dela dependem. Por sua vez, o professor da UEA Carlossandro Albuquerque aponta que, por se tratar de uma área de lazer, habitação e atividade econômica — com significativo número de flutuantes e ocupações ribeirinhas — a bacia do Tarumã exige especial atenção às pressões urbanas e ambientais. O diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, reforça que o plano será construído com base técnica e participativa, “unindo esforços para garantir que o uso da água ocorra de forma equilibrada, preservando esse patrimônio natural”.

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Rios da Amazônia – Foto: Gustavo Frazao Shutterstock.com

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O workshop marca o início da etapa de mobilização social para o plano de bacia: nesta fase serão identificados atores sociais, entidades representantes e usuários de água na região. A programação traz quatro painéis temáticos:

  • “Gestão dos Recursos Hídricos no Estado do Amazonas”, a cargo da Sema;

  • “Atuação do Ipaam na Gestão dos Recursos Hídricos do Amazonas”, conduzido pelo Ipaam;

  • “O Papel dos Comitês de Bacia Hidrográfica na Gestão dos Recursos Hídricos”, pelo CBHTA;

  • “Elaboração do Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu/AM”, apresentado pelo Programa de Pós-Graduação ProfÁgua da UEA.

A participação está restrita às entidades representativas de usuários da bacia, sendo que as etapas seguintes abrangerão a coleta e análise de dados hídricos e socioeconômicos, a construção de cenários e o prognóstico de demandas. Está prevista para 2026 a primeira consulta pública referente ao plano. O documento final entregará o diagnóstico físico, socioeconômico e hídrico da região, o cadastro de usuários, as previsões de demandas futuras, as diretrizes para enquadramento da bacia, bem como propostas de programas e projetos e o plano consolidado. A elaboração será promovida em formato técnico-participativo, incluindo diagnóstico ambiental, análises da água, prognósticos e audiências públicas.

Esse projeto nasce de um convênio firmado em junho de 2025 entre a Sema e a UEA. O prazo de execução é de 18 meses, com conclusão estimada para dezembro de 2026. O investimento total é de cerca de R$ 2,3 milhões, por meio do tesouro estadual. Importante destacar que esta é a primeira vez que o estado do Amazonas executa um plano de gestão para uma bacia hidrográfica — instrumento previsto há mais de 20 anos na Política Estadual de Recursos Hídricos. O plano abordará temas como conservação hídrica, uso ordenado da bacia, turismo, lazer, cerca de mil flutuantes, além de prever ações de fiscalização, controle e recuperação ambiental.

Em resumo, o workshop representa não apenas o início formal de um processo, mas simboliza uma mudança de postura: trata-se de envolver a sociedade na gestão da água, dar voz aos usuários, tornar visíveis os impactos das ocupações, lazer e economia nas margens do Rio Tarumã-Açu, e construir um instrumento que possa orientar decisões públicas, comunitárias e econômicas de forma mais equilibrada. O momento exige que as vozes das comunidades ribeirinhas, dos usuários de lazer, dos empreendimentos e do poder público conversem. Pouco adiantará formular um plano sem essa escuta ativa. Em um contexto em que a água urbana, o lazer e a natureza se inter-enlaçam, gerir a bacia passa a ser também gerir a convivência social, econômica e ambiental.

Curso articula saberes tradicionais e práticas agroflorestais para fortalecer segurança alimentar em terras indígenas

Na aldeia Pradinho, na Terra Indígena Maxakali (MG), os olhares se voltaram para o futuro na manhã de 16 de outubro. Ali, representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) se reuniram com o povo Tikmũ’ũn‑Maxakali, brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), autoridades do Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF), além de educadores, viveiristas, pajés e lideranças locais. O encontro fez parte do seminário “Avanços e Desafios do Projeto Hãmhi Terra Viva”, concebido pelo Instituto Opaoká, e trouxe à tona uma reflexão coletiva sobre segurança alimentar, gestão ambiental e fortalecimento territorial do povo Tikmũ’ũn-Maxakali no Vale do Mucuri.

O cerne da iniciativa está na integração entre saberes indígenas e práticas agroflorestais modernas. O Projeto Hãmhi Terra Viva atua justamente nesse ponto: formar agentes agroflorestais entre os Tikmũ’ũn-Maxakali, restaurar territórios degradados e criar quintais agroflorestais que conectem alimento, floresta e cultura.

Essa articulação entre conhecimento ancestral e metodologia técnica traduz-se em mudanças concretas. Por exemplo, o seminário destacou o papel da Brigada Kõnãghi — composta por jovens indígenas — que, com EPIs (equipamentos de proteção individual) e ferramentas entregues em 2025, passou a atuar na prevenção e combate de incêndios florestais em território tradicional. A iniciativa representa uma virada: não apenas proteger a natureza, mas empoderar os próprios povos que vivem nela.

Essa proteção se conecta diretamente à segurança alimentar. No contexto dos Tikmũ’ũn-Maxakali, a vulnerabilidade alimentar está enraizada em décadas de perda territorial, degradação ambiental, monocultura e expulsão de saberes agrícolas tradicionais. Restaurar a floresta, portanto, não é apenas um ato ecológico — é um ato político, cultural e de sobrevivência. O Projeto Hãmhi Terra Viva entende isso e articula ações para que o alimento nasça no quintal e no território, sob a sombra da floresta que voltou a crescer.

Durante o seminário, foi destacada a participação de diversos atores: além de órgãos estatais e organizações indigenistas, o evento incluiu agentes agroflorestais, viveiristas, pajés, lideranças locais e professores. Essa diversidade aponta para o caráter sistêmico da iniciativa: trata-se de promover não apenas formações técnicas, mas fortalecer identidades, fortalecer autonomia e garantir que as políticas públicas estejam à altura das demandas territoriais.

A restauração ambiental é parte central do processo. O Projeto Hãmhi já alcançou resultados expressivos — segundo institutos de pesquisa e de acompanhamento, áreas degradadas começam a dar lugar a quintais agroflorestais, viveiros-escola e redes de sementes indígenas. Essas intervenções trazem benefícios múltiplos: melhora da qualidade do solo, recuperação de nascentes, aumento da biodiversidade, geração de alimento e — talvez o mais profundo — recuperação de formas de viver que estavam sendo apagadas.

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Brigada Kõnãghi na Terra Indígena Maxakali em Minas Gerais – Foto: Divulgação/Ibama

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No entanto, o caminho não é isento de desafios. O seminário trouxe à tona a persistência de “combustíveis naturais” como capim-colonião e braquiária — gramíneas invasoras que impedem o crescimento da mata nativa e dificultam a agricultura tradicional. A capacitação dos brigadistas e a entrega de EPIs são passos importantes, mas o esforço requer continuidade, recursos e articulação institucional.

O valor simbólico desses movimentos também reside no reconhecimento dos direitos do povo Tikmũ’ũn-Maxakali. A gestão dos territórios, a valorização cultural, a implementação de políticas públicas voltadas ao meio ambiente, à saúde, à educação e à segurança alimentar são partes constitutivas não apenas de um projeto técnico, mas de uma agenda de justiça territorial.

O seminário, ao reunir esses múltiplos atores, representa um momento de articulação estratégica: avaliar o que já foi conquistado, identificar os obstáculos e planejar o que vem a seguir. Em última análise, trata-se de afirmar que ocupar, restaurar e produzir na floresta não é uma contradição — é a expressão concreta de uma vida que entrelaça floresta, cultura e futuro.

Ao promover esse encontro na Terra Indígena Maxakali — em uma das regiões mais vulneráveis de Minas Gerais –, a iniciativa lança uma mensagem potente: a restauração ecológica e a segurança alimentar caminham lado a lado e são inseparáveis em territórios que foram historicamente marginalizados. A floresta recuperada torna-se o laboratório da soberania alimentar indígena, e a juventude local assume um papel de protagonista.

Em um mundo em que a crise ambiental andou de braço com a desigualdade social, projetos como o Hãmhi Terra Viva evidenciam que as soluções mais eficazes nascem justamente onde o impacto é maior — e que os povos originários têm, em sua ancestralidade, recursos para pensar e executar essas respostas.

O boleto da dívida climática: povos do Sul global cobram justiça na Paulista

Na manhã do último domingo (26), quem passou pela Avenida Paulista, em São Paulo, se deparou com uma cena inusitada: um boleto bancário gigante, de oito metros de largura, estampava a cifra simbólica de R$ 1,6 trilhão. A ação, criada pela Aliança dos Povos pelo Clima, integra a campanha A Gente Cobra – Financiamento Climático Direto para Quem Cuida da Floresta, e busca chamar a atenção para a chamada “dívida climática” — o desequilíbrio histórico entre os países que mais poluem e aqueles que mais sofrem com os impactos da crise ambiental.

A instalação também ocorreu simultaneamente em Brasília, Recife, Santarém e na região do Xingu, ampliando o alcance simbólico de uma mensagem que ecoa cada vez mais perto da COP30, conferência da ONU sobre mudança do clima, marcada para novembro de 2025, em Belém (PA).

O boleto, em tom de manifesto visual, trazia uma data de vencimento provocativa: 21 de abril de 1500 — o dia da chegada dos colonizadores portugueses ao território que hoje é o Brasil. A mensagem, nas palavras de Jonaya de Castro, integrante do coletivo Unidos pelo Clima, é clara: “Esse boleto já está vencido. O Sul global paga há séculos por uma colonização que nunca terminou — ela apenas mudou de forma.”

Uma cobrança histórica

A metáfora do “boleto vencido” busca expor as contradições do sistema internacional de financiamento climático. Países do Norte global — principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa desde a Revolução Industrial — ainda destinam uma parcela mínima de recursos para as nações e comunidades que preservam os maiores biomas do planeta.

A campanha da Aliança dos Povos pelo Clima reivindica que 50% dos fundos climáticos internacionais sejam repassados diretamente aos povos indígenas, comunidades tradicionais e organizações locais, que atuam na linha de frente da proteção ambiental. “Quem mantém a floresta de pé precisa ser o primeiro a receber apoio financeiro, não o último na fila”, reforça Jonaya.

A proposta também exige que representantes dessas comunidades tenham assento nos conselhos deliberativos que administram esses fundos. A ideia é que as decisões sobre o destino do dinheiro não sejam tomadas apenas por governos e instituições financeiras, mas também por quem vive e defende os territórios ameaçados.

Outro ponto da campanha é a taxação das grandes fortunas — um chamado global para que parte das riquezas acumuladas por corporações e elites econômicas seja revertida em políticas de mitigação e adaptação climática.

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A conta da desigualdade

O valor simbólico de R$ 1,6 trilhão, impresso no boleto, traduz a estimativa de quanto os países ricos “devem” em termos de compensação histórica pelos danos ambientais causados. A conta é política, mas também moral. Ela reflete o custo acumulado de séculos de exploração, desigualdade e desmatamento que afetaram o equilíbrio ecológico global.

Segundo Jonaya, a cobrança não é apenas financeira — é civilizatória. “Quando a gente fala em dívida climática, estamos falando da reparação de um modelo de desenvolvimento que concentrou riqueza em poucos e empobreceu a terra de muitos. É hora de inverter essa lógica.”

O simbolismo da data de vencimento remete à colonização e ao início de um processo de expropriação que persiste sob novas formas. O colonialismo econômico se transformou em colonialismo climático: países e empresas continuam extraindo recursos naturais e emitindo poluentes, enquanto comunidades do Sul global enfrentam secas, inundações e perda de biodiversidade.

A COP30 e o chamado por justiça

A instalação do boleto acontece a poucas semanas da COP30, que será realizada em Belém (PA). O evento, o mais importante fórum internacional sobre mudanças climáticas, deve colocar em pauta temas como financiamento verde, transição energética e justiça climática.

Para os movimentos sociais que organizam a campanha, a escolha da Amazônia como sede da conferência reforça o papel do Brasil e dos povos da floresta como protagonistas da luta climática. “O mundo olha para a Amazônia como pulmão do planeta, mas quem cuida dela ainda respira desigualdade”, diz Jonaya.

O gesto performático do boleto gigante antecipa o tom das reivindicações que devem marcar o encontro global. A cobrança, dessa vez, não vem dos bancos — vem das florestas, das águas e das vozes que resistem.

Uma cobrança que ecoa

A imagem do boleto, instalada em plena Avenida Paulista, ganha força como símbolo de resistência e denúncia. Em meio a arranha-céus, ela expõe o contraste entre o centro financeiro do país e a realidade das comunidades que garantem o equilíbrio climático global.

Mais que uma instalação artística, o “boleto da dívida climática” é um lembrete de que o tempo para adiar compromissos acabou. A cobrança é global, mas o destinatário é conhecido: os países e empresas que lucraram com o desequilíbrio ambiental agora são chamados a pagar — não com promessas, mas com ações concretas.

Juventude e Clima: vozes que inspiram ações para um futuro sustentável

O enfrentamento à crise climática exige mais do que discursos. Pede mobilização, diálogo e compromisso real com o futuro. É com essa energia transformadora que será lançado Juventude e Clima: Vozes do Futuro, amanhã (30), às 15h, no Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB). O evento híbrido, gratuito e aberto ao público, será transmitido pela plataforma Route to Belém, canal oficial da COP30.

A iniciativa reúne nomes de destaque no campo da socioecologia e da política ambiental, como Alfredo Pena-Vega e Elimar Pinheiro do Nascimento, ao lado de jovens ativistas, pesquisadores e educadores da Amazônia e da América Latina. Mais do que um simples lançamento de livro, o encontro pretende ser um ponto de convergência entre ciência, juventude e ação política — um espaço para imaginar e propor soluções concretas diante de uma emergência global que já redefine o século XXI.

Um pacto de juventudes pelo planeta

A publicação é resultado de uma parceria entre o Global Youth Climate Pact (GYCP) — movimento internacional que conecta jovens em defesa do meio ambiente — e a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), instituição voltada à reflexão crítica e à formação cidadã.

O livro reúne vozes plurais que falam da Amazônia, dos Andes, das periferias urbanas e de comunidades tradicionais. Seus autores partem de diferentes realidades, mas convergem em um ponto comum: a urgência de agir coletivamente para frear o colapso climático.

No centro da discussão estão temas como educação ambiental, agricultura sustentável, direitos dos povos originários, resiliência urbana e estratégias de mitigação dos impactos do aquecimento global. Cada capítulo reflete uma vivência concreta, mostrando que as soluções ambientais mais inovadoras muitas vezes nascem de quem vive, diariamente, os efeitos das mudanças climáticas.

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Elimar Pinheiro do Nascimento
Divulgação/Cortez Editora

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De Belém para o mundo

Com a COP30 se aproximando, o evento assume um caráter simbólico. Belém, cidade que sediará a conferência global sobre o clima em novembro, torna-se também um farol de esperança e articulação. A transmissão pela plataforma Route to Belém, criada pela Secretaria Nacional da 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudança do Clima, permitirá que o diálogo ultrapasse fronteiras e conecte públicos de diferentes regiões do planeta.

Segundo os organizadores, o lançamento é também uma provocação: pensar a juventude não apenas como herdeira do futuro, mas como protagonista do presente. Em um mundo marcado por desigualdades, desinformação e crise ambiental, fortalecer a voz das novas gerações é, ao mesmo tempo, um ato político e um gesto de esperança.

APV-USP-1-Faya-361x600 Juventude e Clima: vozes que inspiram ações para um futuro sustentável
Alfredo Pena-Vega
Divulgação/Cortez Editora

Para Alfredo Pena-Vega, pesquisador franco-espanhol e um dos maiores nomes da socioecologia contemporânea, a transição para um modelo sustentável passa por um novo paradigma ético. “Precisamos reconectar o humano e o natural, o local e o global. A juventude tem o papel de costurar essas dimensões e reinventar as formas de convivência com o planeta”, defende.

Já o cientista socioambiental Elimar Pinheiro do Nascimento, professor do CDS/UnB, reforça que as respostas à crise climática não podem se limitar a políticas setoriais. “Não há transição ecológica sem justiça social. O enfrentamento à crise climática é também o enfrentamento às desigualdades”, afirma.

A potência da juventude e o desafio da ação

O evento Juventude e Clima: Vozes do Futuro pretende inspirar políticas públicas mais inclusivas e fomentar o diálogo intergeracional. A proposta é simples, mas profunda: transformar ideias em ações.

Durante o encontro, jovens ativistas da Amazônia e de outros países latino-americanos compartilharão experiências e apresentarão propostas concretas a serem debatidas durante a COP30, reforçando a necessidade de incluir a juventude nas mesas de decisão globais.

A programação híbrida busca garantir o acesso democrático à informação e estimular uma participação ampla. Interessados podem comparecer presencialmente ao CDS/UnB, em Brasília, ou acompanhar a transmissão ao vivo pela Route to Belém.

Mais do que um evento, trata-se de um chamado coletivo. O planeta precisa de novas narrativas — e a juventude, de espaços para construí-las. Entre a urgência da crise e a possibilidade da transformação, “Vozes do Futuro” convida todos a imaginar, juntos, o que ainda pode ser salvo.

Calor extremo já mata meio milhão de pessoas por ano, alerta global

O planeta está literalmente esquentando — e cobrando vidas. Segundo o relatório Contagem Regressiva em Saúde e Mudanças Climáticas, elaborado por mais de cem cientistas de vários países para a revista The Lancet em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 546 mil pessoas morrem todos os anos por causa do calor. Apenas em 2024, outras 154 mil mortes foram atribuídas à fumaça de incêndios florestais.

O estudo, publicado nesta quinta-feira (29) na Inglaterra, antecipa as discussões da COP30 — a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém (PA) a partir de 10 de novembro. O relatório é um alerta contundente: sem cortes profundos no uso de combustíveis fósseis e nas emissões de gases de efeito estufa, a saúde humana entrará em colapso junto com o clima.

“Com os impactos das mudanças climáticas aumentando, a saúde e a vida dos 8 bilhões de habitantes do mundo estão agora em risco”, afirmam os cientistas.

A conta humana do calor

O documento, parte da iniciativa global Lancet Countdown on Health and Climate Change, mostra que 2024 foi o ano mais quente da história. Do total de 20 indicadores de risco monitorados, 12 atingiram níveis inéditos. Entre 2020 e 2024, cada pessoa no planeta esteve exposta, em média, a 19 dias de ondas de calor — e 16 deles não teriam ocorrido se não fosse o aquecimento global provocado pela ação humana.

A elevação constante das temperaturas não apenas intensifica o desconforto térmico: ela amplia desigualdades e ameaça sistemas de saúde já fragilizados. Calor extremo aumenta o risco de ataques cardíacos, desidratação, doenças respiratórias e falência de órgãos, além de agravar doenças mentais e reduzir a produtividade em regiões tropicais.

Em 2024, os cientistas também registraram recordes na fumaça dos incêndios florestais, responsável por mais de 150 mil mortes em todo o mundo — uma consequência direta da seca, do desmatamento e das mudanças climáticas.

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O retrato brasileiro

O relatório dedica um capítulo ao Brasil e à América Latina, onde os efeitos do calor são sentidos de forma crescente. No país, entre 2020 e 2024, cerca de 7,7 mil mortes anuais foram associadas à fumaça dos incêndios, e outras 3,6 mil ao calor excessivo, com base em dados entre 2012 e 2021.

Os pesquisadores calculam que os brasileiros enfrentaram, em média, 15,6 dias de onda de calor por ano, e 94% deles não teriam ocorrido sem a influência das mudanças climáticas. Além disso, 72% do território nacional experimentou ao menos um mês de seca extrema por ano entre 2020 e 2024 — um salto de quase dez vezes em relação às décadas de 1950 e 1960.

A publicação sobre a América Latina também revela que a temperatura média regional chegou a 24,3 °C em 2024, a mais alta desde o início dos registros, e que as mortes relacionadas ao calor na região já alcançam 13 mil por ano.

Adaptação: de opção a urgência

Apesar do cenário dramático, o relatório traz uma mensagem de esperança — mas ela depende de ação. Os cientistas defendem uma transformação profunda nos sistemas energéticos e uma redução acelerada da dependência dos combustíveis fósseis, acompanhada de políticas de adaptação que protejam as populações mais vulneráveis.

A publicação reforça que a adaptação “não é mais opcional, mas uma necessidade essencial e inegociável” para enfrentar os riscos climáticos, fortalecer a resiliência e reduzir desigualdades.

“Construir um futuro resiliente exige transformar fundamentalmente nossos sistemas de energia e reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis”, destaca o texto.

O papel do Brasil e a esperança em Belém

Às vésperas da COP30, o relatório aponta o Brasil como um símbolo de possibilidade e liderança climática. O país, com sua vasta cobertura florestal e capacidade de gerar energia renovável, é visto como um “farol de esperança” capaz de unir mitigação e adaptação em um modelo de desenvolvimento sustentável centrado na saúde e no bem-estar das pessoas.

A mensagem é clara: o aquecimento global não é apenas uma questão ambiental — é uma emergência de saúde pública. E as decisões que serão tomadas em Belém poderão definir se o mundo será capaz de preservar vidas em meio a um clima cada vez mais hostil.

Novas metas climáticas reduzem em 17% impacto global, mas ainda ficam aquém do necessário

As promessas de corte nas emissões de gases de efeito estufa apresentadas por 64 países sob o Acordo de Paris indicam um avanço, mas ainda insuficiente diante da urgência climática. Segundo o Relatório Síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), divulgado pelo secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), as novas metas têm potencial para reduzir em 17% o impacto do aquecimento global em relação aos níveis de 2019.

A projeção para 2030, contudo, mostra apenas uma diminuição de 6% em relação aos compromissos anteriores — um sinal de que, embora os planos sejam mais abrangentes, a velocidade das transformações ainda está longe da necessária.

O relatório, publicado nesta terça-feira (28), analisa o progresso das ações climáticas nos 198 países signatários do tratado. Mas a amostra ainda é restrita: pouco menos de um terço das nações atualizou suas metas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025.

Caso essas NDCs sejam integralmente cumpridas até 2035, a estimativa é de que 13 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e) deixem de ser lançadas na atmosfera. Apesar do ganho expressivo, o documento alerta que a aceleração das ações é indispensável para atingir a neutralidade climática nas próximas décadas.

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As novas metas também apresentam maior amplitude: 89% dos países incluíram compromissos que abrangem toda a economia, e não apenas setores específicos. Além da mitigação, as NDCs passaram a incorporar planos de adaptação, financiamento climático, transferência de tecnologia e medidas para enfrentar perdas e danos — um reflexo do amadurecimento do Acordo de Paris e da interdependência entre economia e meio ambiente.

Para Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, o progresso técnico das metas não deve mascarar a falta de urgência global. “Estamos gerindo uma crise sem a urgência de uma crise. Há algo de profundamente equivocado em celebrar uma queda de 17% nas emissões quando a ciência diz que precisamos de 60%”, afirma.

A crítica é compartilhada por Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil. Para ele, o cenário mostra que o mundo segue adiando medidas estruturais e transferindo responsabilidades para as próximas gerações. Ainda assim, Prado destaca avanços promissores na integração de ações de adaptação urbana e soluções baseadas na natureza, como a conservação de manguezais e florestas.

“Essas iniciativas reduzem custos, fortalecem a resiliência das comunidades e geram benefícios que vão além do carbono — como a preservação da biodiversidade, da água e do equilíbrio climático”, observa.

Financiamento climático ainda é gargalo

O relatório também evidencia que o sucesso das metas depende de recursos financeiros. Entre os países que atualizaram suas NDCs, 75% apontam a necessidade de cooperação internacional e de mecanismos inovadores para financiar a transição.

Para Gustavo Souza, diretor sênior de políticas públicas da Conservação Internacional, instrumentos como os mercados de carbono de alta integridade, o REDD+ e o Tropical Forest Forever Facility (TFFF) são essenciais para garantir previsibilidade de recursos.

Apesar do aumento da ambição, Souza lembra que as ações baseadas na natureza ainda recebem uma fração mínima do financiamento climático global. “As florestas representam um terço da solução climática, mas recebem apenas 3% dos recursos disponíveis. Esse desequilíbrio precisa ser corrigido”, adverte.

O papel do Brasil e a expectativa para a COP30

Desde que o país foi confirmado como sede da COP30, em Belém (PA), a presidência brasileira vem estimulando que outras nações atualizem seus compromissos. O Brasil, aliás, foi o segundo país a apresentar sua nova NDC — antes mesmo de o prazo inicial ser prorrogado de fevereiro para setembro de 2025.

Os 64 países citados no relatório foram os que entregaram dentro do novo prazo, deixando de fora grandes emissores como China e Índia.

Com a conferência se aproximando, especialistas alertam que dois terços das novas metas ainda não foram apresentadas. “A menos de duas semanas da COP30, é fundamental que mais países submetam suas NDCs para sinalizar que a ambição coletiva está crescendo e que os objetivos do Acordo de Paris continuam ao nosso alcance”, reforça Souza.

Enquanto a diplomacia se prepara para mais uma rodada decisiva de negociações, o balanço global indica que a luta contra a crise climática avança, mas ainda devagar — como se o mundo tentasse conter uma maré crescente com um balde furado.

Sistema financeiro brasileiro se mobiliza para a transição climática na COP30

Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2025 – Em meio às negociações globais para enfrentar a crise climática, três das maiores entidades do setor financeiro no Brasil se unirão em Belém para um fórum inédito. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) irão promover o “Fórum de Finanças Sustentáveis” no dia 12 de novembro, às 14h30, na Casa do Seguro, em Belém (PA) — evento paralelo à COP30.

A pauta: mobilizar recursos para uma economia de baixo carbono

O principal objetivo do encontro é apresentar estratégias financeiras, instrumentos sustentáveis e parcerias nacionais e internacionais para canalizar investimentos públicos e privados em direção à transição para uma economia com menos emissões de gases de efeito estufa. O fórum reunirá autoridades públicas e executivos dos bancos, seguradoras e do mercado de capitais.

Na abertura, estarão presentes o presidente da ANBIMA, Carlos André; o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira; e o presidente da Febraban, Isaac Sidney. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, fará a abertura do painel principal sobre como canalizar recursos à restauração de ecossistemas florestais.

Também figura no programa o diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central do Brasil, Paulo Picchetti, que abordará os desafios estruturais da transição climática.

Setores financeiros como catalisadores da mudança

Segundo Dyogo Oliveira, o fórum representa um marco porque reúne os segmentos bancário, segurador e de capitais, além de parceiros estratégicos como Climate Champions, GFANZ, Pacto Global, BID Invest, PRI e UNEP FI. A proposta é fomentar o alinhamento multissetorial para acelerar ações de adaptação e resiliência.

Carlos André destaca que “desde 2024 todas as COPs são sobre financiamento, com foco muito grande nas questões econômico-financeiras. A união de forças dos mercados de capitais, bancário e de seguros é o caminho para maximizar a canalização de recursos para projetos ligados aos temas ESG, acelerando a transição para uma economia de baixo carbono”.

Isaac Sidney reforça que o Brasil tem condição única de se tornar um hub global de soluções climáticas. Segundo ele, os bancos já criaram taxonomias próprias para mensurar os fluxos de financiamento verde, regras de autorregulação para gerir riscos de desmatamento em setores estratégicos e participaram de emissões de títulos de dívida e créditos ESG — até agosto de 2025 captaram mais de R$ 58 bilhões em operações com impacto social, ambiental e climático positivos.

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA-1-400x218 Sistema financeiro brasileiro se mobiliza para a transição climática na COP30

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Contexto e desafios

A participação ativa do setor financeiro é considerada chave para que os compromissos climáticos avancem além do papel. As entidades afirmam que os mecanismos de incentivo e regulação devem evoluir para que o capital privado contribua de forma efetiva à mitigação e adaptação climática. Por exemplo, a CNseg participa de comissões intersetoriais com a Febraban e a ANBIMA para tratar temas como finanças sustentáveis e economia de baixo carbono.

Também relevante é a discussão sobre a Taxonomia Sustentável Brasileira, que orienta investimentos sustentáveis no país e para a qual a ANBIMA, CNseg e Febraban realizaram reunião aberta no início de 2025.

Importância da COP30 para a mobilização financeira

Em Belém, com palco montado para a COP30, o Fórum de Finanças Sustentáveis assume papel de ponte entre a diplomacia climática e o mercado financeiro. Trata-se de levar ao centro das negociações questões como o financiamento da restauração florestal, a precificação de riscos ambientais e a mobilização de cadeias produtivas sustentáveis. A presença de altos executivos evidencia que o setor financeiro pretende estar na linha de frente da transição ecológica — não apenas como espectador, mas como agente transformador.

O encontro marca um momento de convergência no Brasil: quando entidades tradicionais do sistema financeiro se comprometem abertamente com a agenda climática. O desafio agora é traduzir esse compromisso em números, produtos, instrumentos regulatórios e práticas concretas. A COP30 pode se tornar o palco onde esse movimento ganha escala — e o setor financeiro brasileiro pode mostrar ao mundo que não se trata apenas de discursos, mas de ação estruturada rumo a uma economia de baixo carbono.

AgriZone da Embrapa levará à COP30 vitrine de inovação e agricultura de baixo carbono

A Embrapa levará à COP30, em Belém, um dos espaços mais aguardados da conferência: a AgriZone, uma grande vitrine de tecnologias sustentáveis e soluções de baixo carbono para a agricultura. Instalada na sede da Embrapa Amazônia Oriental, a pouco menos de dois quilômetros das áreas oficiais da conferência, a AgriZone ocupará o coração da capital paraense entre 10 e 21 de novembro, com entrada gratuita.

Com mais de 400 atividades técnicas, 45 cultivares e 30 sistemas agropecuários sustentáveis, o espaço mostra como a ciência brasileira está reposicionando o campo como aliado estratégico da agenda climática global. O evento reunirá cientistas, produtores, líderes governamentais e representantes de instituições internacionais, reforçando a visão da Embrapa de que “a inovação é o caminho para alimentar o mundo e proteger o planeta”, nas palavras da presidente Silvia Massruhá.

Inovação e sustentabilidade como pilares

A AgriZone foi concebida como um laboratório a céu aberto de agricultura de baixo carbono, adaptada à mudança do clima e comprometida com a segurança alimentar global. Suas vitrines vivas apresentarão protocolos e certificações de sustentabilidade em cadeias como carne, soja, milho, sorgo, leite e trigo.

Um dos destaques será o selo da Carne de Baixo Carbono, fruto da parceria entre a Embrapa e a Marfrig, que reconhece sistemas produtivos capazes de reduzir emissões de gases de efeito estufa sem comprometer a produtividade.

Também ganham protagonismo o milho BTMAX, desenvolvido em parceria com a Helix e aprovado pela CTNBio, e o sorgo BRS 3002, criado com a Latina Seeds — ambos exemplos de inovação nacional que unem eficiência agrícola e sustentabilidade ambiental.

Screenshot-2025-05-15-151718-300x213 AgriZone da Embrapa levará à COP30 vitrine de inovação e agricultura de baixo carbono
Fonte: Portal Embrapa

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Agricultura regenerativa e bioeconomia amazônica

As práticas exibidas na AgriZone estão alinhadas ao Plano ABC+, coordenado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), que promove a agricultura de baixa emissão de carbono. Entre as vitrines, estarão tecnologias para recuperação de pastagens degradadas com as leguminosas Mandarim e Guatã, que ajudam a reduzir em até 70% as emissões de metano por quilo de ganho de peso do gado.

A AgriZone também apresentará o Núcleo de Responsabilidade Socioambiental (Nures), voltado à inclusão socioprodutiva de pequenos e médios produtores. No local, o público conhecerá tecnologias acessíveis e de alto impacto, como o Sisteminha Embrapa, a Fossa Séptica Biodigestora, as Barraginhas e o cultivo de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) — soluções que reduzem custos, regeneram o solo e valorizam alimentos ancestrais da agricultura familiar.

Além disso, o espaço mostrará o algodão naturalmente colorido, o cajueiro-anão, a fibra de caju desidratada e o sistema de criação de tambaquis em tanques-rede, tecnologias que conectam sustentabilidade, segurança alimentar e geração de renda.

Ciência aberta e cooperação internacional

Durante o evento, a Embrapa lançará a Plataforma Saúde do Solo BR — uma ferramenta pública de monitoramento com mais de 52 mil amostras integradas de todo o Brasil. O objetivo é apoiar práticas agrícolas regenerativas e fortalecer a resiliência dos sistemas produtivos, colocando o país na vanguarda global do estudo da saúde do solo.

A programação também inclui o acordo de cooperação com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), que prevê a instalação de uma unidade da Embrapa na Costa Rica. O espaço reunirá ainda instituições como a FAO, ONU, Fundação Gates, OCDE e CGIAR, além de universidades e organizações de mais de quinze países.

Agroecologia, cultura e futuro

A diversidade cultural também será protagonista no Pavilhão Comida, Cultura e Tradição, onde gastronomia e sustentabilidade se encontram. O público poderá vivenciar experiências sensoriais com alimentos da Amazônia e do semiárido, reafirmando o papel das culturas alimentares na construção de um futuro climático mais justo e biodiverso.

A Fazenda Álvaro Adolpho, área central da AgriZone, abrigará 45 cultivares e 30 sistemas integrados, com exemplos de intensificação sustentável e consórcios agroflorestais que incluem eucalipto, teca, café robusta amazônico, açaí, cacau e banana — evidenciando a capacidade produtiva da Amazônia sob modelos regenerativos.

Segundo Massruhá, “a COP30 não é o fim de um ciclo, mas o início de uma jornada coletiva pela sustentabilidade”. Essa jornada se concretiza na Iniciativa Jornada pelo Clima, que conta com o apoio do Senar, OCB, Sebrae, MDA, Nestlé, Bayer e da Fundação Gates, entre outros parceiros nacionais e internacionais.

A AgriZone, ao articular ciência, inclusão e cooperação global, simboliza uma nova etapa da agricultura brasileira — uma que alimenta, regenera e inspira.

Confira aqui a programação completa

Baixando à Bahia: a CBPM prepara interação imersiva na EXPOSIBRAM 2025

A Bahia vai ganhar os holofotes do setor mineral entre os dias 27 e 30 de outubro, quando Salvador recebe a EXPOSIBRAM 2025, um dos principais eventos mundiais da mineração. A estatal local, CBPM, vai marcar presença com um estande que foge ao formato tradicional — não haverá apenas painéis ou catálogos, mas sim um verdadeiro convite à imersão: o visitante será conduzido a experiências digitais que traduzem o mundo dos minerais, da extração ao uso cotidiano, do solo ao impacto social.

Logo na entrada, o ESG Game introduz o visitante às práticas ambientais, sociais e de governança que a CBPM impulsiona. Não é apenas sobre mineração, é sobre como ela pode (e deve) operar em harmonia com as comunidades e o ecossistema. Em seguida, o quiz “Descubra o Mineral” traz uma surpresa quase lúdica: mostramos objetos comuns — celulares, joias, tijolos, automóveis — e perguntamos: “Você sabe onde o mineral está?”. É uma forma de evidenciar que a mineração está em tudo, inclusive no que usamos sem pensar.

Além disso, a CBPM traz para o evento suas ferramentas tecnológicas de ponta — a plataforma Minera Bahia e a Litoteca Digital. Com elas, é possível explorar os acervos geológicos do estado de forma virtual e interativa: mapas, dados, amostras, jazidas — tudo ao alcance de um clique. A ideia é posicionar a Bahia não apenas como produtora de matérias-primas, mas como protagonista de uma nova mineração, que incorpora inovação, inclusão e sustentabilidade.

Sob a liderança do governador Jerônimo Rodrigues, a Bahia vem se preparando para receber até US$ 9 bilhões de investimentos no setor mineral até 2028 — um montante que representa cerca de 16% do total nacional previsto. A escolha de Salvador para sediar o maior encontro do segmento já é um reflexo desse momento estratégico. A EXPOSIBRAM, promovida pelo IBRAM, reúne gigantes do setor mineral, fornecedores, empresas de serviços, pesquisadores e autoridades — e este ano incorpora também a dimensão cultural com grandes shows musicais, aproximando a sociedade da mineração por meio da música e da arte.

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No discurso do presidente da CBPM, Henrique Carballal, o estande foi pensado para que o público “conheça, de forma dinâmica e interativa, o potencial da mineração baiana”. A narrativa que ele propõe é clara: a mineração no estado deixa de ser vista apenas como extração para virar uma plataforma de desenvolvimento — industrialização, agregação de valor local, geração de emprego e fomento à economia regional. Trata-se de mostrar ao Brasil e ao mundo que a Bahia quer fazer diferente: mineração sustentável, inclusiva, inovadora.

Este formato — que combina realidade virtual, quiz, game, dados geológicos e entretenimento — revela uma tendência mais ampla no setor: o interesse crescente em tornar a mineração mais transparente, mais conectada à sociedade e ao ambiente. Em um mundo que exige responsabilidade, quem está disposto a dialogar com esse novo cenário ganha não só legitimidade, mas também atrai investimentos. A CBPM aposta nisso, e o estande na EXPOSIBRAM 2025 será a sua vitrine.

Em resumo, a Bahia abre suas portas. Convida: venha descobrir que o minério está em tudo — na casa, no celular, na estrada, na agricultura. E que esse minério pode gerar riqueza, oportunidade, inovação — quando bem gerido, com responsabilidade e visão. A EXPOSIBRAM 2025 e o estande da CBPM representam não só mais um evento, mas um capítulo estratégico para o estado. Um momento de mostrar que a mineração pode ser um agente de transformação.