Às vésperas da COP30, que em 2025 transformará Belém e o Brasil em palco global das discussões climáticas, uma nova iniciativa surge em Manaus com potencial de reposicionar a Amazônia no mapa das finanças verdes. A prefeitura da capital amazonense articula o lançamento da Bolsa de Créditos de Carbono da Amazônia, projeto que conta com apoio técnico do Banco Mundial e deve ser incorporado ao plano municipal de bioeconomia a partir de 2026.
A proposta nasce da realidade amazônica, mas se projeta para muito além dela. A ideia é estruturar uma plataforma única para negociar créditos de carbono vinculados tanto a projetos de conservação e reflorestamento, como os desenvolvidos no âmbito do REDD+ — mecanismo da ONU criado para recompensar países em desenvolvimento que reduzem emissões preservando suas florestas — quanto a iniciativas urbanas, como universalização do saneamento básico, eletrificação do transporte público e expansão de fontes limpas de energia.
Em nota à imprensa, o prefeito David Almeida ressaltou que o esforço vai além da formalidade administrativa: trata-se de um movimento para consolidar Manaus como um “hub climático do Hemisfério Sul”. Segundo ele, o município está construindo instrumentos jurídicos e operacionais que garantam rastreabilidade e integridade às operações, pilares essenciais para a credibilidade do mercado de carbono.
O projeto reflete a percepção de que a Amazônia não pode ser vista apenas como um passivo ambiental, mas como um ativo econômico estratégico em um mundo cada vez mais pressionado pela urgência climática. Com o apoio do Banco Mundial, a Bolsa pretende atrair investidores públicos e privados, tanto nacionais quanto estrangeiros, interessados em projetos capazes de gerar créditos comercializáveis nos mercados regulado e voluntário.

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A inovação, porém, não se limitará às fronteiras amazônicas. A plataforma da Bolsa de Manaus também pretende negociar títulos verdes relacionados à preservação de outras grandes florestas tropicais, como a do Congo e a da Indonésia. A expectativa é captar até 500 milhões de dólares — o equivalente a cerca de 2,7 bilhões de reais no câmbio atual — até 2028.
Esse movimento se soma a outros esforços recentes que buscam consolidar o Brasil como referência em mercados ambientais. Na semana anterior, durante a Climate Week em Nova York, a B3, responsável pela bolsa de valores brasileira, anunciou o projeto-piloto de sua plataforma de registro primário de créditos de carbono. Os primeiros 30 mil créditos já foram emitidos pela Reservas Votorantim, empresa criada em 2015 pelo Grupo Votorantim para gerir 130 mil hectares em diferentes biomas. Eles estão em processo de aquisição por companhias como a Motiva e a EY.
Esse dinamismo só foi possível porque o Brasil regulamentou recentemente o mercado de carbono, por meio da Lei 15.042, sancionada em 2024. A nova legislação deu segurança jurídica e clareza de regras para empresas e governos, criando um ambiente propício para iniciativas que conectam preservação ambiental e economia de baixo carbono.
O lançamento da Bolsa de Créditos de Carbono da Amazônia, portanto, sinaliza uma virada estratégica. Mais do que captar investimentos, o projeto coloca Manaus na vanguarda de uma nova economia que reconhece o valor financeiro da floresta em pé. Ao se articular com grandes atores globais e integrar ativos florestais e urbanos, a cidade busca assumir um protagonismo que pode redefinir o papel da Amazônia não apenas como patrimônio natural, mas também como motor de inovação econômica e climática.
Com a proximidade da COP30, iniciativas desse porte reforçam a mensagem de que o Brasil está disposto a combinar preservação e desenvolvimento. A disputa pela liderança no mercado de carbono global já começou, e Manaus quer ocupar o centro desse tabuleiro.





















































