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Fazendas ilegais de gado ameaçam territórios indígenas e assentamentos no Pará

A Amazônia brasileira enfrenta uma pressão crescente de fazendas de gado ilegais que avançam sobre áreas protegidas, comprometendo a sobrevivência de comunidades tradicionais e pequenos agricultores. O relatório Gado Sujo, divulgado em outubro pela Human Rights Watch, revela como grileiros se apropriam de terras indígenas e assentamentos rurais, comercializando gado ilegal e colocando-o na cadeia produtiva nacional.

A análise detalhou a situação em dois locais emblemáticos: o PDS Terra Nossa, criado em 2006 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e a Terra Indígena Cachoeira Seca, no Pará. Historicamente, esses territórios preservavam florestas e ofereciam subsistência a comunidades locais por meio da coleta de castanhas, pesca e extrativismo sustentável. Hoje, parte significativa dessas áreas foi transformada em pastagem ilegal. Segundo o relatório, três quartos da área do PDS Terra Nossa estão ocupados irregularmente, e quase metade do assentamento perdeu a floresta original.

A pesquisadora da HRW, Luciana Téllez Chávez, detalhou que fazendeiros vendem gado para intermediárias, que repassam para grandes frigoríficos, inserindo ilegalmente o produto na cadeia de carne do país. Além disso, os agricultores do PDS Terra Nossa e os povos da TI Cachoeira Seca sofreram violência e intimidação. Entre 2019 e 2025, quatro pessoas foram mortas por se manifestarem contra as invasões, e uma liderança comunitária sobreviveu a uma tentativa de assassinato.

alta_terra-20roxa_jv Fazendas ilegais de gado ameaçam territórios indígenas e assentamentos no Pará
Reprodução

SAIBA MAIS: Gado ilegal na Amazônia: carne exportada pode carregar devastação

O Incra afirmou que realiza uma “supervisão ocupacional” no assentamento e que existem mais de 50 ações judiciais em andamento para retomar áreas ocupadas irregularmente, muitas com liminares favoráveis à autarquia. No entanto, o avanço das fazendas ilegais continua pressionando a subsistência de agricultores e indígenas, prejudicando a caça, a pesca e a coleta de produtos florestais essenciais para o sustento e a cultura local.

A diretora adjunta de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Patrícia Pinho, destaca que a situação não é isolada: “O relatório da Human Rights Watch mostra que a realidade de invasão e desmatamento permeia toda a Amazônia. O ponto de não retorno ecológico e social, que se esperava apenas para 2040 ou 2050, já está se manifestando hoje”.

O diretor da HRW no Brasil, César Muñoz, ressalta a importância da COP30, que ocorrerá no Pará, para discutir transição energética justa e proteção de direitos humanos. Segundo ele, o aumento da temperatura e as mudanças climáticas afetam o direito à vida, à saúde e à alimentação de comunidades amazônicas. Muñoz enfatiza que os planos climáticos nacionais precisam de metas concretas e cronogramas para reduzir impactos de forma urgente.

Entre as recomendações do relatório está a implementação de um mecanismo de rastreabilidade do gado, que dificultaria fraudes e impediria que fazendas ilegais comercializassem gado irregularmente. A HRW alerta que a medida precisa ser adotada por todos os estados, já que a “lavagem de gado” ultrapassa fronteiras estaduais. A entidade também recomenda que o governo federal retome rapidamente as terras ocupadas ilegalmente, processe judicialmente os responsáveis, restaure florestas degradadas e apoie os meios de subsistência sustentáveis das comunidades.

Além do Incra, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério do Meio Ambiente foram consultados sobre as invasões, mas ainda não se manifestaram oficialmente.

O relatório evidencia que, sem ação imediata, a Amazônia corre risco de perder não apenas biodiversidade, mas também direitos humanos e culturais que sustentam comunidades que vivem na floresta há gerações. A urgência é clara: proteger o bioma e seus habitantes exige políticas firmes e fiscalização contínua, antes que o dano se torne irreversível.

Global Citizen Festival em Belém: música, Amazônia e engajamento social

Belém se prepara para viver um momento histórico: no dia 1º de novembro, o Global Citizen Festival desembarca na capital paraense com um propósito que vai muito além da música. O evento, que antecede a COP30 — a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas —, transforma o palco do Estádio do Mangueirão em uma celebração da Amazônia, da cultura e da ação coletiva por um mundo mais justo e sustentável.

Com entrada gratuita e exclusiva para moradores do Pará, o festival reúne grandes nomes da música brasileira e internacional: Anitta, Seu Jorge, Gaby Amarantos e Chris Martin, vocalista do Coldplay. Uma mistura de ritmos e vozes que promete marcar a história cultural e ambiental da região.

Música com propósito

O Global Citizen Festival: Amazônia é mais que um show — é uma plataforma global de mobilização. A proposta é simples e poderosa: trocar engajamento social por chances de participar do evento.
Os ingressos são sorteados entre os moradores do Pará que acumulam pontos ao realizar ações em defesa de causas sociais e ambientais, tudo pela plataforma da Global Citizen.

As atividades incluem assinar petições, participar de quizzes, compartilhar conteúdos e realizar check-ins em locais parceiros. Cada ação rende pontos, que podem ser trocados por inscrições nos sorteios de ingressos. A cada 50 pontos, o participante pode concorrer a um par de entradas. Quanto maior o envolvimento, maiores as chances de ir ao festival.

unnamed-1-1-368x600 Global Citizen Festival em Belém: música, Amazônia e engajamento social

SAIBA MAIS: Começou o Festival de Cultura Indígena do Xingu no Pará

Como garantir seu ingresso

Participar é fácil e gratuito:

  1. Cadastre-se no site da Global Citizen, baixe o aplicativo ou envie mensagem para o WhatsApp oficial (+55 11 4040-7099).

  2. Realize ações dentro da plataforma — cada atividade tem um valor em pontos.

  3. Troque pontos por sorteios de ingressos e concorra a um par para o festival.

  4. Confira o resultado pelo e-mail cadastrado, site, app ou WhatsApp.

Os vencedores recebem um código para resgatar os ingressos na Ticketmaster, com prazo de 48 horas para confirmação. Os bilhetes digitais são entregues via aplicativo Quentro, e apenas quem tiver ingresso válido poderá acessar o evento.

O tempero amazônico que está ganhando cada vez mais fama nos grandes restaurantes brasileiros

Quando se fala em Amazônia, muita gente pensa em rios, árvores gigantes e uma natureza que parece não ter fim. Mas a floresta é também um caldeirão de sabores — intensos, exóticos e cheios de história.
Cada folha, raiz e grão carrega um pedacinho da cultura dos povos que vivem ali há séculos, transformando o simples ato de cozinhar em um mergulho sensorial.

 Pimentas que aquecem corpo e alma

Entre os condimentos amazônicos, as pimentas são protagonistas.
A pimenta-de-cheiro, pequena e intensamente aromática, não é apenas picante — é perfumada. Ela dá vida ao tucupi, ao tacacá e ao pato no tucupi com seu aroma frutado e marcante.

Habanero_chile_-_fruits_%28aka%29 O tempero amazônico que está ganhando cada vez mais fama nos grandes restaurantes brasileiros

Já a murupi, considerada uma das mais ardidas do Brasil, é pura ousadia em forma de sabor. Ideal para molhos crus e fermentados, é presença constante nas casas amazônicas — e, segundo a sabedoria popular, também afrodisíaca.

Em muitas comunidades, as pimentas são maceradas com vinagre de açaí ou tucupi para criar molhos caseiros intensos e naturais — receitas passadas de geração em geração.

Ervas que trazem o cheiro da mata para o prato

Alguns temperos da floresta são tão únicos que nem sempre chegam ao restante do país.
A alfavaca-da-mata, parente do manjericão, tem notas cítricas e frescas que elevam qualquer caldo ou carne.
O jambu, estrela do tacacá, é uma experiência à parte: suas folhas provocam uma leve dormência na boca, um “formigamento” que virou marca registrada da culinária paraense.

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E a capeba, de sabor terroso e aroma de mata molhada, dá aos peixes amazônicos um toque inconfundível.

Tucupi: o ouro líquido da floresta

Poucos ingredientes contam tanta história quanto o tucupi.

2560px-TUCUPI_-_panoramio O tempero amazônico que está ganhando cada vez mais fama nos grandes restaurantes brasileiros
Extraído da mandioca brava, ele passa por um longo processo de fermentação e fervura até se tornar esse líquido amarelo e ácido que é o coração da gastronomia amazônica.
Cru, é tóxico. Cozido, é pura alquimia: intenso, aromático e capaz de transformar qualquer prato.

Presente em receitas tradicionais, como o pato no tucupi e o tacacá, ele representa o encontro entre técnica ancestral e sofisticação culinária.

Extratos e óleos que perfumam a comida

Além das ervas e pimentas, há ingredientes que parecem saídos de uma perfumaria — como o óleo de priprioca, extraído de uma raiz nativa.
Com notas amadeiradas e doces, ele é usado tanto em pratos salgados quanto em sobremesas.
Outro destaque é a maniçoba, uma espécie de feijoada feita com folhas de mandioca moídas e cozidas por dias, resultando em um sabor profundo e único.

Esses extratos e óleos fermentados unem o saber dos povos tradicionais à inovação da alta gastronomia — um verdadeiro elo entre o passado e o futuro.

A cultura por trás de cada sabor

Na Amazônia, cozinhar é mais do que alimentar: é contar histórias.
Cada condimento representa saberes ancestrais transmitidos de forma oral e sustentável, mantendo viva a relação das comunidades com a floresta.
É um ato de pertencimento, resistência e celebração da identidade local.

Do mato ao prato: o resgate dos sabores amazônicos

Hoje, chefs e produtores regionais têm redescoberto esses ingredientes e levado o sabor da floresta para o mundo.
O tucupi engarrafado, o molho de murupi e os extratos de ervas amazônicas começam a aparecer em mercados gourmete restaurantes autorais — valorizando tanto o paladar quanto o trabalho das comunidades extrativistas.

Uma floresta de aromas e histórias

Descobrir os condimentos amazônicos é uma viagem por dentro da floresta — onde cada cheiro, cor e sabor tem um significado.
É como caminhar entre árvores aromáticas e folhas vibrantes, sentindo a Amazônia através do paladar.

E talvez o segredo esteja justamente nos pequenos frascos: nas pimentas maceradas, nas ervas secas, nos óleos perfumados.
Neles mora o sabor da floresta — invisível, ancestral e surpreendentemente vivo.

Você sabia que dá pra plantar açaí em casa? Veja como fazer passo a passo

O açaí é um dos maiores símbolos da Amazônia — e, nos últimos anos, virou uma paixão nacional. Está na tigela do café da manhã, no pós-treino, em sobremesas e até em cosméticos.
Mas o que pouca gente imagina é que plantar açaí em casa é totalmente possível, mesmo longe da floresta.

Sim, o “ouro roxo da Amazônia” pode crescer no seu quintal, em vasos grandes ou até em pequenos espaços com boa iluminação e umidade.
Quer descobrir como fazer isso? Neste guia completo, você vai aprender passo a passo como cultivar o seu próprio açaizeiro, desde a semente até os primeiros frutos — e entender por que essa planta é uma das mais incríveis do Brasil.

O que você precisa saber antes de começar

Antes de colocar as mãos na terra, é importante entender um pouco sobre o açaizeiro.

O açaizeiro (Euterpe oleracea) é uma palmeira nativa da Amazônia, acostumada ao clima quente, úmido e com muita água. Na natureza, cresce em áreas alagadas, perto de rios e igarapés, atingindo até 25 metros de altura.

Mas calma: para o cultivo doméstico, você não precisa de um terreno gigante nem de várzea. Existem variedades adaptadas que se desenvolvem muito bem em vasos ou quintais urbanos, desde que tenham boa drenagem, adubo e umidade constante.

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Onde o açaí pode ser plantado?

Você pode plantar açaí:

  • Em quintais (com solo fértil e espaço para crescer);

  • Em vasos grandes (mínimo de 60 litros);

  • Em sítios e chácaras, para consumo próprio;

  • Em sistemas agroflorestais, junto com outras plantas tropicais.

O importante é oferecer um ambiente úmido, quente e bem iluminado. O açaizeiro ama sol — cerca de 6 a 8 horas de luz por dia — e prefere temperaturas entre 24°C e 30°C.

Se você mora em regiões mais frias (como Sul ou Sudeste), o ideal é proteger as mudas nos meses de inverno ou cultivá-las em estufas.

Sementes ou mudas: qual escolher?

Você pode começar de duas formas:

  1. Plantando sementes retiradas do próprio fruto;

  2. Comprando mudas prontas em viveiros.

Plantar a partir da semente

É o jeito mais natural — e o mais demorado também.
Siga este passo a passo:

  1. Escolha frutos maduros, de cor roxa escura e firmes.

  2. Retire a polpa e lave bem as sementes com água corrente.

  3. Deixe secar à sombra por 24 horas.

  4. Plante as sementes em sementeiras com substrato úmido e leve (mistura de areia grossa e terra preta).

  5. Mantenha sempre úmido, mas sem encharcar.

  6. A germinação leva de 40 a 60 dias.

Quando as mudinhas atingirem 20 a 30 cm de altura, podem ser transferidas para o local definitivo.

 

Usar mudas prontas

Se você quer resultados mais rápidos e seguros, compre mudas já formadas, com 4 a 6 folhas e cerca de 30 cm de altura.
Elas pegam com mais facilidade e produzem frutos mais cedo (em 3 a 4 anos, dependendo do manejo).

Preparando o local (ou o vaso)

 Se for no quintal:

  1. Escolha um local ensolarado e úmido.

  2. Cave uma cova de 40 x 40 x 40 cm.

  3. Misture a terra retirada com:

    • 10 litros de esterco curtido ou húmus de minhoca;

    • 100 g de calcário (se o solo for ácido);

    • Um punhado de areia para melhorar a drenagem.

Se for em vaso:

  1. Use um vaso grande, com pelo menos 60 litros e furos de drenagem.

  2. No fundo, coloque pedrinhas ou argila expandida.

  3. Prepare o substrato misturando:

    • 2 partes de terra preta;

    • 1 parte de areia grossa;

    • 1 parte de composto orgânico (como húmus).

  4. Plante a muda e regue bem.

Dica: o vaso pode ficar em varandas, áreas externas ou até perto de janelas — contanto que receba luz direta por boa parte do dia.

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A importância da água

O açaizeiro vem de áreas alagadas, então adora um solo úmido.
Mas atenção: úmido não é encharcado.

O segredo é manter a umidade constante, regando todos os dias nos períodos secos.
Em regiões chuvosas, reduza a frequência para duas a três vezes por semana.

Uma boa prática é cobrir a terra com palha, folhas secas ou serragem. Isso ajuda a manter a umidade e evita o ressecamento do solo.

Luz e temperatura ideais

O açaizeiro precisa de muita luz solar para crescer forte e produzir frutos.
Plante ou posicione o vaso em locais com sol direto durante pelo menos 6 horas por dia.

Em locais frios, o crescimento fica mais lento, e a planta pode precisar de proteção (como uma lona transparente ou estufa simples).
Evite ventos fortes e geadas — o açaí não suporta temperaturas abaixo de 15°C por longos períodos.

Adubação: o combustível do seu açaí

O açaizeiro é exigente em nutrientes, especialmente matéria orgânica.
Adube a cada três meses, usando:

  • Esterco de galinha ou bovino curtido (2 a 3 kg por planta);

  • Húmus de minhoca;

  • Restos vegetais compostados;

  • NPK 10-10-10 (100 g a cada 6 meses, se desejar reforço químico).

Para quem cultiva em vaso, é essencial repor nutrientes com frequência — o espaço limitado faz o substrato se esgotar mais rápido.

Espaçamento e crescimento

Mesmo em vasos, o açaizeiro cresce alto — pode ultrapassar 3 metros em ambiente doméstico, embora na floresta chegue a 25.
Em quintais, o espaçamento ideal é de 3 a 5 metros entre plantas, se você quiser cultivar mais de um pé.

O açaí cresce em touceiras: com o tempo, surgem novos caules (perfilhos) ao redor do principal. Você pode deixá-los crescer para formar uma moita densa ou remover alguns para controlar o espaço.

Cuidados e pragas

O açaizeiro é resistente, mas alguns cuidados evitam problemas:

ProblemaSintomaSolução
CochonilhasPontos brancos nas folhasPulverize óleo de neem a cada 15 dias
Broca-do-cauleFuros e folhas murchasRetire partes afetadas e aplique calda de fumo
Fungo (podridão)Base escurecida e moleEvite excesso de água e melhore a drenagem

Dica extra: lave as folhas de vez em quando para retirar poeira e insetos — isso ajuda a planta a respirar melhor.

Floração e frutificação

O açaí demora de 3 a 5 anos para começar a produzir frutos — e o segredo está em paciência e constância.

A floração ocorre em cachos longos, que depois se enchem de frutinhos roxos.
Cada palmeira pode gerar 3 a 8 cachos por ano, com até 6 kg de frutos por cacho.

Mesmo em vasos, com boa nutrição e irrigação, é possível ter colheitas modestas, ideais para consumo próprio ou para preparar seu próprio açaí natural.

Como colher o açaí

Os frutos ficam verdes no início e vão escurecendo até atingir um roxo intenso — sinal de que estão maduros.
A colheita deve ser feita com cuidado, cortando os cachos sem machucar o caule.

Depois, é só lavar, bater com água fria e coar para separar a polpa.
A polpa pode ser congelada, misturada com frutas ou usada em receitas — do açaí tradicional à mousse, bolos e vitaminas.

Curiosidade: o sabor do açaí varia conforme o solo

Você sabia que o sabor do açaí pode mudar conforme o tipo de solo e a qualidade da água usada na irrigação?
Frutos cultivados em solos mais argilosos tendem a ser mais cremosos e intensos, enquanto os de solos arenosos produzem polpas mais leves e suaves.

Por isso, muitos produtores misturam diferentes tipos de açaí para criar sabores equilibrados — um verdadeiro “blend amazônico”.

Vale a pena plantar açaí em casa?

Sim — e muito.
Além de linda, a palmeira do açaí traz sombra, beleza e sustentabilidade para o ambiente.
Ela ajuda a:

  • Purificar o ar;

  • Atrair pássaros e abelhas;

  • Manter o solo úmido;

  • Produzir alimento saudável.

E, se você tiver espaço, pode transformar o cultivo em uma pequena renda, vendendo mudas, frutos ou até polpa artesanal.

Um gesto pela Amazônia — sem sair de casa

Plantar açaí é também um gesto simbólico de respeito à floresta.
Cada muda cultivada, mesmo longe da Amazônia, é uma forma de manter viva a espécie e espalhar consciência sobre a importância da biodiversidade brasileira.

Você não precisa viver às margens do Rio Pará para ter um pedacinho da floresta em casa — basta um pouco de terra, sol e paciência.
Em troca, o açaizeiro te devolve beleza, sombra e, quem sabe, o sabor do seu próprio açaí fresquinho.

Resumo rápido: passo a passo para plantar açaí em casa

  1. Escolha sementes ou mudas saudáveis.

  2. Prepare o solo (rico em matéria orgânica e com boa drenagem).

  3. Plante em vaso grande ou em local ensolarado.

  4. Regue diariamente, mantendo o solo úmido.

  5. Adube a cada 3 meses.

  6. Proteja de ventos e frio intenso.

  7. Aguarde 3 a 5 anos — e aproveite seus frutos roxos!

Plantar açaí em casa é mais simples do que parece — e o resultado vai muito além da estética.
É ter uma palmeira viva, exuberante, que transforma o ambiente e ainda oferece o sabor mais brasileiro que existe.

Com cuidado, sol e paciência, o seu quintal ou varanda pode se tornar um pequeno pedacinho da Amazônia — e cada cacho colhido será a prova viva de que sim, dá pra plantar açaí em casa.

De onde vem o açaí que você toma na tigela? Veja como ele nasce e cresce

O açaí, antes restrito às margens dos rios amazônicos, conquistou o mundo. De tigelas energéticas em academias de Nova York a smoothies em Tóquio, a pequena fruta roxa se tornou um símbolo global de saúde, energia e sabor. Mas por trás de cada copo de açaí gelado existe uma cadeia produtiva complexa — e tudo começa com o plantio.

Se você sonha em cultivar açaí, seja para consumo próprio, para empreender ou simplesmente por amor à natureza, este guia foi feito para você.
A seguir, você vai aprender como plantar açaí do zero, desde a escolha da muda até a colheita dos primeiros cachos.

O que é o açaí?

O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma palmeira típica da Amazônia, especialmente comum nas várzeas e áreas alagadas do Pará, Amapá, Amazonas e Maranhão. Essa planta pode atingir de 15 a 30 metros de altura e crescer em touceiras — ou seja, forma vários caules (também chamados de perfilhos) a partir de uma mesma raiz.

Além dos frutos usados para o famoso “açaí na tigela”, a planta também oferece:

  • Palmito, muito valorizado na culinária brasileira;

  • Sombreamento natural, ideal para sistemas agroflorestais;

  • Serviços ambientais, como conservação do solo e da biodiversidade.

O açaí é considerado o “ouro roxo da Amazônia”, e sua produção tem crescido exponencialmente nas últimas décadas, com forte impacto na economia e no modo de vida das comunidades ribeirinhas.

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Clima e solo ideais para o cultivo do açaí

O primeiro passo para plantar açaí com sucesso é entender o ambiente onde ele se desenvolve naturalmente.

Clima

O açaizeiro é tropical úmido. Ele ama calor e umidade.
As condições ideais são:

  • Temperatura média: entre 24°C e 30°C

  • Umidade relativa: acima de 80%

  • Chuvas: de 1.800 a 3.000 mm anuais

Em regiões mais secas, é possível cultivar açaí, mas a irrigação será essencial. O açaizeiro não tolera períodos longos de estiagem — suas raízes precisam estar sempre em solo úmido.

Solo

Prefira solos:

  • Argilo-arenosos, férteis e profundos;

  • Com boa drenagem, mas sem ficarem secos;

  • pH entre 5,0 e 6,5.

Evite solos pedregosos ou muito compactados. O ideal é preparar o terreno com matéria orgânica (esterco curtido, húmus ou compostagem).

Como obter as sementes ou mudas de açaí

Você pode começar o plantio de duas formas:

  1. Por sementes (açaí nativo ou biológico)

  2. Por mudas (de viveiros especializados)

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🌾 1. Plantio por sementes

Se quiser começar do zero, siga este processo:

a) Coleta dos frutos:
Escolha frutos maduros, roxos-escuros e firmes, colhidos diretamente do cacho.

b) Retirada da polpa:
Lave e esfregue as sementes em água corrente para remover toda a polpa.
O resíduo impede a germinação se não for retirado.

c) Secagem:
Deixe as sementes secarem à sombra por 24 horas, em local ventilado.

d) Germinação:
Plante as sementes em sementeiras com areia grossa ou substrato leve e úmido.
A germinação leva de 40 a 60 dias.

🌱 2. Plantio por mudas

A forma mais prática é comprar mudas já formadas em viveiros confiáveis.
As vantagens:

  • Maior taxa de sobrevivência;

  • Uniformidade no crescimento;

  • Produção mais rápida.

As mudas devem ter entre 25 e 40 cm de altura e de 4 a 6 folhas bem formadas.
Evite mudas com folhas amareladas ou sinais de fungos.

 Preparo do terreno e do plantio

O plantio deve ser feito no início do período chuvoso, o que facilita o pegamento das mudas.

Passo 1: Limpeza e preparo

Limpe o terreno, retirando ervas daninhas e galhos secos.
Faça uma aração leve para soltar o solo e facilitar o crescimento das raízes.

Passo 2: Cova de plantio

Abra covas de 40 x 40 x 40 cm.
No fundo da cova, adicione:

  • 10 litros de esterco curtido;

  • 200 g de calcário (se o solo for ácido);

  • 100 g de superfosfato simples.

Misture bem o adubo ao solo antes de plantar.

Passo 3: Espaçamento

O espaçamento ideal depende do tipo de cultivo:

SistemaEspaçamentoFinalidade
Tradicional (várzea)5 m x 5 mProdução de frutos
Adensado3 m x 3 mColheita intensiva
Agroflorestal6 m x 6 mConsórcio com outras espécies

O espaçamento mais fechado (3×3) aumenta a produtividade por área, mas exige manejo mais frequente.

Irrigação e cuidados com a umidade

O segredo do açaí é água constante, sem encharcar.
Se não houver chuva suficiente, adote irrigação por aspersão ou gotejamento.

Durante os primeiros dois anos:

  • Mantenha o solo sempre úmido, mas não alagado;

  • Faça capinas regulares para controlar o mato;

  • Reforce a adubação orgânica a cada seis meses.

Em solos arenosos ou regiões mais secas, cubra o entorno da muda com palha ou folhas secas, que ajudam a manter a umidade e reduzir a erosão.

Adubação e manejo nutricional

O açaizeiro responde muito bem à matéria orgânica.
Use:

  • Esterco bovino ou de galinha curtido;

  • Restos vegetais compostados;

  • Farinha de osso e torta de mamona (para reposição de fósforo e nitrogênio).

Fórmula básica de adubação anual (por planta)

  • Ano 1 e 2: 200 g de NPK 10-10-10 + 5 kg de esterco curtido;

  • Ano 3 em diante: 500 g de NPK 14-14-8 + 10 kg de matéria orgânica.

Aplique o adubo ao redor da planta, a cerca de 40 cm do caule, misturando levemente ao solo.

Consórcio e sombreamento: o segredo do sucesso

O açaizeiro cresce melhor em meio sombreado nos primeiros anos.
Por isso, é comum cultivá-lo em consórcio com:

  • Bananeiras (sombreamento e renda rápida);

  • Cupuaçu e cacau (bons companheiros em agroflorestas);

  • Pimenta-do-reino (aproveita o mesmo ambiente úmido).

Esse tipo de plantio reduz o impacto do sol direto e mantém o microclima mais úmido — condições semelhantes às da floresta.

Controle de pragas e doenças

Embora resistente, o açaizeiro pode sofrer com algumas pragas e fungos.
As principais são:

ProblemaSintomasSolução
Broca-do-caulePerfurações no tronco, folhas murchasRetirar e queimar partes afetadas
CochonilhasManchas brancas nas folhasPulverizar calda de fumo ou óleo de neem
Podridão do estipeEscurecimento da base do cauleEvitar encharcamento; aplicar calda bordalesa

Evite defensivos químicos sempre que possível — o açaí é uma cultura de baixo impacto ambiental, e o manejo orgânico garante qualidade e sustentabilidade.

Floração e frutificação

O açaizeiro começa a florescer entre 3 e 5 anos após o plantio (em sistemas irrigados e bem manejados, pode ser antes).

A floração ocorre em cachos alongados, que depois formam os frutos.
Cada palmeira pode produzir de 3 a 8 cachos por ano, com cerca de 3 a 6 kg por cacho.

A colheita é feita de 2 a 3 vezes ao ano, dependendo da região e do regime de chuvas.

Colheita do açaí

A colheita é um espetáculo à parte.
Tradicionalmente, o ribeirinho sobe na palmeira usando o peconha, uma corda de cipó que amarra os pés, e corta o cacho maduro com um facão.

Hoje, em plantações comerciais, a colheita é feita com escadas ou equipamentos mecânicos.

Dicas:

  • Colha somente frutos maduros, de cor roxa intensa;

  • Evite deixar os cachos expostos ao sol após a colheita — o calor reduz a qualidade da polpa;

  • Processe os frutos em até 24 horas para manter o sabor e os nutrientes.

Produção e beneficiamento

Após a colheita, os frutos são lavados e batidos em água fria para separar a polpa do caroço.
O rendimento médio é de 15 a 25% de polpa em relação ao peso total.

A polpa pode ser:

  • Congelada, para venda em polpas e tigelas;

  • Pasteurizada, para indústrias de suco;

  • Desidratada, para uso em suplementos alimentares.

O açaí fresco oxida rapidamente — por isso, o processamento deve ser rápido e cuidadoso.

Rentabilidade e mercado

O açaí é uma das cadeias mais promissoras do agronegócio amazônico.
Um hectare bem manejado pode render de 8 a 12 toneladas de frutos por ano, o que equivale a R$ 25 mil a R$ 60 mil anuais, dependendo da região e do preço de mercado.

Além do fruto, há demanda crescente por:

  • Palmito de açaí;

  • Mudas e sementes;

  • Subprodutos naturais, como cosméticos e corantes.

O açaí tem mercado interno e forte exportação para EUA, Europa e Ásia, com consumo crescente em academias, restaurantes e supermercados.

 Sustentabilidade: plantar açaí é preservar

Plantar açaí vai além de um negócio.
É uma forma de recuperar áreas degradadas, gerar renda sustentável e proteger a floresta.

O cultivo em sistemas agroflorestais ajuda a:

  • Conservar o solo e a umidade;

  • Atrair fauna local (pássaros, abelhas, insetos polinizadores);

  • Reduzir o desmatamento e a pressão sobre as áreas nativas.

Por isso, o açaí se tornou símbolo de um novo modelo de desenvolvimento amazônico, que une economia e ecologia.

Dicas finais para o sucesso no cultivo

  1. Prefira mudas certificadas, para garantir produtividade e resistência.

  2. Invista em irrigação, especialmente em regiões fora da Amazônia.

  3. Aposte em consórcios agroflorestais, que equilibram solo e sombra.

  4. Use adubação orgânica regular — o açaí responde muito bem a compostos naturais.

  5. Observe a umidade do solo: nem seco demais, nem encharcado.

  6. Colha no ponto certo, e processe rapidamente para manter a qualidade.

  7. Busque apoio técnico de órgãos locais de extensão rural (como Emater e Embrapa).

Plantar açaí é mais do que iniciar uma lavoura — é participar de uma das histórias mais bonitas da agricultura brasileira.
A palmeira que cresceu nas margens dos rios amazônicos hoje leva renda, sabor e identidade para o mundo todo.

Com manejo adequado, respeito à natureza e paciência, você pode transformar algumas mudas em uma floresta produtiva e sustentável — um verdadeiro tesouro roxo em seu quintal.

“Atlas da Amazônia Brasileira” dá voz aos amazônidas e saberes locais

A Amazônia brasileira não é mais um território distante, abstrato ou imaginado: é feita de pessoas, culturas, histórias, saberes e lutas que resistem dia após dia. Com essa convicção, a Fundação Heinrich Böll lançou o Atlas da Amazônia Brasileira, uma coletânea que transpõe os olhares externos e convida à escuta das vozes que vivem, moldam e defendem a maior floresta tropical do planeta.

São 32 artigos elaborados por 58 autores — sendo 19 indígenas, cinco quilombolas e dois ribeirinhos — que se somam a pesquisadores e ativistas para reconstruir a Amazônia a partir de dentro. Eles trazem reflexões sobre ancestralidade, ciência local, território, urbanização, violência, resistências e potências. A iniciativa vai além de compilar dados: ela reconstrói narrativas.

A publicação denuncia como a visão colonizadora reduziu a Amazônia a um “vazio” — uma terra de ninguém pronta para ser ocupada, explorada ou integrada ao modelo ocidental. Essa lógica tem permitido grilagem, desmatamento, mineração, expansão do agronegócio, e uma constante violência contra povos tradicionais. O Atlas surge para dizer que esse olhar está equivocado — e que as soluções para a crise climática devem partir também do protagonismo amazônida.

No editorial, a Fundação destaca que a obra marca uma inflexão: é o primeiro atlas do fundo pensado e produzido no Sul Global, voltado para a região amazônica por seus próprios atores. E isso acontece em um ano decisivo: a COP30 será realizada em Belém, o que torna ainda mais urgente que quem vive na região tenha lugar de fala.

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Divulgação

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Entre os temas abordados, está a urbanização amazônica — pouco conhecida: três quartos da população da região vivem em áreas urbanas. Este dado quebra o clichê de que a Amazônia é apenas floresta contínua e isolada. Em paralelo, os autores lembram as cifras que denunciam a gravidade da situação: entre 2019 e 2022 o desmatamento bateu recordes, o garimpo ilegal em terras indígenas cresceu 90% e a presença armada na Amazônia Ocidental aumentou mais de 1.000%.

Mas o Atlas vai além da denúncia: ele revela saberes sobre a própria floresta, demonstrando que comunidades indígenas e tradicionais foram fundamentais para a construção e manutenção desses ecossistemas, por meio de manejo, conhecimento local, cosmologias e práticas sustentáveis.

A obra aponta ainda que a crise climática e o colapso ambiental não poderão ser enfrentados com olhar único ou estrangeiro: é preciso entrelaçar a ciência ocidental com epistemologias tradicionais, valorizar territórios, garantir direitos humanos, fortalecer a justiça socioambiental e reconhecer que as raízes dos problemas — e das soluções — estão também na Amazônia.

Em última instância, o Atlas da Amazônia Brasileira convida à mudança de perspectiva. Não se trata apenas de mostrar o que a floresta é ou poderia ser, mas de afirmar quem são seus habitantes, quais são os seus saberes, quais as suas esperanças e como estas podem guiar um futuro mais justo, sustentável e comprometido. Se a floresta, seus rios, suas comunidades e seus modos de vida forem parte central desse debate — e não meramente objeto — então talvez possamos traçar um novo caminho para a Amazônia e para o planeta.

A importância da bicicleta ao longo do tempo

Poucos objetos tiveram tanto impacto na sociedade quanto a bicicleta. Desde sua invenção, há mais de dois séculos, ela revolucionou a maneira como as pessoas se deslocam, trabalham, se exercitam e até como se relacionam com o meio ambiente. Simples, eficiente e acessível, a bicicleta é um dos símbolos mais duradouros de liberdade e mobilidade individual.

Ao longo do tempo, ela deixou de ser apenas um meio de transporte para se tornar um elemento cultural e social. A história da bicicleta acompanha de perto a própria evolução das cidades, a industrialização e até os movimentos de emancipação, especialmente das mulheres. Mais do que uma invenção, ela é uma representação da busca humana por autonomia e sustentabilidade.

Origem da bicicleta e seus primeiros impactos

A bicicleta, como conhecemos hoje, passou por diversas transformações desde sua criação. O primeiro modelo, conhecido como celerífero ou máquina de correr, surgiu na França no final do século XVIII. Ele não tinha pedais nem correntes: o ciclista precisava empurrar o veículo com os pés. Poucas décadas depois, vieram os primeiros protótipos com pedais fixos nas rodas dianteiras, mas o conforto e a estabilidade ainda deixavam a desejar.

Foi apenas na segunda metade do século XIX que a bicicleta ganhou forma moderna, com correntes, rodas de mesmo tamanho e estrutura de metal. A popularização do veículo coincidiu com a Revolução Industrial, o que tornou possível a produção em larga escala. As bicicletas começaram a se espalhar por toda a Europa, transformando a mobilidade urbana e o lazer.

Na virada do século XX, as bicicletas já eram sinônimo de independência e inovação. Elas permitiam que trabalhadores chegassem ao emprego com mais rapidez e ofereciam, pela primeira vez, liberdade de deslocamento para muitas mulheres, que antes dependiam de carroças ou do transporte masculino. Não por acaso, o veículo foi associado aos movimentos feministas da época, simbolizando emancipação e igualdade.

 

A bicicleta e o desenvolvimento urbano

Com o crescimento das cidades e a chegada dos automóveis, a bicicleta precisou se adaptar a novos contextos. Embora tenha perdido espaço nas vias urbanas durante boa parte do século XX, ela nunca deixou de ser uma ferramenta fundamental de transporte. Em muitas cidades europeias, como Amsterdã e Copenhague, o veículo se manteve como parte essencial da cultura local, sendo prioridade nas políticas de mobilidade.

No Brasil, a bicicleta teve forte presença nas décadas de 1950 e 1960, especialmente em regiões industriais. Ela era usada por operários, estudantes e comerciantes, servindo como um meio de transporte econômico e confiável. Mesmo com o avanço do transporte motorizado, muitas cidades mantiveram comunidades inteiras que dependiam das duas rodas no dia a dia.

Hoje, com o aumento dos congestionamentos, da poluição e das preocupações ambientais, a bicicleta vem reconquistando espaço. Ela é vista como uma solução moderna para os desafios das grandes metrópoles, promovendo uma mobilidade mais limpa e saudável. Esse retorno não é apenas uma tendência urbana, mas uma necessidade global de repensar o modo como nos deslocamos.

Simbolismo cultural e social da bicicleta

Ao longo do tempo, a bicicleta passou a representar muito mais do que transporte. Ela simboliza liberdade, sustentabilidade e equilíbrio. Em muitas partes do mundo, pedalar é uma forma de expressão e estilo de vida.

Em países como a Holanda, o Japão e a Dinamarca, ela é parte integrante da cultura nacional. Já em locais como o Brasil, vem ganhando força entre diferentes públicos, desde quem busca economia até os que enxergam no pedal uma forma de melhorar a qualidade de vida.

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Para muitos jovens, a bicicleta também representa uma retomada do contato com a cidade e com o próprio corpo. O ciclismo urbano permite redescobrir ruas, parques e trajetos sob uma nova perspectiva. Não é à toa que o número de ciclovias cresce a cada ano, incentivando mais pessoas a adotar o veículo.

A popularização do ciclismo também impulsionou a busca por modelos mais confortáveis e acessíveis. É comum ver debates em fóruns e grupos de entusiastas sobre componentes, ajustes e manutenção. Muitos ciclistas iniciantes, por exemplo, pesquisam o que é uma boa bike montadinha, procurando entender como montar um conjunto equilibrado, que ofereça conforto e desempenho sem exigir altos investimentos. Esse interesse mostra que a relação com a bicicleta é, acima de tudo, uma relação de cuidado e aprendizado.

 

Papel da bicicleta na saúde e na sustentabilidade

Poucas atividades físicas oferecem tantos benefícios quanto o ciclismo. Pedalar melhora a capacidade cardiovascular, fortalece os músculos das pernas e reduz o estresse. Além disso, é uma atividade de baixo impacto, ideal para pessoas de diferentes idades.

Mas os ganhos vão além do corpo. O uso da bicicleta tem um impacto direto na sustentabilidade urbana. Cada trajeto feito de bicicleta, em vez de carro, representa menos emissões de poluentes e menos ruído nas cidades. É uma escolha que contribui para o equilíbrio ambiental e para o bem-estar coletivo.

Estudos apontam que o aumento do uso de bicicletas em áreas urbanas reduz significativamente os níveis de dióxido de carbono e melhora a qualidade do ar. Em cidades que investiram em infraestrutura cicloviária, como Bogotá e Paris, o resultado foi um transporte público mais eficiente e uma população mais saudável.

Além disso, a bicicleta também tem um papel econômico relevante. Ela ajuda a reduzir gastos com combustível, transporte público e até com saúde pública, já que populações mais ativas tendem a apresentar menos doenças crônicas.

A bicicleta na era digital e as novas tendências

Com o avanço da tecnologia, as bicicletas também evoluíram. Hoje, há modelos elétricos, dobráveis e inteligentes, que se conectam a aplicativos e sensores. Essas inovações ampliam o público do ciclismo, tornando o uso mais acessível e prático, especialmente para quem vive em grandes centros.

WhatsApp-Image-2025-10-22-at-14.27.12-1-400x400 A importância da bicicleta ao longo do tempo

As bicicletas elétricas, por exemplo, têm sido uma alternativa sustentável para trajetos longos ou em terrenos acidentados. Elas permitem que pessoas de diferentes idades e condições físicas adotem o ciclismo como meio de transporte. Já as bicicletas compartilhadas se tornaram parte do cotidiano de muitas capitais, ajudando a integrar diferentes modais e promovendo uma mobilidade mais democrática.

Essa transformação também tem um componente social importante. Em tempos de mudanças climáticas e busca por alternativas ao consumo excessivo, a bicicleta simboliza uma maneira mais equilibrada de viver. Ela une praticidade, economia e consciência ambiental.

Um novo olhar sobre o consumo e a mobilidade

O crescimento do ciclismo no mundo vem acompanhado de uma mudança no comportamento do consumidor. As pessoas estão mais conscientes sobre o impacto de suas escolhas e buscam produtos e serviços que reflitam seus valores. Essa tendência também se reflete em momentos de grande apelo comercial, como os descontos da Black Friday.

Embora o evento ainda seja associado ao consumo de eletrônicos e roupas, há um aumento de interesse em equipamentos esportivos e bicicletas durante o período. No entanto, mais do que aproveitar promoções, muitos consumidores têm usado a data para investir em itens que realmente trazem qualidade de vida e durabilidade.

O uso da bicicleta, nesse contexto, representa uma nova forma de consumo, mais responsável, funcional e sustentável. Ela é uma resposta à pressa e à poluição das cidades, ao mesmo tempo em que oferece liberdade e prazer.

A bicicleta e o futuro das cidades

O futuro da mobilidade urbana passa, inevitavelmente, pela bicicleta. Com o aumento da densidade populacional e os desafios climáticos, os centros urbanos precisam investir em alternativas sustentáveis. As ciclovias, os estacionamentos seguros e os programas de incentivo ao uso da bicicleta são medidas que já mostram resultados positivos em várias cidades do mundo.

No Brasil, algumas capitais têm avançado nesse sentido, criando redes integradas de transporte que incluem o ciclismo como parte essencial. Esse tipo de política não apenas melhora o trânsito, mas também promove um estilo de vida mais saudável e inclusivo.

A tendência é que, até 2030, a bicicleta tenha um papel ainda mais central na mobilidade urbana. Ela é silenciosa, econômica e sustentável, e se adapta às mais diversas realidades sociais e econômicas.

História que continua sendo escrita

A história da bicicleta é também a história da humanidade em busca de equilíbrio entre progresso e simplicidade. Ela surgiu como uma invenção curiosa e se tornou uma das ferramentas mais importantes de transformação social e ambiental.

Mais do que um veículo, a bicicleta é um símbolo de liberdade, de sustentabilidade e de conexão com o mundo. Seu legado atravessa gerações e continua inspirando pessoas a repensar a maneira como vivem e se deslocam.

Seja em pequenas cidades ou nas grandes metrópoles, pedalar é um ato de resistência e consciência. E enquanto houver caminhos, haverá quem escolha a bicicleta: não apenas como meio de transporte, mas como um modo de viver o tempo com mais leveza e propósito.

Governo divulga programação completa dos Pavilhões Brasil na COP30

O governo federal divulgou a programação completa dos COP30 — a 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que será realizada em Belém (PA) entre 10 e 21 de novembro de 2025 — com todos os painéis que serão realizados nos Pavilhões Brasil. Em anúncio oficial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em coordenação com a Casa Civil da Presidência da República, foram programados 286 eventos que se distribuirão por quatro auditórios nas Zonas Azul e Verde do evento.

A agenda, viva e extensa, abre espaço para participação da sociedade civil, setor privado, academia e representantes internacionais no debate climático. Os painéis ocorrerão das 10 h às 19 h, com duração máxima de 60 minutos cada.

Na Zona Azul, os temas centrais serão a implementação da NDC brasileira — as Contribuições Nacionalmente Determinadas do Brasil no âmbito do Acordo de Paris — e os mecanismos de cooperação internacional que apoiam essa execução. A Zona Verde, por sua vez, volta-o olhar para conceitos domésticos, com destaque para o Plano Clima, que definirá as ações brasileiras para enfrentamento da crise climática até 2035.

Esse anúncio sinaliza, acima de tudo, um esforço de articulação: o Brasil pretende consolidar um espaço de diálogo plural — envolvendo governo, sociedade, povos tradicionais, ciência e setor privado — como parte do seu protagonismo na agenda climática global. A escolha de Belém como sede e tanto o volume quanto a diversidade de sessões demonstram essa ambição.

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Vista aérea dos painéis solares no Parque da Cidade, em Belém (PA), espaço de mais de 500 mil m² que sediará a COP30 em novembro. — Foto: Anderson Coelho/AFP

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Ao mapear 286 painéis, o MMA e a Casa Civil estão dizendo que a COP30 não será apenas mais uma conferência na qual se fala sobre intenções: será um palco para o entrelaçamento de produção de conhecimento, decisões estratégicas e mobilização da sociedade. Isso porque, ao combinar debates sobre implementação de políticas climáticas, financiamento, transição de matrizes energéticas, cidadania climática e justiça socioambiental, os Pavilhões Brasil se apresentam como incubadora de ações concretas.

Importante observar que o cronograma detalhado — com nomes de painelistas, moderadores e instituições participantes — ainda está para ser divulgado no site oficial do MMA. Isso cria uma expectativa de que os próximos dias tragam mais transparência e ganhos de visibilidade para aqueles que desejam acompanhar ou participar ativamente.

Para os interessados, o formato sugere uma oportunidade única de envolvimento direto: participar de momentos de debate e networking que tratam da implementação das políticas climáticas brasileiras, de caminhos de cooperação internacional e de governança ambiental. As sessões foram escalonadas para oferecer alternância diária ao longo dos auditórios e temas, permitindo aos participantes escolher múltiplos ângulos de envolvimento.

Em resumo, a divulgação da programação completa dos Pavilhões Brasil na COP30 representa mais do que logística: marca o início de um ciclo de articulação, engajamento e transformação para o Brasil no campo da ação climática. A conferência em Belém se apresenta como um momento-chave — no qual a teoria precisa se encontrar com a prática, e na qual debates se convertem em compromissos e estratégias de longo prazo.

Cúpula do Clima 2025

A Cúpula aconteceu durante a abertura da 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU. Antes da Cúpula, dez Diálogos de Soluções Climáticas de alto nível foram realizados de 22 a 24 de setembro, na Sede da ONU. Os diálogos visaram fornecer recomendações concretas para consolidar, acelerar e implementar soluções de ação climática antes da trigésima reunião da Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém.

Abertura

Líderes nacionais anunciando os compromissos em relação às mudanças climáticas e acelerando o ritmo rumo à 30ª reunião da Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), em novembro., em Belém. Quase 100 países compartilharam seus planos ou atualizaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs), que refletem as intenções de seus países de adotar medidas climáticas.

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Na sessão solene de abertura da Cúpula do Clima 2025, cerca de 100 países, incluindo quase 40 Chefes de Estado e de Governo, declararam seu compromisso com novas metas climáticas para tentar controlar o aumento da temperatura

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, enfatizou que tanto a ciência quanto a economia impulsionam a ação climática. Embora o Acordo de Paris tenha feito a diferença, com a projeção de aumento da temperatura global caindo de 4°C para menos de 3°C se as NDCs atuais forem totalmente implementadas.

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O Secretário-Geral António Guterres discursando na abertura do debate geral da octogésima sessão da Assembleia Geral

Guterres enfatizou a necessidade de novos planos para 2035 que sejam mais abrangentes e rápidos. Ele afirmou que a COP 30 deve ser concluída com um plano global confiável para nos colocar no caminho certo:

☆ turbinando a transição para energia limpa;

☆ reduzindo drasticamente as emissões de metano;

☆ acabar com a destruição das florestas;

☆ redução das emissões da indústria pesada; e

☆ garantindo a justiça climática

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Katherine Hayhoe (em primeiro plano), professora e cientista climática, discursa na Cúpula do Clima 2025, um evento especial de alto nível sobre Ação Climática. À esquerda, Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam

Durante a abertura, os cientistas Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, e Katherine Hayhoe, da Universidade Tecnológica do Texas, apresentaram avaliações dos esforços atuais para atingir as metas do Acordo de Paris. Rockström alertou que os impactos associados a um aumento de temperatura acima de 1,5°C correm o risco de cruzar pontos de inflexão, levando a mudanças irreversíveis. Ele delineou um caminho que envolve reduções drásticas nas emissões, remoção em escala de CO2 e uma transição para longe dos combustíveis fósseis. “A janela ainda existe, mas é estreita”, acrescentou.

Hayhoe afirmou que, embora a ciência seja clara, a conscientização não leva necessariamente à ação. Afirmando que precisamos saber que não estamos sozinhos e que há esperança, ela enfatizou que cada ação para a transição da energia poluente, a transformação dos sistemas alimentares e o investimento em resiliência contribuem para o cumprimento das metas climáticas. Hayhoe apelou aos líderes para “escolherem a coragem em vez do medo, a ação em vez da demora e a esperança em vez do desespero”.

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Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, ao fundo a Ministra de Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva

Para ilustrar o impacto do Acordo de Paris desde sua adoção, Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, citou um aumento de 140% nas energias renováveis ​​e um aumento de 80% nos investimentos em energia limpa. Ela afirmou que as emissões da UE caíram quase 40% desde 1990, representando agora apenas 6% das emissões globais, e que a UE está a caminho de atingir sua meta de -55% para 2030. Von der Leyen anunciou que a UE apresentará formalmente sua nova NDC antes da COP 30, afirmou que a meta de redução de emissões ficaria entre 66% e 72%, descreveu o trabalho em torno de uma meta de 90% de redução de emissões para 2040, a fim de atingir a neutralidade climática até 2050, e delineou os esforços da UE nas áreas de parcerias globais e financiamento climático.

Após essas declarações, ministros de aproximadamente 60 países tomaram a palavra para compartilhar suas metas ou planos atualizados para suas NDCs.

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Luiz Inácio Lula da Silva , Presidente do Brasil

 

Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil, afirmou que que a nova NDC de seu país estabelece uma meta para toda a economia de reduzir suas emissões líquidas de GEE em 59-67% abaixo dos níveis de 2005 até 2035 e acabar com o desmatamento até 2030. Ele apelou aos países que ainda não submeteram suas NDCs para que o façam.

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Muitos enfatizaram a necessidade de uma transição justa que apoie o desenvolvimento sustentável e apelaram a todos os países para que honrassem seus compromissos com o financiamento climático e a transferência de tecnologia. Vários citaram os impactos das mudanças climáticas em seus países, observando a crescente frequência e intensidade de incêndios florestais, tempestades e furacões, inundações e secas.

Declarações Finais 

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É possível limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, mas somente se os países agirem com urgência
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Ana Toni, CEO da COP 30

Ana Toni, CEO da COP 30 e Secretária Nacional de Mudanças Climáticas do Brasil, disse que os participantes testemunharam país após país reforçando seu compromisso com o Acordo de Paris e o multilateralismo. Ressaltando que estamos em uma emergência climática, ela disse que o tempo é nosso recurso mais escasso. Ela elogiou o trabalho dos países na preparação de suas NDCs antes da COP 30.

 

Observando que a sessão havia começado com um apelo claro da ciência, a Secretária-Geral Adjunta da ONU, Amina Mohammed, enfatizou que é possível limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, mas somente se os países agirem com urgência, determinação e solidariedade. Ela afirmou que cerca de 100 partes, representando mais de 66% das emissões globais, já apresentaram ou anunciaram suas novas metas para as NDCs e ressaltou que todos os países que ainda não finalizaram suas novas NDCs devem fazê-lo sem demora.

“ Não podemos evitar esta catástrofe sozinhos. Mas juntos, podemos . Definindo metas mais fortes, avançando em prazos mais curtos e assumindo compromissos mais profundos”, disse o Professor Hayhoe, vencedor do Prêmio Campeões da Terra da ONU de 2019

Momento ODS 2025

a__o_clim_tica_SEM_LEGENDA Cúpula do Clima 2025Evento_Especial_de_Alto_N_vel_sobre_A__o_Clim_tica Cúpula do Clima 2025O Momento ODS 2025 reuniu Chefes de Estado e de Governo para impulsionar o multilateralismo e a responsabilidade compartilhada para cumprir a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O evento aconteceu em meados da Década de Ação para a Concretização dos Objetivos Globais e durante a comemoração do 80º aniversário das Nações Unidas.

As discussões levaram em conta os resultados e objetivos dos principais eventos durante 2025 que colocaram em foco elementos específicos da estrutura dos ODS

A pauta incluiu declarações do Secretário-Geral da ONU e do Presidente da Assembleia Geral, uma visão geral do progresso dos ODS e painéis de discussão entre líderes mundiais e as partes interessadas.

O Secretário-Geral da ONU, para acelerar o ritmo sediou o Evento Especial de Alto Nível sobre Ação Climática fazendo parte da semana de alto nível da 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU e como uma plataforma para os líderes apresentarem suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).

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Cerca de 100 países — incluindo quase 40 Chefes de Estado e de Governo — anunciaram na abertura Cúpula do Clima 2025 que  se comprometeram a finalizar ou definiram seu compromisso de implementar suas novas metas climáticas antes da COP30 em Belém, Brasil, em novembro.

Pela primeira vez, várias economias importantes, incluindo a China – o maior emissor mundial – e a Nigéria, anunciaram metas de redução de emissões para toda a economia, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores. Outras nações detalharam metas ambiciosas de energia renovável, planos para reduzir as emissões de metano, estratégias para proteger as florestas e medidas para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.

“A ciência exige ação. A lei a impõe. A economia a impõe. E as pessoas estão clamando por isso”, declarou o Secretário-Geral da ONU em sua declaração de abertura da Cúpula do Clima, que ele convocou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, à margem da 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU.

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Annalena Baerbock, recém-empossada Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas durante sua 80ª sessão, disse à Assembleia que agora é o momento dos líderes cumprirem as promessas da Carta das Nações Unidas. “Para forjar um futuro melhor, temos de trabalhar juntos – sermos melhores juntos. ”

Simon Stiell, Secretário Executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), fez seu discurso na abertura Cúpula do Clima 2025, enfatizando a necessidade de os países acelerarem a implementação de suas Contribuições Nacionais Determinadas (NDCs) para atingir o limite de aquecimento global estabelecido pelo Acordo de Paris. Stiell destacou a importância de um plano financeiro robusto para apoiar os países em desenvolvimento e a necessidade de os países demonstrarem como contribuirão para a ação climática global. A cúpula, realizada na sede da ONU, teve como objetivo pressionar as nações a elevarem seus compromissos climáticos antes da próxima COP30 em Belém, Brasil. Os comentários de Stiell fizeram parte de um esforço mais amplo para abordar a necessidade urgente de ação climática e garantir que as maiores economias do mundo contribuam para a meta global de limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius.

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Na cerimônia de abertura Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC e o presidente designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, que reforçou a ideia de Mutirão pelo Clima: todos podem fazer algo, dentro de suas capacidades, por um planeta mais sustentável

Declaração de Belém: como o MPF reposiciona sua atuação climática

Na manhã desta terça-feira (21 de outubro), em Belém (PA), o Ministério Público Federal concluiu o evento “MPF na COP30” com a publicação da Declaração de Belém, documento que sintetiza os horizontes de atuação da instituição frente à crise climática. A iniciativa, realizada em colaboração com suas câmaras temáticas de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, e Direitos do Cidadão, reuniu procuradores, representantes de comunidades e sociedade civil para traçar uma rota institucional para os desafios ambientais e climáticos que se avizinham.

O texto que resultou desse encontro afirma que a intensificação da crise climática exige uma resposta coordenada, alicerçada no diálogo com a sociedade, no respeito aos direitos humanos e à natureza. Para o MPF, esse desafio deve se dar por meio de uma atuação preventiva — não apenas punitiva — que privilegie conhecimento científico, participação informada e foco tanto na mitigação quanto na adaptação aos impactos das mudanças climáticas.

A Declaração denuncia retrocessos legislativos que ameacem os mecanismos de proteção ambiental — como a Lei 15.190/25 e a MP 1.308/25, voltadas a agilizar licenciamentos ambientais — e reafirma o dever de garantir aos povos e comunidades tradicionais seus direitos territoriais e culturais, incluindo a prerrogativa da consulta prévia, livre e informada. Mais do que isso, o documento liga justiça climática a justiça social, destacando o papel de políticas públicas orientadas para populações vulneráveis e mulheres, bem como o estímulo a uma transição energética justa.

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Fotos: Yasmim Bitar – Comunicação MPF

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Durante os painéis do dia, foi enfatizado que, embora as mudanças do clima representem uma emergência global, os temas estruturantes da pauta ambiental — como desmatamento, proteção de águas e fauna — permanecem centrais e exigem atenção contínua. O ministro Herman Benjamin, presidente do STJ, destacou a importância de manter esse olhar, ressaltando que o programa Amazônia Protege serve de exemplo para a articulação integrada da atuação do MPF nas esferas civil, administrativa e penal.

Outro momento crucial abordou a atuação preventiva e a governança integrada. Foi lembrado que mais da metade da população brasileira vive próxima ao litoral, o que torna imprescindível o planejamento espacial marinho e a integração de políticas urbanas, ambientais e climáticas. A relação com as práticas tradicionais foi ressaltada: a conservação dos manguezais e zonas úmidas — apontadas como fundamentais para mitigação e adaptação — só se torna eficaz se ocorrer em parceria com comunidades tradicionais que detêm saberes locais.

No encerramento, o tema da macrocriminalidade ambiental tomou o centro do palco. São redes criminosas que movimentam grandes volumes financeiros, financiam desmatamento e garimpo ilegal, e que exigem da atuação institucional, especialmente do MPF, uma mudança de escala e de perspectiva. Não basta tratar os crimes isoladamente — é preciso enfrentar o sistema que os sustenta. A integração entre as esferas cível, administrativa e penal foi apontada como condição para a efetiva responsabilização desses atores.

A Declaração de Belém, portanto, não é um mero documento protocolar. É uma convocação ao MPF para que atue com vistas à justiça socioambiental, à preservação da natureza e à qualidade de vida das presentes e futuras gerações. O evento “MPF na COP30” mostrou que o Ministério Público está disposto a transformar esse compromisso em ação.

Comunidades cobram voz nas decisões da COP30

Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA), cresce o debate sobre quem realmente tem voz nas decisões que moldam o futuro climático do planeta. Especialistas e representantes de comunidades tradicionais alertam que as populações mais impactadas pela crise ambiental continuam à margem das negociações, mesmo quando os temas em pauta afetam diretamente seus territórios e modos de vida.

Foi o tom que marcou o evento “COP30 e os Conflitos do Clima: REDD+, Mineração e as Lutas por Justiça Racial e de Gênero”, promovido pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O encontro reuniu lideranças de base e organizações civis para discutir os dilemas da transição energética e os riscos de que o discurso verde reproduza velhas formas de exclusão.

Entre os relatos mais marcantes esteve o de Natália Nascimento, da Associação dos Moradores do Baixo Riozinho (Asmobri), no Médio Juruá, Amazonas. Ela narrou como famílias ribeirinhas foram pressionadas a firmar contratos de mercado de carbono — acordos que prometem preservar áreas florestais em troca da venda de créditos de emissão. Segundo Natália, muitos moradores assinaram documentos sem compreender o alcance legal dos compromissos, perdendo o controle sobre o uso da própria terra.

“É como assinar um contrato que você não entende e depois descobrir que pode perder tudo”, disse. O caso levou o Ministério Público Federal (MPF) a abrir investigação, e a comunidade aguarda decisão judicial. O episódio expõe um dos paradoxos da economia verde: enquanto o mundo corre para reduzir emissões, os mecanismos financeiros criados para compensá-las frequentemente geram novas formas de vulnerabilidade social.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

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A diretora de programas da Anistia Internacional Brasil, Alexandra Montgomery, lembrou que são justamente as populações mais afetadas pelos eventos climáticos — indígenas, ribeirinhos, quilombolas e moradores de favelas — as que menos participam dos espaços de decisão. “Estamos na mesma tempestade, mas em barcos diferentes”, afirmou.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 16,3 milhões de brasileiros vivem em favelas e comunidades urbanas, o equivalente a 8,1% da população. Em Belém, cidade-sede da COP30, a desigualdade é ainda mais gritante: 57,1% dos habitantes moram em áreas de ocupação precária. “Essas pessoas são as primeiras a sofrer com enchentes e alagamentos, mas continuam fora das mesas onde se discutem soluções para a cidade”, destacou Alexandra.

Outro participante, Guilherme Carvalho, educador popular da ONG FASE – Solidariedade e Educação, alertou que Belém corre o risco de se transformar em uma “cidade espetáculo” — expressão usada para descrever metrópoles que se remodelam para grandes eventos sem considerar os custos sociais. Segundo ele, o processo de preparação para a COP30 tem acentuado a gentrificação e o racismo ambiental, com despejo de resíduos nas periferias e aumento descontrolado de preços.

“Os aluguéis e serviços dispararam, e o saber tradicional virou produto gourmet”, disse. “Enquanto restaurantes de luxo se apropriam da culinária amazônica, as comunidades que criaram esses saberes seguem marginalizadas.”

O debate também trouxe reflexões sobre o legado da conferência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende a escolha de Belém como palco da COP, afirmou em recente visita ao Pará que a intenção é mostrar ao mundo a verdadeira Amazônia — com seus desafios e potencialidades. Ele prometeu que os investimentos realizados, estimados em R$ 6 bilhões, deixarão benefícios permanentes para a população.

Para os especialistas, no entanto, o sucesso da COP30 dependerá menos da infraestrutura e mais da capacidade de incluir as vozes que historicamente foram silenciadas. A Amazônia, afirmam, não pode ser apenas cenário — precisa ser sujeito ativo das decisões sobre seu futuro.

Jader Filho defende estudos da Petrobras na Margem Equatorial

O debate sobre o futuro da Margem Equatorial, uma das áreas mais promissoras do litoral brasileiro para a produção de petróleo e gás, ganhou novo capítulo nesta semana. O ministro das Cidades, Jader Filho, afirmou que a Petrobras tem “excelência técnica e histórico exemplar” para conduzir, de forma segura e ambientalmente responsável, os estudos que buscam identificar o potencial petrolífero na região que se estende da foz do Rio Oiapoque, no Amapá, até o norte do Rio Grande do Norte.

Durante entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o ministro reforçou que o atual estágio do projeto não se refere à exploração em si, mas a uma fase de pesquisa exploratória. “O que está em curso são estudos. Ninguém está iniciando a extração de petróleo. É um processo técnico para entender o que há lá embaixo e o que o Brasil tem direito de explorar”, afirmou.

A autorização para que a Petrobras inicie a perfuração de poços na área conhecida como bloco FZA-M-59 foi concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) nesta segunda-feira (20). A decisão reacendeu uma das discussões mais sensíveis do país — a de como equilibrar a busca por soberania energética e a proteção dos ecossistemas amazônicos e costeiros.

Estudos e precaução ambiental

Segundo Jader Filho, o foco agora é garantir que todas as etapas sejam feitas com segurança e transparência. “A Petrobras não tem histórico de acidentes ambientais que desabonem sua equipe técnica. Trata-se de uma das companhias mais capacitadas do mundo nesse tipo de operação”, disse.

O ministro ressaltou que a região é estratégica e já vem sendo explorada por países vizinhos. “Outros países da Margem Equatorial já iniciaram suas atividades. O Brasil não pode se manter inerte diante de uma potencial riqueza. Mas precisamos fazer isso com responsabilidade e ciência”, completou.

A Margem Equatorial brasileira é considerada o “novo Pré-Sal da Amazônia”, pela magnitude de suas reservas potenciais — estimadas em até 16 bilhões de barris de petróleo, com possibilidade de produção de 1,1 milhão de barris por dia. O trecho mais próximo da área em estudo está a 175 quilômetros da costa do Amapá e a 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas, região que abriga uma biodiversidade marinha única, pouco estudada e altamente sensível.

2011-02-24t120000z_1619206444_gm1e72p0e7l01_rtrmadp_3_petrobras-300x179 Jader Filho defende estudos da Petrobras na Margem Equatorial

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A fronteira entre desenvolvimento e preservação

O tema, no entanto, divide opiniões. Ambientalistas e cientistas argumentam que a decisão do Ibama foi precipitada e pode abrir precedentes perigosos. Organizações da sociedade civil e movimentos socioambientais já anunciaram que pretendem recorrer à Justiça, apontando supostas falhas técnicas no processo de licenciamento.

De outro lado, setores ligados à economia e à infraestrutura defendem que a exploração da Margem Equatorial é essencial para o Brasil manter sua relevância energética e garantir recursos para financiar a transição para fontes renováveis.

O ministro reforçou que o governo federal não tomará decisões precipitadas. “Não há espaço para irresponsabilidade. O que se busca é conhecimento técnico. A partir dos resultados, o país poderá decidir, com base em evidências, se há viabilidade ambiental e econômica para avançar na exploração”, explicou Jader Filho.

Especialistas ouvidos por órgãos públicos e universidades brasileiras destacam que o desafio será conciliar a exploração com políticas de mitigação de riscos, monitoramento da fauna e flora marinha e fortalecimento das comunidades costeiras. A experiência da Petrobras em áreas de alta complexidade, como o Pré-Sal, é vista como um trunfo técnico, mas não elimina a necessidade de controle rigoroso e diálogo com a sociedade.

O dilema energético do século XXI

A discussão sobre a Margem Equatorial reflete um dilema global: como explorar fontes fósseis em um mundo que caminha para a descarbonização. O Brasil, que tem investido em energia limpa e renovável, se vê diante da oportunidade de reforçar sua matriz energética sem abrir mão de compromissos climáticos.

Para Jader Filho, a resposta está no equilíbrio entre ciência, prudência e inovação. “É possível conciliar desenvolvimento e preservação. Precisamos estudar, compreender e agir com responsabilidade. Só assim poderemos transformar riqueza natural em prosperidade sem destruir o que nos torna únicos”, concluiu.

O futuro da Margem Equatorial segue aberto — entre a promessa de prosperidade energética e o alerta dos que pedem cautela. Enquanto o petróleo continua a ditar as regras do jogo global, o Brasil tenta escrever um capítulo que concilie soberania, ciência e sustentabilidade.

Amazonas desponta como fronteira global das terras raras

No coração da Amazônia, uma nova corrida mundial por recursos estratégicos está em curso — e o Amazonas surge como protagonista. Relatórios do governo estadual e da Agência Nacional de Mineração (ANM) indicam que o estado abriga a segunda maior reserva de terras raras do Brasil, atrás apenas de Minas Gerais. Esses minérios, essenciais para tecnologias que vão de carros elétricos a mísseis de defesa, recolocam o território amazônico no centro das disputas entre Estados Unidos e China, em um cenário em que a geopolítica se mistura a desafios ambientais e sociais.

As chamadas terras raras não formam um único minério, mas um grupo de 17 elementos químicos encontrados juntos na natureza. São eles que garantem o funcionamento silencioso de motores elétricos, turbinas eólicas, celulares, drones, radares e equipamentos de ponta. Nos últimos anos, a demanda global disparou. Em meio à disputa comercial entre Washington e Pequim, o então presidente norte-americano Donald Trump pressionou aliados, incluindo o Brasil, por acesso a essas jazidas. A China, por sua vez, segue liderando com folga a produção e o refino mundial.

Pitinga e Morro dos Seis Lagos: epicentros da disputa

Uma nota técnica da Secretaria Executiva de Mineração do Amazonas destaca duas áreas de destaque no estado: a mina de Pitinga, em Presidente Figueiredo, e o Morro dos Seis Lagos, em São Gabriel da Cachoeira. A primeira é operada pela Mineração Taboca, que desde 2024 pertence à empresa chinesa China Nonferrous Trade (CNT), enquanto a segunda se encontra próxima a territórios indígenas e unidades de conservação na fronteira com Colômbia e Venezuela.

“Em Pitinga, o material está todo britado. Há cerca de três milhões de toneladas de rejeitos com até 1% de terras raras, o que representa um valor altíssimo”, explica Ronney Peixoto, secretário de Gás, Mineração e Energia do Amazonas. A mina já conta com infraestrutura consolidada e autorização para operar até 2052, o que a torna atrativa para investidores. O desafio, porém, é lidar com a presença de urânio e tório, elementos radioativos que exigem controle rigoroso, além da sobreposição a áreas ambientalmente sensíveis.

O secretário cita ainda um terceiro ponto de interesse: o município de Apuí, no sul do estado, onde a australiana Brazilian Critical Minerals identificou presença de elementos como neodímio, praseodímio, disprósio e térbio — substâncias vitais para ímãs permanentes usados em veículos elétricos e turbinas eólicas.

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Foto: Antônio Lopes/Sema-AM

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Reservas estratégicas e riscos ambientais

Segundo o Sumário Mineral 2024 da ANM, o Brasil detém cerca de 11,4 milhões de toneladas de terras raras, o equivalente a 10,8% das reservas globais. O país ocupa o quarto lugar no ranking mundial, atrás de China, Vietnã e Rússia — embora estimativas independentes coloquem o Brasil na segunda posição. O potencial do Amazonas é expressivo, mas o entusiasmo esbarra em questões complexas: radioatividade, licenciamento ambiental e presença em terras indígenas.

O geólogo e advogado Elias Santos Júnior, da Ghaia Licenciamento Ambiental, explica que a extração e o refino desses elementos envolvem processos delicados e ambientalmente arriscados. “A separação dos minerais demanda reagentes e solventes químicos que, se mal geridos, podem gerar rejeitos tóxicos e lama radioativa. No entanto, já existem tecnologias capazes de reduzir significativamente esses impactos”, afirma. Ele cita avanços em reciclagem de eletrônicos e em métodos de refino menos agressivos, que podem tornar a cadeia mais sustentável.

Entre a transição energética e a pressão sobre territórios tradicionais

Os defensores da mineração de terras raras a tratam como chave para a transição energética e a digitalização verde. Mas, para críticos, essa narrativa esconde um ciclo de exploração que repete velhas desigualdades. “A ideia de que precisamos minerar mais para salvar o planeta é enganosa. Ela mantém a lógica colonial de extrair recursos do Sul Global para sustentar o consumo do Norte”, analisa Elisangela Soldateli, coordenadora do programa Energia e Clima para a América Latina da Fundação Rosa Luxemburgo.

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade de Graz alerta que a exploração desses minerais pode afetar 44% da população indígena e 26% da população quilombola que vivem a até 50 quilômetros das jazidas na Amazônia Legal. No Amazonas, destacam-se as terras indígenas Yanomami e Alto Rio Negro, regiões sob crescente pressão.

Os pesquisadores estimam que 178 mil indígenas e 17 mil quilombolas vivem em áreas potencialmente impactadas pela mineração associada à transição energética — o que representa cerca de 150 mil km² de floresta sob risco.

Em um momento em que o mundo busca reduzir emissões e eletrificar a economia, o Amazonas se vê diante de um dilema histórico: tornar-se uma potência mineral de relevância global ou reafirmar o protagonismo ambiental da Amazônia como pulmão do planeta. O desafio será conciliar ambos.

COP30: Jader Filho destaca que cuidar do clima é também cuidar das cidades

O ministro das Cidades, Jader Filho, afirmou que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro em Belém (PA), deve ser um marco não apenas para o debate ambiental, mas também para a transformação urbana e social da Amazônia. Em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro”, o titular da pasta defendeu que a transição climática precisa caminhar junto com investimentos em saneamento, transporte público, mobilidade e inclusão social.

“Precisamos falar sobre descarbonização do transporte, tratamento de esgoto e preparação das cidades para eventos climáticos extremos, como vimos no Rio Grande do Sul”, afirmou o ministro, destacando que o clima e a qualidade de vida urbana são dimensões inseparáveis da mesma agenda.

A COP30 e o olhar urbano sobre a Amazônia

A realização da COP30 em Belém simboliza, segundo o ministro, um reconhecimento de que a Amazônia não é apenas floresta, mas também território urbano, onde vivem cerca de 30 milhões de brasileiros. “A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de sediar a COP30 na Amazônia é muito importante. Precisamos mostrar ao mundo que as cidades amazônicas são habitadas, que ali há gente que trabalha, estuda e sonha com qualidade de vida”, ressaltou Jader.

O evento, organizado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e pelo Governo Federal, deve impulsionar investimentos em políticas urbanas sustentáveis, mobilidade verde e infraestrutura resiliente. O ministro enfatizou que cuidar das cidades amazônicas é também cuidar do planeta: “O clima é global, mas as soluções nascem no local.”

CEP para Todos: inclusão pela moradia e pela identidade

Durante a entrevista, Jader Filho destacou o programa CEP para Todos, uma parceria entre o Ministério das Cidades, os Correios e a Secretaria Nacional de Periferias. A iniciativa garante que todas as comunidades e favelas do país tenham endereços oficiais e códigos postais.

“Pode parecer simples, mas muitas famílias ainda não tinham um CEP para receber uma encomenda, abrir uma conta ou matricular o filho na escola mais próxima. Hoje, todas as favelas do Brasil têm endereço reconhecido. É um passo de dignidade e cidadania”, afirmou o ministro.

Segundo ele, o programa é uma ferramenta de inclusão que amplia o acesso a direitos e serviços básicos. “É uma reparação histórica. Ter um CEP é existir para o Estado e para a sociedade”, completou.

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Cidade de Belém sede da COP30 – divulgação/reprodução

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Novo PAC e os investimentos em saneamento

Outra frente destacada foi o Novo PAC, que destina mais de R$ 60 bilhões para obras de saneamento, abastecimento de água e mobilidade urbana, sob coordenação do Ministério das Cidades. Para Jader, o saneamento é uma política essencial para a saúde pública e o meio ambiente.

“Investir em saneamento é garantir água de qualidade, prevenir doenças e preparar as cidades para o futuro. É infraestrutura verde e justiça social ao mesmo tempo”, afirmou.

Esses investimentos também fazem parte das metas do governo federal para reduzir desigualdades regionais e promover a sustentabilidade nas áreas urbanas e rurais.

Transporte público e justiça tarifária

Ao comentar o transporte público, o ministro revelou que o presidente Lula determinou à equipe econômica que avalie formas de subsidiar as tarifas para aliviar o peso no orçamento das famílias. A discussão envolve a Casa Civil, o Ministério da Fazenda e as prefeituras.

“É preciso pensar em soluções conjuntas. A tarifa deve caber no bolso do trabalhador, mas também garantir a qualidade do serviço. Não se trata apenas de ônibus e metrô — trata-se de acesso à cidade”, observou Jader.

Ele defendeu que a transição para transportes de baixa emissão precisa vir acompanhada de novas fontes de financiamento e de cooperação entre União, estados e municípios.

Comunicação pública e diálogo regional

O “Bom Dia, Ministro” é uma coprodução da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com participação de rádios e portais de todo o país. Durante a entrevista, Jader Filho reforçou que a COP30 será um momento de diálogo entre governos locais, movimentos sociais e a população amazônica.

“Cuidar das cidades é cuidar das pessoas. E cuidar das pessoas é cuidar do clima”, resumiu o ministro.

Pesquisa investe em sementes florestais para restaurar três biomas brasileiros

Um novo capítulo na ciência da restauração ecológica está em curso no Brasil. A parceria entre a Embrapa e a Morfo Brasil busca desenvolver protocolos inéditos para o manejo de sementes florestais nativas, com o objetivo de acelerar a recuperação de áreas degradadas nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia. A pesquisa, com duração prevista de dois anos, pretende contribuir para que o país alcance sua meta de restaurar 12,5 milhões de hectares até 2030, compromisso firmado no Desafio de Bonn e reafirmado na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Acordo de Paris.

A iniciativa enfrenta um obstáculo central: a escassez de sementes de qualidade. O gargalo limita o avanço da restauração e eleva custos, já que lotes com baixa viabilidade germinativa podem exigir até cinco vezes mais sementes para o mesmo resultado. O estudo entre Embrapa e Morfo busca justamente atacar esse ponto, aprimorando os processos de germinação, conservação e armazenamento — pilares fundamentais para transformar sementes em florestas.

Ciência a serviço da floresta

A pesquisa será conduzida pela Embrapa Agrobiologia, no Rio de Janeiro, em colaboração com coletores parceiros da Morfo em áreas onde a empresa já atua em projetos de reflorestamento. Mensalmente, lotes de sementes de diferentes espécies serão analisados quanto ao peso, pureza, teor de água e taxa de germinação.

“Vamos saber, por exemplo, o percentual de germinação de cada lote e quantas sementes há em um quilo. São informações essenciais para definir protocolos de restauração mais eficientes”, explica a pesquisadora Juliana Müller Freire, da Embrapa.

A cientista destaca a complexidade do desafio: diferentemente das culturas agrícolas, as sementes florestais abrangem uma diversidade enorme de espécies e comportamentos. “Há espécies sobre as quais ainda não existe nenhuma publicação científica. Outras, como a Zanthoxylum rhoifolium, têm estudos abundantes, mas sem solução definitiva para a baixa germinação”, observa.

Além da escassez de conhecimento técnico, o beneficiamento e a obtenção das sementes exigem métodos manuais e equipamentos específicos. A parceria com a Morfo deve suprir parte dessas lacunas, oferecendo material limpo, rastreável e pronto para análise.

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Foto: Juliana Freire

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O papel das comunidades e o desafio regulatório

Grande parte das sementes nativas utilizadas na restauração ambiental é coletada diretamente na natureza por redes comunitárias, compostas por agricultores familiares e povos tradicionais. Essas redes mantêm um conhecimento ancestral sobre as espécies e seus ciclos, mas enfrentam dificuldades de logística, armazenamento e inserção em cadeias formais de valor.

Estudos recentes, como o publicado na revista científica Forests, mostram que o Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) ainda não contempla plenamente as especificidades das sementes florestais nativas. O resultado é uma cadeia produtiva quase invisível, com mais de mil coletores fora do sistema oficial.

O documento propõe estratégias para ampliar a oferta de sementes de qualidade, incluindo incentivos governamentais, integração do conhecimento comunitário, inovação tecnológica e adaptação das normas de produção e comercialização.

Quando qualidade significa eficiência

Um estudo conduzido pela Universidade de Sydney, coordenado pelo pesquisador Danilo Urzedo, demonstra o impacto direto da qualidade das sementes no sucesso da restauração. Para cumprir a meta nacional de 12,5 milhões de hectares, seriam necessárias entre 3,6 mil e 15,6 mil toneladas de sementes — uma variação explicada pela diferença na qualidade dos lotes.

Com sementes de alta germinação, seriam necessários cerca de 17 quilos por hectare; com baixa qualidade, esse número pode subir para 37 quilos. Ou seja, melhorar a tecnologia de sementes significa restaurar mais áreas com menos recursos — e com maior previsibilidade de resultados.

Inovação e inteligência artificial na floresta

A startup Morfo Brasil combina ciência e tecnologia para restaurar ecossistemas tropicais em larga escala. A empresa utiliza drones, encapsulamento de sementes e monitoramento por inteligência artificial para aumentar a eficiência dos projetos. “O uso racional das sementes nativas é essencial para acelerar a reabilitação dos biomas brasileiros”, afirma Emira Cherif, diretora científica da Morfo.

A Embrapa, por sua vez, aporta décadas de experiência em restauração florestal e tecnologia de sementes, reunindo conhecimento acumulado sobre germinação, beneficiamento e conservação. A expectativa é que a cooperação entre pesquisa pública e inovação privada fortaleça toda a cadeia de produção de sementes nativas, tornando a restauração ecológica não apenas uma meta climática, mas também uma oportunidade socioeconômica.

Afinal, restaurar florestas não é apenas plantar árvores, é reconstruir a relação entre ciência, natureza e comunidade, tornando o futuro do Brasil mais verde e resiliente.

Fim da moratória da soja reacende alerta sobre desmatamento e ameaça a povos indígenas

O fim da moratória da soja na Amazônia, decidido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), reacendeu o alerta entre povos indígenas, ambientalistas e integrantes do governo sobre o risco de avanço do desmatamento em territórios protegidos. A decisão, anunciada em 30 de setembro, encerra a partir de 1º de janeiro de 2026 um dos acordos mais simbólicos entre o agronegócio e a sociedade civil — o pacto que impedia a compra de soja cultivada em áreas desmatadas na Amazônia após 2008.

A medida chega em um momento sensível. Enquanto o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) se mobiliza para garantir a presença de três mil indígenas na COP30 e tenta avançar nas demarcações de terras, o desmonte do acordo ameaça justamente as populações que o governo diz querer proteger.

Um acordo que conteve o desmatamento

Firmada em 2006 e formalizada em 2008, a moratória da soja foi resultado da pressão internacional sobre empresas e associações do setor. As signatárias, reunidas no Grupo de Trabalho da Soja, comprometeram-se a não adquirir grãos de áreas desmatadas após 22 de julho de 2008. O pacto ajudou a conter o avanço da sojicultura sobre a floresta, redirecionando o cultivo para áreas já abertas, segundo avaliações de pesquisadores e do próprio mercado.

O fim da moratória, no entanto, nasceu no coração do Congresso Nacional. A investigação do Cade foi aberta após uma representação da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, impulsionada por nomes ligados à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O deputado Evair de Melo (PP-BA), um dos expoentes da bancada ruralista, foi apontado como articulador da ofensiva contra o pacto.

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Reação do governo e da sociedade civil

A decisão do Cade pegou parte do governo de surpresa. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima foi o primeiro a se posicionar contra a medida, classificando-a como um retrocesso para o controle do desmatamento. Já o MPI e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ainda avaliam os impactos.

O secretário nacional de Direitos Territoriais Indígenas, Marcos Kaingang, reconheceu que o fim da moratória ameaça os territórios indígenas. “Sabemos que a moratória ajudou a conter o avanço da soja na floresta. Não parece uma decisão que contribua para a proteção e a conservação da Amazônia”, afirmou.

Para a consultora-sênior da organização Mighty Earth, Mariana Gameiro, o Cade abre caminho para uma “catástrofe ambiental”. “É uma decisão inaceitável não só no Brasil, mas também no cenário internacional. Mesmo com limitações, a moratória foi uma ferramenta eficaz para reduzir o desmatamento ligado à soja”, avaliou.

Pressões sobre o Ministério dos Povos Indígenas

Em meio à polêmica, a ministra Sônia Guajajara admitiu que o ministério ainda não teve tempo para se aprofundar no tema. “Nossa posição é ser porta-voz dos povos indígenas, especialmente em casos que trazem grandes prejuízos para territórios e comunidades”, declarou durante um encontro com jornalistas em 7 de outubro.

Apesar do impasse, Guajajara pretende levar o debate à COP30, que será sediada em Belém (PA). Segundo ela, o fim da moratória deve se tornar um dos temas de embate internacional, sobretudo por representar uma contradição entre o discurso de sustentabilidade do agronegócio e a prática de liberar novas áreas de cultivo em plena Amazônia.

Demarcação como meta climática

Enquanto tenta reagir à ofensiva ruralista, o Ministério dos Povos Indígenas prepara sua principal entrega para a conferência: incluir a demarcação de terras indígenas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil — o documento que define as metas de cada país no âmbito do Acordo de Paris.

A proposta é comprometer o país a proteger 72% das terras indígenas já reconhecidas até 2035, reforçando o papel desses territórios na absorção de carbono e na regulação climática. O anúncio deve ocorrer durante o evento em Belém, que marcará os dez anos do Acordo de Paris e contará com a presença de cerca de três mil lideranças indígenas de todo o mundo.

“Queremos mostrar que proteger territórios é também combater as mudanças climáticas. Sem garantir a terra, não há como garantir o futuro”, disse Guajajara.

A contradição entre o avanço do agronegócio e a promessa de justiça climática promete fazer da COP30 não apenas uma conferência ambiental, mas um teste de coerência para o Brasil — entre o discurso verde e a realidade da floresta.

Lula afirma que COP30 será “a COP da verdade” e cobra compromissos climáticos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que a COP30, que ocorrerá em novembro de 2025 em Belém (PA), será “a COP da verdade”. A afirmação foi feita durante uma cerimônia com diplomatas nesta segunda-feira (20), e resume o tom que o governo brasileiro pretende imprimir à conferência: menos discursos, mais resultados.

Para Lula, o evento marca o momento de separar promessas de ação efetiva. O presidente desafiou os líderes mundiais a demonstrarem “a seriedade de seu compromisso com o planeta”, cobrando avanços concretos na redução das emissões globais de gases de efeito estufa e na implementação das metas previstas no Acordo de Paris, firmado em 2015.

A fala ocorre a menos de um mês do início da conferência, organizada sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e da Casa Civil da Presidência da República. A expectativa é reunir representantes de 196 países e celebrar dez anos do Acordo de Paris, um marco no esforço internacional para conter o aquecimento global.

O Brasil quer dar o exemplo

Durante o discurso, Lula reforçou que o Brasil foi o segundo país a apresentar sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) — documento que estabelece as metas nacionais de mitigação e adaptação climática. O compromisso brasileiro prevê reduzir entre 59% e 67% das emissões de gases de efeito estufa até 2030 e eliminar o desmatamento ilegal no mesmo período.

Segundo o presidente, essa meta reflete não apenas a ambição climática do país, mas também um imperativo moral: “Quem tem a Amazônia precisa liderar pelo exemplo”, afirmou. Lula tem reiterado que a Amazônia deve ser vista não como um entrave ao desenvolvimento, mas como o centro de uma nova economia verde, capaz de gerar emprego, renda e inovação tecnológica sem destruir florestas.

O Acordo de Paris, firmado em 2015, exige que todos os países apresentem e atualizem periodicamente suas NDCs. O prazo para a entrega das metas climáticas encerrou-se em setembro, e, de acordo com o presidente, “muitos países ainda não apresentaram suas contribuições, o que demonstra falta de compromisso com a gravidade da crise climática”.

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Pacto pela Amazônia – Agência Gov | Via Itamaraty

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A justiça climática no centro do debate

Lula destacou que a justiça climática deve ser um dos eixos centrais da COP30. A expressão, frequentemente citada por ele desde sua volta à presidência, sintetiza a ideia de que os países historicamente mais responsáveis pela poluição global precisam arcar com a maior parte dos custos da transição ecológica. Para o presidente, “não se pode tratar de forma igual os desiguais”.

O Brasil tem defendido que o financiamento climático — especialmente o apoio a países em desenvolvimento — deve ser prioridade nas negociações. O tema será discutido tanto na COP30 quanto na Pré-COP30, programada para ocorrer em Brasília nos dias 13 e 14 de outubro de 2025. O encontro preparatório buscará alinhar posições entre governos e avançar em acordos sobre as metas nacionais antes da conferência principal em Belém.

Belém, palco simbólico da transição

A escolha de Belém, capital paraense, como sede da COP30, tem um peso simbólico e político. Será a primeira vez que a conferência da ONU sobre clima ocorrerá em plena Amazônia, a maior floresta tropical do planeta e uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas.

A realização do evento na região amazônica é vista pelo governo como uma oportunidade de mostrar que o Brasil está comprometido com uma transição justa, em que desenvolvimento e preservação caminhem juntos. Além disso, será uma chance de atrair investimentos para o bioma e valorizar o conhecimento tradicional de povos indígenas e comunidades locais.

A “COP da verdade”

Ao chamar a COP30 de “COP da verdade”, Lula busca imprimir um tom de cobrança e transparência às negociações. O presidente argumenta que, passados dez anos do Acordo de Paris, é hora de transformar promessas em resultados concretos. “Não é mais tempo de discursos bem-intencionados. É tempo de provar que os compromissos climáticos não são apenas retórica diplomática”, afirmou.

A fala reflete a tentativa do Brasil de se posicionar novamente como liderança global em meio ambiente, papel que o país já desempenhou em momentos históricos, como a Rio-92 e a COP21, em Paris. Agora, com o olhar do mundo voltado para Belém, Lula aposta que a conferência poderá redefinir o futuro da política climática mundial.

A principal corrente do Atlântico pode começar a entrar em colapso já em 2055

As correntes do Oceano Atlântico que respondem às mudanças climáticas estão caminhando em direção a um ponto crítico que pode causar impactos severos antes do final deste século, segundo um novo estudo.

As correntes formam a Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), que circula o Oceano Atlântico como uma gigantesca correia transportadora, levando calor para o Hemisfério Norte antes de seguir para o sul novamente, pelo fundo do mar. Dependendo da quantidade de carbono emitida pelos humanos nas próximas décadas, a AMOC pode atingir um ponto crítico e começar a entrar em colapso já em 2055, com consequências dramáticas para diversas regiões, descobriram os pesquisadores.

Essa previsão assustadora, baseada em um cenário em que as emissões de carbono dobrarão entre agora e 2050, é considerada improvável — mas o resultado de um cenário muito mais provável, em que as emissões permanecerão em torno dos níveis atuais pelos próximos 25 anos, não é muito melhor, de acordo com o estudo. Mesmo que mantenhamos o aquecimento global neste século em 2,7 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais — um cenário “intermediário”, de acordo com o último relatório climático da ONU —, a AMOC começará a entrar em colapso em 2063, sugerem os resultados.

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Formação de águas superficiais

a Esquema das principais correntes oceânicas que cruzam a Dorsal Groenlândia-Escócia (GSR). As setas representam os caminhos e a transformação das águas (a): As taxas de transformação da massa de água (WMT) médias temporais (primeiros 50 anos do modelo) a 40N, decomposto na contribuição térmica e na contribuição de água doce. (b): As taxas de WMT em 40N ao longo de todo o quase-equilíbrio, com uma média móvel de 25 anos para reduzir a variabilidade. (c–e): As contribuições locais da WMT para o NADW ao longo dos primeiros 50 anos do modelo. Para cada célula da grade, determinamos a WMT média, conforme indicado pela região sombreada no detalhe do painel (a). Os resultados apresentados são da simulação de quase-equilíbrio

“A probabilidade de tombamento é muito maior do que se pensava anteriormente”, disse Sybren Drijfhout , professor de oceanografia física na Universidade de Southampton, no Reino Unido, e na Universidade de Utrecht, na Holanda, à Live Science. No geral, a probabilidade de o AMOC entrar em colapso neste século é de cerca de 50%, estima Drijfhout, que não participou da nova pesquisa, mas recentemente liderou um estudo semelhante publicado na Environment Research Letters .

No estudo, Drijfhout e colegas executaram os modelos climáticos mais recentes para um período que se estende além de 2100 e descobriram que cenários de alta emissão, ou aqueles que causam cerca de 4,4°C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais até o final deste século, sempre levaram a um colapso da AMOC. Cenários alinhados com o objetivo do Acordo de Paris de manter o aquecimento idealmente abaixo de 1,5°C também desencadearam um colapso em dois dos modelos, sugerindo que um colapso é mais provável do que os cientistas pensavam anteriormente, disse ele.

O novo estudo de modelagem, publicado em 24 de agosto no periódico Journal of Geophysical Research: Oceans , testou 25 modelos climáticos e encontrou um indicador que ajudou os pesquisadores a determinar quando a AMOC poderia atingir um ponto crítico.

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O gelo marinho retorna, mas o caos também… os cenários de colapso da AMOC, segundo René van Westen, pesquisador de pós-doutorado em física climática na Universidade de Utrecht

Ao contrário dos parâmetros comumente usados ​​para monitorar a AMOC indiretamente, como a temperatura da superfície do mar, este novo indicador é regido pela dinâmica da circulação do oceano Atlântico, disse o autor principal do estudo, René van Westen , pesquisador de pós-doutorado em física climática na Universidade de Utrecht

Van Westen e colegas demonstraram anteriormente que o fluxo de água doce do Atlântico a 34 graus sul, a latitude ao longo da ponta da África do Sul, é um bom indicador da estabilidade da AMOC e pode alertar os cientistas sobre um colapso iminente. Esse indicador funciona para condições ambientais que mudam lentamente, mas é menos útil para identificar tendências da AMOC em um clima em rápido aquecimento, disse van Westen.

“Portanto, nosso objetivo era desenvolver um novo indicador que também funcionasse em relação às mudanças climáticas”, disse ele.

Um novo marcador para a força da AMOC

Para avaliar quando os pontos de inflexão serão atingidos, o novo estudo analisou a massa de água que afunda no fundo do oceano no Atlântico Norte.

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As águas profundas que alimentam a AMOC se formam no Oceano Atlântico Norte e nos mares nórdicos

Atualmente, a água da superfície perde calor para a atmosfera ao atingir o frio Atlântico Norte. Essa água da superfície torna-se tão fria, salgada e densa que afunda no fundo do oceano, formando correntes que percorrem o fundo do oceano até o Hemisfério Sul. O processo de afundamento da água fria e densa é chamado de formação de águas profundas e é o motor que impulsiona a AMOC. A formação de águas profundas pode ser medida por meio de mudanças na densidade da água do mar ou pela extrapolação de dados oceânicos em modelos climáticos.

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a Esquema das principais correntes oceânicas que cruzam a Dorsal Groenlândia-Escócia (GSR). As setas representam os caminhos e a transformação das águas quentes do Atlântico (setas vermelhas) no NAC-NwAC em transbordamentos frios e densos (setas verdes) que saem dos Mares Nórdicos através do Estreito da Dinamarca e do Canal Faroé-Shetland (FSC). A Corrente Leste da Groenlândia (EGC) fria e fresca é mostrada por setas azuis. As seções a 70°N e no Atlântico Norte subpolar oriental (imitando a parte oriental da matriz do Programa 13 de Reviravolta no Atlântico Norte Subpolar ; OSNAP-Leste) usadas para calcular a circulação de reviravolta são mostradas como linhas pretas tracejadas. NAC: Corrente do Atlântico Norte, NwAC: Corrente Atlântica Norueguesa. b Representação esquemática do fluxo meridional através da GSR destacando como as águas densas de transbordamento dos Mares Nórdicos contribuem para o membro inferior da circulação de reviravolta no OSNAP-Leste.

“Quando essa quantidade se reduz a zero, significa que a superfície ficou muito leve e não houve afundamento”, que é essencialmente o momento em que a AMOC começa a entrar em colapso, disse van Westen.

A formação de águas profundas já está diminuindo devido ao aquecimento do ar no Atlântico Norte e ao derretimento do gelo do Ártico. O ar quente faz com que a água da superfície não perca calor suficiente para afundar, enquanto o derretimento do gelo dilui a concentração de sal na água e, assim, diminui sua densidade.

Os pesquisadores identificaram um componente da formação em águas profundas, o fluxo de flutuabilidade da superfície, que foi um “atalho” para estimar a formação em águas profundas no Atlântico Norte, disse van Westen. O fluxo de flutuabilidade da superfície é um parâmetro que combina mudanças no calor e na salinidade na superfície do oceano para entender como elas impactam a densidade da água.

Destacam-se as respostas na superfície, na alta troposfera e no oceano no LESTE. O aumento das emissões de AAs sobre o Sul e o Leste da Ásia (sombreamento roxo) reduz a insolação solar e suprime a convecção local (setas vermelhas), iniciando uma sequência de ondas de Rossby circumglobais (sombreamento azul e setas pretas) que se propagam para o leste e em direção aos polos e um deslocamento da corrente de jato em direção ao equador (setas cinzas). As mudanças na circulação atmosférica barotrópica geram uma anomalia de pressão do nível do mar semelhante à Oscilação do Atlântico Norte negativa no Atlântico Norte subpolar (centro de alta pressão laranja e centro de baixa pressão azul), suprimindo os ventos de oeste predominantes ao sul da Groenlândia (setas azul-claro). Ao reduzir a diferença de temperatura entre o ar e o mar e a velocidade do vento, as mudanças no vento injetam calor turbulento anômalo na superfície do Mar do Labrador (setas vermelhas), inibindo a produção de massas de água densas que compõem o ramo que flui para o sul do AMOC, resultando, assim, em um AMOC mais fraco e raso (sombreamento azul no oceano).

O calor e a salinidade podem ser monitorados diretamente por instrumentos ou satélites, mas o estudo examinou dados existentes de calor e salinidade em simulações da dinâmica da superfície do mar, com o fluxo de flutuabilidade da superfície se destacando em diferentes modelos e experimentos como um marcador claro da força da AMOC.

“A vantagem [do fluxo de flutuabilidade da superfície] é que ele pode ser calculado em muitos modelos climáticos”, disse van Westen.

O fluxo de flutuabilidade da superfície foi constante até 2020, disse van Westen, o que significa que quase não houve mudanças no AMOC antes disso — uma conclusão que é reforçada por uma pesquisa publicada em janeiro.

Desde 2020, no entanto, o fluxo de flutuabilidade da superfície aumentou, sugerindo que a AMOC está enfraquecendo. Os modelos mostraram que trajetórias de alta emissão podem desencadear um colapso da AMOC mais cedo do que trajetórias de emissão “intermediárias”, portanto, é urgente reduzir o uso de combustíveis fósseis, de acordo com o estudo.

“Um cenário de colapso da AMOC pode ser evitado ao seguir um cenário de baixa emissão”, disse van Westen, mas isso exigiria atingir emissões líquidas de carbono zero por volta de 2050.

Um “sério alerta climático”

Um colapso da AMOC na década de 2060 é plausível e “muito preocupante”, disse Drijfhout, mas as incertezas são grandes demais para apontar anos precisos em que a AMOC entrará em colapso sob diferentes trajetórias de emissão.

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Circulação oceânica do Oceano Atlântico Norte subpolar oriental e dos mares nórdicos

As consequências seriam dramáticas e globais, mas a Europa seria particularmente afetada, disse Drijfhout. Um colapso da AMOC traria temperaturas muito mais baixas para o noroeste da Europa, bem como uma redução na precipitação, o que poderia levar a perdas agrícolas de cerca de 30%, disse ele. Os invernos na Europa seriam muito mais rigorosos, com mais tempestades e inundações ao longo da costa atlântica, resultantes da redistribuição da água pelo oceano à medida que a AMOC desacelera.

” Pode-se esperar uma elevação ainda maior do nível do mar nas costas leste dos Estados Unidos” devido a essa redistribuição, disse Drijfhout. E locais que não fazem fronteira com o Atlântico também podem ser afetados, como as regiões de monções na Ásia e na África , acrescentou.

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Projeções futuras de níveis extremos do mar e inundações costeiras

Wopke Hoekstra , comissário europeu para o clima, emissões líquidas zero e crescimento limpo, descreveu as descobertas como um “sério alerta climático” em uma publicação nas redes sociais . “Este novo estudo diz que a Corrente do Golfo pode entrar em colapso durante a nossa geração”, alertou.

No entanto, de acordo com o estudo, os efeitos não serão sentidos imediatamente após o início do colapso da AMOC. Os autores estimam que levaria mais de 100 anos para que a AMOC enfraquecesse significativamente e novos padrões climáticos surgissem.

Mas Drijfhout acredita que o colapso pode ocorrer em apenas 50 anos. A AMOC é como uma fogueira com combustível cada vez menor, disse ele. “Se pararmos de jogar novos blocos de madeira no fogo, o fogo não se apaga imediatamente, mas continua queimando lentamente por algum tempo”, disse Drijfhout. “Para a AMOC, esse ‘tempo de queima lenta’ é de [cerca de] 50 anos”.

 

Pavilhões Brasil na COP30: agenda ampla marca presença nacional em Belém

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) promete ser um marco na diplomacia ambiental brasileira. Realizada em Belém (PA) entre 10 e 21 de novembro, a conferência contará com uma programação robusta nos Pavilhões Brasil, organizada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) em parceria com a Casa Civil da Presidência da República. O anúncio oficial trouxe o número impressionante de 286 eventos, distribuídos entre quatro auditórios nas Zonas Azul e Verde da conferência.

Mais do que um simples calendário, a programação reflete uma tentativa do governo brasileiro de consolidar a imagem do país como articulador de soluções climáticas. Nos pavilhões, o Brasil busca reunir vozes da sociedade civil, pesquisadores, empresas e governos subnacionais em torno de debates sobre mitigação, adaptação e justiça climática — os três pilares da ação climática contemporânea.

Um palco para o diálogo climático

Segundo o MMA, os pavilhões funcionarão como espaços abertos de diálogo e troca de experiências. A proposta é aproximar a agenda internacional do Acordo de Paris da realidade doméstica. Cada evento — com duração de até 60 minutos — pretende estimular o intercâmbio entre atores que, embora distintos, compartilham o mesmo desafio: transformar compromissos em ações concretas.

A Zona Azul, dedicada às negociações oficiais e iniciativas multilaterais, concentrará os painéis voltados à implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil. Essa é a principal ferramenta de compromisso do país com a redução de emissões de gases de efeito estufa. Nos debates, estarão em pauta temas como cooperação internacional, transição energética, descarbonização da economia e financiamento climático.

Já a Zona Verde abrigará os eventos com enfoque nacional, discutindo políticas públicas, inovação e inclusão social sob a ótica do novo Plano Clima, documento que norteará as ações de enfrentamento à crise climática até 2035. O plano, concebido como um guia estratégico, busca alinhar desenvolvimento sustentável, economia verde e combate às desigualdades regionais — um dos grandes desafios de um país continental como o Brasil.

2025-09-15t154954z_1_lynxnpel8e0nx_rtroptp_4_onu-cop30-equipe-limita-400x239 Pavilhões Brasil na COP30: agenda ampla marca presença nacional em Belém
Reuters/Marx Vasconcelos/proibida reprodução

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Sociedade civil no centro da cena

O formato plural dos Pavilhões Brasil reflete um movimento mais amplo de abertura institucional. Ao integrar organizações não governamentais, coletivos indígenas, juventudes, universidades e empresas, o governo sinaliza uma mudança na forma de participar das COPs. A presença ativa da sociedade civil é vista não apenas como desejável, mas essencial para garantir legitimidade e eficácia às políticas climáticas.

Além disso, a coordenação direta da Casa Civil indica o peso político atribuído à pauta climática dentro do Executivo federal. Essa articulação interministerial demonstra que o clima deixou de ser uma agenda exclusiva do setor ambiental, tornando-se eixo estruturante das políticas de desenvolvimento nacional.

Entre o local e o global

Belém, que sediará a conferência, simboliza essa transição entre o debate global e as urgências locais. No coração da Amazônia, a COP30 ocorrerá em uma região onde as consequências da mudança do clima já são vividas cotidianamente — das secas extremas aos eventos de cheia. Ao levar o epicentro das negociações climáticas para o Norte do Brasil, o país reafirma sua posição estratégica na agenda ambiental mundial.

Os Pavilhões Brasil funcionarão diariamente entre 10h e 19h, com uma programação que ainda detalhará nomes de moderadores, painelistas e instituições parceiras. Essa divulgação ocorrerá em breve no portal oficial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Mais do que um espaço físico, os pavilhões representarão o esforço do Brasil em reafirmar seu papel como protagonista da ação climática — não apenas nas negociações diplomáticas, mas na prática cotidiana de políticas que integram ciência, sociedade e desenvolvimento sustentável.

“Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas”

O Fórum Brasil-França Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas, integrou a Temporada França-Brasil 2025, com apoio das embaixadas do Brasil e da França em realização da USP, em parceria com o Muséum National d’Histoire Naturelle (MNHN) da França e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Teve o objetivo de discutir a biodiversidade florestal, os ecossistemas e sua relação com as sociedades humanas, do passado ao presente, fortalecendo a cooperação científica e cultural entre os dois países, reunindo cientistas, jornalistas e representantes da sociedade civil do Brasil e da França, em conferências, mesas-redondas e debates, além de visitas institucionais.

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Da esquerda para a direita, Jônatas Trindade, subsecretário da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo

Na abertura, com representantes da USP, Fapesp e instituições francesas, além de conferências inaugurais sobre a Amazônia antiga e contemporânea e debates sobre a preservação das florestas, a programação inclui relatos da fase inicial do evento em Paris, intercâmbios científicos entre Brasil e França e uma mesa-redonda dedicada aos desafios da cooperação científica entre o Brasil e a Guiana Francesa para o estudo da Amazônia.

O encerramento no segundo dia, começaram com as discussões, conferências sobre sociobiodiversidade florestal e seguiram com mesas-redondas que abordaram mudanças globais, conservação da biodiversidade e as relações culturais entre humanos e florestas. Entre os temas em destaque estiveram o conhecimento biocultural amazônico, a preservação da diversidade e os impactos das transformações ambientais sobre os modos de vida tradicionais.

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Palmeira patauá (Oenocarpus bataua) em um baixio na Amazônia Central: espécie é a próxima em que pesquisadores vão instalar sensores para estimar armazenamento de água

Durante o Fórum, entre outros relevantes temas, selecionamos e apresentamos: os resultados preliminares do estudo/pesquisa feito na Unesp: “As palmeiras funcionam como grandes reservatórios ou caixas d’água da floresta”, pela professora Thaise Emilio, da Unesp e coordenadora do projeto, transcrito abaixo:

Dominância das palmeiras na floresta amazônica

Apesar de representar apenas uma entre 171 famílias de plantas arborescentes na Amazônia, as palmeiras dominam a paisagem florestal tanto no dossel quanto no sub-bosque. Os cientistas levantam a hipótese de que populações humanas antigas domesticaram essas plantas há milhões de anos durante a ocupação e manejo da região.

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“Ainda debatemos se os humanos enriqueceram a Amazônia com palmeiras ou se escolheram viver na floresta justamente pela abundância dessas plantas úteis, que possuem grande importância econômica”, explicou Emilio.

Atualmente, cerca de 75% da produção brasileira de produtos florestais não madeireiros provém de palmeiras. O açaí (Euterpe oleracea) sozinho responde por 50% desse total.

Capacidade única de retenção hídrica 

Desde 2017, Emilio colabora com pesquisadores do Soleil Síncrotron, de Paris, e da Universidade de Bordeaux para analisar a resistência do xilema das palmeiras à embolia induzida pela seca. O xilema constitui o tecido vascular que transporta água e sais minerais das raízes para o restante da planta.

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Thaise Emílio, professora da Unesp, coordenadora do projeto e pesquisadora associada ao CBioClima: apesar de ser apenas uma entre 171 famílias de plantas arborescentes na Amazônia, as palmeiras são extremamente dominantes na floresta, tanto no dossel como no sub-bosque

Os cientistas utilizaram o acelerador circular de partículas do Soleil Síncrotron para investigar seis espécies de palmeiras das subfamílias Arecoideae e Coryphoideae. A tecnologia permite examinar a composição e estrutura da matéria em escala molecular.

“Constatamos que as palmeiras apresentam vulnerabilidade à seca similar a outras angiospermas ou gimnospermas. Porém, elas concentram mais água dentro dos troncos e conseguem mobilizar esse recurso, tornando essa a estratégia mais importante para minimizar os riscos de embolia”, detalhou a pesquisadora.

Palmeiras retêm até 70% de água em seus troncos

Pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, participaram de monitoramentos recentes que revelaram dados surpreendentes. Enquanto árvores dicotiledôneas armazenam no máximo 50% de seu volume em água, as palmeiras retêm até 70%. Durante períodos secos, essas plantas reservam ainda mais água do que nas estações chuvosas.

“Isso gera enormes impactos na biodiversidade da floresta amazônica, que ainda precisamos estimar”, afirmou Emilio.

Durante expedições na floresta em períodos de seca, a equipe observa que apenas as palmeiras produzem frutos. “Só elas dão frutos nessas épocas de seca. Isso mantém a alimentação dos animais e dos humanos que dependem desses recursos. Uma das hipóteses para explicar essa capacidade é justamente o funcionamento diferenciado dessas plantas, que armazenam mais água”, explicou a cientista.

Mudanças climáticas ameaçam serviço ecossistêmico

O serviço ecossistêmico prestado pelas palmeiras enfrenta ameaças devido ao declínio de espécies associadas a climas úmidos. A intensificação do ciclo hidrológico, marcada por secas e estações chuvosas mais extremas, compromete a abundância dessas plantas. “Isso terá um impacto muito importante para a dinâmica da floresta”, alertou Emilio.

Um estudo em andamento avalia através de modelagem o risco de morte de palmeiras em diferentes ambientes e condições climáticas. Os resultados preliminares indicam que essas plantas morrem duas vezes mais do que outras árvores. “A combinação de anos chuvosos e secos está causando uma mudança na dinâmica e nas características de regiões da floresta”, concluiu a pesquisadora.

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Durante a programação. o presidente da Fundação, Marco Antonio Zago, destacou a ampliação do interesse científico na região amazônica

No segundo dia  começou com conferências que trataram da sociobiodiversidade florestal e dos desafios impostos pelas mudanças globais à conservação da biodiversidade. Pesquisadores do Brasil e da França discutiram questões como monitoramento ambiental, riscos climáticos e estratégias de preservação. À tarde, a programação trouxe uma conferência sobre o conhecimento biocultural amazônico e a diversidade cultural e biológica, seguida de uma mesa-redonda dedicada às relações culturais entre humanos e florestas. Participaram especialistas das áreas de psicologia, arqueologia, biologia e antropologia, além de representantes de comunidades indígenas, como o povo Guarani da Aldeia Jaraguá.

Encontros institucionais

Além da programação aberta ao público, foram realizados, paralelamente, encontros entre cientistas, dirigentes e integrantes de grupos de pesquisa brasileiros e franceses para intercâmbios de experiências, reforçando a continuidade da cooperação iniciada em Paris.