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A polêmica suspensão da Moratória da Soja antes da COP30

Em uma reviravolta que acende um sinal de alerta para o futuro da Amazônia, a Moratória da Soja, um dos pilares da conservação florestal nas últimas duas décadas, foi suspensa. A decisão, tomada pela superintendência-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), marca um retrocesso significativo na luta contra o desmatamento no Brasil, a poucos meses da COP30, evento que colocará o bioma no centro das discussões globais.

A suspensão do acordo, em vigor desde 2006, é vista como um revés para o país e para o planeta. A Moratória proibia a comercialização de soja cultivada em áreas desmatadas na Amazônia após 2008. Foi um pacto entre empresas exportadoras e a sociedade civil, que se tornou uma ferramenta crucial para desassociar a produção agrícola da destruição da floresta. Ao longo de quase 20 anos, o acordo provou ser um modelo de sucesso, mostrando que é possível conciliar o crescimento econômico com a preservação ambiental.

Os números não deixam margem para dúvidas. Enquanto o desmatamento nos municípios monitorados pelo acordo caiu 69% entre 2009 e 2022, a área plantada com soja no bioma Amazônia disparou, com um crescimento de 344% no mesmo período. O Brasil, nesse intervalo, consolidou sua posição como o maior exportador global de soja, respondendo por mais de um terço da produção mundial. Esses dados desmentem a narrativa de que a Moratória seria um entrave ao desenvolvimento do agronegócio. Pelo contrário, ela fortaleceu a imagem do país no mercado internacional, garantindo acesso a consumidores cada vez mais exigentes em relação à origem dos produtos.

A decisão do CADE de suspender o acordo, alegando possível prática anticompetitiva, ignora não apenas a eficácia da Moratória, mas também o seu papel fundamental na construção de uma cadeia de produção mais responsável. Ao silenciar o direito do consumidor de escolher produtos que não contribuem para a devastação, a medida não apenas estimula o desmatamento, mas também força os mercados a aceitarem soja de origem questionável. A decisão cria um precedente perigoso, desestimulando outras iniciativas voluntárias que buscam ir além da legislação vigente para reduzir o impacto da agricultura no meio ambiente.

imagem_materia-senado-400x265 A polêmica suspensão da Moratória da Soja antes da COP30
Votação pela suspensão da moratória por: Jefferson Rudy/Agência Senado

A pressão pela decisão

Para Cristiane Mazzetti, coordenadora de florestas do Greenpeace Brasil, a suspensão é um “tiro no pé”. A menos de três meses da COP30, o Brasil arrisca sua credibilidade internacional e enterra qualquer chance de cumprir suas metas climáticas. O fim da Moratória da Soja abriria caminho para que a commodity voltasse a ser um dos principais motores do desmatamento na Amazônia, uma ameaça que havia sido significativamente mitigada pelo acordo.

A suspensão do acordo é o resultado de uma campanha de pressão de setores do agronegócio e seus aliados políticos, que buscam enfraquecer leis e regulações ambientais. Estados como Mato Grosso, Rondônia e Maranhão já haviam aprovado leis que restringem incentivos fiscais para empresas com compromissos voluntários de proteção ambiental mais ambiciosos do que o mínimo legal. A abertura de uma investigação pelo CADE, apurando se a Moratória configura uma prática anticompetitiva, foi o passo que levou à suspensão preventiva.

A Moratória da Soja não surgiu do nada. Foi uma resposta a uma forte campanha do Greenpeace, em 2006, que expôs o papel da expansão da soja no desmatamento da Amazônia. O acordo inicial entre grandes exportadoras de soja, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), foi fortalecido em 2008 com a adesão do governo brasileiro. A parceria entre indústria, ONGs e governo provou ser eficaz para eliminar o desmatamento da cadeia de fornecimento. Em 2016, a Moratória foi renovada por tempo indeterminado, consolidando seu status de modelo para a conservação.

Diante do cenário atual, o Greenpeace Brasil manifesta a esperança de que a decisão do CADE seja revista. O apelo é para que a Moratória seja retomada e que acordos multissetoriais com a mesma ambição sejam criados, reforçando o compromisso de todos os setores com a responsabilidade socioambiental. O caminho do desenvolvimento não precisa passar pela destruição da natureza. A experiência da Moratória da Soja demonstra que é possível construir um futuro em que a produção agrícola e a conservação florestal andem de mãos dadas, garantindo prosperidade econômica e um planeta mais saudável para as futuras gerações.
veja também: Um veto à sustentabilidade? A preocupação do MMA com a moratória da Soja

Bill Gates, na luta contra o Alzheimer, conta com a Inteligência artificial como nova aliada.

Em um movimento audacioso para acelerar o progresso na luta contra o Alzheimer, Bill Gates lançou um desafio de um milhão de dólares, convocando inovadores globais a usar o poder da inteligência artificial para enfrentar a crescente crise de demência. A competição, que não é o primeiro investimento de Gates na área, reforça a urgência de encontrar soluções para uma doença que afeta mais de sete milhões de americanos e cujo número de casos deve aumentar significativamente com o envelhecimento da população.

A iniciativa, batizada de “Alzheimer’s Insights A.I. Prize”, foi revelada pela Alzheimer’s Disease Data Initiative (AD Data Initiative), um grupo que Gates ajudou a fundar em 2020. O objetivo é premiar uma equipe que use Inteligência Artificial Agêntica, um tipo de IA capaz de operar de forma autônoma, para desenvolver ferramentas inovadoras. Essas ferramentas, uma vez criadas, serão disponibilizadas ao público na plataforma de pesquisa online da iniciativa, garantindo que o conhecimento gerado beneficie toda a comunidade científica.

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Alzheimer – Imagem divulgação UFRJ

A Lógica por Trás do Desafio

A decisão de Gates de focar em inteligência artificial não é arbitrária. O Alzheimer é uma doença de complexidade notável, com múltiplos fatores e intrincadas vias biológicas que há muito tempo desafiam os pesquisadores. A inteligência artificial agêntica, com sua capacidade de processar vastas quantidades de dados e identificar padrões sutis que poderiam escapar à análise humana, é vista como a ferramenta ideal para desvendar esses mistérios.

A abordagem vai além da simples análise de dados. Gregory Moore, consultor sênior da Gates Ventures, o braço de investimentos pessoais de Bill Gates, destaca que a inteligência artificial pode transformar a natureza da pesquisa, mudando-a de reativa para preditiva. Isso significa que, em vez de apenas reagir aos sintomas, a IA pode ajudar a identificar biomarcadores precoces da doença, otimizar o desenho de ensaios clínicos e até mesmo descobrir novas oportunidades para a criação ou reaproveitamento de medicamentos.

Para Gates, o compromisso é profundamente pessoal. Ele co-fundou a AD Data Initiative poucos meses após a morte de seu pai por causa da doença. Sua jornada pessoal de luto e seu desejo de evitar que outros passem por essa mesma experiência alimentam sua dedicação à causa. Embora sua fundação de caridade tenha investido bilhões em saúde pública, o trabalho em Alzheimer tem sido financiado em grande parte com sua fortuna pessoal. Doações anteriores incluem um presente de cinquenta milhões de dólares para apoiar novos tratamentos, outros cinquenta milhões para ensaios clínicos e detecção precoce e trinta milhões para melhorar os diagnósticos. O prêmio de um milhão de dólares, embora uma fração de seus investimentos passados, é um convite estratégico e público para que mentes brilhantes de todo o mundo se juntem à missão.

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Foto Divulgação

O Cenário da Competição e os Próximos Passos

O concurso está aberto para uma ampla gama de especialistas, desde engenheiros de IA e aprendizado de máquina até especialistas em biomedicina computacional, empresas de tecnologia, clínicos e pesquisadores de Alzheimer. Essa diversidade de talentos é crucial, pois a solução para o Alzheimer pode não vir de uma única área de conhecimento, mas da convergência de múltiplos campos.

As inscrições para a competição já estão abertas. Os semi-finalistas serão anunciados em dezembro, e a fase final acontecerá em março do próximo ano, durante a Conferência sobre Doenças de Alzheimer e Parkinson em Copenhague. Este palco internacional não só proporcionará visibilidade para os finalistas, mas também facilitará a troca de ideias e a colaboração entre os participantes, a comunidade de pesquisa e o público em geral.

A aposta de Bill Gates na inteligência artificial não é apenas um investimento financeiro; é um voto de confiança na capacidade da tecnologia de transformar a medicina e, em última instância, de aliviar o sofrimento humano. Ao democratizar o acesso a dados e ferramentas avançadas, a iniciativa visa derrubar barreiras e acelerar a descoberta de novas formas de prevenir, tratar e, um dia, curar o Alzheimer. A competição representa um farol de esperança, iluminando um caminho promissor em uma das batalhas mais desafiadoras da saúde moderna.

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Gato fugindo? Resolva esse problema com1 truque simples

Quem tem gato em casa sabe que uma das maiores preocupações é evitar as fugas. Basta uma porta aberta por descuido ou uma janela mal fechada e, em segundos, o felino pode desaparecer. Para o tutor, isso é motivo de angústia, já que o mundo externo representa riscos sérios: trânsito, brigas com outros animais, envenenamento acidental, contato com doenças e até a possibilidade de nunca mais encontrar o bichano.

O comportamento de escapar não é sinal de que o gato não gosta do lar ou do tutor. Na verdade, está ligado aos instintos naturais da espécie. A boa notícia é que existe um truque simples capaz de reduzir drasticamente a vontade de fugir: o enriquecimento ambiental. Transformar o ambiente interno em um espaço interessante e seguro faz com que o gato não sinta a necessidade de procurar aventuras fora de casa.

Por que os gatos tentam fugir?

Para entender a solução, primeiro é preciso olhar para as razões. Os gatos possuem forte instinto territorial. Na natureza, eles percorrem grandes áreas para caçar, marcar espaço e encontrar parceiros. Esse comportamento continua presente mesmo nos felinos domesticados.

As fugas acontecem principalmente por quatro motivos:

  • Curiosidade: gatos são naturalmente exploradores e se atraem por sons e cheiros externos.

  • Instinto reprodutivo: animais não castrados buscam parceiros para acasalamento.

  • Falta de estímulo: um gato entediado tende a buscar diversão fora de casa.

  • Caça: pássaros, insetos e pequenos animais despertam seu lado predador.

Saber identificar a causa ajuda o tutor a aplicar estratégias corretas para reduzir a vontade de escapar.

O truque simples: enriquecimento ambiental

A técnica chamada de enriquecimento ambiental consiste em tornar o lar um local mais atrativo para o gato, suprindo suas necessidades físicas e mentais. A lógica é simples: se o felino encontra diversão, segurança e estímulos dentro de casa, não sente a mesma vontade de procurar fora.

Esse truque não exige grandes investimentos. Muitas vezes, mudanças pequenas, como oferecer brinquedos, arranhadores e locais de observação, já fazem toda a diferença.

Como colocar em prática

Arranhadores bem posicionados

Arranhar é um comportamento natural. Gatos afiam as garras, alongam os músculos e deixam seu cheiro para marcar território. Disponibilizar arranhadores perto de portas e janelas desvia o interesse do ambiente externo e mantém o felino satisfeito.

Brinquedos interativos

Brinquedos que estimulam a caça são fundamentais. Bolinhas, varinhas com penas, ratinhos de pelúcia e brinquedos recheáveis com petiscos ativam o instinto caçador, ocupando o gato por horas.

Exploração vertical

Os felinos adoram observar o mundo de cima. Instalar prateleiras, nichos ou adaptar móveis para criar rotas de escalada permite que o gato gaste energia sem precisar sair de casa. Isso ainda reduz o estresse e evita o tédio.

Janelas teladas

Telar janelas e varandas é indispensável para garantir a segurança. Dessa forma, o gato pode observar o movimento externo, tomar sol e sentir o vento sem correr risco de fuga. Muitos tutores relatam que, após telar a casa, os gatos ficam mais tranquilos, justamente por poderem contemplar o “mundo de fora” com segurança.

Brincadeiras com o tutor

Além dos brinquedos, o tutor deve reservar alguns minutos por dia para brincar com o gato. Esses momentos reforçam o vínculo e substituem a necessidade de buscar interação fora de casa. Caçar a “varinha com penas” ou perseguir a luz de uma lanterna são atividades simples, mas extremamente satisfatórias para o felino.

A importância da castração

Nenhum truque é completo sem falar na castração. Gatos não castrados têm instinto reprodutivo muito forte, que os leva a procurar parceiros fora de casa. A cirurgia, além de controlar esse impulso, previne doenças, reduz brigas e ajuda a prolongar a vida do animal.

Portanto, o enriquecimento ambiental e a castração juntos formam a estratégia mais eficiente para evitar fugas.

Benefícios para gato e tutor

Aplicar esse truque simples traz benefícios imediatos. Para o tutor, significa menos preocupação e mais tranquilidade, sabendo que o gato está protegido dentro de casa. Para o animal, o resultado é um ambiente estimulante, saudável e cheio de possibilidades.

Além disso, gatos bem estimulados apresentam menos problemas de comportamento. Eles arranham menos móveis, reduzem episódios de agressividade e se tornam mais tranquilos no dia a dia.

Outro ganho importante é a saúde. Ao reduzir a exposição a riscos externos, o gato vive mais e com melhor qualidade. É uma medida que protege e, ao mesmo tempo, enriquece a vida do felino.

Pequenos ajustes que fazem grande diferença

Muitos tutores acreditam que precisam gastar muito dinheiro para enriquecer o ambiente, mas isso não é verdade. Uma caixa de papelão pode se transformar em um esconderijo divertido. Rolos de papel higiênico servem de brinquedos criativos. Prateleiras simples já se tornam rotas de escalada.

Ao aplicar esses ajustes, o tutor cria um lar onde o gato se sente livre para explorar e satisfeito em suas necessidades. Com isso, a rua deixa de ser uma tentação constante.

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Lavanda: 4 passos para plantar em vaso e evitar apodrecimento das raízes

Você já tentou cultivar lavanda em vaso e percebeu que, depois de um tempo, as folhas começaram a murchar e as raízes apodreceram? Esse é um dos erros mais comuns ao lidar com essa planta aromática tão desejada. Apesar de parecer delicada, a lavanda é resistente, mas exige cuidados específicos para que se adapte bem ao cultivo em recipientes. O segredo está em criar as condições ideais para que a planta respire, receba luz suficiente e não sofra com excesso de umidade. Seguindo quatro passos simples, é possível ter lavanda florida, perfumada e saudável mesmo em espaços pequenos.

Lavanda saudável em quatro passos

Plantar lavanda em vasos é uma ótima opção para quem mora em apartamentos, tem pouco espaço ou deseja usar a planta para decorar varandas e sacadas. No entanto, para evitar o apodrecimento das raízes, é fundamental seguir uma sequência de cuidados básicos.

1. Escolha o vaso e a drenagem correta

O primeiro passo é selecionar um vaso adequado. A lavanda precisa de espaço para que suas raízes se desenvolvam, então escolha um recipiente profundo, com pelo menos 30 centímetros de altura. Mas o mais importante é a drenagem: o vaso deve ter furos no fundo para escoar o excesso de água. Colocar uma camada de pedrinhas, argila expandida ou até cacos de cerâmica no fundo ajuda a evitar que a água se acumule e cause o apodrecimento das raízes.

2. Prepare um substrato leve e bem drenado

O solo é o coração do cultivo. A lavanda não tolera substrato pesado ou encharcado. Para ter sucesso, prepare uma mistura leve, composta por terra adubada, areia grossa e composto orgânico em partes iguais. Essa combinação garante nutrientes sem comprometer a drenagem. Uma dica é adicionar perlita ou vermiculita, que melhoram a aeração do solo. Dessa forma, as raízes conseguem respirar, evitando fungos e doenças que surgem em ambientes úmidos.

3. Posicione o vaso em local com sol pleno

A lavanda é uma planta que ama sol. Para florescer e se manter saudável, precisa de pelo menos 6 horas de luz solar direta por dia. Coloque o vaso em varandas ensolaradas, janelas voltadas para o norte (no caso do hemisfério sul) ou até mesmo em quintais que recebam bastante luz. A falta de sol enfraquece a planta, reduz a produção de flores e aumenta o risco de pragas. Além disso, o calor natural ajuda a manter o solo seco na medida certa.

4. Regue com moderação e observe sinais da planta

A rega é o ponto que mais gera dúvidas e problemas. Ao contrário de muitas outras plantas ornamentais, a lavanda prefere um pouco de “seca” entre as regas. O ideal é verificar se a camada superficial do substrato está realmente seca antes de molhar novamente. Em vasos, regue devagar, até a água começar a escorrer pelos furos. Isso garante que as raízes recebam umidade suficiente, mas sem excesso. Se notar folhas amareladas ou cheiro de mofo, pode ser sinal de que a rega está exagerada.

Cuidados extras para fortalecer a lavanda

Além desses quatro passos principais, algumas práticas extras ajudam a prolongar a vida da lavanda em vasos. Fazer podas leves depois da floração estimula novos brotos e mantém a planta compacta. Usar adubos orgânicos a cada dois meses, em pequenas quantidades, garante vitalidade sem sobrecarregar o substrato. Outro detalhe é girar o vaso de tempos em tempos, para que todos os lados da planta recebam luz solar de forma uniforme.

Benefícios de cultivar lavanda em vaso

Seguindo essas orientações, você não só evita o apodrecimento das raízes, como também aproveita todas as vantagens da lavanda em casa. Além do aroma agradável, que pode perfumar ambientes naturalmente, suas flores podem ser usadas para preparar sachês, chás e até óleos caseiros. Ter lavanda em vaso é unir praticidade, estética e bem-estar em um só cultivo.

Plantar lavanda em vasos é mais do que uma experiência de jardinagem: é criar um cantinho de tranquilidade dentro de casa. Ao respeitar as necessidades da planta e observar seus sinais, você garante um cultivo saudável e recompensador, com flores que encantam e raízes sempre firmes e protegidas.

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Economia Verde e COP30: Brasil mira crescimento sustentável e geração de empregos

A economia verde será um dos temas centrais da COP30, que será realizada em Belém do Pará, em novembro. O evento coloca o Brasil em destaque para apresentar soluções que conciliem desenvolvimento econômico, geração de empregos e preservação ambiental. Segundo o economista e contador Franz Petrucelli, a economia verde é essencial para as discussões da conferência e para o cumprimento das metas climáticas globais.

“A economia verde representa uma mudança de paradigma, buscando o crescimento econômico e a prosperidade social sem prejudicar o meio ambiente. A COP 30 coloca o Brasil em uma posição de destaque para demonstrar como a economia verde pode ser uma solução viável. A economia verde não é apenas um conceito teórico. É uma estratégia prática e indispensável para enfrentar a crise climática e promover um futuro mais justo e próspero. A COP30 será o palco ideal para mostrar como essa transição pode ser benéfica para todos”.

Entre os setores com maior potencial de gerar empregos verdes no Brasil, destacam-se a bioeconomia, energias renováveis, agricultura e pecuária sustentáveis, gestão de resíduos e circular, infraestrutura verde e construção civil sustentável. Esses segmentos não apenas contribuem para a mitigação de impactos ambientais, como também criam oportunidades econômicas em diversas regiões do país.
O economista destaca ainda que “O Brasil pode alavancar sua vasta abundância de recursos naturais, como sol, vento e biomassa, para construir uma matriz energética mais limpa e competitiva”. A expansão das energias renováveis é vista como um motor de crescimento econômico, capaz de gerar um grande volume de empregos e de posicionar o país na vanguarda da economia verde global.

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Capacitação na COP30 – Foto/Divulgação

Inovação, políticas públicas e capacitação profissional na COP30

De acordo com Petrucelli, a inovação tecnológica e políticas públicas bem estruturadas são essenciais para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. Incentivos fiscais, regulamentações ambientais e investimentos em pesquisa são ferramentas estratégicas para fortalecer a competitividade do Brasil. Além disso, a COP30 pode estimular a cooperação internacional, permitindo acesso a tecnologias e financiamentos de outros países.

O papel das universidades e centros de pesquisa também é destacado pelo especialista, que afirma que essas instituições são “a força intelectual por trás da economia verde. Eles são responsáveis por formar a próxima geração de líderes, cientistas e profissionais que não apenas entendem os desafios ambientais, mas também possuem as ferramentas e a visão para criar um futuro mais sustentável para o Brasil”.

Segundo o especialista, os profissionais que atuarem nesse novo cenário precisarão desenvolver habilidades técnicas e interpessoais, com foco em liderança e sustentabilidade. A formação adequada permitirá não apenas o aproveitamento das oportunidades de trabalho, mas também a atuação como agentes de transformação em políticas, tecnologias e práticas econômicas sustentáveis.

Petrucelli reforça que políticas públicas estratégicas, como regulamentação do mercado de carbono, tributação verde, combate ao desmatamento e financiamento de projetos sustentáveis, serão determinantes para consolidar o Brasil como líder na economia verde e garantir que a transição para uma matriz energética limpa resulte em emprego, renda e competitividade para o país.

veja também: Capítulo 9: Justiça Energética: A Inclusão Social na Transição para uma Economia Verde

Macron confirma participação na COP 30 em Belém após conversa com Lula

Durante a conversa telefônica, além de confirmar a presença, os dois presidentes trataram do acordo Mercosul-União Europeia, das tarifas impostas pelos Estados Unidos, da guerra na Ucrânia e reforçaram a cooperação entre Brasil e França.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou em suas redes sociais que o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, estará presente na COP 30, marcada para novembro de 2025 em Belém, no Pará. A confirmação ocorreu durante um telefonema de aproximadamente uma hora entre os dois líderes.
Além do convite aceito por Macron, a conversa abordou pautas internacionais relevantes, como as negociações em torno do acordo Mercosul-União Europeia, as tarifas aplicadas pelos Estados Unidos, o cenário da guerra na Ucrânia e a necessidade de fortalecer a cooperação entre Brasil e França em defesa do multilateralismo.

WhatsApp-Image-2025-08-20-at-18.46.54-400x267 Macron confirma participação na COP 30 em Belém após conversa com Lula
Cidade de Belém sede da COP30 – divulgação/reprodução

Macron confirma viagem a Belém para a COP-30

Durante a ligação, Macron assegurou que estará presente na COP-30, a cúpula climática da ONU que será realizada em Belém. O presidente Lula destacou que este será um momento histórico para a Amazônia e que a conferência deverá ser a “COP da verdade”, revelando quais países estão realmente comprometidos com a ciência e o clima.
A confirmação da visita do líder francês reforça a importância internacional da COP-30 e coloca o Pará no centro da atenção global. Acordo Mercosul-União Europeia em pauta é outro ponto central da conversa foi o acordo Mercosul-UE.
Lula e Macron defenderam mais diálogo para tentar concluir as negociações ainda neste semestre, período em que o Brasil ocupa a presidência do Mercosul. O presidente francês manifestou apoio à assinatura do acordo, mas reforçou a necessidade de proteger a agricultura europeia, tema sensível para a França. O presidente brasileiro critica tarifas dos EUA e aciona OMC, Lula também relatou a Macron a posição do Brasil contra as tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
O presidente classificou a medida como “uso político do comércio internacional” e informou que o país já acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar o chamado “tarifaço”. Guerra na Ucrânia e paz global. A ligação abordou ainda a guerra na Ucrânia.
Macron elogiou o papel do Grupo de Amigos da Paz, liderado por Brasil e China, enquanto Lula alertou para o risco do aumento nos gastos militares em detrimento do combate à fome e à pobreza no mundo. Cooperação em defesa e relações bilaterais, Brasil e França reafirmaram a parceria estratégica em defesa, que inclui cooperação tecnológica e militar.
Os presidentes também destacaram o alinhamento em torno do multilateralismo e da necessidade de fortalecer as instituições globais.

saiba mais: Lula e Macron lançam plano de bioeconomia de R$ 5 bilhões no Pará

Mata Atlântica revela nova espécie de árvore em Minas Gerais

A Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados e, ao mesmo tempo, mais ricos do planeta, acaba de revelar um de seus segredos mais bem guardados. Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) anunciaram a descoberta de uma nova espécie de árvore no leste de Minas Gerais. Batizada de Myrcia magnipunctata, a planta se junta à vasta família das mirtáceas, um grupo botânico que já nos presenteou com a jabuticabeira e a pitangueira. O achado científico, publicado na prestigiada revista Phytotaxa, é um lembrete vivo da biodiversidade oculta que ainda resiste e prospera nas florestas brasileiras.

A descoberta não foi um evento planejado, mas sim um momento de sorte e atenção científica. O pesquisador Otávio Verly, da UFV, estava realizando um inventário florestal para sua tese de doutorado quando a encontrou. A rotina de mapeamento, que a empresa Cenibra realiza a cada cinco anos para monitorar a saúde dos fragmentos florestais, proporcionou o cenário perfeito para o encontro. Ao analisar a planta e compará-la com as centenas de espécies já catalogadas, o pesquisador e seus colegas do Grupo de Estudo em Economia e Manejo Florestal (GEEA) notaram algo diferente. Após uma coleta minuciosa e análises em laboratório, a suspeita foi confirmada: tratava-se de uma espécie inédita para a ciência. O professor Marcos Sobral, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e especialista em mirtáceas, foi peça-chave na confirmação do achado.

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Campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV) – foto divulgação UFV

Pequena em tamanho, gigante em significado

A Myrcia magnipunctata é uma árvore modesta em altura, variando entre três e seis metros. Mas suas características a tornam única. A planta se distingue por uma camada de pelos marrom-avermelhados que cobre o caule e a parte inferior das folhas, dando-lhe uma textura peculiar. O nome, que em latim significa “com grandes pontuações”, faz referência a pequenos pontos translúcidos que os pesquisadores observaram na superfície das folhas. No entanto, a beleza dessa nova espécie é ofuscada por uma preocupação: até o momento, foram encontrados apenas onze exemplares, o que a coloca em uma posição de extrema vulnerabilidade.

O fato de uma nova espécie ser descoberta em uma região historicamente devastada, como a Mata Atlântica, carrega um significado profundo. A Mata Atlântica já perdeu mais de 85% de sua cobertura original. A cada nova espécie encontrada, os cientistas reforçam a mensagem de que, apesar da destruição, o bioma ainda guarda uma riqueza incalculável e, por isso, merece toda a atenção e proteção.

A descoberta também destaca a importância crucial do trabalho de inventário e monitoramento contínuo das florestas. Foi a rotina aparentemente burocrática de um inventário florestal que permitiu a identificação da árvore. Isso sublinha a necessidade de investimentos em pesquisa de campo e na formação de botânicos e engenheiros florestais. São esses profissionais que atuam na linha de frente, mapeando a biodiversidade e garantindo que espécies ainda desconhecidas não desapareçam antes mesmo de serem catalogadas.

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Exemplar da árvore Myrcia Magnipunctata foto UFV-divulgacao

O achado serve como um lembrete de que o trabalho de preservação é uma corrida contra o tempo. A fragilidade da Myrcia magnipunctata, com seus poucos exemplares encontrados, é um alerta. Ela simboliza a urgência de expandir as áreas de conservação e fortalecer as políticas de proteção ambiental. A história da Myrcia magnipunctata é a história de muitas outras espécies que, sem o devido cuidado, podem se extinguir sem que a humanidade sequer saiba de sua existência.

A ciência nos oferece uma nova razão para proteger o que resta da Mata Atlântica. A descoberta em Minas Gerais é um farol de esperança, mostrando que o bioma, apesar de todas as cicatrizes, ainda tem muito a nos oferecer e a nos ensinar. É uma oportunidade para que as políticas públicas e o apoio à pesquisa científica se unam em um esforço contínuo para garantir que a biodiversidade brasileira não seja apenas um capítulo do passado, mas uma riqueza a ser protegida para o futuro.

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Um veto à sustentabilidade? A preocupação do MMA com a moratória da Soja

O cenário de proteção ambiental no Brasil acaba de ganhar um novo e preocupante capítulo. Em uma decisão que surpreendeu o setor e as autoridades, a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) determinou a suspensão da Moratória da Soja, sob a alegação de possíveis práticas de cartel. A resposta do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) foi imediata e enfática, expressando sua profunda preocupação com a medida. O embate entre a agenda econômica e a agenda ambiental expõe um dilema fundamental, especialmente em um momento em que o Brasil se posiciona como líder em discussões climáticas globais.

A Moratória da Soja não é apenas um acordo de cavalheiros. É um pacto robusto, voluntário e multilateral, estabelecido em 2006, que impediu a compra de soja produzida em áreas desmatadas na Amazônia após julho de 2008. O acordo foi costurado por gigantes da indústria de grãos, em parceria com organizações da sociedade civil e o governo. Sua existência comprova, de forma prática, que é possível conciliar a expansão da produção agrícola com a proteção da floresta.

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foto ilustrativa – Soja por: Agencia Brasil

Duas Décadas de Sucesso Subestimado

O MMA, em sua nota oficial, defendeu a moratória com argumentos sólidos e dados irrefutáveis. Para a pasta, a decisão do CADE ignora o sucesso de quase duas décadas do acordo, período em que não houve indícios de práticas anticompetitivas. Pelo contrário, o compromisso ambiental formalizado na Moratória trouxe resultados inegáveis para a proteção da Amazônia.

Um dos dados mais impressionantes citados pelo Ministério é o crescimento da área de cultivo de soja no bioma Amazônia. Entre 2006 e 2023, essa área se expandiu em impressionantes 427%. No entanto, apenas 2,4% desse aumento aconteceu em áreas de desmatamento recente. Isso significa que a esmagadora maioria da expansão, 97,6%, foi direcionada para terras já abertas, sem pressionar a floresta nativa. O sucesso desse modelo deveria servir de exemplo, não de alvo de suspensão. A Moratória da Soja se tornou um marco de sucesso de governança privada, que hoje é estudado e replicado em outras partes do mundo.

O confronto de princípios: Economia x Meio Ambiente

A decisão do CADE traz à tona um conflito de princípios. O órgão de defesa econômica parece ter priorizado o conceito de “livre concorrência” de forma isolada, ignorando a dimensão ambiental. A nota do MMA, por sua vez, lembra que a própria Constituição Federal garante, de forma inequívoca, o princípio da defesa do meio ambiente. A lei brasileira de livre concorrência deve ser interpretada de forma a considerar o impacto ambiental de produtos e serviços.

A suspensão da Moratória da Soja não apenas coloca em risco um dos mecanismos mais eficazes contra o desmatamento na Amazônia, mas também abre um precedente perigoso. Se um acordo tão consolidado e bem-sucedido pode ser derrubado com base em suposições, o que acontecerá com outras iniciativas de sustentabilidade que buscam regulamentar o mercado em favor da proteção ambiental?

O Brasil, com a COP30 se aproximando, está no centro dos holofotes globais. A suspensão da moratória pode minar a credibilidade do país como líder ambiental. A mensagem que se envia ao mundo é ambígua: enquanto a diplomacia brasileira negocia grandes acordos em fóruns internacionais, uma decisão interna fragiliza um dos maiores exemplos de sucesso em sustentabilidade do agronegócio. A perenidade da Moratória da Soja não é um sinal de cartel, mas sim de que o acordo funciona e é aceito por seus signatários. O MMA, ao manifestar sua preocupação, defende não apenas um acordo, mas um modelo que provou ser capaz de unir prosperidade econômica e proteção ambiental.

saiba mais: Compra e financiamento da soja na Amazônia seguem em meio a controvérsias

O relógio da crise climática acelera, mas as metas globais estão atrasadas

A pouco mais de 80 dias da COP30 em Belém, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, emitiu um alerta sério: quase 80% dos países signatários do Acordo de Paris não atualizaram suas metas de redução de emissões, conhecidas como NDCs. O aviso, feito em sua sexta carta à comunidade internacional, soa como um chamado urgente para a ação, destacando um impasse crítico no combate global ao aquecimento.

O Acordo de Paris, que completa dez anos em 2025, estabeleceu a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Para alcançar esse objetivo, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) estima que as emissões de gases do efeito estufa precisam ser reduzidas em 57% até 2035. No entanto, a falta de atualização das NDCs por quatro em cada cinco países sugere que o compromisso está longe de ser cumprido.

“Nenhuma ação é demonstração mais forte de compromisso com o multilateralismo e com o regime climático do que as NDCs”, escreveu Corrêa do Lago, enfatizando que essas metas são a prova do comprometimento dos governos com seus próprios povos e com a agenda global.

Pres-COP30-Antonio-Cruz-Agencia-Brasil-400x239 O relógio da crise climática acelera, mas as metas globais estão atrasadas
André Corrêa Lago, presidente da COP30 foto: Antônio Cruz/Agencia Brasil

“Acelerando o passo” consultas antecipadas e o caminho para a COP30

Diante do desafio, o Brasil, como presidência da COP30, está adotando uma estratégia inovadora. Pela primeira vez, consultas sobre os temas centrais da conferência, que tradicionalmente só ocorrem durante o evento, foram antecipadas. Corrêa do Lago anunciou o início das “Consultas da Presidência da COP30” para acelerar o progresso em questões-chave, como mitigação, adaptação, financiamento e transição justa.

O objetivo é criar um espaço transparente e previsível para que os países possam alinhar suas prioridades antes mesmo de chegarem a Belém. Essas consultas serão realizadas online e presencialmente em Nova York e Brasília, buscando um consenso que, de outra forma, ficaria preso nas negociações intensas da conferência. A iniciativa demonstra o esforço da presidência brasileira em garantir que a COP30 seja mais do que um evento, mas um ponto de virada na resposta global à crise climática.

A urgência do momento é palpável: o relógio da crise climática não para, e a esperança de evitar um “ponto de não retorno” depende do cumprimento das promessas feitas. A bola agora está com os 197 países para mostrarem, através de suas metas, que estão dispostos a agir.

saiba mais:COP30 em xeque com ausência dos EUA e pressão global por financiamento climático

“Açaí o ano inteiro” Emater fortalece extrativistas em Afuá

Na Ilha do Marajó, onde o sustento de muitas famílias ribeirinhas é moldado pela natureza, um novo horizonte de prosperidade está sendo desenhado. Por meio de uma parceria entre a Emater e a Embrapa, um projeto de manejo sustentável de açaizais promete multiplicar a renda dos extrativistas e fortalecer a economia local. Longe de ser apenas uma questão de números, a iniciativa resgata saberes tradicionais e insere as comunidades no centro de um desenvolvimento que é, ao mesmo tempo, social e ambiental.

A partir das orientações da Emater, famílias em assentamentos da reforma agrária em Afuá estão aprendendo a gerir seus açaizais de várzea de forma mais eficiente. A expectativa é audaciosa: quadruplicar a renda familiar em apenas quatro anos. Atualmente, um açaizal de dois hectares rende cerca de R$ 30 mil brutos anualmente. Com o novo manejo, que inclui técnicas de roçagem, limpeza e harmonização de espécies, a produtividade e o lucro podem disparar.

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Capacitação Emater -Agência Pará

Mais que renda, o açaí é autonomia

O projeto vai muito além do benefício financeiro. O engenheiro agrônomo Alfredo Rosas, da Emater, destaca um dos ganhos mais significativos: a estabilização da safra. Com o manejo adequado, as famílias podem colher açaí por até dez meses do ano, garantindo segurança alimentar e nutricional. “É açaí o ano inteiro”, explica, ressaltando a importância do fruto na dieta e na cultura local. Mesmo nos meses de entressafra, há a garantia de que não faltará o açaí, chamado carinhosamente de “o do bebe”, alimento básico na mesa dos ribeirinhos.

A capacitação, que incluiu oficinas para 62 famílias, reforça a importância do conhecimento prático. Extrativistas como Janilson Pureza, que também é líder comunitário, já sentem a diferença. “O manejo faz toda a diferença: o produto incrementa a qualidade, a produtividade aumenta, a produção aumenta, o processo de coleta é facilitado”, conta Janilson, que vê na nova Cooperativa Agroextrativista de Afuá (Coop Brasil) uma forma de fortalecer o trabalho coletivo.

O projeto, que envolve o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) doados e o acesso a crédito rural, é um modelo de sucesso da abordagem “de baixo para cima”. Ele não apenas eleva a renda, mas também nutre a autonomia, a segurança alimentar e o respeito ao meio ambiente, mostrando que é possível construir prosperidade a partir da riqueza que a floresta já oferece.

mais informações: A revolução silenciosa do açaí: como o Açaibot inaugura uma nova era para a colheita na Amazônia

Jovens e comunidade se unem pelo clima na Serra do Vulcão

Em meio aos desafios da crise climática, a resposta pode estar nos gestos mais simples e conectados à terra. Foi esse o espírito do Mutirão do Reflorestamento, que reuniu uma comunidade vibrante na Serra do Vulcão, um dos tesouros da Mata Atlântica na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Longe dos grandes salões de conferência, a ação uniu a presidência da COP30 com jovens ativistas, agricultores, cientistas e moradores locais em um esforço para plantar esperança.

A iniciativa, promovida pelo Instituto EAE e pela startup Visão Coop, resultou no plantio de 60 mudas de espécies nativas como aroeira, ipê-amarelo e mulungu. O ato vai além de um simples reflorestamento; ele simboliza o “Mutirão Global pelo Clima”, um conceito brasileiro adotado pela COP30 para destacar que a verdadeira solução climática está na colaboração local e no reconhecimento do poder das comunidades.

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Carros-Gaiola Foto: Rafael Medelima/COP30

A força da base para o clima

Marcele Oliveira, Campeã da Juventude da COP30, explicou que o “mutirão” é muito mais do que plantar árvores. É uma filosofia que conecta as grandes negociações internacionais com a realidade de quem vive e protege a natureza diariamente. Em suas palavras, é uma forma de dar visibilidade a iniciativas que, muitas vezes, são ignoradas pelas autoridades, mas que constroem a resiliência climática na prática. “Eu já vi o meu país sair do mapa da fome duas vezes e agora eu quero ver ele sair do mapa do risco climático”, afirmou, demonstrando um otimismo enraizado na ação comunitária.

O ativista Denner Noia, morador do Complexo do Alemão, reforçou essa visão. Para ele, as políticas públicas tradicionais, que vêm “de cima para baixo”, raramente funcionam. O verdadeiro sucesso reside em inverter essa lógica, permitindo que os próprios territórios definam suas necessidades e demandas. Sua mensagem aos líderes globais é um apelo direto: “Vamos olhar com carinho para os territórios, porque tem muito trabalho incrível acontecendo.”

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Equipe do mutirão Foto: Rafael Medelima/COP30

Uma geração que planta esperança

A presença massiva de jovens no evento reforça a urgência do movimento. Para Luan Cazati, estudante de Relações Internacionais, o mutirão é um ato de “plantar esperança”. Ele vê sua geração não mais como o futuro, mas como o presente, agindo para “pausar uma crise climática que não foi a que começou”.

A Serra do Vulcão, que já sofreu com incêndios e degradação, se torna um palco de resiliência. O movimento local, #ElesQueimamNósPlantamos, já plantou mais de 7 mil mudas desde 2018. O mutirão de agora, com sua união de ciência, ativismo e sabedoria popular, mostra que a regeneração do planeta começa no solo, nas mãos e na colaboração das pessoas. É um lembrete poderoso de que, para enfrentar um desafio global, é preciso agir localmente, com a força de um “mutirão”.

saiba mais: Drones plantam árvores e revolucionam o reflorestamento

Pesquisa conecta destruição da floresta à malária

Enquanto o Brasil se prepara para a COP30, um novo estudo lança luz sobre a íntima e perigosa relação entre a destruição da floresta e a proliferação da malária na Amazônia. A pesquisa, publicada na revista Acta Tropica, revela uma realidade surpreendente: o maior risco de contaminação não está em áreas de floresta densa ou desmatamento total, mas sim em paisagens intermediárias, onde a natureza está pela metade.

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Professor de biologia e doenças infecciosas da FMABC, Dr. Gabriel Zorello Laporta

A Zona Cinzenta da Destruição

O trabalho, liderado pelo biólogo Gabriel Laporta, mostra que a maior ameaça de malária surge em regiões com cerca de 50% de desmatamento, especialmente quando essas áreas estão próximas de comunidades e assentamentos. Nesses cenários fragmentados, os mosquitos do subgênero Nyssorhynchus, vetores da doença, encontram o ambiente ideal para proliferar e se aproximar dos humanos. A floresta, agora esburacada, deixa de ser um habitat impenetrável e se torna uma via de mão dupla: os mosquitos da mata avançam sobre as moradias e a população humana entra em contato com áreas de risco.

O estudo, realizado em Cruzeiro do Sul, no Acre, um dos focos persistentes de malária, analisou tanto a presença dos mosquitos quanto a infecção em amostras de sangue dos moradores. Os resultados foram inequívocos: o padrão de risco se mostrou elevado e consistente em paisagens com vegetação fragmentada. Em contraste, o risco diminui tanto em áreas de desmatamento completo, onde o ambiente se torna inóspito para o vetor, quanto em regiões com mais de 70% de floresta conservada, sublinhando a importância da proteção e da restauração ambiental.

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Armadilha luminosa para mosquitos em borda de mata: investigação coletou vetores Anopheles e amostras de sangue de moradores de Cruzeiro do Sul (AC) (foto: Fredy Galvis/Amazônia+10)

Doenças e Clima: Duas Faces da Mesma Crise

O avanço da malária na Amazônia é um sintoma claro de um problema mais amplo. Causas como a perda de biodiversidade, o impacto de grandes projetos de infraestrutura e, cada vez mais, as mudanças climáticas, criam um cenário favorável para a proliferação de doenças. As alterações de temperatura e os padrões de chuva e seca intensos facilitam a vida dos mosquitos, agravando o quadro.

Laporta aponta que a solução para esse problema não pode se restringir ao tratamento médico. É crucial integrar o controle de vetores com a conservação florestal. Uma das chaves, ele sugere, está em tornar a floresta em pé economicamente mais vantajosa. Em vez de abrir terras para pastagem ou agricultura, a criação de modelos de negócio sustentáveis, como o pagamento por serviços ecossistêmicos e o mercado de carbono, poderia fornecer uma alternativa de renda para as comunidades locais.

Com a saúde entrando na agenda da COP30 em Belém, o estudo se torna um guia fundamental. A luta contra a malária e a proteção da floresta não são batalhas isoladas, mas sim frentes de um mesmo combate. A eliminação da doença na Amazônia passa, necessariamente, por um compromisso com a saúde da própria floresta.

saiba mais: A Malária no Brasil e a Influência da Mudança Climática

Documento estratégico propõe mosaico de áreas marinhas na Foz do Rio Amazonas

No limiar de uma encruzilhada ambiental histórica para o Brasil, instituições de peso como o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) uniram forças em um esforço colaborativo sem precedentes. O resultado é um documento estratégico “Cenários Estratégicos para a Ampliação do Conhecimento Científico e Proteção da Biodiversidade da Foz do Rio Amazonas”, que será entregue ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O objetivo é claro: apresentar um roteiro robusto para a preservação de uma das ecorregiões mais ricas e vitais do planeta.

Este plano, forjado a partir da união de cientistas, líderes comunitários, gestores públicos e representantes da sociedade civil do Amapá, Maranhão, Pará e São Paulo, emerge em um contexto de urgência, especialmente diante do debate sobre a exploração de petróleo na área. A proposta não se restringe a uma única ação, mas articula uma visão holística que integra a proteção ambiental, o desenvolvimento sustentável e a justiça social.

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Área de preservação foz do amazonas – gov.br

Um Novo Rumo para a Foz do Amazonas

Em um momento crucial para o futuro ambiental do Brasil, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) uniram-se em um esforço notável. O resultado é um documento estratégico que traça um caminho para proteger a biodiversidade da Foz do Rio Amazonas, uma das ecorregiões mais vitais do planeta. Forjado a partir do conhecimento de cientistas, líderes comunitários, gestores públicos e a sociedade civil do Amapá, Maranhão, Pará e São Paulo, o plano surge como uma resposta urgente ao debate sobre a exploração de petróleo na área. Em vez de uma única solução, a proposta articula uma visão completa, unindo proteção ambiental, desenvolvimento sustentável e justiça social.

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Prof. Nils Edvin Asp -Portal UFPA

O Coração da Amazônia: Ciência, Saberes e Vida

A Foz do Amazonas é um encontro monumental entre o maior rio do mundo e o oceano Atlântico, uma “convergência vital entre a Amazônia Verde e a Amazônia Azul”, como destaca Alexander Turra, professor da USP. A área é um tesouro de biodiversidade, lar da maior floresta de manguezais contínua do mundo, recifes únicos e espécies ameaçadas como tartarugas marinhas e baleias. Para além de sua riqueza natural, é um território ancestral, onde comunidades indígenas, quilombolas e pescadores mantêm uma conexão profunda e milenar com o ambiente.

“O que está em jogo aqui não é apenas um ecossistema “é o futuro das próximas gerações”, ressalta Nils Edvin Asp, da Universidade Federal do Pará. O documento defende que a proteção desses territórios, aliada ao reconhecimento e à participação das comunidades que os habitam, é fundamental para garantir o equilíbrio ambiental e a justiça social.

Com o Brasil se preparando para sediar a COP 30 em Belém, o lançamento deste relatório se torna ainda mais significativo, servindo como um marco para um debate nacional e global sobre a necessidade de conciliar a ciência, os saberes tradicionais e a gestão pública em prol de um futuro mais justo e sustentável.

Leia aqui o documento na íntegra: IEA001_BOOK_vFINAL

saiba mais: Seminário no Museu Goeldi aborda potenciais da foz do Amazonas

Áreas continentais de mega regiões de seca

Secagem continental sem precedentes, redução da disponibilidade de água doce e aumento da contribuição da terra para a elevação do nível do mar

Os continentes perderam tanta água desde 2002 que ultrapassaram as camadas de gelo como os maiores contribuintes para o aumento global do nível do mar, revela um novo estudo

A extração descontrolada de águas subterrâneas e as mudanças climáticas secaram continentes significativamente nos últimos 22 anos, com 101 países perdendo água doce para o oceano, revela uma pesquisa

Quase 70% dessa perda se deve à extração descontrolada de águas subterrâneas, que remove água de aquíferos profundos e, eventualmente, a transfere para o oceano, descobriram os pesquisadores. Juntamente com o aumento das taxas de evaporação devido às mudanças climáticas , isso fez com que “pontos críticos” de secagem rápida se fundissem em quatro regiões de “mega-secagem”, disseram os cientistas.

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Os “pontos críticos” de secagem rápida se expandiram nos últimos 22 anos, fundindo-se em regiões de “mega-secagem”

“Há pouquíssimos lugares agora que não estão secando”, disse o coautor do estudo, Jay Famiglietti , professor da Escola de Sustentabilidade da Universidade Estadual do Arizona, à Live Science. “Tenho observado isso há 20 anos, e só piorou, piorou e piorou”.

Para medir a secagem continental, os pesquisadores usaram dados de satélites que respondem a pequenas mudanças de massa na Terra. A força gravitacional arrasta os satélites para baixo quando uma área ganha peso de água e os libera de volta à sua órbita inicial quando a água é perdida. A resolução em terra é de cerca de 25 quilômetros, o que é suficiente para detectar pequenas mudanças em escalas regionais, disse Famiglietti.

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O Vale Central (verde) abrange as Bacias de Sacramento, San Joaquin e Tulare (limite preto e branco), da Califórnia. A borda vermelha delimita a área dos dados de mascon GRACE/FO, utilizados no estudo, também perdeu enormes quantidades de água

Os pontos críticos de seca são tipicamente regiões com grandes aquíferos que os humanos exploram intensamente há décadas, o que significa que apresentam altas taxas de perda de água, disse Famiglietti. Esses pontos críticos incluem lugares como a Planície do Norte da China , o noroeste da Índia e o Vale Central da Califórnia, que perderam enormes quantidades de água devido às atividades humanas e à evaporação. Essa água entra nos rios, que desembocam no oceano, ou é despejada da atmosfera sobre o oceano — o que, em última análise, causa a elevação do nível do mar.

As novas descobertas, publicadas recentemente na Science Advances, mostram que os pontos críticos de seca estão se expandindo rapidamente, e muitas dessas áreas estão se unindo. “O sul da Ásia é um ótimo exemplo”, disse Famiglietti. “Ao redor do Himalaia, costumava haver quatro ou cinco pontos críticos. Agora, isso acontece em todo o Himalaia”.

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Planícies do Norte da China, perderam quantidades de água devido às atividades humanas e enormes à evaporação

Os autores do estudo chamaram essas áreas continentais de mega-regiões de seca. Eles identificaram outras três regiões semelhantes em todo o mundo, todas no Hemisfério Norte: uma que combina o Alasca, o norte do Canadá e o norte da Rússia, outra que abrange a Europa Ocidental e uma terceira que abrange o sudoeste da América do Norte e a América Central. As regiões de seca estão crescendo tão rápido que “é como um fungo ou vírus rastejante que se espalha pela paisagem”, disse Famiglietti.

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Não está claro por que o Hemisfério Sul não possui regiões de megassecagem, mas os pesquisadores acreditam que isso esteja de alguma forma ligado a um evento recorde de El Niño ocorrido há mais de 10 anos.

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Três tipos de seca afetaram o sul da Austrália este ano

“Há uma espécie de mudança na taxa de seca e na expansão dos extremos que ocorreu por volta de 2014”, disse Famiglietti.

Os pontos críticos de seca parecem ter mudado de principalmente no Hemisfério Sul para principalmente no Hemisfério Norte durante uma transição global de um La Niña muito forte para o El Niño mais forte já registrado entre 2011 e 2014, disse Famiglietti, acrescentando que sua equipe ainda está tentando entender o porquê.

“Recurso natural mais importante”

A seca no Alasca, Canadá e Rússia é causada principalmente pelo degelo e derretimento do permafrost, enquanto a seca na Europa Ocidental é causada pela seca, disse Famiglietti. O sudoeste dos EUA era seco antes de os humanos começarem a bombear água subterrânea, mas agora a seca se espalhou para o México e a América Central.

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Segundo o Mapa da ONU Water, três quartos das terras da Terra ficaram permanentemente mais secas nas últimas 3 décadas

Em todo o mundo, apenas os trópicos estão ficando mais úmidos, o que também é impulsionado pelo aquecimento global. Analisando a tendência, os pesquisadores descobriram que 101 países — que abrigam 75% da população mundial — vêm perdendo água doce nos últimos 22 anos.

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Mapa mostrando o armazenamento de água doce por país entre 2003 e 2024. Os países mostrados em vermelho escuro são aqueles que secam mais rápido, enquanto os países mostrados em azul são aqueles que ficam mais úmidos

“A água subterrânea está se tornando o recurso natural mais importante nessas partes secas do mundo”, disse Famiglietti.

As implicações são profundas, pois a seca continental afeta a produção de alimentos, a biodiversidade, as catástrofes naturais, os níveis do mar e os modos de vida. À medida que continuamos a cozinhar o planeta, mais água subterrânea será necessária para irrigar as plantações e sustentar as populações, forçando as pessoas a perfurar cada vez mais profundamente os aquíferos, com grandes custos.

O esgotamento das águas subterrâneas não pode ser revertido, mas mudanças no uso da água, como o fim da irrigação por inundação, podem ser muito úteis, disse Famiglietti.

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Este mapa mostra os anos em que o armazenamento de água terrestre atingiu o mínimo de 22 anos (ou seja, a terra esteve mais seca) em cada local, com base em dados dos satélites GRACE e GRACE/FO. Uma parcela significativamente grande da superfície terrestre global atingiu esse mínimo nos nove anos desde 2015, que são os nove anos mais quentes do registro moderno de temperaturas

Qualquer coisa que fizermos para mitigar as mudanças climáticas também ajudará, afirmou.

“Já estamos vendo o que acontece se não mudarmos”, disse Famiglietti. Por exemplo, os incêndios florestais aumentaram em gravidade e frequência , o que é resultado direto da perda de água e do aumento das temperaturas, disse ele. Muitas regiões também estão enfrentando estresse hídrico , e o nível do mar subiu 9 centímetros nos últimos 25 anos.

“Não precisamos parar de fazer tudo”, disse Famiglietti. “Só precisamos fazer as coisas da forma mais eficiente possível.”

Jasmim-manga floresce em 2 horários com mais intensidade

Quem já passou por um jardim e se surpreendeu com o perfume adocicado do jasmim-manga sabe que essa planta tem um poder de encantar. Suas flores brancas, amarelas ou róseas não apenas embelezam o ambiente, mas também trazem uma atmosfera tropical que remete a férias à beira-mar. Mas o que muitos não sabem é que o jasmim-manga tem momentos do dia em que floresce e exala seu perfume com mais intensidade. Conhecer esses horários ajuda a aproveitar ao máximo a beleza e a fragrância dessa árvore ornamental, transformando o jardim em um espaço ainda mais especial.

Jasmim-manga: horários de maior intensidade

O jasmim-manga é uma planta que responde fortemente à luz solar e à temperatura ambiente. Seus dois horários de maior intensidade de florescimento e liberação de aroma são logo pela manhã e no fim da tarde. Pela manhã, especialmente entre 7h e 9h, as flores recém-abertas liberam seu perfume de forma delicada, criando um ambiente suave e fresco. Já no final da tarde, entre 16h e 18h, o calor acumulado ao longo do dia intensifica os óleos essenciais presentes nas flores, fazendo com que o perfume fique mais marcante. Esses dois momentos são ideais para observar e apreciar a planta em sua máxima expressão.

O perfume matinal

No início do dia, as flores de jasmim-manga parecem acordar junto com o sol. O orvalho noturno mantém as pétalas frescas, e a primeira incidência de luz estimula a liberação do aroma adocicado característico da espécie. Esse é o momento perfeito para quem gosta de meditar ou tomar café no jardim, já que a fragrância ajuda a criar uma sensação de paz e bem-estar. Além disso, a intensidade da cor das flores é ainda mais nítida pela manhã, quando a luz suave destaca os tons vibrantes.

O encanto do final da tarde

O segundo horário de destaque é o fim da tarde. Depois de horas de sol, os compostos aromáticos presentes nas flores ficam mais ativos, e o perfume se espalha pelo ambiente de forma envolvente. É comum notar que nesse período a planta atrai ainda mais polinizadores, como abelhas e borboletas, que se encantam pela fragrância. Esse horário é perfeito para receber amigos no jardim ou simplesmente relaxar após um dia de trabalho, aproveitando não apenas a beleza, mas também a energia que o jasmim-manga transmite.

Como potencializar o florescimento

Para que o jasmim-manga floresça com intensidade nesses horários, é essencial garantir alguns cuidados básicos. O primeiro é a posição: a planta deve ser cultivada em um local de pleno sol, já que precisa de pelo menos seis horas de luz direta por dia. O solo deve ser bem drenado, evitando o acúmulo de água nas raízes, que pode prejudicar a floração. Uma adubação equilibrada, rica em fósforo e potássio, também ajuda a estimular a produção de flores mais duradouras e perfumadas.

Umidade e rega equilibrada

Outro ponto importante é a rega. Apesar de ser uma planta resistente, o jasmim-manga aprecia solo levemente úmido, mas nunca encharcado. A rega deve ser feita em horários estratégicos, preferencialmente no início da manhã ou no fim da tarde, coincidindo com os períodos de maior intensidade de florescimento. Dessa forma, a planta absorve melhor a água, e o solo mantém uma umidade adequada sem comprometer as raízes.

Benefícios de observar os horários ideais

Saber em que momentos a planta floresce e exala perfume mais intensamente não é apenas uma curiosidade. Essa observação cria uma conexão maior entre jardineiro e planta, permitindo cuidados mais personalizados. Além disso, quem cultiva jasmim-manga para ornamentar espaços de convívio, como varandas ou áreas de lazer, pode aproveitar esses períodos para planejar encontros, criando ambientes naturalmente perfumados e acolhedores.

Um convite ao bem-estar diário

Ter um jasmim-manga no jardim é mais do que ter uma planta decorativa. É uma experiência sensorial que combina cores, aromas e até mesmo a visita de polinizadores. Ao observar os horários ideais de floração e perfume, é possível criar pequenos rituais diários, seja um café da manhã sob a sombra da árvore ou uma conversa tranquila ao pôr do sol. Esses momentos simples, mas marcantes, tornam a presença da planta ainda mais valiosa no dia a dia.

O jasmim-manga nos ensina que a beleza e o perfume da vida se revelam em detalhes, especialmente quando aprendemos a observar o ritmo natural da natureza. Ao respeitar seus ciclos e aproveitar seus horários mais intensos, criamos uma relação de cumplicidade com o jardim e transformamos simples rotinas em experiências memoráveis.

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Beagle: 5 formas divertidas de usar o faro apurado no treino

Quem já conviveu com um Beagle sabe: essa raça tem o faro como sua maior marca registrada. É impossível dar um passeio sem que ele pare a cada esquina para investigar cheiros invisíveis para nós. Esse comportamento, que muitas vezes é visto como teimosia, pode se transformar em uma ferramenta poderosa de treino, capaz de estimular corpo e mente do cachorro de forma divertida. Aproveitar essa habilidade natural é uma das chaves para tornar a convivência com o Beagle mais leve e, de quebra, fortalecer o vínculo com o tutor.

Beagle e o faro como principal característica

Originário da Inglaterra, o Beagle foi criado para caçar em matilhas, acompanhando caçadores durante longos percursos. Sua missão era simples: seguir rastros e localizar presas. Essa função moldou a genética da raça e explica por que até hoje o faro apurado é um traço tão marcante.

Estudos indicam que o olfato de um cão pode ser até 40 vezes mais potente que o de um humano. No caso do Beagle, esse número se traduz em uma curiosidade sem fim. É por isso que eles parecem “cabeça baixa” durante os passeios: cada cheiro é uma história sendo lida em tempo real.

Transformando o faro em brincadeira

Em vez de tentar reprimir esse instinto, uma das melhores formas de treinar o Beagle é usá-lo a seu favor. O olfato pode ser estimulado em atividades lúdicas, que ajudam a gastar energia e ensinam obediência de forma prazerosa.

Uma das técnicas mais simples é o “caça-petisco”. Basta espalhar pequenas recompensas pela casa ou pelo quintal e incentivar o cachorro a encontrá-las. Esse jogo pode ser adaptado em diferentes níveis de dificuldade: no começo, os petiscos ficam visíveis; depois, são escondidos em cantinhos ou até dentro de brinquedos interativos.

Treinos de obediência com faro

Outra forma de usar o faro é durante os comandos básicos. Ao invés de simplesmente pedir “senta” ou “fica”, o tutor pode associar o comportamento a uma recompensa olfativa. Por exemplo: peça para o Beagle esperar enquanto esconde um brinquedo com cheiro familiar. Só depois de obedecer ao comando ele poderá procurar o objeto.

Esse tipo de treino estimula disciplina, mas sem anular a essência exploradora do animal. Pelo contrário: transforma a obediência em algo natural, sempre associado à diversão.

Passeios mais proveitosos

Os passeios são a hora do Beagle se realizar. Em vez de ficar puxando a guia e tentando apressar o cachorro, uma ideia é incorporar paradas planejadas para “sessões de faro”. Escolha áreas seguras, como praças ou parques, e permita que ele explore por alguns minutos antes de retomar a caminhada.

Esse equilíbrio entre caminhar e farejar torna o passeio mais produtivo. O cão volta para casa não apenas cansado fisicamente, mas também satisfeito mentalmente, o que reduz comportamentos indesejados, como destruição de objetos ou latidos excessivos.

Benefícios do treino olfativo

Usar o faro como ferramenta de treino traz uma série de vantagens. Entre elas:

  • Controle da ansiedade: o Beagle, por ser muito ativo, pode se tornar ansioso quando não gasta energia. Atividades de faro ajudam a aliviar essa tensão.

  • Estimulação cognitiva: procurar por cheiros exige concentração e estratégia, exercitando a mente do cão.

  • Fortalecimento do vínculo: as brincadeiras reforçam a confiança e a parceria entre tutor e animal.

  • Prevenção de problemas de comportamento: um Beagle bem estimulado tende a ser mais calmo e menos destrutivo.

Quando o faro atrapalha

Apesar de ser uma característica incrível, o faro também pode gerar desafios. Muitos tutores se frustram porque o Beagle simplesmente ignora comandos quando encontra um cheiro interessante. Isso é natural e deve ser trabalhado com paciência.

O segredo é não competir com o faro, mas usá-lo a favor do treino. Recompensas olfativas, brinquedos recheáveis e atividades de busca são alternativas para manter o interesse do cão no tutor, mesmo diante de distrações.

A vida mais leve ao lado de um Beagle

Treinar um Beagle pode ser um desafio para quem espera obediência imediata. Essa não é uma raça que “segue ordens” sem questionar. Mas quando entendemos que o faro é parte essencial da sua identidade, a relação muda.

O segredo está em transformar o instinto natural em jogos, rotinas de treino e passeios enriquecedores. O tutor ganha um cão mais equilibrado e feliz, enquanto o Beagle se realiza como explorador nato. É um caminho de paciência, mas também de muitas recompensas — e não apenas para o cão, mas para toda a família.

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Onde e com quais espécies reflorestar a Amazônia com base na ciência

Modelo científico identifica onde e com quais espécies reflorestar a Amazônia com maior sucesso, podendo embasar políticas públicas e atrair investimentos em clima e biodiversidade. Estratégicas para a recuperação da biodiversidade, geração de renda e conservação ambiental. Contribuem para metas de carbono e serão destaque na COP 30

 

Uma nova pesquisa publicada na revista científica internacional Forests traz avanços significativos para a gestão e soluções florestais sustentáveis na Amazônia brasileira. O estudo, liderado pela pesquisadora Lucieta Martorano, da Embrapa Amazônia Oriental (PA), utilizou uma metodologia de sua autoria, o zoneamento topoclimático, a qual permite mapear áreas e indicar as espécies nativas mais adequadas para a silvicultura e restauração florestal na região amazônica. A publicação na Forests foca em 12 espécies nativas de alto valor ecológico e econômico.

Realizado por pesquisadores da Embrapa, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e de outras instituições, o trabalho revela que a silvicultura com espécies nativas influencia positivamente no combate às mudanças climáticas, além de promover geração de renda, recuperar a biodiversidade e fortalecer a resiliência das áreas frente a desastres naturais.

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Mapas de zoneamento topoclimático ( a – d ) das seguintes espécies em áreas antropizadas da Amazônia Legal
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Mapas de zoneamento topoclimático ( e – h ) das seguintes espécies em áreas antropizadas da Amazônia Legal
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Mapas de zoneamento topoclimático ( i , j , l , m ) das seguintes espécies em áreas antropizadas da Amazônia Legal
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Distribuição espacial das tipologias climáticas na Amazônia Legal e análise multivariada das espécies florestais do banco de dados RADAMBRASIL
( a , c , e ) Mapas das tipologias climáticas na Amazônia Legal segundo a classificação de Köppen adaptada por, sobrepostos com as ocorrências das diferentes espécies florestais do banco de dados RADAMBRASIL. ( a ) Jacaranda copaia , Simarouba amara , Swietenia macrophylla , Schefflera morototoni ; ( c ) Bagassa guianensis , Copaifera multijuga , Cordia goeldiana , Dinizia excelsa ; ( e ) Schizolobium amazonicum , Handroanthus serratifolius , Vochysia maxima , Virola surinamensis . ( b , d , f ) Gráficos biplot de Análise de Componentes Principais (ACP), mostrando a relação entre a distribuição das respectivas espécies e as diferentes tipologias climáticas

As descobertas enfatizam a importância do zoneamento topoclimático como uma ferramenta para estratégias de conservação e uso sustentável. Os resultados estão alinhados à Lei de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Brasil, abordagem capaz de incentivar práticas agroflorestais, melhorar a conservação da biodiversidade e fortalecer a bioeconomia amazônica.

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Ouriço e Semente de mogno brasileiro, uma das espécies mais aptas ao plantio

Método é aplicável a qualquer bioma

A metodologia de zoneamento topoclimático visa subsidiar estratégias de conservação e uso sustentável de espécies florestais nativas, podendo ser aplicada a qualquer Bioma.

O estudo utilizou mais de 7,6 mil registros georreferenciados de espécies florestais nativas, como angelim-vermelho, ipê-amarelo, copaíba e mogno-brasileiro, e cruzou essas informações com dados climáticos, topográficos e geográficos coletados entre 1961 e 2022. A partir disso, os pesquisadores criaram mapas que mostram o grau de adequação ambiental (alto, médio ou baixo) de diferentes áreas da Amazônia para o plantio e manejo de cada espécie.

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Os Sistemas Agloflorestais (SAFs) são formas de restauração produtiva, economicamente viáveis e com grande potencial para prestação de serviços ambientais (Imagem gerada por IA)
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Ranking das espécies da Amazônia com maior eficiência topoclimática para uso em projetos de restauração ou enriquecimento de áreas (Imagem gerada por iA)

A análise estatística, não hierárquica, gerou modelos e mapas que indicam áreas com alto, médio e baixo potencial topoclimático para o plantio e manejo de cada espécie. “É uma metodologia de planejamento com enorme potencial para embasar políticas públicas voltadas à restauração florestal, bioeconomia e adaptação climática. É ciência aplicada ao território”, declara Martorano.

Ranking das espécies da Amazônia com maior eficiência topoclimática para uso em projetos de restauração ou enriquecimento de áreas (Imagem gerada por iA)

Entre os resultados, o estudo demonstra que espécies como o angelim-vermelho (Dinizia excelsa) apresentaram até 81% de alta aptidão topoclimática em áreas antropizadas (degradadas ou alteradas pelo homem), revelando um vasto potencial para restauração produtiva. Além disso, espécies com maior plasticidade ambiental, como o marupá (Simarouba amara), podem atuar como “coringas” em locais de menor adequação climática, desde que acompanhadas de manejo adaptativo.

Conectando biodiversidade, clima e economia 

 Mais do que apenas mapear onde plantar, o zoneamento permite alinhar e subsidiar políticas públicas aos compromissos internacionais do Brasil no Acordo de Paris, como o reflorestamento de milhões de hectares e o combate à perda de biodiversidade. A silvicultura de nativas, impulsionada por essa ferramenta, integra bioeconomia e clima, gerando oportunidades econômicas sustentáveis.

Essa abordagem possui forte aderência à Lei de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Brasil, podendo ser a base para atrair fontes financiadoras e fomentar práticas agroflorestais e a silvicultura de nativas, como embasam os dados do estudo. A metodologia foca em espécies florestais e, somada a outros zoneamentos, tem a capacidade de melhorar a conservação da biodiversidade e fortalecer a bioeconomia amazônica, garantindo resiliência ecológica e desenvolvimento sustentável.

O estudo também abre portas para programas de recuperação de áreas nativas e o mercado de crédito de carbono. O pesquisador Silvio Brienza Junior da Embrapa Florestas (PR) e coautor do artigo, destaca que espécies bem adaptadas, identificadas pelo zoneamento, maximizam a oferta de serviços ambientais como sequestro de carbono, regulação hídrica e térmica, e preservação da biodiversidade. “Quando o país identifica com precisão onde e como reflorestar, cria melhores condições para atrair investimentos climáticos internacionais”, complementa o cientista.

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A Dinízia excelsa, conhecida como Angelim-vermelho, é a espécie com maior eficiência topoclimática, segundo o estudo. Atinge impressionantes 88,5 metros de altura – a maior árvore já registrada no Brasil e na América Latina, a da foto, localizada no Parque Estadual das Árvores Gigantes da Amazônia, em Almeirim-Pará

Amazônia no centro do debate global   

Com a Conferência das Partes (COP 30) em Belém, em novembro deste ano, o Brasil ganha uma ferramenta robusta para mostrar que a ciência nacional pode liderar soluções climáticas globais. Os dados trazidos pelo artigo fortalecem a imagem da Amazônia não apenas como bioma ameaçado, mas como fonte de soluções concretas, baseadas na natureza e na inteligência territorial. O modelo de zoneamento topo climático poderá ser usado para direcionar recursos de restauração, orientar projetos financiados por fundos verdes e contribuir com as metas de neutralidade de carbono, conforme acordos globais.

Segundo os autores, o modelo de zoneamento pode ser ampliado para outras regiões e escalado com tecnologias como sensoriamento remoto e inteligência artificial. A proposta também estimula a conservação de espécies de alto valor econômico e ecológico, contribuindo para um reflorestamento inteligente — que combina restauração ambiental com geração de renda e inclusão social.

Assinam o artigo: Lucietta Guerreiro Martorano – Embrapa Amazônia Oriental (PA); Silvio Brienza Júnior – Embrapa Florestas (PR); José Reinaldo da Silva Cabral de Moraes – Sombrero Insurance (SP); Werlleson Nascimento – Universidade de São Paulo (Esalq/USP); Leila Sheila Silva Lisboa – Secretaria Municipal de Educação de Belém (PA); Denison Lima Corrêa – Universidade do Estado do Pará (Uepa); Thiago Martins Santos – Universidade Federal de Lavras (Ufla); Rafael Fausto de Lima – Universidade Estadual Paulista (Unesp); Kaio Ramon de Sousa Magalhães – Universidade Federal de Lavras (Ufla); e Carlos Tadeu dos Santos Dias – Universidade de São Paulo (Esalq/USP), e Universidade Federal do Ceará (UFC).

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O marupá (Simarouba amara), podem atuar como “coringas” em locais de menor adequação climática

*Embrapa Amazônia Oriental

“Guardiões das águas” conhecimento local e ciência se unem para proteger quelônios na Amazônia

Na vastidão da Amazônia, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu Purus, no interior do Amazonas, a comunidade de Itapuru se tornou um palco vibrante de aprendizado e colaboração. Entre os dias 10 e 15 de agosto, 48 moradores de 20 comunidades da região e de uma unidade da Funai se reuniram para o I Curso de Monitoria e Manejo Conservacionista de Quelônios Aquáticos Amazônicos. O evento, promovido pelo Programa Quelônios da Amazônia (PQA) com o apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema/AM) e da Associação dos Moradores e Usuários da RDS Piagaçu Purus (AMEPP), marcou um passo significativo no fortalecimento das estratégias de conservação da fauna silvestre na região.

O curso foi uma fusão entre teoria e prática, tecendo saberes ancestrais com o conhecimento científico. Durante cinco dias intensos, os participantes mergulharam em temas essenciais para a proteção da vida aquática, como o manejo de quelônios, a legislação ambiental, a ecologia das espécies e a importância da vigilância comunitária. Também foi abordado o impacto das mudanças climáticas, a fiscalização e a aplicação de protocolos de coleta de dados. A abordagem interativa e focada na educação ambiental transformou o aprendizado em uma experiência rica e envolvente, incentivando a participação de diferentes gerações e valorizando o protagonismo local.

Joel Araújo, superintendente do Ibama no Amazonas, ressaltou que a capacitação técnica dos comunitários, que já são protetores ambientais por natureza, amplia sua atuação na gestão sustentável da biodiversidade, reconhecendo e valorizando o conhecimento tradicional. Mayara Moraes, coordenadora regional do PQA, complementou a ideia, afirmando que a conservação na Amazônia é um esforço coletivo. Para ela, o curso simboliza a união entre a ciência, os saberes ancestrais e o compromisso de proteger espécies que são fundamentais para o equilíbrio dos rios. “É dessa soma de esforços que nascem as ações de conservação capazes de garantir um futuro para os quelônios, para a própria Amazônia e para as presentes e futuras gerações”, declarou.

Raimundo Evangelista, gestor da RDS Piagaçu Purus, destacou a importância ecológica, econômica e cultural dos quelônios. Ele frisou que essas espécies são fundamentais para o ecossistema aquático, atuando na dispersão de sementes e na manutenção do equilíbrio ambiental, além de serem uma fonte de alimento para muitas comunidades. A proteção desses animais, ameaçados pela caça ilegal, perda de habitat e poluição, é essencial para preservar a biodiversidade e os serviços ecológicos que sustentam a vida na floresta.


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Servidores do Ibama e participantes do curso na AMEPP

Semeando a conscientização nas próximas gerações

 

Paralelamente à capacitação dos adultos, a escola municipal de Itapuru se tornou um ponto de encontro para as novas gerações de guardiões. A coordenadora nacional do PQA, Edelin Ribas, ministrou uma palestra sobre o programa para as crianças e jovens. O evento contou ainda com a exibição do filme institucional do PQA e um concurso de desenho com o tema dos quelônios, conduzido pela educadora ambiental Emídia Naiana Seixas.

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Foto ilustrativa de uma tartaruga – Agência Pará

O Programa Quelônios da Amazônia (PQA)

 

Criado em 1979, o PQA é o maior programa de conservação de fauna silvestre do mundo, com foco na proteção da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), do tracajá (Podocnemis unifilis) e do pitiú (Podocnemis sextuberculata). O programa já foi responsável pela soltura de mais de 100 milhões de filhotes, demonstrando seu impacto na preservação dessas espécies em toda a Amazônia Legal. Suas ações combinam manejo conservacionista, pesquisa, capacitação, educação ambiental e fiscalização, buscando um futuro mais sustentável para a fauna amazônica e as comunidades ribeirinhas que convivem com ela.

Essas iniciativas, como a realizada recentemente na comunidade de Santa Maria do Boiaçu, em Roraima, onde 100 mil filhotes de quelônios foram soltos por alunos e professores, mostram que a proteção ambiental pode e deve ser um esforço coletivo e intergeracional.

saiba mais: Tecnologia aérea revela na Amazônia o maior ninhal de tartarugas do mundo

Pará defende obra no Rio Tocantins para escoar produção

Submerso nas águas do Rio Tocantins, um obstáculo de rocha milenar conhecido como Pedral do Lourenço é o epicentro de uma disputa que pode redefinir o futuro da logística e do desenvolvimento na Amazônia. Para o governo, dinamitar essa barreira natural não é apenas uma obra de engenharia, mas a liberação de uma artéria econômica vital para o Brasil. Em uma ofensiva política direcionada ao governo federal, o estado defende o projeto como um passo estratégico e inadiável rumo a um desenvolvimento mais sustentável.

A visão apresentada pelo governador Helder Barbalho é a de um rio transformado em um corredor de eficiência. Com o derrocamento do pedral, a Hidrovia Tocantins – Araguaia se tornaria plenamente navegável no trecho crucial entre Marabá e o porto de Barcarena. A promessa é monumental: injetar entre 20 e 60 milhões de toneladas de carga por ano na via fluvial, retirando das estradas o peso e o risco de até 500 mil viagens de caminhão.

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Pedral do lourenço – Antonio Cavalcante

Preserva-se o meio ambiente mas o Pará Cresce

Em sua argumentação, o governo paraense enquadra o projeto não como um avanço bruto sobre a natureza, mas como uma escolha inteligente e ecológica. A lógica é que o transporte hidroviário é até 20 vezes menos poluente que o rodoviário e pode baratear em até 30% os custos de escoamento da produção – um alívio para o agronegócio e a mineração, que ganham competitividade no cenário global.

Com uma licença ambiental já concedida pelo Ibama, o estado agora pressiona Brasília para garantir a execução, blindando a obra contra propostas de criação de uma nova área de proteção ambiental na região, o que inviabilizaria o empreendimento. “O Pará acredita que é possível conciliar preservação ambiental com desenvolvimento econômico”, declarou o governador Helder Barbalho, posicionando a hidrovia como a materialização desse equilíbrio. “Precisamos garantir segurança jurídica para que o Pará e o Brasil avancem.”

O embate, portanto, se desenha entre duas visões de futuro. De um lado, a de um rio que serve como uma “superestrada” fluvial, otimizando a economia com uma pegada de carbono menor que a alternativa rodoviária. Do outro, a de um ecossistema que deve ser protegido de intervenções de grande porte. A decisão sobre o destino do Pedral do Lourenço não será apenas sobre rochas e navios; será um veredito sobre qual modelo de progresso o Brasil escolherá para o coração da sua maior floresta.

Saiba mais: Como a seca na Amazônia poderia facilitar a remoção do Pedral do Lourenço e impulsionar a logística hidroviária?

 

O Teste Final na Fronteira Amazônica: Petrobras Inicia Simulação Decisiva para Explorar Petróleo

Nas águas profundas do litoral do Amapá, a 175 quilômetros da costa, a imponente sonda NS-42 da Petrobras agora flutua sobre o ponto exato onde a empresa quer perfurar em busca de petróleo. Sua chegada, nesta terça-feira (19), não é para iniciar a extração, mas para protagonizar o ato final de um tenso e prolongado processo de licenciamento ambiental: um simulado de desastre em larga escala.

Este exercício, batizado de Avaliação Pré-operacional (APO), é a última barreira que separa a Petrobras da cobiçada licença para explorar o bloco FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas. Agendado para começar no próximo domingo (24), após meses de negociações com o Ibama, o procedimento é um teste de fogo. Durante três a quatro dias, a estatal terá que provar, sob o olhar atento do órgão ambiental, que seu plano de emergência é mais do que um documento.

O que se desenrolará no mar não será uma mera formalidade. Com mais de 400 pessoas, embarcações de grande porte e helicópteros, a operação simulará o pior cenário: um derramamento de óleo. Será um balé complexo e cronometrado, projetado para testar a agilidade das equipes, a eficácia dos equipamentos de contenção, a capacidade de resgate da fauna marinha e a clareza da comunicação com as autoridades. É a chance da Petrobras demonstrar, na prática, que pode domar os riscos de operar em uma das áreas mais sensíveis do planeta.

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Presidente da Petrobras, Magda Chambriard Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“Estamos levando para o Amapá a maior estrutura de resposta a ocorrências já mobilizada pela companhia”, afirmou a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, sublinhando o rigor e a prontidão que a empresa pretende exibir. A confiança é alta; para a estatal, a conclusão bem-sucedida do simulado é o passaporte para a licença, um roteiro já seguido com sucesso em 2023 para autorizar perfurações no litoral do Rio Grande do Norte.

saiba mais: Petrobras Revela Nova Riqueza no Pré-Sal da Bacia de Santos

Um Oceano de Controvérsias e Pressões

A operação, no entanto, ocorre em meio a um turbilhão de interesses que colidem. A Margem Equatorial é vista como a última grande fronteira exploratória do Brasil, uma região cujo potencial foi aguçado por descobertas bilionárias nas vizinhas Guiana e Suriname. Para a Petrobras e para setores do governo, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministério de Minas e Energia, destravar essa riqueza é uma questão estratégica para garantir a autossuficiência energética do país na próxima década e evitar a necessidade de importação de petróleo.

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Navio Petroleiro na costa oriental amazônica – Cezar Fernandes/ Agencia Brasil

Essa visão, contudo, enfrenta uma muralha de resistência. Ambientalistas alertam para os riscos catastróficos de um acidente na região, de ecossistemas únicos e ainda pouco estudados. A própria Academia Brasileira de Ciências (ABC) recomendou, em comunicado recente, que mais pesquisas científicas sejam feitas antes de qualquer perfuração. Para os críticos, insistir em novos campos de combustíveis fósseis representa uma perigosa contradição com os compromissos climáticos e a transição para uma economia de baixo carbono.

A tensão é palpável. Em maio de 2023, o Ibama negou a licença para este mesmo bloco, uma decisão que a Petrobras contestou e agora busca reverter. Enquanto a empresa mobiliza seus recursos para o simulado, a espera pela luz verde sangra seus cofres em R$4 milhões por dia. Nos bastidores do poder, em Brasília, figuras como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, articulam intensamente para acelerar a autorização.

Nesse cenário, a simulação que está prestes a começar transcende o aspecto técnico. Ela se torna um evento político, um palco onde a capacidade tecnológica da Petrobras será pesada contra a prudência ambiental. O resultado não definirá apenas o futuro do bloco FZA-M-59, mas também o rumo do debate nacional sobre desenvolvimento, energia e o destino da costa amazônica.