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Vozes dos Biomas leva escuta dos territórios à COP30

Três mulheres em missão climática decidiram cruzar o Brasil antes que o mundo se reunisse em Belém para a COP30. Janja Lula da Silva, Jurema Werneck e Denise Dora, as Enviadas Especiais da conferência nos temas Mulheres, Igualdade Racial e Periferias e Direitos Humanos e Transição Justa, criaram o projeto “Vozes dos Biomas” — uma iniciativa que percorreu os principais ecossistemas brasileiros para ouvir, registrar e traduzir as demandas das populações tradicionais e da sociedade civil em cartas destinadas aos negociadores da cúpula do clima.

Mais do que um exercício de escuta, a iniciativa se tornou um gesto político: o reconhecimento de que as soluções para a crise climática global começam com quem vive os efeitos das mudanças no cotidiano dos territórios.

Uma jornada de escuta e representação

Entre agosto e outubro de 2025, as três Enviadas realizaram plenárias e oficinas presenciais nos seis principais biomas do país — Amazônia, Mata Atlântica, Pampa, Caatinga, Pantanal e Cerrado. No total, cerca de 650 pessoas foram ouvidas, a maioria mulheres representando comunidades, coletivos, movimentos sociais e organizações locais.

Em Manaus (AM), as discussões giraram em torno da defesa dos povos da floresta e da bioeconomia de base comunitária. No Rio de Janeiro (RJ), as vozes da Mata Atlântica denunciaram a perda acelerada de biodiversidade e a exclusão de comunidades periféricas das políticas ambientais. Em Porto Alegre (RS), o Pampa trouxe à tona os impactos do agronegócio intensivo e as ameaças à agricultura familiar.

A escuta seguiu em Caruaru (PE), durante a Caatinga Climate Week, onde lideranças sertanejas falaram sobre convivência com a seca e transição energética justa. Em Campo Grande (MS), a oficina no Universidade Federal de Mato Grosso reuniu representantes do Pantanal, que relataram o avanço do desmatamento e das queimadas. Por fim, em Brasília (DF), o ciclo se encerrou com o bioma Cerrado, reafirmando o papel do coração do Brasil na regulação climática continental.

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Foto: Claudio Kbene

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Da escuta à incidência política

A metodologia do “Vozes dos Biomas” teve como base a escuta qualificada, entendida como ferramenta política e pedagógica. Cada oficina começava com um painel de lideranças locais, seguido de um momento de escuta guiada pelas Enviadas, que se revezavam entre os grupos, propondo reflexões sobre igualdade de gênero, justiça racial, direitos humanos e transição justa.

Esse formato colaborativo permitiu construir uma narrativa múltipla, na qual cada bioma expressou suas dores e soluções — um retrato das diversas formas de resistência que florescem no território brasileiro.

O resultado desse processo coletivo foi a elaboração de cartas temáticas, que reúnem os principais pontos de urgência e proposição das comunidades. Esses documentos serão apresentados na Zona Azul da COP30, espaço oficial de negociações entre governos e representantes da sociedade civil, como forma de garantir que a voz dos territórios ecoe no centro das decisões internacionais.

Conexão com as Cartas da Presidência

As Cartas dos Biomas dialogam diretamente com as Cartas da Presidência, produzidas pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30. A integração entre os dois conjuntos de documentos é simbólica: ao colocar lado a lado a diplomacia institucional e a diplomacia dos povos, o “Vozes dos Biomas” amplia o alcance político e simbólico da sociedade civil brasileira na conferência.

Para as Enviadas, esse processo representa uma nova forma de governança participativa, em que a escuta das populações locais é tratada como parte legítima da formulação de políticas climáticas. A iniciativa também reforça o papel das mulheres como mediadoras e tradutoras de saberes, conectando o cotidiano das comunidades à agenda global do clima.

Um país de múltiplos Brasis climáticos

Ao percorrer as diferentes paisagens do país, o projeto revelou a complexidade e a pluralidade do Brasil climático. Mostrou que não há uma única “crise ambiental”, mas muitas — e que cada bioma guarda saberes ancestrais e soluções específicas para lidar com ela.

Na Amazônia, o desafio é proteger os povos indígenas e conter o desmatamento. Na Caatinga, conviver com a escassez hídrica sem comprometer a produção de alimentos. No Pantanal, enfrentar os incêndios e a perda de fauna. No Cerrado, frear o avanço das monoculturas. Na Mata Atlântica, restaurar o que restou da floresta. E no Pampa, preservar a diversidade dos campos e das comunidades que os habitam.

Vozes que ecoam na COP30

Ao chegar a Belém, o “Vozes dos Biomas” leva muito mais do que relatórios — leva narrativas vivas. As falas, experiências e esperanças reunidas ao longo dos encontros formam um mosaico da sociedade civil brasileira diante da emergência climática.

A mensagem é clara: não há justiça climática sem justiça social. E essa justiça só será possível se as vozes dos territórios forem ouvidas e respeitadas nas decisões que moldarão o futuro do planeta.

Amazônia Legal: o novo epiceAmazônia Legal se torna o novo polo de inovação do Brasilntro da inovação sustentável brasileira

A Amazônia Legal está desenhando um novo mapa da inovação no Brasil. Com mais de 2,7 mil startups em operação em 2025 — um salto de 646 para 2.773 em apenas um ano —, a região mostra que é possível fazer da tecnologia uma aliada da floresta e da economia verde. O Relatório Amazônia Legal 2025, divulgado pelo Sebrae Startups, revela que o Norte e parte do Centro-Oeste do país vivem um momento inédito: um boom empreendedor que une ciência, biodiversidade e impacto social.

Um ecossistema jovem e em ebulição

O crescimento de mais de 300% em um ano reflete a vitalidade de um ecossistema ainda em formação. Cerca de 63% das startups estão nas fases iniciais de desenvolvimento, muitas delas sem faturamento, mas com propostas de valor inovadoras e foco em resolver desafios locais. Essa juventude é justamente o que faz do movimento amazônico algo singular — nascendo de dentro dos territórios e dialogando com a floresta.

Os nove estados da Amazônia Legal — Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins — estão representados nessa revolução empreendedora, mas quatro deles concentram 70% de toda a atividade.

Os polos emergentes da nova economia da floresta

O Mato Grosso lidera com 593 startups, consolidando-se como o maior hub de inovação agrícola da região. O estado usa sua força no agronegócio para criar tecnologias que aumentam a produtividade de forma sustentável.

Logo depois vem o Amazonas, com 451 empresas, muitas delas transformando a rica biodiversidade em novos alimentos e bebidas — um exemplo de como a floresta pode gerar valor econômico sem destruição.

O Pará, com 423 startups, desponta como centro de inovação voltado à bioeconomia e à industrialização de produtos regionais. Já o Maranhão, com 420, aposta na diversificação tecnológica, especialmente em Tecnologia da Informação (TI).

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Inovação com identidade amazônica

Os setores mais fortes do ecossistema traduzem a alma da região. Alimentos e bebidas lideram com 12,7% das startups, impulsionadas por empreendedores que transformam ingredientes nativos — como açaí, cupuaçu e castanha-do-pará — em produtos de alto valor agregado.

O agronegócio sustentável vem logo atrás, com 11,8%, apostando em drones, sensores IoT, inteligência artificial e biotecnologia para uma agricultura de precisão, eficiente e ambientalmente responsável.

Mas o destaque de 2025 é o setor de impacto socioambiental, que subiu para o top 3, com 10,8% das startups. São iniciativas que unem preservação ambiental, geração de renda e inclusão social — mostrando que inovação e justiça climática podem caminhar lado a lado.

Diversidade e protagonismo local

A nova geração de empreendedores amazônicos tem rosto, gênero e propósito. As mulheres representam 35,1% dos fundadores — um crescimento expressivo em relação aos anos anteriores —, e quase 80% das startups são microempresas. Isso reforça que a transformação digital da floresta está sendo conduzida de baixo para cima, por quem vive e entende a Amazônia.

O modelo B2B (business to business) é o mais usado, presente em 37% das startups, mas o B2C (voltado ao consumidor final) cresceu de 18,6% para 26,9%, indicando maior maturidade e foco em mercados de consumo conscientes.

Desafios que se transformam em oportunidade

O avanço é notável, mas não isento de obstáculos. A infraestrutura ainda é precária, o acesso a capital de risco é limitado e a distância dos grandes centros dificulta conexões estratégicas. Mesmo assim, é dessas dificuldades que surgem as soluções mais criativas — tecnologias adaptadas à realidade amazônica, com potencial de replicação em outras regiões do planeta que enfrentam desafios semelhantes.

O modelo de receita recorrente (SaaS) também cresce — de 15,5% para 21,1% —, sinalizando amadurecimento e sustentabilidade financeira. O futuro aponta para a inteligência artificial aplicada ao monitoramento ambiental, biotecnologia da biodiversidade, energias renováveis e tecnologias educacionais.

A floresta como polo global de inovação

A Amazônia Legal começa a afirmar uma nova lógica de desenvolvimento: uma economia baseada na floresta em pé, no conhecimento tradicional e na sustentabilidade tecnológica. O que está em construção é mais do que um ecossistema de startups — é um modelo civilizatório que redefine o que significa inovar em um planeta em crise.

Sob as copas das árvores amazônicas, cresce uma nova economia — digital, verde e profundamente humana. O futuro da inovação pode, de fato, estar nascendo ali.

Belém inaugura o Parque de Bioeconomia e reposiciona o Pará no mapa da economia verde

Belém vive um momento de virada histórica. A cidade que um dia simbolizou a exploração desenfreada da floresta agora quer ser o epicentro de um novo ciclo econômico, baseado em inovação, conhecimento e conservação. O Governo do Pará acaba de inaugurar o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, considerado o maior polo de bioeconomia da América Latina e o primeiro do mundo com foco específico na bioeconomia florestal.

O investimento de R$ 300 milhões, realizado por meio de uma parceria entre o Governo do Pará, a Vale, a Natura, o Fundo Vale e o programa Estrutura Pará, transformou parte do antigo porto de Belém em um complexo de ciência, tecnologia e negócios sustentáveis. A iniciativa faz parte do Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio) e é um dos principais símbolos da estratégia do estado para consolidar-se como referência global em desenvolvimento sustentável.

A floresta como motor da nova economia

Durante a inauguração, o governador Helder Barbalho ressaltou que o projeto representa uma mudança de paradigma: “A floresta deixa de ser vista como obstáculo e passa a ser motor de desenvolvimento sustentável”. A declaração reflete o salto observado na última década — de cerca de 200 empreendimentos ligados à bioeconomia em 2019 para mais de 800 em 2025. O crescimento, segundo o governo, é resultado direto de políticas públicas que integram conservação ambiental e geração de renda.

O parque foi concebido como um ecossistema de inovação amazônica. O Armazém 5 abriga o Centro de Negócios, que reúne o Centro de Sociobioeconomia e o Centro de Gastronomia Social, dedicado à valorização da cultura alimentar amazônica e à formação de empreendedores locais. Já o Armazém 6 abriga o Laboratório-Fábrica, com infraestrutura para pesquisa e produção experimental de alimentos, cosméticos e insumos florestais. Um Showroom de Inovação completa o espaço, aproximando cientistas, investidores e comunidades.

Para Raul Protázio Romão, secretário da Semas – Secretaria de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade, o parque é um divisor de águas. “Estamos construindo um ambiente em que ciência e saber tradicional se encontram. Aqui, ideias se transformam em soluções, e a floresta passa a ser sinônimo de prosperidade.”

Cooperação nacional e protagonismo amazônico

A inauguração foi marcada também pela assinatura de um Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo do Pará e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, com o objetivo de alinhar o PlanBio ao Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia. A vice-governadora Hana Ghassan destacou que o momento simboliza a integração entre estado e União: “Iniciativas como essa mostram que a Amazônia pode liderar um novo modelo econômico, baseado na conservação e na inovação”.

Com a COP30 se aproximando, o parque ganha ainda mais relevância. Belém — que será sede da conferência — se posiciona como vitrine da economia verde e laboratório vivo de soluções para a transição ecológica. A revitalização dos antigos armazéns do Complexo Porto Futuro é um gesto simbólico: onde antes se exportavam matérias-primas, agora se exporta conhecimento e tecnologia.

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O valor econômico da floresta em pé

O conceito central da bioeconomia, e que guia o projeto, é simples e revolucionário: quanto mais floresta viva, maior o potencial econômico. Em vez de repetir o modelo extrativista tradicional, o Pará busca gerar valor a partir da conservação. Isso significa desenvolver produtos de base florestal — de alimentos a biocosméticos, biomateriais e fármacos —, estimular startups e conectar universidades, empresas e comunidades locais.

A Natura, pioneira em biotecnologia florestal e no uso de insumos amazônicos em seus produtos, é um exemplo de como o setor privado pode contribuir para esse novo paradigma. Sua participação no parque, junto à Vale e ao Fundo Vale, reforça o entendimento de que sustentabilidade e competitividade são hoje faces da mesma moeda.

Da extração à regeneração

O investimento de R$ 300 milhões pode parecer modesto diante da vastidão amazônica, mas tem um efeito multiplicador. O parque cria uma infraestrutura científica e tecnológica que atrai novos investidores e amplia a presença da região nas cadeias globais de inovação. A expectativa é que o modelo sirva de inspiração para outros estados e países que buscam conciliar prosperidade econômica e conservação ambiental.

A Letícia Moraes, vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), reforçou o papel essencial das comunidades locais. “Durante muito tempo, duvidou-se que fosse possível viver com a floresta viva. Hoje, o Pará mostra que não só é possível, como é necessário.”

A declaração traduz o espírito do projeto: reconhecer os saberes tradicionais como parte estratégica da inovação amazônica. O conhecimento ancestral das populações ribeirinhas e indígenas não é um complemento — é o ponto de partida para uma bioeconomia enraizada no território.

Um novo ciclo para a Amazônia

Belém, marcada pelos antigos ciclos da borracha e da madeira, tenta agora inaugurar o ciclo da regeneração. A cidade transforma sua memória industrial em plataforma de futuro, unindo ciência, cultura e inclusão social. Se o projeto prosperar, o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia pode se tornar não apenas um polo de pesquisa, mas um símbolo de um novo pacto entre a Amazônia e o mundo — um pacto em que o progresso é medido não pelo que se extrai da floresta, mas pelo que se preserva nela.

Global Citizen Amazônia transforma Belém em símbolo da união entre arte, clima e justiça social

Belém viveu uma noite histórica com a realização do Global Citizen Festival Amazônia, evento internacional que reuniu artistas, ativistas e líderes mundiais para celebrar o protagonismo da floresta e reafirmar o papel do Pará na agenda climática global. Realizado no Estádio Olímpico do Mangueirão, o festival marcou a primeira edição do projeto na Amazônia e consolidou a capital paraense como epicentro das discussões ambientais às vésperas da COP30.

O encontro, promovido pelo movimento Global Citizen, contou com apresentações de Chris Martin, Charlie Puth, Anitta, Gilberto Gil, Seu Jorge, Gaby Amarantos e Viviane Batidão. No palco, ao lado da primeira-dama Daniela Barbalho, o governador Helder Barbalho celebrou o orgulho do povo paraense e destacou que o Estado se tornou referência mundial em sustentabilidade e justiça climática.

“Boa noite, Pará! O mundo está olhando para a gente”, declarou o governador, emocionado. “A natureza molda a nossa identidade, nossa economia e o nosso futuro. Mas o Pará é, antes de tudo, o seu povo — indígena, ribeirinho, extrativista — milhões de pessoas cuja vida depende da floresta viva.”

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Divulgação – Ag. Pará

Helder lembrou que a parceria com o Global Citizen e com o Coldplay começou em 2021, quando os artistas e o movimento fizeram um apelo por uma liderança climática mais forte na Amazônia. Desde então, o Pará passou a desenvolver políticas públicas integradas que unem cultura, ciência e ação ambiental.

“Esta parceria, que uniu artistas, cidadãos e governos, agora se concretiza aqui, no coração da Amazônia. Na próxima semana, Belém vai sediar a COP30, e o mundo inteiro vai se reunir no Pará com a urgência climática que o momento exige”, afirmou o governador.

Entre as autoridades presentes estavam a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e a primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva. Todas destacaram o simbolismo de um evento global acontecer em território amazônico, celebrando não apenas a diversidade cultural, mas a força das comunidades que vivem e protegem a floresta.

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Divulgação – Ag. Pará

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Um novo protagonismo para a Amazônia

O Global Citizen Amazônia teve um significado que vai além da música. Ele representou um reconhecimento internacional da transição em curso no Pará, impulsionada pelo Plano Estadual Amazônia Agora. O programa vem implementando ações concretas para reduzir o desmatamento, promover a bioeconomia e ampliar áreas de conservação.

Entre 2021 e 2024, o Pará reduziu o desmatamento em 54%, segundo dados do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e diminuiu em mais de 85% os focos de incêndio florestal. O Estado também investiu em programas de REDD+, pagamento por serviços ambientais, restauração florestal e regularização fundiária, sempre com foco na valorização das comunidades locais e tradicionais.

A combinação entre cultura e política pública, celebrada no palco do Mangueirão, deu tom de esperança a uma nova narrativa sobre a Amazônia — uma narrativa de futuro, não de destruição. “Do Pará para o mundo, quem fala é a floresta”, disse Helder Barbalho, sob aplausos. “Nós, que vivemos aqui, somos a floresta. E a humanidade inteira responde.”

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Divulgação – Ag. Pará

Um movimento global pela justiça

O Global Citizen, criado em 2008, é uma das maiores plataformas de engajamento cívico do planeta. O movimento atua no combate à pobreza extrema, à desigualdade e às mudanças climáticas, mobilizando cidadãos, governos e empresas em torno de causas globais. Além de suas campanhas permanentes, organiza o Global Citizen Festival, que já teve edições em Nova Iorque, Índia, Alemanha, África do Sul, França, Gana e Nigéria.

Ao trazer o evento para Belém, o movimento reforça a centralidade da Amazônia nas discussões sobre o futuro do planeta e reconhece os esforços locais em transformar o desenvolvimento sustentável em realidade.

O festival encerrou com uma mensagem de união e esperança: “É tempo de transformar discurso em compromisso, trabalho em legado, esperança em resultado”, afirmou o governador. “A Amazônia pode. O Pará pode. E o Brasil vai mostrar ao mundo que progresso e floresta podem caminhar juntos.”

A noite no Mangueirão foi mais que um espetáculo — foi uma declaração política e simbólica. Belém se mostrou pronta para ser a capital global da sustentabilidade, onde cultura, ciência e cidadania se encontram para redesenhar o futuro da floresta e da humanidade.

Prêmio Fundação BB celebra 40 anos impulsionando tecnologias sociais e comunidades sustentáveis

As inscrições para a 13ª edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social estão abertas até 1º de dezembro, e prometem movimentar o campo da inovação social em todo o país. Nesta edição, a instituição destinará R$ 6 milhões para iniciativas que transformam realidades locais por meio de soluções criativas, sustentáveis e participativas — tecnologias que nascem do diálogo direto com as comunidades e que podem ser replicadas em outros territórios.

O prêmio, consolidado como uma das principais referências brasileiras em inovação social, é mais do que uma disputa de projetos: é um reconhecimento do papel das populações locais na construção de respostas concretas para desafios históricos como insegurança alimentar, desigualdade, crise ambiental e exclusão social.

Entre os destaques de 2025 está o Desafio Fundação BB 40 anos, ação especial que comemora as quatro décadas da fundação ao selecionar dois projetos com investimento de até R$ 1 milhão cada. A proposta celebra o legado da instituição e reforça sua vocação em articular conhecimento técnico e saber comunitário em prol de um desenvolvimento mais justo e sustentável.

Soluções criadas por quem vive os desafios

As tecnologias sociais premiadas pela fundação são exemplos de como inovação pode vir da base. Elas podem ser produtos, metodologias ou técnicas desenvolvidas de forma colaborativa entre pesquisadores e comunidades, com o objetivo de resolver problemas reais e fortalecer a autonomia local.

Segundo o assessor da Fundação BB, Fabrício Araújo, a essência do prêmio está na participação popular: “A tecnologia social nasce do envolvimento das pessoas e da confiança de que elas são protagonistas na transformação de suas próprias vidas. É o conhecimento de dentro para fora, não o contrário”, explicou.

Essa filosofia se expressa em histórias emblemáticas. Uma delas é a das cisternas do semiárido, finalistas em 2001, que evoluíram para uma das mais importantes políticas públicas de convivência com a seca, resultando em mais de 1,3 milhão de unidades instaladas no Nordeste. Outro exemplo é a fossa séptica biodigestora desenvolvida pela Embrapa, hoje difundida em diversas regiões rurais do país. Também merece destaque a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), tecnologia que fortalece a segurança alimentar e o empreendedorismo rural familiar.

15012017comunidade_de_ribeirinhos_em_manaus1589-400x239 Prêmio Fundação BB celebra 40 anos impulsionando tecnologias sociais e comunidades sustentáveis
Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Compromisso com os ODS e a diversidade

Os projetos inscritos devem estar alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). A Fundação BB busca soluções voltadas a áreas estratégicas como alimentação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, saúde, educação e geração de renda.

Uma das novidades desta edição é a valorização de iniciativas que promovam igualdade racial, equidade de gênero e inclusão de povos e comunidades tradicionais. A fundação incorporou o ODS 18 – Igualdade Étnico-Racial, reafirmando seu compromisso com a diversidade e a justiça social.

“Essa é uma inovação simbólica e necessária. Ela amplia o conceito de sustentabilidade, mostrando que desenvolvimento só é possível quando inclui as pessoas historicamente invisibilizadas”, reforçou Araújo.

Reconhecimento, rede e futuro

Além da premiação financeira, os projetos selecionados ganham visibilidade e apoio para reaplicação das tecnologias sociais em diferentes contextos. O objetivo é criar redes de aprendizado e impacto, multiplicando experiências de sucesso em novas comunidades.

Como parte da agenda comemorativa, a fundação realizará, em maio de 2026, em Brasília, a Semana Nacional de Tecnologia Social, que reunirá pesquisadores, lideranças comunitárias, gestores públicos e parceiros estratégicos. O evento será um espaço de debates, trocas e articulação de novos investimentos sociais, culminando na cerimônia de premiação dos projetos certificados.

Com mais de quatro décadas de atuação, a Fundação Banco do Brasil se consolida como uma ponte entre a sociedade civil e o setor público, promovendo soluções sustentáveis baseadas na cooperação. O Prêmio Fundação BB reafirma essa trajetória ao reconhecer que a inovação social não vem apenas de laboratórios, mas das pessoas que reinventam a vida todos os dias.

A 13ª edição chega em um momento decisivo, em que o Brasil busca fortalecer sua economia verde e reduzir desigualdades. Premiar tecnologias sociais é, portanto, um gesto político e ético: investir na inteligência coletiva de um país que, em cada comunidade, encontra caminhos próprios para o futuro.

Profissionais do futuro: pesquisa revela quem move a sustentabilidade no Brasil

Enquanto o mundo volta os olhos para a COP30, um outro movimento silencioso, mas profundamente transformador, se consolida no país: o amadurecimento do mercado de sustentabilidade. Lançada em 24 de outubro pela Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (ABRAPS), durante o evento ODSTalks, a 4ª edição da Pesquisa sobre o Perfil do Profissional pelo Desenvolvimento Sustentável oferece um retrato inédito de uma categoria que cresceu, se qualificou e se tornou indispensável na transição para uma economia verde.

Um campo que deixou de ser promessa

Realizada ao longo de 2024 e 2025, a pesquisa mapeou mais de mil profissionais de todo o país — um salto de mais de três vezes no número de participantes em relação à primeira edição, de 2015. Os resultados confirmam que a sustentabilidade deixou de ser um nicho de entusiastas para se tornar uma profissão consolidada, com estrutura, carreira e relevância estratégica nas organizações.

O levantamento revela que 83% dos entrevistados possuem pós-graduação ou nível acadêmico superior, e que 38% têm mais de 15 anos de experiência na área. Esse dado, por si só, desmonta a ideia de que a sustentabilidade é um campo em formação. O profissional do futuro — que antes se imaginava júnior — já é sênior, experiente e altamente qualificado.

O que move quem trabalha pela sustentabilidade

Mesmo diante de desafios estruturais, a principal motivação desses profissionais segue sendo o propósito. Mais de 60% apontaram a realização pessoal como o fator que os impulsiona no trabalho. A sustentabilidade, mais do que um emprego, é encarada como missão e coerência entre valores e prática.

Mas o idealismo não exclui a realidade do mercado. A pesquisa mostra uma faixa salarial predominante entre R$ 3.001 e R$ 6.000, concentrada sobretudo entre profissionais da iniciativa privada (52%). Ainda assim, setores como Governo e Academia se destacam pela presença de rendimentos mais altos: 19% e 18%, respectivamente, estão na faixa de R$ 15.001 a R$ 20.000.

Esses números revelam que o reconhecimento financeiro ainda é desigual, mas existe um potencial de valorização crescente à medida que as empresas internalizam o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) como eixo de gestão, e não apenas como discurso.

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O mapa das tendências e dos gargalos

Os temas mais explorados entre os profissionais também refletem o amadurecimento do setor. A gestão e os relatórios de sustentabilidade — incluindo ESG e disclosure — aparecem no topo das áreas de interesse (32%), seguidos por resíduos, reciclagem e economia circular (28%). São campos que dialogam diretamente com a necessidade de métricas, transparência e inovação, pilares fundamentais para a credibilidade da agenda sustentável.

Entretanto, o estudo também escancara os obstáculos que ainda impedem o avanço da pauta dentro das organizações. Quatro gargalos concentram as maiores preocupações:

  • Falta de conhecimento sobre a importância do tema (28%);

  • Baixo engajamento institucional (19%);

  • Falta de comprometimento da alta administração (15%);

  • Investimentos insuficientes (12%).

Esses pontos compõem um roteiro estratégico para líderes empresariais e gestores públicos que desejam transformar discurso em prática. A mensagem é clara: não faltam profissionais preparados — falta espaço, orçamento e decisão política para que atuem com todo o seu potencial.

O papel da liderança e o chamado à ação

Na avaliação de Marcus Nakagawa, presidente da ABRAPS, o momento é decisivo. “Com a chegada da COP30 e as exigências globais sobre o aquecimento do planeta, os profissionais pelo desenvolvimento sustentável serão protagonistas. São eles que transformarão metas e relatórios em ações concretas, capazes de inserir a sustentabilidade na cultura organizacional e gerar resultados sistêmicos.”

A pesquisa, disponível no site da ABRAPS, reforça que o Brasil já possui uma base técnica e humana sólida para conduzir a transição ecológica. O desafio, agora, é valorizar esse capital humano, estimular políticas corporativas de engajamento e traduzir o propósito em impacto mensurável.

O profissional do desenvolvimento sustentável não é mais apenas o porta-voz das boas intenções: é o arquiteto de um novo modelo de prosperidade. E, ao que tudo indica, o futuro já começou — com brasileiros preparados para liderá-lo.

Clima típico de Belém no período da Cop

A cidade de Belém está inserida em uma zona de clima equatorial úmido, com características próprias que desafiam quem não está acostumado.

Em novembro, os dados históricos indicam:

  • As máximas médias ficam próximas de 32 °C (em geral entre 31 °C e 34 °C) e as mínimas médias por volta de 24 °C a 25 °C.

  • A umidade relativa costuma manter-se alta, o que provoca sensação térmica ainda mais intensa.

  • Quanto à chuva, novembro não é o mês mais chuvoso absoluto, mas ainda assim é parte da estação em que chuvas rápidas e intensas podem ocorrer. Por exemplo, o total médio de precipitação em novembro foi estimado em cerca de 43 mm segundo uma fonte climatológica.

  • O regime de sol e nuvens varia: há dias de sol forte intercalados com tardes ou noites nubladas, e a possibilidade de chuva súbita é real.

  • Um site especializado indica que, em novembro, Belém experimenta em média cerca de 9 horas de sol por dia nessa época.

Em resumo: espere calor, bastante umidade e a possibilidade de chuvas rápidas — ou seja, um clima que pode exigir adaptação, sobretudo para quem não é da região.

Previsão para os dias iniciais da COP30

Com base nas previsões recentes para Belém, o cenário nos dias que antecedem e iniciam o evento indica:

Atualmente está 31° · Ensolarado
Belém, Brasil
sun-sunny-kqjpjzd8 Clima típico de Belém no período da Cop
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Hoje
33°
22°
Predominantemente ensolarado
sun-mostly-cloudy-d4o4zkga Clima típico de Belém no período da Cop

terça-feira
34°
24°
Nebulosidade variável
sun-mostly-sunny-livrdkgu Clima típico de Belém no período da Cop

quarta-feira
33°
24°
Parcialmente ensolarado
sun-shower-lvtjthah Clima típico de Belém no período da Cop

quinta-feira
34°
23°
Algumas pancadas de chuva rápidas
sun-mostly-sunny-livrdkgu Clima típico de Belém no período da Cop

sexta-feira
34°
24°
Uma pancada de chuva
sun-mostly-cloudy-d4o4zkga Clima típico de Belém no período da Cop

sábado
32°
24°
Nebulosidade variável
sun-mostly-sunny-livrdkgu Clima típico de Belém no período da Cop

domingo
33°
24°
Ensolarado a parcialmente nublado
  • Para os próximos dias, as máximas previstas giram em torno de 33 °C a 34 °C.

  • As mínimas ficam entre 22 °C e 24 °C.

  • Há previsão de pancadas de chuva rápidas, sobretudo em finais de tarde ou início de noite.

  • O céu alternará entre sol forte, nuvens e possíveis chuvas passageiras.

Essa previsão está em consonância com os valores médios históricos que mencionamos acima — o que confirma que os participantes da COP30 devem estar preparados para calor, umidade e certo grau de instabilidade.

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O que fazer para se adaptar ao clima

Dado esse panorama, aqui vão algumas recomendações práticas para quem vai participar da COP30 em Belém:

  • Roupas leves e de secagem rápida – tecidos que permitam ventilação e transpiração serão bem-vindos.

  • Proteção solar – óculos de sol, chapéu ou boné, e protetor solar. Com o sol intenso e temperaturas elevadas, vale proteger bem a pele.

  • Hidratação constante – pela combinação de calor + alta umidade, a sensação térmica tende a subir; levar água ou acessar pontos de hidratação na cidade é importante.

  • Preparar-se para chuva repentina – apesar de novembro não ser o pico da temporada de chuvas, há potencial para pancadas tropicais rápidas. Uma sombrinha compacta, capa de chuva leve ou jaqueta impermeável leve são itens úteis.

  • Sapatos confortáveis e com boa ventilação – considerando que muitos dos participantes da COP30 podem caminhar ou deslocar-se bastante pela cidade, escolher calçado adequado facilita bastante.

  • Atenção aos horários – sol forte pode ser mais intenso entre meio-dia e tarde; considerar atividades em momentos mais amenos do dia se possível.

  • Expectativa realista – por estar em uma cidade amazônica, variações súbitas (como aumento de nuvens, chuviscos, rajadas de vento) podem ocorrer. A previsão ajuda, mas o clima local pode surpreender.

O que isso significa para a COP30

Que o clima influi no ambiente da conferência é óbvio — mas há implicações práticas. O fato de Belém apresentar altas temperaturas e elevada umidade significa que os participantes, delegações e visitantes terão de lidar com condições ambientais que podem afetar conforto, energia, deslocamento e logística.

Além disso, estar em uma região amazônica, com clima mais instável, reforça a necessidade de logística flexível: pausas regenerativas, hidratação, atenção ao conforto térmico e cuidados de saúde mínima para evitar exaustão ou desequilíbrio. Para os organizadores do evento, isso sugere reflexão sobre espaços climatizados, áreas de descanso adequadas e comunicação clara sobre clima para visitantes internacionais.

Finalmente, do ponto de vista simbólico da COP30 — no contexto da discussão global sobre clima — realizar o evento em Belém também coloca em evidência a própria realidade amazônica, com um clima que combina calor, umidade e chuvas rápidas, e que simboliza, de certa forma, a urgência da adaptação climática.

Europa assume meta “bem ambiciosa” antes da COP30 no Brasil

A menos de duas semanas para o início da COP30 — a conferência mundial do clima que se realizará em Belém —, surge um claro sinal de mudança no tabuleiro global: a União Europeia (UE) anunciou uma intenção de apresentar metas climáticas “bem ambiciosas”, afirmou o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago.

Nas palavras de Corrêa do Lago, a sinalização vem em momento crucial, em que os países desenvolvidos precisam dar a “largada” para que os emergentes não vejam-se carregando o fardo principal da transição climática. “Não tem sentido que os países em desenvolvimento tenham que fazer mais esforços que os países que já puderam se desenvolver ao longo de dois séculos e meio emitindo ”, afirmou.

Essa manifestação da UE tem relevância simbólica e prática: trata-se das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) — compromissos nacionais de redução de emissões e adaptação climática pactuados no âmbito do Acordo de Paris. Se os países desenvolvidos — historicamente grandes emissores — apresentarem metas robustas, criam um terreno moral e político mais sólido para que os demais sigam.

Até aqui, porém, a Europa vinha em silêncio. Conforme lembrou a sociedade civil, “estamos a menos de 30 dias da COP30 e a Europa não se manifestou e não apresentou NDC”. Essa demora aparece como um estranhamento estratégico: de um lado, é legítimo afirmar haver necessidade de tempo para formulação de políticas; de outro, a tardança lança dúvidas sobre a disposição real das potências para elevar a ambição climática.

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Fonte: COP30 Brasil 2025

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Corrêa do Lago interpretou a virada como “boas notícias” — e mais: tem expectativa de que a UE se situe “na faixa mais ambiciosa” entre os desenvolvidos. A declaração não apenas empurra o bloco europeu a sair do esquecimento negociador, mas abre caminho para uma discussão mais ampla sobre justiça climática, proporcionalidade histórica e responsabilidade diferencial.

O contexto global reforça a urgência. Com a ausência relevante dos Estados Unidos em certas frentes de lideranças climáticas — um fato destacado pelo próprio presidente da COP30 — cresce o peso de que os países que historicamente emitiram mais assumam papéis de vanguarda. “Com a ausência dos Estados Unidos, é muito importante que os países desenvolvidos mostrem o que vão fazer”, disse Corrêa do Lago. Mas a questão ainda não está resolvida: apenas uma fração dos países submeteu suas NDCs atualizadas — o presidente da COP30 afirmou que há frustração com o ritmo de entregas. O cenário é de tensão: enquanto a conferência se aproxima, o relógio das ações climáticas corre e, nos bastidores, a âncora da credibilidade está em que os compromissos sejam reais, mensuráveis e transformadores.

Para o Brasil — que foi o segundo país a apresentar sua NDC, definindo metas de redução entre 59 % e 67 % dos gases de efeito estufa e zerar o desmatamento até 2030 — o jogo passa por motivar os demais a acompanharem esse passo e evitar que a ambição se torne vazio diplomático.

Em resumo: a movimentação da Europa, ainda que tardia, traz um sopro de otimismo para a COP30. Mas o desafio permanece: transformar sinalização em ação, vínculo diplomático em compromisso concreto, e promessa de metas em resultados tangíveis — sobretudo em um cenário global marcado por impasses, atrasos e necessidades urgentes. O tempo para diálogo já está passando. Agora é hora de entregar.

Mulher indígena lidera turismo comunitário na Aldeia Vista Alegre

Às margens largas e silenciosas do rio Tapajós, adentra-se uma aldeia que mais parece uma porta entre mundos: a Aldeia Vista Alegre do Capixauã, lar da etnia Kumaruara, abre-se ao visitante com rituais ancestrais, trilhas entre árvores medicinais, igarapés cristalinos e uma nova forma de liderança. No centro dessa transformação está Irenilce Batista Sousa, conhecida como Cacica Irenilce, a primeira mulher a assumir o cargo de cacica no seu território — cargo que ocupa há quase uma década, enfrentando preconceitos de gênero e identidade, porém com a confiança da comunidade.

Quando Irenilce assumiu, estava consciente de dois fatos: que talvez não fosse aceita e que, se não tivesse respaldo, logo seria substituída. “Se eu não tivesse fazendo um bom trabalho, eles já tinham me tirado,” disse em entrevista. Essa afirmação expõe algo central: o poder de governança ali não é imposto externamente, mas construído no seio da comunidade, sob lógica coletiva. E é essa lógica que ela agora aplica à gestão de um empreendimento que nasce do território e para o território.

A comunidade Kumaruara há tempos lidava com as contradições de viver entre a floresta e o rio, de sobreviver da mandioca, da pesca e do extrativismo enquanto via suas tradições se diluírem. A partir de um processo de reconquista identitária — investigação das próprias raízes, resgate da língua, da dança do tipiti, do carimbó, do grafismo corporal — emergiu a ideia de transformar o turismo em base de futuro. Com o apoio de organizações como o Projeto Saúde e Alegria e o WWF, a Pousada Uka Surí tornou-se o palco de uma experimentação: acomodar visitantes num redário entre a natureza, promover canoagem em águas calmas, receber os viajantes com farinha recém-torrada, misturando economia, cultura e preservação.

WhatsApp-Image-2025-08-19-at-16.24.582-400x250 Mulher indígena lidera turismo comunitário na Aldeia Vista Alegre
Divulgação – Rede Floresta Digital

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Esse turismo de base comunitária virou para a aldeia algo mais que renda extra. Tornou-se instrumento de afirmação: mulheres passam a ocupar postos de protagonismo, jovens veem possibilidade de permanecer no território, e a floresta — não como obstáculo, mas como aliada. Canoas, motores, remos, coletes foram conseguidos através de apoio externo, permitindo que a experiência turística se tornasse mais segura, organizada, profissional. Mas a essência permanece: o visitante não chega para dominar, mas para conhecer; a comunidade não cede território, mas compartilha saberes.

A gestão dessa nova face da aldeia exige habilidades que transcendem a cultura tradicional: saber calcular custos, definir preços, distribuir tarefas, orientar visitantes. Como Irenilce relata, “antes, não sabíamos como calcular corretamente os custos. Agora, com essa capacitação, temos mais clareza.” Esse salto de intuição para estruturação profissional é um aspecto que revela a maturidade do empreendimento e sua ambição de permanência.

Mas também surgem dilemas. O equilíbrio entre manter o modo de vida tradicional e desenvolver uma economia de base turística exige escolhas, e a liderança feminina, naquela realidade marcada por machismo e invisibilidade indígena, requer mais que firmeza: requer aliança comunitária, visibilidade e legitimidade. A afirmação de Irenilce — “se eu sou, ninguém vai dizer que eu não sou” — traduz bem essa travessia.

Hoje, a aldeia integra a Rede Floresta Digital e desenvolve oficinas de mídia comunitária, rádio web, produção audiovisual. Essa investida conecta a floresta ao mundo digital, e garante que as vozes do Tapajós sejam ouvidas por além dos igarapés. Jovens aprendem edição de áudio, fotografia, registram sua própria narrativa e assumem a autoria do seu território. Essa articulação, entre tradição e tecnologia, entre rio e rede, constitui o que podemos chamar de “autonomia interligada”.

Se o turismo de base comunitária funciona como porta para o exterior, ele funciona sobretudo como motor interno de transformação: gera renda, sim, mas também autoestima, identidade, possibilidade de escolha e protagonismo. A comunidade Kumaruara convida o mundo — e se convida a si própria — a fazer diferente: viver com a floresta e da floresta, sem abri-mão da dignidade e da inovação.

E a liderança de uma mulher, num contexto onde isso era impensável há poucos anos, revela que esse futuro não é apenas de floresta intocada, mas de floresta dinâmica, liderada por quem nela sempre esteve. “Quem tem que cuidar da Amazônia somos nós. Quem quer a Amazônia de pé, somos nós,” afirma Irenilce. Esse não é um aceno à ajuda externa, mas um convite à parceria com reciprocidade, visão e respeito

Municípios paraenses ganham palco global no Pavilhão Pará na COP30

O estado do Pará prepara-se para ocupar seu lugar central na cena global do clima. Em Belém, palco da COP30 entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, surge o “Pavilhão Pará – Municípios na COP30”, uma iniciativa ousada concebida para dar voz e visibilidade às 144 cidades paraenses num encontro que congrega mais de 190 países. A proposta – articulada pelo governo do Estado por meio da Secretaria de Estado de Turismo (SETUR) – coloca os municípios como protagonistas da construção de soluções locais para os desafios climáticos, sociais e econômicos da Amazônia.

Montado no Centro de Convenções Centenário da Assembleia de Deus, na avenida Augusto Montenegro, o Pavilhão oferece estandes padronizados de 16 metros quadrados para cada município. Haverá também praça de alimentação, palco para apresentações culturais e espaços dedicados à roda de conversa e à gravação de podcasts. A escolha de um espaço amplo, organizado e com foco em visibilidade internacional reflete a convicção de que os municípios não são meros observadores no processo climático, e sim atores ativos na construção de novas narrativas de desenvolvimento. Durante o evento de lançamento, o governador do Pará lembrou que “todos os 144 municípios terão um espaço para mostrar seus projetos de sustentabilidade, gastronomia, habilidades e riquezas”.

Esse Pavilhão marca uma virada estratégica: ao invés de a COP representar apenas uma arena de formulação de políticas nacionais sobre clima, o Pavilhão Pará propõe que comunidades locais, territórios isolados ou pouco visibilizados, participem de igual para igual, mostrem suas iniciativas, troquem experiências e articulem parcerias. Em uma região reconhecida pela floresta em pé e por modos de vida tradicionais, essa plataforma assume papel simbólico e prático para inserir as cidades — pequenas e maiores — na agenda global. É uma mudança de perspectiva: de “áreas afetadas” a “terrenos de inovação”.

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Ag. Pará

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Os prefeitos que estiveram no lançamento ressaltam esse significado. Em Castanhal, o prefeito destacou que o evento “vai muito além de encontro entre líderes mundiais. É um chamado à ação, um momento para repensarmos como produzimos, consumimos e cuidamos do nosso planeta”. Em Tomé-Açú, o prefeito salientou o desejo de apresentar ao mundo “o sistema pioneiro em agrofloresta, baseado na diversidade cultural e produtiva da Amazônia… nossa gastronomia, cultura, economia criativa, artesanato e a história centenária da imigração japonesa”. Essas falas surpreendem pelo tom de oportunidade: não mais apenas se adaptar à crise, mas reinventar caminhos de desenvolvimento.

A gestão técnica do Pavilhão, coordenada pela SETUR, incluiu a montagem dos estandes e o suporte técnico para as prefeituras, o que reforça que haverá condições práticas para que os municípios participem com estrutura organizada. Além disso, por meio do edital publicado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade – SEMAS para a Zona Verde da COP30, ficou assegurada a presença de diversas instâncias da sociedade — setor privado, organizações não-governamentais, povos indígenas e comunidades tradicionais — dentro do Pavilhão. É um desenho que busca articular turismo, cultura, bioeconomia, produção local e conectividade internacional.

Na leitura analítica, o Pavilhão Pará representa três movimentos simultâneos: primeiro, a afirmação de que o combate às mudanças climáticas passa por territórios locais; segundo, que o desenvolvimento sustentável na Amazônia pode ganhar visibilidade global e parcerias estratégicas; e terceiro, que a cultura, a gastronomia, a economia criativa e a bioeconomia estão intrinsecamente ligadas à agenda climática — já não se trata apenas de reflorestamento ou mitigação, mas de produção de valor nos territórios tropicais. A COP30 vira, assim, palco para que cidades do Pará mostrem que podem articular preservação ambiental e crescimento econômico de base local.

Ao final, o Pavilhão não será somente uma vitrine, mas um laboratório de articulação entre municípios, Estado, setor privado e comunidade global. Se bem aproveitado, poderá deixar um legado concreto: conexões internacionais, investimentos, visibilidade para produtos regionais, reforço de identidade territorial e fortalecimento das cidades paraenses em redes de cooperação. Em suma, ele redefinirá o papel dos municípios na Amazônia: de peça passiva a elo ativo na rede global de soluções climáticas.

Luz na Amazônia: energética e cidadã para comunidades tradicionais

Na manhã de 30 de outubro de 2025, em um auditório da agência reguladora em Brasília, selou-se uma parceria inédita: a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) firmou um acordo com o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) para lançar o “Projeto Sandbox Regulatório Energias da Floresta”. Com isso, abre-se um novo capítulo no esforço de levar energia elétrica acessível, confiável e de qualidade às comunidades da Amazônia que permanecem à margem da rede pública elétrica.

O cenário é duro de aceitar: segundo levantamento do IEMA, cerca de um milhão de pessoas que vivem na região da Amazônia Legal ainda não contam com fornecimento público de energia — e isso não se restringe a domicílios. Entre escolas e unidades de saúde, o número de excluídos é alarmante: 3.659 instituições de ensino e 966 unidades de saúde básica funcionam “às escuras”. Sem energia, ficam fragilizados o processo de aprendizado (por falta de acesso à internet, equipamentos ou mesmo condições de conforto), bem como os cuidados de saúde básicos — imagine uma UBS isolada sem energia para manter vacinas refrigeradas ou operar dispositivos durante crises ambientais ou pandêmicas.

Essa realidade impulsiona o projeto – que se distingue por três eixos: inovação regulatória, sustentabilidade ambiental e justiça social. A ideia central é desenvolver, em ambiente controlado (o sandbox regulatório), soluções regulatórias, tecnológicas e participativas adaptadas às realidades amazônicas. Não se trata apenas de “levar luz”; trata-se de garantir luz com qualidade, conexão com a internet e infraestrutura tecnológica mínima para que as comunidades possam, por exemplo, desenvolver uma nova economia baseada na sociobiodiversidade, manutenção da floresta e agricultura familiar — fatores identi­ficados como estratégicos para um desenvolvimento regional verdadeiramente sustentável.

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Divulgação – IEMA

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O acordo prevê que, ao longo de cinco anos, sejam mapeadas as barreiras regulatórias — seja na concessão de energia, na integração de micro-geradores ou na tarifa social — e acionados processos de consulta e escuta qualificada junto às comunidades indígenas, extrativistas, quilombolas ou outros povos tradicionais, conforme a convenção internacional pertinente. Ao mesmo tempo, serão criados indicadores técnicos, socio­econômicos e ambientais para mensurar resultados, e lideranças locais serão capacitadas para assumir protagonismo nas soluções energéticas. Esse esforço se baseia no saber local articulado ao conhecimento técnico-científico produzido por organizações e academia.

Entre as iniciativas que já estão engatilhadas está o projeto “Agentes Comunitários de Energia”, concebido pela Rede Energia e Comunidades, e o “Conexão Povos da Floresta”, que visa levar internet de qualidade às comunidades do interior amazônico. A compreensão que orienta tudo isso é que a floresta — e seus modos de vida — só se manterão em pé se houver infraestrutura adequada que permita o desenvolvimento econômico local, sem abrir mão dos territórios, culturas e tradições.

A atuação da ANEEL, expressa pelo diretor-geral Sandoval Feitosa, traduz o reconhecimento de que o processo de universalização da energia elétrica não pode se dar de forma mecanicista: é necessário ajustar o marco regulatório ao contexto amazônico para que a transição energética seja realmente justa e inclusiva. O IEMA, por sua vez, representado por seu diretor-presidente André Luis Ferreira, reforça que sua missão de apoiar políticas públicas com foco em inclusão social agora ganha novo vigor — com a Amazônia como palco central para inovar e exemplificar.

Em essência, o Projeto Energias da Floresta representa mais do que uma meta técnica ou regulatória: é uma afirmação de que energia, floresta e vida comunitária podem caminhar juntos. A meta não é apenas levar fios ou postes, mas possibilitar que comunidades isoladas tenham autonomia energética, conectividade e uma infraestrutura mínima para participar da cidadania plena. Ao dar esse passo, ANEEL e IEMA lançam um experimento que, se bem-sucedido, poderá servir de modelo para outras regiões remotas ou vulneráveis no Brasil.

Os resultados esperados são ambiciosos: comunicação e articulação entre governo e sociedade civil; governança participativa e descentralizada; testes de arranjos regulatórios inovadores; capacitação comunitária; e replicação de aprendizagens em outros contextos. Em longo prazo, a nova economia da floresta — baseada nos produtos da sociobiodiversidade e agricultura familiar — encontrará os “cordões energéticos” que faltavam para se desenvolver. Em última análise, trata-se de dar energia à floresta, e mais ainda: energia à autonomia dos povos que a habitam.

Simulado de Emergência Ambiental reforça cultura de prevenção e segurança no Porto do Itaqui

No Porto do Itaqui, em São Luís (MA), a manhã de 30 de outubro foi dedicada à prevenção, à agilidade e ao trabalho conjunto. Um grande Simulado de Emergência Ambiental reuniu dezenas de equipes e empresas com o objetivo de testar, na prática, a capacidade de resposta diante de um acidente envolvendo vazamento de combustível durante uma manobra de atracação. A ação, realizada pela Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), contou com a parceria da Granel Química e de outras 32 companhias que integram o complexo portuário.

O exercício encenou uma colisão de embarcação com o cais do Berço 108, provocando o rompimento da estrutura e o derramamento de diesel S10 no mar. O cenário exigiu uma mobilização imediata das equipes de segurança e resposta ambiental, em um processo que envolveu desde a contenção inicial até o monitoramento da dispersão do produto.

Segundo Samara Soares, técnica portuária de emergências ambientais da EMAP, simulados como esse são peças-chave na rotina de segurança do porto. “Treinar é o que garante eficiência quando o real acontece. Esse tipo de exercício fortalece a cultura de prevenção, integra os agentes e nos permite corrigir falhas em tempo controlado, antes que elas ocorram em uma situação real”, explicou.

O processo de preparação do simulado é minucioso e envolve diferentes fases, desde o planejamento estratégico até o alinhamento operacional. “Tudo começa com a fase de desenho do cenário e das ações de resposta. Depois vem o treinamento e o briefing com as equipes, definindo as responsabilidades de cada participante. Só então passamos à parte prática, que é onde tudo é colocado à prova”, detalhou Samara.

No caso simulado, a Granel Química foi responsável por acionar a primeira linha de resposta, com apoio imediato da empresa contratada para a prontidão ambiental da EMAP, a OceanPact. Juntas, as equipes atuaram na instalação de barreiras de contenção, recolhimento de resíduos e identificação das manchas de óleo. “Nosso papel é responder com rapidez e precisão, minimizando os impactos ambientais e garantindo a segurança de todos os envolvidos”, afirmou Orlandilson Rodrigues, supervisor de segurança da Granel Química.

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Divulgação – Ag. Maranhão

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Além das empresas, o simulado contou com a presença e fiscalização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema-MA), que acompanha de perto todos os exercícios realizados na área portuária. Para Wilame Araújo Pereira, fiscal ambiental da Sema, essa integração é o ponto forte do modelo maranhense de gestão de emergências. “A EMAP mantém uma postura de cooperação com os órgãos ambientais, e isso se reflete em respostas mais rápidas e transparentes. O acompanhamento da Sema garante que os procedimentos estejam alinhados às normas ambientais e à legislação vigente”, destacou.

O Porto do Itaqui tem se consolidado como referência nacional em planejamento e gestão ambiental portuária. Apenas em 2025, já foram realizados 13 exercícios simulados, incluindo ações dentro dos programas Plano de Ajuda Mútua (PAM), Plano de Controle de Emergência (PCE), Plano de Emergência Individual (PEI) e Plano de Área do Complexo Portuário do Itaqui (PACPI). Até o fim do ano, estão previstos mais nove simulados, o que reforça o compromisso do porto com a melhoria contínua.

A EMAP tem ampliado suas parcerias com instituições públicas e privadas para elevar o nível de prontidão e segurança. Os simulados não apenas testam os protocolos técnicos, mas também consolidam uma cultura de responsabilidade ambiental e de cooperação entre todos os atores envolvidos na cadeia portuária.

Em um setor onde o risco é inerente à operação, a preparação constante é o melhor antídoto contra acidentes. No Itaqui, a mensagem é clara: segurança e sustentabilidade caminham lado a lado, sustentadas pelo treinamento contínuo e pela integração entre equipes. O simulado de outubro foi mais do que um exercício técnico — foi a demonstração de que o porto maranhense está pronto para agir com precisão, responsabilidade e consciência ambiental diante de qualquer emergência.

Roraima amplia rede de escolas indígenas com apoio do FNDE e mobilização de lideranças locais

Em Roraima, um encontro realizado nesta terça-feira (30) entre lideranças indígenas, representantes da Secretaria de Educação e Desporto de Roraima (Seed), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e de diversas organizações do movimento indígena marcou um passo decisivo para o fortalecimento da educação escolar indígena no estado. A reunião teve como pauta principal o avanço das obras de construção e reforma de escolas nas comunidades, tema que há anos mobiliza reivindicações das populações originárias.

A iniciativa partiu do Conselho Indígena de Roraima (CIRR), que solicitou a audiência com o objetivo de esclarecer os prazos e a execução dos investimentos previstos. Participaram também representantes da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opirr), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do Movimento de Mulheres Indígenas, além de tuxauas, gestores escolares e técnicos do FNDE.

O encontro coincidiu com mais uma edição do projeto “FNDE Chegando Junto”, iniciativa que percorre os estados brasileiros para oferecer assistência técnica a gestores públicos sobre programas federais de infraestrutura e financiamento da educação básica.

Durante a reunião, o secretário estadual de Educação, Mikael Cury-Rad, apresentou um panorama detalhado das obras previstas em Roraima: serão 22 escolas indígenas reformadas ou construídas, o que coloca o estado como o segundo com maior número de projetos aprovados no país. “Esses investimentos representam não apenas a melhoria da estrutura física das escolas, mas também o reconhecimento da importância da educação indígena para o desenvolvimento do nosso estado”, afirmou.

Segundo dados do FNDE, Roraima foi contemplado com R$ 8,3 milhões em investimentos, provenientes de emendas parlamentares da ex-deputada federal Joênia Wapichana e contrapartida do governo estadual. Ao todo, o fundo federal aprovou 165 projetos em todo o Brasil, voltados à reforma, ampliação e construção de prédios escolares, priorizando áreas rurais e comunidades indígenas.

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Foto: Ag. Roraima

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A gerente de projetos do FNDE, Geziene Albernaz, destacou que parte dos recursos havia sido paralisada em gestões anteriores e agora será retomada. “Nosso foco é destravar obras essenciais que atendam diretamente às comunidades. Queremos garantir que o máximo desses projetos saia do papel ainda no próximo ano”, afirmou.

A mobilização das lideranças indígenas foi fundamental para impulsionar a retomada das obras. O CIRR e a OPIRR vêm alertando há anos para a precariedade das escolas nas terras indígenas, muitas delas sem infraestrutura adequada para o atendimento às crianças. Em regiões de difícil acesso, há unidades que funcionam em estruturas improvisadas, com materiais insuficientes e problemas logísticos que dificultam o calendário letivo.

A partir desse cenário, o diálogo com o FNDE é visto como um avanço institucional importante. Ao abrir espaço para a participação direta das lideranças, o governo busca alinhar a execução das obras às demandas das próprias comunidades, respeitando as especificidades culturais e territoriais de cada povo.

Entre as escolas contempladas estão unidades localizadas em municípios como Bonfim, Cantá, Alto Alegre, Amajari, Normandia, Uiramutã e Boa Vista Rural, abrangendo diversas etnias e microrregiões. Algumas delas, como a Escola Estadual Indígena Índio Dionísio Figueiredo e a Escola Marechal Cândido Rondon, são referências comunitárias que há décadas aguardam por revitalização.

As reformas e construções deverão contemplar salas adaptadas, bibliotecas, espaços multiuso e sistemas sustentáveis de energia e água, seguindo padrões atualizados de acessibilidade e conforto ambiental.

Para o movimento indígena, as melhorias na rede física das escolas representam apenas uma etapa de um processo mais amplo de valorização da educação intercultural. “A estrutura é importante, mas queremos também fortalecer o currículo, a formação de professores indígenas e o ensino das línguas nativas”, pontuou uma representante da OPIRR durante a reunião.

O fortalecimento da educação indígena em Roraima reflete uma tendência nacional: o reconhecimento de que o acesso à educação de qualidade em territórios tradicionais é parte essencial da garantia de direitos constitucionais e do enfrentamento das desigualdades históricas.

Ao fim do encontro, ficou acordado que Seed, FNDE e as lideranças indígenas continuarão o diálogo técnico e político, acompanhando o cronograma das obras e a execução dos recursos. Mais do que uma pauta de infraestrutura, a reunião simbolizou um compromisso coletivo com o futuro da educação indígena em Roraima — um campo onde cada escola construída é também um gesto de reparação, autonomia e esperança.

O Ibama sob escrutínio: audiência em Rondônia expõe tensões entre regulação ambiental e produção rural

Em Porto Velho, Rondônia, ocorre nesta sexta-feira (31) uma audiência pública que, à primeira vista, se apresenta como um diálogo técnico sobre os embargos aplicados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Mas, em um plano mais profundo, o evento reflete uma tensão estrutural entre a política de fiscalização ambiental e os interesses econômicos do setor agropecuário.

A reunião integra uma diligência externa da Subcomissão Temporária para Acompanhar os Embargos de Terras pelo Ibama (CRATERRAS), criada no âmbito do Senado Federal. Presidida pelo senador Jaime Bagattoli (PL–RO), a diligência reúne também os senadores General Mourão, Zequinha Marinho e Marcos Rogério, além de produtores rurais e representantes de entidades ligadas ao setor produtivo.

Segundo seus organizadores, o objetivo é compreender as dificuldades enfrentadas por agricultores que tiveram propriedades embargadas pelo Ibama e avaliar possíveis soluções que conciliem atividade econômica e preservação ambiental. No entanto, a forma e o contexto político dessa iniciativa despertam preocupações quanto ao equilíbrio entre fiscalização e flexibilização, em um momento em que o país busca consolidar compromissos ambientais mais rigorosos no cenário internacional.

A CRATERRAS foi criada em 2025 para analisar casos de embargos considerados “preventivos” ou “automáticos”, especialmente em estados da Amazônia Legal. Esses embargos, muitas vezes baseados em análises remotas de desmatamento, são vistos por parlamentares da bancada ruralista como fonte de insegurança jurídica e de entraves à produção. Por outro lado, o Ibama argumenta que as restrições são fundamentais para conter infrações ambientais e proteger áreas de floresta sob forte pressão.

Essa divergência coloca em foco um dilema que perpassa a política ambiental brasileira desde a redemocratização: como compatibilizar o avanço da agropecuária — pilar econômico nacional — com a integridade dos ecossistemas que sustentam o país. O tema é particularmente sensível em Rondônia, estado que figura entre os que mais registraram desmatamento nos últimos anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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O formato escolhido pela CRATERRAS — com visitas a propriedades embargadas e audiências regionais — tem um componente simbólico importante. Ele aproxima o poder legislativo das realidades locais, mas também sinaliza uma tentativa de reavaliar o alcance das medidas de controle ambiental. Para analistas, há o risco de que esse movimento político reduza a autoridade técnica do Ibama e pressione seus servidores, em um momento de recomposição institucional após anos de cortes e instabilidade.

Por outro lado, é inegável que parte dos produtores enfrenta dificuldades reais decorrentes dos embargos. Em muitos casos, há morosidade na análise dos recursos, falhas na comunicação institucional e falta de clareza nos critérios de desbloqueio. A ausência de respostas rápidas tende a alimentar a percepção de que o Estado atua de forma punitiva, e não preventiva.

A audiência em Porto Velho, portanto, ocorre num terreno ambíguo. De um lado, representa um espaço legítimo de diálogo e de escuta — um fórum onde agricultores, parlamentares e autoridades ambientais podem discutir problemas concretos e buscar ajustes procedimentais. De outro, carrega o potencial de se transformar em uma plataforma política de contestação à autoridade fiscalizadora, o que exigirá cuidado para que o debate não seja capturado por interesses setoriais.

Ao fim da diligência, a CRATERRAS deve propor medidas para reduzir os impactos econômicos e sociais dos embargos. A forma como essas recomendações serão recebidas — e, sobretudo, se incluirão salvaguardas para a integridade ambiental — servirá como termômetro do equilíbrio institucional entre a produção e a regulação.

Mais do que um episódio regional, a audiência de Rondônia expõe as dificuldades do país em definir um caminho estável entre o desenvolvimento rural e o cumprimento de suas metas ambientais. Se o diálogo resultar em maior transparência e eficiência nos processos do Ibama, será um avanço. Mas se o desdobramento for o enfraquecimento da capacidade de fiscalização ambiental, o país poderá caminhar na direção oposta à que o mundo espera de uma potência agroambiental.

Amapá investe em 47 ideias que vão virar empresas

O Amapá avança em direção a uma nova economia, movida pela criatividade, tecnologia e inovação. O Governo do Estado do Amapá lançou, em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a segunda edição do Programa Centelha Amapá, coordenado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amapá (FAPEAP). A iniciativa busca transformar 47 ideias inovadoras em negócios de impacto, promovendo a geração de renda, empregos qualificados e um ecossistema de inovação robusto no estado.

O programa, que está com inscrições abertas até 14 de novembro, pretende financiar e capacitar empreendedores locais que sonham em tirar suas ideias do papel. Cada projeto selecionado receberá recursos não reembolsáveis, além de mentoria e capacitação técnica, criando um ambiente fértil para o surgimento de startups e empresas de base tecnológica.

A essência do Centelha é fomentar a cultura do empreendedorismo inovador — um modelo que une criatividade e conhecimento científico à geração de valor econômico e social. Para Maria Gabriela Carvalho, gerente de Inovação da FAPEAP, o programa simboliza uma nova etapa para o Amapá. “O Centelha é mais que um incentivo financeiro. Ele prepara pessoas, amplia horizontes e ajuda a transformar boas ideias em negócios sólidos, com impacto real na economia local”, explica.

A fala de Carvalho reflete um movimento mais amplo que vem ganhando força em todo o país: o da inovação descentralizada. Enquanto polos tradicionais como São Paulo e Florianópolis consolidam ecossistemas de startups, estados como o Amapá começam a despontar com iniciativas que valorizam talentos locais e soluções voltadas para suas realidades regionais.

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Foto: Equipe FAPEAP

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Com o apoio da FAPEAP, o Centelha Amapá integra um conjunto de políticas públicas que buscam fortalecer o ecossistema de inovação amazônico. A ideia é que cada projeto selecionado contribua não apenas com a economia, mas também com a resolução de desafios sociais, ambientais e produtivos típicos da região.

Entre os eixos estratégicos do programa estão o incentivo à pesquisa aplicada, a criação de empregos qualificados e o estímulo à formação de redes entre universidades, empresas e governo — o chamado modelo da tríplice hélice, considerado um dos pilares da inovação moderna. Essa integração permite que o conhecimento acadêmico se transforme em produtos, serviços e tecnologias úteis para a sociedade.

O Centelha Amapá também oferece um diferencial importante: o acompanhamento contínuo das equipes selecionadas. Por meio de mentores e especialistas, os empreendedores recebem apoio em temas como planejamento financeiro, marketing, desenvolvimento de produto, propriedade intelectual e gestão de negócios. O objetivo é que as ideias se transformem em empresas viáveis e sustentáveis no médio prazo.

“O Amapá está se consolidando como um polo emergente de inovação na Amazônia”, afirma Carvalho. “Esses 47 projetos representam sementes de transformação econômica e social. Quando damos oportunidade a quem tem boas ideias, criamos uma rede de soluções locais com impacto global.”

A expectativa do governo estadual é que a iniciativa impulsione a competitividade e diversifique a economia amapaense, historicamente dependente do setor público. Ao fortalecer o empreendedorismo inovador, o Centelha contribui para o surgimento de uma nova geração de empresas voltadas à tecnologia, sustentabilidade e à valorização dos recursos amazônicos.

O programa é um exemplo concreto de como políticas públicas integradas podem estimular o desenvolvimento regional por meio da inovação. Em um estado que combina riqueza ambiental e desafios estruturais, iniciativas como o Centelha mostram que a criatividade pode ser o motor de um novo modelo de crescimento — mais inclusivo, sustentável e voltado ao futuro.

Plataforma identifica vulnerabilidades climáticas no Brasil

Uma nova tecnologia brasileira promete transformar a forma como o país enfrenta os riscos climáticos. Trata-se da Plataforma Natureza ON, desenvolvida pelo MapBiomas em parceria com a Fundação Grupo Boticário e com infraestrutura do Google Cloud. A ferramenta será lançada durante a COP30, em Belém, e estará disponível gratuitamente para consulta pública em todo o território nacional.

A proposta é simples e ambiciosa: reunir dados climáticos, geológicos e territoriais para identificar áreas vulneráveis a eventos extremos — como enchentes, secas e deslizamentos — e sugerir Soluções Baseadas na Natureza (SBN) que possam reduzir os impactos. Essa integração de informações permitirá a gestores públicos, pesquisadores e cidadãos conhecer o nível de vulnerabilidade de um local específico — de um bairro a uma bacia hidrográfica — e, a partir disso, planejar ações de adaptação e mitigação.

O lançamento acontecerá durante o painel “Dados, inteligência artificial e novas tecnologias aliados à ação climática”, na manhã de 11 de novembro, em Belém. Para Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas, a iniciativa representa um marco na gestão climática do país. “Organizamos dados que possibilitam gerar cenários de vulnerabilidade em um serviço público transparente, acessível e tecnicamente sólido”, afirma.

Desde sua criação em 2015, o MapBiomas se consolidou como referência no uso de ciência de dados para o monitoramento ambiental. Seus mapas anuais de cobertura e uso do solo se tornaram fonte essencial para pesquisas e políticas públicas. A organização já validou mais de 470 mil alertas de desmatamento, sendo 280 mil na Amazônia, e identificou 2,8 mil indícios de garimpo e pistas clandestinas no estado do Amazonas, incluindo áreas em terras Yanomami.

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Agora, com a Natureza ON, a missão ganha uma dimensão prática e cotidiana. Qualquer pessoa poderá acessar o sistema para verificar, por exemplo, o risco climático de sua rua e as soluções possíveis para reduzir esse risco. A plataforma sugere intervenções sustentáveis — como jardins de chuva, telhados verdes, parques lineares e lagoas de retenção — que, além de mitigar desastres, melhoram a qualidade de vida urbana e reforçam a conservação da biodiversidade.

A ferramenta opera com base no conceito de infraestrutura natural, que reconhece o papel dos ecossistemas como aliados estratégicos da adaptação climática. Em vez de apostar apenas em obras de concreto, a ideia é restaurar e proteger a vegetação, recuperar margens de rios e ampliar áreas verdes urbanas para absorver água e reduzir o calor.

Para Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, o impacto potencial vai muito além do monitoramento. “A ferramenta permitirá indicar soluções efetivas para os desafios dos territórios, especialmente nos centros urbanos, onde a vulnerabilidade é crescente. É uma resposta concreta a uma demanda urgente da sociedade por adaptação às mudanças climáticas”, destaca.

O diferencial da Natureza ON está na combinação entre inteligência artificial, dados públicos e ciência aplicada. Com o suporte da tecnologia do Google Cloud, a plataforma processa grandes volumes de informação, atualizando-se continuamente à medida que novos dados são incorporados. Essa dinâmica garante que o diagnóstico dos riscos permaneça vivo e preciso — fundamental em um cenário de aquecimento global cada vez mais acelerado.

Ao oferecer diagnósticos detalhados e recomendações adaptadas a cada contexto, a iniciativa pode se tornar uma aliada estratégica na formulação de planos diretores urbanos resilientes e políticas de prevenção a desastres naturais. Em tempos de eventos extremos recorrentes, o acesso público a informações de qualidade é uma ferramenta poderosa de empoderamento social e ambiental.

Mais do que uma plataforma, a Natureza ON simboliza uma mudança de paradigma: o reconhecimento de que enfrentar o clima exige não apenas dados, mas decisões inteligentes, baseadas na convivência harmônica entre cidades e natureza.

Novas metas climáticas globais mostram avanço, mas não bastam

Um novo marco se desenha no combate global às mudanças climáticas. Ao divulgar o relatório síntese das novas metas nacionais de emissão — as NDCs — a UNFCCC lança luz sobre o que os governos realmente estão dispostos a fazer, para além dos discursos. Das 198 nações que fazem parte do Acordo de Paris, 64 países atualizaram seus compromissos entre janeiro de 2024 e setembro de 2025. Juntas, essas metas — se cumpridas — conseguiriam reduzir as emissões projetadas em cerca de 17% em relação a 2019. Ainda assim, no horizonte até 2030, a melhoria não passa dos modestos 6% — se compararmos com o que estava proposto nas versões anteriores.

Esse cenário divulga duas leituras simultâneas. Por um lado, há um avanço visível: mais países comunicam metas que abrangem a economia inteira; 89% dos que atualizaram o compromisso cobrem todos os setores. Também houve avanço na forma: adaptação, financiamento, tecnologia e perdas e danos agora figuram como parte integral dos compromissos, não mais como apêndices opcionais. Porém, por outro lado, o ritmo e o escopo das metas ainda estão muito aquém do que a ciência aponta como necessário para limitar o aquecimento global ao nível de +1,5 °C ou mesmo +2 °C. O próprio relatório ressalta que, entre o conjunto de países que comunicaram novas NDCs, a redução projetada até 2035 atinge em média 17% abaixo de 2019 — enquanto os cenários científicos indicam que seriam necessárias quedas da ordem de 35% a 60% nesse mesmo período.

Na prática, isso significa que estamos vendo mais intenções, metas mais bem formuladas e com cobertura ampliada — o que representa um salto qualitativo — mas não o salto quantitativo nem o acerto de ritmo exigido para mudar realmente o rumo da crise. É o equivalente a “acelerar a caminhada”, quando o caminho ideal seria “correr”. Como bem sintetizou Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa: “Estamos gerindo uma crise sem a urgência de uma crise”.

O alerta de organizações como o WWF-Brasil reforça o chamado à ação: metas só têm valor se imediatamente acompanhadas de investimento maciço, governança robusta, mecanismos de financiamento escaláveis — em especial para países em desenvolvimento — e conexão direta com resultados concretos em setores como florestas, manguezais e soluções baseadas na natureza. A conservação florestal, por exemplo, ganha destaque não apenas pela mitigação de carbono, mas porque protege biodiversidade, água e resiliência social.

Outro ponto central: o tempo. A atualização das NDCs acontece no limiar de grandes encontros internacionais — entre eles a COP30, que ocorrerá em Belém (Brasil) em novembro de 2025 — e ainda faltam por entregar suas metas países que respondem por boa parte das emissões globais. O relatório está fundamentado apenas nas 64 que já formalizaram seus novos compromissos, o que representa cerca de 30% das emissões globais de 2019. Fazer essas metas valerem requer que o mundo responda agora — com políticas, investimentos e prazos reais — e não adie para as próximas décadas.

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Para o Brasil, o cenário é duplo: representa uma oportunidade de liderança — pois sedia a COP30 e pode influenciar a ambição global — e ao mesmo tempo uma responsabilidade, visto que os compromissos internacionais coincidem com desafios domésticos de desmatamento, infraestrutura, e financiamento climático. A nova rodada de metas é uma janela de renovação da agenda climática — mas também um termômetro de crédibilidade global.

Em resumo: há boas notícias — os países estão se mexendo, as metas estão mais abrangentes, os instrumentos mais alinhados com a realidade do planeta — mas a verdade dura permanece: não é suficiente. O mundo segue atrasado. A questão que paira agora é: vamos avançar além do “novo normal” de metas moderadas, e entrar de fato no território das metas radicais exigidas pela urgência climática? Ou vamos patinar em boas intenções, enquanto o relógio da crise mostra o tempo passando?

O relatório da UNFCCC deixa claro: o “que está sendo feito” já não basta — precisamos saber quando e como será feito. E cada país, cada setor, cada cidadão, tem papel nessa virada.

Brasil enfrenta risco de falta de água nas cidades até 2050: alerta urgente

O futuro da água no Brasil se desenha com contornos de alerta e urgência. Um recente estudo do Instituto Trata Brasil em parceria com a EX Ante Consultoria lança um panorama inquietante: até 2050, muitas cidades podem enfrentar desabastecimento de água, resultado da combinação entre mudanças climáticas e sistemas de abastecimento que permanecem vulneráveis.

Na média urbana brasileira, a previsão aponta para uma queda de 3,4% na disponibilidade de água ao longo de um ano — o que significa, em termos práticos, que as torneiras podem secar ou os serviços serem interrompidos por cerca de 12 dias. Em regiões sujeitas a alto grau de aridez, como partes do Nordeste e do Centro-Oeste, o cenário se agrava: ali a restrição pode superar 30 dias anuais. Tal perspectiva não é apenas simbólica — ela reflete a realidade de populações que verão seus períodos secos prolongados, abastecimentos mais fracos, e o risco crescente de se verem sem água.

Esse panorama é construído com base em variáveis gritantes. Se o Produto Interno Bruto crescer a 2,7% ao ano e as perdas no atual sistema de abastecimento se mantiverem, será preciso quase 60% mais água tratada em 2050 do que foi produzida em 2023, para atender à demanda projetada. Ao mesmo tempo, a temperatura máxima tende a subir cerca de 1 °C, e a mínima cerca de 0,47 °C, enquanto os dias de chuva diminuem e as precipitações se tornam mais intensas e irregulares — combinação que favorece o aumento da aridez, e a expansão de zonas de semiárido ou mesmo desertificação.

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Não é um cenário distante ou abstrato. É uma fotografia de futuro que exige decisões hoje. Para a presidente executiva do Trata Brasil, Luana Pretto, cabe ao país “agir agora” para evitar que o acesso à água se transforme em privilégio: reduzir as perdas no sistema, revisar o planejamento das redes, priorizar a eficiência e gerir os recursos hídricos de modo sustentável.

Mais do que números ou projeções, o estudo chama atenção para dois vetores centrais: a falta de água não decorre apenas da escassez natural, mas sobretudo de sistemas frágeis e mal preparados para enfrentar o clima em mudança; e as desigualdades regionais se aprofundarão se nada for feito — quem já vive em zonas áridas ou com infraestrutura fraca será o que sofrerá primeiro e com mais gravidade.

Em suma, o abastecimento de água no Brasil até 2050 surge como um teste de resiliência: das cidades, das políticas públicas, das empresas de saneamento e dos próprios cidadãos. O país está diante de uma encruzilhada: ou se antecipam os investimentos e reformas para tornar o sistema mais robusto e eficiente — e adaptado ao novo clima — ou os racionamentos e falta de água deixarão de ser exceção e passarão a fazer parte da rotina de muitas regiões. A pergunta que permanece não é mais se haverá risco, mas quando e onde ele se dará — e se estaremos preparados para enfrentá-lo.

Jovens cientistas mostram como a curiosidade transforma o Brasil

A chuva que alagou Várzea Paulista no ano passado poderia ter sido apenas mais uma tragédia cotidiana. Mas, para um grupo de alunos da Escola Estadual Mitiharu Tanaka, ela se tornou o ponto de partida para imaginar um futuro mais resiliente. Munidos de cadernos, sensores e perguntas, os estudantes saíram às ruas, conversaram com moradores e criaram soluções para evitar novas enchentes: um piso poroso conectado à drenagem e um sistema de alerta precoce capaz de detectar umidade e avisar sobre riscos iminentes.

O projeto rendeu à escola o primeiro lugar na categoria ensino fundamental da quarta edição do Prêmio Ciência para Todos, promovido pela FAPESP em parceria com a Fundação Roberto Marinho e o Canal Futura. A cerimônia de premiação aconteceu no Museu Catavento, em São Paulo, reunindo professores, alunos e gestores que acreditam na ciência como ferramenta de transformação social.

A professora Kethlyn Belmonte, bicampeã do prêmio, viu em seus alunos o que costuma faltar em políticas públicas: protagonismo. “Cada um descobriu um papel: o que gosta de tecnologia, o que se interessa pelo audiovisual, o que organiza o grupo. A ciência se torna viva quando o aluno entende que há um lugar para ele dentro dela”, disse, emocionada.

Invenções que inspiram e resolvem

De Franca a Mogi Guaçu, passando por Itatiba, Campinas e Pedreira, os seis projetos premiados revelam que a pesquisa científica não é monopólio de laboratórios sofisticados. Ela nasce da observação, da curiosidade e da vontade de resolver problemas reais.

Em Campinas, estudantes da Etec Bento Quirino criaram o FishVision, um submarino que realiza biometria não invasiva de tilápias — tecnologia que promete revolucionar a aquicultura ao medir o peso e o comportamento dos peixes sem causar estresse.

Em Itatiba, jovens da Escola Técnica Estadual Rosa Perrone Scavone desenvolveram a Neurync, uma plataforma de comunicação para alunos neurodivergentes enviarem alertas discretos a professores em momentos de desconforto. Inclusão e empatia transformadas em código e hardware.

Já em Mogi Guaçu, o projeto da Escola Municipal Professora Maria Diva Franco de Oliveira combinou inteligência artificial, arte e preservação ambiental. Inspirados pelo rio que dá nome à cidade, os alunos criaram imagens de um futuro distópico marcado pela crise climática e a escassez de água. A partir dessas simulações, nasceu o podcast DivaCast, que reuniu histórias de moradores e reflexões sobre o papel da comunidade na proteção do rio.

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Museu Catavento SP / Wikimedia

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Quando a escola pública vira laboratório de futuro

Para o presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, o prêmio reafirma que a ciência faz parte do cotidiano. “O método científico não é restrito a laboratórios. É uma maneira de olhar o mundo com curiosidade e método”, afirmou. O programa mobilizou mais de cem escolas da rede pública paulista, que participaram de jornadas formativas oferecidas pelo Canal Futura e pela Fundação Roberto Marinho.

O secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, João Alegria, destacou que os jovens sempre surpreendem. “Eles olham para o próprio entorno e encontram soluções criativas para problemas reais. É a ciência aplicada à vida”, disse.

Entre os premiados recorrentes, o professor Henrique Pereira, da Escola Estadual Ângelo Scarabucci, de Franca, conquistou o tricampeonato ao orientar alunos que transformaram uma planta invasora em adubo. Já em Pedreira, o projeto da Escola Estadual Luiz Bortoletto uniu pesquisa científica e saber tradicional ao desenvolver uma farmácia natural baseada em plantas medicinais e conhecimento comunitário.

A professora Tamires Aparecida Bianchi Darioli, bicampeã do prêmio, resumiu o espírito que atravessa todas essas experiências: “É emocionante ver que tudo isso acontece em escolas públicas. Ver alunos do sexto ano usando métodos de pesquisa universitária é a prova de que o futuro da ciência brasileira já começou”.

A ciência que nasce de perguntas simples

Mais do que um prêmio, o Ciência para Todos funciona como uma plataforma de encontro entre educação, curiosidade e cidadania. A cada edição, revela uma geração de jovens que não apenas consome tecnologia, mas a cria. Suas ideias mostram que o Brasil científico e criativo já existe — e que ele floresce nas salas de aula da escola pública, onde o desejo de transformar o mundo ainda é a força mais poderosa.

Brasil e Sudeste Asiático traçam pontes para a COP30 e o novo multilateralismo climático

Na véspera da COP30, que será sediada em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou em Kuala Lumpur, durante a 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), a importância de uma aproximação estratégica entre o Brasil e o Sudeste Asiático. O discurso marcou um movimento diplomático que vai além da economia: trata-se de construir um novo multilateralismo climático, capaz de equilibrar a geopolítica global a partir do Sul do planeta.

Para Lula, as nações emergentes precisam abandonar o papel de coadjuvantes e assumir o centro da agenda ambiental e econômica global. A convergência entre os dois blocos — o latino-americano, representado pelo Mercosul, e o asiático, pela ASEAN — não é apenas comercial, mas civilizatória: ambos defendem soberania sobre seus recursos naturais, diversidade cultural e o direito ao desenvolvimento sustentável.

Da geopolítica à transição ecológica

Ao destacar que “os mares que nos cercam não podem se tornar palco de violações do direito internacional”, Lula articulou uma mensagem que ecoa diretamente nos debates da COP30: a necessidade de proteger os bens comuns globais — florestas, oceanos, biodiversidade — contra dinâmicas extrativistas que perpetuam desigualdades históricas.

A visita oficial à Malásia, a primeira de um chefe de Estado brasileiro em trinta anos, consolidou a reaproximação entre os dois lados do planeta. Foram assinados sete acordos de cooperação, abrangendo tecnologia, inovação, agricultura e semicondutores, além da abertura de novos mercados para produtos brasileiros. A agenda, porém, vai muito além do comércio: ela coloca o clima e a transição energética no centro da diplomacia brasileira.

A partir de 2024, o Brasil passou a liderar, junto ao grupo BRICS, uma plataforma para o financiamento climático e o tratamento multilateral da inteligência artificial, associando desenvolvimento tecnológico à sustentabilidade ambiental. Na visão do presidente, o BRICS deve funcionar como “veículo de uma governança global mais representativa”, não como bloco de confronto, mas como espaço de construção.

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O caminho até Belém

Ao citar Belém como sede da próxima conferência climática, Lula reforçou o simbolismo de uma COP realizada no coração da Amazônia, com o Brasil reposicionado como articulador entre blocos do Sul global. “A COP30 será a COP da verdade”, disse, indicando que o país buscará uma abordagem realista — menos pautada por promessas e mais por compromissos tangíveis de descarbonização e preservação.

Nesse contexto, o governo prepara o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), mecanismo inovador que pretende recompensar financeiramente os países que preservam suas florestas, entre eles as nações da Bacia de Bornéu-Mekong, da Bacia do Congo e da Amazônia. Diferente de fundos de doação, o TFFF será baseado em investimentos com retorno climático e social, aproximando a lógica financeira da regeneração ambiental.

Essa iniciativa dialoga com o Plano de Ação 2024–2028, firmado entre o Brasil e os países do Leste Asiático, e que prevê cooperação em bioeconomia, segurança alimentar e transição energética justa. A proposta reflete a ambição de reposicionar o Brasil como ator-chave na geopolítica do clima — um país capaz de negociar simultaneamente com o Norte e o Sul, com credenciais ambientais e diplomáticas sólidas.

Entre soberania e solidariedade climática

A fala de Lula na ASEAN trouxe um argumento que resume o espírito da política externa brasileira em 2025: soberania e solidariedade não são conceitos opostos, mas complementares. Defender os recursos nacionais é também proteger a humanidade diante da crise climática.

A diplomacia do clima que culminará em Belém aposta na cooperação horizontal, na integração de cadeias produtivas complementares e na valorização da biodiversidade tropical como ativo econômico e ético. Essa visão, de certa forma, antecipa o que o Brasil pretende apresentar na COP30: que a transição climática precisa ser global, mas também justa, e que o planeta só avançará se cada região tiver o direito de definir seus próprios caminhos para a sustentabilidade.