Início Site Página 254

Teste para diagnosticar tumores de tireoide ganha Prêmio Octavio Frias de Oliveira

Um projeto que levou ao desenvolvimento de um teste para diagnóstico e prognóstico de tumores de tireoide foi um dos vencedores do 14º Prêmio Octavio Frias de Oliveira. O anúncio ocorreu na sexta-feira (11/08), em cerimônia promovida pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e pelo jornal Folha de S. Paulo.

A tecnologia desenvolvida pela Onkos Diagnósticos Moleculares, startup apoiada pelo Programa FAPESP de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), poupa os pacientes e o sistema de saúde de cirurgias desnecessárias, que acabam sendo feitas quando o método tradicional de diagnóstico dá um resultado “indeterminado” e o nódulo é retirado, por precaução.

De acordo com Marcos Tadeu dos Santos, fundador e CEO da empresa, a grande maioria dos nódulos é benigna, mas até 30% deles são classificados como ‘indeterminados’ e, por segurança, o procedimento padrão é a cirurgia para extração da tireoide. Ainda segundo Santos, apenas 25% dos casos são malignos, o que significa que 75% das cirurgias em casos de nódulos indeterminados são potencialmente desnecessárias (leia mais em: pesquisaparainovacao.fapesp.br/2052/).

Os números são resultado de um estudo clínico que acompanhou 435 pacientes, durante dois anos, que fizeram o exame em todas as regiões do Brasil. Segundo o trabalho, divulgado na revista eBioMedicine, foram evitadas 74,6% de cirurgias potencialmente desnecessárias. Além disso, em 92,3% dos casos o uso do teste alterou a conduta clínica dos médicos.

“Este prêmio é um reconhecimento não apenas da qualidade do nosso trabalho, mas mostra uma mudança de postura em relação a como a pesquisa em ambiente privado é vista no Brasil. Ter uma instituição tão tradicional como o Icesp valorizando uma pesquisa realizada no ambiente privado, reconhecendo que ela tem valor científico, para a sociedade e para os pacientes, é positivo. Mostra uma evolução em como a pesquisa feita em empresas é vista”, comenta Santos à Agência FAPESP.

A empresa teve apoio do PIPE em diferentes fases de desenvolvimento. Na fase 1, toda a parte diagnóstica do exame foi desenvolvida. Na fase 2 foram determinados os marcadores prognósticos, que determinam a agressividade dos nódulos malignos. Na fase 3, além do objetivo técnico-científico, houve um objetivo de mercado, com a contratação de um profissional responsável pela geração de dados de custo-efetividade e pela interação com atores públicos e privados a fim de buscar a incorporação do exame.

A Onkos foi incubada no Supera, Parque de Inovação Tecnológica de Ribeirão Preto, e o teste começou a ser desenvolvido em 2015, em parceria com o Hospital de Amor (antes conhecido como Hospital de Câncer de Barretos). O produto foi lançado em 2018, ano em eu a empresa também ganhou o Prêmio Octavio Frias, na categoria “Inovação Tecnológica”, por um exame que analisa 95 genes, com ajuda de inteligência artificial, e descobre a origem de um tumor que já se espalhou para diferentes órgãos.

Na próxima terça-feira (22/8), a empresa realiza sua primeira reunião com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regulamenta os planos de saúde no país. A Onkos pleiteia incluir o teste agora premiado no rol de procedimentos obrigatórios dos planos de saúde. A empresa já apresentou estudos mostrando não apenas a efetividade do teste, como também a economia que os planos terão.

“Esperamos que até o fim deste ano o teste seja incluído nos planos de saúde e, talvez no ano que vem, no SUS”, destaca Santos.

Combate à leucemia

Na categoria “Pesquisa em Oncologia”, os premiados deste ano foram João Agostinho Machado Neto e Keli Lima, ambos da Universidade de São Paulo (USP) e autores de um estudo que revelou a capacidade de uma molécula chamada THZ-P1-2 de causar a morte de células leucêmicas. O trabalho, apoiado pela FAPESP (20/12842-0, 17/23117-1, 19/23864-7, 21/11606-3 e 15/09228-0), foi publicado no Blood Cancer Journal em 2022.

Já a “Personalidade de Destaque” de 2023 foi José Serra, ex-ministro da Saúde, ex-governador de São Paulo e um dos responsáveis pela criação do Icesp. Ainda durante o evento foi feita uma homenagem ao médico José Eluf Neto, morto em janeiro. Na Faculdade de Medicina da USP, ele desenvolveu estudos sobre a epidemiologia do câncer e sobre a relação da doença com o estilo de vida.

Criado em 2010, o Prêmio Octavio Frias de Oliveira visa estimular a pesquisa científica na esfera da prevenção e do combate ao câncer.

Museu de Computação promove exposição virtual sobre aparelhos que marcaram época

Exposição virtual promovida pelo Museu de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP) permite aos visitantes conhecer alguns aparelhos eletrônicos que marcaram época, como os primeiros IMacs e a impressora 1.403 da IBM, lançada em 1959. A mostra pode ser acessada pelo site https://icmc.usp.br/e/cdbd8, que também traz informações sobre a criação e a importância de cada aparelho.

O primeiro iPhone abre a exposição. O seu desenvolvimento começou secretamente por volta de 2005 e o aparelho foi anunciado oficialmente em 9 de janeiro de 2007 e lançado em 29 de junho do mesmo ano.

Em seguida, a exposição dá destaque para o iMac G3. Apresentado ao público pela primeira vez em 1998 por Steve Jobs, o computador vinha com um visual futurístico e diferente do padrão estético dos computadores da época. Com um tamanho compacto, monitor colorido e cores translúcidas que iam contra o bege, padrão de todos os computadores da época, seu visual e portabilidade agradou os usuários domésticos e o público infantil.

Também presente na mostra, a National Register Class 31 (ou NCR Class 31) foi uma máquina de contabilidade desenvolvida e comercializada no final da década de 40 e por toda a década de 50.

Por fim, os internautas podem conhecer mais sobre a impressora 1.403 da IBM. Ela foi lançada em outubro de 1959, como um componente do computador 1.401, e tinha um conceito avançado de impressão e as facilidades de manuseio de papel resultaram na preparação rápida e eficiente de relatórios, registros e documentos operacionais.

O Museu de Computação do ICMC teve sua origem como um Museu de Instrumentos de Cálculo Numérico, instalado no interior da Biblioteca Achile Bassi do Instituto. Durante o ano de 2013 e o início de 2014, a área destinada ao museu foi ampliada, iniciando um processo de transformação e integração do espaço ao ambiente de ensino e pesquisa.

O endereço do museu é av. Trabalhador São-Carlense 400, Centro, São Carlos, SP. Ele funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17 horas, com entrada gratuita.

Técnica mostra potencial para melhorar a produção de hidrogênio a partir da água

Trabalho conduzido por cientistas ligados ao Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) e ao Centro de Inovação em Novas Energias (CINE) demonstra como a adição de íons de prata em um material denominado CCZTSSe (Cu2ZnSn(S,Se)4, um fotocátodo da classe dos calcogenetos) aumentou a eficiência da fotoeletrocatálise na produção de hidrogênio a partir da quebra de moléculas de água. Os resultados foram divulgados na revista Electrochimica Acta.

O CDMF é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Já o CINE é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell.

O CCZTSSe é considerado um semicondutor promissor para esse tipo de reação por ser composto por elementos abundantes, como zinco e cobre, e ter baixo custo. Mas apresenta limitações importantes, parte superada nesta pesquisa.

O artigo Vanquishing CZTSSe deep defects to enhance photoelectrocatalytic water splitting pode ser acessado em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0013468623011106?via%3Dihub.

* Com informações do CDMF, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP.

Terapias celulares podem reduzir em 60% o risco de morte por COVID-19, aponta estudo

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – O uso de terapias celulares em pacientes com COVID-19 reduziu em 60% o risco de morte pela doença. A conclusão, divulgada na revista Frontiers in Immunology, é de um estudo de revisão conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com cientistas alemães e norte-americanos. O artigo compila dados de 195 ensaios clínicos feitos em 30 países, entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021.

Nos últimos anos, as chamadas terapias celulares avançadas têm ganhado espaço no combate a diversas doenças, sobretudo o câncer. Basicamente, as técnicas consistem em repor células saudáveis no organismo do paciente, de forma a restaurar ou alterar determinados conjuntos celulares. Outra estratégia é modular a função de um conjunto de células doente pela injeção de novas células (ou produtos celulares).

Nessas diferentes técnicas, podem ser usadas células-tronco (ou suas derivadas) do próprio paciente (autólogas) ou de um doador (alogênicas), que são cultivadas ou modificadas fora do corpo antes de serem administradas. De acordo com o estudo, os tipos celulares mais utilizados nos ensaios clínicos para tratamento da COVID-19 foram as células estromais ou tronco mesenquimais multipotentes (oriundas do tecido conjuntivo), células natural killer (provenientes de linfoblastos) e células mononucleares (derivadas do sangue), respondendo por 72%, 9% e 6% dos estudos, respectivamente.

“As terapias celulares têm avançado muito nos últimos anos e têm sido usadas para tratar câncer, doenças autoimunes, cardíacas e infecciosas. Durante a pandemia, elas foram utilizadas para o tratamento de COVID-19 em diversos ensaios clínicos. Nosso trabalho é o primeiro a juntar todos esses dados espalhados pelo mundo e a verificar, por meio de uma meta-análise [método estatístico que permite agregar dados de diversos estudos independentes], o funcionamento dessas terapias no combate à nova doença, assim como para os problemas de saúde desencadeados pela COVID-19”, afirma Otávio Cabral-Marques, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador da pesquisa.

O pesquisador lembra que, desde o começo da pandemia, a terapia com células-tronco e os modelos de organoides derivados de células-tronco receberam ampla atenção como um novo método de tratamento e estudo da COVID-19.

Isso porque células-tronco, em especial as células-tronco mesenquimais, têm apresentado um significativo poder de regulação imune e funções de reparo de dano tecidual. Em relação ao pulmão, por exemplo, os ensaios clínicos mostram – em menor ou maior grau – que as terapias celulares avançadas podem limitar a resposta inflamatória grave em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, reduzindo a lesão pulmonar. Dessa forma, o esperado com essas terapias é que ocorra a melhora da função pulmonar, desempenhando um papel positivo contra a fibrose, por exemplo.

A despeito da atenção que esse tipo de abordagem ganhou, Cabral-Marques avalia ser importante reforçar os reais efeitos protetores da vacinação. “Embora os resultados dos estudos mostrem que as terapias celulares avançadas possam vir a se estabelecer como um tratamento adjuvante importante para pacientes afetados pela COVID-19, em um futuro próximo, a prevenção da doença por meio da vacinação ainda continua sendo a melhor proteção”, alerta.

Padronização dos dados

Os ensaios de terapia celular avançada para COVID-19 foram conduzidos em 30 países, com destaque para Estados Unidos, China, Irã e Espanha. No entanto, eram estudos muito heterogêneos, não só com número de participantes muito variado, como também com desenhos e metodologias diferentes.

Dessa forma, para a realização da meta-análise, a equipe de pesquisadores fez a curadoria dos dados a serem analisados pelo banco de dados Cell Trials Data e incluíram informações sobre dados nacionais, além de excluir informações como falsos positivos e contagens duplas, por exemplo.

Os autores ressaltam que houve também variação em relação às etapas da pesquisa. Em muitos países, sobretudo na Europa, há uma regulamentação rígida sobre terapia celular humana, que limita o número de produtos de terapia celular. Dessa forma, 56% dos estudos nem sequer atingiram a fase 2 da pesquisa clínica – que abrange pacientes com a doença e tem o objetivo de estabelecer a segurança no curto prazo, a dose-resposta e a eficácia do produto. Outro limitador foi o fato de que 31% dos ensaios clínicos analisados não contavam com grupo-controle.

“Para chegar a esse valor de redução do risco de morte foi preciso levar em consideração os achados e características dos diferentes estudos, além de fazer algumas correções e estimativas”, explica o doutorando Igor Salerno Filgueiras, coautor do artigo de revisão.

“Existem técnicas para padronizar esses dados, eliminar vieses e ter uma visão imparcial. Isso permite chegar a conclusões que muitas vezes passam despercebidas em um estudo específico, mas, quando reforçadas por outras análises, ganham uma visão científica interessante”, avalia Dennyson Leandro M. Fonseca, bolsista de doutorado da FAPESP que integra a equipe.

O artigo ressalta ainda que os estudos que utilizaram células mesenquimais apresentavam métodos de fabricação e entrega clínica extremamente heterogêneos. “Os resultados destacam o importante papel que os produtos de terapia celular podem desempenhar como terapia adjuvante no manejo da COVID-19 e suas complicações relacionadas. Mas é preciso ainda controlar os principais parâmetros de fabricação desses produtos para garantir a comparabilidade entre os estudos”, afirma Cabral-Marques.

O estudo Systematic review and meta-analysis of cell therapy for COVID-19: global clinical trial landscape, published safety/efficacy outcomes, cell product manufacturing and clinical delivery pode ser lido em: www.frontiersin.org/articles/10.3389/fimmu.2023.1200180/full.

Entre marimbondos, agressões físicas evoluíram para demonstrações estereotipadas de força

Estudar a história natural dos marimbondos é uma tarefa arriscada. Conhecidos pela agressividade, os insetos podem tanto encher o pesquisador de picadas doloridas quanto abandonar o ninho para começar um novo em outro lugar, inviabilizando a observação e a coleta de dados.

Essas estratégias de sobrevivência, porém, foram fatores que permitiram que essa tribo de vespas, conhecida como Epiponini, evoluísse em diferentes ramos ao longo dos últimos 55 milhões de anos, dando origem a sociedades bastante complexas em termos de construção de ninhos, estratégias de forrageamento e, sobretudo, de interações sociais.

Estudos da década de 1970 já mostravam que, nos marimbondos, a antiga estratégia de hierarquia de dominância, na qual uma rainha é responsável pela reprodução – impedindo agressivamente outras fêmeas de botarem ovos –, foi substituída pela coexistência de rainhas que não competem pela reprodução, mas que são eliminadas pelas operárias quando não exibem comportamentos típicos.

Por meio de investidas, exibições e até mesmo mordidas as operárias submetem as rainhas ao seu controle. Como consequência, apenas as reprodutoras mais aptas geram novos indivíduos para a colônia, assegurando a sobrevivência dessas espécies.

Resultado de muitas horas de observação e algumas picadas, um estudo assinado por pesquisadores brasileiros conseguiu demonstrar que essa estratégia reprodutiva ocorre em toda a tribo Epiponini. Anteriormente, poucas espécies haviam sido estudadas.

Além disso, o estudo mostra que os comportamentos não são iguais para todas as espécies, sendo que os exibidos pelas operárias para testar as rainhas evoluíram de comportamentos mais agressivos para outros menos violentos e mais estereotipados.

As conclusões foram publicadas na revista Cladistics por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade de São Paulo (USP).

“Observamos que, nos ramos mais recentes da filogenia [história evolutiva do grupo], as operárias e as rainhas começaram a desenvolver comportamentos mais complexos e estereotipados, substituindo os de morder e atacar. Além disso, as rainhas desenvolveram um maior repertório de comportamentos para sinalizar seu potencial, evitando assim serem eliminadas da colônia”, explica Fernando Noll, professor do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) da Unesp, em São José do Rio Preto, e coordenador do estudo.

O trabalho integra dois projetos apoiados pela FAPESP, “Desimpedimento taxonômico de vespas aculeadas: visões micro e macro-regionais da fauna neotropical” e “Filogenia molecular de Epiponini e a relação entre os gêneros basais (Hymenoptera, Vespidae)”. O primeiro é conduzido no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP.

Num trabalho publicado anteriormente, o grupo realizou a filogenia mais completa até então da tribo Epiponini, o que permitiu avançar para resultados como os atuais. Diferentemente de outras vespas e das abelhas, os marimbondos têm mais de uma rainha e as operárias exercem controle sobre a produção de ovos dessas fêmeas férteis (leia mais em: agencia.fapesp.br/35495/).

Brasil e Costa Rica

Observar como se comportam os marimbondos em seus ninhos foi tarefa de Laura Chavarría-Pizarro, à época doutoranda na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e bolsista da FAPESP.

Era preciso fazer uma abertura no envelope protetor do ninho para observar o interior. Por vezes, esse tampo retirado era substituído por um plástico vermelho, que os marimbondos não enxergam e ainda permite serem observados.

“Levando em conta todos os testes que fiz, além de abrir os ninhos e marcar com tinta os indivíduos [para diferenciar rainhas de operárias], até que não me picaram muito. Além disso, usei traje de proteção”, lembra Chavarría-Pizarro, atualmente professora na Escola de Biologia do Instituto Tecnológico da Costa Rica, em Cartago.

Parte do trabalho de campo foi realizado na Costa Rica, país natal da pesquisadora, onde foi possível observar ninhos de seis das nove espécies estudadas (todos os gêneros de Epiponini, exceto três).

No total, 15 colônias foram analisadas, seis no Brasil e nove na Costa Rica. Foram documentados 51 comportamentos, somando ação e resposta e quem executava (rainha ou operária) e respondia, quando acontecia. Os comportamentos foram acompanhados ao vivo ou filmados para análise posterior.

Dança das operárias

Um dos comportamentos mais importantes de demonstração da potencialidade das rainhas como reprodutoras é o bending display, em que a rainha curva o abdômen em direção à operária. Normalmente, é uma resposta ao comportamento de worker dance (“dança da operária”, numa tradução livre), onde a trabalhadora vibra seu corpo continuamente. No caso de a rainha não responder, ela é removida da colônia.

O estudo mostrou que o bending display surgiu há 55 milhões de anos. Cerca de 30 milhões de anos atrás, porém, surgiu uma variação desse comportamento, denominado bending display 2. Nas espécies que surgiram mais recentemente, os dois tipos de bending display precisam ser realizados para garantir a sobrevivência da rainha.

“Curiosamente, também há 30 milhões de anos, surgiu a worker dance, o que sugere que esse comportamento e o bending display 2 estejam relacionados”, conta Noll.

Nos marimbondos mais antigos, em que não há worker dance, os comportamentos de teste das operárias são mais agressivos, como dart (“investir com a cabeça”) e bite (morder). Estes surgiram no ancestral comum dos Epiponini e foram substituídos mais tarde pela dança das operárias, sugerindo que comportamentos mais agressivos deram lugar a outros estereotipados.

No mesmo período, as rainhas começaram a exibir um arcabouço maior de comportamentos, sugerindo maior complexidade em suas relações. “São comportamentos mais refinados, que provavelmente possuem vantagens em relação a toda aquela violência”, diz Noll.

“Os marimbondos são muito importantes, já que são predadores de outros insetos e ajudam no controle de espécies que consideramos pragas. Entender seu comportamento e estratégias evolutivas pode permitir uma melhor convivência com eles e garantir a sua sobrevivência”, encerra Chavarría-Pizarro.

O artigo Behavioural evolution of Neotropical social wasps (Vespidae: Polistinae): the queen selection process pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/cla.12529.

Estudo descreve mecanismo que regula a atividade do gene da memória

A proteína PKMzeta é reconhecidamente ligada a processos de formação de memória – Alzheimer, depressão e o próprio envelhecimento são associados a concentrações reduzidas dessa molécula no cérebro. Eis que pesquisadores brasileiros e norte-americanos revelaram um fenômeno atrelado a essa queda de concentração da proteína, o que contribui para o entendimento dessas condições e, no futuro, pode abrir as portas para inovações médicas.

Esse mecanismo integra a epigenética, um campo que estuda como determinados estímulos ambientais ativam ou inibem a expressão de genes. Uma das formas mais conhecidas de silenciar um gene é a chamada metilação do DNA, processo pelo qual moléculas do grupo metil se ligam a um trecho específico do gene e impedem a sua transcrição.

O artigo, publicado no periódico científico Biochimica et Biophysica Acta (BBA), descreve que, no sistema nervoso central, normalmente a proteína CREB1 se liga a um trecho do gene PKMzeta para que este expresse a proteína de mesmo nome. No entanto, a hipermetilação desse pedaço do gene resultou em taxas significativamente menores da proteína PKMzeta.

“Nós revelamos que a metilação do DNA regula a expressão desse gene, o que pode ter um papel em certas patologias”, afirma Deborah Schechtman, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e orientadora do trabalho. “Eu acredito que uma ciência básica bem-feita oferece caminhos para o desenvolvimento de drogas e avanços terapêuticos”, completa.

O trabalho recebeu apoio da FAPESP por meio de cinco projetos (19/06982-6, 15/24046-5, 15/17812-3, 20/13929-1 e 20/16204-8).

No interior do DNA

O biomédico Dimitrius Pramio, primeiro autor do artigo, destaca que diferentes materiais foram empregados nas análises. “Usamos bancos de dados disponíveis, células humanas isoladas ou modificadas em laboratório e células de animais”, enumera. Parcerias com a Universidade Yale e a SUNY Upstate Medical University, ambas nos Estados Unidos, foram fundamentais para obter acesso a alguns desses materiais.

Diversos testes foram conduzidos para verificar se a metilação do gene PKMzeta culminaria em menor concentração da proteína que ele produz. Foram aplicadas, entre outras técnicas, drogas que interferem na metilação do DNA e até a tecnologia CRISPR, específica para edição genética. Nesse caso, a alteração promovida pelos cientistas no gene PKMzeta impedia a ligação adequada da proteína CREB1. “Com isso, a produção da proteína PKMzeta caiu”, reitera Schechtman.

O achado valida que o gene em questão necessita da CREB1 para incitar a produção da proteína PKMzeta – e que a metilação do DNA seria uma explicação para quedas na concentração dessa proteína.

Fora isso, outros genes atuantes no sistema nervoso central foram avaliados para verificar se são inibidos por meio desse processo de hipermetilação do DNA que impede a ligação da proteína CREB1. “Queríamos observar se esse processo acontece de forma mais global”, aponta Schechtman.

Ora, se a expressão de outros genes para além do PKMzeta é afetada por esse padrão de metilação do DNA, é sinal de que ele tem uma importância maior em alterações no cérebro possivelmente ligadas a patologias. E, sim, os pesquisadores demonstraram que esse fenômeno não se resume à proteína PKMzeta.

Abertura de trilhas científicas

Vários possíveis caminhos de investigação surgem a partir dessa pesquisa. Um é avançar nos outros genes afetados por essa metilação do DNA, que impede a ligação da CREB1, e verificar o papel de cada um no organismo, além de sua eventual ligação com doenças.

Outra possibilidade é buscar entender o que, de fato, a proteína PKMzeta faz no sistema nervoso central. “Sabemos que ela está envolvida com a memória. Mas como ela faz isso em detalhes? Essa é uma pergunta relevante”, destaca Schechtman.

Dimitrius Pramio acrescenta que também é importante testar esse mecanismo encontrado em modelos mais precisos. É possível examinar áreas específicas do cérebro, ou mesmo modelos animais de certas doenças, como Alzheimer e depressão. “Outros artigos mostram, por exemplo, que o uso de certos antidepressivos em modelos animais de depressão restabelece a expressão do gene PKMzeta que estava inibida. Mas a metilação do DNA não foi investigada aí”, ressalta o biomédico.

Outras condições, aliás, poderiam ser examinadas. Schechtman, por exemplo, trabalha com dores crônicas, e há a possibilidade de o gene PKMzeta estar envolvido nesses quadros por participar do remodelamento sináptico dos neurônios. “Muitas questões e hipóteses foram abertas com esse trabalho”, aponta a pesquisadora.

Segundo Pramio, o avanço nessas linhas de pesquisa pode, no futuro, contribuir para novos tratamentos – um fator especialmente importante para a depressão e o Alzheimer, condições ainda desafiadoras para os médicos.

O estudo DNA methylation of the promoter region at the CREB1 binding site is a mechanism for the epigenetic regulation of brain-specific PKMζ está disponível em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1874939923000044.

Novo milho híbrido é tolerante a lagartas e ao herbicida glifosato

A Embrapa, em parceria com a Semeali Sementes, desenvolveu um híbrido de milho transgênico que combina duas importantes tecnologias: tolerância a lagartas e resistência ao herbicida glifosato. Essa combinação de características torna a cultivar altamente versátil, possibilitando o seu uso em diversos ambientes de cultivo em todo o Brasil. Chamado de XB 3042 VTPRO2, o novo milho tem grande capacidade de adaptação aos diversos níveis de tecnologia e práticas de manejo

O híbrido XB 3042 VTPRO2 possui características que possibilitam a redução do ataque de lagartas, facilitando o controle de insetos-praga que frequentemente prejudicam as lavouras de milho. Essa característica permite que os agricultores reduzam o uso de inseticidas, diminuindo assim os impactos ambientais e os custos associados ao controle de pragas. Além disso, o material apresenta resistência ao glifosato, um herbicida amplamente utilizado na agricultura para o controle de plantas daninhas, sem prejudicar o cultivo do milho, o que facilita o manejo da lavoura e aumenta a eficiência na produção.

O XB 3042 VTPRO2 apresenta elevado rendimento de grãos, ciclo precoce, boa sanidade foliar e de espigas. Plantas saudáveis e livres de doenças têm maior potencial produtivo e são mais resistentes a estresses ambientais, garantindo uma maior estabilidade na produção. Todas essas características ajudam os agricultores que desejam cultivar duas safras em um único ano, conhecidas como primeira safra e safrinha.

Lançamento

A Embrapa e a Semeali Sementes apresentarão o milho híbrido XB 3042 VTPRO2 no dia 1º de agosto de 2023, na feira Semiárido Show. Com o tema “Ciência e Tecnologia Promovendo o Desenvolvimento”, a 10ª edição do evento será realizada de 1º a 4 de agosto de 2023, na rodovia BR 428, Km 148, em Petrolina, (PE).

O Semiárido Show é uma feira de inovação tecnológica voltada para agricultura familiar do Semiárido brasileiro. O objetivo é possibilitar e facilitar o acesso aos conhecimentos, informações e tecnologias desenvolvidos pela Embrapa e instituições parceiras. A programação pode ser acompanhada no site.

 

9187dfac-db2b-bd9a-c339-9cd40f743857?t=1690579186011 Novo milho híbrido é tolerante a lagartas e ao herbicida glifosatoParceria Embrapa e Semeali Sementes

A parceria entre a Embrapa e a Semeali foi essencial para o desenvolvimento do híbrido de milho XB 3042 VTPRO2. A combinação do conhecimento técnico-científico da Embrapa com a experiência comercial e produtiva da Semeali resultou em um produto apto para plantio tanto na safra quanto na safrinha.

O pesquisador Roberto Trindade, da Embrapa Milho e Sorgo (MG), um dos responsaveis pelo desenvolvimento do híbrido XB 3042 VTPRO2, destaca a relevância dessa parceria. Segundo ele, a união da competência técnica da Embrapa e da expertise de mercado da Semeali é um diferencial que permite aos agricultores acessar as mais modernas tecnologias do setor. “Isso contribui para o crescimento sustentável do agronegócio”, acredita.

O diretor comercial da Semeali Sementes, Marcos Antoniali, ressalta que o XB 3042 VTPRO2 representa um marco importante para o setor, pois oferece aos agricultores a oportunidade de melhorar seus resultados e enfrentar os desafios do campo de maneira mais eficiente e sustentável. Com essa nova tecnologia em mãos, os produtores poderão elevar o patamar de seus cultivos de forma consciente e responsável.

Antoniali afirma que a parceria entre a Embrapa e a Semeali Sementes tem proporcionado avanços significativos no desenvolvimento de cultivares de milho mais produtivas e sustentáveis. “Com esse trabalho conjunto, abre-se um horizonte de possibilidades para o agronegócio, impulsionando o setor e beneficiando tanto os agricultores quanto a sociedade”, diz o diretor.

As características como ciclo precoce, estabilidade de produção e adaptação a diferentes níveis de tecnologia fazem esse híbrido ser recomendado para produção de grãos na primeira e segunda safras em todo o Brasil, podendo também ser utilizado para a produção de silagem.

Características agronômicas do XB 3042 VTPRO2:

Regiões recomendadas: Brasil

Altura de plantas: 238 cm

Altura da espiga: 127 cm

“Stand” final: 55.000 plantas/ha

Comprimento médio de espigas: 19 cm

Diâmetro médio das espigas: 4,9 cm

Número de fileira de grãos: 16

Textura do grão: semidentada

Coloração dos grãos: amarela/alaranjada

Grau de empalhamento: alto

Peso de mil sementes: 280 g

Peso hectolítrico: 790 g/l

Acamamento: alta resistência

Quebramento: alta resistência

Reação a doenças

 

Mancha foliar de Helminthosporium: moderadamente suscetível

Mancha-branca: moderadamente resistente

Complexos dos enfezamentos: moderadamente suscetível

Diplodia maydis: moderadamente resistente

Ferrugem branca: resistente

Cercospora: resistente

Antracnose foliar: moderadamente suscetível

Pesquisadores desvendam fatores que afetam a produção das castanheiras

Fatores como o relevo, a variação da pressão de vapor do ar e mudanças no clima influenciam na produção dos ouriços das castanheiras (Bertholletia excelsa Bonpl.). A descoberta é de pesquisa feita por cientistas da Embrapa, da Universidade Federal do Acre (Ufac) e das universidades norte-americanas do Alabama (UA) e da Flórida (UFL). Durante dez anos, eles acompanharam e registraram a produção natural de frutos em 258 castanheiras centenárias distribuídas em duas comunidades no estado do Acre: Reserva Extrativista Chico Mendes e Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes. O trabalho foi publicado pela revista Nature, no artigo “Comparative models disentangle drivers of fruit production variability of an economically and ecologically important long-lived Amazonian tree”. A comercialização do produto da árvore, a castanha-da-amazônia (ou castanha-do-pará, ou ainda castanha-do-brasil), complementa a renda de milhares de famílias da Região Norte.

A equipe aplicou um modelo matemático que identificou as associações entre a variação de produção e as suas prováveis causas. Os anos com estação seca mais severa, ou seja, pouca chuva e elevada temperatura entre junho e agosto, ocasionaram redução na produção de frutos. Os pesquisadores descobriram que o período de seca é muito importante na determinação da produção de frutos da castanheira, pois é a época do ano em que as árvores estão iniciando a floração. O estudo comprovou que a pressão de vapor do ar também influenciou na produção.

O estudo registrou que as árvores localizadas em pontos de maior altitude no terreno produziram mais frutos comparadas àquelas que cresceram em lugares de baixio na floresta. Outros fatores significativos revelados pelo modelo foram a quantidade dos minerais fósforo (P) e potássio (K) disponíveis no solo. Maiores níveis desses minerais no solo resultam em maiores quantidades de frutos produzidos pelas árvores.

A pesquisadora Embrapa Rondônia Lúcia Wadt, chefe-geral da Embrapa Rondônia, que participou do estudo, explica que muitas espécies de árvores apresentam exigências específicas que, quando não satisfeitas, promovem uma grande variação da produção de frutos entre os anos, inclusive na mesma planta. É o caso da castanheira, em que uma mesma árvore produziu 400 frutos em um ano, e apenas 20, posteriormente, por exemplo. A diferença produtiva também é observada entre árvores de um mesmo castanhal, o que intrigou produtores e pesquisadores e os motivou a tentar entender o fenômeno.

Decifrar as causas que influenciam a produção das castanheiras é muito importante, uma vez que a espécie apresenta uma grande variação na quantidade de frutos produzidos a cada safra. A grande variação na produção afeta, especialmente, as milhares de famílias que vivem do extrativismo da castanha. Compreender as causas disso ajudará no planejamento desses extrativistas, além de poder orientar os programas de melhoramento genético da espécie, de acordo com Wadt.

Ela conta que o objetivo da pesquisa foi subsidiar com informações que possam colaborar para o planejamento familiar e desenvolver a economia extrativista. Os cientistas também pretendiam identificar características importantes para a previsão de safra em castanhais nativos e gerar informações para o manejo de castanhais, sejam estes nativos ou cultivados.

ca76ea01-5637-e754-c3d3-ef6dc3a05c79?t=1690563671172 Pesquisadores desvendam fatores que afetam a produção das castanheirasA pesquisa nos castanhais

Durante pouco mais de uma década, os cientistas coletaram várias informações como o tamanho da árvore e da copa, a posição da planta no relevo, as características físicas e químicas do solo, o comportamento do clima na região de estudo, e área de madeira responsável pelo fluxo de seiva, conhecida como área de alburno, indicador relacionado à saúde das árvores.

O modelo do clima revelou uma relação entre a área do alburno e a produção em anos de seca severa (piores condições ambientais). A boa produção de alguns indivíduos mesmo em anos com seca severa foi associada a árvores nas quais essa área era maior. A pesquisadora da Embrapa esclarece que isso se dá porque esses indivíduos possuem maior capacidade de armazenar água no tronco e, por isso, resistem mais ao estresse ambiental. A área de copa das árvores foi outro fator importante relacionado à produção: quanto maior a copa, mais frutos eram gerados.

Para Lúcia Wadt, esse estudo desvendou com mais detalhes os fatores bióticos e abióticos associados com a produção de frutos da castanheira. “O achado inédito desse trabalho foi o efeito da área do alburno, como indicador da ‘imunidade’ da árvore contra os efeitos das mudanças climáticas. As castanheiras com maior área de alburno não sofrem muito em anos de seca. Isso pode ser um reflexo da nutrição mineral da planta”, avalia a pesquisadora.

A professora Karen Kainer, da Universidade da Florida, que também assina o artigo, considera que os resultados fortalecem a ideia básica de que a castanheira é uma árvore extraordinária. Além de produzir anualmente frutos que contribuem para a renda dos coletores, a espécie atua também como moderador do ecossistema florestal, uma vez que apresenta mecanismos para resistir às mudanças climáticas.

 

a651f64b-a826-13b5-03e8-ce34df234200?t=1689772632078 Pesquisadores desvendam fatores que afetam a produção das castanheirasCúpula da Amazônia

Nos dias 8 e 9 de agosto de 2023, em Belém (PA), chefes de Estado dos oito países integrantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela estarão reunidos para inaugurar uma nova etapa na cooperação pelo bioma. A Cúpula deverá definir um compromisso de cooperação pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia entre esses países, por meio da retomada do diálogo regional e do fortalecimento das relações entre as entidades governamentais e civis das nações participantes. Saiba mais aqui.

 

Fabio Reynol (MTb 30.269/SP)
Secretaria de Comunicação

Governo retoma Luz para Todos e interliga municípios do Norte ao sistema elétrico

O Governo Federal retomou nesta sexta-feira, 4/8, o Luz para Todos que, nesta nova fase, vai beneficiar até 500 mil famílias até 2026. O programa leva energia elétrica à população rural, em especial no Norte do país e em regiões remotas da Amazônia Legal. Lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, a ação tem como objetivo garantir a erradicação da pobreza energética e o desenvolvimento social e econômico. O relançamento contou com a presença de Lula e do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) em Parintins, no Amazonas.

“O fornecimento de energia elétrica é serviço essencial e direito fundamental do cidadão, já que visa ao atendimento de suas necessidades básicas. A retomada do programa vai garantir vida digna e cidadania a milhões de brasileiras e brasileiros”, afirma o ministro.

Mais de 3,6 milhões de famílias foram atendidas com acesso ao serviço público de distribuição de energia elétrica desde o lançamento do programa, em 2003. Nessa nova etapa, o desafio é construir políticas de universalização do acesso e uso da energia elétrica ainda mais justas e inclusivas.

Jesiel Prata Fonseca, morador da Vila Amazônia, pequeno povoado em Parintins, relembra de quando energia era sinônimo de luxo. “Quando vim para cá, não havia energia elétrica, apenas um pequeno gerador que funcionava para encher o reservatório de água. As pessoas mal tinham geladeira. Com a chegada da energia, o comércio começou a se desenvolver, as pessoas foram abrindo pequenos negócios, aumentou a renda e a qualidade de vida de todos”.

 

LINHÃO DE TUCURUÍ –Após duas décadas de expectativa, Parintins e Itacoatiara, no Amazonas e Juruti, no Pará, finalmente estão conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), o que proporciona o acesso à energia elétrica por fontes limpas e renováveis. Conhecida como “Linhão de Tucuruí”, a interligação também foi inaugurada nesta sexta-feira.

Atualmente, a região amazônica conta com 211 sistemas isolados, que precisam gerar a própria energia a partir de combustíveis fósseis. Estima-se que aproximadamente 3 milhões de pessoas vivam nessas localidades e que, ao substituir a matriz térmica por opções mais sustentáveis 1,5 milhão de toneladas de carbono deixarão de ser lançadas na atmosfera. Estão previstos cerca de R$ 5 bilhões em investimentos.

Antes da interligação de Parintins ao Linhão de Tucuruí, a cidade dependia de uma usina termelétrica movida a diesel, que consumia cerca de 45 milhões de litros desse combustível anualmente. Além dos impactos ambientais, a geração de energia por meio dessa matriz causava poluição sonora e lançava fuligem no ar.

DESAFIOS – Para tornar o projeto realidade, foi preciso vencer desafios. Para atravessar os trechos de rio, o projeto contou com a construção de torres com mais de 250 metros de altura, incluindo a implantação em trechos alagados, o que exigiu fundações especiais e planejamento dos períodos de cheia e vazante do rio. Os estudos para a interligação começaram em 2006, ainda no governo do presidente Lula e, após atrasos, sua efetiva interligação foi licitada no Leilão de Transmissão em 2018 com investimento de R$1,76 bilhão. As linhas têm um total de 480 km de extensão – sendo 3,8 km de travessia do Rio Amazonas e 4,5 km de travessia de canais em Parintins – partindo de Oriximiná (PA), que também interliga o município de Juruti (PA).

ITACOATIARA – A 700 quilômetros de Parintins, Rio Amazonas acima (197 km em linha reta), o município de Itacoatiara também passou a ser atendido pela linha que liga todo o estado do Amazonas ao SNI. As duas cidades têm uma população aproximada em 100 mil habitantes e consomem aproximadamente 45 milhões de litros de diesel por ano. Em Itacoatiara, a rede soma 2.672 km e atende 20 mil residências. Para a ligação, foram instaladas 349 torres, ao longo de 113 km de cabos.

RORAIMA A CAMINHO – Uma outra ordem de serviço assinada pelo presidente Lula nesta sexta vai finalmente conectar Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Serão investidos R$ 2,6 bilhões nas obras, que vão substituir usinas termelétricas e garantir energia confiável, limpa e renovável. Roraima é o único estado isolado do sistema nacional. Os moradores de Boa Vista e cidades próximas dependem de usinas termelétricas movidas a óleo diesel, gás natural, biomassa e uma pequena central hidrelétrica. A expectativa é de mais de 11 mil empregos diretos e indiretos com as obras, com previsão de serem concluídas em setembro de 2025.

PARCERIAS – Um outro decreto assinado pelo presidente Lula amplia as possibilidades de intercâmbio de energia elétrica com países que fazem fronteira com o Brasil. Atualmente, o Brasil realiza intercâmbios internacionais com Argentina e Uruguai, além do Paraguai, por meio da Usina Hidrelétrica Binacional Itaipu.

“O decreto vai permitir realizar contratos para a trazer energia limpa e renovável da Venezuela, da usina de Guri, que volta a ter um papel importante para garantir energia barata e sustentável para Roraima e para o Brasil”, destacou o ministro Alexandre Silveira.

O texto prevê a possibilidade de importação de energia para atendimento aos sistemas isolados, com o objetivo de reduzir os dispêndios da Conta de Consumo de Combustível (CCC), orçada em R$ 12 bilhões para 2023. Ela representa quase 35% da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). A gradativa substituição do sistema acarreta redução nos custos da CCC – pago por todos os consumidores de energia elétrica, o que beneficia todos os brasileiros.

Estudo desvenda como os compostos fenólicos de plantas inibem a comunicação bacteriana

O quorum sensing (sensor de quórum, em tradução livre) é um sistema de comunicação intercelular mediado por sinais químicos que é usado por bactérias para coordenar, por exemplo, ataques em massa a um hospedeiro por meio da produção de fatores de virulência.

Desde a década de 2000, já se sabia que esse sistema de comunicação poderia ser inibido por extratos de plantas contendo compostos fenólicos e vários estudos vêm sendo feitos para compreender os mecanismos envolvidos. Faltava, porém, detalhar e estruturar esse conhecimento para que possíveis aplicações pudessem ser testadas.

A resposta veio em um artigo de revisão publicado na revista Heliyonpor pesquisadores do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC) e da Cornell University, nos Estados Unidos. O FoRC é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).

“Detalhamos como os principais compostos fenólicos [dos mais de 10 mil existentes] atuam nas bactérias patogênicas mais conhecidas, como Pseudomonas aeruginosa, Salmonella e Serratia marcescens, patógenos importantes para humanos e animais. E constatamos que baixas concentrações desses compostos já são suficientes para inibir a comunicação bacteriana”, conta a cientista de alimentos Emília Maria França Lima, primeira autora do artigo que é fruto de sua tese de doutorado.

Classificações de sistemas e possíveis aplicações

Para orientar aplicações futuras, foram classificados os possíveis sistemas de inibição do quorum sensing: específico, não específico e indireto – sendo que os dois últimos foram só recentemente associados à inibição por compostos fenólicos.

“Os inibidores específicos agem diretamente nas proteínas que produzem ou recebem as moléculas pelas quais as bactérias se comunicam; é como se fossem ‘ruídos’ impedindo a correta interpretação da informação recebida pelos microrganismos”, explica Lima, acrescentando que algumas enzimas também atuam nesse mecanismo específico, pois são capazes de degradar as moléculas sinalizadoras e causar um silenciamento na comunicação.

“Os inibidores não específicos, por sua vez, atuam em vias intracelulares que regulam as moléculas mensageiras, afetando indiretamente as vias de comunicação por quorum sensing que também são influenciadas por esses mensageiros intracelulares. Já os inibidores indiretos atacam de maneira mais abrangente outras vias envolvidas na produção de enzimas e proteínas, interferindo no metabolismo global do microrganismo e, consequentemente, afetando a comunicação bacteriana”, complementa a pesquisadora.

O conhecimento desses mecanismos de inibição poderá ser utilizado no desenvolvimento de fármacos, embalagens ativas de alimentos e produtos de limpeza, entre outras aplicações que possibilitem aumentar a segurança no controle de bactérias. A grande esperança é que tenha também potencial para ajudar a resolver um problema de saúde pública relevante: a resistência microbiana a antibióticos.

“Quando usamos um antibiótico, por exemplo, eliminamos as bactérias, mas, à medida que esse antibiótico vai sendo utilizado, muitas vezes de forma indiscriminada, acabamos selecionando bactérias resistentes, que surgem por meio de mutações ou aquisição de genes de resistência. Portanto, unir os antibióticos aos compostos fenólicos pode ser uma estratégia promissora”, afirma Lima.

Sistemas integrantes

Segundo os autores do estudo, os compostos fenólicos interferem na comunicação das bactérias, impedindo que elas saibam quando estão em número suficiente para produzir fatores de virulência, como algumas toxinas, por exemplo.

“Para produzir esses fatores de virulência é preciso disponibilizar uma quantidade enorme de energia, algo que uma bactéria não consegue fazer sozinha. Por isso, é necessário que elas se unam até atingirem um quórum predeterminado”, explica o orientador da pesquisa, o microbiologista Uelinton Manoel Pinto, pesquisador do FoRC e coautor do estudo ao lado de Stephen C. Winans, da Universidade de Cornell.

Os detalhes desse intrigante sistema de comunicação, segundo ele, foram desvendados ao longo de décadas, com destaque para a criação do termo quorum sensing, na década de 1990, por Stephen C. Winans. As pesquisas demonstraram que muitos comportamentos microbianos são influenciados pela comunicação entre os microrganismos, incluindo a produção de fatores de virulência (importantes nos mecanismos de infecção), formação de biofilmes (relevante em diversas áreas) e na deterioração dos alimentos. Desde então, muitos pesquisadores ao redor do mundo estudam formas de inibir a comunicação microbiana mediada por quorum sensing.

Novas frentes

Agora, com os mecanismos bem detalhados, o grupo do professor Uelinton Pinto na USP se dedica a novas pesquisas que buscam combinar compostos fenólicos para otimizar sua ação contra patógenos como a P. aeruginosa e a Salmonella. “Também estamos estabelecendo uma parceria com pesquisadores da França para avaliar a segurança de uso de combinações de compostos fenólicos sobre o organismo humano”, conta.

O artigo Quorum sensing interference by phenolic compounds – A matter of bacterial misunderstanding está disponível em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S240584402304865X.

* Com informações do FoRC, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP.

Livro que difunde um ramo da matemática conhecido como combinatória recebe o Prêmio Elon Lages de Lima

O livro Combinatória (Editora do Impa, 2021) recebeu o Prêmio Elon Lages de Lima, oferecido pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e pela Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC).

A obra é de autoria de Guilherme Oliveira Mota, professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP), em conjunto com Fábio Botler, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Robert Morris, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Walner Mendonça, do Impa, Maurício Collares, da Technische Universität Graz (Áustria), e Taísa Martins, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

No prefácio, os autores explicam que “A combinatória pode ser definida de forma simplista como a arte de contar, enumerar, ordenar, construir e analisar objetos matemáticos discretos. No entanto, ela é muito mais que isso, sendo um ramo da matemática com aplicações tanto na ciência da computação quanto em diversas áreas da matemática. Assim, preferimos descrevê-la como um conjunto de técnicas e estratégias para lidar com estruturas discretas. Além disso, uma característica fundamental da combinatória é a sua ênfase em problemas de fácil formulação [até autocontidos], mas desafiadores”.

O livro surgiu como parte de uma estratégia para difundir no país a combinatória, área de conhecimento dentro da matemática, de modo a atrair novos alunos para a área e contribuir para a formação de novos pesquisadores.

“O livro é dividido em duas partes, cada uma com seis capítulos. A primeira contém um curso de ‘Introdução à Combinatória’, tanto para a graduação quanto para a pós-graduação. Na segunda parte, são revisitados os temas apresentados na primeira, com resultados e técnicas mais profundas e avançadas”, disse Mota, que coordena um projeto financiado pela FAPESP.

Segundo o docente, o leitor é introduzido às técnicas básicas, passando por grafos, que são estruturas importantes tanto do ponto de vista teórico como prático. “Além de nos aprofundarmos nos tópicos vistos na primeira parte do livro, introduzimos três técnicas probabilísticas mais avançadas: o Lema Local de Lovász, a Escolha Aleatória Dependente e as Desigualdades de Janson”, conta à Agência FAPESP.

Mota ainda destaca a importância do apoio que recebeu da Fundação: “O livro tem seis autores, quatro dos quais são membros da equipe do projeto Jovens Pesquisadores coordenado por mim. Os outros dois são coautores de trabalhos realizados no âmbito desse projeto. Durante a execução, tivemos várias reuniões de pesquisa para trabalhar nos problemas propostos no projeto e, ao longo dessas reuniões, também amadurecemos ideias para fomentar o crescimento da combinatória no país. Dentre essas ideias estava a escrita do livro, que ocorreu durante a vigência do projeto”.

O Prêmio Elon Lages de Lima tem como objetivo promover e estimular a produção bibliográfica nacional em matemática e aplicações. A cerimônia de entrega ocorreu durante o Colóquio Brasileiro de Matemática, promovido no fim de julho pela SBM no Impa no Rio de Janeiro.

O livro Combinatória pode ser adquirido gratuitamente em formato digital pelo site do Impa.

Treinamento técnico em educação na Unicid

O projeto “ Implementação de políticas educacionais e desigualdades frente a contextos de pandemia pelo COVID-19” dispõe de uma vaga de treinamento técnico nível três (TT-3) com bolsa da FAPESP. O prazo de inscrição acaba na terça-feira (15/08).

Conduzido na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), o projeto busca evidências científicas para nortear a elaboração de estratégias de implementação de políticas públicas educacionais que contribuam com os desafios educacionais da pandemia da COVID-19 e com o enfrentamento de possíveis futuras crises similares.

O bolsista auxiliará nas atividades de organização e apoio à pesquisa empírica do projeto e no processo de levantamento de referências para subsidiar a análise de dados. Ele também contribuirá na organização dos dados, transcrição de entrevistas e na articulação com os coordenadores dos núcleos de pesquisa; fará fichamento de referências para apoio aos pesquisadores; irá auxiliar também no tratamento e sistematização do material coletado a partir das entrevistas realizadas e outros meios de coletas de dados existentes na pesquisa.

Os candidatos podem se inscrever pelo e-mail da professora Maria do Carmo Meirelles Toledo Cruz ([email protected]).

Mais informações sobre a vaga em: www.fapesp.br/oportunidades/6247/.

A Bolsa de TT-3 tem valor de R$ 1.507,60 mensais. É direcionada a graduados do nível superior, sem reprovações no histórico escolar. A dedicação deverá ser de 16 a 40 horas semanais às atividades de apoio ao projeto de pesquisa.

Mais informações sobre as bolsas de Treinamento Técnico da FAPESP: www.fapesp.br/bolsas/tt.

Outras vagas de bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades.

Primeira planta de conversão de hidrogênio a partir do etanol do mundo será construída na USP

Foi lançado nesta quinta-feira (10/08) o projeto da primeira estação de abastecimento de hidrogênio renovável a partir do etanol do mundo. Quando finalizada, em julho de 2024, a estação vai produzir 4,5 quilos de hidrogênio por hora e será usada para o abastecimento de três ônibus que circularão pela Universidade de São Paulo (USP). O plano é avaliar por dez meses o funcionamento dos reformadores para então implantar uma fábrica que produzirá 45,5 quilos (kg) de hidrogênio por hora.

“A grande vantagem dessa tecnologia está na pegada de carbono negativa e no ganho econômico. A logística de etanol – que inclusive já existe no país – é muito mais barata que a de hidrogênio. Com essa tecnologia, o etanol pode ser transformado em hidrogênio em reformadores instalados nos postos de abastecimento espalhados pelo país. Conseguimos que o quilo de hidrogênio custe de US$ 6 a US$ 8, o que é quase a metade do preço obtido por outras tecnologias. Além disso, a tecnologia permite capturar o CO2 do etanol, resultando em uma pegada de emissões negativas, em comparação ao hidrogênio produzido com energia solar, por exemplo”, afirmou Julio Meneghini, diretor do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI).

O posto de abastecimento é resultado de um projeto do RCGI, um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica (Poli-USP). O RCGI é um dos 22 CPEs financiados pela Fundação em parcerias com empresas.

“O projeto da primeira planta de conversão de hidrogênio mostra que basta colocar uma semente nas mãos corretas para que tanto o apoio financeiro quanto a aplicação da inovação sejam ampliados. O investimento da FAPESP no RCGI foi de R$ 45 milhões até agora e o centro tem um investimento de R$ 465 milhões. Então se multiplicou por dez vezes. É desse tipo de empreendedores que precisamos. Portanto, espalhem a notícia de que a FAPESP, as universidades paulistas e as empresas tecnológicas estão fazendo inovação aqui no Estado de São Paulo”, comemorou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.

“O objetivo desse projeto inovador é tentar demonstrar que o etanol pode ser vetor para hidrogênio renovável, aproveitando a logística já existente da indústria. A tecnologia poderá ajudar a descarbonizar setores que consomem energia proveniente de combustíveis fósseis”, afirmou o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa

Dos cerca de R$ 465 milhões investidos no RCGI nos últimos sete anos, R$ 270 milhões vieram da Shell – sendo R$ 50 milhões só para o projeto dos reformadores de etanol em hidrogênio – e R$ 45 milhões da FAPESP. Ao longo do projeto outras empresas foram se juntando: a Total Energies repassou um montante de R$ 80 milhões e a Petronas, R$ 57 milhões. Houve também apoio da Braskem (R$ 5 milhões), Repsol (R$ 3 milhões), Petrobras (R$ 2 milhões), Marco Polo em parceria com a Embrapii e USP (R$ 670 mil) e SRI (R$ 600 mil).

Legislação e marco regulatório

Na cerimônia de lançamento do projeto, no auditório da Escola Politécnica da USP, o governador Tarcísio de Freitas reforçou o compromisso do governo com a pesquisa e o desenvolvimento e com o incentivo a novas tecnologias de energia renovável.

“Fiquei com vontade de ter ônibus de hidrogênio no Estado de São Paulo todo. É um orgulho saber que o primeiro reformador de etanol em hidrogênio nessa escala do mundo está sendo feito aqui no Brasil, aqui em São Paulo. A gente tem todos os elementos para fazer uma transição energética. Temos cientistas qualificados, inovação e temos a FAPESP, que é esse patrimônio no Estado de São Paulo”, disse o governador.

Antes da cerimônia, em uma reunião no RCGI com cientistas, empresários e integrantes do projeto, o governador se mostrou animado com a novidade: “Tenho muitas perguntas. Posso disparar a minha metralhadora de perguntas? O que precisa para termos todos os ônibus do Estado movidos a hidrogênio?”, indagou.

A resposta foi: legislação e marcos regulatórios para transição da frota. Outra estratégia sugerida pelo grupo de participantes foi o governo do Estado dar o primeiro passo e introduzir uma frota movida a hidrogênio, estimulando a criação de demanda, já que a tecnologia existe e será testada comercialmente.

“Vamos estruturar a legislação, marcos regulatórios e fomentar essa produção para que a gente ganhe escala e São Paulo, de fato, seja líder na transição energética que vai diminuir nossa pegada de carbono e dar exemplo de sustentabilidade e economia circular. Estou muito feliz de ser testemunha do esforço, do talento e da criatividade do nosso pesquisador brasileiro, do nosso pesquisador paulista”, disse o governador.

“Agora o mundo se depara com mais incertezas trazidas pela COVID-19 e pela guerra na Ucrânia. O mundo vai procurar parceiros confiáveis, principalmente em energia. O Brasil é esse parceiro confiável e, obviamente, São Paulo pode liderar isso. O que o mundo precisa, nós temos”, comemorou, por fim, o governador.

 

Como funciona

Os reformadores utilizam etanol de segunda geração, que são hidrocarbonetos, portanto, constituídos por átomos de carbono e de hidrogênio. “A ideia é que dentro do reformador, no reator, ocorra uma reação de etanol e água e a quebra dessa molécula de hidrocarbonetos, resultando em hidrogênio e monóxido de carbono, que depois em uma reação com mais água vira CO2”, explicou Daniel Lopes, diretor comercial da Hytron, fabricante do reformador. A startup, criada em 2004, recebeu três apoios do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

“A máquina produz uma quantidade muito grande de hidrogênio ainda não purificado no primeiro estágio. Já no segundo estágio, o hidrogênio sai da nossa máquina com 99,999% de pureza”, concluiu.

A tecnologia difere do modelo mais tradicional de se obter hidrogênio, a partir da eletrólise da água. Nesse modelo, o hidrogênio é retirado das moléculas de água (H2O) a partir da eletricidade, o que é muito mais dispendioso.

No modelo da Hytron, e da primeira estação de abastecimento de hidrogênio renovável a partir do etanol do mundo, o hidrogênio obtido a partir dos reformadores abastecerá veículos elétricos. “Nesses casos, os veículos só vão emitir água”, explica Lopes.

O funcionamento da estação vai contar com o apoio e a parceria de várias empresas. Os equipamentos foram desenvolvidos e fabricados pela empresa Hytron. O etanol necessário para a produção de hidrogênio será fornecido pela Raízen, maior produtora global de etanol da cana-de-açúcar.

As simulações computacionais para tornar o equipamento mais eficiente, identificando oportunidades de aperfeiçoamento e aumentando a taxa de conversão do etanol em hidrogênio renovável, serão comandadas pelo Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras.

O hidrogênio produzido na estação vai abastecer os ônibus cedidos pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU/SP). Para testar a performance do hidrogênio, a Toyota cedeu ao projeto o “Mirai” – primeiro veículo a hidrogênio do mundo comercializado em larga escala, cujas baterias são carregadas a partir da reação química entre hidrogênio e oxigênio na célula a combustível (fuel cell eletric vehicle).

Abertas as inscrições para o Prêmio Marcos Moraes de Pesquisa e Inovação para o Controle do Câncer

42104-300x235 Abertas as inscrições para o Prêmio Marcos Moraes de Pesquisa e Inovação para o Controle do CâncerA Fundação do Câncer recebe, até 21 de agosto, inscrições para a terceira edição do Prêmio Marcos Moraes de Pesquisa e Inovação para o Controle do Câncer, que é destinado aos profissionais que desenvolvem projetos para o controle da doença em território nacional.

A premiação busca reconhecer iniciativas inovadoras em andamento ou recém-concluídas para o controle do câncer no Brasil, com data de estruturação, implantação ou conclusão a partir de 1º de janeiro de 2018.

Os primeiros colocados de cada categoria receberão R$ 10 mil e ainda terão seus nomes registrados no Painel Marcos Moraes, espaço destinado a pesquisadores que contribuem para o desenvolvimento da área oncológica e o controle do câncer no Brasil. Os autores dos trabalhos classificados em segundo e terceiro lugares também receberão medalha e certificado da premiação.

Os trabalhos inscritos no Prêmio Marcos Moraes 2023 serão avaliados por uma banca de pesquisadores, gestores e personalidades de destaque nas áreas das categorias abrangidas pela premiação. Os vencedores serão conhecidos em novembro.

Os interessados podem se inscrever pelo site do prêmio.

Mais informações: https://premiomarcosmoraes.com.br/.

Cerrado requer ações rígidas de proteção e recuperação de áreas para frear desmate, alertam cientistas

O acelerado ritmo de conversão da vegetação natural do Cerrado em áreas agropecuárias está causando impactos nos serviços ecossistêmicos do bioma. Para frear o problema, é necessário implantar ações de proteção mais rígidas, complementadas com um planejamento territorial focado na formação de corredores ecológicos e na recuperação de pastagens degradadas. Este é o alerta feito por pesquisadores brasileiros em carta publicada na revista científica Nature Sustainability.

Segundo maior bioma da América do Sul, com uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados (km2), o equivalente ao território do México, o Cerrado é a savana mais biodiversa do mundo, com mais de 11.600 espécies de plantas nativas. Conhecido também como “berço de águas” no Brasil, abriga diversas bacias hidrográficas que abastecem as regiões Sul e Sudeste.

Porém, vem registrando recordes de desmatamento – um aumento de 16,5% entre agosto de 2022 e julho de 2023, alcançando 6.300 km2 destruídos no período. Os dados são do sistema de alertas Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados no último dia 3 de agosto. Foi o pior resultado desde o início da medição, entre 2017 e 2018. A maior parte dos alertas está na área conhecida como Matopiba, que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Quase 75% do desmatamento do bioma está na região.

Em 2022, a derrubada da vegetação no Cerrado já havia sido 25% maior do que no ano anterior, chegando a 10.689 km2. É quase igual ao total desmatado no mesmo período na Amazônia (11.568 km2), que abrange um território duas vezes maior.

“É reflexo. Há menos ações para coibir o desmatamento no Cerrado do que na Amazônia, por exemplo, ao passo que atividades derivadas dessa conversão dão lucro. Contudo, suas funções ambiental, econômica e social interessam, igualmente, ao planeta. O próprio acordo Mercosul-União Europeia tem entraves relacionados à sustentabilidade na cadeia de produção agropecuária, mas ainda negligencia o Cerrado. É necessário e vantajoso priorizá-lo nas discussões diplomáticas”, diz à Agência FAPESP o primeiro autor da carta, Michel Eustáquio Dantas Chaves, pós-doutorando na Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG-Inpe) apoiado pela FAPESP.

Segundo os pesquisadores, a perda da vegetação vem contribuindo para eventos climáticos extremos, aumentando a temperatura, reduzindo a capacidade de as plantas lançarem umidade no ar (evapotranspiração) e alterando o regime de chuvas, com consequente ameaça à viabilidade de sistemas de cultivo múltiplos e à produtividade.

“O ritmo recente de desmatamento está alto e já afeta condições edafoclimáticas [características do meio ambiente, como: clima, relevo, temperatura, umidade do ar, precipitação pluvial para a atividade agrícola e outras] vitais. Isso compromete até mesmo o futuro da produção nacional, podendo desencadear crises ambientais e socioeconômicas, bem como afetar políticas de segurança alimentar”, explica Chaves.

Precaução

Na carta publicada em Nature Sustainability, com o título Reverse the Cerrado’s neglect (Revertendo o descaso com o Cerrado), os cientistas alertam que o bioma tem sido excluído de esforços que possam garantir a sustentabilidade.

Citam como exemplo a Moratória da Soja – um pacto feito entre organizações não governamentais, agroindústrias e governos com o compromisso de não comprar commodities de áreas desmatadas – só aplicada para a Amazônia, alguns projetos de lei (PL-2633/2020, PL-510/2021 e PL-337/2022) e a nova regra da Comissão Europeia sobre a importação de produtos sem desmatamento. Essas normas deixam parte do Cerrado desprotegido, como “zona de sacrifício” para desenvolvimento agrícola.

“O momento exige estratégias que unam provisão de serviços ecossistêmicos e produção agrícola. O Cerrado é peça-chave nesse desafio, mas geralmente é lembrado apenas por seu potencial agrícola. Sua condição de ser a savana mais biodiversa do mundo, regular o clima, fornecer água e estocar carbono acaba negligenciada. Propusemos mecanismos para que o Cerrado seja respeitado como o motor da capacidade agroambiental brasileira”, completa Chaves.

Ele assina o artigo juntamente com o pesquisador Guilherme Mataveli, do Inpe, que também recebe apoio da FAPESP (23/03206-0 e 19/25701-8), e mais quatro cientistas: Ieda Sanches e Marcos Adami (DIOTG-Inpe), Rafaela Aragão (Griffith University) e Erasmus zu Ermgassen (Université Catholique de Louvain).

O grupo destaca que investimentos tecnológicos feitos no Cerrado desde os anos 1970 elevaram a produtividade brasileira de grãos de 1.258 para 4.048 kg/hectare, indicando ser viável conciliar atividade agrícola e políticas de conservação. Vê como igualmente positivo o recente restabelecimento e expansão do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento (PPCD) para todos os biomas brasileiros.

O plano visa estabelecer atividades produtivas sustentáveis, monitoramento e controle ambiental, ordenamento fundiário e territorial e instrumentos normativo-econômicos para reduzir o desmatamento e as emissões de CO2, em linha com os compromissos nacionais assumidos no Acordo de Paris e na Conferência das Partes das Nações Unidas (COP).

Os cientistas avaliam, porém, que a implementação do PPCD no Cerrado depende de políticas específicas para o bioma, que envolvam esforços coordenados entre os governos municipais, estaduais e federal, além da necessidade de aumentar o número de agentes fiscalizadores e incluir agricultores e comunidades tradicionais nas políticas públicas e no debate sobre compensação para quem preserva a vegetação nativa por meio de Pagamentos por Serviços Ambientais, previstos na Lei 14.119/2021.

“O PPCD visa reduzir desmatamento ilegal. Porém, o Cerrado tem mais de 330 mil km2 de vegetação que podem ser desmatados legalmente [excedentes de reserva legal]. Precisamos integrar a proteção do capital natural a políticas estruturais de desenvolvimento educacional e tecnológico”, destacam.

Para Chaves, fortalecer sistemas de monitoramento é essencial para a sustentabilidade. Desde 2017, o Inpe mantém o Projeto de Desenvolvimento de Sistemas de Prevenção de Incêndios Florestais e Monitoramento da Cobertura Vegetal no Cerrado Brasileiro.

Recentemente, o pesquisador e Ieda Sanches publicaram na revista Remote Sensing Applications: Society & Environment um estudo mostrando como é possível identificar culturas agrícolas com mais precisão a partir de dados de campo, conhecimento sobre calendários agrícolas, machine learning, índices espectrais e cubos de dados produzidos pelo projeto Brazil Data Cube, desenvolvido pelo Inpe.

“Reduzir incertezas ajuda a conferir segurança jurídica, recuperar soberania epistêmica agroambiental e apoiar políticas públicas. Logo, investir em iniciativas tecnológicas que possibilitem isso não é gasto. É investimento”, conclui.

A carta Reverse the Cerrado’s neglect pode ser lida em: www.nature.com/articles/s41893-023-01182-w.

Caixa anuncia Centro Cultural em Belém e mais investimentos na região norte

A Caixa Econômica Federal retomou as ações na área cultural, que há cinco anos estava sem abrir editais de cultura. Nesta retomada, que beneficia todo o país, a instituição também aponta com investimentos e ações culturais específicas para a região Norte do país.

Entre as novidades uma, em especial, chega a Belém, onde será inaugurada a primeira Caixa Cultural da Região Norte, um anseio antigo de artistas e produtores culturais não só paraenses, mas de toda a Amazônia. A inauguração já está definida para antes da Conferência do Clima (COP-30), que será realizada pelas Nações Unidas na capital paraense, em 2025.

“O nosso prazo é 2025, se possível antes. Vamos ocupar galpões na área portuária, cedidos pelo governo do estado. Essas tratativas já estão acordadas e agora é uma questão de reformar e readequar o espaço. Queremos apresentar um espaço cultural com muitas atividades culturais na COP-30”, informou a presidenta da Caixa, Maria Rito Serrano.

Reconhecimento cultural

Atualmente, a Caixa tem centro cultural em cidades do sudeste: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG); nordeste, onde contempla Recife (PE), Salvador e Fortaleza (CE); e no sul, a cidade de Curitiba (PR). “Estamos reparando uma falha. Numa região tão rica culturalmente, com toda essa efervescência cultural, era realmente um absurdo não ter uma Caixa Cultural aqui”, ressaltou Maria Rita Serrano.

O anúncio foi feito esta semana, em Belém, com a presença da Ministra Margareth Menezes, a secretária de Cultura do Estado, Ursula Vidal e a presidenta da Fundação Cultural do Pará, Inês Silveira, além do Secretário Executivo do MINc Marcio Tavares, Cassius Rosa, secretário executivo adjunto do Minc. e outras autoridades, tudo em meio ao clima de reunião da Cúpula da Amazônia, evento que encerrou nesta quarta-feira, 9, no Hangar.

Novo edital e ações na região

As boas notícias não ficaram só por conta da inauguração da sede cultural em Belém. A partir de uma solicitação do Ministério da Cultura, a Caixa também vai lançar, até janeiro de 2024, um edital que receberá projetos para patrocínios via Lei Rouanet. Serão R$ 6 milhões investidos em projetos e produtores da região Norte, exclusivamente.

Além disso, a Caixa também vai apoiar inúmeras outras ações do Governo Federal a serem realizadas até 2025. “Além do edital que vamos lançar em conjunto com as estatais, a Caixa também será uma das patrocinadoras do Mercado das Indústrias Criativas (MIC BR), um evento que será muito importante para o fortalecimento das cadeias produtivas da cultura e toda a economia criativa. Estamos conectados com o poder público do estado e do município para que a força criativa de Belém se manifeste também neste evento”, assegura Maria Rita Serrano.

Cultura e desenvolvimento

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, afirmou que até 2025 muitas outras ações serão feitas em Belém, em função da preparação da cidade para a COP-30. “Belém vai receber esse movimento intenso até lá, mas não se trata apenas da cultura local, e sim de toda a região amazônica, focando também na cultura ribeirinha, dos povos originários, a cultura dos quilombolas, em toda a cultura que vibra aqui nesse bioma maravilhoso da região norte do país”.

Negócios – O MIC BR, por exemplo, terá sua terceira edição realizada em Belém, de 7 a 12 de novembro, com a participação de compradores e investidores de toda a região Sul-Americana, gerando inúmeras possibilidades de negócios, parcerias, co-produções e a internacionalização de produtos culturais.

“Queremos que o MIC BR se firme, tendo em vista a dimensão do Brasil como um evento necessário quando se fala em fomento das indústrias criativas do país. E que esse movimento que estamos fazendo em direção à região norte signifique um desenvolvimento integral para a região, com preservação ambiental e da diversidade cultural que existe aqui e é preciosa para o todo o nosso país e para o nosso projeto de nação”, disse Márcio Tavares, secretário executivo do Minc.

Edital – As inscrições para o Mercado das Indústrias Criativas do Brasil ficam abertas até dia 17 de novembro. Para acessar o edital e realizar a inscrição para participar das rodadas de negócios é necessário fazer o cadastro no ID Cultura e criar um perfil na plataforma Mapas da Cultura do Governo Federal.

“A gente precisa fazer com que o setor cultural volte a trabalhar e gerar emprego. Esse é um foco muito importante para o nosso ministério. Além da descentralização, queremos trazer para o ambiente cultural, a trabalhadores e grupos de cultura de todos os lugares, onde quer que a cultura se manifeste, nesse Brasil gigante, condições de trabalho e novas oportunidades que somem para o desenvolvimento cultural e econômico do país”, afirmou Margareth Menezes.

Salada pronta pré-higienizada pode conter bactérias causadoras de doenças, aponta artigo

Trabalho publicado na revista Foods compilou vários estudos que avaliaram vegetais minimamente processados (VMPs), também conhecidos como vegetais frescos higienizados, em busca da presença de microrganismos indicadores de falta de higiene ou causadores de doenças. O foco da maioria dos trabalhos tem sido a detecção das bactérias Escherichia coli, principal indicador de contaminação fecal, Salmonella spp. e Listeria monocytogenes, com taxas de prevalência variando de 0,7% a 100%, 0,6% a 26,7% e 0,2% a 33,3%, respectivamente.

O artigo também aborda surtos de origem alimentar associados ao consumo de vegetais frescos no Brasil entre 2000 e 2021. “Embora não haja informações sobre se eram consumidos in natura ou minimamente processados, os dados evidenciam a necessidade de medidas de controle para garantir produtos com qualidade e segurança aos consumidores”, apontam os autores.

O consumo regular de vegetais desempenha um papel importante na nutrição humana por seu teor de vitaminas, minerais e fibras. “Com a correria do dia a dia, cada vez mais pessoas procuram opções saudáveis e de preparo rápido. Nesse sentido, os VMPs têm ganhado destaque no mercado mundial. Por outro lado, vegetais frescos, incluindo os minimamente processados, têm sido frequentemente associados a doenças de origem alimentar, o que gera preocupação”, observa Daniele Maffei, professora do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e coautora do artigo.

“Os VMPs passam pela etapa de desinfecção na indústria, mas estudos demonstram a possibilidade de falhas que podem colocar em risco a saúde dos consumidores. É preciso um controle rigoroso para evitar falhas no processo e a ocorrência de contaminação cruzada”, acrescenta Maffei, que integra a equipe do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

Cortados, higienizados e vendidos em embalagens fechadas, os VMPs são comercializados “prontos para consumo”, possibilitando o preparo mais rápido das refeições e a redução de desperdício, visto que costumeiramente todo conteúdo é utilizado de uma só vez. Como geralmente são ingeridos crus, a forma de assegurar a eliminação de microrganismos causadores de doenças inclui o uso de sanitizantes como o cloro na água de lavagem. “As indústrias produtoras têm a responsabilidade de disponibilizar no mercado produtos com qualidade e segurança microbiológica, implementando medidas de controle ao longo do processamento. Embora lavar novamente o produto em casa possa ser considerado desnecessário, alguns consumidores podem optar por fazê-lo para reforçar a segurança”, diz a autora.

No contexto do estudo, o termo “minimamente processado” refere-se ao uso de um ou mais métodos, técnicas ou procedimentos para transformar alimentos derivados de plantas em produtos prontos para consumo (ready-to-eat, RTE) ou prontos para cozinhar (ready-to-cook, RTC) com uma vida útil prolongada, mantendo a mesma qualidade nutricional e organoléptica (sensorial) dos vegetais frescos. Em geral, os VMPs podem ter uma vida útil que varia de alguns dias a duas semanas, dependendo de vários fatores, como tipo e qualidade dos vegetais frescos, método de processamento, tipo de embalagem, condições de armazenamento e presença de microrganismos deteriorantes. Quando realizado de acordo com as boas práticas de fabricação, o processamento mínimo retarda a perda de nutrientes e alterações indesejáveis na textura, cor, sabor e aroma dos vegetais, além da deterioração microbiana. Uma grande variedade de vegetais pode ser processada, incluindo folhas verdes (por exemplo, rúcula, alface e espinafre), vegetais crucíferos (como brócolis e couve-flor), tubérculos (cenoura, beterraba etc.) e pepinos.

No Brasil, o mercado dos VMPs teve início na década de 70, com a expansão das redes de fast-food. Desde o período, a presença desses produtos nos supermercados e hortifrútis tem sido cada vez maior, ainda que o processamento torne o produto mais caro: costuma custar pelo menos o dobro quando comparado ao produto in natura.

“Como o crescimento do mercado de VMPs é uma tendência no Brasil, torna-se essencial a implementação de legislações específicas para regulamentar a forma como são produzidos e vendidos”, diz Maffei, que se dedica à pesquisa dessa área desde 2012 e publicou vários artigos avaliando os riscos microbiológicos associados a esses produtos (em periódicos como Letters in Applied Microbiology, Food Research International e Journal of the Science of Food and Agriculture).

Além de Maffei, assinam o artigo Jéssica Finger, Isabela Santos, Guilherme Silva, Mariana Bernardino e Uelinton Pinto. A pesquisa envolveu as faculdades de Ciências Farmacêuticas e de Saúde Pública da USP.

O artigo Minimally Processed Vegetables in Brazil: An Overview of Marketing, Processing, and Microbiological Aspects pode ser lido em: www.mdpi.com/2304-8158/12/11/2259.

BNDES aprova R$ 36,3 milhões para restaurar e revitalizar o Complexo dos Mercedários, de Belém-PA

• Recursos são não reembolsáveis e correspondem a 54% do investimento total no projeto
• É a maior operação da iniciativa Resgatando a História
• Projeto cria escola para formação de mão de obra especializada em restauro e conservação

e5e013cf-35fc-4e6d-9392-18e5620f64b0 BNDES aprova R$ 36,3 milhões para restaurar e revitalizar o Complexo dos Mercedários, de Belém-PAO Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou apoio não reembolsável de R$ 36,3 milhões para restauro e revitalização do Complexo dos Mercedários, de Belém (PA). O anúncio do Banco foi feito pela diretora Socioambiental, Tereza Campello, que visitou o Complexo nesta terça-feira, 8.
Os recursos do BNDES são não reembolsáveis e provêm da iniciativa Resgatando a História, por meio da qual o Banco apoia a recuperação do patrimônio histórico material, imaterial e de acervos memoriais de todo o país, juntamente com parceiros.
Essa é a maior operação aprovada pelo BNDES no âmbito da iniciativa. Os recursos do Banco correspondem a 73,5% do investimento total, orçado em R$ 49,4 milhões, e que também terá aportes da Universidade Federal do Pará (UFPA). O projeto está a cargo da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), ligada à UFPA.
Para Tereza Campello, “a restauração do conjunto Mercedários, que já estava prevista, agora merece um novo olhar, com Belém como sede da COP 30 em 2025. O espaço é uma joia da cidade e será restaurado para benefício da população local. O plano é que também possa ser integrado às atividades da Conferência do Clima das Nações Unidas”.
O projeto prevê o restauro e a reabilitação do conjunto arquitetônico dos Mercedários, o que inclui instalações elétricas, hidrossanitárias, de drenagem pluvial e esgoto, de acessibilidade, de segurança e de combate a incêndios.
Uma segunda frente é a implantação da Escola Oficina de Conservação e Restauro da Amazônia, voltada à formação de mão de obra especializada a partir de cursos práticos aplicados na recuperação do próprio Complexo. Também está prevista a aquisição de equipamentos para melhorar a infraestrutura do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (Lacore) da UFPA.
A iniciativa contempla, ainda, a criação do primeiro museu de ciências do patrimônio cultural da Amazônia. O museu vai abordar a história arquitetônica e urbanística do Conjunto dos Mercedários de forma integrada com as tecnologias de construção e materiais utilizados. Desta forma, o museu preservará as instalações e contribuirá com a revitalização do entorno do Complexo, e com oportunidades de emprego e renda – inclusive com a identificação de estratégias para estimular atividades produtivas direta e indiretamente relacionadas ao projeto.
Conjunto arquitetônico – O Complexo dos Mercedários, de Belém (PA), é um conjunto arquitetônico composto pela Igreja das Mercês e pelo antigo Convento dos Mercedários, cuja construção teve início em 1640 e foi refeita a partir de 1748. A igreja constitui um dos quatro exemplares de fachadas com perfil côncavo existentes no país e é um dos maiores e mais importantes conventos coloniais da região amazônica.
Após sua desativação como espaço religioso, em 1777, o Complexo foi incorporado ao patrimônio da União, tendo recebido atividades variadas. Desde 2018, está cedido à UFPA para abrigar, em especial, as atividades da Faculdade de Conservação e Restauro.
O BNDES e a cultura – O BNDES é um dos maiores apoiadores do patrimônio histórico brasileiro. Nos últimos 25 anos, investiu mais de R$ 900 milhões em projetos de restauro, preservação e revitalização de mais de quatrocentos monumentos, sítios, edificações históricas e bens móveis de valor nacional localizados em todas as regiões do país, além de ações para a preservação do acervo memorial brasileiro.

Brasil e Uruguai debatem ações conjuntas para o desenvolvimento territorial na faixa de fronteira

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, o MIDR, participou, em Sant’Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul, do Fórum Binacional de Integração Brasil – Uruguai. Durante o evento, foram debatidas ações com foco no desenvolvimento sustentável da faixa de fronteira entre os dois países.

Segundo a coordenadora de Políticas de Desenvolvimento Regional e Territorial do MIDR, Simone Noronha, o Governo Federal colocou como prioridade o desenvolvimento das Faixas de Fronteiras e das chamadas cidades-gêmeas, por meio de investimentos nas cadeias produtivas locais para que ganhem competitividade.

“As cidades de fronteiras uma dinâmica própria, tem uma economia pujante, mas, muitas vezes, elas estão muito distantes dos centros políticos, dos centros dos países, então acabam tendo problemas de infraestrutura e questões que afetam a dinâmica da economia local. É uma prioridade para o Governo Federal, tanto a Faixa de Fronteira quanto as cidades-gêmeas. O ministro Waldez está pessoalmente empenhado nos acordos de cooperação com os estados”.

A região de Fronteira entre Sant’Ana do Livramento e Rivera é um Polo da Rota do Cordeiro, que faz parte do Programa Rotas de Integração Nacional, do MIDR. No Brasil, apenas 5% do rebanho de ovinos e caprinos têm abate certificado. No Uruguai, esse percentual é de 100%. Um dos objetivos da parceria é a troca de conhecimentos entre os dois países.

Para saber mais sobre ações do Governo Federal em desenvolvimento regional, acesse mdr.gov.br.

Fonte: Brasil 61

Iphan lança edital de R$ 7,5 milhões para apoiar projetos de proteção do patrimônio imaterial no país

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão vinculado ao Ministério da Cultura, abriu inscrições para o edital do programa nacional do patrimônio imaterial, as inscrições ficam abertas até 8 de setembro.

São R$ 7,5 milhões para o desenvolvimento de projetos para preservação do patrimônio cultural imaterial.

O objetivo é preservar as práticas, conhecimentos, expressões, celebrações e tradições da cultura nacional, transmitidas de geração em geração.

Órgãos dos governos federal e estaduais, universidades e instituições de ensino superior podem enviar propostas.

Organizações da sociedade civil, agências de desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura e à pesquisa também podem se inscrever no edital.

O presidente do Iphan, Leandro Grass, fala sobre o programa nacional do patrimônio imaterial e convida as pessoas para participar.

“O Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, acabou de lançar o edital do PNPI: o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial no valor de R$ 7,5 milhões. Isso significa dinheiro, orçamento. São recursos que serão aplicados no fomento, na pesquisa, na promoção da cultura imaterial dos saberes, das formas de fazer cultura tradicional em nosso país. Esse valor é muito mais do que aquilo que foi investido nos últimos quatro anos. Estamos falando de uma única ação, ainda temos outras. portanto, quero fazer um convite a todos e todas vocês a nos ajudarem nesta divulgação, na aplicação desse orçamento, que é do povo, e visa justamente fortalecer a cultura popular”.

O Programa Nacional do Patrimônio Imaterial é voltado a iniciativas que utilizem o novo inventário nacional de referências culturais; O guia do inventário nacional de diversidade linguística e estejam inscritas em um dos livros de registro do Iphan.

Para saber mais acesse o site www.gov.br/iphan ou envie mensagem para [email protected].

Esta é uma realização do Ministério da Cultura e Iphan.

Fonte: Brasil 61