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Manaus prepara Bolsa de Carbono para liderar finanças verdes

Às vésperas da COP30, que em 2025 transformará Belém e o Brasil em palco global das discussões climáticas, uma nova iniciativa surge em Manaus com potencial de reposicionar a Amazônia no mapa das finanças verdes. A prefeitura da capital amazonense articula o lançamento da Bolsa de Créditos de Carbono da Amazônia, projeto que conta com apoio técnico do Banco Mundial e deve ser incorporado ao plano municipal de bioeconomia a partir de 2026.

A proposta nasce da realidade amazônica, mas se projeta para muito além dela. A ideia é estruturar uma plataforma única para negociar créditos de carbono vinculados tanto a projetos de conservação e reflorestamento, como os desenvolvidos no âmbito do REDD+ — mecanismo da ONU criado para recompensar países em desenvolvimento que reduzem emissões preservando suas florestas — quanto a iniciativas urbanas, como universalização do saneamento básico, eletrificação do transporte público e expansão de fontes limpas de energia.

Em nota à imprensa, o prefeito David Almeida ressaltou que o esforço vai além da formalidade administrativa: trata-se de um movimento para consolidar Manaus como um “hub climático do Hemisfério Sul”. Segundo ele, o município está construindo instrumentos jurídicos e operacionais que garantam rastreabilidade e integridade às operações, pilares essenciais para a credibilidade do mercado de carbono.

O projeto reflete a percepção de que a Amazônia não pode ser vista apenas como um passivo ambiental, mas como um ativo econômico estratégico em um mundo cada vez mais pressionado pela urgência climática. Com o apoio do Banco Mundial, a Bolsa pretende atrair investidores públicos e privados, tanto nacionais quanto estrangeiros, interessados em projetos capazes de gerar créditos comercializáveis nos mercados regulado e voluntário.

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A inovação, porém, não se limitará às fronteiras amazônicas. A plataforma da Bolsa de Manaus também pretende negociar títulos verdes relacionados à preservação de outras grandes florestas tropicais, como a do Congo e a da Indonésia. A expectativa é captar até 500 milhões de dólares — o equivalente a cerca de 2,7 bilhões de reais no câmbio atual — até 2028.

Esse movimento se soma a outros esforços recentes que buscam consolidar o Brasil como referência em mercados ambientais. Na semana anterior, durante a Climate Week em Nova York, a B3, responsável pela bolsa de valores brasileira, anunciou o projeto-piloto de sua plataforma de registro primário de créditos de carbono. Os primeiros 30 mil créditos já foram emitidos pela Reservas Votorantim, empresa criada em 2015 pelo Grupo Votorantim para gerir 130 mil hectares em diferentes biomas. Eles estão em processo de aquisição por companhias como a Motiva e a EY.

Esse dinamismo só foi possível porque o Brasil regulamentou recentemente o mercado de carbono, por meio da Lei 15.042, sancionada em 2024. A nova legislação deu segurança jurídica e clareza de regras para empresas e governos, criando um ambiente propício para iniciativas que conectam preservação ambiental e economia de baixo carbono.

O lançamento da Bolsa de Créditos de Carbono da Amazônia, portanto, sinaliza uma virada estratégica. Mais do que captar investimentos, o projeto coloca Manaus na vanguarda de uma nova economia que reconhece o valor financeiro da floresta em pé. Ao se articular com grandes atores globais e integrar ativos florestais e urbanos, a cidade busca assumir um protagonismo que pode redefinir o papel da Amazônia não apenas como patrimônio natural, mas também como motor de inovação econômica e climática.

Com a proximidade da COP30, iniciativas desse porte reforçam a mensagem de que o Brasil está disposto a combinar preservação e desenvolvimento. A disputa pela liderança no mercado de carbono global já começou, e Manaus quer ocupar o centro desse tabuleiro.

Cooperação fortalece monitoramento e governança da água na Amazônia

O futuro da segurança hídrica da Amazônia está sendo desenhado por meio de cooperação, ciência aplicada e compromissos multilaterais. Nos últimos meses, dois movimentos complementares mostraram como os países que compartilham a Bacia Amazônica estão fortalecendo sua capacidade de gerir as águas transfronteiriças. De um lado, a Rede Amazônica de Autoridades de Água (RADA) deu início à implementação dos Protocolos Regionais de Monitoramento, que estabelecem bases comuns para medir quantidade e qualidade da água. De outro, o Projeto Bacia Amazônica levou para a Semana Mundial da Água, em Estocolmo, a mensagem de que a governança hídrica regional precisa integrar ciência, comunidades locais e setores estratégicos como agricultura, energia e florestas.

Protocolos regionais: monitorar para gerir em conjunto

Entre 29 de julho e 1º de agosto, especialistas em hidrologia e meteorologia de oito países amazônicos reuniram-se em Brasília para o Curso Regional de Implementação de Redes de Monitoramento Hidrológico, Meteorológico e da Qualidade da Água. Organizado pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), com apoio do Projeto Bacia Amazônica e em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o encontro marcou o início da aplicação prática dos protocolos regionais aprovados pela RADA.

O objetivo foi mais do que técnico: construir uma visão comum sobre a importância de compartilhar dados confiáveis e comparáveis, capazes de embasar diagnósticos conjuntos e orientar políticas públicas para toda a região.

Naziano Filizola, consultor do projeto e coordenador do curso, destacou que a capacitação buscou mostrar aos participantes a relevância da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH) no contexto amazônico. Ao trabalhar cenários de vazões, secas e inundações, a troca de experiências permitiu refletir sobre como integrar dados dispersos em sistemas compatíveis e úteis para a tomada de decisão.

O curso combinou exposições técnicas com exercícios práticos, como a simulação em zonas transfronteiriças fictícias. Essa experiência destacou um princípio central: rios não reconhecem fronteiras políticas. Como afirmou Jorge Gonzalez, do Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (IDEAM – Colômbia), “somos parte de um mesmo território e precisamos compreender o monitoramento como esforço coletivo e multidisciplinar”.

Participantes de instituições como o INAMHI – Equador, o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru (SENAMHI) e a Autoridade Nacional de Água do Peru reforçaram a importância de multiplicar o conhecimento em suas equipes locais. A ideia é que os aprendizados não fiquem restritos ao curso, mas se transformem em capacidade institucional e colaboração contínua.

O encontro também abriu caminho para a criação do Grupo Regional de Monitoramento, que deverá integrar órgãos nacionais responsáveis por serviços hidrológicos e ambientais. Essa instância dará corpo às redes de monitoramento e garantirá que os protocolos não sejam apenas diretrizes no papel, mas práticas consolidadas no território.

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Plataforma Regional de Informações

Outro resultado estratégico da capacitação foi a ampliação da compreensão coletiva sobre a Plataforma Regional Integrada de Informações da GIRH, iniciativa coordenada pela OTCA. Essa plataforma, em construção progressiva, reunirá dados hidrológicos fornecidos pelos países para gerar cenários regionais, balanços hídricos, tendências de vazão, alertas de secas ou cheias e apoiar comunidades, gestores e acordos internacionais.

Segundo Filizola, ter informações globais não basta: é necessário produzir conhecimento específico e de qualidade sobre os rios amazônicos, condição essencial para aumentar a resiliência diante das mudanças climáticas.

Amazônia no centro do debate internacional

Se em Brasília o foco foi capacitar técnicos e harmonizar protocolos, em Estocolmo a ênfase esteve em colocar a Amazônia no debate global sobre a água. Durante a Semana Mundial da Água, o Projeto Bacia Amazônica participou de dois painéis que discutiram a gestão de ecossistemas compartilhados e os vínculos entre florestas, água e agricultura.

Em uma sessão organizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (CEPE), pela OTCA e pelo GEF-IW:LEARN, o especialista Fernando Cisneros destacou como a água funciona como eixo articulador da Amazônia. Instrumentos como a Análise Diagnóstica Transfronteiriça (ADT) e o Programa de Ações Estratégicas (PAE), já adotados regionalmente, orientam respostas conjuntas para desafios que vão da conservação de ecossistemas à saúde pública.

Outro destaque foi a criação da própria RADA em 2024, que hoje já avança na elaboração de um Livro Branco para consolidar princípios de monitoramento e estratégias institucionais com participação de povos indígenas e comunidades locais.

Cisneros também apresentou o Observatório Regional Amazônico (ORA), que busca democratizar o acesso a dados socioambientais e climáticos em tempo real.

Integração entre setores

No painel dedicado a florestas e agricultura, organizado pela FAO, pela Universidade Sueca de Ciências Agrárias (SLU), pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI) e pela SIANI, Cisneros destacou que o desafio não é apenas científico. A resiliência amazônica depende da integração entre setores estratégicos: proteger florestas, melhorar a produtividade agrícola e diversificar a matriz energética de forma coordenada.

Segundo ele, isso exige dados de qualidade, ferramentas analíticas e capacitação técnica. Mais do que um esforço isolado, trata-se de construir uma governança hídrica que dialogue com economia, clima e biodiversidade.

Um mesmo território, um mesmo futuro

Seja no trabalho prático de harmonizar protocolos em Brasília, seja na diplomacia científica em Estocolmo, a mensagem é a mesma: a Amazônia precisa de uma gestão da água que reconheça sua natureza transfronteiriça e estratégica. Os avanços recentes mostram que os países da região estão dispostos a cooperar, fortalecer suas instituições e apostar na ciência como alicerce da governança hídrica.

Mais do que um desafio técnico, trata-se de um projeto político e civilizatório: cuidar das águas amazônicas é cuidar do futuro de toda a região.

China, Japão e Coreia firmam novo plano de cooperação ambiental

China, Japão e República da Coreia decidiram dar um novo passo conjunto em direção a um futuro mais sustentável. Durante a 26ª Reunião Trilateral de Ministros do Meio Ambiente, realizada em Yantai, província de Shandong, foi aprovado o Plano de Ação de Cooperação Ambiental 2026-2030, que estabelece prioridades para os próximos cinco anos e reafirma o compromisso dos três países com a proteção ambiental regional e global.

O encontro, que desde 1999 ocorre de forma rotativa entre os países, consolidou-se como um dos mais duradouros fóruns de diálogo ambiental da Ásia. Mais do que encontros protocolares, essas reuniões têm produzido resultados concretos. Ao longo das últimas duas décadas, a cooperação trilateral já permitiu avanços significativos no controle da poluição atmosférica, na prevenção de tempestades de areia e na gestão de substâncias químicas nocivas.

Segundo o ministro da Ecologia e Meio Ambiente da China, Huang Runqiu, o novo plano de ação reforça a parceria construída em fases anteriores e aponta para um horizonte de colaboração ainda mais ambicioso. O documento abrange oito áreas prioritárias, entre elas qualidade do ar, combate às mudanças climáticas, gestão de resíduos, preservação da biodiversidade e promoção de cidades sustentáveis. Embora não tenha sido detalhado publicamente em todos os pontos, o plano se apresenta como um roteiro estratégico para alinhar esforços em questões ambientais que ultrapassam fronteiras nacionais.

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O aspecto regional é crucial. China, Japão e República da Coreia enfrentam problemas ambientais comuns, como poluição transfronteiriça, pressão urbana sobre ecossistemas costeiros e vulnerabilidade crescente diante dos efeitos das mudanças climáticas. A experiência acumulada em mais de vinte anos de cooperação permitiu desenvolver não apenas respostas conjuntas, mas também uma linguagem política comum capaz de gerar confiança entre vizinhos que historicamente enfrentam tensões diplomáticas.

Huang destacou que a intensificação da cooperação ambiental vai além de metas técnicas: representa um investimento direto no bem-estar das populações. Melhorar a qualidade do ar, reduzir riscos químicos e fortalecer ecossistemas naturais significa proteger a saúde de milhões de pessoas e criar condições para que a região se torne uma referência em desenvolvimento verde. “O fortalecimento da cooperação, o avanço do desenvolvimento sustentável regional e a melhoria do bem-estar ambiental estão alinhados aos interesses compartilhados dos três países”, afirmou o ministro.

O simbolismo da assinatura do plano também merece destaque. Em um cenário global marcado por crises ambientais, econômicas e geopolíticas, a decisão dos três governos de priorizar a agenda ambiental sinaliza a percepção de que o futuro da Ásia — e, em larga medida, do planeta — depende de uma ação coordenada. Se na década de 1990 a cooperação trilateral nasceu como resposta a problemas concretos de poluição, agora ela se reposiciona como plataforma de liderança internacional em governança ambiental.

Além do Ministério da Ecologia e Meio Ambiente da China, participaram representantes do Ministério do Meio Ambiente do Japão e do Ministério do Meio Ambiente da República da Coreia. O compromisso firmado pelos três ministros demonstra que, mesmo diante de diferenças políticas e econômicas, há um entendimento comum de que a degradação ambiental não reconhece fronteiras e exige soluções coletivas.

O Plano de Ação 2026-2030 deve impulsionar projetos de pesquisa conjunta, sistemas de monitoramento ambiental compartilhados e mecanismos para acelerar a transição energética. Outro eixo importante é o fortalecimento do diálogo com a sociedade civil, incluindo universidades, organizações ambientais e empresas, para transformar compromissos diplomáticos em resultados práticos no território.

Se cumprir suas promessas, essa nova etapa de cooperação poderá oferecer um modelo para outras regiões do mundo, demonstrando que é possível conciliar interesses nacionais com responsabilidades globais. A Ásia, que concentra algumas das maiores economias e populações do planeta, terá assim a oportunidade de mostrar que crescimento econômico e sustentabilidade não são objetivos excludentes, mas complementares.

Povos tradicionais propõem caminhos para agroecologia

A 3ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (3ªCNDRSS) abriu em Brasília um novo capítulo no debate sobre os rumos da agricultura brasileira. No coração das discussões está a transformação agroecológica, apontada como chave para enfrentar as mudanças climáticas, fortalecer a justiça social e garantir o bem viver nos territórios rurais.

O encontro reuniu 28 setores de povos e comunidades tradicionais, trazendo para o centro da política pública vozes historicamente marginalizadas, mas que guardam a memória, a cultura e a biodiversidade do país.

De acordo com Samuel Carvalho, secretário-executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Solidário (Condraf), a conferência busca mostrar que o futuro das cidades depende diretamente da vitalidade dos territórios rurais. “É no rural que se produzem os alimentos, que se protege a biodiversidade e que se garante a vida, inclusive nas áreas urbanas. Nosso desafio é valorizar e priorizar esse papel estratégico, articulando produção, meio ambiente e segurança alimentar”, afirmou.

Os setores representados no encontro são múltiplos e revelam a diversidade cultural do Brasil: andirobeiros, apanhadores de flores sempre-vivas, caatingueiros, caiçaras, catadores de mangaba, ciganos, comunidades de fundo e fecho de pasto, extrativistas, faxinalenses, geraizeiros, ilhéus, indígenas, isqueiros, morroquianos, pantaneiros, pescadores artesanais, piaçaveiros, pomeranos, povos de terreiro, quebradeiras de coco babaçu, quilombolas, retireiros, ribeirinhos, seringueiros, vazanteiros e veredeiros. Juntos, eles estão elaborando 30 propostas que serão levadas à etapa nacional da conferência, prevista para março de 2026.

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Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

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Entre as reivindicações, a proteção dos territórios e das pessoas aparece como questão central. Para Maria Alaídes Alves, coordenadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, que atua no Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, não se trata apenas de preservar o espaço físico, mas também de garantir segurança aos corpos que resistem nesses territórios. “Falamos de saúde, falamos da crise climática, mas também da violência que ainda enfrentamos com invasores e grileiros. É preciso proteger os territórios e proteger os corpos que os sustentam”, destacou.

Essa dimensão da violência e da invisibilidade também foi abordada por Taata Kommannanjy, representante nacional da Rede de Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Ele lembrou que, apesar da diversidade de categorias presentes, muitas seguem ignoradas pelo Estado e pela sociedade. “Não podemos aceitar que apenas duas ou três comunidades sejam visibilizadas enquanto as demais permanecem invisíveis. Queremos políticas públicas que cheguem a todos os povos e a todos os territórios, de Norte a Sul do país”, disse.

A conferência setorial dos povos tradicionais é a segunda de três etapas preparatórias para a fase territorial e, posteriormente, para a nacional. A primeira reuniu jovens rurais e tratou do eixo transversal Autonomia e Emancipação da Juventude e Sucessão Rural. A etapa atual traz como eixo principal a Valorização dos Saberes Tradicionais dos Velhos, reconhecendo o papel dos anciãos como guardiões de conhecimento. Em outubro, acontecerá a terceira reunião, com foco na Autonomia Econômica das Mulheres Rurais.

Além desses, outros cinco eixos temáticos orientam a construção coletiva da conferência: agroecologia, produção sustentável, economia solidária, acesso à terra e fortalecimento da agricultura familiar. Todos buscam orientar políticas públicas que garantam não apenas a preservação dos biomas, mas também a soberania alimentar e a equidade social.

Samuel Carvalho destacou ainda que o processo tem buscado a maior abrangência possível. O objetivo é que todos os 27 estados brasileiros realizem suas conferências estaduais, assegurando representatividade e legitimidade às propostas que chegarão à etapa nacional. “Estamos no esforço de alcançar todos os territórios, para que a diversidade esteja presente nas discussões e para que a construção seja, de fato, coletiva e inclusiva”, afirmou.

No fundo, a conferência setorial é mais do que um espaço de debate: é um território simbólico de resistência e de construção de futuros. Ali, povos que há séculos preservam saberes e modos de vida se colocam como protagonistas de uma agenda de transformação agroecológica que, se levada a sério, poderá redefinir a relação entre campo, cidade e natureza no Brasil.

Você vai ensinar o gato a usar o arranhador sem esforço com essas 5 dicas práticas

Quem tem gato em casa já passou pela frustração de encontrar sofás, cortinas e até cadeiras com marcas de arranhões. Esse comportamento, natural e instintivo, faz parte da rotina dos felinos — afinal, eles arranham para afiar as garras, marcar território e até para aliviar o estresse. Mas como convencer o gato a usar o arranhador sem transformar a sala em campo de batalha? Com pequenas mudanças de rotina e truques validados por especialistas, é possível direcionar esse hábito de forma simples e eficiente.

Como incentivar o gato a usar o arranhador

A primeira dica é clara: a localização faz toda a diferença. O arranhador não deve ficar escondido em um canto esquecido da casa. Coloque-o em áreas de passagem ou próximo de onde o gato já costuma arranhar. Se ele gosta do sofá, posicione o arranhador ao lado. Assim, a substituição se torna mais natural.

Outra estratégia é usar atrativos específicos, como catnip (erva-do-gato). Essa planta libera um aroma irresistível para muitos felinos, despertando curiosidade e estimulando o uso. Polvilhar um pouco de catnip no arranhador pode ser o gatilho que faltava para o seu pet adotar o acessório de vez.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), mais de 60% dos lares brasileiros possuem pelo menos um gato, e grande parte dos tutores relata dificuldades com arranhões em móveis. Isso mostra que o tema não é apenas comportamental, mas também de convivência saudável no lar.

Variedade de arranhadores ajuda na adaptação

Nem todo gato gosta do mesmo tipo de arranhador. Alguns preferem modelos verticais, outros horizontais. Existem ainda os inclinados, que imitam o movimento natural das patas. O segredo é oferecer mais de uma opção para observar a preferência do seu felino.

Estudos da Universidade de São Paulo (USP) apontam que a diversidade de estímulos aumenta a taxa de adesão dos gatos ao uso de brinquedos e acessórios, justamente porque respeita as diferenças individuais. Em outras palavras, o que funciona para um gato pode não funcionar para outro.

Recompensas fazem parte do treino

Os gatos não são “adestrados” como cães, mas respondem muito bem ao reforço positivo. Sempre que seu gato usar o arranhador, ofereça um petisco, carinho ou até palavras de incentivo. Essa associação cria uma memória agradável, tornando o hábito mais frequente.

Segundo especialistas internacionais, como o Cornell Feline Health Center (EUA), os felinos são mais propensos a repetir comportamentos que trazem recompensas imediatas, especialmente quando se sentem confortáveis no ambiente. Isso reforça a importância de associar o arranhador a algo positivo.

Como proteger os móveis durante a adaptação

Enquanto o gato não se acostuma totalmente ao arranhador, é possível proteger os móveis com capas ou mantas. Outra solução prática é aplicar repelentes naturais à base de citronela em áreas críticas, sempre tomando cuidado para não prejudicar o animal.

Além disso, alguns tutores optam por colar fitas adesivas próprias para móveis. Os gatos não gostam da sensação pegajosa, o que ajuda a redirecionar o comportamento para o arranhador.

Brincadeiras que estimulam o uso do arranhador

Transformar o momento em diversão também funciona. Use varinhas com penas ou bolinhas presas a cordas para conduzir o gato até o arranhador. Durante a brincadeira, ele vai arranhar de forma instintiva, associando o objeto ao prazer da interação.

Esse tipo de estímulo não só protege os móveis, como também fortalece o vínculo entre tutor e pet. Pesquisas divulgadas pela Fiocruz destacam que a interação lúdica com animais de estimação tem impacto positivo até mesmo na saúde mental dos tutores, reduzindo estresse e ansiedade.

No fim, ensinar o gato a usar o arranhador não é questão de imposição, mas de oferecer alternativas atrativas e consistentes. Com paciência, reforço positivo e um pouco de criatividade, seu felino pode deixar os móveis em paz e adotar o arranhador como parte da rotina diária. Afinal, um gato feliz é também um lar mais tranquilo e harmonioso.

A importância do arranhador para o bem-estar do gato

O arranhador não é apenas um acessório para proteger os móveis, mas uma ferramenta essencial para a saúde física e emocional do gato. Ao arranhar, ele alivia tensões, marca território e mantém as garras afiadas. Esse hábito faz parte de sua natureza, por isso oferecer alternativas adequadas é fundamental para garantir que o pet esteja feliz e equilibrado dentro de casa.

Como transformar o arranhador em parte da rotina

Para que o gato realmente adote o arranhador, é importante inseri-lo no dia a dia como algo positivo e divertido. Posicione-o em locais estratégicos, brinque junto usando varinhas ou petiscos e premie o felino sempre que ele utilizar o acessório. Assim, em pouco tempo, o arranhador se torna parte natural da rotina, evitando desgastes nos móveis e fortalecendo a convivência harmoniosa no lar.

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P-78 chega ao pré-sal e promete aumentar produção em 20%

O mar de Búzios, na Bacia de Campos, recebeu um novo gigante da indústria do petróleo. A Petrobras anunciou a chegada da plataforma P-78, uma unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência (FPSO), que promete reforçar a extração do pré-sal com capacidade de ampliar em até 20% a produção diária do campo.

A P-78 não é apenas mais uma embarcação na frota da estatal. Com capacidade de produzir 180 mil barris de óleo por dia e comprimir 7,2 milhões de metros cúbicos de gás, o navio-plataforma chega para consolidar o Campo de Búzios como um dos principais polos de exploração do país. Situado a cerca de 180 quilômetros da costa do Rio de Janeiro, Búzios já é considerado a maior jazida em produção no Brasil, respondendo sozinho por quase um milhão de barris diários.

A trajetória da P-78 até águas brasileiras foi longa e complexa. O casco começou a ser construído em estaleiros de Yantai e Hayang, na China, e também em Ulsan, na Coreia do Sul. Os módulos foram integrados em território coreano e, em seguida, a embarcação seguiu para Singapura, onde ocorreu a montagem final. Parte dessa estrutura também foi produzida em território nacional, no estaleiro da Seatrium, antigo Brasfels, localizado em Angra dos Reis, no litoral fluminense.

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O diferencial desta operação foi a estratégia adotada pela Petrobras para antecipar o início da produção. Pela primeira vez em mais de duas décadas, uma tripulação brasileira embarcou no navio ainda em Singapura, durante o transporte até o Brasil. Essa medida permitiu que os profissionais recebessem treinamento no próprio trajeto, adiantando procedimentos de adaptação e encurtando em duas semanas o prazo para o início da operação. A última vez que a companhia havia utilizado esse recurso foi em 1999.

A diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia Anjos, destacou que o Campo de Búzios já ultrapassou a marca de 900 mil barris de petróleo por dia. Com a entrada da P-78, a expectativa é que a produção tenha um salto significativo, consolidando ainda mais a importância estratégica do pré-sal na matriz energética nacional. Além da P-78, já operam em Búzios as plataformas P-74, P-75, P-76, P-77, Almirante Barroso e Almirante Tamandaré.

Antes que a produção comece de fato, ainda serão necessários alguns meses de preparação. O processo inclui o serviço de ancoragem e a interligação da plataforma aos poços de petróleo, etapas que demandam alta precisão técnica e logística complexa. A estimativa é que essas fases levem cerca de dois meses para serem concluídas.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o pré-sal já responde por cerca de 80% da produção nacional de petróleo e gás. A descoberta dessa camada geológica em 2006 representou uma virada histórica para o setor energético do Brasil. O início da produção em 2008, no Campo de Jubarte, também na Bacia de Campos, marcou a entrada definitiva do país em um patamar de autossuficiência.

Os poços do pré-sal têm características únicas: localizados a profundidades que variam entre 5 mil e 7 mil metros, armazenam óleo leve, considerado de excelente qualidade no mercado internacional, com alto valor agregado. Essa vantagem garante ao Brasil competitividade em um cenário global que, ao mesmo tempo em que busca reduzir a dependência de combustíveis fósseis, ainda mantém forte demanda por petróleo.

A chegada da P-78 reforça esse papel estratégico. Se, de um lado, o Brasil avança em políticas de transição energética e busca consolidar fontes renováveis, de outro, aposta na exploração eficiente de seus recursos do pré-sal como pilar econômico. A Petrobras, enquanto principal operadora desse mercado, equilibra os dois caminhos: investir em energias mais limpas e, ao mesmo tempo, ampliar sua participação em um segmento onde o país detém vantagem competitiva.

Com a P-78, o Campo de Búzios se aproxima de um novo patamar, e o Brasil reafirma sua posição de destaque entre os grandes produtores globais de petróleo. A plataforma simboliza não apenas uma conquista tecnológica, mas também a força da indústria naval, a integração de cadeias internacionais de produção e a persistência de um projeto que continua moldando a soberania energética nacional.

Meninas Negras na Ciência: quando a inclusão transforma futuros

O futuro da ciência brasileira ganha novas cores e vozes com o projeto Meninas Negras na Ciência, promovido pela Fiocruz. A iniciativa está com inscrições abertas até 5 de outubro e busca ampliar a presença de jovens negras nas áreas de ciência e tecnologia. Mais do que um curso, trata-se de um espaço de empoderamento, acolhimento e estímulo ao protagonismo juvenil.

O programa é voltado para 25 meninas cis ou trans que se autodeclarem negras, entre 15 e 19 anos. Três das vagas são destinadas a participantes com deficiência, reforçando o compromisso com a inclusão. As candidatas devem estar matriculadas em escolas públicas, no 1º ou 2º ano do ensino médio (regular, técnico integrado ou EJA), nos turnos da tarde ou da noite, e morar em territórios historicamente vulnerabilizados da zona norte do Rio de Janeiro, como Manguinhos, Maré, Jacarezinho, Complexo do Alemão ou São Cristóvão.

Inclusão como princípio

A escolha desse público não é casual. Jovens negras de periferias estão entre as mais afetadas pela desigualdade educacional e pela exclusão histórica em espaços de ciência e inovação. O projeto busca justamente romper esse ciclo de invisibilidade, valorizando saberes e trajetórias que muitas vezes não encontram reconhecimento.

As participantes terão acesso a uma série de atividades ao longo dos dez meses de duração do programa: rodas de conversa, cine-debates, oficinas temáticas, palestras, visitas a laboratórios da Fiocruz, centros culturais e museus. Para garantir a participação plena, o projeto oferece tablets e bolsas permanência. A jornada termina com um evento sociocultural, pensado como celebração e ponto de encontro entre ciência, cultura e comunidade.

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Uma rede de apoio e inspiração

Segundo Hilda Gomes, coordenadora da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz), a expectativa é formar uma rede colaborativa que una jovens e cientistas negras em um ambiente de troca de experiências e construção coletiva. “Queremos que essas meninas conheçam os espaços de pesquisa, saúde e tecnologia, e que visualizem a ciência como um campo no qual elas podem ser protagonistas”, afirma.

O Meninas Negras na Ciência nasceu em 2017, idealizado por Hilda Gomes e pela educadora Aline Pessoa. Desde então, a iniciativa já impactou mais de mil pessoas, abrindo caminhos para jovens do ensino médio em comunidades como Manguinhos e o Complexo do Alemão. Mais do que ensinar, o projeto inspira, oferecendo oportunidades para que novas perspectivas e ideias floresçam no campo científico.

Cedipa e o compromisso institucional

A criação da Cedipa, em março de 2023, marcou um avanço dentro da Fiocruz no fortalecimento das políticas de equidade, diversidade e inclusão. A coordenação atua contra diferentes formas de opressão, como racismo, machismo, capacitismo, xenofobia e LGBTIfobia, buscando consolidar a pluralidade como valor fundamental da instituição.

Essa linha de atuação reflete diretamente no projeto Meninas Negras na Ciência, que se coloca como prática concreta de políticas afirmativas. A iniciativa mostra que investir em juventudes negras periféricas é também investir em inovação, diversidade e na construção de uma ciência mais plural e democrática.

Uma aposta no futuro

Ao reunir ciência, cultura e identidade, o projeto não se limita a abrir portas: ele reposiciona jovens negras como protagonistas de sua própria história, transformando vulnerabilidade em potência criativa. Em um cenário onde ainda predominam barreiras raciais e sociais, iniciativas como essa são fundamentais para ampliar horizontes e multiplicar possibilidades.

Se a ciência brasileira deseja ser global, diversa e capaz de responder aos grandes desafios contemporâneos, precisa se abrir a todas as vozes que a sociedade abriga. O Meninas Negras na Ciência é uma prova viva de que a mudança é possível quando inclusão e conhecimento caminham juntos.

Brasil avança no desenvolvimento de células a combustível nacionais

O Brasil está dando passos decisivos rumo à independência tecnológica em um dos campos mais promissores da transição energética: as células a combustível de óxido sólido, conhecidas como SOFCs. Pesquisadores do Centro de Inovação em Novas Energias (CINE), um Centro de Pesquisa Aplicada (CPA) criado pela FAPESP em parceria com a Shell e sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), já produziu protótipos de células 100% nacionais.

A iniciativa é pioneira porque busca reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros em uma tecnologia considerada estratégica para a produção de energia limpa.

Energia limpa em alta temperatura

As SOFCs são dispositivos capazes de gerar eletricidade com alta eficiência e baixas emissões. Diferentemente de outras células a combustível, elas aceitam diversos insumos, hidrogênio, bioetanol, metano, o que amplia as possibilidades de uso, desde veículos elétricos até comunidades isoladas da rede elétrica.

O desafio, porém, está em suas condições de operação. Para funcionar, as SOFCs atingem temperaturas que podem chegar a mil graus Celsius. Esse calor extremo compromete a durabilidade dos materiais e a estabilidade do sistema, fatores que ainda limitam sua adoção em larga escala.

Foi para enfrentar essa barreira que surgiu, no início dos anos 2000, a tecnologia das SOFCs de suporte metálico, conhecidas pela sigla MS-SOFCs. Nessa versão, o “esqueleto” do dispositivo é um metal poroso que oferece resistência mecânica, conduz eletricidade e permite a passagem dos gases de forma mais eficiente.

“Podemos imaginar a célula como um sanduíche de camadas. O suporte metálico é a base firme que impede a quebra da estrutura, conduz corrente elétrica e facilita o fluxo de combustível”, explica o engenheiro químico Gustavo Doubek, pesquisador da Unicamp e um dos autores principais de um artigo publicado na revista Ceramics International.

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MS-SOFCs, células a combustível de óxido sólido com suporte metálico: “sanduíche” de materiais viabiliza durabilidade, condutibilidade e porosidade (foto: CINE/divulgação)

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Ciência com assinatura brasileira

No CINE, Doubek lidera pesquisas para aprimorar as MS-SOFCs. O trabalho inclui a produção de protótipos feitos integralmente no Brasil, testes com diferentes ligas metálicas para avaliar resistência em condições extremas e estudos de desempenho voltados a ampliar a potência e a vida útil das células.

Os resultados obtidos até agora reforçam a avaliação do pesquisador: “o Brasil tem capacidade de desenvolver tecnologia própria nessa área, reduzindo a dependência de fornecedores externos e abrindo caminho para aplicações em mobilidade sustentável e geração descentralizada de energia limpa”.

O estudo destacou o potencial das ligas de aço inoxidável como suporte. Elas aliam robustez à resistência à corrosão, atributos essenciais para enfrentar as exigências de operação em temperaturas elevadas. Além disso, os avanços relatados no artigo oferecem aos pesquisadores de todo o mundo orientações sobre fabricação, escolha de materiais e tratamentos de superfície capazes de tornar a produção mais escalável e econômica.

Cooperação científica e financiamento

A pesquisa contou com colaboração internacional de um cientista da King Abdullah University of Science and Technology (KAUST) e foi apoiada por diferentes fontes de financiamento. Além da FAPESP, que mantém três projetos vinculados ao tema, o trabalho recebeu recursos da Fundação de Apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (Fundep) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Esses aportes são estratégicos, pois permitem transformar pesquisas de base em soluções aplicadas, capazes de gerar impacto econômico e ambiental.

O que está em jogo

A transição energética mundial não depende apenas de grandes parques solares ou eólicos. Tecnologias de armazenamento e conversão de energia, como as células a combustível, são fundamentais para garantir segurança energética em diferentes contextos.

Nesse cenário, a capacidade do Brasil de dominar o ciclo completo de produção de SOFCs, da pesquisa em materiais ao protótipo funcional, tem peso estratégico. Mais do que um avanço científico, trata-se de uma afirmação de soberania tecnológica e de inserção em cadeias globais de inovação.

O trabalho do CINE mostra que, com investimentos consistentes e cooperação entre universidades, agências de fomento e setor privado, o país pode não apenas acompanhar, mas também propor soluções próprias em tecnologias de fronteira.

Amazônia ganha caixa de ferramentas para gestão integrada da água

A Amazônia, região que concentra a maior bacia hidrográfica do planeta, acaba de receber um instrumento inovador para fortalecer a governança da água. Trata-se da Caixa de Ferramentas para a Gestão da Água na Amazônia, desenvolvida no âmbito do Projeto Bacia Amazônica – Implementação do Programa de Ações Estratégicas (PAE), iniciativa coordenada pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

A proposta é simples e poderosa: adaptar os conteúdos da plataforma global IWRM Toolbox , criada pela Global Water Partnership (GWP),  para a realidade amazônica. O resultado é uma coletânea de conhecimentos técnicos, experiências práticas e diretrizes estratégicas reunidos em um ambiente multilíngue (português, espanhol, inglês e holandês), voltado a apoiar gestores, técnicos e formuladores de políticas públicas dos oito países que compõem a bacia amazônica.

Uma ferramenta construída em rede

A Caixa Amazônica não nasceu de um laboratório distante, mas de um processo participativo. Sua concepção envolveu oficinas de capacitação realizadas pelo Projeto Bacia Amazônica com profissionais da gestão hídrica dos países membros da OTCA. Nesses encontros, os participantes exploraram como a IWRM Toolbox poderia ser traduzida para o contexto regional e contribuíram com diagnósticos, exemplos e reflexões que moldaram a versão amazônica.

O esforço resultou em uma visão de gestão que conecta as nascentes andinas ao estuário atlântico, incorporando a chamada Abordagem Fonte-a-Mar. Essa perspectiva amplia a compreensão da bacia como um sistema integrado, no qual cada decisão, seja em políticas nacionais ou em ações locais, influencia diretamente os fluxos ecológicos, sociais e econômicos da região.

Segundo o professor Carlos Saito, especialista em educação ambiental, análise espacial e segurança hídrica e coordenador da capacitação, “o caráter integrador e a base de conhecimento reunida são indispensáveis para promover uma gestão mais eficiente, sustentável e colaborativa dos recursos hídricos, especialmente em tempos de mudanças climáticas”.

20250804143351-GF00024376-F00427689-400x225 Amazônia ganha caixa de ferramentas para gestão integrada da água
Divulgação -Ag. Pará

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Estrutura baseada em quatro pilares

Organizada de forma modular e acessível, a Caixa apresenta seus conteúdos em três níveis hierárquicos. No topo, estão os quatro pilares da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH):

  1. Ambiente Facilitador – ferramentas para políticas públicas, planejamento e marcos legais. Essa dimensão aborda desde regras de alocação de água até a harmonização de planos nacionais e de bacias, criando uma base normativa compartilhada.

  2. Arranjos Institucionais e Participação – diretrizes sobre governança e envolvimento social. São apresentadas estruturas de responsabilidade, mecanismos de engajamento de atores e estratégias de capacitação para fortalecer a tomada de decisão.

  3. Instrumentos de Gestão – métodos e tecnologias para apoiar decisões informadas. Incluem sistemas de suporte, instrumentos econômicos, avaliações técnicas e estratégias de uso eficiente da água.

  4. Financiamento – alternativas para garantir recursos sustentáveis ao setor hídrico. A seção reúne desde justificativas de investimento até mecanismos financeiros para ampliar aportes em diferentes escalas.

Esses pilares se desdobram em subtemas e, no nível mais detalhado, em 112 ferramentas acompanhadas de explicações e referências. A proposta é permitir que equipes técnicas acessem desde conceitos básicos até soluções práticas, incentivando a combinação de estratégias adaptadas à realidade local.

A serviço da cooperação regional

A Caixa de Ferramentas é parte fundamental da implementação do Programa de Ações Estratégicas (PAE), acordado em 2017 pelos países amazônicos como uma resposta conjunta aos desafios da gestão da água. O material está especialmente alinhado à primeira linha estratégica do programa Fortalecimento da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos, mas também dialoga com as outras duas: Adaptação Institucional às Mudanças Climáticas e Gestão do Conhecimento.

Ao reunir práticas acessíveis e de aplicação direta, a Caixa Amazônica busca mais do que organizar informações: pretende ampliar a cooperação entre países, reduzir assimetrias de capacidade técnica e criar uma linguagem comum para enfrentar problemas que não conhecem fronteiras, como secas prolongadas, cheias intensas e a contaminação das águas.

Com isso, a Amazônia passa a contar com um instrumento estratégico que traduz o conhecimento global para o contexto local, fortalecendo a ideia de que a água, recurso vital para a vida e para a economia, só pode ser preservada por meio de uma gestão integrada, sustentável e, sobretudo, compartilhada.

A transição energética desigual e o desafio da justiça globa

A transição para fontes renováveis de energia tem sido apresentada como a grande saída para enfrentar a crise climática. No entanto, um relatório recente da Oxfam Brasil revela que esse processo corre o risco de reproduzir desigualdades históricas entre países ricos e pobres, em vez de superá-las. O documento, intitulado Transição Injusta: Resgatando o Futuro Energético do Colonialismo Climático, analisa seis décadas de consumo energético global e denuncia a persistência de um padrão que concentra benefícios no Norte Global e impactos no Sul Global.

Um consumo marcado pelo excesso

Segundo os dados reunidos, os países mais ricos consumiram, nos últimos 60 anos, 3.300 petawatts-hora além do necessário para suprir as necessidades básicas de energia. O estudo adota como referência o conceito de Mínimo de Energia Moderna (MEM), estimado em 1.000 quilowatts-hora por pessoa ao ano, proposto pela Fundação Rockefeller e pelo Energy for Growth Hub. Esse parâmetro é mais ambicioso que o definido pelas Nações Unidas para garantir acesso universal à energia até 2030.

Esse “excedente” teria sido suficiente para suprir as necessidades energéticas básicas de toda a população mundial por duas décadas. A conclusão é clara: a abundância energética do Norte Global foi construída às custas de um desequilíbrio que mantém milhões de pessoas no Sul Global em situação de pobreza energética.

uee-em-icara-ce_14978239956_o-400x239 A transição energética desigual e o desafio da justiça globa
Divulgação/Ari Versiani/PAC

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O caso brasileiro

O Censo 2022, conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 99,8% dos domicílios no Brasil têm acesso à eletricidade. Ainda assim, cerca de 400 mil brasileiros vivem sem energia elétrica, um número pequeno em termos percentuais, mas significativo quando se considera a desigualdade regional e social.

Para Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil, o problema é estrutural: “Estamos fazendo uma transição que repete padrões coloniais, em vez de aprender com os erros do passado. O risco é reforçar a pobreza energética e ampliar desigualdades”.

Recursos no Sul, investimentos no Norte

Outro ponto destacado pelo relatório é a distribuição desigual de investimentos em renováveis. Países do Sul Global detêm cerca de 70% das reservas de minerais críticos para a transição energética — lítio, cobalto, níquel, entre outros —, mas recebem apenas uma fração dos investimentos. Em 2024, a América Latina recebeu 3% do total, enquanto o Sudeste Asiático, a África e o Oriente Médio receberam apenas 2% cada.

Em contraste, o Norte Global concentrou 46% dos investimentos, e a China sozinha atraiu 29%. Esse cenário se agrava pelo fato de a África Subsaariana concentrar 85% da população mundial sem acesso à eletricidade, mas continuar à margem dos fluxos financeiros necessários para mudar essa realidade.

Territórios em risco

A corrida por minerais essenciais ameaça vastas áreas de comunidades tradicionais. O relatório estima que 22,7 milhões de km² de terras indígenas reconhecidas no mundo estão sob risco de atividades industriais relacionadas à mineração para a transição energética. Essa área equivale à soma do território do Brasil, dos Estados Unidos e da Índia.

A ameaça não é apenas ambiental, mas também cultural e social, já que populações que historicamente preservaram ecossistemas podem ser deslocadas ou sofrer impactos diretos em seus modos de vida.

O chamado por justiça energética

O estudo insiste na aplicação do princípio das responsabilidades compartilhadas, mas diferenciadas. Ou seja, embora a transição energética seja uma necessidade global, países e empresas que historicamente mais consumiram energia fóssil e emitiram gases de efeito estufa devem assumir maior responsabilidade na preservação dos recursos e no financiamento da mudança.

As recomendações incluem reformas no sistema financeiro global, governança energética mais transparente, salvaguardas para comunidades tradicionais e fortalecimento do multilateralismo. O objetivo é garantir que a transição não seja apenas tecnológica, mas também socialmente justa.

Entre o progresso e o retrocesso

O debate vai além de estatísticas: trata-se de repensar os fundamentos da economia global. Sem uma redistribuição dos investimentos e sem mecanismos que protejam os mais vulneráveis, a transição energética corre o risco de aprofundar o que deveria combater a exclusão e a desigualdade.

Como conclui Viviana Santiago, “o desafio é fazer pressão para que governos e empresas construam uma transição que beneficie a todos, não apenas os mais ricos”. Em outras palavras, o futuro da energia não pode repetir o passado colonial, precisa iluminar o caminho da justiça climática.

A nova corrida da soja e seus impactos no coração da Amazônia

A cada sobrevoo pela imensidão verde da Amazônia, novas clareiras começam a surgir. Entre rios sinuosos e florestas cerradas, aparecem retângulos perfeitos de terra cultivada com soja, um dos motores do agronegócio brasileiro. O avanço, antes limitado ao cerrado, agora se projeta cada vez mais fundo na floresta amazônica, impulsionado pela demanda global e por uma infraestrutura logística em plena transformação.

A região amazônica já responde por cerca de 10% da produção de soja no Brasil, enquanto o cerrado concentra 50%. Mas o peso simbólico e ambiental dessa expansão vai muito além dos números. O desafio colocado ao país é monumental: como conciliar a força de um setor que gera um quarto do Produto Interno Bruto com compromissos climáticos assumidos em acordos internacionais?

Esse dilema se torna ainda mais evidente às vésperas da COP30 em Belém, quando o Brasil estará no centro das atenções globais, tendo o desmatamento como um dos principais temas da conferência.

Um pacto sob pressão

Desde 2006, a Moratória da Soja marcou um divisor de águas. Firmada entre grandes tradings internacionais como Archer Daniels Midland (ADM), Bunge Global, Cargill e Louis Dreyfus Company, além da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o acordo proibiu a compra de soja cultivada em áreas da Amazônia desmatadas após sua assinatura.

Foi um pacto histórico, que mostrou que cadeias globais de suprimentos poderiam se alinhar à proteção ambiental. Mas quase duas décadas depois, essa iniciativa enfrenta um processo de desgaste. A Aprosoja Mato Grosso e outros grupos do setor pressionam pelo fim do acordo, argumentando que ele vai além do que a legislação brasileira exige. Para eles, a expansão da produção deveria seguir unicamente as regras nacionais, não restrições impostas por empresas estrangeiras.

O impasse ganhou contornos ainda mais sérios quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) abriu uma investigação sobre possível cartel entre as tradings que aderiram à moratória. Essa ofensiva judicial, apoiada por parlamentares e lobbies do agro, ameaça deslegitimar o pacto.

2020-04-09t164128z_1_lynxnpeg381q6_rtroptp_4_brazil-soy-400x239 A nova corrida da soja e seus impactos no coração da Amazônia
Reuters/Paulo Whitaker/Direitos Reservados

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A nova fronteira agrícola

A marcha da soja segue o rastro da fronteira agrícola brasileira. Primeiro avançou do Sul para o Centro-Oeste. Depois ocupou o chamado Matopiba — Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Agora, rompe a última barreira e se expande sobre estados amazônicos como Acre, Rondônia e Amazonas, na região batizada de Amacro.

Em apenas oito anos, o Acre e o Amazonas, antes livres da soja, viram surgir plantações em áreas equivalentes a milhares de campos de futebol. Rondônia quase triplicou sua área cultivada na última década. A Conab prevê nova safra recorde para o próximo ano, e a tendência é de que a pressão sobre a floresta continue.

Felipe Petrone, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), resume a dinâmica: “a ocupação avança, o desmatamento se mantém e a degradação acompanha o processo”. Muitas vezes, áreas de floresta são convertidas em pastagens como etapa intermediária antes da chegada da soja.

A engrenagem da infraestrutura

Por trás desse avanço está uma rede logística bilionária. As gigantes ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus investiram em portos, barcaças e rodovias, redesenhando os fluxos de exportação. Quase 40% da soja e do milho brasileiros já passam por esses novos corredores amazônicos.

Projetos de infraestrutura, como a pavimentação da BR-319, que liga Rondônia ao Amazonas, são vistos por agricultores como essenciais para reduzir custos. Mas para organizações como o Greenpeace e o WWF-Brasil, representam riscos incalculáveis, ao abrir áreas intactas para a exploração ilegal e novos desmatamentos.

O risco de retrocesso

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fortaleceu as agências de fiscalização ambiental após o desmonte do governo anterior, e as taxas de desmatamento caíram desde 2021. No entanto, o avanço da soja pressiona essa política. Para o Observatório do Clima, o risco é transformar o desmatamento em um negócio planejado: derrubar hoje para lucrar amanhã com a valorização da terra.

A União Europeia já deixou claro que não importará soja de áreas desmatadas. Romper com a moratória pode significar perder mercados estratégicos. “Coloca-se em risco a reputação das commodities brasileiras”, alertou o WWF-Brasil.

O futuro da Amazônia, portanto, está em jogo. Não apenas por suas árvores e rios, mas também pela forma como o Brasil se posiciona diante de um mundo que exige desenvolvimento aliado à preservação. A soja é apenas um grão nessa história — mas um grão capaz de redesenhar o destino de uma floresta inteira.

O enigma da ‘chuva’ de andorinhas que intriga e revela a Amazônia

Quando radares meteorológicos instalados na Amazônia detectam manchas coloridas, a primeira interpretação costuma ser: chuva à vista. Mas, em muitas ocasiões, não se trata de nuvens carregadas. O que aparece nos gráficos é algo muito mais vivo: enormes bandos de andorinhas que, ao levantar voo, produzem sinais confundidos com tempestades.

O fenômeno, que por anos foi considerado apenas um ruído incômodo para meteorologistas, começa a ganhar outro significado. Pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, perceberam que esse “lixo de dados” escondia um tesouro científico. Ao analisar os padrões desses sinais, eles estão desvendando segredos sobre os hábitos de uma das aves mais enigmáticas da Amazônia.

Radar como binóculo invisível

A floresta amazônica, com sua vegetação densa e pouco acessível, sempre foi um desafio para quem estuda o comportamento das aves. Andorinhas, conhecidas pela velocidade dos voos e pela formação de grandes bandos, praticamente desaparecem sob a copa fechada. Observar seus movimentos de forma direta é quase impossível.

Foi então que o acaso se transformou em oportunidade. Radares criados para monitorar chuvas revelaram ser também ferramentas preciosas para registrar o deslocamento das aves. Em determinados momentos, já se chegou a contabilizar mais de 1 milhão de andorinhas voando juntas — uma espécie de tempestade biológica atravessando os céus.

up_ag_18356_69875815-11ac-48c6-4bb6-d4b528a3b397-400x267 O enigma da ‘chuva’ de andorinhas que intriga e revela a Amazônia
FOTO: MÁCIO FERREIRA / ARQUIVO AG. PARÁ

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A ciência dos rastros invisíveis

Para os meteorologistas, esses registros eram apenas interferências. Para os biólogos, são uma chance rara de entender como essas aves interagem com a floresta. Ao interpretar a intensidade, a duração e a localização dos sinais, é possível estimar o tamanho dos bandos, mapear rotas de voo e até prever comportamentos ligados a alimentação e reprodução.

A utilização dos radares amplia a fronteira do conhecimento sobre as andorinhas amazônicas, que até então eram estudadas apenas em áreas mais abertas, como cerrado ou campos alagados. “É como se tivéssemos ganhado olhos novos para enxergar o que sempre esteve oculto”, explicam os pesquisadores envolvidos no projeto.

Entre a chuva real e a chuva de asas

A confusão entre tempestades e bandos de aves traz também uma reflexão simbólica: em uma floresta onde tudo é abundante, até o céu pode ser povoado por fenômenos que se misturam. As chamadas “chuvas de andorinhas” revelam não apenas o impacto das aves nos radares, mas também a escala impressionante de vida que pulsa na Amazônia.

Essa coincidência tecnológica ajuda a ressignificar o trabalho meteorológico. O que antes era ruído agora se converte em dado valioso, mostrando como ciência e natureza podem se entrelaçar de maneiras inesperadas.

Conhecimento para além da biologia

Os registros coletados têm aplicações que vão além do estudo das aves. Ao compreender os hábitos de bandos tão numerosos, abre-se espaço para investigar sua influência nos ciclos de insetos, na dispersão de sementes e até no equilíbrio climático da região. A movimentação de milhões de aves pode alterar dinâmicas de predação, impactar a agricultura e afetar cadeias alimentares locais.

Mais do que curiosidade científica, a descoberta ajuda a enxergar a Amazônia como uma rede complexa onde cada elemento está conectado. Andorinhas que voam em massa não são apenas espetáculo visual: são peças fundamentais de engrenagens invisíveis que sustentam a vida na maior floresta tropical do planeta.

Uma janela para futuros estudos

A cooperação entre instituições brasileiras e estrangeiras é também um lembrete de que o conhecimento sobre a Amazônia ainda está em construção. Os radares meteorológicos, criados para prever o tempo, revelam-se agora aliados para compreender ritmos biológicos em grande escala.

O mistério da “chuva de andorinhas” é, na prática, um convite: usar a tecnologia não só para medir tempestades, mas também para compreender a riqueza de vida que preenche os céus da floresta. Se a Amazônia é um organismo vivo, seus bandos de aves são o pulso que insiste em se manifestar, mesmo quando disfarçado nos gráficos de máquinas.

Microplásticos já estão dentro de nós, alerta estudo global

Os microplásticos, fragmentos com menos de cinco milímetros formados a partir da degradação de embalagens, tecidos sintéticos, pneus, tintas e utensílios do cotidiano, já se tornaram parte do ciclo vital do planeta. Antes restritos ao debate sobre poluição marinha, agora a ciência confirma: eles também estão dentro de nós.

Um estudo apresentado durante a UEG Week Vienna, encontro anual da União Europeia de Gastroenterologia, realizado em parceria entre a Universidade de Medicina de Viena e a Agência Ambiental da Áustria, revelou algo que parecia apenas especulação. O médico Philipp Schwabl, da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia da universidade, analisou amostras de fezes de voluntários de oito países: Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Reino Unido e Áustria. Em todas foram encontrados microplásticos, de até nove tipos diferentes, incluindo polipropileno (PP) e polietileno tereftalato (PET), usados em tampas e garrafas plásticas.

Segundo Schwabl, “este é o primeiro estudo que mostra evidências claras da presença de plástico no intestino humano”. Os resultados são limitados pela pequena amostra, mas já levantam questões urgentes: qual o impacto real dessa contaminação para a saúde?

Uma contaminação global e silenciosa

Os participantes tinham perfis variados, mas hábitos semelhantes: ingeriam água em garrafas plásticas, consumiam alimentos embalados e, em sua maioria, peixes ou frutos do mar. Até consumidores de gomas de mascar apresentaram resíduos no organismo. Isso revela como o plástico está disseminado em nossas rotinas de forma quase invisível.

Em média, foram detectadas 20 partículas a cada 10 gramas de fezes. Traduzido em escala global, isso sugere que ao menos metade da população mundial carrega microplásticos em seu corpo. Ainda não se sabe o que essa presença significa em termos de danos à saúde, mas estudos com animais indicam riscos sérios: partículas atravessam a parede intestinal, circulam no sangue, chegam ao fígado e podem desencadear inflamações, alterações na absorção de nutrientes e até estresse hepático.

“Não podemos afirmar o que esses fragmentos provocam em humanos, mas sabemos que eles interagem com o sistema imunológico e podem carregar substâncias químicas tóxicas ou patógenos”, alerta Schwabl.

103972892_c89d1ed5-890c-47bb-b830-4e9a19668659.jpg-400x225 Microplásticos já estão dentro de nós, alerta estudo global
Julie Steinberg/University of Delaware

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Plástico, da indústria ao organismo

A revolução industrial do plástico, intensificada a partir dos anos 1950, trouxe praticidade e abundância de produtos. Mas essa mesma expansão gerou uma herança de resíduos que não desaparece. Hoje, calcula-se que de 2% a 5% de todo o plástico produzido anualmente acabe nos mares. Ali, a ação do sol e das ondas fragmenta os objetos em partículas cada vez menores, ingeridas por peixes, crustáceos e moluscos, alimentos que voltam ao prato humano.

Pesquisas já apontaram a presença de microplásticos em espécies como atum, lagosta e camarão. O mesmo processo ocorre em terra firme: embalagens e utensílios liberam fragmentos que contaminam alimentos ainda no processamento ou durante o armazenamento.

Em outubro de 2018, outro estudo, conduzido por cientistas sul-coreanos em parceria com o Greenpeace, publicado na revista Environmental Science and Technology, revelou microplásticos até no sal de cozinha. Das 39 marcas avaliadas em 21 países, apenas três não apresentaram contaminação. Considerando apenas o sal como fonte, uma pessoa poderia ingerir cerca de 2 mil partículas por ano.

Entre o invisível e o inevitável

O estudo austríaco não crava as origens exatas dos fragmentos encontrados. Mas a ubiquidade do plástico é evidente: garrafas, tampas, embalagens, tecidos, pneus, tintas, cosméticos. O mundo moderno, em sua busca por conveniência, acabou inundando a vida cotidiana com partículas que se infiltram em nossa água, comida e até no ar que respiramos.

Se os oceanos já são conhecidos como depósitos de lixo plástico, o corpo humano pode estar seguindo o mesmo caminho. O desafio é compreender os efeitos de longo prazo e buscar alternativas para frear a contaminação.

Schwabl e sua equipe já trabalham na captação de recursos para aprofundar as pesquisas. Enquanto isso, o alerta ecoa: reduzir o consumo de plásticos descartáveis e rever práticas industriais não é apenas uma pauta ambiental, mas também uma questão de saúde pública.

Cerrado precisa estar no centro da COP30 em Belém

Conhecido como o coração das águas do Brasil, o Cerrado é uma savana de importância global, mas que segue invisível nos grandes debates internacionais sobre clima. Às vésperas da COP30, que será realizada em novembro em Belém, especialistas e organizações alertam que não haverá justiça climática sem que este bioma esteja no centro das negociações.

O Cerrado abriga as nascentes de oito das doze maiores bacias hidrográficas da América do Sul, como os rios São Francisco, Tocantins-Araguaia, Xingu e Paraguai. É dele que fluem as águas que sustentam a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga e a Mata Atlântica. Essa posição única faz do bioma um elo vital entre ecossistemas. No entanto, em quatro décadas, já perdeu 40 milhões de hectares de vegetação nativa, segundo a Rede MapBiomas. Hoje, responde por mais da metade de todo o desmatamento registrado no país.

Para Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), essa omissão é alarmante: “Apesar de ocupar quase um quarto do território nacional e ser decisivo para a segurança hídrica, o Cerrado permanece fora do centro das negociações climáticas. Sem Cerrado, não há Amazônia, não há água, não há segurança climática.”

Um bioma sob ameaça constante

Um estudo publicado na revista Sustainability mostra que cerca de 50% da vegetação nativa original já foi perdida. Isso compromete a capacidade do Cerrado de regular o clima, sustentar a biodiversidade e manter a vazão dos rios. Projeções indicam que, se a destruição continuar no mesmo ritmo, a vazão hídrica pode cair até 35% até 2050. O impacto seria devastador: maior risco de escassez de água, crises energéticas e perdas expressivas na produção de alimentos.

Apesar de sua relevância, o Cerrado segue sendo o bioma menos protegido por leis e políticas públicas. Entre mais de 30 mil projetos que tramitam no Congresso Nacional, apenas oito tratam diretamente de sua conservação. Em contrapartida, a pressão do agronegócio, da mineração e da expansão urbana segue avançando sobre áreas de nascentes e veredas.

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Cultura e ciência em defesa da savana brasileira

Para enfrentar essa invisibilidade, o ISPN lançou a série de documentários “Cerrado, Coração das Águas”, disponível no YouTube. O material dá voz a povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares, revelando como o Cerrado conecta biomas, alimenta rios vitais e sustenta modos de vida que historicamente protegem a natureza.

A campanha vai além das telas. Inclui o portal cerrado.org.br, materiais educativos e ações culturais em Brasília e na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Nas ruas da capital federal, lambe-lambes colados em pontos estratégicos lembram: “Sem Cerrado não há água, e sem conservação não há soberania.”

Durante o XI Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, o Coletivo Transverso transformou poesia em protesto, com uma performance de “bazuca poética” que projetou frases em grande escala no espaço urbano, ampliando o chamado à valorização da savana e dos povos que a habitam.

Cerrado e Amazônia: biomas interdependentes

A invisibilidade política do Cerrado torna-se ainda mais grave quando se reconhece sua relação direta com a Amazônia. O equilíbrio hídrico e climático da floresta depende dos rios que nascem na savana. Como explica Isabel Figueiredo, “Amazônia e Cerrado são ecossistemas interdependentes. Se um cai, o outro cai junto.”

Os números são contundentes: juntos, Cerrado e Amazônia responderam por 83% do desmatamento nacional em 2024. O primeiro ocupa 23% do território brasileiro e é considerado a savana mais biodiversa do planeta, com mais de 12 mil espécies catalogadas. Ainda assim, segue relegado a segundo plano nas políticas públicas e na diplomacia climática.

A urgência da centralidade na COP30

Às portas da COP30, incluir o Cerrado na agenda central das negociações climáticas não é apenas uma questão de justiça ecológica, mas de sobrevivência. Sem ele, o Brasil perde sua segurança hídrica, compromete a geração de energia e ameaça a soberania alimentar. E o mundo perde uma das maiores reservas de biodiversidade da Terra.

O Brasil, anfitrião da conferência, tem diante de si a oportunidade de colocar o Cerrado na mesma linha de prioridade que a Amazônia. A COP30 pode se tornar um marco de integração entre os biomas, reconhecendo que proteger a floresta exige também proteger a savana.

No coração das águas, pulsa o futuro do país.

David Lammy vê COP30 em Belém como ponto de virada global

O vice-primeiro-ministro do Reino Unido, David Lammy, lançou um alerta carregado de expectativa e urgência durante a Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2025, realizada nesta segunda-feira em Nova Iorque. Em discurso preparado, Lammy afirmou que a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro em Belém do Pará, deve ser um verdadeiro “ponto de virada” na corrida contra a crise climática.

O dirigente britânico destacou o papel central do Brasil na condução do processo, elogiando o empenho do país em fortalecer o multilateralismo e garantir que a conferência seja não apenas mais um encontro, mas uma oportunidade concreta de acelerar a ação climática global. “O foco claro do Brasil em fazer o multilateralismo funcionar na COP30 em Belém merece ser parabenizado”, declarou.

Entre esperança e insuficiência

Ao olhar para o histórico recente, Lammy fez questão de mostrar que avanços existem, ainda que estejam aquém do necessário. Ele lembrou que, antes do Acordo de Paris, assinado em 2015, o mundo caminhava para um cenário alarmante, em que o aquecimento global poderia atingir 4ºC até o final do século. Com os compromissos assumidos pelos países, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), o horizonte foi ajustado para 2,6ºC.

O número pode parecer uma vitória parcial, mas não elimina os riscos. “O progresso é real, mas não é suficiente”, advertiu. Se todas as metas de neutralidade de carbono – os compromissos de Net Zero – forem cumpridas integralmente, haveria chance de limitar o aumento a 1,9ºC. Ainda assim, esse cenário depende de um esforço coletivo e de uma disciplina internacional que até agora não foi plenamente demonstrada.

20250331212136-GC00065829-F00230721-400x225 David Lammy vê COP30 em Belém como ponto de virada global
Divulgação – Agência Pará

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COP30 em Belém: símbolo e responsabilidade

A escolha de Belém, no coração da Amazônia, como sede da COP30, não é apenas uma questão logística, mas uma afirmação política e simbólica. O território amazônico, que abriga uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta, tornou-se também um campo de batalha global contra o desmatamento, a degradação ambiental e a violação de direitos de comunidades tradicionais.

Ao elogiar a condução brasileira, Lammy também sinaliza a expectativa da comunidade internacional de que o evento seja uma oportunidade para alinhar compromissos, fortalecer a cooperação entre países e dar centralidade à Amazônia nas negociações climáticas. O Reino Unido, que já sediou a COP26 em Glasgow, entende o peso diplomático e político de realizar um encontro dessa magnitude em um local estratégico.

Entre o discurso e a prática

As palavras do vice-primeiro-ministro britânico expõem a contradição central do debate climático: embora avanços tenham sido alcançados desde Paris, a distância entre promessas e resultados concretos permanece significativa. Muitos países, inclusive grandes emissores, ainda caminham lentamente na implementação de políticas que tornem suas NDCs e metas de Net Zero factíveis.

Esse descompasso ameaça corroer a credibilidade do processo multilateral, que depende da confiança mútua para se sustentar. Se a COP30 for de fato um “ponto de virada”, como defende Lammy, isso só ocorrerá se os países trouxerem a Belém não apenas discursos, mas compromissos claros de financiamento, tecnologia e cooperação.

Um chamado à ação coletiva

Ao situar a COP30 como momento decisivo, Lammy reforça a urgência de abandonar a complacência. A retórica de avanços graduais, embora reconheça conquistas diplomáticas, não basta diante de eventos climáticos extremos que já impactam vidas, economias e ecossistemas. A ciência climática tem sido clara: cada fração de grau importa, e o atraso em cortar emissões significa multiplicar os riscos de catástrofes irreversíveis.

O discurso do vice-primeiro-ministro também aponta para a responsabilidade compartilhada. Não há mais espaço para um jogo de empurra entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O desafio climático exige novas alianças, inovação tecnológica e, sobretudo, coragem política para enfrentar lobbies e interesses de curto prazo.

A hora da Amazônia

Com o mundo voltado para Belém, a COP30 será inevitavelmente marcada pela expectativa de que o Brasil exerça um papel de liderança que vá além das palavras. A região amazônica é ao mesmo tempo vítima e protagonista da crise climática: de um lado, sofre com queimadas, desmatamento e conflitos socioambientais; de outro, possui o maior potencial de soluções naturais para equilibrar o clima do planeta.

O elogio de David Lammy ao Brasil deve, portanto, ser lido também como um chamado à responsabilidade. O país terá a missão de provar que pode conciliar desenvolvimento econômico, preservação ambiental e justiça social, oferecendo ao mundo um exemplo de como o multilateralismo pode produzir resultados concretos.

Se a COP30 será ou não o “ponto de virada” sonhado por Lammy, dependerá menos da retórica dos discursos e mais da capacidade dos países em transformar promessas em realidade. Para isso, Belém terá de ser mais do que palco: precisará se tornar memória viva de um momento em que o mundo, enfim, decidiu agir.

Brasil abre credenciamento da sociedade civil para a COP30

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima abriu oficialmente o processo de credenciamento da sociedade civil brasileira para integrar a delegação nacional que participará da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), programada para ocorrer em Belém do Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.

A medida reafirma uma tradição que já marca a trajetória diplomática do Brasil nas negociações climáticas: o envolvimento direto da sociedade em espaços de tomada de decisão. Desde as primeiras conferências, o país tem se distinguido por incluir representantes de movimentos sociais, povos indígenas, comunidades tradicionais, setor produtivo, academia e organizações não governamentais em sua comitiva oficial. Agora, em uma edição histórica sediada pela primeira vez na Amazônia, o compromisso ganha contornos ainda mais simbólicos.

Diversidade como princípio político

O chamado à participação não se limita a um ato formal de credenciamento. Ele expressa a visão de que a delegação brasileira precisa refletir a pluralidade do país, suas desigualdades e também sua capacidade de mobilização por justiça climática. O governo federal reforça que a legitimidade do Brasil no cenário internacional depende de uma representação que não seja restrita a autoridades governamentais ou diplomatas, mas que traga para o centro da discussão aqueles que vivem, estudam e transformam a realidade ambiental diariamente.

Na prática, os selecionados terão acesso à chamada Zona Azul, espaço oficial administrado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), onde se concentram as negociações entre países, encontros técnicos e eventos paralelos de alto nível. Estar nesse espaço significa participar diretamente do coração político da conferência, em diálogo com lideranças internacionais, cientistas, negociadores e representantes de organizações multilaterais.

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Foto: Divulgação/Apex

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Um convite à corresponsabilidade

O credenciamento também pode ser interpretado como um convite à corresponsabilidade. Ao abrir espaço para representantes da sociedade civil, o governo brasileiro sinaliza que a agenda climática não pertence apenas ao Estado, mas precisa ser construída coletivamente. Essa abertura cria condições para que diferentes vozes influenciem estratégias de mitigação, adaptação e financiamento climático, bem como cobrem coerência nas posições defendidas pelo Brasil diante da comunidade internacional.

Para muitos grupos, especialmente os que atuam diretamente na defesa da Amazônia e dos direitos de populações vulneráveis, integrar a delegação nacional significa muito mais do que ocupar uma cadeira em reuniões formais. Trata-se de uma oportunidade para pressionar por compromissos mais robustos, denunciar práticas nocivas e, ao mesmo tempo, compartilhar soluções locais que podem inspirar políticas públicas globais.

A COP30 em Belém e sua relevância

Sediar a COP30 em Belém não é apenas um marco logístico, mas um gesto político que coloca a Amazônia no epicentro da governança climática mundial. Pela primeira vez, negociadores internacionais, cientistas e ativistas de todo o planeta se reunirão no coração da floresta. Essa escolha amplia a responsabilidade do Brasil em demonstrar liderança e coerência. Ao mesmo tempo, abre espaço para que comunidades amazônicas se façam ouvir sem a barreira da distância.

O credenciamento da sociedade civil, portanto, soma-se a esse cenário como peça essencial para que a conferência não seja apenas um evento diplomático, mas também um palco de transformação social. Ao integrar movimentos populares, instituições acadêmicas e organizações de base, o Brasil aposta em um modelo de diplomacia que dialoga com a vida real e que busca equilibrar o discurso internacional com as urgências locais.

Justiça climática como horizonte

Mais do que discutir metas de carbono, a presença da sociedade civil na delegação nacional representa a defesa de uma visão de justiça climática. Isso significa reconhecer que os impactos da crise climática recaem de forma desigual sobre diferentes grupos sociais, e que políticas globais precisam levar em conta essas assimetrias. Povos indígenas, quilombolas, agricultores familiares e populações urbanas periféricas estão entre os mais afetados, e é justamente a voz deles que o processo de credenciamento pretende amplificar.

Com essa iniciativa, o Brasil reafirma um caminho que une tradição diplomática, participação cidadã e protagonismo amazônico. O credenciamento da sociedade civil não é apenas uma etapa administrativa, mas uma declaração de princípios: a de que enfrentar a crise climática exige não apenas acordos entre governos, mas também o engajamento direto da sociedade que sustenta e dá sentido a esses compromissos.

Jaguatirica 7 adaptações incríveis que explicam como ela caça de forma quase invisível

Você já imaginou um predador capaz de se mover pela mata quase sem ser percebido, mesmo quando está a poucos metros da presa? Essa é a especialidade da jaguatirica, um dos felinos mais fascinantes das Américas. Com sua pelagem marcada por manchas únicas e comportamento furtivo, ela se tornou um verdadeiro exemplo de adaptação ao ambiente. Mas o que realmente chama a atenção são os recursos naturais que a tornam quase invisível diante de outros animais.

Jaguatirica: uma caçadora que domina a arte da camuflagem

A jaguatirica (Leopardus pardalis) é encontrada desde o México até o sul do Brasil, ocupando florestas tropicais, cerrados e até áreas de transição. Esse felino de médio porte é considerado um dos mais eficientes predadores noturnos da fauna brasileira. Segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a jaguatirica desempenha papel fundamental no equilíbrio ecológico, controlando populações de roedores e aves. Já o Projeto Onças do Iguaçu, referência nacional em conservação de felinos, ressalta que ela possui habilidades únicas de caça silenciosa e grande capacidade de adaptação a diferentes habitats.

Em âmbito internacional, a International Union for Conservation of Nature (IUCN) classifica a jaguatirica como espécie de “menor preocupação” no momento, mas alerta para ameaças crescentes, como perda de habitat e caça ilegal pela pele. Sua sobrevivência está diretamente ligada ao quanto conseguimos preservar seus ambientes naturais.

1. Pelagem camuflada como sombra da floresta

A primeira e talvez mais evidente adaptação é a pelagem. As manchas e rosetas que cobrem o corpo da jaguatirica não são apenas bonitas: funcionam como camuflagem perfeita entre a luz e sombra da floresta. Esse recurso reduz drasticamente a chance de ser detectada por presas ou por predadores maiores.

2. Olhos adaptados à visão noturna

A jaguatirica prefere caçar à noite. Seus olhos possuem células especializadas que ampliam a captação de luz em ambientes escuros. Esse “superpoder” noturno permite que ela veja detalhes que passariam despercebidos para outras espécies.

3. Audição aguçada para localizar presas ocultas

Com orelhas móveis e altamente sensíveis, a jaguatirica consegue identificar sons mínimos, como o movimento de uma folha provocado por pequenos roedores. Essa audição refinada faz com que a caçada seja mais eficiente, mesmo em ambientes de vegetação densa.

4. Padrão de deslocamento silencioso

As almofadas das patas da jaguatirica funcionam como amortecedores, permitindo que ela se mova sem fazer ruído. Diferente de outros predadores que dependem da velocidade, ela aposta na discrição para se aproximar a centímetros da presa antes do ataque.

5. Corpo flexível e musculatura potente

Com corpo alongado e ágil, a jaguatirica é capaz de realizar saltos surpreendentes e movimentos bruscos que a colocam em vantagem. Essa combinação de força e elasticidade garante que a investida final seja quase sempre certeira.

6. Inteligência e aprendizado de caça

Pesquisas do Instituto Mamirauá revelam que a jaguatirica pode adotar estratégias diferentes conforme a situação. Em alguns casos, é paciente e espera a presa se aproximar; em outros, se aproveita de árvores e arbustos para emboscar. Esse comportamento adaptativo mostra um nível de inteligência impressionante.

7. Independência e território bem definido

Cada jaguatirica estabelece e defende seu território, reduzindo disputas diretas com outros felinos. Isso garante que tenha sempre acesso a fontes de alimento dentro de sua área, sem necessidade de caçadas arriscadas em territórios alheios.

Jaguatirica como peça fundamental do ecossistema

Controladora natural de populações

Roedores e aves de pequeno porte poderiam se multiplicar de forma descontrolada se não fosse a presença da jaguatirica. Ao manter esse equilíbrio, ela contribui para a estabilidade de todo o ecossistema.

Indicadora ambiental

A presença da jaguatirica em uma região é considerada sinal de saúde ambiental. De acordo com o ICMBio, áreas onde esse felino desaparece tendem a sofrer desequilíbrios, como aumento de pragas agrícolas.

Fascínio cultural

Além da importância ecológica, a jaguatirica também faz parte do imaginário popular. Em muitas comunidades, é vista como símbolo de astúcia e força silenciosa, sendo representada em lendas e artesanato local.

Como podemos ajudar na preservação da jaguatirica

Combate ao desmatamento

A perda de habitat é uma das principais ameaças. Apoiar políticas de conservação de florestas é essencial para garantir a sobrevivência dessa espécie.

Respeito à fauna silvestre

Evitar a caça ilegal e não consumir produtos derivados da pele da jaguatirica é um passo crucial para sua proteção.

Incentivo a projetos de conservação

Instituições como o Projeto Onças do Iguaçu desenvolvem ações de monitoramento e educação ambiental que ajudam a proteger o felino e seu ambiente. Apoiar essas iniciativas é uma forma prática de colaborar.

O poder do invisível na natureza

A jaguatirica mostra que a força nem sempre está na velocidade ou no tamanho, mas na capacidade de se adaptar ao ambiente e agir de forma quase imperceptível. Ela é a prova viva de que a natureza cria estratégias de sobrevivência tão sofisticadas que parecem obra de arte.

Ao conhecer melhor suas adaptações e compreender sua importância, percebemos que proteger a jaguatirica é também proteger a biodiversidade que garante nosso equilíbrio. Afinal, uma floresta com jaguatiricas é um ambiente mais saudável, rico e completo.

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6 riscos escondidos no sapo-cururu que fazem dele um dos mais temidos na zona rural

Imagine caminhar à noite por um quintal na zona rural, ouvindo o coaxar característico que ecoa no silêncio, e de repente cruzar com um sapo-cururu. Para muitos, a cena pode parecer apenas parte da natureza, mas esse animal guarda segredos que o tornam um dos mais temidos nas áreas de campo e beira de rios. Embora essencial no equilíbrio ecológico, o sapo-cururu carrega riscos escondidos que podem afetar tanto animais domésticos quanto seres humanos.

Esse medo não é à toa: sua pele grossa e glândulas venenosas guardam defesas potentes, e seu contato pode causar desde intoxicações até acidentes sérios. Ao mesmo tempo, sua presença ainda alimenta lendas populares, o que reforça sua fama de criatura perigosa.

Sapo-cururu: o anfíbio que inspira respeito

O sapo-cururu (Rhinella marina) é considerado um dos maiores anfíbios encontrados no Brasil, chegando a medir até 25 centímetros. Muito comum em áreas alagadas, pastagens e quintais úmidos, ele é mais ativo durante a noite, quando caça insetos, aranhas e pequenos animais.

Embora exerça um papel importante no controle de pragas, sua presença desperta preocupação por causa de sua principal arma: as glândulas parotoides, localizadas atrás dos olhos. Essas glândulas liberam uma substância tóxica chamada bufotoxina, altamente perigosa para outros animais e, em alguns casos, para humanos.

Segundo o Instituto Butantan, acidentes envolvendo secreções do sapo-cururu são frequentes no Brasil, principalmente em regiões rurais, onde crianças e cães acabam manipulando ou mordendo o animal.

1. O veneno que ameaça pets e crianças

O primeiro risco do sapo-cururu está justamente na toxina que expele. Quando cães ou gatos tentam caçá-lo, acabam em contato direto com a substância. Em segundos, podem apresentar sintomas como salivação intensa, vômitos, convulsões e, em casos mais graves, parada cardíaca.

Crianças também estão vulneráveis, especialmente em áreas onde o sapo é abundante. O simples contato das mãos com a pele do animal e depois com olhos ou boca já pode causar irritações sérias.

2. Irritação ocular grave

Outro risco escondido no sapo-cururu é a reação que sua toxina provoca quando entra em contato com os olhos. O veneno pode causar inflamações intensas, dor aguda e até risco de lesões permanentes na córnea. Casos registrados pelo Ministério da Saúde relatam a necessidade de atendimento médico imediato para evitar complicações.

Por isso, especialistas recomendam nunca manipular o animal diretamente, mesmo que esteja aparentemente inofensivo.

3. Perigo de contaminação em fontes de água

Em áreas rurais, onde cisternas e pequenos reservatórios ainda são comuns, o sapo-cururu pode se tornar um problema extra. Ao entrar em caixas d’água ou poços destampados, pode liberar secreções que contaminam a água consumida por moradores. Isso representa risco de intoxicação, especialmente para comunidades que não tratam a água adequadamente.

De acordo com estudos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a contaminação de fontes por animais silvestres é uma das principais causas de surtos gastrointestinais em regiões afastadas.

4. Impacto no equilíbrio ecológico

Embora ajude a controlar insetos, o sapo-cururu também pode desequilibrar ecossistemas quando sua população cresce demais. Em algumas regiões, a ausência de predadores naturais permite que ele se espalhe rapidamente, competindo com outras espécies por alimento.

Na Austrália, por exemplo, onde foi introduzido de forma artificial, o sapo-cururu virou praga ambiental. O relatório da National Geographic mostra como sua presença levou à morte de predadores nativos que não resistem ao seu veneno.

5. Mitos e preconceitos que aumentam os riscos

Na zona rural, o sapo-cururu é cercado de lendas. Muitos acreditam que ele “cospe veneno” ou transmite doenças apenas pelo olhar, o que não é verdade. O perigo está no contato direto com suas secreções. Mas esses mitos contribuem para atitudes perigosas: pessoas tentam matar o animal de forma imprudente, entrando em contato com a toxina sem proteção.

Além disso, ao tentar eliminar o sapo, muitas vezes acabam destruindo o equilíbrio natural, já que ele ajuda a reduzir populações de insetos que transmitem doenças.

6. Risco para agricultores e trabalhadores rurais

Quem trabalha no campo também está entre os mais expostos ao sapo-cururu. Ao manusear ferramentas deixadas no chão ou mexer em pilhas de folhas úmidas, é comum se deparar com o animal escondido. O contato acidental com a pele ou o veneno pode gerar queimaduras e irritações.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) reforça a importância do uso de luvas e botas como medida preventiva para agricultores e trabalhadores que lidam diariamente em áreas suscetíveis à presença do sapo-cururu.

Prevenção é a chave

Saber identificar o sapo-cururu e entender seus riscos é fundamental para conviver com ele sem acidentes. Algumas orientações práticas incluem:

  • Manter caixas d’água sempre tampadas.

  • Ensinar crianças a não tocar em sapos.

  • Vigiar cães durante passeios noturnos no quintal.

  • Usar luvas ao manusear folhas e galhos em áreas úmidas.

Essas medidas simples reduzem significativamente a probabilidade de acidentes.

No fim, o sapo-cururu não é um vilão, mas sim um animal de defesa poderosa que merece respeito. Ele é parte essencial do ecossistema, ajudando a controlar insetos e equilibrar ambientes. O problema surge quando desconhecemos seus riscos e nos expomos a acidentes evitáveis.

Reconhecer os perigos escondidos nesse anfíbio é também reconhecer a importância de conviver em harmonia com a natureza, sabendo respeitar seus limites e valorizar seu papel na biodiversidade.

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Terras indígenas reduzem doenças respiratórias e infecciosas

Um estudo liderado por pesquisadoras brasileiras lança luz sobre uma relação muitas vezes ignorada: a proteção das Terras Indígenas não apenas conserva a floresta, mas também protege a saúde de milhões de pessoas. A pesquisa, publicada na revista Nature, analisou os primeiros vinte anos deste século em nove países amazônicos e concluiu que a demarcação legal desses territórios reduz doenças respiratórias ligadas às queimadas e diminui a incidência de infecções tropicais em cidades situadas a até 500 quilômetros de distância.

A análise combinou dados de saúde pública, desmatamento e poluição atmosférica em países como Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia, Suriname, Guiana Francesa e Guiana. Também foi feita uma avaliação comparativa na Mata Atlântica, que chegou a resultados semelhantes, reforçando que a integridade florestal tem reflexos diretos sobre a saúde humana em diferentes biomas.

Segundo o estudo, liderado por Julia Barreto do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), e por Paula Prist do Forests and Grassland Program da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), a legalização das Terras Indígenas reduz o número e a extensão dos incêndios, diminuindo a emissão de partículas finas (PM2.5). Essas partículas microscópicas são capazes de percorrer longas distâncias, penetrar nos pulmões, afetar o sistema cardiovascular e se acumular no sangue, elevando os riscos de doenças crônicas.

O impacto, contudo, não se restringe às doenças respiratórias. Ao cruzar informações sobre queimadas, florestas e indicadores de saúde, a equipe observou efeitos também sobre doenças infecciosas como malária, leishmaniose e hantavírus. A explicação está na dinâmica ecológica: ecossistemas equilibrados limitam a proliferação de vetores e reduzem o contato humano com patógenos.

Barreto destaca que a proteção dos territórios indígenas tem um efeito que vai muito além das comunidades locais: “As Terras Indígenas funcionam como uma barreira ecológica. Mesmo quem não vive nelas, mas em cidades vizinhas, se beneficia de ar mais limpo e menor circulação de doenças”.

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Vista da aldeia Beira Rio, Terra Indígena Erikpatsa, do Povo Rikbaktsa, legalmente demarcada – Fernando Frazão/Agência Brasil

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O estudo revela ainda um dado importante para a formulação de políticas públicas: municípios mais degradados dependem ainda mais das Terras Indígenas para mitigar os efeitos da devastação. Onde a cobertura florestal cai abaixo de 40%, a capacidade de compensação diminui drasticamente, tornando a situação quase irreversível para doenças infecciosas.

Entre os mecanismos identificados, está o papel das florestas em filtrar poluentes atmosféricos por meio da deposição seca, processo em que partículas ficam retidas na vegetação. Isso reforça que preservar territórios indígenas não é apenas uma questão de justiça histórica ou cultural, mas também de saúde pública.

A pesquisa também ressalta que a relação entre conservação e saúde é complexa, não linear e depende de variáveis como tamanho das áreas protegidas, densidade florestal e condições socioeconômicas das populações. Ainda assim, o padrão é claro: quanto maior a proteção das Terras Indígenas, melhor o resultado para a saúde coletiva.

Paula Prist sintetiza a mensagem central: “Mais floresta significa menos doença. A proteção legal dos territórios indígenas se traduz em benefícios tangíveis para milhões de pessoas que talvez nunca entrem em uma Terra Indígena, mas respiram o ar que ela ajuda a purificar”.

Além dos resultados, o estudo criou uma rede de colaboração científica envolvendo pesquisadores de todos os países amazônicos, com dados disponibilizados de forma aberta. Isso permite que outras equipes aprofundem análises locais e auxiliem na formulação de políticas públicas integradas, que considerem tanto a preservação ambiental quanto a saúde da população.

A mensagem final do trabalho é inequívoca: reconhecer e proteger as Terras Indígenas não é apenas um ato de reparação histórica ou conservação ambiental. É uma medida concreta de saúde pública, que salva vidas em escalas que vão do aldeamento mais isolado até os centros urbanos amazônicos.

Belém certifica 1.500 voluntários que atuarão na COP30

Belém será palco, nesta terça-feira (30), de um momento simbólico para o Brasil e para a Amazônia: a certificação oficial dos 1.500 voluntários que vão atuar durante a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. O evento, marcado para as 17h, celebra a conclusão de uma etapa de formação intensa, que preparou esses jovens e adultos para receber o mundo em novembro, quando Belém se tornará o centro das discussões globais sobre o futuro do planeta.

Mais do que números, o Programa de Voluntariado representa o esforço conjunto do Governo Federal e do Governo do Pará para garantir que a conferência seja organizada com qualidade, acolhimento e protagonismo local. O curso oferecido aos voluntários teve 120 horas de duração e uniu teoria e prática em áreas decisivas para um megaevento internacional: mudanças do clima, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), turismo, atendimento ao público e dinâmicas de grandes eventos.

Essa preparação reflete uma compreensão estratégica: os voluntários não serão apenas auxiliares logísticos, mas verdadeiros embaixadores da hospitalidade amazônica. Sua missão vai além de orientar delegações ou apoiar atividades; eles terão papel ativo em mostrar a riqueza cultural, social e ambiental do Pará, além de transmitir mensagens de sustentabilidade e engajamento.

O Programa de Voluntariado é coordenado pela Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop), vinculada à Casa Civil da Presidência da República, em parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), do governo estadual. A iniciativa reafirma a ideia de que grandes conferências só se tornam possíveis quando a população local participa de forma ativa.

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Divulgação – Cop30

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Durante a solenidade, estarão presentes autoridades que reforçam o peso político do projeto. Entre elas, a vice-governadora do Pará, Hana Ghassan, a diretora de Relações Institucionais da Secop, Flávia Castelhano, e o secretário da Sectet, Victor Dias. Todos compartilham a mesma mensagem: o voluntariado é parte fundamental para que o Brasil mostre ao mundo não apenas sua capacidade técnica, mas também a força humana que sustenta a realização de eventos globais.

A cerimônia de certificação ganha ainda mais relevância quando se observa o papel transformador desse tipo de experiência. Participar da COP30 como voluntário significa adquirir conhecimento especializado, desenvolver habilidades de comunicação intercultural e construir redes de contato que podem abrir portas no futuro acadêmico e profissional. Para muitos, essa será a primeira vez em que terão contato direto com representantes de dezenas de países, ampliando horizontes e reforçando a noção de pertencimento à comunidade global.

Além do legado individual, há o impacto coletivo. O voluntariado fortalece a imagem do Pará como anfitrião da conferência e coloca a juventude no centro das soluções climáticas. Essa escolha é simbólica: a crise climática é, em grande medida, um desafio geracional, e a participação ativa de jovens em sua organização mostra que o Brasil aposta em quem mais será afetado pelas decisões que saírem da COP30.

Com a certificação, Belém avança mais um passo no caminho de se consolidar como referência internacional em diplomacia climática. Se a infraestrutura, a logística e a segurança são pilares visíveis, o voluntariado é a alma do evento, capaz de transformar a experiência da COP30 em algo marcado pela empatia, pelo acolhimento e pela força cultural amazônica.

No fim, a entrega dos certificados não será apenas um ato protocolar. Será o reconhecimento de que cada um desses 1.500 voluntários está pronto para ajudar a escrever um capítulo histórico: o da Amazônia como protagonista das negociações globais sobre o clima.