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Conectividade sustentável no Brasil: laboratório digital da COP30

No palco de preparação para a COP30, que acontecerá em Belém do Pará, o Brasil está assumindo a ambiciosa tarefa de virar laboratório de inovação digital para a sustentabilidade — reunindo conectividade, inclusão social e tecnologia com o propósito de preservar a Amazônia. Nesse cenário, a transformação digital se torna peça-chave para articular desenvolvimento econômico, justiça social e proteção ambiental de forma interligada.

Para o vicepresidente de Inovação da empresa Arqia, Daniel Fuchs, o país tem à frente um conjunto de 30 objetivos — delineados na chamada “Quarta Carta da Presidência da COP30” — que apontam para uma digitalização ética, inclusiva e orientada pela governança. Desses, os que mais tocam a realidade brasileira envolvem o fortalecimento de uma infraestrutura digital pública, a promoção da conectividade como instrumento de inclusão e o uso responsável de tecnologias emergentes, como a inteligência artificial.

Num território de proporções continentais como o brasileiro, ampliar a cobertura de fibra óptica, redes 5G, redes privativas e comunicações por satélite torna-se essencial para integrar comunidades até agora à margem do universo digital. Como observa Fuchs, quando uma escola em uma região remota recebe acesso de qualidade à internet, abre-se uma porta que vai muito além do simples “estar online”: trata-se de reduzir desigualdades, dar voz a territórios periféricos e preparar uma nova geração para a economia digital. Paralelamente, ele ressalta que a governança de dados e o respeito à diversidade cultural precisam caminhar lado a lado com a expansão tecnológica — o Brasil tem a chance de mostrar ao mundo que digitalização pode pautar-se pela inclusão e ética.

Os programas públicos como Wi‑Fi Brasil, Norte Conectado e Escolas Conectadas já levam internet de qualidade a regiões historicamente excluídas — especialmente na Amazônia. Essas iniciativas não apenas lançam a base física da conectividade, mas criam as condições para que aplicações de ponta – Internet das Coisas (IoT), monitoramento ambiental ou telemedicina – prosperem. Assim, conectar comunidades ribeirinhas ou escolas em áreas remotas significa conectar vidas, gerar oportunidades e apoiar compromissos climáticos, uma vez que a digitalização reduz desperdícios e eleva a eficiência em cadeias produtivas e serviços públicos.

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A chamada “infovia digital” — composta por cabos submersos, redes de fibra óptica e satélites — assume papel estratégico nesse desenho. A combinação de alta capacidade, baixa latência e alcance amplo permite que o Brasil se fortaleça na Amazônia e crie bases que associam tecnologia, natureza e desenvolvimento sustentável.

Tecnologias avançadas, como a inteligência artificial, entram no jogo com promessas ambiciosas: prever eventos climáticos extremos, otimizar o consumo de energia, reduzir emissões nas cadeias produtivas. No setor agrícola, por exemplo, algoritmos ajudam a decidir com precisão sobre irrigação, fertilizantes e logística; no ambiente urbano, modelam mobilidade, saneamento e cidades inteligentes. Mas para que esse futuro se realize de fato, é necessário que a conectividade seja estável e em larga escala — e que a governança de dados funcione com ética, transparência e respeito.

O setor privado também tem protagonismo. A plataforma Brasil de Soluções reúne 135 iniciativas de diferentes portes e segmentos que não se limitam a adotar tecnologias limpas, mas repensam processos inteiros para reduzir desperdícios e gerar valor duradouro. Esse tipo de rede conecta impacto ambiental e econômico, ajuda a escalar soluções locais e internacionaliza o know-how brasileiro.

O 5G, em especial, emerge como peça-chave da transformação digital: em agricultura, saúde, energia e transporte, a combinação de fibra óptica, IoT e 5G permite aplicações críticas como cirurgias remotas, veículos autônomos ou redes inteligentes de energia. No Brasil, mais de 11 mil provedores de internet — muitos locais — têm sido determinantes na capilaridade da digitalização, ajudando a levar conectividade a nichos regionais e a impulsionar inovação descentralizada.

Há ainda iniciativas científicas estratégicas como o experimento AmazonFACE, que une ciência e tecnologia na Amazônia. O projeto mede os efeitos do aumento de CO₂ e das mudanças climáticas sobre a maior floresta tropical do mundo, produzindo dados para orientar políticas públicas e estratégias de mitigação. Essa ciência conecta ambientes remotos, tecnologia de ponta e governança climática.

Mas os desafios permanecem. A desigualdade regional, a deficiência da infraestrutura elétrica em áreas remotas e os custos elevados de implantação dificultam o acesso à tecnologia. Além disso, não basta levar o cabo ou o sinal: é preciso capacitar as pessoas para utilizar essas tecnologias, alfabetizar digitalmente e garantir que a conectividade venha acompanhada de oportunidades. A regulação também tem que evoluir, para equilibrar privacidade, segurança de dados e inovação.

Na educação, conectar escolas significa abrir o mundo para milhões de jovens. Na saúde, significa levar telemedicina e capacitação além dos centros urbanos. Na economia, significa permitir que pequenos produtores e empreendedores acessem mercados e tecnologias que antes lhes eram inacessíveis. E os dados gerados em tempo real ajudam gestores a tomar decisões adaptadas às necessidades locais.

Para Fuchs, o legado da COP30 pode ser justamente essa: mostrar ao mundo que inclusão, inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas. Espera-se que, ao término do evento, haja mais escolas conectadas, projetos de IoT ambiental em funcionamento e maior visibilidade internacional para soluções brasileiras. O impacto não ficará só no Brasil. O país pode inspirar outras nações a digitalizar com propósito — unindo clima, inovação e justiça social.

Com a COP30 se aproximando, o Brasil tem hoje uma oportunidade singular: provar que tecnologia não precisa ser sinónimo de exclusão ou aceleração desenfreada, mas de inclusão, preservação, transformação compartilhada. A Amazônia, ao mesmo tempo que exige cuidado, pode ser palco de uma nova era digital — mais conectada, mais justa, mais sustentável — e o Brasil pode liderar esse caminho.

A virada verde do Brasil: Decreto federal obriga uso de plástico reciclado em embalagens

Em um movimento há muito aguardado pelo setor de reaproveitamento, o Governo Federal publicou, na última quarta-feira (22), o Decreto nº 12.688/2025, que impõe à indústria brasileira a inclusão de percentuais mínimos de plástico reciclado na composição de novas embalagens e produtos. A medida, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), finalmente regulamenta uma parte crucial da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), embora chegue com significativo atraso após intensa disputa interna na indústria.

Para o setor de reciclagem, que lida com a produção anual de 11 milhões de toneladas de lixo plástico no país, a norma é um avanço crucial. A obrigatoriedade do conteúdo reciclado representa uma visão “sistêmica”, como descreve João Paulo Sanfins, vice-presidente da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap). O decreto rompe com a inércia, equilibrando o estímulo à coleta com a criação de uma demanda previsível e robusta por material reciclado, o que fortalece o mercado de sucata e resinas.

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O processo de destravamento da norma, prometida desde 2023, foi marcado por resistências de fabricantes, mas encontrou um catalisador no cenário geopolítico. Sanfins afirma que a pressão internacional pela sustentabilidade e o simbolismo da iminente realização da COP30 no Brasil aceleraram as negociações.

O texto do decreto vai além da simples imposição de metas. Ele estabelece uma responsabilidade compartilhada ao determinar que as empresas implementem sistemas de logística reversa — investindo na coleta, triagem e reciclagem dos resíduos que colocam no mercado. Dessa forma, a legislação busca criar uma cadeia circular mais eficiente e responsável.

Apesar do otimismo, o setor de reciclagem emite um alerta fundamental. João Paulo Sanfins pontua que a ambição das metas graduais de incorporação corre o risco de ser frustrada pela insuficiência de infraestrutura. “Não adianta criar metas se não há investimento em triagem, infraestrutura e condições dignas para quem faz o trabalho pesado da reciclagem”, pondera o vice-presidente da Anap. O sucesso integral da medida dependerá, portanto, da capacidade do país de investir na base da cadeia e oferecer condições adequadas aos trabalhadores da área.

O decreto se configura, assim, como uma vitória política e ambiental, mas também como um marco que exige um novo nível de compromisso e investimento por parte do Governo Federal e da indústria para que as metas se traduzam em uma verdadeira transição verde no manejo dos resíduos plásticos no Brasil.

A Amazônia em 3D: FAPEAP leva imersão em realidade virtual à semana de ciência e tecnologia

Na vanguarda da popularização científica, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amapá (Fapeap) inovou na 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), oferecendo aos visitantes uma experiência imersiva em realidade virtual 3D. A iniciativa, que ocorreu no Sebrae, em Macapá, de 20 a 22 de outubro, buscou transcender a exposição tradicional, transportando o público diretamente para o coração do ecossistema amazônico.

A estratégia da Fapeap ao apostar na tecnologia reflete uma clara intenção de aproximar a população dos resultados tangíveis de seus investimentos em ciência e inovação. O diretor-presidente da Fapeap, Gutemberg Silva, enfatizou que a realidade virtual é um meio eficaz de demonstrar o impacto dos projetos em andamento no Amapá. “É uma forma de mostrar que o investimento nessas áreas é uma prioridade do Governo do Estado do Amapá”, afirmou, transformando o estande em uma vitrine dinâmica do compromisso estadual com o futuro científico.

20251021134204-GC00032919-F00108184E-400x267 A Amazônia em 3D: FAPEAP leva imersão em realidade virtual à semana de ciência e tecnologia
Divulgação – Ag. Amapá

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Promovida em âmbito nacional pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, a SNCT serve como um palco crucial para o diálogo entre pesquisa e sociedade.

A experiência em 3D, em particular, revelou-se um sucesso absoluto entre o público jovem. Estudantes, como Jonatan Serrão, de 11 anos, da Escola Visconde de Mauá, descreveram a imersão como uma oportunidade inesquecível de “interagir, conhecer e aprender” sobre o ecossistema amazônico, mesmo que de forma virtual.

20251021114957-GC00032919-F00108186-400x300 A Amazônia em 3D: FAPEAP leva imersão em realidade virtual à semana de ciência e tecnologia
Divulgação – Ag. Amapá

O poder transformador da realidade virtual na educação foi também destacado por Deborah Angelina, de 12 anos, da Escola Mãe de Deus. A estudante sublinhou que a experiência sensorial é muito mais eficaz do que a mera exposição teórica. “É muito legal esse tipo de experiência, porque não fica só com a professora falando. A gente pode ver, ter a sensação de estar no local. Isso já desperta curiosidade”, contou, reforçando o papel da inovação como catalisadora do interesse juvenil pela ciência.

Além do atrativo tecnológico, o estande da Fapeap manteve um forte componente de diálogo, com técnicos presentes para detalhar cada projeto apoiado pela fundação. Essa combinação entre a maravilha da imersão virtual e a explicação conceitual fortalece a ponte entre ciência, sociedade e a conservação do meio ambiente.

Ao integrar a realidade virtual à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a Fapeap consolida uma abordagem pedagógica moderna e sensorial, reafirmando o compromisso do Amapá com a democratização do conhecimento científico e tecnológico. A iniciativa não apenas cumpriu o objetivo de entreter, mas plantou sementes de curiosidade e interesse em ciência para as futuras gerações.

Do campo degradado à inovação sustentável: O Projeto REVERTE e o futuro da agricultura brasileira

No vasto e desafiador bioma do Cerrado brasileiro, onde a pressão por terras aráveis e a conservação da biodiversidade se chocam, emerge uma narrativa de transformação impulsionada pela inovação e pelo capital estrangeiro. O Projeto REVERTE, uma iniciativa da Syngenta – subsidiária do gigante chinês Grupo Sinochem – em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e o Itaú BBA, está reescrevendo a história de fazendas outrora degradadas, demonstrando que é possível expandir a produção de alimentos sem recorrer ao desmatamento.

A essência do REVERTE, lançado em 2019, é oferecer um modelo de agricultura regenerativa. Em vez de abrir novas fronteiras agrícolas, o programa concentra-se na restauração e na revitalização de terras já existentes, mas que se tornaram inférteis devido a práticas como o sobrepastoreio. Este modelo não apenas promove a segurança alimentar em um contexto de crescente demanda global, mas também atende a rigorosos padrões socioambientais.

A jornada de sucesso começa com histórias como a dos irmãos Igor e Ivan Biancon, no Mato Grosso. Após a pandemia de COVID-19, impulsionados pela alta dos preços dos alimentos, eles buscaram expandir suas culturas de soja e milho. No entanto, grande parte de sua propriedade era improdutiva. Encaminhados ao REVERTE pelo banco, eles se tornaram a primeira fazenda a aderir ao programa. Por meio de um plano de melhoria personalizado, que envolveu a incorporação de fertilizantes orgânicos (palha) e químicos, a fazenda dos Biancon viu sua área arável saltar de 14.000 para 45.000 hectares, sem prejuízo à pecuária. Essa expansão sustentável permitiu o cultivo de soja, feijão e algodão em um ciclo de duas safras.

O Equilíbrio entre Tecnologia, Crédito e Conservação

O impacto do REVERTE vai além da recuperação do solo. O programa se consolida como um ecossistema de soluções, provendo financiamento de longo prazo e ferramentas digitais avançadas para garantir o sucesso dos agricultores e o monitoramento ambiental.

Para incentivar a adesão, a Syngenta estabeleceu uma parceria estratégica com o Itaú BBA, que oferece uma linha de crédito de 10 anos aos agricultores. O acesso a esse financiamento, contudo, é estritamente condicionado ao cumprimento das normas ambientais locais, notadamente o Código Florestal brasileiro, que exige a manutenção de uma porcentagem de vegetação nativa na propriedade e proíbe a invasão de áreas florestadas.

No campo da tecnologia, fazendas como a JNC, a maior a utilizar a tecnologia REVERTE com quase 90.000 hectares, demonstram a revolução digital na agricultura. Com o uso de ferramentas digitais, é possível pré-programar densidade e profundidade de plantio, monitorar máquinas em tempo real e até mesmo detectar e prevenir incêndios.

O sistema de rotação de culturas adotado nessas propriedades é um exemplo de inteligência ecológica. Na Fazenda JNC, lotes são dedicados ao pasto por metade do ano e ao plantio de soja na outra metade. Após a colheita, capim nutritivo é plantado para o gado, que depois é transferido. Essa rotação evita a infertilidade do solo por pastejo contínuo, garantindo forragem fresca e safras abundantes de soja.

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Divulgação – Syngenta

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Um Modelo para o Futuro e a Visão Chinesa

A sustentabilidade do projeto é visível na prática. Elson Steves, diretor técnico da Fazenda JNC, demonstrou o viveiro da fazenda, onde mudas nativas do Cerrado ou da Floresta Amazônica são cultivadas e replantadas em áreas degradadas. Em um esforço notável de restauração hídrica, árvores foram plantadas em 46 nascentes de água, assegurando o fluxo contínuo necessário para a irrigação do algodão.

A relevância global do REVERTE é inegável. Petra Laux, diretora de Sustentabilidade da Syngenta, destaca que, no contexto da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá no Brasil, a agricultura não pode ser ignorada. O projeto é a prova de que “produzir mais alimentos e proteger o meio ambiente agora é possível simultaneamente.”

Com 394 fazendas contratadas e quase 280.000 hectares de terras restauradas, o projeto avança para sua ambiciosa meta de recuperar um milhão de hectares de terras agrícolas degradadas até 2030.

Para Das Saswato, Diretor de Comunicação da Syngenta, o papel da China, principal mercado dos produtos agrícolas brasileiros, é um fator determinante. A crescente demanda chinesa por agricultura verde e sustentável impulsiona o desenvolvimento de modelos regenerativos no Brasil. Ele conclui que o futuro do setor está em alcançar um equilíbrio entre produção agrícola e proteção ecológica, construindo uma cadeia de suprimentos eficiente, segura e ecologicamente correta para os consumidores globais. O projeto REVERTE não é apenas sobre o agronegócio; é sobre forjar um futuro mais sustentável para o Brasil e o mundo.

O grito por um pacto nacional: Fortalecendo o código florestal para a produção sustentável

Em um cenário de crescentes desafios climáticos e urgência ambiental, um encontro multifacetado em Brasília ecoou um apelo unificado: a necessidade de um pacto nacional robusto para o pleno fortalecimento e implementação do Código Florestal. O evento reuniu cerca de trinta instituições, abrangendo esferas como o Governo Federal, o Poder Judiciário, o Ministério Público Federal, secretarias estaduais de Meio Ambiente e, crucialmente, representantes do setor produtivo rural.

A legislação de 2012, que rege a proteção da vegetação nativa no país, é vista pelas diversas partes como o instrumento fundamental para harmonizar a produção agropecuária com o desenvolvimento sustentável. Sua implementação é considerada vital para proteger a biodiversidade, garantir a segurança climática, hídrica e alimentar do país, e, sobretudo, oferecer a tão necessária segurança jurídica aos produtores rurais.

Beto Mesquita, pesquisador e engenheiro ambiental que atua como Diretor de Paisagens Sustentáveis na Conservação Internacional (CI-Brasil), enfatizou que a legislação “pegou”, mas sua concretização enfrenta lentidão em instrumentos-chave, como a análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a criação de incentivos econômicos que desestimulem o desmatamento.

Floresta_amaz_nica-400x331 O grito por um pacto nacional: Fortalecendo o código florestal para a produção sustentável
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Apesar da natural diversidade de visões entre ambientalistas e o setor produtivo, Mesquita sublinha que as convergências superam as divergências. “Quando a gente fala, por exemplo, com os produtores rurais, todos eles anseiam por regularização ambiental e segurança jurídica”, pontua, reforçando que o Código Florestal foi, originalmente, uma expressão de consenso. O diretor do Cadastro Ambiental Rural do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), Henrique Dolabella, corrobora essa visão, descrevendo a lei como o reflexo da capacidade brasileira de equilibrar evidências científicas com as necessidades econômicas, agrárias e ambientais.

Os desafios de implementação variam dramaticamente conforme o bioma. Na Amazônia, o foco deve ser na vigilância e no combate ao desmatamento ilegal, que responde por cerca de 90% da supressão florestal. Já no Cerrado, que funciona como o celeiro do agronegócio nacional e onde grande parte da exploração é autorizada, o desafio central reside em “encontrar os incentivos econômicos para que se mantenha o máximo de capital natural disponível” e garantir a sustentabilidade de longo prazo.

Este chamado por um pacto é, segundo Carolle Alarcon, gerente da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, um convite à construção de compromissos concretos que envolvam o setor produtivo, agentes financeiros e toda a sociedade. A tecnologia e a capacidade técnica para avançar estão disponíveis; o que se exige agora é a vontade política e coletiva.

Marcelo Elvira, secretário executivo do Observatório do Código Florestal, reforçou a essência da legislação: garantir o princípio da “produção sustentável”. Com a COP30 se aproximando em Belém, o Brasil tem uma oportunidade única, como sugere Mesquita, de mostrar ao mundo como os dispositivos do Código Florestal são cruciais para o país não apenas cumprir, mas ambicionar ir além de suas metas climáticas. A lei, que estabelece a preservação de até 80% de cobertura nativa em propriedades na Amazônia Legal, e de 20% a 35% no Cerrado, é o alicerce para uma agricultura de baixo carbono e um futuro de segurança alimentar baseado em soluções naturais.

Comunidades do Parque de Mirador promovem educação ambiental e fortalecem governança participativa no Maranhão

O Maranhão vem mostrando que a conservação ambiental também nasce do diálogo e da educação. Em uma semana marcada por atividades de integração e aprendizado, o Parque Estadual de Mirador recebeu uma programação voltada para crianças e moradores locais, promovida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema). As ações reuniram cerca de 300 crianças e dezenas de famílias que vivem nas comunidades dentro e no entorno da unidade de conservação.

Entre os dias 15 e 19 de outubro, o parque se transformou em um grande espaço de convivência e conscientização. Oficinas, brincadeiras e atividades educativas abordaram temas como sustentabilidade, cooperação e preservação ambiental. O objetivo foi despertar, desde cedo, o senso de pertencimento e responsabilidade pelo território que abriga uma das áreas mais importantes do Cerrado maranhense.

A superintendente de Biodiversidade e Áreas Protegidas da Sema, Laís Morais Rêgo, explicou que a iniciativa vai além da recreação. “Unimos educação ambiental, diálogo e gestão compartilhada. Tivemos a posse do novo Conselho Consultivo, iniciamos o processo de elaboração do Termo de Compromisso com as comunidades e desenvolvemos atividades lúdicas para aproximar as crianças da ideia de conservação”, destacou.

Educação ambiental e laços comunitários

As atividades infantis mostraram como o aprendizado sobre o meio ambiente pode ser leve e envolvente. Por meio de jogos e dinâmicas, as crianças refletiram sobre a importância de proteger as nascentes, cuidar do lixo e valorizar a vida comunitária. A programação reforçou a visão de que a sustentabilidade começa no cotidiano — e que as novas gerações são agentes essenciais dessa transformação.

Os encontros envolveram não apenas as crianças, mas também pais, professores e lideranças locais. Para a Sema, aproximar a população da gestão do parque é fundamental para garantir a conservação ambiental de longo prazo.

Sema_realiza_programacao_no_Parque_de_Mirador_23_10_2025_-_002-400x167 Comunidades do Parque de Mirador promovem educação ambiental e fortalecem governança participativa no Maranhão
Divulgação – Ag. Maranhão

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Conselho Consultivo e participação social

Um dos pontos altos da agenda foi a posse do Conselho Consultivo do Parque Estadual de Mirador, que passou a contar com representantes do poder público e da sociedade civil para o biênio 2025-2027. A cerimônia, realizada na Câmara de Vereadores de São Raimundo das Mangabeiras, simbolizou um passo importante na consolidação de uma gestão participativa.

Durante o encontro, os novos conselheiros receberam certificados e discutiram o planejamento de ações conjuntas para o manejo sustentável do parque. O espaço será responsável por acompanhar políticas ambientais, propor melhorias e fortalecer o vínculo entre o governo e as comunidades locais.

O representante da Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop), Leonardo Pasolini, destacou a relevância do cadastro de povos e comunidades tradicionais dentro do parque. “Estamos cadastrando 67 comunidades para garantir a emissão de certidões e o reconhecimento oficial dessas populações. Isso representa um avanço real na conquista de direitos e na consolidação de políticas públicas”, afirmou.

Parcerias e fortalecimento das comunidades

A ação também contou com o apoio da Cáritas Diocesana de Balsas, entidade que atua na promoção da justiça social e ambiental na região. Para o representante da organização, Zé Filho, a articulação entre governo e sociedade civil tem gerado resultados concretos. “Essas parcerias fortalecem a luta em defesa do parque e das comunidades, ampliando o acesso a direitos e a políticas sustentáveis”, ressaltou.

Termo de Compromisso e diálogo com moradores

Outro eixo das atividades foi o início da construção do Termo de Compromisso entre o governo e os moradores do parque. O documento buscará harmonizar o uso dos recursos naturais com a conservação ambiental, garantindo que as famílias possam viver com dignidade em áreas protegidas. Participaram dessa etapa 63 povoados e cerca de 300 moradores, em uma rodada de escuta e negociação conduzida pela equipe técnica da Sema.

Para o morador Adauto Sousa, o processo representa uma oportunidade de construir soluções conjuntas. “É essencial termos espaço para discutir, debater e pensar na qualidade de vida de quem vive dentro do parque. Esse diálogo traz esperança”, afirmou.

Programa Copaíbas e cooperação internacional

As iniciativas no Parque de Mirador integram o Programa Comunidades Tradicionais, Povos Indígenas e Áreas Protegidas nos Biomas Amazônia e Cerrado (Copaíbas), executado pela Sema no Maranhão. O programa é gerenciado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e financiado pela Iniciativa Internacional do Clima e Florestas da Noruega (NICFI), por meio do Ministério das Relações Exteriores da Noruega.

O Copaíbas reforça a importância da cooperação internacional no fortalecimento de políticas ambientais locais e no reconhecimento das comunidades como guardiãs da biodiversidade.

O trabalho realizado em Mirador mostra que a conservação não é apenas técnica, mas também social — construída pela confiança e pela participação de quem vive na floresta e depende dela. Em um tempo em que os biomas brasileiros enfrentam pressão crescente, o Maranhão oferece um exemplo inspirador de que proteger é também incluir.

COP30 em Belém: sistema de transporte exclusivo garante mobilidade e sustentabilidade

Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém entre 1º e 23 de novembro, a logística de transporte foi planejada para assegurar fluidez, segurança e baixo impacto ambiental. A capital paraense se prepara para receber milhares de participantes credenciados com um esquema especial de mobilidade que combina tecnologia, sustentabilidade e inclusão urbana.

O sistema de ônibus dedicados, voltado exclusivamente aos participantes com credenciais da Blue Zone da UNFCCC, será o principal eixo de deslocamento durante o evento. São 15 linhas operando 24 horas por dia, conectando os principais pontos da Região Metropolitana de Belém. Os trajetos contemplam áreas estratégicas da cidade e municípios próximos, como Icoaraci, Outeiro, Mosqueiro, Ananindeua, Marituba, Santa Izabel, Benevides e Castanhal.

As rotas passam por vias estruturantes — Avenidas Nazaré, José Malcher, Almirante Barroso e Augusto Montenegro, além da BR-316 —, garantindo integração com hotéis, centros de eventos e áreas de credenciamento. Todos os pontos de embarque e desembarque estarão sinalizados, e o acesso só será permitido mediante apresentação da credencial da Blue Zone ou da carta oficial emitida pela UNFCCC.

O plano foi desenvolvido pela Prefeitura de Belém em parceria com o Governo do Pará, como parte do Guia de Mobilidade COP30, documento que consolida informações sobre transporte, acessibilidade e segurança viária durante o evento. O sistema é gratuito para delegações e convidados oficiais, e seus itinerários podem ser consultados no aplicativo de mobilidade disponível para Android e iOS.

Transporte individual e por aplicativo

Além dos ônibus dedicados, haverá áreas específicas para táxis e veículos de aplicativo. Os embarques e desembarques de táxis ocorrerão na Avenida Visconde de Inhaúma, entre as avenidas Dr. Freitas e Travessa Alferes Costa. Já os carros de aplicativo terão ponto exclusivo na Avenida Rômulo Maiorana, entre as avenidas Dr. Freitas e Lomas Valentinas. Ambas as áreas funcionarão continuamente durante o período da COP30, com apoio da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob).

Essas medidas visam evitar congestionamentos nas proximidades da Blue Zone, localizada no Parque da Cidade, e garantir o fluxo ordenado de veículos credenciados.

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Divulgação – COP30

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Veículos privados e transporte público

A circulação de veículos particulares será restrita nas imediações da conferência. Não haverá estacionamento no local do evento, e as áreas destinadas a veículos privados — carros, vans e ônibus — servirão apenas para embarque e desembarque na Avenida Duque de Caxias, sem possibilidade de permanência.

Para quem não estiver credenciado, a alternativa é o transporte público convencional. Os ônibus municipais operados pela Prefeitura terão rotas reforçadas, e o ponto de desembarque mais próximo ao evento ficará na Avenida Almirante Barroso, entre as avenidas Júlio César e Dr. Freitas. Informações atualizadas sobre linhas e tarifas podem ser consultadas no portal oficial de mobilidade de Belém.

Mobilidade ativa e legado sustentável

A mobilidade ativa também é parte central do plano. Belém expandiu sua rede de ciclovias e ciclofaixas, e o entorno do Parque da Cidade está totalmente conectado por essas rotas. Bicicletas compartilhadas, patinetes elétricos e bicicletas próprias serão bem-vindas, com bicicletários instalados próximos à entrada da Blue Zone, na Avenida Brigadeiro Protásio.

A proposta reflete o compromisso do evento com a sustentabilidade e o legado urbano. A COP30 promete não apenas debater o futuro do planeta, mas também deixar uma estrutura permanente de transporte mais integrada e limpa para os moradores da capital paraense.

Ao combinar ônibus dedicados de emissão reduzida, incentivos à mobilidade ativa e uma operação contínua 24h, Belém se coloca como exemplo de cidade anfitriã capaz de conciliar grandes eventos com gestão urbana inteligente. O sistema, inspirado em experiências de conferências anteriores, como Glasgow (COP26) e Dubai (COP28), busca transformar a COP30 em uma vitrine mundial de logística sustentável na Amazônia.

Brasil vira referência global na conservação das florestas tropicais

Em um momento em que a saúde das florestas tropicais ressoa como um dos maiores desafios ambientais e políticos da atualidade, a revista The Economist lançou um editorial que coloca o Brasil no protagonismo desse debate. A publicação afirma que o país, sob o comando do presidente Lula e amparado pela determinação da ministra Marina Silva, adotou um conjunto de medidas que poderiam servir de modelo global para conservar florestas e reconstruir a governança ambiental.

Durante os quatro anos de gestão de Jair Bolsonaro, o editorial lembra, pouco foi feito para conter o avanço das motosserras e do desmatamento ilegal. Em contraste, o governo que começou em 2023 estabeleceu uma nova lógica: agentes federais fortemente armados passaram a reprimir madeireiros ilegais, garimpos clandestinos foram destruídos, e propriedades que registravam desmatamento ilegal foram barradas de receber crédito subsidiado. Essa combinação de “carrot and stick” — oferta de incentivos e aplicação de punições — foi classificada como decisiva no processo de reversão de tendências.

Segundo os dados mencionados, o ritmo de desmatamento caiu cerca de 80% durante o primeiro mandado de Lula (2003-2011) e voltou a recuar após seu retorno em 2023. O editorial da The Economist destaca que isso não é apenas resultado de sorte ou de circunstâncias externas, mas de políticas deliberadas de Estado.

Uma das peças centrais da estratégia brasileira, segundo o texto, é a regularização fundiária: identificar quem é dono da terra. Quando se sabe quem possui o imóvel, argumenta a revista, também se sabe a quem aplicar sanções ou fazer pagamento por conservar. “Quando se sabe quem é o dono da terra, sabe-se também a quem punir por destruí-la ou recompensar por preservá-la”, afirma o editorial.

Além disso, a The Economist vai além do Brasil e conclui que esse modelo deveria ser replicado em outros países que abrigam florestas tropicais. A tese é que as florestas são um bem público global — todos dependem delas — e, por isso, os países ricos deveriam financiar sua conservação. Porém, o artigo também salienta que “falar é mais fácil do que fazer”: os mercados de crédito de carbono ainda enfrentam problemas e os governos do Norte aparecem como reticentes em cumprir sua parte.

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A construção da narrativa brasileira, tal como apresentada pela revista, sugere que há um elo entre conservação da floresta e desenvolvimento agrícola. Afinal, segundo o editorial, o governo entende que destruir a Amazônia equivale a arruinar a própria agricultura brasileira. Com isso, a proteção ambiental não é vista como obstáculo, mas como condição de sustentabilidade econômica e social.

Mas o texto não se limita à exaltação. Ele também funciona como um alerta: se o Brasil conseguiu avançar, o mundo precisa acompanhar. Sem mecanismos internacionais robustos de financiamiento, sem transparência, sem responsabilização dos proprietários e sem tecnologia para monitorar rapidamente as infrações, os esforços poderão ser vãos. O uso de imagens de satélite, por exemplo, permite detectar invasões em poucos dias — recurso esse que a revista considera essencial para que as políticas sejam eficazes.

Em síntese, o editorial da The Economist pinta o Brasil como um laboratório de práticas ambientais que devem inspirar países da África, Ásia e América Latina com florestas tropicais. Mas também deixa claro que nenhum país — nem o Brasil — opera isoladamente: há uma interdependência global que exige financiamento, governança eficaz e compromisso coletivo. A lição maior talvez seja essa: proteger florestas é uma tarefa doméstica com impacto global, e precisa de ação local combinada com cooperação internacional.

Estados debatem nova lei e fortificação do sistema ambiental nacional

Durante três dias de intenso diálogo em Belo Horizonte, gestores ambientais de todo o Brasil sentaram-se à mesa para enfrentar os rumos da proteção ambiental e consolidar um novo capítulo na governança nacional. A 121ª edição da reunião ordinária da Abema reuniu dirigentes dos órgãos estaduais para discutir os grandes vetores da mudança — dentre eles, a nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei 15.190/2025) e os mecanismos de cooperação federativa que envolvem União, estados e municípios.

Na abertura, o novo marco legal do licenciamento foi considerado um divisor de águas. Depois de décadas de debates, a norma busca oferecer clareza jurídica, padronização e segurança ao processo que autorizas empreendimentos que utilizam recursos ambientais ou geram impactos. Ainda assim, os estados lembram que não partem do zero: foram justamente eles — por meio de seus órgãos ambientais — que, ao longo dos anos, modernizaram, adaptaram e implementaram o licenciamento no país. A mensagem é clara: a norma nacional precisa refletir essa experiência e preservar a autonomia local.

Para o estado do Acre, esse momento representa mais do que formalidade. Representados pelo secretário de Meio Ambiente e pela presidente do IMC, os gestores reforçaram o compromisso de atuação colaborativa e estratégica. A Amazônia não pode continuar à margem da governança ambiental nacional — e o Acre, com sua trajetória consolidada na pauta climática, reafirma seu papel. A integração entre entes federativos, o compartilhamento de soluções e a gestão consciente dos recursos naturais foram temas centrais da intervenção acreana.

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Foto: Sema/MG

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Mais do que uma simples reunião técnica, o evento trouxe uma dimensão prática e simbólica. Na programação, os participantes visitaram o Córrego do Feijão, local do rompimento de barragem em Brumadinho, onde puderam conhecer ações de recuperação ambiental, monitoramento e gestão de riscos. A experiência reforçou a urgência de incorporar boas práticas ao licenciamento, segurança de barragens e vigilância ambiental — sobretudo diante da crescente pressão por empreendimentos em ambientes frágeis.

E porque o desafio ambiental também se constrói no imaginário coletivo, a visita ao Museu Inhotim foi um momento de imersão: arte contemporânea, natureza, educação ambiental e reflexão. Ali, gestores puderam aprender que governar o meio ambiente também envolve sensibilidade, cultura e a capacidade de inspirar novos modos de viver e produzir.

A Abema, fundada há quase quatro décadas, se consolida como fórum estratégico de articulação federativa, reunindo órgãos estaduais e mobilizando saberes, técnicas e políticas de meio ambiente. O encontro de Belo Horizonte reafirmou que os estados não são meros executores de um roteiro definido pela União, mas protagonistas de mudanças e coparticipantes de uma governança ambiental renovada.

Se o novo marco legal é de fato a cada célebre “Lei Geral do Licenciamento Ambiental”, o teste estará nas práticas, na capacidade de diálogo entre os níveis de governo e na tradução de instrumentos legais em resultados concretos: redução de impactos, licenciamento mais eficiente, participação pública reforçada e, sobretudo, um desenvolvimento que seja verdadeiramente sustentável e inclusivo. Ao final, o desafio não está apenas no que a lei diz, mas no que os estados, juntos, serão capazes de fazer com ela.

Ibama e Receita Federal apreendem quase mil conchas ilegais

Em uma operação conjunta realizada no último domingo (20/10/2025), o Ibama e a Receita Federal impediram o envio ilegal de quase mil conchas de moluscos do Brasil para a Itália. A fiscalização no Aeroporto Internacional de Fortaleza identificou uma remessa de 972 unidades, sem a documentação exigida para a exportação legal, incluindo exemplares de espécies ameaçadas de extinção.

A ação teve início durante uma inspeção de rotina da Receita Federal no terminal de cargas do aeroporto. Ao identificar a remessa suspeita, os agentes acionaram imediatamente o Ibama, que realizou análise técnica detalhada do material. Foi constatado que as conchas pertenciam a mais de 40 espécies diferentes de moluscos, abrangendo as classes Gastropoda e Bivalvia, e que duas dessas espécies estão listadas na Portaria MMA nº 445/2014, que estabelece a fauna brasileira ameaçada de extinção.

A infração ambiental resultou na autuação da empresa responsável pela remessa em R$ 259.160, valor que corresponde a dois autos de infração emitidos pelo Ibama. O caso evidencia não apenas a vulnerabilidade de espécies marinhas ao tráfico internacional, mas também os prejuízos ambientais que podem ocorrer quando organismos vivos ou partes deles são retirados de seus habitats sem controle e regulamentação.

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Divulgação – IBAMA

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O destino do material apreendido é inédito e educativo: todas as conchas foram doadas para uma instituição de ensino federal, onde serão utilizadas em atividades de pesquisa e ensino. Segundo os fiscais do Ibama, essa medida transforma a apreensão em uma oportunidade de formação de novos profissionais nas áreas ambiental e biológica, promovendo o conhecimento científico enquanto protege o patrimônio natural brasileiro. A reutilização de espécies preservadas para estudo é uma prática que combina fiscalização rigorosa com aproveitamento pedagógico, contribuindo para o desenvolvimento acadêmico e a conscientização sobre a conservação da biodiversidade.

Servidores do Ibama no estado do Ceará destacaram que a cooperação entre órgãos é essencial para combater o comércio ilegal de produtos de origem animal e vegetal. Operações desse tipo não apenas coíbem crimes ambientais, mas também asseguram que o Brasil mantenha controle sobre sua rica biodiversidade. As consequências da exportação ilegal de conchas vão além da violação legal: a retirada de organismos do seu habitat pode afetar o equilíbrio ecológico, reduzir populações naturais e ameaçar a sobrevivência de espécies já vulneráveis.

O caso reforça a importância de políticas integradas de fiscalização e monitoramento. A união entre Ibama e Receita Federal é estratégica para garantir a legalidade das exportações e prevenir que recursos naturais sejam explorados de forma predatória. Além disso, operações como esta enviam uma mensagem clara ao mercado internacional sobre a seriedade das autoridades brasileiras na proteção do patrimônio ambiental.

Especialistas ambientais observam que a exploração ilegal de moluscos e outros produtos da fauna marinha é um problema global. O Brasil, com sua extensa costa e biodiversidade única, é particularmente vulnerável a esse tipo de crime. A fiscalização e punição rigorosa, como a aplicada neste caso, contribuem para desencorajar práticas ilegais e reforçar o compromisso do país com tratados internacionais de conservação, como a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES).

Além do caráter punitivo, a operação exemplifica uma abordagem preventiva e educativa. Ao destinar as conchas apreendidas para pesquisa, o Ibama transforma um episódio de crime ambiental em oportunidade de aprendizado e produção científica, alinhando proteção ambiental, educação e desenvolvimento de conhecimento sobre a biodiversidade brasileira.

Tribunal francês condena TotalEnergies por greenwashing climático

Um tribunal civil de Paris condenou a TotalEnergies nesta quinta-feira (23/10/2025) por práticas comerciais enganosas relacionadas aos compromissos da empresa com a neutralidade de carbono até 2050. Trata-se da primeira condenação global contra uma companhia de petróleo por “greenwashing”, termo que se refere à promoção de uma imagem ambientalmente responsável que não condiz com a realidade, segundo a ONG ClientEarth, que acompanha processos jurídicos contra empresas do setor de energia fóssil.

O caso surgiu a partir de uma denúncia de 2022 apresentada por três grupos ambientalistas — Greenpeace France, Amis de la Terre France e Notre Affaire à Tous — que questionavam a comunicação da TotalEnergies sobre seu plano de neutralidade de carbono. As ONGs afirmavam que a empresa divulgava de forma enganosa a possibilidade de atingir a neutralidade de carbono sem reduzir a produção de petróleo e gás, induzindo consumidores a erro.

O tribunal francês determinou que mensagens publicadas no site da TotalEnergies, como “Nossa ambição é ser um ator principal na transição energética” e “Temos a ambição de contribuir para alcançar a neutralidade de carbono até o ano de 2050 junto com a sociedade”, poderiam alterar o comportamento de compra e induzir o consumidor ao engano. A Justiça ordenou a retirada dessas mensagens em até um mês, sob pena de multa, e determinou que a sentença fosse publicada por 180 dias no site da empresa.

Embora o tribunal tenha reconhecido a desinformação relacionada à neutralidade de carbono, rejeitou outras acusações das ONGs, como a promoção enganosa do gás fóssil e do biocombustível como energias limpas. Em comunicado, a TotalEnergies afirmou que “toma nota” da decisão, ressaltando que a maior parte das demandas foi rejeitada, mas não informou se pretende recorrer.

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REUTERS/Stephane Mahe

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O caso destaca como a indústria do petróleo tem buscado reforçar sua imagem ambiental nos últimos anos. Desde maio de 2021, a TotalEnergies passou a divulgar, em seu site, mídia impressa e redes sociais, o objetivo de atingir neutralidade de carbono até 2050 e promoveu o gás como “o combustível fóssil com as menores emissões de gases de efeito estufa”. A mudança de nome de Total para TotalEnergies foi parte dessa estratégia, enfatizando investimentos em energias renováveis, como solar e eólica.

Especialistas e ativistas comemoraram a decisão como um marco jurídico. Segundo o Greenpeace, trata-se de um “ponto de inflexão” na luta contra o greenwashing e a desinformação climática das grandes empresas de petróleo. Johnny White, jurista da ClientEarth, destacou que a sentença francesa deve servir de referência para processos similares em outros países, mesmo diante de casos absolvidos, como o da espanhola Repsol, que enfrentou acusações semelhantes sem condenação.

A decisão ocorre a poucas semanas da COP30 no Brasil, evento que reúne líderes globais para discutir mudanças climáticas e políticas ambientais. Para as ONGs, o veredito envia um sinal claro à indústria de combustíveis fósseis sobre a necessidade de transparência e compromisso real com metas climáticas, abrindo caminho para que outras empresas europeias e globais sejam responsabilizadas.

O tribunal destacou que, ao apresentar o objetivo de neutralidade de carbono, a TotalEnergies dava a entender que suas ações estavam alinhadas com recomendações científicas, como as do Acordo de Paris, que exige redução imediata na produção de combustíveis fósseis. Segundo o julgamento, a divulgação enganosa poderia influenciar decisões de compra e investimento de consumidores e parceiros comerciais, reforçando a necessidade de responsabilidade corporativa e coerência com compromissos climáticos globais.

Em termos mais amplos, a sentença sinaliza a crescente pressão legal sobre empresas que buscam promover uma imagem ambientalmente responsável sem implementar mudanças estruturais em seus negócios. A condenação da TotalEnergies reforça o papel da Justiça e das ONGs na fiscalização de grandes corporações e aponta para uma tendência crescente de responsabilização judicial por greenwashing.

Banco Mundial assume administração do Fundo Florestas Tropicais para Sempre

Sob liderança do Brasil e com apoio de dez países parceiros, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF) avança para se tornar o maior mecanismo global de financiamento contínuo à conservação florestal. A confirmação do Banco Mundial como administrador e anfitrião interino do fundo marca um novo patamar na diplomacia ambiental e no desenho de instrumentos inovadores para enfrentar a crise climática.

O anúncio foi feito nesta terça-feira (21), após aprovação unânime do conselho diretor do Banco. A instituição será responsável por fornecer uma estrutura administrativa completa — com supervisão fiduciária, transparência e governança —, garantindo que os recursos do TFFF sejam geridos com credibilidade e previsibilidade. O arranjo permitirá iniciar operações antes do lançamento oficial do fundo, previsto para a COP30, em Belém, no próximo ano.

O TFFF nasce com o propósito de sustentar fluxos permanentes de financiamento para países e comunidades que comprovadamente conservem suas florestas tropicais. A iniciativa, idealizada pelo Brasil, foi apresentada pela primeira vez durante a COP28, em Dubai, e construída em diálogo com outros dez países — cinco detentores de florestas (Colômbia, Indonésia, Malásia, Gana e República Democrática do Congo) e cinco potenciais apoiadores.

Diferente de fundos ambientais baseados em doações, o TFFF opera por meio de investimentos de países, filantropias e empresas em uma carteira global de ativos sustentáveis. Os rendimentos dessa carteira, administrada por gestores internacionais, serão direcionados a nações tropicais elegíveis que mantiverem desmatamento abaixo da média mundial. Ao menos 20% de cada repasse deverá beneficiar povos indígenas e comunidades tradicionais, reconhecendo seu papel direto na preservação das florestas.

Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a decisão do Banco Mundial “transforma o TFFF de uma ideia em uma realidade operacional”. Haddad destacou que o rigor técnico e a liderança pessoal do presidente do Banco, Ajay Banga, conferiram à proposta a legitimidade necessária para se tornar um modelo de investimento climático de longo prazo.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, o fundo representa “uma solução ousada e colaborativa” diante do déficit de financiamento ambiental global. “Precisamos investir cerca de US$ 282 bilhões por ano para proteger a natureza, mas dispomos de apenas um quarto disso. O TFFF pode gerar até US$ 4 bilhões anuais — quase três vezes o volume atual de financiamento internacional para florestas”, afirmou.

O chanceler Mauro Vieira ressaltou que o mecanismo é um exemplo concreto de inovação vinda do Sul Global, reforçando a consolidação de uma ordem internacional multipolar. “O Brasil investirá US$ 1 bilhão no TFFF e espera que, em Belém, outros países também se comprometam. Esse fundo simboliza um multilateralismo renovado, capaz de oferecer soluções transformadoras aos desafios do nosso tempo”, declarou.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, destacou o papel do Banco Mundial como parceiro na construção de um mecanismo de financiamento direto aos povos indígenas. “O protagonismo indígena é essencial. Essa parceria amplia nossa capacidade de implementar projetos sustentáveis e de fortalecer o papel das comunidades como guardiãs das florestas”, afirmou.

De acordo com Marcos Vinicius Chiliatto, diretor executivo que representa o Brasil no Banco Mundial, a decisão de hospedar o TFFF “está plenamente alinhada à missão do Banco de erradicar a pobreza em um planeta habitável”. Florestas tropicais saudáveis, reforçou, são vitais para alcançar esse objetivo.

A estrutura de governança do TFFF prevê um conselho diretor com 18 países, divididos igualmente entre nações florestais e países investidores, além de um conselho consultivo de povos indígenas e comunidades locais e um painel técnico-científico. Enquanto a sede institucional definitiva é definida, o Banco Mundial atuará como anfitrião interino, garantindo suporte operacional e coordenação das primeiras atividades.

O TFFF nasce em um contexto de urgência climática e busca mudar a lógica tradicional do financiamento ambiental, substituindo o modelo de doações pontuais por um fluxo constante e previsível de investimento. O governo brasileiro defende que essa arquitetura financeira inaugura uma nova geração de instrumentos multilaterais — capazes de conciliar desenvolvimento econômico, proteção da biodiversidade e justiça climática.

Ao reunir governos, investidores e comunidades em torno de um compromisso de longo prazo, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre se propõe a transformar a economia da conservação, convertendo o valor ecológico das florestas em base de prosperidade compartilhada. O lançamento na COP30, em Belém, deverá consolidar o Brasil como protagonista global na transição ecológica e no desenho de novas soluções financeiras para um planeta em equilíbrio.

A Amazônia é plural e a voz de suas populações precisa ser ouvida

Em meio a um cenário global de tensões geopolíticas e descrédito nas instituições multilaterais, a ex-ministra da Justiça da França Christiane Taubira propõe recolocar a Amazônia no centro do debate sobre justiça social e governança mundial. Suas ideias, apresentadas na 8ª Conferência FAPESP — “A Amazônia Contemporânea e os Desafios da Justiça Social” — ecoam com força neste ano em que Belém se prepara para sediar a COP30, em 2025.

Para Taubira, repensar o papel da floresta é também repensar o multilateralismo. “A Amazônia é plural. É uma grande entidade geográfica, fragmentada em nove histórias nacionais diferentes. A floresta não é apenas uma paisagem natural, mas um espaço de vida, cultura e história”, afirmou. Segundo ela, o erro das instituições internacionais é enxergar a região como um vazio a ser preservado, e não como um território habitado e produtivo. “Fala-se em proteger o pulmão do mundo, mas as Nações Unidas a tratam como um lugar deserto, ignorando modos de vida enraizados”, criticou.

A economista e política franco-guianense citou uma frase atribuída a Nelson Mandela: “O que vocês fazem por nós sem nós, vocês fazem contra nós”. A lembrança remete a sua militância ainda em Caiena, na Guiana Francesa, quando participou da Rio-92 e se opôs à criação de um parque nacional que ocuparia 40% do território guianense. “Lutei para que não fosse chamado de parque nacional, como os da França, onde não há ninguém vivendo dentro deles. Quis garantir a preservação com respeito às comunidades locais”, relatou. O resultado foi o Parque Amazônico da Guiana, criado anos depois, conciliando conservação e permanência de populações tradicionais.

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA-1-400x218 A Amazônia é plural e a voz de suas populações precisa ser ouvida

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Com uma trajetória política de quase duas décadas no Parlamento francês e cinco anos no Parlamento Europeu, Taubira é reconhecida por leis pioneiras, como a que reconhece a escravidão como crime contra a humanidade, a proibição do uso de minas terrestres e a responsabilização por testes nucleares franceses. Entre 2012 e 2016, foi ministra da Justiça no governo de François Hollande, onde liderou reformas como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e o fortalecimento do combate à corrupção.

A conexão de Taubira com o Brasil se aprofundou em 2025, quando assumiu a 12ª Cátedra José Bonifácio da Universidade de São Paulo (USP). Nela, conduz a pesquisa “Sociedades amazônicas: realidades plurais, um destino comum?”, que originou o livro Amazônias: Espaço Vivo, Social, Político. A obra, lançada nesta semana, reúne textos da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, do jurista Pedro Dallari, do ex-primeiro-ministro francês Laurent Fabius, da historiadora Sophie Bessis e do antropólogo indígena Almires Martins Machado. O livro será apresentado na COP30, em Belém, com o propósito de dar visibilidade internacional às vozes da floresta.

Para Taubira, as estruturas de poder que governam o planeta estão descompassadas da realidade atual. “A governança multilateral que temos hoje é herança do mundo pós-Segunda Guerra, um clube de cerca de 60 países em um cenário de impérios. Esse modelo tornou-se impotente diante de um mundo com 195 nações”, afirmou. Segundo ela, é preciso reconstruir a arquitetura global da cooperação com base em justiça social, diversidade cultural e representatividade real.

Poeta além de política, Taubira acredita que a linguagem é um instrumento de transformação. “Quando o debate político se torna áspero, é a poesia que nos permite compreender o outro e fazer justiça social. A poesia nos convida a reconhecer que o outro carrega um pouco de nós”, refletiu. Para ela, as palavras importam não apenas pelo que dizem, mas pelo imaginário que constroem — e é esse imaginário que precisa incluir a Amazônia e seus povos na definição do futuro comum da humanidade.

Alemanha amplia cooperação científica e destina 17 milhões de euros a pesquisas na Amazônia

A Amazônia volta ao centro da cooperação científica internacional com um novo investimento da Sociedade Max Planck, uma das instituições de pesquisa mais respeitadas da Alemanha. Até 2030, a organização aplicará 17 milhões de euros — o equivalente a cerca de R$ 106 milhões — em projetos de monitoramento climático e estudos atmosféricos realizados em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

O anúncio, feito pelo presidente da entidade, Patrick Cramer, reafirma o papel da ciência como aliada estratégica nas decisões políticas sobre o clima, sobretudo diante da COP30, que será sediada em Belém (PA) em novembro de 2025.

O principal foco do novo investimento é o Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO), um projeto conjunto entre o INPA e a Sociedade Max Planck. Localizado no coração da floresta, o observatório mantém uma torre de 325 metros — uma das mais altas estruturas científicas do hemisfério sul — que coleta dados sobre gases de efeito estufa, partículas atmosféricas e fluxos de carbono.

A floresta como laboratório vivo

Nos últimos dez anos, o ATTO tem revelado aspectos inéditos da interação entre a floresta e a atmosfera. Pesquisadores descobriram, por exemplo, que moléculas orgânicas emitidas pela vegetação amazônica alcançam altitudes muito maiores do que se imaginava, influenciando diretamente na formação de nuvens e chuvas. Essa dinâmica ajuda a entender como o bioma regula o clima regional e global — e reforça a Amazônia como um dos principais sumidouros de carbono do planeta.

Para Cramer, esses resultados representam mais do que avanços científicos: são peças fundamentais para a formulação de políticas climáticas globais. “A ciência não substitui a política, mas fornece os fatos que a tornam possível”, afirmou o pesquisador, ao destacar que dados robustos e acessíveis devem orientar os compromissos assumidos em conferências como a COP30.

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Torres Atto – Gov.br

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Riscos e desafios no coração da floresta

Apesar de seu papel essencial, a Amazônia vive sob forte pressão. O aumento das secas e cheias extremas, o avanço do desmatamento e o impacto das mudanças climáticas globais têm alterado o equilíbrio ecológico da região.
De acordo com as análises conduzidas pela equipe do ATTO, esses fenômenos já afetam o ciclo hidrológico, a fertilidade do solo e até o comportamento das espécies vegetais e animais.

A floresta, que tradicionalmente funciona como uma imensa bomba d’água natural — devolvendo umidade à atmosfera e mantendo o regime de chuvas —, começa a apresentar sinais de estresse. “Vemos riscos crescentes para o papel da Amazônia como reguladora climática”, explica Cramer. “É urgente proteger não apenas a floresta, mas também as pessoas que dela dependem.”

Ciência como ponte entre países

A cooperação entre Brasil e Alemanha na área ambiental remonta a décadas e se consolidou em torno de projetos como o ATTO, financiado de forma conjunta por agências de pesquisa e ministérios dos dois países.
Com o novo aporte, a Sociedade Max Planck pretende expandir sua atuação na América Latina, fortalecendo a rede de pesquisa climática e criando dois novos Centros Max Planck até 2026. Esses polos devem reunir jovens cientistas brasileiros e europeus em torno de temas como biodiversidade, biogeoquímica e modelagem atmosférica.

Segundo Cramer, o ambiente de colaboração científica criado nos últimos anos é um dos mais promissores do mundo. “Temos confiança na parceria com o Brasil e queremos ampliá-la. A Amazônia é um patrimônio da humanidade e também um laboratório fundamental para o futuro do planeta”, afirmou.

O papel do Brasil no avanço científico

Para o diretor alemão, o Brasil vive um momento de renovação institucional e otimismo, com o governo federal demonstrando disposição para retomar investimentos em ciência e tecnologia. A aposta é de que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), o CNPq e outras agências brasileiras possam se integrar ainda mais aos esforços internacionais.

“A excelência científica floresce quando os melhores pesquisadores têm liberdade para explorar suas ideias”, destaca Cramer. “Esse é o caminho para descobertas transformadoras e para uma cooperação que beneficie o planeta inteiro.”

Com a COP30 se aproximando, a nova fase do projeto ATTO simboliza não apenas uma aliança entre laboratórios, mas um compromisso entre nações: transformar conhecimento em ação concreta para enfrentar a crise climática e proteger o maior bioma tropical do mundo.

Operação Ouro de Sangue avança e desmonta garimpos ilegais na Estação Ecológica do Jari

Entre os dias 19 e 23 de outubro, a Polícia Civil do Pará realizou a segunda fase da Operação Ouro de Sangue, uma ofensiva coordenada contra o garimpo ilegal na região de Monte Dourado, distrito do município de Almeirim, no Baixo Amazonas. A ação se concentrou dentro da Estação Ecológica do Jari, uma unidade federal de proteção integral, e teve como foco desarticular estruturas criminosas que vinham promovendo destruição ambiental em larga escala.

A operação foi conduzida pela Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (DECA) de Santarém, com suporte da Superintendência Regional do Baixo e Médio Amazonas, e o apoio tático do Núcleo de Apoio à Inteligência (NAI), das Delegacias de Monte Dourado e Prainha. Também integraram a ação o Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp), vinculado à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), e a Polícia Científica do Pará.

Garimpos ilegais e destruição ambiental

Durante as incursões, as equipes localizaram e desativaram complexas estruturas de extração de ouro, conhecidas como garimpos “Mamão” e “Porto Inajá”. Esses acampamentos possuíam pistas clandestinas, dragas e escavadeiras de grande porte, evidenciando um esquema organizado e lucrativo de mineração ilegal dentro de uma área de conservação federal.
O impacto ambiental era devastador: rios contaminados por mercúrio, mata nativa devastada e solo revolvido pela exploração predatória. Segundo os peritos da Polícia Científica, o nível de poluição encontrado nos cursos d’água representa risco severo à fauna aquática e às populações ribeirinhas.

De acordo com o superintendente regional Jamil Casseb, a operação marca uma resposta direta do Estado à violência e ao desmatamento associados ao garimpo clandestino. “Encontramos áreas amplamente degradadas, rios envenenados e comunidades ameaçadas por atividades criminosas. A Polícia Civil e demais forças de segurança não serão coniventes com essa destruição. Seguiremos presentes e atuando com firmeza”, afirmou.

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Divulgação – Ag. Pará

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Conexão com a chacina no Vale do Jari

A nova fase da Operação Ouro de Sangue foi deflagrada após diligências que investigaram a morte de oito pessoas em um garimpo ilegal no Vale do Jari, fronteira entre o Pará e o Amapá, em agosto deste ano. As investigações apontam que os garimpos desmontados nesta semana têm ligação com familiares de um homem preso, apontado como mandante da chacina.

Segundo o delegado Gilvan Almeida, titular da DECA de Santarém, o trabalho de inteligência foi essencial para identificar as estruturas criminosas. “Após a Operação Curupira, realizamos levantamentos de campo e imagens aéreas com apoio do Graesp. Essas informações subsidiaram a segunda fase da Ouro de Sangue, garantindo precisão nas ações e segurança das equipes”, explicou.

Desmonte de maquinário e provas coletadas

Com apoio aéreo e terrestre, os agentes destruíram dragas, motores e acampamentos, inutilizando maquinários usados na extração ilegal. Também foram apreendidas armas de fogo, munições e equipamentos de comunicação, além de coletadas provas que subsidiarão os inquéritos criminais e administrativos.
A Polícia Civil informou que novas fases da operação estão previstas, com foco na retirada definitiva de garimpeiros da área, interdição de pistas de pouso clandestinas e reocupação estatal das zonas degradadas dentro da Estação Ecológica do Jari.

A força-tarefa e o papel estratégico do Estado

Para os investigadores, a Operação Ouro de Sangue não se limita à repressão imediata, mas integra uma estratégia mais ampla de combate ao crime ambiental e ao garimpo ilegal na Amazônia.
O plano é fortalecer a presença das forças de segurança, conter a expansão de redes criminosas e restaurar a autoridade do Estado em territórios vulneráveis. “É uma mensagem clara de que o Pará não tolerará a mineração ilegal e suas consequências sociais e ambientais”, reforçou Casseb.

A Estação Ecológica do Jari é uma das mais importantes unidades de conservação da Amazônia, abrigando ecossistemas de várzea, igapó e florestas primárias. A presença de garimpos ilegais na região representa uma ameaça direta à biodiversidade e ao equilíbrio hídrico da bacia do rio Jari — um afluente vital do rio Amazonas.

Com a segunda fase concluída, a Polícia Civil pretende compartilhar os dados coletados com órgãos federais e ambientais para fortalecer investigações conjuntas e ações de responsabilização. A Operação Ouro de Sangue simboliza, assim, um esforço integrado para proteger a floresta, preservar vidas e reafirmar o compromisso do Pará com o enfrentamento aos crimes ambientais e à violência no interior da Amazônia.

Brasil articula aportes internacionais para fundo de florestas tropicais

Enquanto a conferência global do clima se aproxima, o Brasil avança na promoção de uma ideia audaciosa: transformar a preservação florestal em investimento sustentável. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), idealizado pelo governo brasileiro, representa um novo modelo para financiar a conservação de florestas tropicais, que vai além das doações tradicionais e aposta na solidez dos mercados de capitais.

A essência do TFFF é simples, ainda que inovadora. Em vez de depender exclusivamente de doações ou de financiamento filantrópico, ele combinará aportes diretos de países e instituições com a emissão de títulos no mercado financeiro. O capital levantado será aplicado em uma carteira de longo prazo, cujo rendimento cobrirá os investidores e, em seguida, financiará os pagamentos aos países que comprovarem conservação de suas florestas. O mecanismo já foi apresentado durante a COP28 e se prepara para seu momento de descolagem na COP30 em Belém.

Por trás dessa lógica está uma provocação: e se preservar um ecossistema valioso como as florestas tropicais deixasse de ser apenas um custo para nações em desenvolvimento e passasse a gerar receita — para elas e para investidores? O TFFF almeja captar cerca de US$ 100 a 125 bilhões e gerar pagamentos na ordem de US$ 4 bilhões por ano aos países que mantêm suas florestas de pé.

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Reprodução

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Entre os países que o Brasil espera ver como parceiros estão Alemanha, Noruega, Reino Unido, França, Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos — candidatos estáveis para realizar aportes significativos antes ou durante a COP30. Esse tipo de demonstração internacional é crucial para dar escala e credibilidade ao mecanismo.

O modelo funciona mais ou menos assim: países ou investidores aportam recursos; o fundo investe esses recursos no mercado; parte dos lucros retorna aos investidores como remuneração; o excedente, ou o “spread”, é direcionado para os países que protegeram suas florestas tropicais — não quando derrubarem árvores, mas justamente porque mantiveram a cobertura florestal. Em contrapartida, para os países que não cumprirem os requisitos — por exemplo, taxas de desmatamento elevadas — haverá cortes nos pagamentos, ou penalidades elevadas, como valores reduzidos por hectare perdido.

O TFFF difere dos modelos tradicionais, como o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), porque valoriza a floresta existente em pé em vez de recompensar apenas o desmatamento evitado. Isso representa uma inversão na lógica de incentivo: manter o que já está, e não só evitar fazer novo mal.

Mas os desafios são grandes. Estabelecer aportes firmes, garantir que comunidades indígenas participem de forma justa (o modelo prevê que pelo menos 20% sejam destinados a povos indígenas e comunidades locais) e desenvolver sistemas de monitoramento via satélite e critérios robustos para verificar os resultados são apenas algumas das tarefas.

Para o Brasil, sediar a COP30 em Belém (PA) torna o momento ainda mais simbólico. O país assume a presidência da conferência e posiciona o TFFF como uma de suas principais apostas para transformar a agenda do financiamento climático. Se der certo, o mecanismo poderá pavimentar uma nova era em que a conservação das florestas tropicais seja vista como investimento e não apenas como custo — e em que os que mantêm a floresta em pé sejam recompensados por isso.

Em última análise, estamos diante de uma mudança de paradigma: não mais perguntar “quanto custa preservar?” mas “quanto podemos ganhar preservando?”. E o TFFF surge para traduzir essa pergunta em resultados. A curva de aprendizado ainda existe; a implementação está por vir. Mas se os aportes vierem, se os mecanismos técnicos se consolidarem, e se a vontade política se mantiver, o Brasil pode estar abrindo caminho para um novo modelo de justiça climática — em que a floresta em pé deixa de ser apenas símbolo e passa a ser ativo econômico, socioambiental e estratégico para o planeta.

Cientistas da UFLA criam “esponja solar” para despoluir a água

Nem toda boa ideia nasce em um escritório moderno ou em uma start-up milionária. Às vezes, ela surge no silêncio de um laboratório universitário, entre vidrarias e restos de materiais que quase ninguém olharia duas vezes. Foi nesse ambiente, na Universidade Federal de Lavras (UFLA), que um grupo de cientistas resolveu dar novo destino ao que o mundo chama de lixo — e acabou encontrando uma forma de devolver vida à água.

A equipe criou um fotocatalisador flutuante — um nome que parece técnico demais, mas que esconde algo poético: um material capaz de limpar a água usando luz do sol. Ele boia, absorve poluentes e os decompõe com ajuda da energia solar. É, em resumo, uma espécie de “esponja solar” feita de sobras da indústria.

A invenção nasceu de uma inquietação comum entre quem lida com o meio ambiente: como tratar a água de rios e córregos em lugares que ainda não têm estações de tratamento? Em muitos municípios pequenos ou zonas rurais, a contaminação corre solta, literalmente, e as soluções tradicionais são caras ou complexas demais. Foi diante dessa dificuldade que o professor Fabiano Magalhães, do Departamento de Química da UFLA, e sua equipe decidiram experimentar caminhos alternativos.

Eles usaram resíduos de siderurgia — o pó que sobra do processo de fundição do aço, rico em óxido de zinco —, misturaram a uma base de bio-óleo de eucalipto e perlita expandida, um tipo de vidro vulcânico leve e barato. Dessa combinação nasceu o composto que, ao ser colocado sobre a água, flutua como uma pequena jangada tecnológica. Quando o sol bate, o material entra em ação, quebrando moléculas de corantes e outros compostos tóxicos, devolvendo transparência à água.

Nos testes iniciais, a equipe escolheu um vilão clássico: o corante têxtil preto remazol, um dos mais resistentes e poluentes. “A ideia era começar por algo difícil, para medir o potencial real do material”, explica Magalhães. O experimento funcionou em água destilada e também em amostras de rio — com resultados surpreendentes. O fotocatalisador conseguiu degradar boa parte do corante e, melhor ainda, pôde ser reutilizado diversas vezes.

“É uma tecnologia simples, de baixo custo e que aproveita resíduos que normalmente seriam descartados”, diz o professor. “A gente está transformando um passivo ambiental em uma ferramenta de purificação.”

A frase resume o espírito do projeto: fazer mais com menos. Em vez de criar algo novo e caro, a equipe preferiu repensar o que já existia — uma lógica que combina perfeitamente com a ideia de economia circular, em que nada é desperdiçado e tudo pode ganhar nova função.

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Reprodução

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Luz, água e engenhosidade

Para quem acompanha o trabalho no laboratório, o processo é quase hipnótico. O fotocatalisador, quando exposto à luz ultravioleta — ou até mesmo à luz natural —, ativa uma reação química que quebra as impurezas da água em compostos menores, inofensivos. O princípio é o mesmo que faz certas tintas autolimpantes e vidros de edifícios repelirem sujeira. Só que, neste caso, a mágica acontece em escala ambiental.

Mas nem tudo é simples. O desempenho do material depende de fatores como pH, temperatura e concentração de poluentes. “Cada tipo de efluente tem suas particularidades”, explica Magalhães. “A gente precisa ajustar o processo conforme a origem da água e o tipo de contaminação.” Ainda assim, os resultados são animadores — e colocam o grupo da UFLA entre as referências nacionais em pesquisa sobre fotocatálise ambiental.

A equipe é diversa e entusiasmada. Entre os nomes, destaca-se o de Tibúrcio da Gracinda Lopes Chembeze, professor moçambicano que faz doutorado na UFLA e traz uma perspectiva valiosa sobre o uso de tecnologias acessíveis em países em desenvolvimento. Ao lado dele, os estudantes Aline Borges Alves, Bárbara Teles Porto e Gabriel Hatiro Miya vivem o dia a dia da pesquisa, entre experimentos, registros de dados e muita paciência com os imprevistos que só quem trabalha em laboratório conhece.

“É bonito ver o brilho nos olhos deles quando algo funciona”, conta Magalhães. “Porque ciência é isso — é tentativa, erro e descoberta. É olhar para o que deu errado e entender que é parte do caminho.”

Do campus para o mundo

A história da “esponja solar” é, também, uma história de parcerias. Além da UFLA, o projeto reúne pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e da Universidade Federal de Alfenas (Unifal). É uma rede de colaboração que combina diferentes expertises — da química de materiais à análise estrutural.

O trabalho conta com apoio do CNPq, da Capes e da Fapemig, e foi apresentado recentemente na Reunião Nacional da Sociedade Brasileira de Química, um dos maiores encontros científicos do país. Mas o impacto do projeto vai além dos congressos. A proposta desperta o interesse de prefeituras e organizações ambientais que buscam alternativas simples para tratar pequenas quantidades de água contaminada.

“Não queremos criar algo que dependa de uma grande infraestrutura”, explica o pesquisador. “Nosso objetivo é que essa tecnologia possa ser aplicada em locais afastados, onde o acesso à rede de saneamento é limitado.”

No fundo, o que o grupo da UFLA propõe é um novo modo de olhar para os resíduos e para a própria ideia de progresso. “A sustentabilidade não precisa ser uma palavra bonita num relatório”, diz Magalhães. “Ela pode ser concreta, prática, nascendo daquilo que a gente já tem.”

A água como espelho

Enquanto o mundo discute as crises climáticas, o projeto mineiro nos lembra que cuidar da água é cuidar de tudo. A pureza dos rios não é apenas uma questão ecológica; é também social, cultural, simbólica. A água é espelho e memória — reflete o que somos e o que descartamos.

Por isso, há algo profundamente humano na invenção desses pesquisadores. É como se o fotocatalisador flutuante representasse a capacidade que temos de reinventar as próprias sobras, de fazer nascer do resíduo uma promessa de futuro.

A equipe sabe que o caminho é longo. O material ainda precisa ser testado em ambientes reais, com volumes maiores e sob condições naturais variadas. Mas o passo inicial foi dado — e com firmeza. A esperança, dizem eles, é que a tecnologia inspire outras soluções parecidas: simples, eficazes e possíveis.

A pesquisa integra as ações da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT 2025), cujo tema é “Planeta Água: cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território”. Um tema que, para o grupo de Lavras, não poderia ser mais simbólico. Afinal, o que eles fazem é exatamente isso: cuidar do planeta começando pelo que está perto — um córrego, um laboratório, um punhado de pó industrial que se transforma em ferramenta de cura.

No fim das contas, talvez seja esse o maior encanto da descoberta: mostrar que a inovação não precisa vir de uma sala high-tech em Tóquio ou de um investimento milionário no Vale do Silício. Às vezes, ela nasce no interior de Minas, de um olhar curioso sobre o que sobrou de um processo industrial. Nasce da vontade de ver um rio limpo.

E assim, no pequeno laboratório da UFLA, a água turva começa a clarear sob a luz do sol.

Governo do Pará e Prefeitura de Belém mobilizam internos para limpeza urbana rumo à COP30

A contagem regressiva para a COP30 em Belém envolve mais do que a preparação de eventos e infraestrutura. Uma ação inédita e de grande impacto social e urbano coloca a cidade em movimento: o Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), em parceria com a Prefeitura de Belém, via Secretaria Municipal de Zeladoria e Conservação Urbana (Sezel), mobiliza 300 Pessoas Privadas de Liberdade (PPLs) para serviços de limpeza e manutenção de vias estratégicas da capital.

A iniciativa integra o Programa Construindo Novas Histórias, que oferece reinserção social por meio do trabalho, garantindo direitos trabalhistas e remição de pena — a cada três dias de trabalho, um dia é abatido da pena. Participantes em regime semiaberto realizam atividades externas, retornando à unidade prisional ao fim do dia, fortalecendo a ressocialização e promovendo cidadania.

Os internos realizam roçagem, recolhimento de entulho e manutenção urbana em 11 áreas estratégicas de Belém, definidas pela Sezel, que fornece todos os equipamentos de proteção individual e materiais necessários. Entre as avenidas contempladas estão Marquês de Herval, Visconde de Inhaúma, Pedro Álvares Cabral, Senador Lemos, Augusto Montenegro, Independência, Centenário, Bruno Sechi, Arthur Bernardes, Perimetral e Bernardo Sayão.

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Ajuda dos internos do sistema carcerário a limpeza de Belém para a COP30 – Foto: Alex Ribeiro / Ag. Pará

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Segundo o secretário-adjunto de Gestão Operacional da Seap, Ringo Alex Rayol Frias, o caráter colaborativo da ação reflete um planejamento que combina urbanismo, cidadania e reinserção social. “A Seap participa com 300 pessoas privadas de liberdade, apoiando a Prefeitura e a equipe da zeladoria, para deixar a cidade limpa e pronta para a COP30”, afirmou.

O diretor de Trabalho e Produção da Seap, Belchior Machado, acompanhou o início das atividades e destacou a importância do projeto. Ele ressalta que a parceria com a Prefeitura é contínua e estratégica, iniciando o ano com a limpeza de cemitérios e avançando para vias de maior fluxo. “O trabalho prisional é uma ferramenta essencial de reinserção social e de conservação dos espaços públicos”, comentou.

Os moradores da cidade aprovam a ação. A aposentada Antônia Leonor, 78 anos, que reside há décadas na Avenida Marquês de Herval, elogiou o empenho dos internos e destacou o valor simbólico da iniciativa. “É bom para eles e para nós. O canteiro está bonito e isso é uma oportunidade para mudarem de vida”, disse.

Entre os participantes está Ival Sena Dantas, 52 anos, que cumpre pena há 12 anos e integra o programa. Ele relatou a emoção de participar da ação: “Receber a notícia da seleção foi uma alegria enorme. Hoje fazemos parte dessa mudança na cara de Belém, que está ficando ainda mais linda. O Estado mostra que há chances para quem quer recomeçar. Essa oportunidade abre uma porta para a liberdade e transformação pessoal”.

Mais do que embelezar a cidade, o projeto combina cidadania, educação e cuidado com os espaços públicos, criando impacto positivo tanto para os internos quanto para a população. A iniciativa também reforça o compromisso do Governo do Pará e da Prefeitura de Belém em promover práticas inclusivas, sustentáveis e voltadas à responsabilidade social, alinhadas ao cenário internacional de acolhimento e organização que a COP30 exige.

A ação evidencia que a reinserção social pode caminhar lado a lado com a conservação urbana. Ao mesmo tempo em que Belém se prepara para receber delegações internacionais e visitantes, os internos têm a chance de reconstruir suas trajetórias, desenvolver habilidades e participar ativamente da transformação de sua cidade.

Meio século da Embrapa Cerrados: como o Cerrado virou caso de sucesso

O Dia da Agricultura, celebrado anualmente em 17 de outubro, assume um novo significado em 2025, ano que marca os cinquenta anos da Embrapa Cerrados. Essa unidade de pesquisa foi protagonista de uma das transformações mais profundas do panorama agrícola brasileiro: a conversão do Cerrado — até então considerado solo pouco fértil e de baixa aptidão — em uma referência internacional de produtividade e sustentabilidade.

Na década de 1970, o Brasil optou por uma virada estratégica quando o governo federal definiu que o Cerrado se tornaria a nova fronteira agrícola do país. Esse planejamento foi inscrito no âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975–1979), que colocou a agricultura no centro do crescimento econômico nacional — não apenas para alimentar a população, mas também para gerar matérias-primas industriais, divisas por meio das exportações e estruturar o Brasil como potência agroindustrial. Dentro desse traço de futuro foi criado o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro), que impulsionou a fundação, em 1975, do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados, hoje Embrapa Cerrados.

Com os seus 207 milhões de hectares, o Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e possui uma das mais ricas biodiversidades do planeta. É conhecido como o “Berço das Águas do Brasil” por abrigar nascentes que alimentam oito das doze grandes bacias hidrográficas nacionais — entre elas as dos rios Amazonas, São Francisco e Paraná-Paraguai. Transformar esse território em um polo agropecuário exigiu não apenas investimentos em infraestrutura, mas uma revolução científica: mobilizaram-se solos ácidos, clima tropical, baixos teores de nutrientes e sistemas produtivos adaptados à condição local.

Antes dos anos 70, o Cerrado era visto como uma região de baixa aptidão para a agricultura. Os solos ácidos, pobres em nutrientes, o regime seco pronunciado e a fauna adaptada à savana impunham severas limitações ao cultivo extensivo. A pecuária extensiva, o arroz de sequeiro e a extração de madeira ou carvão vegetal dominavam a economia local. Foi nesse cenário que a Embrapa Cerrados entrou com uma missão: adaptar, transformar e viabilizar a produção agrícola em ambientes onde se acreditava ser inviável.

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Arquivo/Agência Brasil

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A partir da investigação científica, da extensão rural e da inovação tecnológica, os pesquisadores conseguiram desvendar caminhos até então negligenciados. Tecnologias para correção dos solos — como a aplicação de calcário e gesso agrícola —, adubação eficiente, manejo de nutrientes e valorização da matéria orgânica permitiram a definição de sistemas produtivos que respeitam os limites naturais do bioma e ao mesmo tempo geram abundância. A chamada fixação biológica de nitrogênio com estirpes de rizóbios adaptadas ao Cerrado é um marco: substituindo fertilizantes nitrogenados, essa inovação tem provocado economia bilionária aos produtores. Em resumo, a ciência tropical apareceu como motor de produtividade.

Nas décadas que se seguiram, a unidade pesquisadora ampliou suas ambições. Culturas até então restritas ao clima temperado foram adaptadas ao Cerrado: soja, milho, algodão, café, frutas tropicais, trigo — todas “tropicalizadas”. Já na década de 1990, a diversificação se aprofundou: cevada, girassol, amendoim, maracujá, quinoa, amaranto entraram no mapa produtivo. A irrigação racional, os sistemas integrados de produção e o amplo envolvimento da agricultura familiar compuseram o mosaico de inovação. O bioma, antes de solo pobre, tornou-se pulsante na produção de alimentos, fibras, carnes, leite e bioenergia.

Um outro avanço decisivo foi o desenvolvimento, em 1995, do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), uma ferramenta de planejamento que orienta o momento de plantio e reduz perdas agrícolas. Essa ferramenta reduz o risco climático para produtores e torna a produção – tradicionalmente vulnerável – mais robusta. Esse tipo de avanço institucional e tecnológico transformou o Cerrado em laboratório vivo de inovação.

A biodiversidade do Cerrado tem sido também um campo vital de pesquisa. As mais de 6.700 espécies nativas de plantas vêm sendo estudadas para resgatar conhecimentos tradicionais, valorizar a economia regional e construir uma agricultura que convive com a conservação. Espécies como pequi, baru, cagaita e araticum passaram a simbolizar não só frutos da natureza, mas também possibilidades econômicas e culturais. A integração entre ciência moderna e saberes tradicionais ocorreu na restauração de nascentes, na recomposição de áreas degradadas e na valorização da cidadania ambiental local.

Na produção agrícola propriamente dita, a adoção do plantio direto e de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) ampliou a sustentabilidade da produção: é possível colher grãos, pasto para pecuária e madeira ou frutas no mesmo espaço, aumentando a produtividade por hectare e reduzindo pressão sobre novas áreas. Em sistemas integrados, resultados como até 12 toneladas de grãos por hectare e 12 arrobas de carne por hectare demonstram que intensidade e conservação podem andar juntas.

Ao mesmo tempo, a atuação da Embrapa Cerrados se estendeu à agricultura familiar e ao desenvolvimento rural sustentável. Em localidades como Silvânia (GO) e Unaí (MG), projetos comunitários elevaram a produtividade do arroz em mais de 200 % e a produção de leite em 40 %. Agroecologia, produção orgânica, resgate de sementes tradicionais — tudo isso se tornou parte da estratégia de desenvolvimento local, com ciência carregada de sensibilidade social. Transformar realidades comunitárias reforça a ideia de que tecnologia e equidade caminham juntas.

Hoje, o Cerrado é reconhecido não apenas como uma fronteira agrícola, mas como um modelo global de produção responsável. O desafio agora muda de fase: produzir mais, conservar melhor, garantir que o Cerrado continue sendo o coração produtivo e ecológico do Brasil. A Embrapa Cerrados, com meio século de história, provou que a pesquisa científica é central para esse futuro. Graças ao trabalho de centenas de pesquisadores e à cooperação entre universidades, produtores e instituições internacionais, o Cerrado deixou de ser visto como “terra imprópria” e hoje inspira o mundo.

Link do artigo: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/103778308/artigo–dia-da-agricultura-como-a-pesquisa-cientifica-transformou-o-cerrado-em-referencia-mundial-de-produtividade-e-sustentabilidade

 

Banpará amplia serviços de câmbio para visitantes da COP30 em Belém

Com a chegada da COP30 à capital paraense, prevista entre 10 e 21 de novembro, a cidade de Belém se prepara para receber delegações internacionais, turistas e empresários de diversos países. Para facilitar a experiência desses visitantes e fortalecer a economia local, o Banco do Estado do Pará (Banpará) reforça seus serviços de câmbio turismo, garantindo segurança, acessibilidade e praticidade na compra e venda de moedas estrangeiras.

A iniciativa é estratégica: além de atender à demanda por operações financeiras durante o evento, o Banpará contribui para consolidar o Pará como um destino turístico global e competitivo. Segundo a diretora-presidente, Ruth Pimentel Mello, o banco desempenha papel fundamental no acolhimento de visitantes internacionais, oferecendo um serviço que combina confiabilidade e agilidade, além de fortalecer o comércio local e o turismo regional.

Atualmente, o serviço está disponível em pelo menos seis agências e postos de atendimento em Belém, localizados em pontos estratégicos da cidade. Entre as moedas comercializadas estão o dólar americano (USD) e o euro (EUR), com taxas variando conforme a cotação diária de mercado. Para quem deseja acompanhar os valores, o Banpará disponibiliza informações atualizadas diretamente nos pontos de atendimento e nas redes sociais da instituição.

Para realizar operações de câmbio, o procedimento é simples e acessível. É necessário apresentar documento oficial com foto e CPF, enquanto estrangeiros podem utilizar passaporte. O serviço está disponível para pessoas físicas, seguindo as normas estabelecidas pelo Banco Central do Brasil.

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Marcelo Lelis/Ag. Pará

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As unidades disponíveis para o serviço de câmbio turismo incluem:

  1. Agência Belém-Centro – Av. Presidente Vargas, nº 251. Telefone: (91) 3348-3381

  2. Agência Private – Rua Diogo Móia, nº 156. Telefones: (91) 3348-3722 / 3723 / 3724 / 3721 / 3725

  3. Agência Palácio – Rua João Diogo, nº 130. Telefones: (91) 3348-3552 / 3554

  4. Agência Nazaré – Av. Nazaré, nº 1329. Telefones: (91) 3348-3607 / 3608 / 3609

  5. Posto de Atendimento TJ – Av. Almirante Barroso, nº 3089. Telefones: (91) 3348-3775 / 3776

  6. Posto de Atendimento Casa Civil – Av. Dr. Freitas, nº 2531. Telefone: (91) 3348-2999

Mais do que uma operação financeira, o reforço do serviço de câmbio representa um esforço coordenado do governo do Pará para garantir que a capital esteja pronta para receber delegações e visitantes de diferentes partes do mundo. Esse cuidado envolve planejamento, infraestrutura e atenção às necessidades do público internacional, refletindo diretamente na imagem do Estado como destino turístico confiável e acolhedor.

A expectativa é que, com a movimentação de visitantes durante a COP30, haja impacto positivo na economia local, especialmente nos setores de comércio, hospedagem, gastronomia e transporte. A presença de delegados e turistas internacionais estimula negócios, promove intercâmbio cultural e fortalece o potencial do Pará como polo de eventos globais.

O Banpará se posiciona, portanto, como um agente facilitador: além de garantir transações financeiras seguras e eficientes, o banco contribui para a experiência positiva de quem visita a cidade, criando um ambiente favorável à cooperação, à negociação e à circulação de recursos. A iniciativa se conecta diretamente a um modelo de desenvolvimento que alia turismo, negócios e sustentabilidade, fortalecendo a economia sem abrir mão da segurança e da qualidade do atendimento.

Enquanto a COP30 aproxima-se, os serviços de câmbio do Banpará se tornam parte essencial da infraestrutura que apoia o evento, oferecendo tranquilidade a visitantes internacionais e brasileiros que viajam a Belém para participar da conferência e de suas atividades paralelas. A expectativa é que essa preparação transforme o Estado do Pará em referência de hospitalidade, eficiência e planejamento estratégico no contexto de eventos globais.