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Caravana social vai à COP30 contra megaprojetos do agro

A poucos dias da COP30, uma mobilização popular se organiza para levar à conferência o grito de resistência dos territórios ameaçados pela expansão do agronegócio e de seus megaprojetos. Batizada de Caravana da Resposta, a iniciativa reunirá indígenas, agricultores, ribeirinhos e representantes de dezenas de organizações da sociedade civil que percorrerão mais de 3 mil quilômetros, do Mato Grosso até Belém (PA), cruzando a chamada “rota da soja”.

Ao longo de 14 dias, a caravana transformará o deslocamento em uma travessia política e cultural, com atos públicos, rodas de conversa e manifestações simbólicas em defesa da Amazônia e do Cerrado. O percurso seguirá por terra e água, atravessando estradas e rios que hoje são disputados por interesses econômicos e modos de vida tradicionais.

No trajeto final, um barco coletivo servirá de alojamento e cozinha solidária, transportando os participantes até Belém. Lá, o grupo participará das mobilizações paralelas à cúpula oficial da ONU — a Cúpula dos Povos e a COP do Povo —, espaços que buscam amplificar a voz das comunidades que vivem os impactos diretos das mudanças climáticas e da destruição ambiental.

Caminhos de resistência

A Caravana da Resposta é organizada pela Aliança Chega de Soja, articulação criada em 2024 que hoje reúne mais de 40 organizações indígenas, ambientais e sociais. O movimento surgiu como contraponto ao modelo de desenvolvimento centrado na monocultura e nas exportações agrícolas, que, segundo seus integrantes, “concentra riqueza, destrói florestas e ameaça modos de vida”.

Entre os principais alvos de crítica está a Ferrogrão — ferrovia projetada para ligar Sinop (MT) a Itaituba (PA) —, um dos símbolos da expansão logística da soja na Amazônia. O projeto, suspenso por decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) após pedido de vista do ministro Flávio Dino, é apontado por pesquisadores como uma das maiores ameaças ambientais da região.

Um estudo da Climate Policy Initiative (CPI), vinculada à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), estima que a ferrovia possa provocar o desmatamento de até 49 mil km² de floresta, ampliando o desmatamento em áreas críticas e afetando populações tradicionais.

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Reprodução

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Territórios em disputa

Além da Ferrogrão, o movimento também se posiciona contra os projetos de hidrovias nos rios Tapajós, Madeira e Tocantins, vistos como novas fronteiras logísticas para o escoamento de grãos e minérios. Para os organizadores, essas obras representam uma ameaça direta à biodiversidade aquática e à segurança alimentar de comunidades que dependem da pesca artesanal.

A liderança indígena Alessandra Munduruku, um dos rostos mais conhecidos da resistência na região, resume o espírito da mobilização: “Querem transformar nossos rios em hidrovias mortas e nossas casas em corredores logísticos. Mas nós vamos defender nossos territórios, porque disso depende o futuro de todo mundo”.

As palavras ecoam não apenas como denúncia, mas como anúncio de um outro modelo possível — aquele que valoriza a agroecologia, a pesca artesanal e os sistemas de sociobiodiversidade como alternativas concretas à monocultura.

A outra face do progresso

A Caravana da Resposta pretende também dar visibilidade às experiências comunitárias de produção sustentável. Pequenos agricultores e extrativistas participarão do trajeto apresentando soluções que conciliam produção de alimentos, preservação ambiental e autonomia local. A proposta é mostrar que há caminhos possíveis fora do modelo de “progresso” que transforma rios em canais industriais e florestas em campos de exportação.

Durante a viagem, a caravana fará paradas estratégicas em cidades e portos ao longo da BR-163, conhecida como “rodovia da soja”, e pelos rios Tapajós e Amazonas, com atividades em Miritituba e Santarém. Cada parada se tornará um palco de escuta e mobilização, conectando a pauta climática global aos desafios cotidianos das populações locais.

Ao chegar a Belém, os mais de 300 participantes somarão suas vozes às da Cúpula dos Povos, um espaço de convergência que pretende mostrar à comunidade internacional que a luta climática não se faz apenas nos pavilhões oficiais da ONU, mas nas margens dos rios, nas aldeias, nos roçados e nas cidades que resistem.

Mais do que denunciar os impactos dos megaprojetos, a caravana propõe uma pergunta essencial: que modelo de desenvolvimento o Brasil quer levar à COP30? A resposta, dizem os organizadores, não virá dos corredores diplomáticos, mas dos caminhos trilhados pela floresta e pelos povos que a mantêm viva.

De São Paulo a Belém: 3 mil km sobre duas rodas em nome do clima

Em tempos em que as distâncias parecem encurtar apenas por meio de voos e combustíveis fósseis, o ultraciclista Joab Marques decidiu provar que o caminho mais longo pode ser o mais transformador. Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA), ele se prepara para cruzar o Brasil pedalando de São Paulo até a capital paraense — uma jornada de 3 mil quilômetros em 14 dias.

Mais que uma façanha esportiva, a travessia simboliza um chamado urgente à ação climática e à mobilidade de baixo carbono. A cada pedalada, Joab transforma o esforço físico em manifesto ambiental, numa tentativa de lembrar que as mudanças climáticas são um desafio coletivo — e que a mobilidade sustentável pode ser parte da solução.

Segundo cálculos da Fundação SOS Mata Atlântica, ao optar pela bicicleta em vez de automóveis, ônibus ou aviões, Joab deixará de emitir cerca de 0,3 tonelada de CO₂. Um gesto pequeno em números, mas imenso em significado.

O corpo como veículo da mensagem

“O ultraciclismo exige foco, constância e confiança”, afirma Joab, que encara o trajeto como uma metáfora da própria luta climática: um percurso árduo, que demanda persistência e ritmo, mas cujo destino final vale cada esforço.

Para o cientista Paulo Moutinho, PhD e cofundador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a bicicleta é mais do que um meio de transporte — é uma ferramenta de consciência. “Pedalar de São Paulo a Belém é um ato de coragem e de educação ambiental. A jornada de Joab abre espaço para um debate necessário sobre saúde, mobilidade sustentável e justiça climática”, ressalta.

A iniciativa tem o apoio da Shimano, referência mundial em tecnologia e componentes para bicicletas, e conta com a colaboração de Willian Mendes, assessor de pautas ambientais do gabinete da vereadora Renata Falzoni, defensora histórica do uso da bicicleta como meio de transporte urbano.

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O roteiro de uma travessia climática

A rota, planejada para durar duas semanas, atravessará cinco estados brasileiros. De São Paulo, Joab segue por Limeira e Ribeirão Preto, cruza Minas Gerais por Uberlândia e entra em Goiás, passando por Campo Alegre e Brasília. Depois, corta o Tocantins por cidades como Paraíso e Brasilândia, até alcançar o Pará — passando por Marabá, Jacundá e Tailândia, antes de concluir a jornada em Belém, no dia 10 de novembro, véspera da abertura da conferência.

Cada parada foi pensada não apenas pela logística, mas também pela oportunidade de dialogar com comunidades locais e inspirar outros ciclistas e ambientalistas. A cada cidade, uma nova conversa sobre futuro, clima e escolhas cotidianas.

Pedalar como ato político e poético

O desafio de Joab condensa o espírito da COP30: enfrentar a crise climática com ações concretas, pessoais e coletivas. O ultraciclista não apenas desloca seu corpo — ele move consciências. Sua bicicleta carrega mais do que equipamentos; transporta uma ideia de mundo em que o progresso não precisa significar destruição.

Em tempos de aceleração e consumo, sua viagem lembra que velocidade não é o mesmo que avanço, e que desacelerar pode ser o passo mais decisivo rumo à sustentabilidade. De São Paulo a Belém, cada quilômetro se torna um lembrete de que o futuro — assim como o caminho — depende de quem se dispõe a pedalar.

O combate ao metano avança lentamente, alerta ONU às vésperas da COP30

Às vésperas da COP30 em Belém, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) emitiu um alerta: o mundo está reagindo de forma muito lenta ao desafio de reduzir as emissões de metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes e de impacto rápido sobre o aquecimento global.

O novo relatório do Observatório Internacional de Emissões de Metano (IMEO), iniciativa do PNUMA que utiliza dados de mais de 17 satélites para rastrear vazamentos, revelou que apenas 12% dos alertas emitidos a governos e empresas de petróleo e gás tiveram resposta. Em outras palavras, quase 90% das emissões detectadas por satélite continuam sendo ignoradas — mesmo com compromissos globais assumidos para conter o problema.

Desde 2021, mais de 150 países aderiram ao Compromisso Global do Metano, iniciativa que visa reduzir as emissões em 30% até 2030. No entanto, as ações concretas permanecem aquém do necessário. Segundo a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, “os esforços seguem lentos demais. Estamos falando de medidas relativamente simples que poderiam trazer ganhos rápidos”.

Um gás de curto prazo, mas de alto impacto

Embora o dióxido de carbono ainda seja o principal responsável pelas emissões globais, o metano — um gás invisível e altamente inflamável — tem um poder de aquecimento 80 vezes maior no curto prazo. Por permanecer menos tempo na atmosfera, a redução das emissões de metano é considerada a forma mais imediata de desacelerar o ritmo da crise climática.

O IMEO monitora vazamentos provenientes, principalmente, do setor de petróleo e gás — atividades de ventilação e queima de gás (flaring) —, mas também mapeia fontes emergentes na mineração de carvão, no manejo de resíduos e na agropecuária.

Giulia Ferrini, chefe do observatório, afirmou que a missão agora é ampliar o rastreamento para outros grandes emissores, como a produção de carvão metalúrgico, o tratamento de lixo urbano e as práticas agrícolas intensivas.

ACORDO-PARIS-400x242 O combate ao metano avança lentamente, alerta ONU às vésperas da COP30
Foto: ONU

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Resultados tímidos e omissões persistentes

O relatório mostra um quadro preocupante: de 3.500 alertas enviados a governos e empresas desde o início do monitoramento, apenas 25 casos resultaram em ações concretas que interromperam grandes vazamentos. Embora isso represente uma melhora em relação ao ano anterior — quando só 1% das notificações levou a alguma resposta —, o progresso ainda é considerado insuficiente.

A falta de transparência é outro obstáculo. Muitas companhias sequer reconhecem as notificações recebidas, retardando intervenções que poderiam evitar emissões equivalentes às de países inteiros.

Recentemente, um grupo de investidores representando 4,5 trilhões de euros em ativos apelou à União Europeia para que não enfraqueça sua legislação sobre emissões de metano, em meio à pressão para facilitar importações de gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos. Para os signatários, qualquer retrocesso nas regras comprometeria as metas de descarbonização e ampliaria o impacto do comércio de combustíveis fósseis.

O desafio à frente da COP30

À medida que líderes mundiais se preparam para a COP30, o relatório do IMEO soa como um lembrete urgente: controlar o metano é uma das medidas mais rápidas e baratas para reduzir o aquecimento global. A detecção via satélite, combinada a protocolos de resposta imediata, pode cortar milhões de toneladas de emissões por ano — desde que os governos e empresas ajam.

Para Andersen, a mensagem é clara: “o metano é o inimigo invisível da estabilidade climática. Sabemos onde estão os vazamentos e como resolvê-los. O que falta é vontade política e coordenação global.”

A COP30, que será sediada em Belém, deve colocar o tema entre as prioridades da agenda, especialmente no contexto de uma transição energética justa e do fortalecimento das ações climáticas até 2030.

Zona Verde da COP30 será aberta ao público e promete aproximar a sociedade da agenda climática

A Zona Verde da COP30, que será realizada em Belém (PA) entre 10 e 21 de novembro, foi pensada como o coração aberto da conferência — um espaço público, gratuito e interativo, voltado para o diálogo entre a sociedade civil, governos e o setor privado sobre o futuro climático do planeta. Instalada no Parque da Cidade, a área integra o legado permanente do evento para a capital paraense.

Diferentemente da Zona Azul, onde ocorrem as negociações diplomáticas e reuniões oficiais entre chefes de Estado e representantes dos 190 países-membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a Zona Verde foi concebida como um espaço de convivência e participação popular. O local reunirá exposições, debates, oficinas, instalações imersivas, apresentações artísticas e shows, aproximando a população de temas como sustentabilidade, inovação, biodiversidade, bioeconomia e juventude.

A COP30 e o legado de Belém

A COP30 marcará a primeira vez que a conferência global sobre o clima será sediada na Amazônia, e a Zona Verde simboliza essa conexão direta com o território. O espaço foi idealizado pelo Governo Federal, com apoio da Casa Civil e coordenação do comitê organizador local, para reforçar a participação social e o protagonismo brasileiro na agenda climática internacional.

Segundo Pedro Pontual, secretário-adjunto da Casa Civil e responsável pelo processo de segurança pública da COP30, a proposta é garantir acesso democrático sem comprometer a segurança. “Enquanto a Zona Azul é o espaço das negociações entre os Estados, a Zona Verde será o ambiente para que quem não faz parte dessas tratativas também possa participar, interagir e usufruir da experiência que a conferência proporciona”, explicou.

O acesso será livre, sem necessidade de credenciamento para o público ou imprensa, mas com controle por detectores de metais e inspeção por raio-X — um modelo inspirado em grandes conferências internacionais.

image-800-7f125cf805c532124b0e0e48c722b140-400x267 Zona Verde da COP30 será aberta ao público e promete aproximar a sociedade da agenda climática
A Zona Verde, também chamada de Green Zone, é a área pública da COP30, administrada pelo governo federal. Foto: Rafael Medelima | COP30

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Um espaço de diálogo e cultura climática

A Zona Verde será mais que um ponto de visitação: ela funcionará como uma plataforma de engajamento social. Seus diferentes hubs temáticos abordarão financiamento climático, tecnologias limpas, energias renováveis e soluções baseadas na natureza, reunindo ministérios, governos estaduais e municipais, universidades, empresas, organizações da sociedade civil e movimentos sociais.

Entre os principais objetivos do espaço estão:

  • Reforçar o protagonismo brasileiro na agenda de transição ecológica, envolvendo poderes públicos e instituições de pesquisa.

  • Dar visibilidade à ciência amazônica, aos povos indígenas e comunidades tradicionais, valorizando saberes locais e práticas sustentáveis.

  • Mostrar soluções climáticas do setor privado brasileiro, com destaque para inovação e sustentabilidade.

  • Garantir a ampla participação da sociedade civil, incluindo organizações sem status oficial de observador na COP.

  • Engajar a população de Belém, fortalecendo o vínculo entre território e compromisso ambiental.

Cultura, lazer e educação ambiental

Durante o período da conferência, a Zona Verde se transformará também em um centro cultural e turístico, aberto a visitantes de todas as idades. As instalações incluem áreas de convivência, esportes, gastronomia e espaços educativos, que foram testados previamente: entre junho e agosto, cerca de 700 mil pessoas circularam pelo Parque da Cidade, durante o período em que o espaço esteve aberto antes da montagem final para a COP30.

As atrações vão desde exposições científicas e oficinas criativas até shows e performances artísticas, projetadas para aproximar o debate climático da vida cotidiana. A intenção é transformar a pauta ambiental em uma experiência sensorial e inspiradora — não apenas em relatórios e negociações, mas em vivência coletiva.

A Amazônia como palco global

Com a realização da COP30 em Belém, o Brasil reforça seu papel de liderança nas discussões globais sobre transição energética, descarbonização e proteção da biodiversidade. A Zona Verde sintetiza esse compromisso: um espaço de aprendizado, diálogo e celebração da diversidade cultural e ambiental da Amazônia.

Ao abrir suas portas para todos, sem credenciamento, a área pública da COP30 traduz a mensagem central do evento — enfrentar a crise climática exige a participação de todos os setores da sociedade. E é essa abertura simbólica, tanto física quanto política, que torna a Zona Verde um dos principais legados da conferência para o Brasil e para o mundo.

GWM Brasil fornece 100 veículos eletrificados para a COP30 em Belém

A poucos dias da abertura da COP30 em Belém, a GWM Brasil mobiliza seus recursos para dar visibilidade à mobilidade sustentável de forma prática e simbólica. A entrega de 100 veículos eletrificados à conferência — destinada a chefes de Estado, autoridades e delegações internacionais — vai muito além de logística: é um manifesto de presença e ambição tecnológica. A cerimônia, marcada para o dia 5 de novembro no centro da concessionária Revemar em Belém, será conduzida por Andy Zhang, presidente da GWM Brasil & México, e simboliza a inserção da montadora no palco global da sustentabilidade.

Entre os modelos que farão parte da frota está o Wey 07, um SUV híbrido plug-in de seis lugares recém-lançado pela GWM. Juntam-se a ele os híbridos plug-in Tank 300 e Haval H6, formando um conjunto diversificado de soluções eletrificadas — veículos híbridos, plug-ins e elétricos — que refletem o espectro da mobilidade limpa. A operação está enquadrada como parte da estratégia da GWM de posicionamento institucional: reforçar que a mobilidade elétrica e de baixo carbono não é mais nicho, mas centro de sua atuação no Brasil e no mundo.

Contudo, a participação da GWM na COP30 vai além das quatro rodas. Como parte da mobilização, a empresa vai apresentar um barco movido a hidrogênio verde — resultado de cooperação internacional com a FTXT e outras entidades — marcando a estreia mundial da tecnologia GWM Hydrogen powered by FTXT fora do setor automotivo. Essa iniciativa evidencia que a transição energética da empresa é holística: considera transporte rodoviário, náutico e outros modos, e assume a energia limpa como eixo estratégico.

A fábrica da GWM em Iracemápolis (São Paulo), recentemente inaugurada, fortalece esse cenário. A unidade vai produzir veículos de nova energia para o mercado brasileiro e regional, e representa o compromisso da montadora com nacionalização, presença local e integração ao país. Dentro desse contexto, a presença da GWM na COP30 atua como vitrine: ela não apenas demonstra tecnologia, mas reivindica papel de protagonista na agenda internacional de mobilidade sustentável.

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Barco a hidrogênio que usa tecnologia da GWM e estará na COP30 – Divulgação

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Este movimento conecta-se diretamente com o ambiente da conferência, dedicado à descarbonização e à transição energética. Ao assumir a frota para a COP30, a GWM enfatiza que mobilidade limpa é peça central na luta contra as mudanças climáticas e parte integrada de uma economia de baixo carbono. A combinação entre veículos elétrica e híbridos para a frota oficial e o barco a hidrogênio sinaliza uma mensagem clara: inovação, parcerias globais e replicação de tecnologias de ponta no Brasil.

Além do valor simbólico, a iniciativa tem impactos concretos. A visibilidade da montadora no evento cria sinergias com políticas públicas, redes de fornecedores brasileiros e OEMs locais que buscam inserir-se na cadeia de nova energia. A cooperação com a FTXT no hidrogênio, por exemplo, abre janelas para projetos de larga escala no setor de transporte pesado e marítimo — segmentos cruciais na descarbonização global. Essa articulação reforça que uma montadora fundada na China, atuando no Brasil, pode operar como ponte entre mercados emergentes, tecnologias limpas e a agenda climática.

Em resumo, a GWM Brasil está transformando a participação na COP30 em operação estratégica: entrega de frota, apresentação de hidrogênio, fábrica nacional e posicionamento em mobilidade de baixo carbono. A mobilidade elétrica e o hidrogênio não são apenas temas de vitrine, mas partes da ambição da empresa de liderar no Brasil a transição para veículos e sistemas que não dependem de combustíveis fósseis. A conferência em Belém oferece o palco ideal — e a GWM está pronta para aproveitá-lo abertamente.

Agricultura tropical, bioenergia e transição: um caminho de convergência

Nas florestas tropicais e nos campos agrícolas do Brasil, a paisagem conta uma história de convergência entre alimento, bioenergia e meio ambiente — e não de conflito. Aqui, sistemas produtivos como cana-de-açúcar, milho e soja coexistem integrados, gerando açúcar, etanol, ração, bioeletricidade, proteína vegetal, biogás e alimentos em simultâneo. Essa integração multiplica a produtividade da terra, amplia a renda dos produtores e reduz emissões de gases de efeito estufa.

Nas últimas cinco décadas, o Brasil se transformou em potência agrícola e energética. Aproximadamente metade da matriz elétrica nacional é renovável — contra uma média global de apenas 14 % — e mais de 30 % da energia vem da bioenergia. Esse esforço evitou emissões equivalentes a cerca de 1,6 bilhões de toneladas de CO₂. Ao mesmo tempo, o país preserva dois terços de seu território sob cobertura florestal e garantiu que 98 % da expansão da cana-de-açúcar ocorresse sobre terras agrícolas ou pastagens degradadas — não sobre florestas originais.

Esses números desafiam a narrativa de que biocombustíveis devoram comida ou florestas. Revisões sistemáticas fundamentadas em mais de 200 estudos mostram que, em dois terços dos casos, o impacto dos biocombustíveis sobre a oferta alimentar foi neutro ou positivo. Brasil à parte: a introdução do etanol de milho não provocou escassez de ração ou alta de preços domésticos — e o país segue entre os maiores exportadores mundiais de milho, soja, carne, açúcar e celulose.

SAF-aviacao-biocombustivel-400x225 Agricultura tropical, bioenergia e transição: um caminho de convergência
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Mais ainda: há vastas oportunidades no Sul Global para estender esse modelo. Em 11 países aliados, destinar de 0,1 % a 10 % das pastagens degradadas à bioenergia poderia evitar 300 milhões de toneladas de CO₂ por ano, restaurar carbono nos solos e fortalecer economias rurais. No Brasil, o setor sucroenergético formal emprega 87 % das suas equipes e remunera salários 46 % acima da média agrícola. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, por exemplo, quadruplicou a renda de pequenos produtores de soja; as usinas geram energia limpa para mais de 10 milhões de residências.

Chegou o momento de romper o falso dilema entre comida e combustível. No Brasil, produzem-se alimentos, energia e ração em paralelo. Os biocombustíveis de baixo carbono — etanol, biodiesel, HVO e biometano — emergem como parte vital de uma transição energética ordenada, justa e inclusiva. Essa é a proposta que o Brasil apresenta para a presidência da COP30, que ocorrerá em Belém com participação conjunta de Índia, Itália, Japão e outros países.

Mais do que um debate técnico, trata-se de estratégia global. A dependência dos combustíveis fósseis é o risco verdadeiro à segurança alimentar e climática: ao acelerar a mudança do clima, os fósseis reduzem a produtividade agrícola e amplificam eventos extremos. Em contrapartida, a bioenergia sustentável, apoiada por ciência robusta e governança, aponta para um futuro no qual a prosperidade rural, a soberania alimentar e a justiça climática caminham juntas — e o Sul Global assume lugar de protagonismo na transição energética.

Nesse horizonte, a agricultura tropical brasileira torna-se farol: integra alimentos, energia e meio-ambiente; produz mais com menos; gera renda e empregos; evita emissões e prescreve soluções replicáveis mundo afora. A proposta é clara: não há jogo de soma zero entre alimento e combustível — há ganhos mútuos, desde que se combine inovação, política pública e responsabilidade ambiental.

A aranha “Frankenstein” da Tailândia que mistura macho e fêmea e homenageia One Piece

Nas florestas tropicais do oeste da Tailândia, pesquisadores encontraram uma aranha que parece saída de um laboratório de ficção científica — ou de um mangá japonês. Metade macho, metade fêmea, o novo aracnídeo foi batizado de Damarchus inazuma, em referência a um personagem de One Piece capaz de mudar de sexo à vontade. A descoberta, feita por cientistas do Centro de Excelência em Entomologia da Universidade Chulalongkorn e publicada na revista científica Zootaxa, revela um dos fenômenos biológicos mais raros da natureza: o ginandromorfismo.

A aparência do animal é, no mínimo, perturbadora. Um lado do corpo é mais robusto e exibe tons alaranjados, típicos das fêmeas; o outro é mais delgado e acinzentado, como nos machos. Essa divisão perfeita, que corta o corpo ao meio, cria uma estética que lembra as criaturas híbridas dos filmes de terror — motivo pelo qual a espécie vem sendo chamada popularmente de “aranha Frankenstein”.

Os pesquisadores capturaram vários exemplares dessa nova espécie nas matas tailandesas, preservando-os a baixíssimas temperaturas em etanol para análise. Ao examinar os espécimes, a equipe percebeu algo incomum: algumas aranhas exibiam traços físicos dos dois sexos em lados opostos do corpo. Após uma investigação detalhada, os cientistas confirmaram que se tratava de uma nova espécie do gênero Damarchus, pertencente à família Bemmeridae, grupo de aranhas mais primitivas encontradas apenas na Ásia, em países como Índia, Indonésia, Malásia e Tailândia.

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Inazuma, personagem do anime e mangá One Piece homenageado na espécie de aranha encontrada – Wikipedia

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O fenômeno que marca a D. inazuma é conhecido como ginandromorfismo, uma condição em que um mesmo indivíduo expressa características masculinas e femininas simultaneamente, mas de forma dividida, como se o corpo fosse um espelho. Esse tipo de variação ocorre quando há um erro genético logo após a fertilização, resultando em células com combinações diferentes de cromossomos sexuais. O resultado é um ser que, biologicamente, é metade macho e metade fêmea.

Embora o ginandromorfismo seja conhecido em outros grupos — como borboletas, abelhas e até aves — ele é raríssimo entre as chamadas migalomorfas, o grupo das aranhas mais antigas e robustas, que inclui as tarântulas. O registro de Damarchus inazuma é o primeiro caso documentado desse tipo dentro da família Bemmeridae, o que torna a descoberta especialmente notável para a ciência.

Mas o que realmente chama a atenção do público é a inspiração por trás do nome. O termo “inazuma” vem de um personagem do mangá e anime One Piece, criado por Eiichiro Oda, famoso por sua habilidade de alternar livremente entre os sexos. A escolha não foi apenas uma homenagem pop: os pesquisadores perceberam que o padrão de cores do personagem — laranja de um lado e branco do outro — reproduzia fielmente a divisão cromática observada na aranha. Um toque de humor e criatividade em meio à precisão da taxonomia científica.

O achado reforça como a ciência moderna tem se aproximado da cultura popular para comunicar descobertas de forma mais acessível e curiosa. Assim como dinossauros batizados em homenagem a músicos ou planetas com nomes inspirados em filmes, a Damarchus inazuma conecta o mundo microscópico ao imaginário coletivo.

rare-intersex-spider-a-m-400x267 A aranha “Frankenstein” da Tailândia que mistura macho e fêmea e homenageia One Piece
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Além do fascínio estético, a descoberta oferece uma oportunidade para entender melhor como ocorrem os processos genéticos de diferenciação sexual. Estudos desse tipo ajudam a compreender não apenas os limites da biologia, mas também as variações naturais que desafiam noções fixas de gênero no reino animal.

Em um momento em que a biodiversidade enfrenta ameaças crescentes, encontrar uma espécie tão singular lembra o quanto ainda há de desconhecido nas florestas do Sudeste Asiático. A “aranha Frankenstein” é mais do que uma curiosidade científica — é um lembrete de que a natureza continua inventando personagens mais extraordinários do que qualquer ficção.

Moda sustentável da Amazônia: artesanato do Acre chega à ONU e Vogue

No coração da floresta amazônica, no estado do Acre, surge uma narrativa que combina arte, identidade e economia. Ali, artesãs e artesãos se reúnem para transformar aquilo que a natureza dá — sementes, fibras, madeiras — em peças de profundo significado e valor estético. Cada colar, cada pulseira, cada biojoia revela horas — às vezes dias — de dedicação, mas também revela um pensamento coletivo: o valor de uma semente isolada, quase despercebida, se revela quando unida a outras, compondo padrões, cores, símbolos.

Esse trabalho manual, que carrega a herança dos povos indígenas, como o Huni Kuin e o Kaxinawá, assume papel de protagonista para centenas de mulheres que habitam aldeias nos municípios de Tarauacá, Jordão, Cruzeiro do Sul e outras regiões do Acre. No âmbito dessas comunidades, por meio de associações como a Apaminktaj, mais de 500 mulheres se organizam para cultivar algodão, usar pigmentos naturais como açafrão e mogno, fiar as linhas, tecer mantas, criar colares e tiaras. Um ciclo que se inicia no solo da floresta e chega aos salões de feiras, às vitrines de cidade grande, ao exterior.

Na loja Bari da Amazônia, em Rio Branco, essas peças ganham corpo e visibilidade. Ali chega o trabalho repetido, ancestral, cada desenho com seu significado. A artesã Raimunda Nonata, do povo Huni Kuin, lembra que aprendeu a tecer com sua avó, que ensinou à mãe, que ensinou a ela. Esse elo entre gerações traduz que o artesanato não é apenas produção: é memória viva, é identidade, é afirmação cultural. A matéria-prima: o algodão plantado por elas mesmas; a pigmentação: ingredientes da floresta. O resultado: um artesanato que gera renda, que valoriza a cultura, que afirma o pertencimento.

Outro exemplo vem de Maria José Menezes. Artesã por 35 anos, ela trabalha com biojoias, pintura em camisetas, telas e quadros. Coleta pessoalmente sementes de açaí, paxiubão, fibra de buriti ou recebe pela cooperativa. “Nós vendemos história”, diz ela. E é verdade: o valor da peça transcende a estética — ela encarna uma trajetória, um vínculo natural, uma transformação criativa.

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Foto: Marcos Rocha

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O artesanato no Acre deixou de ser apenas arte alternativa. Hoje, ele assume papel econômico estratégico. Em feiras como a 25ª Feira Nacional de Negócios de Artesanato (Fenearte), artesãos acreanos faturaram centenas de milhares de reais. São mais de dois mil profissionais cadastrados no estado, majoritariamente mulheres, movidas por autonomia, renda e expressão cultural. A entidade Sebrae/AC, citada como parceira de longa data, atua na capacitação, no acesso a mercado, na formalização, no design, na precificação — fortalecendo a cadeia produtiva como um todo.

Essa trajetória carrega lições: primeiro, que economia e floresta não são opostos. O artesanato das sementes e madeiras da Amazônia mostra que é possível extrair valor sem destruir; segundo, que a valorização da cultura tradicional e dos saberes indígenas pode abrir portas no mercado global; terceiro, que a cooperação entre artesãos, cooperativas e instituições gera escala, estrutura e visibilidade. Para quem vê apenas o colar pronto, talvez pareça simples. Mas por trás de cada peça há plantio, colheita, processo artesanal, design, comercialização e empoderamento.

E o alcance vai além do estado do Acre. Algumas destas peças já cruzaram fronteiras, chegaram ao exterior, viraram material de desfile, foram publicadas em revistas internacionais. Nesse ponto, arte local se torna arte global. As mulheres que tecem sonhos e sementes assumem o protagonismo da economia solidária, da cultura amazônica, da sustentabilidade.

Para o Acre, o artesanato é porto de identidade e estrada para o mundo. Cada biojoia carrega uma história de floresta, de comunidade, de técnica e de feminilidade empreendedora. É mais que um acessório: é símbolo de resistência, de conexão com a terra e de possibilidade. E nessa junção entre natureza, cultura e mercado reside um modelo que merece ser visto — e replicado.

Comunicação estratégica e clima: encontro da Aberje na COP30 em Belém

Em meio ao cenário urgente das mudanças climáticas, a comunicação empresarial ganha um protagonismo renovado. Sob esse entendimento, a Aberje organiza um encontro estratégico durante a COP30, em Belém, reunindo executivos de comunicação, jornalistas, acadêmicos e convidados internacionais para refletir sobre o papel da comunicação no processo de transição ambiental das empresas.

A Page Society, reconhecida comunidade global de líderes de comunicação sênior, marcará presença, representando uma ponte entre práticas corporativas e responsabilidade sociambiental. Junto à CNI — Confederação Nacional da Indústria, através de seu diretor de comunicação, André Curvello — o diálogo se amplia para as indústrias que enfrentam o desafio de conectar seus compromissos climáticos à narrativa que chega aos públicos, à sociedade e aos parceiros de negócio.

O encontro está centrado na ideia de que comunicar — não apenas informar — tornou-se um ato de engajamento e mobilização. Como traduzir metas globais, como neutralidade de carbono ou economia circular, em ações concretas e compreensíveis para a comunidade, para investidores, para colaboradores? Como a comunicação atua como fio condutor entre o compromisso estratégico das organizações e sua execução no território local, nas cadeias de valor, na cadeia de impacto?

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA-1-400x218 Comunicação estratégica e clima: encontro da Aberje na COP30 em Belém

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Para a Aberje, esse será o principal momento dedicado aos comunicadores empresariais dentro da COP30. A escolha de Belém assume simbolismo: a região amazônica está entre os palcos críticos dos desafios ambientais e, ao mesmo tempo, de oportunidade para a indústria e para a comunicação. Nesse contexto, o patrocínio da Alubar reforça a conexão entre setor produtivo e discurso de responsabilidade socioambiental. O apoio institucional da Global Alliance for PR and Communications Management amplia o alcance da discussão, projetando-a para o âmbito global.

No fundo, a proposta é transformar a comunicação em algo mais do que um canal de divulgação: ela se torna ferramenta de transformação. Mobilizar stakeholders — sejam eles investidores, comunidades locais, colaboradores ou fornecedores — exige narrativa que inspire, envolva e convide à ação. Na era da transição, a história que as empresas contam importa tanto quanto os números que apresentam.

Além disso, o painel traz uma dimensão reflexiva: como alinhar transparência, credibilidade e dinamismo na comunicação sobre clima? Como evitar que a mensagem se torne abstrata ou distante da realidade cotidiana? A presença de académicos e jornalistas reforça a necessidade de um olhar crítico, que questione e estimule práticas genuínas.

Para os profissionais de comunicação, a mensagem é clara: não basta comunicar o que se fez — é preciso engajar, envolver e construir pontes entre o discurso e o impacto real. Participar deste tipo de encontro significa estar no centro da transformação, colaborando para que a comunicação empresarial seja peça-chave no esforço coletivo pela sustentabilidade.

Em resumo, a Aberje propõe mais que um evento: lança um chamado. Num mundo que exige novas atitudes, a comunicação corporativa não pode mais ficar à margem. Ela se coloca como parte integrante da transição, ajudando empresas a navegar de compromissos globais à atuação local, de promessas a resultados tangíveis. Na COP30, em Belém, a conversa se transforma em estratégia — e a comunicação, em catalisadora de mudança.

Inscreva-se aqui: https://forms.gle/MeYLp224b611c9Do7

Belém mobiliza mutirão solidário e garante hospedagem gratuita para visitantes da COP30

Em um gesto que traduz o espírito amazônico de acolhimento, Belém do Pará se prepara para receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) com uma rede de solidariedade inédita. A iniciativa Hospitalidade com Propósito, criada a partir do engajamento de empreendedores, igrejas e famílias locais, assegurou hospedagem gratuita para 200 visitantes da conferência, entre estudantes, voluntários e representantes de projetos socioambientais vindos de diversas partes do Brasil e do mundo.

O movimento surgiu como resposta à crise de hospedagem que se formou na capital paraense após o anúncio da COP30, quando a alta repentina nos preços dos imóveis e hotéis gerou indignação e preocupação entre organizadores e participantes. Em poucas semanas, o descontentamento deu lugar a uma mobilização inspiradora: cidadãos comuns decidiram abrir suas casas, igrejas e instituições para acolher quem viria à Amazônia discutir o futuro climático do planeta.

Da indignação à ação: a força de uma rede solidária

A virada aconteceu quando a Igreja Batista da Lagoinha Belém, uma das primeiras a aderir à plataforma, ofereceu 200 vagas gratuitas em alojamentos coletivos. As inscrições se esgotaram em tempo recorde, consolidando a proposta como um exemplo de mutirão social guiado pela fé e pela cooperação.

“Vamos receber 200 pessoas vindas de diferentes regiões, incluindo um grupo de crianças do interior do Maranhão que apresentará seus trabalhos na COP30. É uma alegria poder servir e acolher quem vem em nome da causa climática. Essa experiência nos mostrou que hospitalidade é também um ato de fé e cidadania”, afirma o pastor Maxwell Barros, líder da igreja, que transformou o espaço em símbolo de generosidade coletiva.

A iniciativa expandiu-se rapidamente. Hoje, a plataforma Hospitalidade com Propósito já conta com mais de 1.200 opções cadastradas entre casas de família, pousadas, apartamentos e centros comunitários na Região Metropolitana de Belém — todos comprometidos com critérios de preço justo e transparência definidos no Guia Pedagógico de Precificação, disponível no site oficial.

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Reproduçao

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Preço justo e confiança como pilares

O guia estabelece faixas de referência por tipo de imóvel e localização, recomendando que as diárias durante a conferência não ultrapassem três vezes o valor normalmente praticado. Além disso, o material apresenta um mapa interativo que classifica as hospedagens em três zonas: Premium (até 3 km do Parque da Cidade, onde ocorrerá a COP30), Intermediária (até 10 km) e Metropolitana (acima de 10 km).

Segundo Cleide Pinheiro, coordenadora da Rede Tela Pará — rede de empreendedores cristãos idealizadora do projeto —, a criação do guia foi uma demanda da própria comunidade. “Belém não tem tradição de alta e baixa temporada, e muitos anfitriões estavam sem referência de preços. Queríamos evitar abusos e reforçar que hospitalidade é parte da nossa identidade. Receber bem é uma forma de cuidar do outro e da cidade”, explica.

O trabalho da Rede Tela, que atua há anos conectando negócios de impacto e fé, foi decisivo para transformar a indignação inicial em um projeto estruturado de economia solidária e turismo consciente.

Uma rede que cresce pela confiança

Lançada no fim de agosto, a Hospitalidade com Propósito é uma iniciativa voluntária, interdenominacional e sem fins lucrativos, que funciona como uma ponte entre anfitriões e visitantes. A plataforma não cobra taxas nem comissões, apostando na confiança e na boa vontade de quem acredita na força da colaboração.

“Nosso papel é conectar pessoas e inspirar solidariedade. O site é gratuito e funciona com base na confiança. O que estamos vendo é a sociedade civil mostrando que pode ser parte da solução, com criatividade e generosidade”, afirma Andréa Cunha, coordenadora de Relacionamento e Mobilização do projeto.

Além da hospedagem gratuita, o grupo também organiza rodas de acolhimento, oficinas e vivências sobre hospitalidade com propósito, fortalecendo o legado comunitário da COP30. O projeto demonstra que, mais do que um evento diplomático, a conferência pode ser um catalisador de novas formas de convivência, economia e fé em ação.

Belém, capital da hospitalidade climática

O sucesso da iniciativa tornou-se símbolo da capacidade da sociedade paraense de responder com empatia e cooperação a desafios globais. Enquanto governos e líderes discutem metas climáticas, cidadãos de Belém mostram que a transição justa também passa pela solidariedade e pela valorização do humano.

A Hospitalidade com Propósito transformou o acolhimento em instrumento de mobilização social — e provou que o calor amazônico não está apenas no clima, mas na forma como o povo de Belém abre suas portas e corações para o mundo.

COP30 lança agenda de ação para acelerar soluções climáticas globais

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém do Pará, anunciou a programação oficial de sua Agenda de Ação, um dos pilares estratégicos do evento. A proposta busca transformar compromissos internacionais em medidas concretas, mobilizando governos, empresas, cidades e comunidades em torno de um verdadeiro mutirão global pelo clima.

Mais do que um espaço paralelo às negociações políticas, a Agenda de Ação representa o elo entre a diplomacia climática e a prática cotidiana de sustentabilidade. Idealizada sob a coordenação da Presidência da COP30 e dos Campeões de Alto Nível para o Clima, Dan Ioschpe e Nigar Arpadarai, em parceria com a Parceria de Marrakesh, a iniciativa pretende acelerar a implementação de soluções já em curso e dar transparência aos impactos positivos alcançados em diferentes regiões do planeta.

Da diplomacia à prática: um novo ciclo de implementação climática

A Agenda de Ação nasce inspirada nos resultados do Primeiro Balanço Global (Global Stocktake – GST-1), mecanismo previsto no Acordo de Paris para avaliar, a cada cinco anos, o cumprimento das metas de redução de emissões e adaptação climática. O diagnóstico apresentado pelo GST-1 é claro: embora haja avanços, o mundo ainda está distante das metas necessárias para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Com base nessa constatação, a Presidência da COP30 propôs que os resultados do Balanço Global sejam traduzidos em seis grandes eixos temáticos e trinta objetivos estratégicos, estruturados para gerar impacto real e mensurável. Esses eixos orientam a nova fase de compromissos multilaterais, com ênfase em energia limpa, transição justa, adaptação, biodiversidade, finanças sustentáveis e resiliência urbana.

A ambição da Agenda é reunir o que antes se via de forma dispersa: ações locais, compromissos empresariais, investimentos públicos e iniciativas da sociedade civil. Ao colocá-los sob uma mesma plataforma, a COP30 pretende criar um ecossistema de colaboração que ultrapasse fronteiras políticas e ideológicas.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Um mutirão global pela ação climática

Durante os dias de conferência em Belém, a Agenda de Ação ganhará vida em dezenas de eventos temáticos, painéis e mesas-redondas. Nesses espaços, lideranças empresariais, representantes de governos subnacionais, cientistas, povos indígenas e ativistas debaterão caminhos para acelerar a transição ecológica e social.

A presença ativa de estados e municípios brasileiros, além de governos locais de outros países amazônicos, reforça a dimensão descentralizada da COP30. Os debates abordarão desde soluções tecnológicas de baixo carbono até o fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis na floresta.

Segundo os organizadores, o objetivo não é apenas discutir metas, mas apresentar projetos, tecnologias e colaborações que possam ser replicadas globalmente. Trata-se de um esforço para conectar o nível macro da governança climática ao micro da ação territorial — a essência do conceito de “mutirão global pelo clima”.

O papel dos Campeões de Alto Nível

Dan Ioschpe, empresário e membro do conselho do World Business Council for Sustainable Development, e Nigar Arpadarai, especialista em diplomacia climática do Azerbaijão, são os responsáveis por articular a ponte entre a política oficial da COP e o universo de atores não estatais.

Ioschpe destaca que a Agenda de Ação é a chance de demonstrar que as soluções para a crise climática não dependem apenas de acordos formais, mas também da convergência entre setores econômicos e sociais. Arpadarai, por sua vez, enfatiza a importância de dar visibilidade às iniciativas já existentes — das cooperativas amazônicas que restauram florestas às cidades que implementam planos de neutralidade de carbono.

Belém como símbolo e vitrine

Sediar a COP30 na Amazônia tem um valor simbólico inegável. A região concentra tanto os desafios quanto as oportunidades da transição climática global. A realização da Agenda de Ação em Belém reforça a ideia de que o futuro sustentável precisa nascer também dos territórios historicamente afetados pelas mudanças climáticas e pela desigualdade socioambiental.

Com a programação inicial já disponível no portal oficial da COP30, o calendário será atualizado continuamente, incorporando novas iniciativas e projetos até o início da conferência. A expectativa é que essa agenda de compromissos práticos deixe um legado duradouro — não apenas para a Amazônia, mas para toda a governança climática internacional.

A Agenda de Ação da COP30, mais do que um documento técnico, é um convite para que o mundo passe da promessa à prática, da meta à transformação, do discurso à ação concreta.

Segurança e diplomacia: PF traça plano estratégico para a COP30 em Belém

Com a Amazônia no centro do debate climático global, o Brasil se prepara para sediar um dos eventos mais complexos e sensíveis de sua história recente: a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Para garantir a segurança de delegações estrangeiras, líderes globais, cientistas, ativistas e povos tradicionais, a Polícia Federal (PF) elaborou um plano operacional robusto, em vigor desde 1º de outubro.

O esquema, construído em parceria com órgãos diplomáticos e forças locais, busca equilibrar três dimensões centrais: diplomacia, liberdade de expressão e logística amazônica — um tripé que revela tanto os desafios de realizar uma cúpula global no coração da floresta quanto o compromisso brasileiro com a convivência democrática e a sustentabilidade.

O peso diplomático da COP30

Belém se prepara para receber um número recorde de delegações estrangeiras, representando países que, muitas vezes, sustentam posições divergentes sobre temas sensíveis da agenda climática. Esse mosaico geopolítico demanda um modelo de segurança adaptável, que combine rigor técnico com sensibilidade diplomática.

A PF, tradicionalmente envolvida em operações de segurança de chefes de Estado e eventos internacionais, articula protocolos de cooperação com o Ministério das Relações Exteriores, a Organização das Nações Unidas, e órgãos estaduais de segurança. O objetivo é garantir proteção sem comprometer a fluidez das negociações multilaterais.

De acordo com o comando da operação, o Brasil quer demonstrar que é possível conciliar segurança e hospitalidade — atributos essenciais para um país que pretende reafirmar seu protagonismo ambiental e diplomático no cenário internacional.

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Divugação – PF

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Liberdade de expressão como diretriz

Diferentemente de edições anteriores realizadas em países com restrições às liberdades civis, a COP30 no Brasil será um marco de abertura e diversidade. A conferência ocorre em um contexto pós-pandemia e num país onde movimentos sociais, povos originários e comunidades tradicionais têm voz ativa nas pautas ambientais.

A PF definiu, assim, uma estratégia voltada à proteção do direito de manifestação pacífica, evitando que a segurança se transforme em barreira. O plano prevê a criação de zonas seguras para protestos e espaços de diálogo entre sociedade civil e autoridades. A meta é assegurar o equilíbrio entre liberdade de expressão e ordem pública — um desafio especialmente sensível em um evento de alta visibilidade internacional.

Fontes da corporação afirmam que o objetivo não é conter, mas garantir a convivência harmônica entre os diferentes segmentos que compõem o ecossistema da COP30: negociadores, cientistas, lideranças indígenas, jovens ativistas e cidadãos de Belém.

Logística amazônica e tecnologia integrada

Realizar um evento dessa magnitude em plena Amazônia exige um aparato logístico singular. A PF estruturou um sistema de segurança multissetorial, que vai desde o controle migratório até a proteção de rotas aéreas e fluviais.

Entre as ações previstas estão o reforço das operações de imigração e a vigilância no Porto de Outeiro, que receberá dois navios de cruzeiro com delegações estrangeiras. A segurança também será ampliada na Base Aérea de Belém, porta de entrada de autoridades e representantes diplomáticos.

Cerca de 1.200 servidores — entre policiais e administrativos — já foram mobilizados para o plano, que inclui equipes especializadas em varredura antibomba, prevenção a crimes cibernéticos e combate ao terrorismo. A operação também envolve inteligência integrada com órgãos estaduais e internacionais, ampliando a capacidade de resposta diante de potenciais ameaças.

A logística da COP30 é vista como um laboratório para novas práticas de segurança sustentável: utilização de tecnologias de monitoramento de baixo impacto ambiental, otimização energética de sistemas de comunicação e capacitação de agentes locais.

Belém, vitrine da Amazônia global

Mais do que um desafio de segurança, a COP30 representa uma oportunidade de reposicionar Belém como vitrine amazônica para o mundo. O plano da PF não se limita à proteção física do evento, mas pretende reforçar a imagem da cidade como espaço de diálogo, diversidade e paz.

Com a floresta e os rios como cenário, a capital paraense se prepara para mostrar que a Amazônia é capaz de sediar, com eficiência e autonomia, um evento de escala planetária — e que a segurança, quando guiada por princípios democráticos, pode ser parte essencial de uma narrativa de confiança e cooperação global.

Caminho elétrico: a mineração sustentável da Norsk Hydro em Paragominas

A transição energética está avançando nas estradas de terra vermelha da Amazônia. No coração do Pará, a Norsk Hydro — uma das maiores produtoras integradas de alumínio do mundo — está eletrificando o transporte em sua mina de bauxita em Paragominas. A meta é ousada: até o fim de 2026, 20% da frota de caminhões será elétrica ou híbrida. O plano faz parte da estratégia global da empresa para reduzir em 30% suas emissões de carbono até 2030.

Segundo Edil Pimentel, gerente da mina, já circulam pelo complexo quatro caminhões movidos por energia elétrica — dois híbridos e dois totalmente elétricos. Outros 11 veículos devem chegar ao longo de 2026, consolidando o projeto de descarbonização da operação. Cada caminhão elétrico substitui um modelo a diesel padrão e evita a emissão de 190 toneladas de CO₂ por ano.

A eletrificação que nasce do solo amazônico

A mina de Paragominas é uma das maiores operações de bauxita do planeta, com produção anual de 11 milhões de toneladas. Espalhada por 18 mil hectares, a unidade opera 24 horas por dia, todos os dias do ano. Nesse ambiente intenso, cada avanço tecnológico representa ganhos não apenas econômicos, mas também ambientais.

A iniciativa da Hydro não se restringe aos caminhões de carga. Ônibus e carros que transportam funcionários dentro da mina também estão sendo eletrificados. O objetivo é reduzir, no total, 239 mil toneladas anuais de CO₂, segundo dados do site oficial da Hydro.

“Usar caminhões elétricos é uma forma de equilibrar sustentabilidade, eficiência e retorno econômico”, afirma Pimentel. “Além de reduzir emissões, eles se adaptam melhor às condições operacionais específicas da mineração.”

De fato, minas oferecem um ambiente favorável para a eletrificação: as rotas são curtas, o tráfego é controlado e há infraestrutura privada de recarga. Isso elimina uma das principais barreiras para veículos elétricos em rodovias públicas — a falta de pontos de energia.

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Foto: Hydro Paragominas

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Energia limpa e custos menores

Um dos diferenciais do projeto é o uso de energia renovável. A mina conta com sua própria rede elétrica, alimentada em mais de 90% por um parque eólico de 456 MW construído pela própria Hydro. De acordo com Carlos Neves, diretor de operações de bauxita e alumina da Hydro Brasil, essa estrutura permite custos de energia significativamente menores do que a média estadual.

Enquanto o preço médio do quilowatt-hora no Pará é mais alto, a Hydro paga entre US$ 0,04 e US$ 0,05 por kWh, o que torna a operação dos caminhões elétricos mais barata do que a dos modelos a diesel. Um caminhão totalmente elétrico consome cerca de 35 mil kWh por mês, com custo mensal entre US$ 1.400 e US$ 1.750 (aproximadamente R$ 7.600 a R$ 9.500).

Comparando motores e impactos

Os caminhões convencionais da mina — modelos semirreboque 8×4 — transportam até 70 toneladas por viagem e consomem até 19 litros de diesel por hora. Rodando 21 horas por dia, um único caminhão pode queimar mais de 13 mil litros de combustível por mês. A substituição gradual por veículos elétricos e híbridos representa uma economia de combustível e emissões que se multiplica conforme a frota cresce.

Os primeiros caminhões totalmente elétricos foram adquiridos da Sany, fabricante chinesa especializada em maquinário pesado. Cada veículo é equipado com uma bateria LFP de 350 kWh, capaz de ser recarregada completamente em 60 a 80 minutos e operar por até cinco horas com uma carga. Já os modelos híbridos utilizam motor a diesel combinado a uma bateria de 600 volts, oferecendo flexibilidade e maior capacidade de carga — até 90 toneladas, dependendo da configuração.

O futuro elétrico da mineração amazônica

A experiência de Paragominas mostra que a descarbonização da mineração não é apenas uma meta ambiental, mas também uma estratégia de competitividade. Ao investir em eletrificação e energia limpa, a Hydro reduz custos operacionais, melhora sua imagem corporativa e antecipa exigências regulatórias e de mercado.

Mais do que um avanço técnico, trata-se de um símbolo: no coração da Amazônia, uma gigante do alumínio aposta em tecnologia limpa para reinventar a mineração. É um movimento que reforça a mensagem de que a sustentabilidade não é um custo, mas um investimento inteligente no futuro.

Aprender brincando: o lúdico como ferramenta de transformação sustentável

Em tempos em que o mundo enfrenta desafios complexos, das mudanças climáticas à crise de engajamento humano, a busca por novas formas de inspirar a transformação social nunca foi tão urgente. É nesse contexto que a palestra “Aprender Brincando: o Lúdico como Ferramenta de Transformação Sustentável”, com Ricardo Oliani, convida o público a repensar a maneira como aprendemos, nos comunicamos e agimos em prol da sustentabilidade.

A atividade, gratuita, online e com certificação, acontece no dia 12 de novembro de 2025, das 17h às 18h30, dentro da programação do Sustentare-WIPIS 2025. Para garantir o certificado, é necessário estar inscrito no evento e marcar interesse na atividade pela plataforma Even3.

O poder transformador do lúdico

Ricardo Franceschini Oliani construiu, ao longo de mais de três décadas, uma trajetória singular unindo sustentabilidade, comunicação e inovação. Sua experiência o levou a explorar territórios em que o aprendizado se torna experiência, onde o jogo, a curiosidade e o afeto são ferramentas poderosas de mudança.

De tabuleiros a jogos digitais, de dinâmicas coletivas a filmes e vivências criativas, Oliani mostra que o brincar é uma linguagem universal, capaz de conectar pessoas, despertar senso crítico e estimular atitudes sustentáveis. Sua abordagem parte de um princípio simples e profundo: é possível aprender de forma leve e, ainda assim, provocar transformações reais.

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A arte de engajar para mudar

Em um cenário em que discursos sobre sustentabilidade muitas vezes soam distantes ou excessivamente técnicos, Ricardo propõe um caminho mais humano, o da empatia e da experimentação. Ele acredita que o lúdico pode transformar a forma como empresas, escolas e comunidades percebem sua responsabilidade socioambiental.

Como ele costuma afirmar, “ninguém muda o mundo com planilhas, mas com propósito, colaboração e criatividade”. E é exatamente esse o eixo de sua palestra: mostrar que engajar não é apenas informar, mas mobilizar emocionalmente.

Uma carreira construída entre propósito e prática

Com uma formação sólida e um olhar voltado à inovação, Ricardo Oliani é especialista em Liderança para as Mudanças Climáticas, Consumo Consciente e Sustentabilidade. É fundador e conselheiro da ABRAPS – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, além de mentor de startups de impacto social pelo Founder Institute e consultor de negócios de impacto na Mosai&CO Consultores.

Também é o criador do Mercado Ambiental, portal fundado em 2001 e considerado um dos pioneiros na divulgação de conteúdos sobre responsabilidade socioambiental no Brasil.

Professor e palestrante em temas como Marketing Ambiental, ESG, ISO 26000, Gestão de Resíduos e Educação para a Sustentabilidade, Ricardo tem atuado em projetos que unem conhecimento técnico e criatividade. Seu trabalho inspira lideranças a enxergar o aprendizado como um processo contínuo, prazeroso e conectado à vida real.

Do jogo à consciência

As ferramentas criadas por Oliani — que vão de jogos de tabuleiro a experiências gamificadas — não se limitam à educação formal. Elas promovem interações significativas entre pessoas e organizações, estimulando a tomada de decisão ética e a corresponsabilidade ambiental.

Ao transformar o aprendizado em jogo, Ricardo propõe uma inversão de perspectiva: aprender não é acumular informação, mas vivenciar o conhecimento. Esse é o ponto em que o lúdico encontra o propósito — e onde a sustentabilidade deixa de ser um conceito distante para se tornar uma experiência cotidiana.

Sustentabilidade com significado

Mais do que uma palestra, o encontro com Ricardo Oliani é um convite à reflexão sobre o papel de cada indivíduo na construção de um futuro mais sustentável e humano. Ele mostra que, quando o aprendizado desperta emoção, a mudança se torna inevitável.

E talvez essa seja a grande lição do evento: a sustentabilidade não se ensina apenas com dados, mas com histórias, experiências e empatia. O brincar, nesse contexto, é uma ferramenta política e poética, uma forma de reconectar o ser humano à natureza, ao outro e a si mesmo.

Inscreva-se aqui: https://www.even3.com.br/sustentare-wipis-2025-533538/

A segurança alimentar precisa estar no centro das decisões da COP30

À medida que o planeta enfrenta uma das maiores encruzilhadas de sua história, a fome e a crise climática deixaram de ser problemas isolados. Elas agora se entrelaçam num círculo vicioso que ameaça o bem-estar de bilhões de pessoas. Em novembro de 2025, quando líderes mundiais se reunirem em Belém para a COP30, o debate sobre resiliência e segurança alimentar precisará ocupar o centro das negociações. Garantir sistemas alimentares sustentáveis e justos é, mais do que nunca, um imperativo de sobrevivência — tanto para o planeta quanto para as populações mais vulneráveis.

Segundo o SDG2 Advocacy Hub, alcançar o segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável — “Fome Zero” — depende de ações que unam clima, agricultura, nutrição e equidade social. Isso exige enfrentar as desigualdades que moldam os sistemas alimentares globais: o acesso desigual à terra e à água, práticas agrícolas predatórias, a concentração de renda e o impacto desproporcional das mudanças climáticas sobre o Sul Global.

Enquanto países ricos investem em tecnologias de adaptação, comunidades inteiras na África, Ásia e América Latina enfrentam colheitas perdidas, safras imprevisíveis e a escalada dos preços de alimentos básicos. Em 2024, o Global Report on Food Crises registrou mais de 295 milhões de pessoas em 53 países vivendo em insegurança alimentar aguda — um número impulsionado por eventos climáticos extremos e instabilidade econômica.

O elo entre clima e agricultura

A agricultura, responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, é também uma das principais vítimas do aquecimento global. Secas prolongadas, enchentes devastadoras e pragas intensificadas estão redesenhando o mapa da produção agrícola mundial. A cada novo desastre, comunidades rurais perdem mais do que suas colheitas: perdem a base de sua segurança, cultura e dignidade.

Um exemplo emblemático é o Ciclone Freddy, que em 2023 destruiu plantações e matou mais de 1,4 milhão de animais em Malawi, segundo dados da Oxfam. Mais de 2 milhões de agricultores foram afetados. Sem seguro, sem reservas financeiras e sem apoio governamental, muitos ficaram sem sementes ou ferramentas para recomeçar. O caso de Malawi não é exceção — é um retrato global de como a crise climática empurra agricultores para um ciclo de pobreza e fome.

E, paradoxalmente, são os pequenos agricultores que sustentam o mundo. Estima-se que eles sejam responsáveis por cerca de um terço de toda a produção alimentar global, mas recebem apenas 0,8% do financiamento climático anual, de acordo com a ClimateShot Investor Coalition. Sem acesso a crédito, tecnologia e políticas de adaptação, eles enfrentam os impactos mais severos do clima com os menores recursos.

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Imagem: Marcos Vicentti/Secom

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O papel do Brasil: da floresta à mesa

Sediando a COP30, o Brasil está em posição estratégica para liderar uma transformação global nos sistemas alimentares. O país é simultaneamente potência agrícola e guardião da maior floresta tropical do planeta. No entanto, essa dualidade também revela contradições profundas: o avanço da fronteira agrícola, impulsionado por grandes corporações e pela demanda global por carne e soja, é o principal vetor de desmatamento na Amazônia — responsável por cerca de 80% da perda florestal, segundo o MapBiomas.

Essa equação, porém, pode ser redefinida. O Brasil tem o potencial de mostrar ao mundo que é possível produzir alimentos de forma regenerativa, fortalecendo agricultores familiares, valorizando cadeias da sociobiodiversidade e promovendo uma agricultura de baixo carbono. Integrar nutrição, biodiversidade e justiça social à pauta climática é o passo decisivo para uma nova política alimentar global.

Financiamento e justiça climática

Os números escancaram a urgência. O setor de agricultura e alimentação recebe menos de 5% do financiamento climático global, segundo o UNDP. Pesquisas indicam que seriam necessários US$ 1,1 trilhão por ano até 2030 para alcançar sistemas alimentares sustentáveis que gerem empregos, protejam a natureza e cumpram o Acordo de Paris.

Se o mundo não agir agora, quatro consequências são inevitáveis:

  1. O aumento da fome global, com milhões enfrentando insegurança alimentar aguda.

  2. O colapso dos sistemas agrícolas locais, especialmente nos países mais vulneráveis.

  3. O abandono dos pequenos agricultores, sem recursos para adaptação e recuperação.

  4. A continuidade do ciclo destrutivo entre degradação ambiental e desigualdade social.

Investir em resiliência alimentar não é apenas uma estratégia de mitigação climática — é uma política de justiça global. Significa garantir que povos indígenas, agricultores familiares e comunidades tradicionais possam viver da terra sem destruí-la, que o alimento chegue a todos e que a economia da floresta viva tenha valor real.

A hora da decisão

Em Belém, durante a COP30, o desafio será transformar intenções em compromissos concretos. Isso significa aumentar o financiamento climático voltado à agricultura sustentável, apoiar redes de pequenos produtores e incluir políticas de nutrição e alimentação nas metas de adaptação climática.

A segurança alimentar deve ser tratada como um pilar da ação climática, e não como consequência dela. O futuro da comida — e, por extensão, da humanidade — depende de que governos, empresas e sociedade civil entendam que combater a crise climática e combater a fome são, essencialmente, a mesma luta.

Parque de Bioeconomia no Pará transforma floresta em inovação

Na orla histórica de Belém, à beira da Baía do Guajará, ergue-se um novo símbolo de inovação para o Norte do Brasil. O Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, concebido e entregue pelo Governo do Estado do Pará, emerge como o primeiro de seu tipo no mundo para explorar o potencial da floresta viva como fonte de conhecimento, renda e transformação social. Instalado nos Armazéns 5 e 6 do Complexo Porto Futuro, o empreendimento reúne ciência de ponta, tecnologia e saberes tradicionais em uma estrutura que conecta comunidades da floresta, startups, pesquisadores e investidores.

No Armazém 5 está o Centro de Negócios, que abriga o Centro de Sociobioeconomia e o Centro de Gastronomia Social: coworkings, incubadoras e aceleradoras se misturam a espaços de evento, showrooms e um balcão único que liga empreendedores a soluções tecnológicas e produtivas. No Armazém 6, o Laboratório-Fábrica integra o Centro de Inovação, dotado de planta-piloto para produção experimental de alimentos, cosméticos e químicos finos derivados de insumos amazônicos — um lugar onde o saber ancestral dá lugar à aplicação contemporânea.

“O parque representa um compromisso com o futuro e com o bem-viver da população amazônica”, afirma a secretária adjunta da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade do Pará (Semas), Camille Bemerguy. A ideia central é clara: transformar a floresta que antes era vista apenas como “paisagem” em solução. A floresta viva passa a ser infraestrutura de inovação e de geração de valor, sem ser destruída no processo.

Para agricultores, empreendedores de comunidades tradicionais e startups locais, o parque abre novas portas. Esse é o caso de Leonardo Modesto, chefe de cozinha e membro da startup “Maniua”, que viaja entre o uso de tecnologia de ponta e os conhecimentos de sua comunidade. “No Parque de Bioeconomia a gente consegue fundir os dois e levar para o mundo”, comenta. Para ele, trata-se de “um salto não só de bioeconomia, mas na sustentabilidade da comunidade”.

20251024174313-GC00071906-F00269955-400x267 Parque de Bioeconomia no Pará transforma floresta em inovação
Foto: Bruno Cecim / Ag. Pará

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O momento não poderia ser mais oportuno. Com a realização da COP30 em Belém às portas, o parque reforça o papel estratégico do Pará no cenário global de desenvolvimento sustentável. Segundo a governança estadual, o complexo com seus seis mil metros quadrados posiciona o Estado como epicentro da bioeconomia nas Américas e como protagonista de uma nova economia amazônica que alia conservação, inovação e inclusão.

Mas o projeto vai além da beleza institucional e dos discursos: os números indicam avanço concreto. Em 2019, eram citados 80 negócios de bioeconomia no Estado; em 2025, já se destacavam cerca de 300 negócios ativos segundo um dos relatórios. Esse crescimento revela que a transição proposta — de extração sem valor agregado para economia baseada na sociobiodiversidade — começa a se consolidar.

Há ainda um aspecto de justiça social que permeia o projeto: comunidades tradicionais, povos da floresta e saberes ancestrais foram integrados desde a concepção. Como afirmou a empreendedora Juliana Monteiro, da empresa “Jucarepa”, o parque “possibilita que empresas que trabalham com os insumos da sociobiodiversidade amazônica possam agregar mais valor à produção”. O acesso a maquinários de alta tecnologia dentro do Estado é, para ela, “uma mudança de paradigma para os negócios locais e para a própria Amazônia”.

Mas o significado vai além de produção ou economia local. Trata-se de pensar a floresta como um ativo estratégico de uma economia amazônica que tem enfoque de baixo carbono, inclusão e preservação — uma alternativa ao modelo tradicional de degradação e exportação de matéria-prima. No escopo do plano estadual de bioeconomia (PlanBio), coordenado pela Semas, o parque representa uma peça da engrenagem que visa integrar pesquisa, desenvolvimento, inovação, valorização de saberes e acesso a mercados.

Em suma, o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia abre a porta para ver a floresta viva não apenas como cenário ou reserva ambiental, mas como fonte de renda, conhecimento e protagonismo. Ele convida a imaginar uma Amazônia que transforma sua biodiversidade em valor, que integra povos tradicionais na cadeia de inovação, que faz da ciência e da tecnologia aliadas da floresta e não inimigas dela. É um salto rumo a um novo capítulo para a economia amazônica — uma economia em pé, vibrante, justa e inventiva.

Brasil lançará fundo global para pagar países que preservam florestas tropicais, durante a COP30

O mundo vive um momento de convergência crítica: enquanto a crise climática se intensifica e os compromissos de financiamento muitas vezes ficam aquém da urgência, surge uma proposta ousada e brasileira para mudar as regras do jogo. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é mais do que uma iniciativa de conservação — é uma aposta de que florestas tropicais não são apenas biomas a serem protegidos, mas infraestrutura planetária que merece investimentos à altura. Sob liderança brasileira, em diálogo com outros países, povos indígenas, comunidades tradicionais e a sociedade civil global, o TFFF busca assegurar que preservar florestas tropicais seja financeiramente viável, previsível e duradouro.

Ao contrário de mecanismos tradicionais baseados principalmente em doações, o modelo do Fundo propõe um capital de longo prazo — vindo de governos, filantropias e empresas — que será aplicado em ativos de renda fixa. Os rendimentos desse investimento alimentarão, ano após ano, pagamentos aos países que mantiverem suas florestas em pé. Esse design inverte a lógica de “doação para projeto” e cria um fluxo financeiro contínuo para conservação. A partir de critérios claros — como uma taxa de desmatamento inferior à média global e a destinação de ao menos 20 % dos recursos para povos indígenas e comunidades tradicionais —, o Fundo estabelece uma relação de recompensa pelo serviço global que as florestas prestam: absorver carbono, conservar biodiversidade, sustentar modos de vida ancestrais.

O Brasil, país anfitrião da COP30 em Belém, assumiu um compromisso que sinaliza credibilidade: o aporte de US$ 1 bilhão (aproximadamente R$ 5,3 bilhões) para o Fundo, ainda que condicionado à adesão de outros países que devem anunciar seus aportes durante a conferência. A meta global de capitalização beira os US$ 125 bilhões, um montante que sinaliza ambição e escala. E para garantir que a proposta não fique apenas no discurso, o Banco Mundial foi escolhido como administrador fiduciário e abrigo interino do Secretariado do TFFF — oferecendo governança, supervisão e transparência necessárias para que o mecanismo saia do papel e se torne operacional.

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Reprodução

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Essa proposta surge num momento em que o financiamento climático para florestas tropicais é historicamente baixo — menos de 4 % dos fluxos totais de financiamento climático, segundo a Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ao colocar florestas tropicais no centro da agenda da COP30 — apelidada de “COP da Amazônia” — o Brasil está colocando em evidência o valor estratégico desses ecossistemas, não apenas para o país, mas para todo o planeta.

Mas nem tudo é consenso ou caminho livre: ONGs, especialistas e comunidades tradicionais têm chamado atenção para os desafios do desenho do TFFF. Questões como a participação real de povos indígenas e comunidades locais, o risco de tratar florestas como commodities financeiras e a necessidade de monitoramento robusto e equitativo estão na mesa — e exigem que o mecanismo entregue mais do que promessa. Vigília, transparência e governança serão tão importantes quanto o montante financeiro.

O Fundo, se bem desenhado e implementado, pode redefinir o que significa financiar florestas tropicais — de um custo para uma oportunidade. O capital investido não será simplesmente uma saída de recursos públicos, mas um motor que remunerará quem conservar, gerando ganhos para biodiversidade, clima e sociedade. Em suma, é um chamado para transformar o guarda-chuva de “conservação ambiental” em um pacto de investimento global no futuro.

A COP30 em Belém será o palco decisivo. Lá, os anúncios de aportes, o início operacional do Fundo e a convergência de parceiros públicos e privados poderão marcar uma virada na forma como vemos florestas tropicais — como parte da solução, não apenas como parte do problema. Se o TFFF cumprir seu potencial, ele pode ser um legado duradouro da conferência: florestas em pé, comunidades empoderadas, financiamento previsível e ação global de fato.

SNCT 2025 aproxima o público do universo da ciência no Brasil

O Brasil vive, de norte a sul, a 22ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que este ano traz como tema “Planeta Água: a cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território”. O evento marca uma etapa importante na aproximação da ciência com a sociedade, levando laboratórios, oficinas e exposições às escolas, praças e museus em todas as regiões do país.

Nos rincões amazônicos, por exemplo, instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em Manaus e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) em Tefé promovem atividades que misturam aquicultura, restauração florestal, saberes tradicionais e inteligência artificial aplicada à biodiversidade. O Brasil “da água doce” vê nesse tema uma ponte para tratar de clima, cultura e comunidade.

No litoral nordestino, o evento vai além da sala de aula: na Bahia, o governo estadual lança o Prêmio Bahia Faz Ciência de Jornalismo, e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) leva planetário e sessões interativas a cidades como Salvador e Juazeiro. Em Pernambuco, o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) reúne estudantes para explorar hidrogênio verde, bioplásticos e monitoramento costeiro. A ciência sai do laboratório e se mostra ferramenta de transformação local.

Na região Centro-Oeste, estados como Mato Grosso premiam pesquisas com até R$ 40 mil e lançam revistas científicas que reúnem mais de 90 autores. Já em Goiás e Tocantins, institutos federais articulam oficinas sobre saneamento, clima e recursos naturais, conectando estudantes e comunidade com a ciência aplicada ao território.

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Fonte: Iberdrola, S.A

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O Sudeste também observa a onda: em São Paulo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) abre visitas aos satélites, telescópios e laboratórios. No Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) promovem experiências imersivas com observações astronômicas e discussões sobre biodiversidade marinha.

No Sul, a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) mobiliza hackathons, feiras científicas e apresentações culturais em municípios costeiros catarinenses e gaúchos, abordando gestão da água, inclusão social e ancestralidade. A ciência se articula como cultura popular — e não apenas como tema acadêmico.

O que torna essa edição da SNCT especialmente relevante é o foco explícito no oceano — ou melhor, na cultura oceânica — mesmo em regiões longínquas do litoral. Como destaca o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), “colocar o oceano no centro” sinaliza que o Brasil compreende a relação da água — marinha, fluvial ou subterrânea — com o clima, a alimentação, a economia e a inovação.

Essa aposta mostra que a ciência popular pode ser estratégica: levar oficinas, feiras, aplicativos, laboratórios temáticos até comunidades ribeirinhas ou escolas de periferia significa abrir uma porta para o que se costuma chamar “ciência cidadã”. A SNCT, em 2025, não é apenas um calendário de eventos — é um convite para refletir como cada território pode contribuir para a resposta às mudanças climáticas por meio da cultura oceânica.

É também uma vitrine de políticas públicas de divulgação científica: o MCTI, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), abriu chamadas públicas para apoiar eventos que tratem desse tema em todo o país. Em estados afastados da costa, isso assume conotação simbólica: a cultura oceânica aplicada aos rios, ao clima e à água doce revela que “litoral” não é a única “porta de entrada” para o oceano.

Para escolas, jovens pesquisadores e comunidades, a semana representa ainda uma oportunidade de ver a ciência de perto — não como algo distante, mas como parte da vida cotidiana, do território onde se vive e da água que se usa ou que corre ao redor. A mobilização diz: a ciência está em cada gota, em cada rio, em cada mar, em cada mudança de clima. Seja em Belém, em Brasília ou no extremo sul do país, a 22ª SNCT convida a “mergulhar” nessa grande onda do conhecimento.

Instrumentos verdes vão ancorar proposta do Brasil na COP30

O Brasil pretende chegar à COP30 com um pacote de instrumentos financeiros desenhados para transformar o combate ao desmatamento em vetor de desenvolvimento e atrair capital privado para a economia verde. A estratégia foi detalhada pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, durante o 28º Congresso Internacional de Direito Constitucional, promovido pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), em Brasília.

Durigan defendeu que o enfrentamento da crise climática deve ser visto não como obstáculo, mas como oportunidade para o país construir um novo ciclo de prosperidade. Segundo ele, a resposta brasileira precisa combinar reindustrialização, estabilidade fiscal e inovação financeira — uma tríade capaz de alinhar crescimento econômico e preservação ambiental.

Desenvolvimento a partir da floresta

O secretário destacou que, ao contrário do Norte Global, cujo foco está na transição energética, o Brasil tem no desmatamento a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa. “Nosso desafio é o desmatamento. A partir dele, construímos as soluções que podem inspirar o mundo”, afirmou.

Para Durigan, o país reúne condições únicas para liderar uma nova economia sustentável, amparada por políticas públicas testadas democraticamente e resultados mensuráveis. Ele ressaltou que a COP30, que será sediada em Belém (PA), é a oportunidade de consolidar essa liderança com propostas concretas.

Fundo Florestas Tropicais para Sempre

Entre as iniciativas apresentadas, uma das principais é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF), lançado na COP28 em Dubai. O mecanismo busca captar recursos de investidores internacionais, com retorno financeiro, para apoiar países detentores de florestas tropicais.

O Brasil fez o primeiro aporte de US$ 1 bilhão ao fundo soberano que alimenta o TFFF. A proposta, explica Durigan, é simples e transformadora: os rendimentos desses investimentos serão repassados para ações de preservação e fortalecimento de economias florestais em países como Peru, Colômbia, Indonésia e República Democrática do Congo.

“Não estamos pedindo doações, mas investimentos. É um modelo de corresponsabilidade que remunera o investidor e beneficia quem protege as florestas”, disse o secretário. O fundo, segundo ele, será uma das principais inovações apresentadas pelo Brasil na conferência de Belém.

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Ignacio Palacios/Getty Images

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EcoInvest: proteção cambial e atração de capital

Outro projeto destacado foi o EcoInvest, desenvolvido pelo Tesouro Nacional. O instrumento oferece proteção cambial a investidores estrangeiros que aportem recursos em projetos sustentáveis e de baixo carbono no Brasil. A medida busca reduzir a percepção de risco e ampliar o fluxo de capital de longo prazo em setores estratégicos, como reflorestamento, infraestrutura resiliente, energia limpa e inovação verde.

O EcoInvest responde a uma antiga queixa da indústria internacional: a volatilidade cambial brasileira. Com o mecanismo, o governo pretende transformar essa vulnerabilidade em atrativo, posicionando o país como destino seguro e competitivo para investimentos sustentáveis.

Política fiscal como base da transição ecológica

Durigan também defendeu que o sucesso da agenda verde depende da estabilidade macroeconômica. Ele lembrou que, após uma década de instabilidade, o país voltou a equilibrar as contas públicas e projeta o primeiro superávit em mais de 12 anos.

“Estabilizar as expectativas fiscais é fundamental para criar confiança e atrair capital produtivo”, afirmou. Segundo ele, o equilíbrio das contas, o controle da inflação e a gestão prudente do balanço externo criam as condições necessárias para financiar a transformação ecológica sem comprometer a responsabilidade fiscal.

Além da agenda ambiental, o secretário ressaltou a diversificação comercial do país, que reduziu a dependência das exportações para os Estados Unidos e abriu mais de 400 novos mercados. Essa ampliação, argumentou, dá sustentação à política industrial e climática, garantindo soberania e resiliência à economia brasileira.

Rumo a um novo pacto de desenvolvimento

Ao final, Durigan reforçou que o objetivo da Fazenda é “projetar o futuro do país” com base em inovação e pragmatismo. “O presente é feito para melhorar as bases da nossa economia. O futuro precisa ser construído com responsabilidade e imaginação”, concluiu.

Com iniciativas como o TFFF e o EcoInvest, o Brasil quer chegar à COP30 com o discurso de que preservar a floresta e crescer economicamente não são caminhos opostos, mas partes de um mesmo projeto nacional de desenvolvimento sustentável.

Primeiro corredor verde na Amazônia impulsiona mobilidade limpa

Desde 2019, um grupo de mais de 47 cientistas, pesquisadores e estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) vem trabalhando em um projeto de mobilidade que inaugura o primeiro corredor verde de transporte na Amazônia. Esse sistema inovador combina dois ônibus elétricos, uma embarcação elétrica, estações de recarga, painéis fotovoltaicos e um aplicativo de geolocalização, e agora se prepara para ganhar destaque internacional com a aproximação da COP30.

Batizado de Sistema Inteligente Multimodal da Amazônia (Sima), o projeto teve origem em um esforço acadêmico e institucional, com apoio da Norte Energia — concessionária da Usina Hidrelétrica de Belo Monte — via regulamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O sistema foi concebido para transformar a circulação no entorno da UFPA em Belém e no campus de Castanhal, com uma embarcação elétrica, batizada de Catamarã Poraquê (em homenagem ao peixe elétrico amazônico), e ônibus movidos a bateria: um veículo para o percurso entre campus Castanhal ↔ Belém e outro para a circulação interna da cidade-universitária. A travessia do rio Guamá pela embarcação, entre três paradas, leva cerca de 15 minutos e pode alcançar até 40 km em um dia, à média de 13 km/h.

Além de veículos, o Sima integra: estações de recarga, painéis solares (incluindo um sistema “zero energy” instalado no edifício Mirante do Rio, com capacidade para atender mais de 2.500 alunos), e um aplicativo de geolocalização chamado Norte Rotas, além de software de gestão em nuvem (via plataforma Dojot) para armazenar e processar dados da infraestrutura.

No plano científico, o projeto não é apenas piloto: ele gerou 29 trabalhos acadêmicos (5 teses de doutorado, 10 dissertações de mestrado, 14 TCCs de graduação), 18 artigos em congressos e seminários nacionais e internacionais, e dez artigos em revistas especializadas.

Os números de impacto ambiental são expressivos: com os ônibus elétricos, estima-se evitar até 61 toneladas de CO₂ por ano; com a embarcação elétrica até 100 toneladas anuais, totalizando cerca de 161 toneladas de gases de efeito estufa evitados — o equivalente à emissão anual de aproximadamente 30 carros populares.

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Sistema Inteligente Multimodal da Amazônia(SIMA) foto: Jaime Souzza/Norte Energia

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Para a universidade, para a região amazônica e para o Estado do Pará, os ganhos vão além da mobilidade: trata-se de formar recursos humanos em energias renováveis e mobilidade elétrica, gerar softwares, patentes e inovação local. Como disse a professora Maria Emília Tostes, do Centro de Excelência e Eficiência Energética da Amazônia (UFPA), este é “o primeiro corredor verde de transporte de toda a região Norte”.

Para a Norte Energia, financiadora do projeto, fala-se de fomento à ciência, à sociedade e à eficiência energética, em consonância com os objetivos climáticos da COP30.

A embarcação Catamarã Poraquê, em particular, mereceu atenção detalhada: seis metros de largura, 12 m de comprimento, calado de 72 cm, construída em alumínio naval com atenção ao peso extra das baterias (uma tonelada só de baterias) e dois motores elétricos de 12 kW cada — o equivalente a um motor a combustão de cerca de 20 hp. Placas solares instaladas na cobertura fornecem parte da energia para as baterias, e um posto de recarga abaixo no píer já opera com energia solar do campus.

Há também desafios que não podem ser ignorados: implantar infraestrutura elétrica em regiões de difícil acesso; integrar todos os modais; garantir conectividade e gestão; e formar usuários e comunidades para utilizarem os novos meios. Mas o legado simbólico e prático é claro: uma rota de transporte sustentável em plena Amazônia, combinando inovação técnica, educação e meio ambiente.

À medida que a COP30 se aproxima em Belém, o Sima oferece mais do que tecnologia — simboliza a convergência entre mobilidade, clima e inclusão regional. Ele mostra que não basta falar de descarbonização: é preciso agir no território, conectar pessoas, equipamentos, energia e dados. Trata-se de desenhar um futuro em que uma universidade, uma usina, uma comunidade e uma embarcação elétrica caminhem juntas rumo à mobilidade limpa, à pesquisa aplicada e à Amazônia conectada.

Se esse projeto der certo — e tudo indica que está no caminho — ele pode servir de modelo para outras regiões amazônicas e para todo o mundo que busca transporte inteligente, verde e inclusivo.