Estudo identifica associação entre microbiota intestinal e episódios de delirium em idosos

Entre 8% e 20% dos idosos que por algum motivo precisam ser hospitalizados apresentam episódios de delirium, distúrbio agudo e geralmente reversível da consciência e da cognição. Nesses casos, o indivíduo fica desorientado, com um discurso desconexo e é comum que não reconheça entes queridos. Trata-se de um quadro diferente do delírio – como são popularmente conhecidas as alucinações causadas por doenças mentais – e de um importante sinal de que o cérebro do idoso está em sofrimento.

Em busca de biomarcadores que ajudem a diagnosticar o problema e também de alvos terapêuticos, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) analisaram a microbiota intestinal de 133 pacientes acima de 65 anos internados no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM-USP). Os resultados da pesquisa foram divulgados em The Journals of Gerontology.

“Identificamos que os idosos com uma microbiota menos diversa tinham maiores chances de desenvolver delirium. E que os pacientes que de fato desenvolveram o quadro portavam uma quantidade maior de enterobactérias – microrganismos associados a vias pró-inflamatórias e à modulação de neurotransmissores importantes”, conta Flávia Garcez, primeira autora do artigo. A médica colabora com as atividades de pesquisa do Serviço de Geriatria do HC-FM-USP e recebeu, em 2019, o prêmio NIDUS Junior Investigator Award, que concede financiamento a pesquisas sobre delirium.

O trabalho com os idosos internados no Hospital das Clínicas integra um projeto maior, apoiado pela FAPESP, que investiga marcadores de diagnóstico e prognóstico em pacientes graves atendidos em serviço de emergência.

“A microbiota intestinal tem ganhado atenção nos últimos anos. Ela já foi associada a várias condições, como obesidade, resistência à insulina e doença inflamatória intestinal. Distúrbios na microbiota também têm sido relacionados a doenças neuropsiquiátricas crônicas, como depressão e doença de Alzheimer. No entanto, pouco se sabia ainda sobre a relação entre microbiota e delirium, um distúrbio que, embora seja muito prevalente, ainda está carregado de mistérios”, afirma Heraldo Possolo de Souza, coordenador do estudo apoiado pela FAPESP.

Eixo cérebro-intestino

Segundo Garcez, a associação entre microbiota e delirium já era esperada e o trabalho mostrou que essa relação é possivelmente bidirecional, com um influenciando o outro. “Existe o eixo cérebro-intestino, ligado pelo nervo vago que serve como comunicação bidirecional entre o trato gastrointestinal e o cérebro. Fora isso, estudos anteriores já haviam demonstrado a relação entre microbiota e uma doença-irmã do delirium, o Alzheimer”, afirma a pesquisadora.

No entanto, ela ressalta, o trabalho avançou no entendimento dessa relação. “O interessante nesse estudo é que pudemos avaliar a microbiota de um mesmo indivíduo repetidas vezes, antes e depois de ele ter delirium. Com isso, encontramos que o conjunto de microrganismos no trato intestinal mudava quando o mesmo paciente entrava e saía do delirium”, destaca.

Para a pesquisa, os pesquisadores coletaram dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais ao longo de todo o período de internação. A microbiota intestinal foi analisada a partir de amostras obtidas por swabs retais (uma espécie de cotonete que é passada na região do ânus) logo na admissão e 72 horas após os pacientes darem entrada no hospital. Uma terceira amostra foi coletada assim que o voluntário apresentava delirium. O grupo utilizou o Confusion Assessment Method (CAM) para avaliar, duas vezes ao dia, a presença do distúrbio durante a internação.

Foram excluídos da análise candidatos que, até 24 horas antes da admissão hospitalar, fizeram uso de probióticos, prebióticos ou nutrição artificial, bem como aqueles que apresentavam distúrbios gastrointestinais agudos, traumatismo cranioencefálico grave, histórico de hospitalização recente ou de institucionalização.

Além de analisar a microbiota, o grupo também investigou fatores relacionados à inflamação, como o nível circulante de citocinas – moléculas que sinalizam ao sistema imune a necessidade de enviar mais células de defesa ao local da infecção. No entanto, não foram encontradas diferenças significativas entre os pacientes que tiveram ou não delirium.

“O delirium é a alteração neuropsiquiátrica mais comum em pacientes internados e pode ser definido como o cérebro em sofrimento. Por isso é tão importante avançar na investigação e identificar marcadores. Quando se fala em insuficiência renal, existe o exame de sangue. Para insuficiência respiratória, é possível ver o paciente com falta de ar. Mas para uma insuficiência cerebral, como o delirium, ainda não existe um marcador definitivo”, explica Júlio César Garcia de Alencar, professor do curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP) e coautor do estudo.

Alencar ressalta que pacientes que apresentam delirium têm duas vezes mais chance de morrer. E que os fatores conhecidos de predisposição são: sexo masculino, alteração prévia da consciência ou quadro de demência, desidratação e abuso de álcool e outras drogas. “Além disso, é provável que haja um componente ligado ao estresse que a internação provoca.”

Vale destacar que os fatores de risco para delirium são os mesmos da disbiose, condição clínica caracterizada pelo desequilíbrio entre bactérias benéficas e patogênicas no trato digestivo.

Para Garcez, no entanto, a expectativa é que para o delirium sejam encontrados vários marcadores em vez de apenas um. “Como muitos fatores podem causar esse distúrbio, é possível que existam diferentes gatilhos”, avalia.

O estudo Association Between Gut Microbiota and Delirium in Acutely Ill Older Adults pode ser lido em: https://academic.oup.com/biomedgerontology/advance-article-abstract/doi/10.1093/gerona/glad074/7069112?redirectedFrom=fulltext.

FAPESP anuncia segunda chamada SPRINT de 2023

A FAPESP acaba de lançar a segunda chamada de propostas da modalidade SPRINT – São Paulo Researchers in International Collaboration – de 2023.

O objetivo do edital é promover o engajamento de pesquisadores vinculados a instituições de ensino superior e pesquisa no Estado de São Paulo com parceiros no exterior, para que possam avançar qualitativamente em projetos de pesquisa em andamento e trabalhar cooperativamente em projetos conjuntos de médio e longo prazo.

Serão aceitas propostas envolvendo dois tipos de parceria: com pesquisadores de qualquer instituição de pesquisa estrangeira que comprovem o financiamento das missões por parte de sua própria universidade ou de agência de fomento pela qual tenham projeto contemplado; e com pesquisadores de instituições de pesquisa estrangeiras interessadas que tenham definido condições para recebimento de propostas em colaboração e financiamento das suas equipes em missões científicas nas instituições de pesquisa no Estado de São Paulo.

Podem submeter propostas pesquisadores responsáveis por Auxílios à Pesquisa FAPESP vigentes nas modalidades: Regular (exceto projetos de mobilidade), Projeto Temático, Jovem Pesquisador, Projeto Inicial (Pi), Projeto Geração, Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), Centros de Pesquisa em Engenharia/Centros de Pesquisa Aplicada (CPEs/CPAs), Programa Ensino Público, Programa de Pesquisa em Políticas Públicas e Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE). Pesquisadores principais de Projetos Temáticos, CEPIDs, CPEs, CPAs e PITEs vigentes também são elegíveis para a submissão de propostas.

Caso a proposta submetida à FAPESP tenha mérito, somente poderá ser aprovada se os parceiros apresentarem evidência de que também obtiveram aprovação do adequado financiamento para a sua parte das despesas de colaboração.

O financiamento máximo de contrapartida da FAPESP será equivalente a até US$ 10 mil por ano, para projetos de até no máximo dois anos de duração.

Os recursos deverão ser utilizados em atividades como intercâmbio de pesquisadores, visitas para planejamento de pesquisa, participação em workshops internacionais e atividades iniciais de coleta de dados.

O envio de projetos à FAPESP deverá ser feito exclusivamente por meio do Sistema de Apoio à Gestão (SAGe). A data-limite para o envio de projetos é 30 de outubro.

O edital pode ser acessado em: fapesp.br/sprint/chamada22023.

Livro detalha os benefícios do silício para a nutrição de plantas de relevância agrícola

A importância do silício na nutrição de plantas, particularmente as espécies tropicais, é o foco do livro recém-lançado Benefits of Silicon in the Nutrition of Plants (Springer Nature, 2023), escrito por pesquisadores de diferentes países e editado por Renato de Mello Prado, docente da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp) em Jaboticabal.

Composta por 19 capítulos, a obra apoiada pela FAPESP enfoca os efeitos do silício sobre os nutrientes minerais e, pela primeira vez, traz provas do efeito atenuante da substância sobre deficiências de todos os macronutrientes e alguns dos micronutrientes, como ferro, manganês, zinco e boro.

“O efeito do silício é tratado em condições como salinidade, déficit hídrico e alta temperatura e assume uma importância crescente em relação à ameaça de aquecimento global”, destaca Prado à Agência FAPESP. “O professor Ernest Kirkby, um dos cientistas mais renomados na área de nutrição de plantas e entusiasta do silício, elaborou o prefácio do livro e ressaltou a importância da obra.”

O livro pode ser comprado em formato físico e digital por, respectivamente, US$ 199,99 e US$ 149, pelo site da editora Springer Nature.

Técnica permite usar excedente de paracetamol como matéria-prima para sedativo usado em intubação

Comprimidos de paracetamol estocados em grandes quantidades e até vencidos podem virar insumo para a fabricação de propofol, fármaco utilizado como sedativo durante o processo de intubação em hospitais – o que evitaria sua escassez durante crises sanitárias como a da COVID-19. O procedimento, desenvolvido na Universidade Federal do ABC (UFABC) e publicado na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering, é simples, eficaz, sustentável e pode ser reproduzido pela indústria em larga escala.

Insumo farmacêutico comum e abundante, não é incomum que o paracetamol sobre nos estoques de hospitais e nas prateleiras de farmácias. Quando a data de vencimento chega, o produto é simplesmente descartado.

“O ideal seria que o processo acontecesse por meio da logística reversa: o paciente ou hospital entrega para a farmácia, que devolve para a indústria, responsável pela incineração, inclusive com aproveitamento da energia da queima em alguma outra etapa”, explica Álvaro Takeo Omori, professor de química da UFABC e autor do estudo. “No entanto, sabemos que isso nem sempre ocorre e o paracetamol que entra no mercado é fabricado do zero, com extração de fontes de carbono.”

Por outro lado, há medicamentos que são mais escassos em unidades de saúde, como é o caso daqueles que fazem parte do “kit intubação”. Durante a segunda onda da pandemia de COVID-19 no Brasil, o aumento acelerado de casos diminuiu a disponibilidade do sedativo propofol. Apesar de ser uma molécula simples, sua formulação exige um grau de pureza muito elevado, o que faz com que poucas indústrias farmacêuticas se comprometam a produzi-la, elevando seu custo.

Para evitar o desperdício do primeiro medicamento e a falta do segundo durante emergências, cientistas do Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC (CCNH-UFABC) desenvolveram com apoio da FAPESP um método capaz de unir as duas cadeias de produção em um modelo de economia circular.

“O processo que criamos é um exemplo de reaproveitamento de insumo farmacêutico ativo: é mais ambientalmente benigno porque aproveitamos um fármaco produzido em grande quantidade que já completou seu ciclo de vida e sobrou, sem descartá-lo ou queimá-lo, para suprir outra cadeia de produção”, afirma Omori.

Processo em frasco único

No estudo, o próprio comprimido de paracetamol – independentemente do prazo de validade – foi usado como matéria-prima, sem a necessidade de retirar outros componentes de sua composição para isolar o princípio ativo. Além disso, como todas as etapas foram executadas em meio ácido, foi possível realizar toda a síntese em um único frasco de reação. Essa abordagem, chamada “one-pot”, é mais eficaz e sustentável, evitando etapas de extração e purificação para cada transformação envolvida, trazendo economia de tempo e custo.

Um dos desafios encontrados foi a etapa de purificação, feita no final do processo. A solução encontrada pelos pesquisadores foi uma simples destilação (separação dos componentes). Ao contrário da cromatografia – comumente utilizada em experimentos e estudos realizados em laboratórios de universidades –, é simples e não gera tantos resíduos, o que facilita e permite o escalonamento pela indústria.

“Com esse método, conseguimos chegar a altos níveis de pureza e rendimento de 47%, que é comparável ao de outros trabalhos já publicados na literatura científica”, conta Omori.

Ainda segundo o pesquisador, apesar de já haver relatos na literatura que descrevem estratégias para obtenção de um propofol de pureza adequada para o uso em intubação, partindo de outros reagentes e evitando a formação de mais subprodutos que o processo original, esses métodos são caros e, do ponto de vista ambiental, requerem altas temperaturas e condições energéticas, além de utilizarem solventes tóxicos e gerarem muito resíduos.

Vale destacar que, antes de ser aplicada na prática, a estratégia descrita na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering ainda precisa passar por mais testes para atestar a pureza do produto final.

Também assinam o estudo os pesquisadores da UFABC Leonardo Costa Messina e Carollyny Silva de Espindola.

O artigo Direct One-Pot Synthesis of Propofol from Paracetamol Tablets pode ser lido em: https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acssuschemeng.2c07483.

Anna Bella Geiger: a imaginação como um ato de liberdade

42074-768x1024 Anna Bella Geiger: a imaginação como um ato de liberdadeEm plena atividade aos 91 anos, Anna Bella Geiger foi, e ainda é, um nome referencial da transição do moderno para o contemporâneo nas artes visuais brasileiras. Descendente de uma família que quase desapareceu na Polônia durante as trevas do holocausto, sua arte ajudou a iluminar os anos também trevosos impostos ao Brasil pela ditadura civil-militar (1964-1985).

Com formação em língua e literatura anglo-germânicas, Geiger, nascida no Rio de Janeiro em 1933, iniciou sua trajetória artística na década de 1950, como aluna no ateliê de outra artista excepcional, Fayga Ostrower. Da gravura como linguagem, e do abstracionismo informal como tendência, sua obra passou, ao longo dos anos, por várias mutações, incorporando elementos figurativos e experimentando com vários materiais (madeira, metal, terra etc.) e mídias (cartografia, fotomontagem, xerox, vídeo etc.).

Nessa produção heterogênea e heterodoxa, haveria um fio condutor: o exercício da imaginação como um ato de liberdade. Tal é a ideia central, que inclusive fornece o subtítulo, da tese de doutorado da historiadora e também artista Gabriela Barzaghi de Laurentiis: “Espacializações de Anna Bella Geiger: a imaginação é um ato de liberdade”. Orientada por Vera Maria Pallamin, e desenvolvida com Bolsa de Doutorado da FAPESP, essa pesquisa, apresentada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), está com sua publicação no formato livro prevista para o primeiro semestre do ano que vem, pela editora Sobinfluencia.

 

Porém, já alimentou outras produções, como a Nota Biográfica para o catálogo da exposição “Anna Bella Geiger: Brasil Nativo/Brasil Alienígena”, organizada pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp) em parceria com o Sesc São Paulo. E um documentário em fase de finalização, cujo trailer está disponível em: https://vimeo.com/824896352.

“Comecei a entrevistar Anna Bella Geiger em 2018. E, durante esses anos todos, conversei com ela inúmeras vezes; fiz parte, na condição de estudante, de um curso oferecido por ela; assisti a uma série de palestras e rodas de conversa com a participação dela; acompanhei a confecção e montagem de trabalhos seus; estive em sua companhia em exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. Nossos contatos incluíram conversas informais na cozinha de sua casa-ateliê, visitas que ela fez a minha casa-ateliê, refeições, compras nos mercados, telefonemas, trocas de e-mails e tantas outras formas de interação”, diz De Laurentiis.

Uma imersão dessa ordem transcende, é claro, as bitolas acadêmicas. Mas, para situar o trabalho em um contexto conceitual, é possível dizer que De Laurentiis fez uma leitura do trabalho de Geiger a partir das chaves do feminismo e de uma prática política não subordinada a cânones ideológicos ou a filiações partidárias.

“Minha pesquisa concentrou-se – não apenas, mas principalmente – no trabalho desenvolvido por ela durante o período da ditadura civil-militar, procurando entender o impacto que o regime autoritário teve sobre a subjetividade de uma artista tão livre. Importante ressaltar que a redação da minha tese ocorreu em um momento em que o autoritarismo de Estado, metamorfoseado, se atualizava no Brasil”, afirma De Laurentiis.

A pesquisadora enfatiza o compromisso de Geiger com o enfrentamento das opressões econômicas, sociais e políticas. E coloca sua obra em diálogo, no Brasil, com artistas como Anna Maria Maiolino (n. 1942), Lygia Pape (1927-2004), Lygia Clark (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980), para citar os mais conhecidos. E, no exterior, com Ana Mendieta (1948-1985), Cindy Sherman (n. 1954), Nancy Holt (1938-2014) e Robert Smithson (1938-1973), entre outros.

“Ainda no período de 1965 a 1968, época em que passa a lecionar no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Geiger incorpora à sua gravura uma nova figuração, com as imagens de corpos fragmentados ou fragmentos de corpos que compõem a chamada ‘fase visceral’. Na década de 1970, com a participação de alunos, explora materiais como a terra e a sujeira e experimenta com novas mídias. A partir dos anos 1990, sua obra enfoca, cada vez mais, as formas cartográficas, questionando territórios e fronteiras”, resume De Laurentiis.

A imaginação criadora e os limites impostos à imaginação por meios de produção homogeneizantes, como a televisão; as interdições produzidas pelo autoritarismo, machismo e burocratismo; as relações entre o privado e o público, o pessoal e o político; o imaginário misógino brasileiro: esses são alguns dos subtemas contemplados pelos trabalhos de Geiger que De Laurentiis explora em sua pesquisa.

“No contato com Anna Bella Geiger e suas produções, notei a importância do espaço, ou dos espaços, em sua obra. Daí o termo espacializações, que se refere às ações por meio das quais a artista instaura espaços. As referências ao espaço permeiam o seu vocabulário e os títulos dos trabalhos, que, desse modo, articulam-se, em uma série de camadas, com as teorias e práticas feministas”, argumenta De Laurentiis. E lembra o vocabulário espacial que apoia algumas das principais reflexões críticas do feminismo contemporâneo, como os “saberes localizados” de Donna Haraway; o “lugar de fala”, de Lélia Gonzales e Djamila Ribeiro; e as “margens”, de bell hooks, entre outros exemplos.

Essa construção espacial feminina – se é que se pode dizer assim – estabelece um vínculo com o tema que está sendo explorado agora por De Laurentiis em sua pesquisa de pós-doutorado. Esta trata da mesa – da mesa da casa – como espaço de trabalho de quatro artistas mulheres: Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Carrie Mae Weems e Louise Bourgeois.

“Atualmente, Gabriela realiza, sob minha supervisão, seu pós-doutorado na FAU-USP, com o projeto ‘Imaginários sobre a mesa: histórias áudio/visuais’. Esse projeto dedica-se a cartografar e criar sentidos para o objeto ‘mesa’ em criações artísticas realizadas no Brasil e nos Estados Unidos, entre 1970 e 1990. Sua perspectiva feminista singular investiga a permeabilidade entre os espaços da intimidade e os espaços públicos, no contexto do programa ‘Imaginários Urbanos’, apoiado pela FAPESP em convênio com a Université de Lyon, na França”, informa Artur Simões Rozestraten, pesquisador principal do programa e supervisor de De Laurentiis.

“Na elaboração de sua tese de doutorado, Gabriela aproximou-se de Anna Bella Geiger com a convicção metodológica de que o diálogo com a artista e a aproximação sensível aos seus processos e às suas obras constituíam um caminho incontornável para compreender suas motivações, suas poéticas e suas proposições. Esse procedimento reitera a condição relacional e afetiva como motor, tanto da ação da artista quanto da reflexão da pesquisadora sobre a artista. Gabriela enfatizou a centralidade da natureza espacial na trajetória de Anna Bella. E, a partir de sua tese, ressignificou o habitar em uma perspectiva feminista: o habitar no corpo, na casa, na cidade e no mundo”, acrescenta Rozestraten.

A tese “Espacializações de Anna Bella Geiger: a imaginação é um ato de liberdade” pode ser acessada em: www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/tde-31032023-192002/pt-br.php. E o trailer do documentário pode ser assistido em: https://vimeo.com/824896352.

Doutoranda da Esalq-USP recebe o Prêmio Jovem Bioinformata

A zootecnista Simara Larissa Fanalli, doutoranda pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), recebeu o Prêmio Jovem Bioinformata 2023 pela melhor dissertação apresentada em congresso organizado pela Sociedade Brasileira de Bioinformática e Biologia Computacional.

Concorreram à homenagem teses e dissertações defendidas e aprovadas no período de 1º de maio de 2020 a 31 de maio de 2023. Atualmente bolsista da FAPESP, Fanalli é autora da dissertação “Effect of the addition of different sources of fatty acids in the pig diet on the transcriptomic profile of different tissues” (Efeito da adição de diferentes fontes de ácidos graxos na dieta de suínos sobre o perfil transcriptômico de diferentes tecidos). O reconhecimento ocorreu pelos resultados científicos e tecnológicos já gerados pelo trabalho e pelo potencial de impacto na área de bioinformática.

O trabalho originou cinco artigos científicos publicados em revistas de alto fator de impacto e recebeu apoio por projeto coordenado pela professora Aline Silva Mello Cesar, da Esalq-USP.

“Nesse estudo, nosso objetivo principal foi identificar os genes diferencialmente expressos e os fatores de transcrição em amostras do músculo esquelético e fígado de suínos alimentados com dietas contendo diferentes níveis e fontes de ácidos graxos”, conta Fanalli à Assessoria de Imprensa da Esalq-USP.

Segundo a pesquisadora, o trabalho contribui para o campo de pesquisa da nutrigenômica, que busca elucidar a influência da dieta na saúde animal e humana e impulsionar a tecnologia e a ciência dos alimentos. “Esse prêmio destaca a importância do estudo realizado pelo grupo, liderado pela professora Aline Cesar. O prêmio também oferece uma oportunidade para ampliar a disseminação e a aplicação dos conhecimentos gerados nessa pesquisa em outras áreas relacionadas”, complementa a premiada.

A premiação aconteceu durante o 19º International Congress of the Brazilian Association of Bioinformatics and Computacional Biology, realizado entre 13 e 16 de junho, em Curitiba.

Coalizão verde: união entre Sudam, BNDES, Banco da Amazônia, Petrobras e empresariado local

A Federação das Indústrias do Pará (Fiepa) promoveu um jantar na noite da segunda-feira, 7, no hotel Princesa Louçã, em Belém, em articulação com a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), para mediar um diálogo entre o setor produtivo empresarial local, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco da Amazônia, Petrobras e ministérios do governo federal.
Discursando no evento, a diretora de Mercado de Capitais e Finanças Sustentáveis do BNDES, Natália Dias, afirmou que a equipe do banco estava em Belém para discutir formas de cooperação entre o BNDES e a Sudam para os estados amazônicos e anunciou o novo programa do BNDES para a região, o Coalizão Verde, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e mais 19 bancos que atuam na região amazônica para acelerar a disponibilização de recursos para o desenvolvimento sustentável.
366082968_688378533331288_6548691240462524762_n Coalizão verde: união entre Sudam, BNDES, Banco da Amazônia, Petrobras e empresariado localNatália Dias falou também da linha de crédito de R$ 4,5 bilhões especialmente para pequenas e médias empresas da região. “Estamos aqui para colocar a Amazônia no lugar que ela merece, para cooperar, colaborar e alavancar a capitação de recursos para a região amazônica”. Falou ainda que uma das missões é estipular parcerias que trabalhem na transição para uma economia de baixo carbono.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Plates, também discursou e elogiou a nova Sudam: “Estamos muito satisfeitos de encontrar Paulo Rocha à frente da Sudam, que tem o papel de se regenerar nesse novo ciclo da economia da Amazônia, de se desenvolver de forma sustentável, com energias renováveis. A Sudam tem papel muito importante na gestão dos recursos para a região. A Sudam é uma estrutura já existente, clássica, com poder legal, constitucional, legitimidade para gerir essa transformação”. E falou da satisfação com a reunião: “Estamos muito felizes, como Petrobras, de encontrar esse ambiente de empresariado junto com a Sudam”.
Jean Paul explanou ainda sobre a exploração de petróleo próximo à Linha do Equador, a chamada Margem Equatorial. “Trata-se de um potencial petrolífero e conta com uma série de oportunidades para melhorar a vida de milhares de brasileiros, com respeito ambiental vamos gerar receita para os estados a partir da determinação legal”. E finalizou sua fala parabenizando o superintendente da Sudam: “Paulo Rocha tem grande influência política. É reconhecido nacionalmente e sempre fez a defesa da Amazônia e dos amazônidas”.
O evento reuniu, além de Paulo Rocha, superintendente da Sudam e José Conrado, da Fiepa, quatro ministros de Estado: Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Celso Sabino (Turismo) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). Participaram ainda os diretores da Sudam, Paulo Roberto Ferreira, Jorge Frota e Wilson Ferreira, além do deputado federal do Acre Eduardo Velloso, representantes do Sebrae, Associação Comercial do Pará (ACP), Banco da Amazônia, Fecomércio, entre outras autoridades e lideranças.366157815_688378596664615_4052332733185773644_n Coalizão verde: união entre Sudam, BNDES, Banco da Amazônia, Petrobras e empresariado local
Paulo Rocha falou da satisfação de somar esforços para direcionar o desenvolvimento sustentável de forma coletiva, juntando as forças políticas. “Nosso trabalho é agregar a boa política, com a vocação local, aliada à ciência, tecnologia e os saberes do povo amazônico”. Disse também da dedicação da Sudam em trazer um escritório regional do BNDES para a região.
O ministro do MIDR fez questão de ressaltar o reposicionamento do Brasil no mundo. “O presidente Lula já dialogou com pelo menos 45 líderes, nesses sete meses, e abriu 22 novos mercados mundiais, reposicionando o Brasil no mundo”, comemora Góes. “Vamos aproveitar, o vento está soprando na direção da paz, do bem. Mais pesquisas, mais inovação. E com muita confiança na liderança de Paulo Rocha”, finalizou o ministro.

Lula e presidenta peruana debatem potencial da biodiversidade amazônica

Em encontro no início da noite desta segunda-feira (7/8), em Belém (PA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta do Peru, Dina Boluarte, conversaram sobre o estreitamento das relações bilaterais e a união dos países amazônicos em torno dos interesses comuns da proteção da floresta e melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem na região.

O presidente brasileiro destacou a importância de os países amazônicos, que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), terem posição firme e trabalharem de maneira articulada em torno de um compromisso único, além de incluir nesse grupo outros países com grandes reservas tropicais, como República do Congo, República Democrática do Congo e Indonésia. Os dois países africanos e o asiático são convidados para a Cúpula da Amazônia, que acontece nesta terça e quarta, 8 e 9 de agosto, na capital paraense.

Lula voltou a defender que a Amazônia tenha uma política de desenvolvimento que leve em conta a preservação da floresta e a melhoria das condições de vida das quase 50 milhões de pessoas que vivem na região.

O presidente manifestou interesse em aprofundar relações com o Peru nos campos econômico, político, cultural, educacional e de ciência e tecnologia, defendeu a reativação da Unasul e afirmou que a integração entre os países sul-americanos é fundamental para uma melhor inserção geopolítica global.

A presidenta peruana viaja à Cúpula autorizada pelo Congresso do país e é a única mulher entre os líderes de países amazônicos. Ela apoiou a iniciativa do presidente brasileiro de reativar o diálogo e fortalecer a cooperação entre os países da região e de buscar alternativas para combater a fome e a pobreza e estimular o desenvolvimento sustentável, estudando o potencial da biodiversidade.

Grupo da Unesp recebe prêmio por recurso computacional criado para analisar e classificar asteroides

A nova geração de telescópios deverá proporcionar um aumento explosivo no conhecimento do Universo – tanto dos objetos mais distantes, portanto mais antigos, quanto daqueles que estão relativamente próximos da Terra, no interior do Sistema Solar. Um desses novos observatórios, o Vera C. Rubin, previsto para entrar em funcionamento daqui a um ano, em Cerro Pachón, norte do Chile, a 2.682 metros de altitude, será equipado com um telescópio refletor de 8,4 metros de diâmetro e uma câmera de 3.200 megapixels e seis filtros ópticos diferentes. Com tais recursos, poderá captar imagens de todo o céu visível a cada três ou quatro noites. E deverá operar todas as noites ao longo de pelo menos dez anos. Estima-se que isso possibilite descobrir cerca de 20 bilhões de galáxias e identificar até 2 bilhões de novos objetos dentro do nosso Sistema Solar.

No rol das novas descobertas, prevê-se um enorme acréscimo no número de asteroides conhecidos: sua composição física, movimento orbital e classificação em famílias. Para viabilizar o processamento da descomunal massa de novos dados, pesquisadores do grupo Machine-learning Applied to Small Bodies (MASB), coordenado por Valerio Carruba no Departamento de Matemática da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, desenvolveram recursos de inteligência artificial que permitem encurtar de meses para segundos o tempo de análise e classificação das dinâmicas orbitais de asteroides.

O estudo – intitulado Optimization of artificial neural networks models applied to the identification of images of asteroids’ resonant arguments –, publicado em dezembro do ano passado na revista Celestial Mechanics and Dynamical Astronomy, foi agora premiado na The Eighth International Meeting on Celestial Mechanics (Oitavo Encontro Internacional de Mecânica Celeste), na categoria “Innovative computational methods in dynamical astronomy” (Métodos computacionais inovadores em dinâmica astronômica). A cerimônia de premiação está agendada para 12 de setembro, em Roma (Itália).

“Testamos três redes neurais artificiais distintas para analisar e classificar imagens referentes às dinâmicas orbitais de asteroides. Esse trabalho, que fazíamos antes comparando visualmente as imagens astronômicas colhidas em diferentes datas, levava semanas e até mesmo meses para ser concluído. Com a utilização das novas técnicas computacionais, pudemos realizá-lo em alguns segundos. Além de identificarmos os pontos fracos das três redes investigadas, e elegermos e aperfeiçoarmos a rede adequada, o estudo nos possibilitou descobrir novas famílias jovens de asteroides, nunca antes identificadas”, conta Carruba à Agência FAPESP.

A classificação em famílias considera o formato, o tamanho e a inclinação das órbitas dos asteroides em relação a outro corpo celeste. “No momento da formação de uma família de asteroides, todos os pericentros [pontos no quais as trajetórias mais se aproximam do Sol] e os nodos ascendentes [pontos nos quais as órbitas cruzam, de baixo para cima, um plano de referência] dos integrantes estão alinhados. Mas, com o tempo, esses alinhamentos são perdidos, devido às perturbações gravitacionais produzidas pelos planetas e, até mesmo, por asteroides massivos. Com base nos dados atuais, as técnicas computacionais possibilitam retroceder ao passado, até a época em que os parâmetros estavam alinhados, caso a família tenha se formado nos últimos 7 milhões de anos, aproximadamente. E, assim, caracterizar a família”, explica Carruba.

A colisão de dois asteroides pode levar à fragmentação de um deles ou dos dois, originando uma família com vários objetos. Outro caminho para a formação de uma família é a fissão, que consiste na ejeção de matéria pelo corpo predecessor, seja por ter adquirido uma rotação muito rápida em torno do próprio eixo, seja por ter sofrido colisão.

Os asteroides são relíquias da formação inicial do Sistema Solar, ocorrida há cerca de 4,5 bilhões de anos, e das violentas reconfigurações que aconteceram depois, devido às perturbações gravitacionais produzidas pela formação dos planetas gigantes, especialmente Júpiter e Saturno. Em função dessa dinâmica complexa, existem atualmente duas regiões com grande concentração de corpos menores: o Cinturão Principal de Asteroides, localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter, e o Cinturão de Kuiper, que se estende além da órbita de Netuno.

A partir dos dados de observação disponíveis atualmente, a Nasa (a agência espacial norte-americana) contabilizou 1.298.691 asteroides. Embora esse número já seja muito grande, estima-se que deverá crescer enormemente com as novas imagens do céu que serão colhidas pelo Observatório Vera C. Rubin. Esse nome é uma homenagem a uma das grandes cientistas mulheres que não foram devidamente reconhecidas em sua época. Entre suas várias contribuições à ciência, a astrônoma norte-americana Vera Cooper Rubin (1928-2016) foi pioneira no estudo das curvas de rotação das galáxias espirais. E mostrou que a velocidade de rotação nas regiões externas dessas galáxias é muito maior que aquela que seria produzida por suas estrelas. Tal discrepância é tida como uma das principais evidências da existência de matéria escura.

O estudo em pauta foi parcialmente apoiado pela FAPESP, por meio de Bolsa de Iniciação Científica concedida a Marcos Vinicios Faria Lourenço, orientando de Carruba.

O artigo Optimization of artificial neural networks models applied to the identification of images of asteroids’ resonant arguments pode ser acessado em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10569-022-10110-7.

Obesidade abdominal associada a fraqueza muscular eleva em 85% o risco de morte por doença cardiovascular

Obesidade abdominal e fraqueza muscular, quando associadas, aumentam em 85% o risco de morte por doenças cardiovasculares em pessoas com mais de 50 anos. A constatação é de pesquisadores das universidades de São Carlos (UFSCar) e College London (Reino Unido) que acompanharam durante oito anos 7.030 participantes do English Longitudinal Study of Ageing (Estudo ELSA) com 50 anos ou mais de idade.

“A fraqueza muscular em si aumenta em 62% o risco de morte por doença cardiovascular. No entanto, quando analisamos os dois fatores juntos – obesidade abdominal e fraqueza muscular – observamos que o risco de morte por doença cardiovascular aumenta para 85%. Curiosamente, as pessoas analisadas que tinham apenas gordura abdominal não apresentaram um aumento significativo no risco de morte cardiovascular”, conta Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar e autor do estudo apoiado pela FAPESP.

Um trabalho anterior, que envolveu 6.173 participantes do ELSA e do Estudo SABE (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), realizado em São Paulo, já havia demonstrado que a obesidade abdominal dinapênica (a combinação de obesidade abdominal e fraqueza muscular) aumentava em 37% o risco de mortalidade geral. Da mesma forma, as pessoas analisadas que tinham apenas gordura abdominal não apresentaram um aumento significativo no risco de mortalidade geral. No entanto, ainda não estava estabelecido naquele momento que a obesidade abdominal dinapênica aumentava também especificamente o risco de mortalidade cardiovascular (leia mais em: agencia.fapesp.br/39452/).

Neste novo artigo, divulgado na revista Age and Ageing, os pesquisadores explicam que a obesidade abdominal dinapênica aumenta o risco de morte por doenças cardiovasculares porque a gordura gera uma inflamação crônica. “Já demonstramos que a gordura abdominal é um fator de risco para a fraqueza muscular. Isso porque a gordura prejudica o músculo. Mas ainda não sabemos o que vem antes: a obesidade ou a fraqueza. De qualquer forma, são componentes sinérgicos, pois geram mioesteatose, que é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura dentro da musculatura esquelética. E essa condição amplifica a inflamação, prejudicando o metabolismo do indivíduo e aumentando o risco de doença cardiovascular”, explica Alexandre.

Basicamente, a obesidade mantém o sistema imunológico constantemente em alerta, ativando células de defesa como os macrófagos, mastócitos e linfócitos T. Como resultado, pode ocorrer uma inflamação crônica moderada conhecida como metaiflamação, que acarreta resistência à insulina, inibição da síntese proteica e aumento do catabolismo muscular – quando o corpo passa a obter energia a partir das próprias fibras musculares.

Já a dinapenia e a obesidade abdominal dinapênica podem resultar em maior disfunção da mitocôndria – organela responsável por fornecer energia às células –, bem como o aumento do estresse oxidativo, prejudicando o endotélio vascular e as células do músculo cardíaco responsáveis pelo permanente fluxo sanguíneo (cardiomiócitos), o que pode levar à aterosclerose e outras doenças cardíacas.

“Todos esses fatores prejudicam o metabolismo e aumentam o risco de incidência de doenças cardiovasculares e, por consequência, o risco de morte por essas doenças”, explica Paula Camila Ramírez, autora do artigo que é fruto de seu trabalho de doutorado.

No estudo, o diagnóstico de obesidade abdominal dinapênica foi feito com base na circunferência de cintura maior que 102 centímetros para homens e maior que 88 centímetros para mulheres. Já a fraqueza muscular (dinapenia) foi medida usando como referência a força da mão – menor que 26 quilos para homens e menor que 16 quilos para mulheres –, que é medida por um aparelho chamado dinamômetro.

Paradoxo da obesidade

No estudo, os pesquisadores surpreendentemente não encontraram aumento significativo de risco por morte cardiovascular para os indivíduos que apresentavam apenas obesidade abdominal (e não tinham fraqueza muscular). Os resultados do estudo contribuem para um conceito que vem sendo abordado por especialistas que se chama “paradoxo da obesidade”.

“Sabe-se, e os nossos números comprovam isso, que pessoas obesas têm maior risco de apresentar doenças cardiovasculares e menor risco de morrer por isso. Isso configura o que a literatura tem chamado de ‘paradoxo da obesidade’, algo ainda controverso, mas com explicações bem plausíveis para o nosso achado. Uma das explicações está [na hipótese de] a gordura servir como uma reserva energética muito útil para o paciente com doenças cardíacas. Outro fator é que as pessoas obesas que preservam o músculo, ou seja, que ainda têm massa muscular, têm o metabolismo menos afetado do que as que perdem músculo e força”, explica Ramírez.

“O nosso achado coloca mais um tijolinho na construção do paradoxo da obesidade. Mostramos que a questão não é só a quantidade de gordura, mas sim a quantidade de gordura e a condição desse músculo ser capaz de gerar força. Pois, quando está com gordura infiltrada [mioesteatose], ele já enfraqueceu e isso gera uma tempestade perfeita para o aumento de risco de morte cardiovascular”, afirma Alexandre.

Além de apontar para os maiores fatores de risco para morte por doença cardiovascular, o estudo também serve de alerta. “A obesidade abdominal dinapênica é uma condição completamente reversível que pode ser tratada com treinamento aeróbio, exercício de ganho de força muscular e alimentação adequada”, diz Alexandre.

O artigo Is dynapenic abdominal obesity a risk factor for cardiovascular mortality? A competing risk analysis pode ser lido em: https://academic.oup.com/ageing/article/52/1/afac301/6966518?login=false.

Exercício aeróbico pode ajudar a reduzir dores na face causadas pelo Parkinson

Em pacientes com doença de Parkinson, exercícios aeróbicos podem contribuir para a redução das dores orofaciais, localizadas na cavidade oral e na face. É o que mostra estudo feito no Laboratório de Neuroanatomia Funcional da Dor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em parceria com o Laboratório de Neurociências do Hospital Sírio-Libanês.

O trabalho teve apoio da FAPESP (15/24256-0; 14/24533-0; 17/26821-1; 17/05218-5; e 21/02897-4) e foi divulgado na revista Neurotoxicity Research.

Como explicam os autores, a doença de Parkinson é, além de neurodegenerativa, inflamatória. Os sintomas são divididos em dois grandes grupos: motores, aqueles relacionados a movimentos, como tremores; e não motores, que podem incluir dor, depressão, distúrbios de sono e outros. Segundo Daniel de Oliveira Martins, autor do estudo e pesquisador do ICB, essa última categoria só ganhou maior atenção recentemente. “Antigamente, a dor do paciente com Parkinson era confundida com aquela dor própria da idade avançada, porque a doença possui maior incidência em pessoas acima de 60 anos”, disse o cientista à Assessoria de Imprensa do ICB-USP.

Nos experimentos, os pesquisadores induziram a doença em ratos com uma injeção da 6-hidroxidopamina, substância que causa a perda de neurônios dopaminérgicos, principal característica da enfermidade. Depois, os animais foram colocados para treinar em esteiras de exercício três vezes por semana, durante cinco semanas.

Para medir o comportamento da dor, os pesquisadores utilizaram um método chamado de filamentos de Von Frey. Nele, filamentos de várias espessuras são aplicados na face do animal com diferentes intensidades de força. Quanto menor a espessura dos filamentos que causam desconforto, mais sensível os animais estão à dor. O grupo observou então que, após o tratamento, a expressão dos marcadores relacionados à dor diminuiu, mantendo os roedores com o mesmo comportamento dos animais livres da doença.

Os pesquisadores também testaram nos animais os efeitos da desativação dos receptores canabinoides por meio do uso de fármacos. Essa intervenção contribuiu para que a dor retornasse, desaparecendo novamente com a retomada de exercícios.

“Devido a todos os estudos recentes com Cannabis, resolvemos também testar os receptores de canabinoides nesse modelo. Os resultados mostram uma possível correlação entre os receptores e o mecanismo de dor orofacial no Parkinson, o que pode ser útil para o desenvolvimento de novas terapias”, afirmou a professora do ICB Marucia Chacur, coordenadora do laboratório e coautora da pesquisa.

Benefícios do exercício físico

O estudo é mais um indicativo dos benefícios do exercício físico, reduzindo a necessidade de medicação. A recomendação, contudo, depende da individualidade de cada paciente e dos problemas que o acometem. “A doença de Parkinson possui uma variedade muito grande de sintomas, que se manifestam nos pacientes de maneiras diferentes. Para algumas pessoas, o exercício físico é muito benéfico, mas não é o caso de todos”, explicou Martins.

Chacur aponta que há outros caminhos a serem explorados no futuro. A pesquisa deverá continuar em outras frentes, analisando a dor em outras regiões do corpo e outros mecanismos fisiológicos, não só relacionados ao movimento, como os associados ao calor e ao frio.

“Tem uma parte desse trabalho com enfoque na dor neuropática – causada por danos aos nervos sensitivos do sistema nervoso central ou periférico – nos membros inferiores. É importante, pois o paciente tem dores generalizadas no corpo, muitas vezes justamente pela rigidez nos membros superiores”, disse a professora.

O artigo Exercise Improves Orofacial Pain and Modifies Neuropeptide Expression in a Rat Model of Parkinson’s Disease pode ser lido em: https://link.springer.com/article/10.1007/s12640-023-00651-6.

Nova revolução genômica deve promover salto na área de saúde

A revolução genômica que tem permitido sequenciar o material genético completo de um organismo com menos erros, menor tempo e custo é o tema principal da edição de agosto de Pesquisa FAPESP. A expectativa, segundo o texto, é que a pesquisa na área promova um salto na área da saúde.

Alguns dos avanços relacionados ao diagnóstico de doenças e ao desenvolvimento de tratamentos inovadores são descritos na reportagem “Legados do genoma”.

Ainda na área de saúde, a edição apresenta estudos que buscam desenvolver um imunizante capaz de tratar dependentes de cocaína e reporta o aumento expressivo de novos casos de câncer esperado para as próximas décadas. As projeções mais recentes da Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer da Organização Mundial da Saúde sugerem que o total de novos casos por ano subirá 56%, saltando dos 19 milhões registrados em 2020 para 30 milhões em 2040. As mortes devem passar de 10 milhões para 16,3 milhões. No Brasil, espera-se um aumento de quase 70% nos casos e de 80% nas mortes.

Os entrevistados do mês são o físico curitibano Celso Grebogi (Universidade de Aberdeen, Escócia), que tem buscado criar estratégias para intervir em sistemas complexos como o clima e as redes ecológicas, e a escritora Maria Esther Maciel (Universidade Federal de Minas Gerais), que se dedica à “história literária dos animais”.

Esses e outros conteúdos podem ser acessados gratuitamente em: https://mailchi.mp/fapesp/os-ramos-da-vida.

Estudo descobre propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias em resíduo industrial de inajá e de açaí

Uma pesquisa de doutorado desenvolvida com resíduos de inajá e de açaí, resultantes da prensagem da polpa das frutas para a extração de óleo, revelou que eles são ricos em compostos bioativos com atividade antioxidante e anti-inflamatória. Publicados nas revistas científicas Food Research International e Foods, os resultados do estudo são inéditos, já que esses resíduos ainda não haviam sido investigados cientificamente.

“As atividades agroindustriais geram grande quantidade de resíduos, muitas vezes em volumes superiores ao produto que é comercializado. Uma indústria que processa frutas para extração de óleos e outros compostos ativos veio até nós para que estudássemos os óleos essenciais, a princípio. Conhecendo o processamento, sugerimos investigar os resíduos, visto que possuem maior rendimento do que os respectivos óleos ao final do processo e são comumente descartados e inexplorados”, conta a primeira autora dos artigos, Anna Paula de Souza Silva, que é cientista de alimentos e foi bolsista de doutorado da FAPESP na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

Segundo a pesquisadora, que investiga desde o mestrado o potencial bioativo dos resíduos de açaí e inajá, frutas nativas brasileiras da região amazônica, a literatura já reporta propriedades bioativas muito importantes de diversos outros subprodutos do processamento de alimentos, como hortaliças e frutas, bem como os agrícolas.

“Vimos uma grande oportunidade de estudar esses resíduos de açaí e inajá que, até o presente, não têm uma destinação específica, sendo geralmente descartados no ambiente ou destinados à alimentação animal. Mas, dependendo do processo, da fruta e do seu rendimento em óleo, esse resíduo pode representar de 60% a 90% do volume total de matéria-prima”, revela.

Flavonoides e antocianinas

Geralmente, para a extração dos óleos, frutas como o açaí são maceradas em água quente, as sementes são removidas e a polpa é extraída, seca e prensada. No caso do inajá, o processo se repete, porém, a casca é removida logo no início. O que sobra na prensa é chamado de “torta”. Silva fez uma caracterização inicial desse material e desenvolveu métodos de extração que possibilitaram a produção de um extrato rico em substâncias antioxidantes. Então, usou diversas metodologias para analisar as propriedades dos extratos.

“Para avaliar a capacidade antioxidante geral, submetemos os extratos a uma análise do teor de compostos fenólicos totais e, posteriormente, determinamos o perfil em relação aos compostos bioativos. Para isso, separamos e identificamos diversos compostos por meio de cromatografia líquida de alta eficiência [técnica usada para separar cada um dos componentes de uma mistura] acoplada à espectrometria de massas de alta resolução [técnica de detecção e identificação de moléculas pela mensuração de sua massa e que também possibilita a caracterização da estrutura química]. Os principais compostos identificados no extrato de inajá foram procianidinas e, no de açaí, antocianinas, flavonas e flavonoides. Determinamos pela primeira vez o perfil dos extratos desses resíduos, relativo à presença de compostos fenólicos. E descobrimos que ele é bastante diverso no que tange às demais atividades analisadas, ou seja, anti-inflamatória, antioxidante e antimicrobiana.”

O grupo interdisciplinar que assina o trabalho fez, ainda, análises relacionadas ao sequestro de espécies reativas de oxigênio (ROS) – sendo algumas radicais livres que, quando presentes em excesso no organismo, podem gerar diversos tipos de prejuízo à saúde humana. Esses oxidantes têm efeitos nos alimentos também, por exemplo, diminuindo sua vida útil. “Com teores muito baixos dos extratos, conseguimos diminuir a concentração de algumas espécies reativas em 50%. É um indicativo de que o material tem uma potente ação antioxidante.”

Para analisar a atividade anti-inflamatória, os pesquisadores trataram macrófagos murinos, que são células do sistema imune de camundongos, com os extratos das tortas de açaí e de inajá em diferentes concentrações após o estímulo com um composto bacteriano (lipopolissacarídeo ou LPS) que desencadeia um processo inflamatório. Depois da indução, essas células produzem NF-κB (complexo proteico envolvido na resposta celular a estímulos, como o estresse e a ação de radicais livres) e citocinas como a TNF-α (com ações pró-inflamatórias).

“Avaliamos a inibição do fator NF-κB e os teores de TNF-α em células tratadas com os extratos. O resultado foi bastante animador. Com uma concentração de 100 microgramas de extrato por mililitro de meio de cultura [mcg/ml], conseguimos inibir o fator NF-κB deixando-o praticamente no nível das células usadas como controle, que não foram estimuladas com agentes inflamatórios. Nessa concentração, também conseguimos reduzir drasticamente os níveis de TNF-α nas células tratadas com os extratos, igualmente a um valor que não difere do controle”, resume Silva.

O grupo analisou, ainda, a atividade antimicrobiana do extrato da torta de açaí, selecionando algumas cepas de bactérias e leveduras relacionadas a doenças de origem alimentar e a enfermidades em ambientes hospitalares. “Os resultados indicam uma possível ação antimicrobiana, porém, novos estudos são necessários para detalhar esse potencial”, conta a pesquisadora.

Economia circular

Severino Matias de Alencar, um dos autores do trabalho, afirma que o grupo partiu da identificação da vocação dos resíduos, daí o uso de diversas metodologias de naturezas biológicas e químicas. “Vimos que eles têm vocações antioxidante e anti-inflamatória, indicando um alto potencial de reaproveitamento e contribuindo com a economia circular, que é o que queremos.”

Alencar reitera que os resíduos de açaí e inajá são muito ricos. “Dali só se retirou o óleo, ficou todo o material residual. É um material que pode ser reaproveitado tanto na indústria de alimentos quanto na farmacêutica e cosmética. Aliás, já fomos procurados por algumas empresas, que têm muito interesse, pois não querem usar nada de origem animal em seus produtos.”

Ele lembrou que Anna Paula Silva também simulou a digestão humana desses extratos in vitro, concluindo que eles conservam suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes na fração intestinal, onde seriam absorvidos (dados em processo de publicação).

“Agora, queremos estudar o transporte celular dos compostos da fração intestinal em modelo de células do intestino humano para verificar se os compostos bioativos são absorvidos e se as atividades biológicas são preservadas. E, na sequência, fazer protótipos de alimentos enriquecidos com os extratos estudados”, adianta o pesquisador.

O artigo Inajá oil processing by-product: A novel source of bioactive catechins and procyanidins from a Brazilian native fruit pode ser acessado em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0963996921002520?via%3Dihub.

Já o estudo Phenolic Profile and the Antioxidant, Anti-Inflammatory, and Antimicrobial Properties of Açaí (Euterpe oleracea) Meal: A Prospective Study está disponível em: www.mdpi.com/2304-8158/12/1/86.

Ministério da Saúde amplia telessaúde no SUS beneficiando 3 milhões de brasileiros no Pará e Amazonas

O Ministério da Saúde vai ampliar o acesso à telessaúde em dez municípios dos estados do Pará e Amazonas. A estratégia começa a partir da inauguração da Infovia 01 do Governo Federal – infraestrutura de fibra óptica que levará conectividade para cerca de 3 milhões de brasileiros. Com a nova conexão, será possível expandir os atendimentos para atenção especializada no SUS, como teleconsulta e telediagnóstico para os municípios mais remotos, reduzindo as barreiras geográficas e assegurando o acesso integral à saúde desta população. O anúncio será feito nesta segunda-feira (7) pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, em Santarém (PA).

Para Nísia Trindade, a Infovia é um marco da conectividade com maior velocidade e qualidade a serviço da saúde. “Quando nós falamos de transição digital, falamos, hoje, de inclusão digital, para levar acesso à internet àquelas pessoas que não tem. Com isso, será possível conectar as Unidades Básicas de Saúde da região, fortalecendo, assim, o trabalho da Atenção Primária”, ressaltou.

A Infovia 01 liga Santarém (PA) a Manaus (AM) por meio de 1,1 km de cabo de fibra óptica instalado no leito dos rios amazônicos. Assim, os dez municípios que ficam nessa região poderão ser beneficiados com as novas ações de telessaúde, especialmente para atendimento especializado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). São eles: Curuá, Óbidos, Oriximiná, Juruti e Terra Santa, no Pará; e Parintins, Urucurituba, Itacoatiara e Autazes, no Amazonas. O Ministério da Saúde, em diálogo com esses municípios, trabalha para garantir a estrutura necessária nas unidades de saúde, como a informatização e interoperabilidade de sistemas de informação do SUS. 

A expansão da telessaúde, focada em garantir atendimento especializado nos locais de difícil acesso, é prioridade do Ministério da Saúde. Por meio da consulta de um especialista à distância e com o uso do telediagnóstico, por exemplo, o tratamento dos pacientes será mais resolutivo. Nas regiões dos estados do Amazonas e Pará, o tempo médio de deslocamento para atendimento médico especializado pode chegar a 24 horas de barco e chega a gerar um custo de até R$ 80 mil por trecho quando feito de avião. A expansão da saúde digital é essencial para superar esses desafios geográficos. 

Com a nova conexão, os municípios que já contavam com a internet via satélite terão melhor conectividade a partir de agora, permitindo, por exemplo, o envio de imagens em alta resolução, fundamental para a análise dos exames de pelos especialistas. O município de Urucurituba, no interior do Amazonas, já realizou mais de 50 teleconsultas com a conexão gerada pela Infovia 01 em menos de um mês. É a primeira vez que os cerca de 20 mil habitantes do local têm contato com os atendimentos por telessaúde. 

Navio Hospital Escola Abaré 

Na agenda desta segunda (7), o presidente Lula e a ministra Nísia Trindade visitam o Navio Hospital Escola Abaré, a primeira Unidade Básica de Saúde Fluvial do país. A embarcação, gerida pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com o Ministério da Saúde e municípios do Pará, realiza atendimentos clínicos e odontológicos para comunidades ribeirinhas do rio Tapajós e terá um Ponto de Inclusão Digital (PID) para atendimentos de telessaúde. 

O navio realiza no mínimo 6 expedições por ano, com duração aproximada de 20 dias, atendendo cerca de 20 mil usuários ribeirinhos por ano. São ofertados serviços especializados como exames de ultrassonografia, consultas em pediatria, ginecologia, dermatologia e psiquiatria. 

Parintis conectada 

A cidade de Parintins (AM) foi o primeiro município do país a receber um núcleo de telessaúde, em 2006. Em 2014, o Programa Telessaúde Brasil Redes, responsável pela criação do núcleo amazonense, foi reconhecido como modelo de sucesso pela Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) e considerado exemplo a ser seguido pelos países da região das Américas para levar saúde às áreas de difícil acesso. Hoje, 17 anos depois do primeiro ponto de telessaúde na região, essa ampliação beneficiará pelo menos 2,8 milhões de pessoas, e proporcionará benefícios às populações ribeirinhas, aos povos originários e a residentes em geral de áreas rurais remotas da região, que enfrentam desafios geográficos e financeiros em busca do atendimento de saúde. 

Expansão da telessaúde 

A Telessaúde tem como finalidade a expansão e melhoria da rede de serviços de saúde, sobretudo da Atenção Primária à Saúde (APS), reduzir tempo de espera para atendimentos ou diagnósticos especializados evitar os deslocamentos desnecessários de pacientes e profissionais de saúde. Entre os serviços oferecidos estão a teleconsulta, teleinterconsulta, teletriagem, teleconsultoria, telediagnóstico, telemonitoramento, telerregulação e teleducação. Da criação do programa em 2006 até 2016, o Brasil chegou a ter 64 núcleos de telessaúde no país, em todos os estados. 

Após a falta de investimento e de gestão do último governo, vários foram fechados e esse número caiu para 13 núcleos em 12 estados. Neste ano, dos mais de 950 mil telediagnósticos previstos para serem feitos neste ano, já foi atingido o percentual de 78,4%, o que representa 616.893 diagnósticos. 

Programa Norte Conectado

A Infovia 01 faz parte do programa Norte Conectado e está ligando Santarém (PA) a Manaus (AM) por meio de 1,1 km de cabo de fibra óptica implantado no leito dos rios amazônicos. Esta Infovia também leva conectividade para as cidades de Curuá, Óbidos, Oriximiná, Juruti e Terra Santa, no Pará; e Parintins, Urucurituba, Itacoatiara e Autazes, no Amazonas. O Programa conta, no total, com oito infovias que irão atender 59 municípios nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. 

Fortalecimento do SUS no Amazonas e Pará

Uma das estratégias do governo federal para fortalecer o SUS é a ampliação do Mais Médicos. O programa foi reforçado com criação de 15 mil novas vagas. Mais de 3,6 mil profissionais já começaram a atuar este ano em 2 mil municípios. No Amazonas, 174 médicos selecionados no primeiro edital de 2023 já estão em atividade. Já no Pará, 291 médicos selecionados no primeiro edital já estão atuando. 

O Ministério da Saúde também destinou mais de R$ 4 milhões para o estado amazonense para as ações de redução de filas para cirurgias eletivas e outros R$ 8 millhões para os paraenses. Nos dois estados também foram investidos recursos para ações de microplanejamento de vacinação, com antecipação de ações no Amazonas. O Ministério da Saúde também ampliou a assistência farmacêutica nos dois estados. No Amazonas, pelo menos 51 novos municípios foram habilitados com o programa, totalizando 62 cidades com credenciamento de farmácias. No Pará, 71 novos municípios poderão ser atendidos com o programa. 

Anielle Franco anuncia criação de Comitê de Monitoramento da Amazônia Negra e Enfrentamento ao Racismo Ambiental

Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, anunciou a criação do comitê de monitoramento da Amazônia Negra e Combate ao Racismo Ambiental neste domingo (6), em Belém.

A instância será criada em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e terá a finalidade de propor medidas de enfrentamento ao Racismo Ambiental na Amazônia Legal, para reduzir o racismo ambiental na região.

“Colocar nossos povos tradicionais, comunidades quilombolas, povos de terreiro no protagonismo da proteção da Amazônia é dever não só do governo brasileiro, mas do mundo”, disse Anielle.

O comitê irá, também, contribuir com a ampliação dos órgãos de promoção da igualdade racial nos municípios e estados da Amazônia Legal, para que as políticas de igualdade racial cheguem de maneira efetiva ao maior número possível de estados e municípios.

A plenária reuniu mais de mil pessoas e teve representantes do Brasil, Equador, Colômbia e Venezuela pautando o combate ao racismo ambiental como central para a política ambiental mundial.

Participaram da mesa Nilma Bentes, do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará; Luz Estella Cortés Churta – Organização Distrital Oswaldo Guayasamin Comuneros, da Colômbia; David Quiñónez Ayoví – Congreso Unitário del Pueblo Afroecuatoriano/Union del Pueblo Afroecuatoriano, do Equador e Eslin Enrique Mata Landaeta – Cumbre Nacional Afrovenezolano, da Venezuela

Hidrogênio verde é peça fundamental para neutralizar emissões de carbono

Considerado o combustível do futuro, por sua baixa emissão de carbono, o Hidrogênio Verde é uma peça-chave para que se alcance a neutralidade climática até 2050. Pensando nisso, o Congresso Brasileiro de Geração de Energia Renovável – Ecoenergy terá o painel “Oportunidades e desafios no desenvolvimento de projetos integrados de energia renovável e hidrogênio” no dia 22 de setembro, às 16h30.

O simpósio que encerra os três dias de Congresso no WTC Events Center, em São Paulo, apresentará considerações sobre desenvolvimento de projetos, além de analisar o mercado e o cenário político-global. “Para atingir a neutralidade climática até 2050, meta que é adotada por diversos países, será preciso de diversas soluções que reduzam as emissões de carbono e uma delas seria o hidrogênio”, explica Luana Gaspar, Head de descarbonização e ESG da PSR Energy Consulting, que será uma das participantes do painel.

Obtido através da eletrólise da água, utilizando apenas fontes renováveis, o hidrogênio verde pode ser utilizado na aviação, no transporte marítimo e no transporte de longa distância com caminhões. Na aviação e navegação, se pensa principalmente em seu uso a partir de combustíveis derivados. Além disso, também é aplicável na indústria, como na produção de aço, fertilizantes e plásticos.
“O grande entrave da produção de hidrogênio verde, é o custo de quase quatro vezes mais do que o hidrogênio cinza, que é produzido a partir do gás natural. Para aumentar sua produção, o Brasil precisa encontrar consumidores dispostos a pagar esse valor adicional. Com a Europa querendo atingir sua meta de importação de 10 milhões de toneladas até 2030, pode ser que surjam modelos de incentivo europeus para projetos de produção externa, permitindo em alguns casos a formação de contratos de longo prazo para a compra desse hidrogênio”, completa Luana Gaspar.

Brasil em alta

Apesar de fatores financeiros serem entraves, o Brasil tem muita capacidade de se tornar um exportador de hidrogênio no médio ou longo prazo, desde que haja uma redução no custo. Desta maneira, o negócio passará a ser escalável, ficando mais barato até chegar o momento de paridade com o hidrogênio cinza.

“Temos condições plenas de produzir em escala um hidrogênio verde barato, dado o alto nível de renováveis em nossa matriz e a ampla capacidade de expansão das tecnologias de geração renovável. No curto prazo, esse hidrogênio seria destinado para exportação, mas no longo prazo, com a redução de seu custo e a possível adoção de políticas governamentais para reduzir as emissões brasileiras, poderá haver espaço também para seu uso no mercado doméstico. Por fim, ainda vejo potencial do hidrogênio verde ser usado como um building block, ou seja, uma matéria-prima para outros produtos verdes de maior valor agregado”, destaca a especialista.

Para encerrar, Luana Gaspar aponta que um exemplo disto é a aplicação do hidrogênio verde na fabricação de fertilizantes, ao invés de se produzir com hidrogênio a partir do gás natural. A Unigel e a Yara já anunciaram projetos de produção de amônia verde, um sendo produzido a partir da eletrólise e o outro a partir de biometano.

Serviço

Congresso Ecoenergy 2023
Data: 20 a 22 de setembro
Local: World Trade Center Events Center
Endereço: Avenida das Nações Unidas, 12.551, Brooklin Novo, São Paulo, Brasil
Inscrições: https://congressoecoenergy.com.br/
Mais informações através do e-mail [email protected] ou dos telefones: (11) 5585-4355 e (11) 3159-1010.

Modelos agroflorestais têm potencial para preservar e recuperar áreas produtivas na Amazônia

Participantes da segunda plenária-síntese dos Diálogos Amazônicos, orientada ao debate sobre saúde, soberania e segurança alimentar e nutricional na região, os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome) apontaram a adoção de sistemas agroflorestais (SAFs) como modelo alternativo para a produção sustentável e redução do desmatamento no território.

“Juntos com o MDS e o Ministério de Meio Ambiente, nós queremos oferecer programas de agroflorestas — florestas produtivas — que você possa recuperar e restaurar parte do que foi destruído ao longo desses anos, com produção que vai dar rentabilidade, para a agricultura familiar e mais desenvolvimento, a partir da articulação de políticas públicas”, adiantou Teixeira, destacando parceria estratégica entre as pastas para promover a conciliação da produção de alimentos com o desenvolvimento e as contribuições para o clima que a Amazônia pode dar.

Os SAFs são modelos produtivos que combinam o plantio de árvores com cultivos agrícolas (ou criação de animais) e são considerados adequados para a Amazônia, porque conciliam a agricultura com a conservação dos recursos naturais. São exemplos de agroflorestas na região os consórcios de mogno com pimenta-do-reino, as florestas plantadas de paricá em sistema silvipastoril, bem como os consórcios silvipastoris de eucalipto com pasto e os SAFs em área de várzea.

De acordo com Teixeira, o Brasil chegará à COP 30, em 2025, não com promessas, mas com entregas efetivas das ações que já estão sendo adotadas pelo Governo Federal. O titular do Desenvolvimento Agrário detalhou algumas dessas medidas e citou programas que anteriormente não chegavam à região Norte, mas que passaram a ser direcionados para os territórios.

O ministro citou o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que não abrangia a região e agora já é realidade para os estados da Amazônia Legal. “Estamos comprando agora de comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos até porque a cultura alimentar é o que eles produzem”.

d02e7f28-bf9e-455e-929d-1007e9b06eed Modelos agroflorestais têm potencial para preservar e recuperar áreas produtivas na Amazônia
Foto: Audiovisual/PR

Não haverá desmatamento na agricultura familiar. Por isso, o crédito vai para práticas sustentáveis. Quem quiser fazer florestas produtivas com açaí, cacau, castanha, café terá juros menores para essa produção de natureza sustentável
PAULO TEIXEIRA
Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar

CRÉDITO PARA AGRICULTURA FAMILIAR — O Plano Safra também está sendo modelado para a região com o intuito de estimular o investimento em florestas produtivas, tendo em vista a sociobiodiversidade, pensando na preservação ambiental em conjunto com a melhoria de vida das cerca de 30 milhões de pessoas que vivem na região.

“Não haverá desmatamento na agricultura familiar. Por isso, o crédito vai para práticas sustentáveis. Quem quiser fazer florestas produtivas com açaí, cacau, castanha, café terá juros menores para essa produção de natureza sustentável. Isso é, vamos acabar com o desmatamento e restaurar essas áreas com agroflorestas. Esse é o centro da nossa estratégia”, reforçou o ministro, acrescentando que o financiamento será associado a um programa de assistência técnica e extensão rural, e regularização fundiária da terra. “Vai garantir em médio e longo prazo maior sustentabilidade das práticas agrícolas”, acrescentou.

ASSISTÊNCIA TÉCNICA — O ministro Wellington Dias destacou os juros diferenciados para as práticas sustentáveis, com juros de 0,5% para mulheres, pelo Pronaf B, e desconto de 40% para pagamento em dia. Ele apontou a fiscalização como um ponto importante desse processo e ressaltou que a assistência técnica é também uma estratégia importante para verificar se os objetivos estão sendo cumpridos.

Os dois ministros ressaltaram a importância de os povos da Amazônia estarem sendo ouvidos no processo de definição de seus futuros. “Essa cúpula vai ser muito importante porque a máxima é: ‘nada sobre nós sem nós’. Por isso o diálogo com todos os atores da Amazônia, para que participem do desenho desse processo de desenvolvimento”, frisou Teixeira. “O Brasil está ouvindo quem mora na Amazônia, não só na Amazônia brasileira porque o que acontece nos outros países interessa — e devemos prestar contas uns aos outros, e ao mundo”, completou Dias.

Brasil vai transferir tecnologia de monitoramento para países amazônicos, anuncia ministra Luciana Santos

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou neste sábado (5/8), em Belém (PA), que o Brasil vai transferir tecnologia de monitoramento por satélite para os países da Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia (OTCA). Durante entrevista no Diálogos Amazônicos, ela explicou que a cooperação científica inclui a capacitação de pesquisadores e especialistas dos países da Amazônia para a implementação de programas de monitoramento do bioma em seus territórios. A capacitação será feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), unidade de pesquisa do MCTI, que monitora o desmatamento da floresta através de imagens de satélite de observação da Terra.

“Todos sabem que o Inpe é referência global no monitoramento dos biomas brasileiros, em especial, da Amazônia. É essa competência que nos coloca como potência científica na América Latina e como importante elo na construção das relações internacionais do Brasil”, disse a ministra.

Luciana Santos acrescentou que o MCTI também quer incluir os países da OTCA na rede de modelagem climática liderada pelo Inpe e que envolve diversos órgãos federais. Com essa ampliação, os países amazônicos terão acesso, de forma rotineira, às previsões numéricas geradas pelo Inpe em diversas escalas. Além disso, com esse sistema, os países poderão alcançar o estado-da-arte em previsão da atmosfera e oceanos.

“O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é a favor da ciência aberta e da transferência de tecnologia entre os países para ampliar o acesso da população aos benefícios da ciência e melhor a vida das pessoas”, defendeu a ministra.

Infovia 01 irá beneficiar 3 milhões de brasileiros na Região Norte com internet de altíssima velocidade

O Governo Federal está promovendo a inclusão digital, com internet de qualidade, a 10 milhões de brasileiros que vivem na Região Amazônica. Nesta segunda-feira (7), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, inauguram a Infovia 01, em Santarém (PA). O trecho vai beneficiar 3 milhões de pessoas com internet banda larga, em 11 municípios entre Santarém (PA) e Manaus (AM).

“Estamos investindo em conectividade para que todos os brasileiros e brasileiras possam ter internet de qualidade no seu celular e na sua casa. Esse investimento reflete também na assistência social e na saúde, porque levaremos internet de alta velocidade para equipamentos públicos, a exemplo de postos de saúde, melhorando o acesso dos profissionais e dos usuários a prontuários e exames. O Brasil voltou a ter futuro! E isso é apenas o começo!”, destaca o presidente Lula.

Por meio de um cabo de fibra óptica implantado no leito dos rios amazônicos que possui 1,1 quilômetro de extensão, a Infovia 01 leva conectividade para as cidades de Curuá, Óbidos, Oriximiná, Juruti e Terra Santa, no Pará; e Parintins, Urucurituba, Itacoatiara e Autazes, no Amazonas. Cada uma delas terá uma rede metropolitana própria, que vai levar internet às escolas públicas, unidades de saúde e segurança e demais equipamentos públicos.

“Temos o compromisso de prover conectividade universal para todos dentro dos próximos anos e estamos fazendo investimentos expressivos com enorme progresso em relação a essa meta. Os recursos disponibilizados para o Norte Conectado giram em torno de R$ 1,3 bilhão. Já entregamos duas Infovias e outras seis estão em andamento. Toda essa estrutura irá mudar a realidade das pessoas que vivem na região Norte do país”, explica Juscelino Filho.

NORTE CONECTADO – Após um intenso estudo de impacto ambiental, foi constatado que os cabos de fibra óptica deveriam ser submersos, implementados nos leitos dos rios da Região Amazônica. Dessa forma, 68 milhões de árvores da Região estão sendo preservadas, já que não será uma rede típica de telecomunicações, enterrada ou posteada.

No total, o Programa Norte Conectado irá disponibilizar oito Infovias com cabos compostos por 24 pares de fibra óptica. Cada par possui capacidade de até 20Tb por segundo, ou seja, pode transmitir simultaneamente o equivalente a 200 mil vídeos de streaming em HD com altíssima qualidade. Além disso, os cabos foram feitos para durarem pelos menos 25 anos submersos nos rios.

Toda essa estrutura irá beneficiar cerca de 10 milhões de brasileiros em 59 municípios dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Cada um dos municípios terá um Data Center Modular onde os pares de fibra estarão disponíveis para o uso.

ESTRUTURA – A Infovia 00 foi a primeira a ser entregue e já está em operação. Ela liga Macapá (AP) a Alenquer (PA) por meio de 800 quilômetros de extensão, beneficiando também os municípios paraenses de Almeirim, Monte Alegre e Santarém. A conexão banda larga já chegou a 50 escolas públicas, sendo 10 escolas em cada uma das cidades conectadas pela Infovia.

As próximas Infovias a serem entregues são a 02, 03 e 04. O trecho da Infovia 02 possui 1.206 km de extensão interligando as cidades amazonenses de Tefé e Atalaia do Norte. Pelo caminho, os municípios de Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Jutaí, Tonantins, Santo Antônio do Içá, Amaturá, São Paulo de Olivença, Tabatinga, Benjamin Constant, todos localizados no Estado do Amazonas, também serão beneficiados.

A Infovia 03, com 624 quilômetros de extensão, interligará Macapá (AP) a Belém (PA), passando pelo municípios de Ponta de Pedra, São Sebastião da Boa Vista, Curralinho, Bagre, Breves, e Afuá, todos no estado do Pará. Já a Infovia 04 irá beneficiar a população que vive entre as cidades de Vila de Moura (AM) e Boa Vista (RR). Serão 515 quilômetros de cabo conectando os municípios de Santa Maria do Boiaçu, Caracaraí, Iracema e Mucajaí, localizados no estado de Roraima.

CAPACITAÇÃO – A agenda de inauguração da Infovia 01 conta ainda com uma visita ao Navio Hospital Escola Abaré, atracado no campus da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). A embarcação possui estrutura para atendimento clínico e odontológico de comunidades ribeirinhas do rio Tapajós. Para promover a capacitação digital dos moradores dessas comunidades, o Ministério das Comunicações (MCom) montou um Ponto de Inclusão Digital (PID) com 5 computadores recondicionados pelos CRCs de Belém e Manaus.

Pesquisadora cria adesivo sustentável à base de semente de mamona

Uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, produziu uma cola sustentável à base de óleo de mamona. O produto também pode ser utilizado para impermeabilização de madeiras de reflorestamento. Conhecido como poliuretano, o adesivo/impermeabilizante é resultado da busca por produtos de baixo impacto ambiental e processos industrialmente menos sofisticados. O estudo foi conduzido num laboratório piloto que foi, no início da pesquisa, equipado com um extrator idealizado no próprio laboratório e fabricado por uma empresa parceira. Com esse equipamento foi otimizado o processo de extração de óleo de qualquer lote de sementes de mamona.

A pesquisa de Aline Maria Faria Cerchiari foi apresentada para obtenção do título de doutora em Ciências, pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da Esalq, e teve orientação do professor José Nivaldo Garcia. “O objetivo foi produzir o adesivo de maneira simplificada. Extraímos o óleo da semente em prensa mecânica no laboratório e não utilizamos processos químicos. A grande vantagem foi não precisar comprar o óleo comercial, que é o maior componente na fabricação da cola”, diz a pesquisadora.

O produto pode ser utilizado como adesivo na fabricação de vigas de Madeira Lamelada Colada (MLC) e também para atuar contra ação negativa da variação do teor de umidade da madeira, quando utilizado como impermeabilizante. “Adicionamos aditivos naturais para melhorar a resistência da cola, mas, mesmo sem os aditivos, os resultados foram satisfatórios”, falou a autora. Na função de impermeabilizar as madeiras, as amostras ficaram até 11 dias submersas em água para teste de absorção. A cola mostrou-se eficaz com apenas uma camada de aplicação para madeiras de menores densidades.

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O produto pode ser utilizado como adesivo na fabricação de vigas de Madeira Lamelada Colada (MLC) e também para atuar contra ação negativa da variação do teor de umidade da madeira, quando utilizado como impermeabilizante – Foto: Ulrike Mai via Pixabay

Adesivos modificados e produzidos a partir de recursos renováveis não poluentes e biodegradáveis têm aberto novas perspectivas no desenvolvimento de alternativas em comparação aos adesivos utilizados tradicionalmente para a produção de MLC. Os poliuretanos de óleo da mamona possuem propriedades térmicas e mecânicas comparáveis ou até superiores às dos poliuretanos tradicionais. “Durante os testes, nós usamos três espécies de madeira, uma como referência e outras duas que ainda não são utilizadas no mercado de engenharia da madeira.”

Produção de baixo impacto ambiental

O estudo classificou morfologicamente as sementes selvagens e não selvagens de mamona, assim como verificou a influência do tempo de prensagem e o efeito de aditivos no próprio processo ou na resistência das juntas coladas. “Classificamos de acordo com o peso, tamanho, cor, rendimento em óleo, entre outros, de acordo com um boletim da Embrapa. Como não conhecíamos as variedades disponíveis para a pesquisa, criamos uma forma de suporte para especificar os tipos de sementes usadas na extração do óleo.”

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As sementes de mamona foram classificadas de acordo com o peso, tamanho, cor, rendimento em óleo, entre outros – Foto: Domínio público via Wikimedia Commons

Aline observou que as sementes selvagens da região são menores que aquelas de outras variedades, que são plantadas, e também diferem das sementes de uma variedade comercial, que passou por melhoramento genético convencional, produzida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), de variedades conhecidas, que são selecionadas e tratadas de maneira diferente. A produção foi realizada com sementes selvagens de mamona coletadas em Piracicaba e na própria Esalq. “Coletamos os cachos, colocamos em um deck projetado para secagem ao ar e deixamos em torno de 15 dias de exposição ao sol. Por volta desse tempo de secagem, os frutos explodem literalmente, mas o deck é adaptado para reter as sementes ejetadas.”

Foram testados 15 tipos de aditivos na formulação do poliuretano e os aditivos com fibras, resina goma-laca e glicerina foram selecionados para serem utilizados em óleos extraídos em laboratório. Foi possível produzir poliuretano de mamona, a partir de sementes selvagens e da variedade Guarani com os respectivos óleos extraídos no laboratório, sem precisar utilizar aditivos para duas das três espécies de madeira estudadas. “Na função de impermeabilizante do adesivo com aditivos, foram necessárias no mínimo duas demãos para melhor eficácia dos produtos em duas das espécies e, na outra, a aplicação de somente uma camada do produto foi suficiente para o sucesso do ensaio”, explica.

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Os cachos coletados foram colocados em um deck projetado para secagem e extração das sementes – Foto: Onjacktallcuca via Wikimedia Commons

O objetivo de produzir o adesivo a partir de um processo simplificado, sem precisar comprar o óleo, foi alcançado. “Não se sabe como são produzidos os óleos de mamona comercial e isso leva a uma natural rejeição por desconfiança quanto ao uso de algum produto químico de extração/purificação e quanto a um possível impacto ambiental do processo de produção. No nosso caso, a única alteração que fizemos foi retirar a água da semente, porque já tínhamos verificado em alguns testes que o processo não dava certo, pois o adesivo criava uma espuma que não servia para a finalidade do produto. Nosso foco foi fazer todo o processo, da produção do óleo à produção do adesivo e chegar ao produto final direcionado para uso em estrutura de madeira”, conclui. O trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).