Se você quer cor, perfume e flores resistentes mesmo nos dias frios, a cravina pode ser a protagonista da sua varanda. Essa flor compacta e vibrante é parente dos cravos e encanta pela facilidade de cultivo, mesmo para quem mora em apartamento ou não tem muito tempo para cuidar de plantas. Neste guia completo, você vai aprender como plantar cravina em vaso e fazer com que ela floresça lindamente até o final do inverno.
A escolha da muda certa faz toda a diferença
Antes de qualquer coisa, é importante escolher uma muda saudável. A cravina (Dianthus chinensis) costuma ser vendida em floriculturas já com botões ou até flores abertas. Prefira aquelas com folhas firmes e verdes, sem manchas, e que tenham uma boa quantidade de brotações laterais.
Se quiser plantar a partir de sementes, o ideal é começar ainda no final do verão ou início do outono, pois a germinação leva de 7 a 15 dias. Mesmo assim, com mudas prontas, você consegue um jardim florido rapidamente — o que é ótimo se você busca resultados imediatos.
Prepare o vaso e o solo com atenção
O vaso ideal para a cravina deve ter pelo menos 20 cm de profundidade e furos no fundo para garantir uma boa drenagem. Um erro comum é plantar direto na terra de jardim, mas isso pode compactar o solo e impedir a oxigenação das raízes.
Monte o substrato ideal com a seguinte mistura:
2 partes de terra vegetal
1 parte de areia grossa
1 parte de composto orgânico ou húmus de minhoca
Coloque uma camada de argila expandida ou pedrinhas no fundo do vaso antes do substrato, para evitar o acúmulo de água e o apodrecimento das raízes.
Posicionamento: luz direta é essencial
A cravina é uma flor de clima frio, mas ama luz. Se você está cultivando em apartamento, posicione o vaso perto de uma janela bem iluminada. Já em varandas ou quintais, deixe a planta onde ela possa pegar sol direto por pelo menos 4 horas por dia — quanto mais luz, mais vigorosa será a floração.
Evite locais fechados demais ou cantos escuros. A cravina tolera bem as temperaturas mais baixas, mas precisa de luz solar para se manter saudável e florida.
Como regar sem encharcar (nem deixar secar demais)
O equilíbrio na rega é o que mantém a cravina viva e bonita. Regue o vaso sempre que o substrato estiver seco até a profundidade de um dedo. No inverno, a evaporação é menor, então as regas devem ser mais espaçadas. No verão, pode ser necessário regar até duas vezes por semana.
Jamais encharque ou deixe água acumulada no pratinho. A cravina é sensível a fungos, e o excesso de umidade nas raízes é uma das principais causas de murcha e apodrecimento.
Adubação que estimula floração prolongada
Para garantir flores até o fim do inverno, use adubo rico em fósforo (o P da fórmula NPK). Um bom exemplo é o NPK 4-14-8, aplicado a cada 20 dias. Outra opção é o uso de farinha de ossos e torta de mamona — que além de naturais, oferecem liberação lenta dos nutrientes.
Evite exagerar no nitrogênio (N), pois ele estimula folhas, mas pode reduzir a produção de flores. O segredo é sempre observar o equilíbrio da planta: folhas bonitas e flores em desenvolvimento indicam que a nutrição está correta.
Poda e manutenção: o que fazer depois da floração
A cravina é uma planta que se beneficia da poda de flores murchas. Sempre que uma flor começar a secar, corte o talo rente à base para estimular novos botões. Essa prática, chamada de “deadheading”, prolonga a vida útil da planta e estimula a ramificação.
No fim do inverno, você pode fazer uma poda leve nos galhos mais compridos e desorganizados. Isso ajuda a renovar a planta e preparar para um novo ciclo de flores.
Proteção contra pragas e doenças
Embora seja resistente, a cravina pode ser atacada por pulgões, ácaros e fungos. Um bom preventivo natural é o uso semanal de chá de camomila ou calda de fumo diluída, aplicados nas folhas.
Caso perceba manchas amareladas, folhas enroladas ou presença de insetos, isole o vaso e trate com sabão neutro diluído em água ou óleo de neem, sempre nas primeiras horas do dia.
Dá para fazer muda de cravina em casa? Sim!
A multiplicação da cravina pode ser feita por estaquia. Basta cortar um ramo saudável com cerca de 10 cm, retirar as folhas da base e colocar em um copo com água ou diretamente em substrato úmido. Em 15 dias, com boa luz, a muda já começa a enraizar.
Essa técnica é ótima para quem deseja criar mais vasos ou presentear amigos com uma planta que transmite alegria e simplicidade.
A beleza discreta que aquece o coração no frio
Plantar cravina em vaso é um gesto simples, mas cheio de significado. Em meio aos dias mais cinzentos do inverno, ela continua florindo, colorindo e perfumando a casa. Ao aprender a cuidar dela, você também se conecta com o ritmo das estações e com o prazer das pequenas vitórias no cultivo doméstico.
Sobrancelhas falhadas ou muito finas podem mudar completamente a expressão do rosto. E quem já tentou corrigir com maquiagem sabe o trabalho que dá — e o risco constante de parecer artificial. A boa notícia é que existe uma solução natural, acessível e eficiente para quem quer recuperar o volume das sobrancelhas: o uso noturno do óleo de rícino.
O poder escondido no óleo de rícino para as sobrancelhas
Extraído da semente da planta Ricinus communis, o óleo de rícino é rico em ácido ricinoleico, um tipo de ácido graxo com propriedades anti-inflamatórias e nutritivas. Ele também possui vitamina E, minerais e proteínas que estimulam o crescimento dos fios, fortalecem a raiz e evitam a queda precoce.
No caso das sobrancelhas, que têm um ciclo de crescimento mais lento do que o do couro cabeludo, o uso contínuo do óleo de rícino pode fazer uma diferença real — e visível — em poucas semanas.
Como aplicar o óleo de rícino corretamente à noite
O segredo para bons resultados está na constância e na aplicação correta. À noite, após a limpeza do rosto, aplique uma pequena quantidade de óleo de rícino diretamente sobre as sobrancelhas. Para isso, você pode usar:
Um cotonete
Uma escovinha de rímel limpa
A ponta do dedo (com leveza)
Faça movimentos no sentido do crescimento dos fios, garantindo que o óleo atinja a pele e a raiz dos pelos. Não é preciso exagerar: uma gota por sobrancelha é mais do que suficiente. O ideal é deixar o produto agir durante a noite toda e lavar o rosto normalmente pela manhã.
Por que o uso noturno funciona melhor
Durante o sono, o corpo entra em modo de regeneração celular. Isso vale para a pele, o couro cabeludo e, claro, os folículos das sobrancelhas. Aplicar o óleo de rícino antes de dormir permite que ele atue por horas seguidas, sem interferência de suor, sol ou poluição.
Além disso, ao evitar fricção — como coçar ou tocar o rosto — durante o sono, o produto se mantém ativo por mais tempo na região aplicada.
Resultados visíveis em quanto tempo?
Cada organismo responde de maneira diferente, mas a maioria das pessoas começa a notar diferença após duas a três semanas de uso contínuo. Em um mês, as sobrancelhas já estão mais preenchidas e com aparência mais uniforme. Em três meses, o resultado costuma ser mais evidente, com fios mais fortes, espessos e escuros.
Mas é importante lembrar: o óleo de rícino não faz milagre da noite para o dia. Se você teve falhas por excesso de pinça ou procedimentos mal feitos, pode levar um tempo até que a região se regenere por completo.
Outros cuidados que potencializam o crescimento
Para que o óleo de rícino atue com mais eficácia, vale adotar outros hábitos que favorecem o crescimento dos fios:
Evite pinçar ou depilar as sobrancelhas durante o período de tratamento.
Alimente-se bem, com fontes de vitaminas do complexo B, zinco e ferro.
Hidrate-se regularmente para melhorar a saúde dos tecidos e folículos.
Não esfregue o rosto com força ao lavar ou secar, para não agredir os fios em formação.
Esses cuidados ajudam a criar um ambiente propício para que o óleo de rícino atue com todo o seu potencial.
Posso usar qualquer óleo de rícino?
O ideal é optar por uma versão 100% pura e prensada a frio, sem adição de fragrâncias ou corantes. Você encontra esse tipo de óleo em farmácias de manipulação, lojas de produtos naturais ou até mesmo em e-commerces confiáveis.
Evite usar produtos capilares que contenham óleo de rícino misturado com silicones ou parabenos, pois eles podem irritar a pele sensível da região das sobrancelhas.
Quem não deve usar o óleo de rícino
Apesar de ser um produto natural, o óleo de rícino pode causar irritação em pessoas com pele extremamente sensível ou alergia a oleaginosas. Por isso, é recomendável fazer um teste de toque antes de aplicar na região dos olhos: pingue uma gota no antebraço, aguarde 24 horas e observe se há reação.
Também é importante manter o produto longe da linha dos cílios e da mucosa ocular. Se entrar nos olhos, lave imediatamente com água corrente.
A verdade por trás da fama: funciona mesmo?
Sim, o óleo de rícino funciona — mas exige paciência e disciplina. Ele tem sido usado há gerações para estimular o crescimento de fios, seja no couro cabeludo, sobrancelhas ou cílios. E apesar de sua textura espessa e cheiro peculiar, é um dos tratamentos naturais mais acessíveis e confiáveis para esse fim.
Mais do que prometer resultados instantâneos, ele propõe um cuidado gradual, que respeita o ritmo do corpo. E isso, muitas vezes, vale mais do que fórmulas milagrosas.
Quando o ritual vira cuidado pessoal
Adotar o uso do óleo de rícino pode se transformar em um pequeno ritual noturno de cuidado com o próprio corpo. Assim como escovar os dentes ou aplicar um creme hidratante, passar o óleo nas sobrancelhas pode ser um momento de conexão com sua imagem e autoestima.
A beleza está nos detalhes — e ver as sobrancelhas se tornando mais densas, simétricas e expressivas com o tempo é um tipo de transformação que mexe por dentro também.
Revolução Hídrica Novas Tecnologias Contra o Desperdício de Água
Sensores, fibra óptica, imagens de satélite, robôs, inteligência artificial: o arsenal tecnológico para combater o desperdício de água nas redes de distribuição está em constante expansão. E o empenho se justifica. Um estudo recente do Instituto Trata Brasil, de junho de 2024, revela dados alarmantes: a quantidade de água tratada que se perde no processo de distribuição poderia abastecer 54 milhões de brasileiros por um ano inteiro. Isso significa que, diariamente, mais de 7,6 mil piscinas olímpicas são desperdiçadas, o que equivale a impressionantes 37,8% de todo o líquido tratado. Estes números, baseados no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, ganham um contorno ainda mais dramático quando consideramos que, atualmente, 32 milhões de pessoas no país não têm acesso a esse recurso essencial.
Robô realiza videoinspeção em tubulação de PVC – Fonte: Davi Silvano Costa da Rocha / Yadah Robotics – Pesquisa FAPESP
Um cenário de perdas e metas ambiciosas
No entanto, há uma boa notícia nesse panorama desafiador. Pela primeira vez em seis anos de aumentos consecutivos, o Brasil registra uma diminuição no desperdício de água. Em 2021, as perdas representavam 40,3% do total, indicando um progresso, ainda que tímido. Apesar disso, o país permanece muito aquém da meta estabelecida pelo governo federal, que visa reduzir as perdas para, no máximo, 25% até 2033. “Em qualquer setor industrial, 25% seria um índice de perdas inadmissível. Mesmo assim, a meta é ambiciosa”, avalia a engenheira civil Maria Mercedes Gamboa Medina, do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo EESC USP. A dimensão do desafio fica ainda mais evidente quando se observa que, na maioria dos estados das regiões Norte e Nordeste, o desperdício ultrapassa os 40%, com o Amapá registrando o pior índice, assustadores 71% de perdas.
A pressão do novo Marco Legal do Saneamento
A esperança para reverter esse cenário ganha fôlego com o novo Marco Legal do Saneamento. “O novo Marco Legal do Saneamento exerce grande pressão pelo controle de vazamentos”, comenta o engenheiro mecânico Fabrício César Lobato de Almeida, da Universidade Estadual Paulista Unesp, campus de Bauru. Essa política federal de saneamento básico, estabelecida pela Lei nº 14.026 de 2020, traz consigo diretrizes claras. Dentre elas, destacam se a busca pela sustentabilidade econômica na prestação dos serviços e o forte incentivo a tecnologias que promovam a redução de custos de operação e o aumento da eficiência. É nesse contexto de inovação e exigência que surgem projetos como o Localizador de Vazamento de Superfície LocVas.
Na busca por atingir essas metas desafiadoras, Almeida lidera o projeto LocVas, que recebe apoio do programa Parceria para Inovação Tecnológica Pite, da FAPESP, e é executado em colaboração com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo Sabesp. O objetivo é ambicioso: desenvolver um sistema de detecção de perdas que funcione pela análise de mudanças nos padrões vibroacústicos das tubulações de água, utilizando medidas realizadas diretamente no solo, logo acima do tubo. A premissa é simples, porém engenhosa: quando há um vazamento, as estruturas subterrâneas vibram em uma faixa de frequência específica, que varia conforme o tipo de solo, o material do tubo e suas dimensões. Os sinais vibroacústicos são captados por meio de sensores instalados na superfície, o que representa um método não invasivo, que dispensa escavações. Os pesquisadores planejam validar a técnica em diferentes tipos de tubos e superfícies, como grama, pedra portuguesa e asfalto, garantindo sua aplicabilidade em diversos ambientes urbanos.
LocVas: Um avanço na detecção vibroacústica
O LocVas representa um aprimoramento de uma técnica já conhecida e em uso, a correlação cruzada, também baseada na captação de sinais vibroacústicos gerados pelo vazamento. “No correlacionador de ruídos, medimos os sinais capturados por sensores instalados em dois pontos das tubulações. Sabendo a velocidade com que o ruído de vazamento se propaga e o atraso entre os sinais medidos, estimamos sua localização”, explica Almeida. A principal diferença entre as duas tecnologias reside na necessidade de contato do correlacionador de ruídos com o duto de água.
Esse contato geralmente ocorre por meio de pontos de acesso para inspeção ou por aberturas escavadas no solo. O LocVas, por sua vez, dispensa esse contato direto com a rede, captando as vibrações à distância. “Um aspecto inovador da técnica é o cálculo estimado da localização do tubo e da posição do vazamento, procedimento ainda não utilizado em dispositivos comerciais”, afirma Almeida. Um artigo detalhando essa tecnologia foi publicado em 2024 na revista Journal of Physics: Conference Series, atestando a relevância científica da inovação.
O projeto da Unesp, iniciado em 2022 com término previsto para 2026, é um ecossistema de pesquisa que envolve desde alunos de iniciação científica até pesquisadores de pós doutorado, e tem sido um fértil terreno para novas vertentes de estudo. Um de seus desdobramentos mais promissores foi o projeto de mestrado do engenheiro mecânico Bruno Cavenaghi, do Programa de Pós graduação em Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia de Bauru FEB. Sua pesquisa inovadora se baseia no uso de câmeras e técnicas de visão computacional para registrar, no solo, as sutis vibrações dos dutos enterrados. “Posicionamos a câmera junto ao solo, em um ângulo de 10 a 15 graus, para registrar o movimento naquele ponto do terreno. Cada pixel gravado atua como um sensor teórico”, resume o pesquisador, demonstrando a inteligência por trás da abordagem. Em 2024, Cavenaghi foi agraciado com o Prêmio Jovem Profissional da Associação dos Engenheiros da Sabesp AESabesp pelo seu trabalho, apresentado naquele ano no 35º Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente, um reconhecimento do impacto de sua contribuição.
Para desenvolver sua pesquisa, Cavenaghi realizou medições em um simulador de ruído de vazamentos criado na universidade. “É o primeiro do mundo”, anuncia Almeida, orgulhoso orientador de Cavenaghi. A bancada de simulação, ele explica, é de suma importância não apenas para o avanço da pesquisa científica, mas também para o treinamento prático de profissionais das empresas de saneamento, preenchendo uma lacuna crítica na formação e capacitação técnica do setor.
Um cardápio tecnológico de soluções
Os métodos acústicos são, de fato, os mais empregados na prospecção de vazamentos. Os mais antigos e simples baseiam se em hastes de escuta e geofones. Em geral, as hastes são utilizadas em uma primeira varredura. Por meio do contato de uma barra metálica em hidrantes e cavaletes – as estruturas que conectam a rede de distribuição com a instalação do imóvel – ou outros pontos da rede, o operador consegue captar as vibrações produzidas pelos vazamentos. Para uma localização mais precisa, entra em cena o geofone, um aparelho que lembra um estetoscópio. Utilizado para “auscultar” o solo, ele amplifica os sinais e requer um operador treinado para fazer a interpretação, dada a complexidade dos ruídos.
A busca por automatizar essa etapa para tornar a detecção de vazamentos mais ágil e eficiente, especialmente em locais que carecem de profissionais qualificados, impulsionou a empresa Stattus4 a criar um sistema inteligente de detecção. Em 2018, essa startup, fundada três anos antes e sediada no Parque Tecnológico de Sorocaba, no interior paulista, desenvolveu, com o apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas Pipe, da FAPESP, o 4Fluid Móvel. Esse equipamento inovador pode ser utilizado mesmo por pessoas com pouca experiência de campo, democratizando o acesso à tecnologia de ponta.
Os ruídos coletados por uma haste de escuta são enviados para um ambiente virtual, ou nuvem, onde um programa baseado em inteligência artificial, utilizando uma vasta base de dados de ruídos previamente armazenados, encarrega se de sua interpretação. “Temos mais de 7 milhões de ruídos catalogados, que ajudam nossa IA [inteligência artificial] a identificar onde há um potencial vazamento. O índice de acerto chega a mais de 80%”, afirma a administradora de empresas Marília Lara, cofundadora e CEO da Stattus4. Dentre os clientes que contratam os serviços da startup estão grandes empresas de saneamento, como Sabesp, Copasa de Minas Gerais, Sanepar do Paraná, e o Grupo Águas do Brasil, que atua em 32 municípios de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro, evidenciando a confiança do mercado na solução.
Criada há quatro anos e sediada em São Paulo, a Waterlog também aposta na inteligência artificial para reconhecer sinais sonoros característicos de vazamentos. O engenheiro químico Fernando Loureiro Pecoraro, sócio fundador da empresa, conta que o marco regulatório foi um estímulo fundamental para investir em uma solução tecnológica antivazamento, desenvolvida a partir de conversas contínuas com as concessionárias do setor. Foi assim que nasceu o sistema Iris. “Sua grande vantagem é fazer o monitoramento em tempo real. Instalado no cavalete, o sistema capta os ruídos da rede e identifica a ocorrência de vazamento assim que ele surge. Para localizar o ponto de fuga, é preciso recorrer a outros instrumentos, como geofones”, ressalta Pecoraro, indicando que a tecnologia complementa outros métodos já existentes.
Além do som: Satélites e robôs em ação
Para além dos métodos acústicos, o mercado oferece uma vasta gama de soluções tecnológicas. A escolha da técnica mais adequada é determinada pela relação custo benefício, que varia consideravelmente de acordo com as condições econômicas e tecnológicas locais. O engenheiro civil Cícero Mirabô Rocha, do setor de Desenvolvimento Operacional da Sabesp, revela que é comum receber propostas de diversas empresas. “Primeiro fazemos um teste. Se aprovada, a tecnologia pode entrar no rol de soluções. Mas não há milagre: o que funciona é a combinação de técnicas”, explica Rocha, sublinhando que a eficácia reside na integração de abordagens.
Em abril, a Sabesp começou a testar uma tecnologia de sensoriamento remoto desenvolvida pela israelense Asterra, baseada em imagens de satélite para a prospecção de vazamentos. Por meio da emissão de um feixe de onda que penetra até três metros de profundidade no subsolo, a tecnologia identifica locais com presença de cloro, substância utilizada no tratamento de água. O sensoriamento, associado à inteligência artificial, resulta na produção de imagens que indicam áreas potencialmente encharcadas. Em 50 quilômetros de redes analisadas na Região Metropolitana de São Paulo, foram identificados 81 vazamentos pelas imagens do satélite, enquanto os métodos tradicionais encontraram apenas 14, uma diferença expressiva. “Para a localização exata do vazamento ainda precisamos de técnicas acústicas”, pondera Rocha, enfatizando a complementaridade das ferramentas.
Uma alternativa promissora para fiscalizar o interior de tubulações de grande porte, como as adutoras, que transportam a água das estações de tratamento aos reservatórios de distribuição, é o emprego de robôs. Essa solução é oferecida pela Yadah Robotics, uma empresa de São José dos Campos SP. Fundada em 2015, a empresa desenvolveu quatro modelos de robôs projetados para realizar trabalhos de videoinspeção em tubulações e galerias de esgoto e águas pluviais, com diâmetros que variam de 15 centímetros a dois metros. “Já atendemos prefeituras, companhias de saneamento e indústrias”, informa o engenheiro mecânico Fernando Sato, CEO da empresa, destacando a versatilidade das soluções robóticas.
Da bancada de testes ao mercado: Desafios da inovação nacional
Os robôs da Yadah Robotics, que representam tecnologia nacional, são quase uma exceção no cenário de dispositivos antivazamento em uso no Brasil. A grande maioria das soluções empregadas é projetada no exterior. “Somos dependentes de produtos importados. Costumamos usar um geofone japonês ou um correlacionador inglês”, observa o engenheiro civil Marcelo Kenji Miki, da Diretoria de Tratamento de Esgoto da Sabesp, expondo uma realidade de dependência tecnológica.
Entre 2015 e 2019, Miki, então gerente do Departamento de Execução de Projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Sabesp, participou ativamente do projeto de um correlacionador de ruídos nacional. Este, que foi o primeiro da América Latina, surgiu de uma parceria frutífera com a Unesp, sob a coordenação do engenheiro mecânico Michael John Brennan. “Conseguimos estabelecer uma ponte entre a área operacional e a academia. Os pesquisadores escutaram os operadores e vice versa”, conta Miki, ressaltando a importância do diálogo entre diferentes saberes.
O resultado foi um equipamento já patenteado, mais adaptado às condições do solo brasileiro e, notavelmente, cerca de 10 vezes mais barato que o modelo importado. Recentemente, o grupo obteve uma patente internacional que abrange um processamento de sinal inovador, capaz de estimar o atraso do sinal medido, um elemento essencial para a localização precisa do vazamento. Apesar de todo esse avanço, um obstáculo persiste: “O que não conseguimos foi transformar o conhecimento acadêmico em produto”, lamenta Miki, evidenciando o desafio de levar a inovação da pesquisa para o mercado. Almeida, da Unesp, no entanto, mantém a esperança de ver a comercialização do modelo nacional de correlacionador de ruídos. “Estamos retomando esse projeto e já mantivemos conversas com um possível parceiro comercial”, informa, acendendo uma luz sobre a possibilidade de que essa tecnologia nacional, tão promissora, finalmente chegue às mãos de quem mais precisa dela.
Xingu Revela Segredo Ancestral de Plantio que Aumenta a Diversidade da Mandioca
No coração do Alto Xingu, em uma roça de mandioca na aldeia Ulupuwene, no Mato Grosso, um ancião do povo Waurá pratica um método de cultivo que intriga e inspira. Com estacas retiradas de diferentes variedades de mandioca, espetadas lado a lado na terra, ele estimula o cruzamento entre as plantas. Essa técnica ancestral, que faz brotar folhas e raízes em proximidade, leva à produção de sementes que dão origem a novas variedades da planta. O resultado é um enriquecimento genético vital, um contraponto ao empobrecimento que costuma acompanhar as plantas clonadas, conforme revelou um estudo publicado em março na revista Science. É uma lição valiosa da sabedoria indígena que ecoa nos corredores da ciência moderna.
A jornada milenar da mandioca
A mandioca, pilar da alimentação de diversas culturas, foi domesticada por povos indígenas há cerca de seis mil anos. Sua origem, segundo o etnobiólogo Fábio Oliveira Freitas, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, situa se na borda sul da Amazônia, em uma região que hoje corresponde aos estados de Rondônia e Mato Grosso. A partir de então, essa planta versátil se tornou tão central na dieta que sua difusão se deu, muito antes do período colonial, por meio da troca de estacas (partes do caule) entre comunidades vizinhas. Esse intercâmbio ancestral espalhou a mandioca desde o sul dos Estados Unidos até a porção meridional da América do Sul.
Imagem: Celso Viviani – Pesquisa FAPESP
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão a partir de uma minuciosa análise genética. Eles examinaram o genoma de 282 amostras de mandioca domesticada (Manihot esculenta) e selvagem (Manihot flabellifolia), provenientes de coleções vivas de instituições de pesquisa, roças tradicionais, além de DNA extraído de herbários e artefatos arqueológicos. Somando a isso dados genômicos de 291 amostras de estudos prévios, o total de genomas analisados atingiu a marca de 573, conferindo uma robustez impressionante aos resultados.
“Muitos agricultores tradicionais, indígenas ou não, identificam as plantas que brotam de sementes e as deixam crescer”, relata Freitas. Se essas novas plantas exibirem qualidades desejadas, como um tamanho maior da raiz tuberosa ou um teor mais elevado de amido, elas passam a ser utilizadas como fonte de estacas, que por sua vez geram clones idênticos à planta mãe. Segundo o pesquisador, o arbusto também pode cruzar com espécies selvagens que vivem nas proximidades das roças, o que contribui ainda mais para a variabilidade genética da planta.
A clonagem e a diversidade perdida
O biólogo britânico Robin Allaby, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, e um dos autores do artigo, levanta um ponto crucial: “A clonagem fez com que todos os pés de mandioca das Américas tenham os mesmos marcadores genéticos de parentesco, como se fossem irmãos”. Em conversa com a Pesquisa FAPESP, ele ressaltou que esse padrão difere de culturas como o milho, que naturalmente formam linhagens distintas. Essa uniformidade genética, embora prática para o cultivo em larga escala, pode tornar a cultura mais vulnerável a pragas e doenças, ressaltando a importância das práticas de diversificação.
O etnobiólogo Nivaldo Peroni, da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, que não participou do estudo, avalia que o trabalho faz uma análise genética abrangente da mandioca, confirmando padrões genéticos já observados em estudos mais restritos. Contudo, ele sugere que o artigo “poderia ter ressaltado com mais ênfase a importância das comunidades tradicionais não indígenas na geração de diversidade, não apenas na Amazônia, mas em outros lugares do Brasil e das Américas”. Essa observação de Peroni sublinha a riqueza do conhecimento empírico e das práticas de manejo de diversas comunidades que contribuem para a biodiversidade agrícola.
Segundo Peroni, existem mais de sete mil variedades de mandioca, criadas por comunidades com preferências próprias na seleção das plantas. Ele tem se dedicado a estudar a origem e a circulação dessas variedades no contexto das comunidades tradicionais brasileiras, e destaca, por exemplo, que agricultores de origem açoriana que vivem na costa atlântica do centro sul do país, como em Santa Catarina, aprenderam a plantar mandioca com os povos indígenas locais.
“No Sul predominam variedades extremamente brancas, refletindo o desejo de produzir algo parecido com a farinha de trigo da Europa”, acrescenta Peroni, ilustrando como fatores culturais e históricos moldam a diversidade das culturas. No litoral do estado de São Paulo, ele identificou mais de 50 variedades no município de Cananéia e mais de 30 em Ubatuba, cada uma com características próprias. Muitas dessas variedades surgiram a partir da brotação de sementes em roças e quintais de comunidades caiçaras, evidenciando que a geração de diversidade não se restringe a métodos formais de melhoramento.
Por ser um alimento nutritivo, de fácil reprodução e transporte, a mandioca se tornou um dos principais itens da dieta indígena e, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura FAO, faz parte da alimentação de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Sua versatilidade e adaptabilidade a diferentes solos e climas a consolidam como um alimento estratégico para a segurança alimentar global.
A “Casa de Kukurro” e o saber Waurá
Freitas e Allaby realizaram diversas visitas à aldeia Ulupuwene entre 2018 e 2023. O objetivo era investigar o cultivo tradicional da mandioca, coletar amostras das variedades e entrevistar os moradores. “É uma técnica única, dominada por poucas famílias”, relata Freitas, que já estuda a agricultura dos Waurá desde 1997, acumulando décadas de experiência e profundo respeito pela cultura local.
Depois de preparar a roça, os indígenas Waurá formam montes de terra fofa para facilitar a colheita do tubérculo. Em seguida, espetam ramos que representam elementos da rica lenda que cerca a produção da mandioca. O conjunto de estacas, eles chamam de Casa de Kukurro, em referência ao deus representado pela lagarta que se alimenta das folhas da mandioca. Na mitologia Waurá, o crescimento da planta seria fortalecido pelos cantos rituais dedicados a Kukurro. As sementes formadas por essa mistura de plantas são uma fonte crucial de variedade genética e geralmente permanecem dormentes até que o fogo, utilizado para limpar o terreno antes do plantio, estimule sua germinação no ano seguinte. Esse ciclo demonstra uma profunda compreensão dos processos naturais e uma interação harmoniosa com o ambiente.
“As mulheres desempenham um papel crucial nesse processo”, ressalta a bióloga Carolina Levis, da UFSC, que não participou do estudo. “Elas costumam ser as principais responsáveis por cuidar das roças. São curiosas e deixam crescer as plantas novas, observando suas características.” A observação atenta e o cuidado das mulheres indígenas são, portanto, elementos fundamentais para a seleção e manutenção da diversidade da mandioca.
“Os Waurá são bastante seletivos”, acrescenta Freitas. “Escolheram quatro variedades originadas por sementes no período de nossas visitas, mas descartaram todas por avaliar que não tinham características novas.” Esse rigor na seleção é o que garante a qualidade e a adaptação das variedades ao longo do tempo. Se uma planta é aprovada, eles a batizam e a incorporam à coleção viva da aldeia, um verdadeiro banco genético a céu aberto, mantido pela comunidade.
O vídeo Casa de Kukurro, produzido pela Embrapa em 2019 e disponível no YouTube, oferece um vislumbre fascinante do ritual que acompanha o plantio. Os Waurá não se preocupam com as lagartas que comem as folhas da mandioca; na mitologia da aldeia, é Kukurro que se alimenta e, ao fazê-lo, cuida das plantas. As mudas que nascem de sementes são chamadas kukurromalacati e são poeticamente consideradas “plantas que caem do céu”, ressaltando a reverência e a conexão espiritual com a natureza.
Mandioca brava e a segurança alimentar
“Identificamos 19 variedades de mandioca brava em Ulupuwene”, relata Allaby. Segundo os pesquisadores, ao contrário das variedades mais conhecidas como aipim, macaxeira ou mandioca doce, esse tipo de tubérculo pode ser letal se não for processado adequadamente para a eliminação do ácido cianídrico, que possui efeito tóxico. “É preciso descascar a raiz, ralar e prensar a polpa, ferver para o ácido cianídrico evaporar e pôr o polvilho ao sol para secar”, detalha Freitas, descrevendo o complexo e vital processo de preparo. O polvilho resultante é então utilizado para fazer biju, o principal item da alimentação Waurá, ao lado do peixe. Esse conhecimento tradicional de processamento é um exemplo da profunda sabedoria dos povos indígenas na manipulação de recursos naturais.
A circulação de variedades de mandioca entre as comunidades indígenas é outro aspecto fascinante. Quando se casam, as mulheres Waurá geralmente levam a coleção de plantas de sua família para a casa do marido, e continuam a trocar plantas quando visitam seus parentes. “O casamento pode ser interétnico e envolver grandes distâncias, aumentando a circulação de estacas”, acrescenta Levis. Essa prática social não é apenas culturalmente rica, mas também um mecanismo eficaz de dispersão genética e de manutenção da biodiversidade.
“O estudo mostra o quão importante é a agricultura de pequena escala para a segurança alimentar”, afirma Allaby. Ele compara a situação da mandioca com a da banana no Brasil: das 20 variedades existentes, apenas a nanica, que sofre de deterioração genética e pode desaparecer em décadas, resiste ao transporte marítimo para a Europa. Essa vulnerabilidade da banana contrasta com a riqueza de diversidade da mandioca mantida pelos indígenas. “Os indígenas conhecem muito mais sobre a lavoura da mandioca do que nós”, reconhece Allaby, um cientista de ponta, evidenciando a humildade e a abertura para o aprendizado com o conhecimento tradicional. Segundo ele, a “Casa de Kukurro” é uma técnica que pode ajudar a rejuvenescer geneticamente a diversidade da mandioca e de outras plantas, representando um exemplo marcante de como a ciência acadêmica tem muito a ganhar no intercâmbio com a ciência dos povos indígenas e tradicionais. Essa colaboração não é apenas benéfica, mas essencial para construir um futuro mais sustentável e resiliente, onde o respeito aos saberes ancestrais se une ao rigor da pesquisa científica.
O Pesadelo Ancestral do Nordeste brasileiro: Fóssil de Formiga Infernal de 113 Milhões de Anos Surpreende Cientistas
Há cem milhões de anos, o Brasil era habitado por criaturas muito além dos dinossauros. Bem perto do chão, formigas aladas de cerca de 1,5 centímetro, equipadas com mandíbulas afiadas em forma de foice e um ferrão, poderiam ser um verdadeiro tormento. Esses insetos, classificados na subfamília Haidomyrmecinae, ganharam o sugestivo apelido de formigas infernais devido à sua aparência hostil. Uma pesquisa recente, publicada em maio na revista Current Biology, revelou que a espécie mais antiga desse grupo extinto, batizada de Vulcanidris cratensis, habitou há 113 milhões de anos o território que hoje corresponde ao município de Araripe, no Ceará. O fóssil foi identificado na formação Crato, uma unidade geológica que se estende pela divisa de Ceará, Pernambuco e Piauí. Esta é a primeira espécie de formiga infernal encontrada em solo brasileiro, e sua descoberta é um marco na paleontologia mundial.
Ilustrução – Imagem: Estella Ortega/Reprodução/ND
Uma presença global inusitada
Antes desta revelação, paleoentomólogos já haviam catalogado 12 espécies de formigas infernais a partir de fósseis preservados em âmbar de Mianmar, na Ásia, além de uma espécie nos Estados Unidos e outra na França. A singularidade do fóssil brasileiro reside no fato de ser o mais antigo entre todos os exemplares conhecidos, reescrevendo a cronologia da distribuição dessas criaturas ancestrais.
A presença dessas formigas no Brasil é um dado que amplia drasticamente o que se sabia sobre a sua distribuição geográfica. Naquela era remota, os continentes estavam organizados em dois grandes supercontinentes: Laurásia, que reunia o que hoje conhecemos como o Hemisfério Norte, e Gondwana, que compreendia a atual América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártida. “Todas as espécies encontradas antes estavam na Laurásia. Agora sabemos que elas estavam tanto no hemisfério Norte quanto no Sul”, explica a entomóloga Gabriela Procópio Camacho, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo MZ USP.
Anterior à essa descoberta no Ceará, a ciência já suspeitava, por meio de estudos genéticos de formigas atuais da América do Sul e África, que as primeiras espécies desses insetos haviam surgido no continente sul americano. Contudo, essa hipótese era desafiada pela ausência de fósseis antigos nessas regiões. “O problema é que, apesar disso, os fósseis mais antigos conhecidos eram do hemisfério Norte, particularmente da Ásia”, comenta Camacho. “A descoberta dessa nova espécie no Ceará, com cerca de 110 milhões de anos, indica se tratar da formiga mais antiga conhecida até hoje, de um grupo considerado bem primitivo, o que fortalece a ideia de que a América do Sul teve um papel central no início da história evolutiva das formigas e pode ter sido um dos lugares onde elas começaram a se diversificar.”
Adaptação em climas contrastantes
Há 100 milhões de anos, a região que hoje corresponde a Mianmar era caracterizada por um clima quente e chuvoso, com uma vegetação densa, típica de florestas tropicais úmidas. Em contraste, os sedimentos da formação Crato revelam um ambiente com um clima seco, lagos rasos, estações bem definidas e uma vegetação mais variada, incluindo árvores coníferas, samambaias e, notavelmente, as primeiras plantas com flores do mundo. “Isso mostra que as formigas infernais tinham uma boa capacidade de adaptação, o que pode explicar como elas conseguiram se espalhar por várias partes do planeta durante o Cretáceo”, pontua a pesquisadora. Essa plasticidade ecológica é um testemunho da robustez evolutiva desses insetos.
Uma descoberta fortuita
A identificação do fóssil foi, em grande parte, resultado do acaso. “O fóssil foi doado junto a outros por uma família que tinha uma coleção particular. Quando começamos a fazer a curadoria, vimos esse inseto que não se parecia com nenhum outro que conhecíamos no Brasil”, relata Camacho. O primeiro autor do artigo, Anderson Lepeco, biólogo em treinamento técnico no MZ USP e bolsista da FAPESP, foi quem percebeu a semelhança com os fósseis de formigas infernais de Mianmar. Diante da singularidade do achado, os pesquisadores decidiram realizar um exame tomográfico, que permitiu estudar o corpo do inseto em três dimensões e confirmar a identificação com precisão.
Fóssil da formiga infernal – Imagem: Anderson Lepeco / USP
O excelente estado de preservação do fóssil e as características anatômicas peculiares desses insetos ancestrais facilitaram significativamente o trabalho dos pesquisadores. “As formigas infernais tinham mandíbulas verticais, usadas para morder de baixo para cima. É completamente diferente das formigas de hoje, que se alimentam com movimentos horizontais”, detalha Camacho, ilustrando a notável diferença evolutiva. Essas mandíbulas em forma de foice eram utilizadas para carregar alimentos vegetais, como a seiva de árvores, e também para capturar outros insetos. Um exemplar fóssil de formiga ancestral de Mianmar, descrito por pesquisadores dos Estados Unidos e da França em um artigo publicado em 2020 na Current Biology, foi encontrado preservado em âmbar com as mandíbulas fincadas em outro inseto, oferecendo uma imagem vívida de sua habilidade predatória.
Redefinindo a história das formigas no Crato
O artigo assinado pelos pesquisadores brasileiros sugere que a raridade de exemplares desse grupo na formação Crato, onde a única espécie encontrada é a V. cratensis, indica que as formigas infernais não eram predadores dominantes naquele ambiente específico. Essa constatação abre caminho para a retomada de estudos anteriores. Em 1989, o zoólogo Carlos Roberto Brandão, do MZ USP, nomeou uma espécie de formiga do Crato como Cariridris bipetiolata. “O problema é que o fóssil estava em uma coleção particular à qual os pesquisadores perderam acesso e a descrição de Brandão foi baseada em um desenho e uma fotografia do fóssil, e não em uma tomografia 3D, como a de V. cratensis“, explica Camacho. “Alguns pesquisadores classificaram o fóssil como uma vespa e a identidade acabou contestada.”
A nova publicação fornece uma base mais sólida para o trabalho de Brandão, embora Camacho ressalte que, devido às tecnologias empregadas, “a nova descoberta é atualmente considerada a primeira formiga fóssil do Crato validada com segurança pela ciência”.
A importância da tomografia na paleontologia
O paleontólogo Gabriel Osés, pesquisador colaborador no Instituto de Física da USP, que estuda fósseis de insetos do Crato e não participou do estudo, reforça a importância da técnica utilizada. “A tomografia é muito importante porque os detalhes anatômicos que ela revela permitem pensar sobre os modos de vida desses animais”, defende. Ele enfatiza que, no caso dos insetos, essa tecnologia é fundamental para entender a complexa relação entre os organismos e as plantas em ecossistemas do passado.
O fóssil brasileiro se distingue dos encontrados na Ásia por ser o único preservado em rocha, e não em âmbar. “Isso é uma característica muito particular da formação Crato, conhecida pela preservação excepcional tanto de grandes animais quanto de insetos e outros artrópodes”, explica Osés. Na formação Crato, existem dois tipos de calcário onde é possível encontrar fósseis. Em um deles, de cor escura devido à abundância de matéria orgânica no passado, a preservação dos animais era mais precária. O outro tipo, de cor bege, era rico em um mineral chamado pirita. Quando oxidado, esse mineral forma hidróxidos de ferro, conforme detalhado na Pesquisa FAPESP nº 283.
São alguns desses minerais que, ao longo de milhões de anos, substituíram os tecidos de muitos organismos no Crato, preservando suas estruturas com notável fidelidade. No caso dos insetos, que são mais delicados e, por isso, mais difíceis de fossilizar do que os vertebrados, a ocorrência de uma fossilização que preserva o corpo inteiro, incluindo tecidos moles, é um evento raro e de valor inestimável para a ciência.
Formigas: Engenheiras de ecossistemas
Estudar essas formas de vida ancestrais é fundamental para compreendermos melhor os ambientes do passado e, por extensão, as dinâmicas ecológicas do presente. “As formigas de hoje são grandes engenheiras de ecossistemas”, afirma Camacho. “Elas tornam o solo mais poroso, facilitando a entrada de água e favorecendo a fertilidade.” Além disso, as formigas desempenham papéis cruciais no transporte de sementes e no controle da quantidade de pragas ou plantas invasoras que fazem parte de sua dieta. “Podemos considerar que, no passado, elas também desempenharam um papel importante”, sugere a pesquisadora. A descoberta da Vulcanidris cratensis não é apenas um feito paleontológico, mas um lembrete do intrincado e vital papel que esses pequenos seres desempenham na manutenção da vida em nosso planeta, desde as eras mais remotas.
O Alerta dos Anéis Amazônicos: Árvores Sentem o Impacto da Seca e do Calor
As grandiosas árvores da Amazônia, e de outras florestas tropicais, têm demonstrado uma resiliência notável diante das secas intensas do último século. Mesmo quando a estiagem se prolonga por mais de um ano, esses gigantes verdes conseguem retomar seu crescimento. No entanto, um novo estudo traz um alerta preocupante: os efeitos das temperaturas elevadas já são perceptíveis.
Fonte: TROPICAL TREE-RING NETWORK
Nos últimos 100 anos, os períodos de seca severa induziram uma sutil redução no crescimento do diâmetro das árvores, o suficiente para elevar a taxa de mortalidade em 10%. Se o aquecimento global persistir e se intensificar, o cenário aponta para uma diminuição ainda mais acentuada no desenvolvimento arbóreo e um aumento dramático na mortalidade, conforme revelado em um artigo publicado hoje (31/07) na renomada revista Science.
Revelações nas camadas da madeira
As conclusões deste trabalho monumental são fruto de uma colaboração entre 150 pesquisadores, provenientes de 124 instituições globais, incluindo 17 brasileiras. Todos integram a rede internacional Tropical Tree ring Network (TTRNetwork), que no Brasil recebe apoio financeiro da FAPESP. A equipe se debruçou sobre os efeitos das secas extremas e do aquecimento global, analisando a variação da espessura dos anéis de crescimento em mais de 10 mil árvores, coletadas no Brasil e em outras regiões tropicais.
“Até aqui, as árvores se mostraram resilientes às secas extremas”, observa o biólogo Peter Groenendijk, da Universidade Estadual de Campinas Unicamp, um dos autores principais do artigo. Ele explica que resiliência é a capacidade de um organismo ou sistema de retornar ao seu estado original após ser perturbado. “Desde 1930, o crescimento nos períodos de seca intensa diminuiu em média 2.5%, mas as plantas voltaram a crescer normalmente na estação chuvosa seguinte.” Essa capacidade de recuperação foi observada até mesmo em biomas naturalmente mais quentes e áridos, como a Caatinga brasileira. Na Caatinga, as reduções de crescimento em anos de secas severas chegaram a 10%, mas as árvores retomavam o ritmo habitual de crescimento com o retorno das chuvas.
Fonte: Paulo Talhadas dos Santos – CASA DAS CIÊNCIAS
O calor como ameaça silenciosa
Apesar da resiliência demonstrada, há uma preocupação crescente. Nas últimas décadas, tanto a intensidade das secas quanto a redução do crescimento arbóreo têm aumentado. “Caso essa tendência se acentue com as mudanças climáticas, a mortalidade das árvores e as emissões de gases de efeito estufa [GEE] podem aumentar”, alerta Groenendijk. Ele exemplifica a gravidade desse cenário: um aumento de 10% nas taxas de mortalidade das árvores, por si só, resultou em uma emissão de GEE equivalente à de um país do porte da Alemanha, com seus 85 milhões de habitantes.
Em um estudo anterior, que abrangeu 99 espécies em cinco continentes, a equipe da TTRNetwork já havia verificado que o aquecimento global deve reduzir a capacidade das plantas de absorver carbono da atmosfera, conforme detalhado em um artigo publicado na revista Nature Geosciences em 2022. Agora, com uma amostra ainda maior, o grupo pôde examinar o impacto das secas mais intensas ocorridas desde 1930 nos anéis de 163 espécies de árvores.
A linguagem dos anéis
A largura de cada anel no tronco de uma árvore é um verdadeiro registro do seu crescimento anual, variando de acordo com os períodos de chuva ou seca. Para analisar esses anéis sem derrubar a árvore, os pesquisadores utilizam uma técnica especial: retiram um pequeno cilindro do caule com uma broca manual ou motorizada, criando um orifício de cerca de 1 a 3 centímetros. Essa amostragem, que atravessa o tronco, não compromete o desenvolvimento da árvore, e Groenendijk assegura que elas se recuperam desse tipo de intervenção.
O caule das árvores é composto por vasos que são responsáveis pelo transporte de água e nutrientes absorvidos do solo. Durante uma seca extrema, a coluna de água dentro desses vasos pode se romper, formando bolhas que bloqueiam o fluxo. Dependendo da quantidade de vasos afetados, esse bloqueio pode levar ao colapso de todo o sistema de circulação da planta, um processo que ilustra a vulnerabilidade fisiológica das árvores em condições de estresse hídrico.
“Se a temperatura subir demais e as secas se tornarem mais intensas, as árvores mais velhas devem começar a morrer e as mais jovens a viver menos tempo”, adverte o biólogo Giuliano Locosselli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo Cena USP. Locosselli, que também é um dos autores do estudo e responsável por coletas em Minas Gerais e São Paulo, está, juntamente com Groenendijk, testando outro método no Cerrado e na Caatinga. Eles usam sensores para monitorar o fluxo de água e a transpiração das árvores, buscando determinar o limite de temperatura e escassez hídrica que as árvores conseguem suportar.
O clima extremo da Amazônia
A seca intensa que afeta o crescimento das árvores na Amazônia não implica necessariamente uma diminuição na precipitação anual total. Segundo o biólogo brasileiro Bruno Cintra, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, o clima na Amazônia está se tornando cada vez mais extremo, caracterizado por chuvas torrenciais no verão e invernos mais secos. Essa variação drástica entre as estações impõe um estresse particular às árvores.
Cintra desenvolveu uma técnica engenhosa para investigar o histórico de chuvas. Ele analisou a proporção de diferentes tipos de isótopos de oxigênio incorporados aos troncos das árvores, que varia conforme a quantidade de chuva. Desse modo, a proporção dos isótopos nos anéis de crescimento pode indicar a intensidade da chuva de cada ano. No estudo, anéis de troncos de espécies distintas serviram como referência para as estações. O cedro cheiroso (Cedrela odorata), uma árvore de áreas não alagáveis, foi usado para a estação chuvosa, enquanto o arapari branco (Macrolobium acaciifolium), adaptado a ambientes alagáveis, serviu como parâmetro para a estação seca. “Conseguimos medir a chuva de cada ano sem precisar de dados climáticos da Amazônia, que são escassos”, destaca Cintra, evidenciando a capacidade dessa metodologia de superar lacunas de dados regionais.
Fonte: TROPICAL TREE-RING NETWORK
A dendrocronologia sob nova ótica
Por muito tempo, a dendrocronologia, a ciência que estuda os anéis de crescimento das árvores, acreditava que as árvores dos trópicos, vivendo em locais sem grandes variações sazonais, teriam um crescimento contínuo e formariam uma madeira uniforme. Presumia se que os anéis bem definidos eram uma característica exclusiva de árvores de regiões temperadas, como as sequoias (Sequoia sempervirens), que podem viver mais de 2 mil anos, com troncos de 10 metros de diâmetro e alturas de até 100 metros. Nessas regiões de clima mais ameno nos hemisférios Norte e Sul, o crescimento do tronco diminui gradualmente até parar completamente no inverno, recomeçando na primavera. O contraste entre a madeira mais escura, formada no final da estação de crescimento, e a madeira mais clara, gerada no verão, resulta na formação de anéis bem delimitados e facilmente visíveis.
A partir dos anos 1980, porém, os estudos nessa área começaram a desmistificar essa concepção. Ficou claro que a variação climática nos trópicos, embora menos acentuada que nas zonas temperadas, é suficiente para induzir a formação de anéis anuais de crescimento, mesmo que em muitas espécies sejam difíceis de visualizar. Por isso, os pesquisadores preferem trabalhar com espécies que produzem anéis facilmente identificáveis, como os cedros (Cedrela spp.), a araucária (Araucaria angustifolia) e o jatobá (Hymenaea spp.).
“Nos trópicos, variações no clima podem fazer com que o crescimento das árvores se torne irregular”, ressalta a engenheira florestal Ana Carolina Barbosa, da Universidade Federal de Lavras Ufla. Ela realizou coletas na Amazônia ocidental e em regiões mais secas da Mata Atlântica, no norte de Minas Gerais, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq. Segundo Ana Carolina, uma das dificuldades desse trabalho são os chamados “falsos anéis”, que podem se formar em épocas inesperadas, geralmente quando há chuvas excepcionalmente intensas. Por outro lado, em anos de seca extrema, especialmente em regiões mais áridas, as árvores podem simplesmente parar de crescer e não formar um anel anual, o que dificulta a datação e a identificação das oscilações climáticas.
Locosselli complementa a visão sobre a particularidade dos anéis tropicais: “Os anéis podem se tornar bem mais largos nas regiões tropicais do que nas temperadas”. Ele cita o exemplo do guapuruvu (Schizolobium parahyba), uma espécie que cresce rapidamente em clareiras ou áreas desmatadas, cujos anéis podem ultrapassar 3 centímetros de espessura. Em contraste, os anéis das sequoias, apesar do porte imponente dessas árvores, podem ter em média menos de 1 milímetro. Essa diferença ilustra a intensidade e a rapidez do crescimento que certas espécies tropicais podem alcançar em condições favoráveis.
Com base nesse conhecimento aprofundado, Locosselli investigou a Tipuana tipu, uma espécie de copa larga e flores amarelas que pode atingir até 25 metros de altura. Ele verificou que a tipuana cresce bem mesmo sob temperaturas elevadas e em períodos de seca intensa, conforme demonstrou em um artigo publicado em maio de 2024 na revista Urban Climate. Segundo o pesquisador, a tipuana não só contribui para amenizar a temperatura em ambientes urbanos, mas também desempenha um papel crucial no sequestro de carbono da atmosfera, devido à sua notável capacidade de crescimento rápido. A pesquisa oferece insights valiosos sobre a complexa relação entre as árvores, o clima e o futuro de nossos ecossistemas, especialmente em face das crescentes ameaças das mudanças climáticas.
Aliadas Aladas da Amazônia Vespas Guardiãs das Lavouras
No coração da Amazônia, um estudo promissor da Universidade Federal de São Carlos UFSCar revela a importância pouco conhecida de pequenas aliadas aladas: as vespas parasitoides. Essas minúsculas guardiãs estão sendo investigadas por sua notável capacidade de atuar no controle biológico natural de pragas, especialmente nas lavouras de mandioca de pequenos produtores na região. A pesquisa não apenas lança luz sobre um elo vital na cadeia ecológica, mas também aponta para soluções sustentáveis na agricultura local.
Desvendando um universo oculto
A ecologia, ciência que investiga as relações intrincadas da vida, encontra na Amazônia um campo vasto e, em grande parte, inexplorado. Gabriela do Nascimento Herrera, doutoranda da UFSCar e líder desta pesquisa, ressalta a escassez de informações sobre insetos parasitoides, mesmo reconhecendo seu papel fundamental como agentes de controle biológico. Ela observa que, embora muitos desses insetos sejam cruciais para a agricultura, o conhecimento sobre eles, especialmente em relação à cultura da mandioca, é bastante limitado. A mandioca, vale lembrar, representa a principal fonte de subsistência para muitas comunidades na Região Norte do Brasil.
“A Amazônia é um dos biomas onde as informações sobre vespas parasitoides são mais limitadas”, explica Herrera. “Essa lacuna de conhecimento se estende tanto às dimensões verticais quanto horizontais, deixando grande parte da região inexplorada e desconhecida.” Essa falta de dados destaca a urgência e a relevância de pesquisas como a dela, que buscam preencher vazios e revelar a biodiversidade oculta do maior bioma tropical do mundo. O trabalho de Gabriela conta com o valioso apoio de um Projeto Temático da FAPESP, coordenado pela professora Angélica Maria Penteado Martins Dias, também da UFSCar, reforçando o caráter interdisciplinar e a importância científica do estudo.
Ichneumonoidea: A grande família protetora
O principal objetivo deste trabalho é aprofundar o conhecimento sobre a diversidade de Ichneumonoidea, uma superfamília de vespas parasitoides. Esses insetos pertencem à ordem Hymenoptera, um grupo vasto que inclui também as conhecidas abelhas e formigas. De acordo com a cientista, essa ordem abriga tanto espécies solitárias quanto sociais, desempenhando papéis ecológicos diversificados e importantes.
A Ichneumonoidea é, de fato, a maior superfamília dentro da ordem Hymenoptera. Sua relevância no contexto agrícola é inquestionável, pois muitas de suas espécies estão diretamente associadas ao controle de pragas em diversas culturas. Além de sua função como predadores naturais, algumas vespas também contribuem indiretamente para a polinização, adicionando mais uma camada à sua importância nos ecossistemas agrícolas e naturais.
Amazônia, o celeiro de mistérios
O foco do estudo em investigar a ação dessas vespas no bioma amazônico não é por acaso. A pesquisa compara sua diversidade, riqueza e abundância em diferentes estratos: solo, sub bosque e bosque, observando as variações ao longo das estações do ano. Essa estratificação vertical é crucial para entender como essas vespas se distribuem e interagem em um ambiente tão complexo como a floresta amazônica. “Escolhi buscá las na Amazônia por causa da lacuna de conhecimento nesse bioma e também das minhas origens de lá”, revela a doutoranda, mostrando uma conexão pessoal com o tema.
Segundo Herrera, a região da Amazônia Ocidental, particularmente o interior do Amazonas, é uma área pouco explorada por pesquisadores. Ela pontua que as pesquisas na região são escassas, muitas vezes devido ao difícil acesso a locais isolados, que podem ser vistos como desafiadores ou até perigosos. “Mas acredito que essa área seja importante do ponto de vista ecológico por ser uma área preservada”, afirma, sublinhando o valor inestimável dos ecossistemas intocados para a ciência e para o planeta.
Preservando tradições e o ambiente
A pesquisa vai além da mata nativa, traçando também as diferenças na ocorrência das vespas entre a floresta e as lavouras, buscando identificar espécies com potencial para o controle biológico na cultura da mandioca. Essa abordagem comparativa é fundamental para entender a dinâmica dessas vespas em diferentes cenários e como elas podem ser utilizadas em sistemas agrícolas. “A grande maioria dos agricultores da região são pequenos produtores e ainda há muitos hábitos conservadores de produzir, sem muito maquinário disponível e sem muito uso de defensivos agrícolas, o que ajuda ainda mais a manter um pouco das características originais da região”, destaca Herrera. Essa observação é chave, pois indica que as práticas agrícolas tradicionais, menos dependentes de insumos químicos, favorecem a presença e a ação desses controladores biológicos naturais.
imagem: Rafael Barbizan Sühs/Wikimedia Commons
Para o desenvolvimento prático do trabalho, estão sendo realizadas coletas mensais. Essas coletas ocorrem tanto em áreas de mata nativa quanto em lavouras de mandioca, no município de Guajará, no Estado do Amazonas. O período de estudo abrange de maio deste ano até fevereiro de 2026, garantindo um ciclo completo de observação e coleta de dados, essencial para a robustez das conclusões. Os resultados dessa pesquisa prometem não apenas expandir nosso conhecimento sobre a biodiversidade amazônica, mas também oferecer soluções práticas e sustentáveis para a agricultura de subsistência, beneficiando diretamente os pequenos produtores da região.
Nos trópicos, onde florestas em regeneração podem acumular grandes quantidades de carbono, a maioria das árvores depende de animais para a dispersão de sementes — um processo fundamental na regeneração florestal. No entanto, ainda não está claro se a interrupção da dispersão de sementes por animais impacta negativamente a recuperação de carbono florestal. Avaliando essa previsão usando dados de milhares de locais tropicais, mostramos que o acúmulo de carbono florestal é fortemente reduzido onde a dispersão de sementes é interrompida. Essa descoberta destaca uma ligação crítica, porém negligenciada, entre a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas, revelando como o declínio animal não mitigado prejudica a capacidade do carbono florestal de se recuperar após perturbações e enfatizando a necessidade de incorporar a biodiversidade animal às estratégias de mitigação climática.
Os pontos no painel inserido mostram a métrica relativa ponderada da prevalência da dispersão de sementes por animais em 17.071 parcelas de vegetação em toda a latitude, e a linha ajustada mostra a relação com a latitude a partir de um modelo aditivo generalizado. O mapa ilustra a prevalência estimada da dispersão animal desenvolvida utilizando os dados da parcela, covariáveis climáticas e um modelo aleatório de floresta. As estimativas da incerteza do modelo são apresentadas
Muita atenção tem sido dada à forma como as mudanças climáticas podem impulsionar a perda de biodiversidade. Agora, pesquisadores do MIT demonstraram que o inverso também é verdadeiro: reduções na biodiversidade podem comprometer uma das alavancas mais poderosas da Terra para mitigar as mudanças climáticas.
Em um artigo na PNAS, os pesquisadores mostraram que, após o desmatamento, florestas tropicais que crescem naturalmente, com populações saudáveis de animais dispersores de sementes, podem absorver até quatro vezes mais carbono do que florestas semelhantes com menos animais dispersores de sementes.
Como as florestas tropicais são atualmente o maior sumidouro de carbono terrestre da Terra, as descobertas melhoram nossa compreensão de uma ferramenta poderosa para combater as mudanças climáticas .
“Os resultados ressaltam a importância dos animais na manutenção de florestas tropicais saudáveis e ricas em carbono”, afirma Evan Fricke, pesquisador do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do MIT e principal autor do novo estudo.
Os pontos no painel inserido mostram a métrica relativa ponderada da prevalência da dispersão de sementes por animais em 17.071 parcelas de vegetação em toda a latitude, e a linha ajustada mostra a relação com a latitude a partir de um modelo aditivo generalizado. O mapa ilustra a prevalência estimada da dispersão animal desenvolvida utilizando os dados da parcela, covariáveis climáticas e um modelo aleatório de floresta. As estimativas da incerteza do modelo são apresentadas
“Quando os animais dispersores de sementes diminuem, corremos o risco de enfraquecer o poder de mitigação climática das florestas tropicais”.
Os coautores do artigo de Fricke incluem César Terrer, professor associado de desenvolvimento de carreira da Tianfu no MIT; Charles Harvey, professor de engenharia civil e ambiental do MIT ; e Susan Cook-Patton da The Nature Conservancy.
O estudo combina uma ampla gama de dados sobre biodiversidade animal, movimento e dispersão de sementes em milhares de espécies animais , juntamente com dados de acumulação de carbono de milhares de locais de florestas tropicais.
O declínio da atividade animal diminui o papel ecológico das florestas que elas desempenham nos ecossistemas
Os pesquisadores dizem que os resultados são a evidência mais clara até agora de que os animais dispersores de sementes desempenham um papel importante na capacidade das florestas de absorver carbono, e que as descobertas ressaltam a necessidade de abordar a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas como partes conectadas de um ecossistema delicado, em vez de problemas separados isoladamente.
“Está claro que as mudanças climáticas ameaçam a biodiversidade, e agora este estudo mostra como as perdas de biodiversidade podem agravar as mudanças climáticas”, afirma Fricke. “Compreender essa via de mão dupla nos ajuda a entender as conexões entre esses desafios e como podemos enfrentá-los. São desafios que precisamos enfrentar em conjunto, e a contribuição dos animais para o carbono das florestas tropicais demonstra que há vantagens mútuas quando se apoia a biodiversidade e se combate as mudanças climáticas simultaneamente”.
Da próxima vez que você assistir a um vídeo de um macaco ou pássaro saboreando uma fruta, considere que os animais desempenham um papel importante em seus ecossistemas. Pesquisas mostram que, ao digerir as sementes e defecar em outro lugar, os animais podem ajudar na germinação, no crescimento e na sobrevivência da planta a longo prazo.
Fricke estuda animais que dispersam sementes há quase 15 anos. Suas pesquisas anteriores mostraram que, sem a dispersão animal de sementes, as árvores têm menores taxas de sobrevivência e mais dificuldade em acompanhar as mudanças ambientais.
“Estamos agora pensando mais sobre o papel que os animais podem desempenhar no impacto do clima por meio da dispersão de sementes”, diz Fricke. “Sabemos que nas florestas tropicais, onde mais de três quartos das árvores dependem de animais para a dispersão de sementes, o declínio da dispersão de sementes pode afetar não apenas a biodiversidade das florestas, mas também a forma como elas se recuperam do desmatamento. Sabemos também que, em todo o mundo, as populações animais estão diminuindo”.
A regeneração de florestas é uma forma frequentemente citada de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, mas a influência da biodiversidade na capacidade das florestas de absorver carbono não foi totalmente quantificada, especialmente em escalas maiores.
Para o estudo, os pesquisadores combinaram dados de milhares de estudos distintos e usaram novas ferramentas para quantificar processos ecológicos díspares, porém interconectados. Após analisar dados de mais de 17.000 parcelas de vegetação, os pesquisadores decidiram se concentrar em regiões tropicais, analisando dados sobre onde vivem os animais dispersores de sementes, quantas sementes cada animal dispersa e como eles afetam a germinação.
Os pesquisadores então incorporaram dados que mostram como a atividade humana impacta a presença e a movimentação de diferentes animais dispersores de sementes. Descobriram, por exemplo, que os animais se movimentam menos quando consomem sementes em áreas com maior presença humana.
Combinando todos esses dados, os pesquisadores criaram um índice de perturbação da dispersão de sementes que revelou uma ligação entre atividades humanas e declínios na dispersão de sementes por animais. Em seguida, analisaram a relação entre esse índice e os registros de acumulação de carbono em florestas tropicais em regeneração natural ao longo do tempo, controlando fatores como condições de seca, prevalência de incêndios e presença de gado pastando.
“Foi uma tarefa enorme reunir dados de milhares de estudos de campo em um mapa da perturbação da dispersão de sementes”, diz Fricke. “Mas isso nos permite ir além de apenas perguntar quais animais existem, para efetivamente quantificar os papéis ecológicos que esses animais desempenham e entender como as pressões humanas os afetam”.
A descoberta de que a interrupção da dispersão de sementes explica uma diferença quádrupla na absorção de carbono nos milhares de locais
Os pesquisadores reconheceram que a qualidade dos dados sobre biodiversidade animal poderia ser melhorada e que isso introduz incerteza em suas descobertas. Eles também observam que outros processos, como polinização, predação de sementes e competição, influenciam a dispersão de sementes e podem restringir o crescimento florestal. Ainda assim, as descobertas estão em linha com estimativas recentes.
“O que é particularmente novo neste estudo é que estamos, de fato, obtendo números sobre esses efeitos”, diz Fricke. “A descoberta de que a interrupção da dispersão de sementes explica uma diferença quádrupla na absorção de carbono nos milhares de locais de regeneração tropical incluídos no estudo aponta para os dispersores de sementes como uma importante alavanca no carbono das florestas tropicais”.
Quantificação do carbono perdido
Em florestas identificadas como potenciais locais de recrescimento, os pesquisadores descobriram que o declínio na dispersão de sementes estava ligado a reduções na absorção de carbono a cada ano, com média de 1,8 toneladas métricas por hectare, o que equivale a uma redução no recrescimento de 57%.
Áreas que foram desmatadas recentemente, estão perto de florestas de alta integridade ou têm maior cobertura de árvores
Os pesquisadores dizem que os resultados mostram que os projetos de regeneração natural terão mais impacto em paisagens onde os animais dispersores de sementes foram menos afetados, incluindo áreas que foram desmatadas recentemente, estão perto de florestas de alta integridade ou têm maior cobertura de árvores.
“Na discussão sobre plantar árvores versus permitir que elas cresçam naturalmente, a regeneração é basicamente gratuita, enquanto plantar árvores custa dinheiro e também resulta em florestas menos diversas”, diz Terrer. “Com esses resultados, agora podemos entender onde a regeneração natural pode ocorrer de forma eficaz, porque há animais plantando as sementes gratuitamente, e também podemos identificar áreas onde — como os animais são afetados — a regeneração natural não ocorrerá e, portanto, plantar árvores ativamente é necessário”.
Para apoiar os animais dispersores de sementes, os pesquisadores incentivam intervenções que protejam ou melhorem seus habitats e reduzam as pressões sobre as espécies, desde corredores de vida selvagem até restrições ao comércio de animais selvagens. Restaurar o papel ecológico dos dispersores de sementes também é possível reintroduzindo espécies dispersoras de sementes onde elas foram perdidas ou plantando certas árvores que atraem esses animais.
As descobertas também podem tornar mais precisa a modelagem do impacto climático do crescimento natural das florestas.
“Ignorar o impacto da interrupção da dispersão de sementes pode superestimar o potencial de regeneração natural em muitas áreas e subestimá-lo em outras”, escrevem os autores.
Os pesquisadores acreditam que as descobertas abrem novos caminhos de investigação para a área.
“As florestas fornecem um enorme subsídio climático ao sequestrar cerca de um terço de todas as emissões humanas de carbono”, diz Terrer. “As florestas tropicais são, de longe, o sumidouro de carbono mais importante do mundo, mas, nas últimas décadas, sua capacidade de sequestrar carbono vem diminuindo. A seguir, exploraremos quanto desse declínio se deve ao aumento de secas ou incêndios extremos em comparação à redução na dispersão de sementes por animais”.
No geral, os pesquisadores esperam que o estudo ajude a melhorar nossa compreensão dos complexos processos ecológicos do planeta.
“Quando perdemos nossos animais, estamos perdendo a infraestrutura ecológica que mantém nossas florestas tropicais saudáveis e resilientes”, diz Fricke.
Há ocasiões históricas em que as circunstâncias parecem conspirar a favor de um país; momentos em que todos os fatores críticos se alinham: riquezas naturais, vocação territorial, inovação, oportunidades geopolíticas e demandas globais que convergem exatamente para o que uma nação tem a oferecer. A COP30, realizada em Belém, representa precisamente esse instante singular para o Brasil. Pela primeira vez, a grande cúpula climática mundial se instala no coração amazônico, oferecendo ao país uma plataforma excepcional para transformar seus ativos naturais e técnicos em liderança efetiva na economia climática global.
Panorama brasileiro
O cenário não poderia ser mais propício. O Brasil já dispõe de um conjunto invejável de recursos: uma matriz energética 90% renovável, contra uma média global que mal ultrapassa os 30%; a maior biodiversidade do planeta; uma agroindústria de referência internacional; e um emergente ecossistema de soluções climáticas, que segundo levantamento da Climate Ventures ultrapassa a casa das mil iniciativas inovadoras. Além disso, abriga um dos maiores estoques globais de biomassa, fundamental para qualquer discussão séria sobre transição energética e captura de carbono.
Fonte: Casa Harmonia
Por outro lado, os ventos geopolíticos sopram de forma incomum: os Estados Unidos retraíram-se em seu papel de liderança ambiental, a China permanece concentrada em objetivos industriais tradicionais e a Europa busca parceiros confiáveis no chamado Sul Global. No meio disso tudo, há mais de cem bilhões de dólares anuais em recursos para financiar ações climáticas, buscando destinos que aliem governança sólida e capacidade de entrega real. É nesse contexto que a oportunidade brasileira se revela plenamente.
Desafio
Contudo, o desafio do Brasil não é a ausência de elementos fundamentais, mas sua crônica dificuldade em articulá-los. A fragmentação institucional impede que os diversos ativos do país se tornem, juntos, uma vantagem competitiva sistêmica. Governo, setor privado, academia e sociedade civil operam frequentemente em silos desconectados, sem uma estratégia nacional que reúna essas forças dispersas. Projetos inovadores em bioeconomia, energias limpas e climate tech permanecem marginalizados pelas políticas públicas e pelos canais tradicionais de financiamento, pouco preparados para enfrentar os riscos associados à inovação climática.
O financiamento global, embora abundante, tende a privilegiar tecnologias maduras ou infraestrutura convencional. As soluções disruptivas, justamente aquelas capazes de enfrentar contextos socioambientais complexos, permanecem subfinanciadas, exatamente onde a inovação mais se faz necessária. Essa assimetria nos investimentos não é apenas um descompasso financeiro: é uma falha estratégica grave diante da urgência climática.
Inovação climática
Para captar o imenso potencial desse cenário, o Brasil precisa colocar a inovação climática no centro de sua estratégia de Estado. Apesar de liderar os investimentos climáticos na América Latina, recebendo quase 80% do capital destinado às startups na região, o país ainda permanece invisível no radar global de venture capital climático. O Brasil e todo o continente africano, juntos, atraem menos de 4% do capital mundial voltado às climate techs. Uma proporção mínima diante do imenso potencial que permanece latente, aguardando a transformação necessária.
As medidas concretas para reverter essa situação são claras e factíveis. A adoção de uma Estratégia Nacional de Inovação Climática, que inclua metas objetivas, recursos definidos e mecanismos eficazes de coordenação entre os atores-chave, é urgente. Criar instrumentos financeiros específicos, como um Fundo Nacional de Inovação Climática que reduza riscos para empreendedores por meio de contratos de pré-compra pública, também poderia sinalizar fortemente ao mercado privado, desbloqueando investimentos estratégicos.
Uma plataforma nacional de inteligência climática, capaz de reunir dados, mapear soluções existentes e orientar políticas públicas e decisões financeiras, ampliaria significativamente a eficiência desses esforços. Ao mesmo tempo, programas nacionais de capacitação em inovação climática poderiam fomentar o surgimento de startups qualificadas, formar gestores públicos preparados e criar uma nova geração de líderes climáticos, especialmente nas regiões mais afetadas pelas mudanças ambientais.
Inteligência climática
Inovação não é apenas um complemento às políticas de mitigação e adaptação climática. Pelo contrário, é a própria essência que pode impulsionar essas estratégias. Tecnologias pré-escala como bioinsumos, sistemas agroflorestais, biocombustíveis de macaúba ou drones aplicados ao manejo territorial são exemplos claros de como soluções inovadoras podem potencializar os resultados práticos da transição ecológica, aumentando a eficiência e promovendo inclusão social.
É impossível abordar a crise climática separando inovação, mitigação e adaptação como categorias isoladas. Precisamos de uma abordagem integradora, capaz de reunir conhecimento, recursos financeiros e políticas públicas em um único movimento coordenado. A COP30 em Belém, portanto, não pode ser apenas um evento simbólico. Deve ser um marco real, a COP da implementação, onde o Brasil finalmente dê o passo decisivo de transformar promessa em protagonismo, colocando a inovação climática no centro de sua agenda estratégica.
A escolha é simples: ou articulamos nossos ativos naturais e técnicos para liderar globalmente, ou desperdiçaremos mais uma vez a chance histórica que está ao nosso alcance. A liderança climática brasileira não precisa mais ser promessa — ela pode, e deve, ser realidade.
As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) estão no cerne do Acordo de Paris e da consecução de seus objetivos de longo prazo. As NDCs representam os esforços de cada país para reduzir as emissões nacionais e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. O Acordo de Paris, em seu Artigo 4 e parágrafo 2, exige que cada Parte prepare, comunique e mantenha contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) sucessivas que pretenda alcançar. As Partes devem adotar medidas nacionais de mitigação, com o objetivo de atingir os objetivos de tais contribuições.
Planos Climáticos Nacionais: O Papel das Cidades na Ação Global
Com a COP30 se aproximando em Belém, a urgência de alinhar os planos climáticos nacionais com a realidade das cidades é mais premente do que nunca. A terceira rodada das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs 3.0) representa uma oportunidade crucial para os países elevarem suas ambições. O Consenso da COP28 nos Emirados Árabes Unidos, em seu parágrafo 161, instou governos nacionais a incorporarem a governança multinível em seus novos planos climáticos, visando impulsionar a ambição e acelerar a implementação. Contudo, com apenas 27 novas NDCs submetidas até junho de 2025, cobrindo meros 21% das emissões globais, a pergunta permanece: os governos estão realmente cumprindo essa promessa?
Fonte: Sustentavel.com.br
Um ano decisivo para o clima
O ano de 2025 é um marco na trajetória da ação climática global. Não apenas é o prazo para os países apresentarem suas NDCs atualizadas, mas também celebra o décimo aniversário do Acordo de Paris. No cerne deste acordo estão as Contribuições Nacionalmente Determinadas, que materializam o compromisso de cada nação em reduzir emissões e se adaptar aos impactos climáticos.
Esses planos moldarão o progresso climático global até 2035 e, como enfatizou Simon Stiell, Secretário Executivo da ONU Mudanças Climáticas, em fevereiro, são “alguns dos documentos de política mais importantes que os governos produzirão neste século”. A data limite original para submissão era fevereiro de 2025, mas agora a maioria dos países deve entregar suas NDCs até a Assembleia Geral da ONU em setembro. Esse prazo revisado busca permitir que os países aprimorem a ambição e o alinhamento com metas de longo prazo, como alcançar emissões líquidas zero até meados do século e limitar o aumento da temperatura global abaixo de 1.5°C. No entanto, paira a dúvida: as novas NDCs realmente elevarão a ambição, ou simplesmente repetirão velhos padrões?
Lacunas na ambição e financiamento
Até junho de 2025, apenas 27 países apresentaram NDCs atualizadas, cobrindo uma fatia ínfima de 21% das emissões globais. Muitos grandes emissores, incluindo a União Europeia, Índia e China, ainda são aguardados nos próximos meses. Além disso, o resultado aquém do esperado na finança climática da COP29 complicou ainda mais a implementação. Sem um compromisso financeiro robusto para apoiar uma ambição crescente, especialmente em cidades e regiões vulneráveis, o abismo entre o planejamento e a execução corre o risco de se alargar. A instabilidade global acentuou esses desafios. A retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris criou lacunas significativas no financiamento climático e na liderança política global, tornando a ação multinível local e nacional em outros países ainda mais crucial.
O papel crucial das áreas urbanas
As áreas urbanas são responsáveis por mais de 70% das emissões globais de gases de efeito estufa e estão na linha de frente tanto dos impactos climáticos quanto das soluções. No entanto, apenas 27% das NDCs incluem um conteúdo urbano robusto, ou seja, ações concretas, metas e mecanismos de coordenação adaptados às cidades. Essa revelação veio do estudo “O Conteúdo Urbano das NDCs”, uma avaliação da ONU Habitat, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e da Universidade do Sul da Dinamarca (SDU), que analisou as 194 NDCs submetidas até 27 de junho de 2023. Os 73% restantes dos planos climáticos nacionais contêm níveis de integração urbana nulos, baixos ou apenas moderados. Essa lacuna enfraquece a implementação, atrasa o financiamento para soluções locais e limita o potencial de expandir a ação climática eficaz por meio das cidades.
Ambição em múltiplos níveis
O Consenso dos Emirados Árabes Unidos, adotado na COP28, enfatizou a necessidade de triplicar a capacidade de energia renovável e duplicar a eficiência energética até 2030. Mas também sinalizou uma mudança mais ampla: o reconhecimento de que a implementação deve ocorrer em todos os níveis de governo, instando as Partes a se engajarem em ações cooperativas inclusivas, multiníveis e responsivas a questões de gênero, como em outros parágrafos relevantes do Consenso, fornecendo direcionamento para a próxima rodada de NDCs. Esse espírito está intrínseco na Coalizão por Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (CHAMP), lançada na COP28 pela Presidência dos Emirados Árabes Unidos. A CHAMP agora conta com 75 países signatários comprometidos em aprimorar a cooperação com seus governos locais, regionais e outras instâncias subnacionais – incluindo cidades, vilas, estados e regiões – para buscar coletivamente esforços no planejamento, financiamento e implementação das NDCs.
Brasil e outros exemplos
Entre os 27 países que apresentaram novas NDCs, 12 são signatários da CHAMP. Desses, apenas quatro, Brasil, Reino Unido, Canadá e Emirados Árabes Unidos, referenciam explicitamente a CHAMP em seus planos climáticos. De acordo com estatísticas da unidade de apoio C40 x GCoM CHAMP, algumas NDCs, como as do Canadá, Brasil, Quênia e Emirados Árabes Unidos, fazem referência a estruturas de governança nacional, incluindo a divisão de poderes para legislar e implementar a ação climática. O conteúdo subnacional está mais fortemente representado em seções relacionadas à adaptação ou setores específicos, como resíduos e transporte.
Algumas NDCs, como as da Noruega e do Reino Unido, vão além, detalhando instrumentos financeiros disponíveis para apoiar a ação climática subnacional. O Brasil se destaca. Apresentada na COP29, sua nova NDC inclui uma meta ambiciosa: redução de 59% a 67% nas emissões até 2035 (em relação aos níveis de 2005). Mais importante, ela integra o “federalismo climático”, reconhecendo o papel de seus 5.570 municípios e 27 estados na consecução das metas climáticas.
“O federalismo climático é nossa resposta à necessidade de ação multinível”, disse Antonio da Costa e Silva, Conselheiro Chefe Internacional do Ministério das Cidades do Brasil, durante o SB62 e os Diálogos Daring Cities Bonn, em junho de 2025. Antes de apresentar sua NDC, Ruanda, outro país CHAMP, está conduzindo um processo de consulta em todo o país para garantir que sua NDC 3.0 reflita as prioridades urbanas e alinhe o desenvolvimento local com a resposta climática. Apoiada pela WRI, ICLEI e pelo programa UrbanShift financiado pelo GEF, a abordagem de Ruanda demonstra como os países podem transformar o compromisso em colaboração.
A iniciativa Town Hall COPs
A Iniciativa Town Hall COP da ICLEI oferece uma ferramenta poderosa para apoiar essa transformação. Esses diálogos liderados localmente são projetados para levar o espírito das negociações da COP para as comunidades, tornando o planejamento climático mais inclusivo, participativo e enraizado nas necessidades do mundo real. As Town Hall COPs já estão ocorrendo em países como Malásia, Turquia, Estados Unidos e em toda a América Latina. Ao conectar as prioridades locais com as metas nacionais, elas oferecem uma maneira escalável de cumprir os compromissos da CHAMP e engajar as comunidades na elaboração das NDCs. Mesmo em países não signatários da CHAMP, as Town Hall COPs podem ajudar as comunidades a se mobilizarem, responsabilizarem os governos e pressionarem por uma integração mais forte das realidades locais no planejamento nacional. Um exemplo líder é a África do Sul, a primeira nação a endossar formalmente a Iniciativa Town Hall COP como uma plataforma para criar planos climáticos nacionais inclusivos. Para dar vida a esse compromisso, a ICLEI e a Associação de Governos Locais da África do Sul (SALGA) firmaram parceria para sediar uma série de Town Hall COPs em todo o país.
Rumo a Belém: Um roteiro para a ação nacional
As cidades estão prontas para liderar, mas precisam de marcos nacionais que as capacitem. Sem financiamento, mandatos e coordenação, a ambição local estagna. É por isso que os governos nacionais devem agir agora. Desenvolvido pela ONU Habitat e SDU, o recém lançado guia “Aproveitando a Oportunidade Urbana: Um guia de 3 passos para fortalecer as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) 3.0” apresenta uma abordagem clara de três etapas para os governos nacionais incluírem perspectivas subnacionais em seus planos climáticos: Avaliar o estado da ação climática urbana, as lacunas de dados e os papéis institucionais. Preparar identificando oportunidades para alinhar as prioridades locais e nacionais. Co criar a NDC por meio de diálogos multiníveis e propriedade compartilhada. NDCs inclusivas urbanas não são apenas mais equitativas, são mais eficazes. Quando cidades e governos locais são envolvidos na elaboração dos planos nacionais, esses planos se tornam mais realistas, direcionados e prontos para implementação.
Entregando a promessa?
Ainda não. Embora alguns países estejam liderando o caminho, a maioria das NDCs 3.0 ainda carece da profundidade de planejamento multinível e inclusivo necessária para impulsionar a transformação. Mas o roteiro é claro. As cidades estão prontas. As ferramentas existem. Os compromissos estão crescendo.
O que é necessário agora é a vontade política para conectar a ambição nacional com a ação local. Como voz das cidades, vilas e regiões, e de todas as outras entidades subnacionais nos processos da UNFCCC, a Constituency dos Governos Locais e Autoridades Municipais (LGMA), divulgou sua Carta de Visão da COP30, conclamando todos os governos locais e outras entidades subnacionais, juntamente com suas redes, a aprofundarem e expandirem seu engajamento com os governos nacionais – por meio de iniciativas como as Town Hall COPs e a CHAMP, para garantir que todas as Partes da UNFCCC adotem sua nova geração de NDCs antes de Belém.
A próxima rodada de NDCs finalmente desbloqueará todo o potencial da governança climática multinível? Com a COP30 se aproximando rapidamente, o momento de agir é agora. Para acelerar os esforços para aprimorar a colaboração multinível e os componentes urbanos das NDCs 3.0, a LGMA está iniciando uma ambiciosa agenda nos 100 dias que antecedem a COP30. Isso começa com a Semana Urbana da ASEAN, sediada por Maimunah Mohd Sharif, prefeita de Kuala Lumpur e membro do Conselho Consultivo Internacional da COP29. O governo da Malásia desempenha papéis críticos para a agenda urbana este ano, como presidente da Presidência da ASEAN em 2025 e Presidente da Assembleia da ONU Habitat até 2028.
Uma semana para o futuro da cidade: entre os dias 2 e 8 de agosto, a metrópole paulistana abrirá suas portas para a segunda edição da São Paulo Climate Week. Este evento de envergadura global tem como propósito reunir uma diversidade de atores, do setor público ao privado, para catalisar ações concretas. O objetivo primordial é equipar as cidades para enfrentar a crescente crise climática, ao mesmo tempo em que se impulsiona um modelo de economia verdadeiramente regenerativa. É um chamado à ação que ecoa em cada esquina da vibrante capital.
Além do evento, uma plataforma contínua
Michel Porcino, coordenador do encontro, enfatiza que a São Paulo Climate Week transcende a mera realização de uma série de eventos. Em suas palavras, trata se de uma plataforma de mobilização contínua. Ela tece uma rede que conecta atores de diferentes esferas, fortalece iniciativas já em curso e, crucially, fomenta o surgimento de novas soluções para os intrincados desafios urbanos e climáticos que se apresentam. Cada edição, ele ressalta, tem como legado um acúmulo de articulações estratégicas, projetos que recebem apoio e, vitalmente, caminhos desbravados para o financiamento climático tão necessário.
Fonte: O Futuro
Experiências e debates espalhados pela cidade
A programação da semana, inteiramente gratuita, é um convite à participação ativa. Mais de 100 atividades se espalham por diversas regiões de São Paulo, configurando um verdadeiro mosaico de conhecimento e engajamento. Há desde painéis de discussão aprofundados e workshops práticos, passando por rodadas de negócios que visam criar pontes e oportunidades, até exposições que instigam a reflexão e encontros culturais que celebram a diversidade. Experiências imersivas prometem transportar os participantes para um futuro mais sustentável, tudo isso com a conveniência de uma programação completa disponível no site oficial do evento.
Nomes de peso e temas cruciais
O empresário Dan Ioschpe, figura proeminente escolhida pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, como defensor climático de alto nível para a COP30, é um dos nomes confirmados na programação. Sua presença sublinha a relevância do evento no cenário nacional e internacional. Além disso, a agenda está recheada de debates sobre temas de vital importância como financiamento climático, transição energética e economia regenerativa. As atividades ocorrerão em uma série de hubs estratégicos pela cidade, incluindo Aya Hub, Bioma Food Hub, CIVI CO, PUC SP, FGV, Hub Green Sampa e Sabesp, garantindo um alcance abrangente e diversificado.
Curadoria e parcerias estratégicas
A curadoria oficial da São Paulo Climate Week é cuidadosamente conduzida pelo Instituto OFUTURO, garantindo a qualidade e pertinência dos conteúdos apresentados. O evento conta com um apoio institucional robusto, que inclui a Agência da ONU para Refugiados ACNUR, Sistema B, Governo do Estado de São Paulo, Prefeitura de São Paulo, Associação Brasileira de Desenvolvimento ABDE e a Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável ABRAPS.
Para além dessas importantes instituições, mais de 70 organizações atuarão como correalizadoras, trazendo suas expertises e mobilizando suas redes. Entre elas, destacam se Greenpeace, Impact Hub, Instituto Aya, World Resources Institute WRI Brasil, Nude, Instituto Oya e Ambition Loop, demonstrando a capilaridade e o engajamento de múltiplos setores na construção de um futuro mais verde para São Paulo e o planeta.
Basta olhar para uma helicônia em flor para sentir que o jardim ganhou alma. Com aparência exótica, folhagem exuberante e inflorescências que parecem esculpidas à mão, essa planta transforma qualquer canto em um cenário digno de floresta tropical. E, ao contrário do que muita gente pensa, cultivar helicônia em casa é totalmente possível — mesmo em jardins urbanos.
Se você deseja um visual impactante e uma planta que combine beleza com rusticidade, ela pode ser a escolha perfeita. A seguir, veja como plantar, cuidar e multiplicar para criar um verdadeiro refúgio tropical no seu quintal ou até em vasos grandes na varanda.
Conhecendo a helicônia: formas, cores e espécies
Ela pertence à família Heliconiaceae e é nativa das Américas tropicais. Suas folhas lembram muito as do bananeira (ambas são parentes distantes), mas é a floração que rouba a cena: as inflorescências surgem em forma de espigas com brácteas coloridas e cerosas, que protegem as flores verdadeiras.
As cores vão do vermelho vibrante ao amarelo-ouro, passando por tons de laranja, verde e até combinações bicolores. As espécies mais populares incluem:
Heliconia rostrata – a clássica “bananeira-do-brejo” com brácteas pendentes vermelhas e amarelas.
Heliconia psittacorum – porte menor, ideal para vasos e canteiros urbanos.
Heliconia bihai – estrutura ereta e vigorosa, muito usada em paisagismo tropical.
Onde plantar helicônia: escolha do local ideal
O primeiro passo para garantir o sucesso da helicônia é escolher bem o lugar:
Sol pleno ou meia-sombra: ela precisa de bastante luz para florir, mas tolera sombra parcial.
Espaço para crescer: algumas variedades ultrapassam 2 metros de altura, então é importante que o local permita crescimento vertical.
Proteção contra ventos fortes: folhas grandes são sensíveis e podem rasgar facilmente com ventos intensos.
Em climas mais frios, a helicônia sofre no inverno. Nessas regiões, o ideal é cultivá-la em vasos grandes que possam ser protegidos ou trazidos para dentro em dias gelados.
Passo a passo para plantar helicônia
1. Escolha do rizoma ou muda: Você pode plantar a partir de mudas prontas ou de rizomas (caules subterrâneos). Os rizomas são vendidos em lojas de jardinagem ou podem ser retirados de uma planta já adulta.
2. Preparo do solo: O solo ideal é rico em matéria orgânica, levemente ácido e com boa drenagem, mas que também mantenha certa umidade. A mistura ideal:
40% terra vegetal
30% húmus de minhoca
20% areia grossa
10% esterco bem curtido
3. Plantio:
Plante o rizoma a cerca de 5 cm de profundidade, com os brotos voltados para cima.
Mantenha espaçamento de pelo menos 50 cm entre plantas (ou mais, dependendo da espécie).
Regue bem após o plantio.
4. Cultivo em vaso: Use vasos de no mínimo 30 litros, com furos de drenagem e substrato bem enriquecido. Essa técnica funciona bem para a Heliconia psittacorum, que é de menor porte.
Cuidados essenciais para uma helicônia saudável
1. Rega frequente, mas sem encharcar A helicônia gosta de solo úmido, mas não encharcado. No verão, regue de 3 a 4 vezes por semana; no inverno, reduza para 1 ou 2 vezes.
2. Sol e adubação garantem flores A floração depende de luz e nutrientes. Aplique adubo rico em fósforo e potássio (como NPK 4-14-8) a cada 20 dias. O uso de farinha de osso e torta de mamona também é indicado.
3. Poda para renovação Depois da floração, corte as hastes florais secas na base. Isso estimula novos brotos e mantém a planta com visual limpo.
4. Controle de pragas As principais ameaças são lesmas, caracóis e cochonilhas. Use armadilhas naturais ou pulverize óleo de neem para manter a saúde da planta.
Multiplicação: como fazer novas helicônias
A multiplicação da helicônia é simples e feita por divisão dos rizomas:
Espere o final da floração.
Retire a planta da terra e separe os rizomas com pelo menos um broto e raízes visíveis.
Plante imediatamente em solo úmido e mantenha em meia-sombra até a adaptação.
Em poucas semanas, as mudas estarão enraizadas e prontas para compor novos canteiros.
Heliconia no paisagismo e no jardim tropical
Com sua aparência exótica, a helicônia é muito usada como planta de destaque em canteiros centrais, bordaduras altas ou atrás de espécies menores. Ela combina bem com:
alpínias
bastão-do-imperador
bananeiras ornamentais
costelas-de-adão
Além de visualmente impactante, ela atrai beija-flores, borboletas e polinizadores — trazendo vida e movimento ao jardim.
Criar um refúgio tropical não é sobre ter muito espaço ou dinheiro. É sobre escolhas certeiras. Com a helicônia, cada flor é um lembrete de que a natureza pode ser grandiosa mesmo em um quintal comum. Aposte nessa planta vibrante e veja seu jardim ganhar uma alma exuberante e acolhedora.
A cena pode parecer tranquila: o rio subiu, a margem virou uma pequena praia de água calma, e ali estão famílias se refrescando. Mas o que muitos não sabem é que esse é justamente o ambiente preferido das arraias durante a cheia. E esse comportamento, que parece inofensivo à primeira vista, é o principal responsável por acidentes dolorosos — e, muitas vezes, evitáveis.
Neste artigo, vamos entender por que as arraias de água doce se aproximam da margem em épocas de cheia e como agir para evitar encontros indesejados.
Comportamento natural das arraias na cheia
As arraias de água doce são comuns em rios da Amazônia, Pantanal, Tocantins-Araguaia e bacias afluentes de grandes rios brasileiros. Elas se adaptaram perfeitamente ao ambiente fluvial e, ao contrário do que se pensa, não são animais agressivos.
Durante o período da cheia, o nível do rio sobe e inunda áreas que normalmente estão secas: praias, margens gramadas, galhadas e até quintais ribeirinhos. Esses locais passam a oferecer abrigo, alimento e temperatura mais amena — tudo o que uma arraia procura.
Por isso, elas migram naturalmente para áreas rasas e tranquilas, onde podem se alimentar de pequenos crustáceos, vermes e peixes escondidos no lodo ou na vegetação submersa.
Por que o risco aumenta para banhistas
O problema começa quando humanos e arraias passam a dividir o mesmo espaço. Como esses animais vivem enterrados na areia ou no barro, sua camuflagem natural faz com que seja quase impossível vê-los. E o risco aparece justamente quando alguém pisa acidentalmente sobre uma delas.
A arraia, em resposta ao toque, levanta seu ferrão — que fica na parte superior da cauda — e o crava com força como mecanismo de defesa. O resultado é uma das dores mais intensas registradas em animais aquáticos brasileiros, acompanhada de inchaço, necrose e, em alguns casos, infecção grave.
Como se proteger ao entrar no rio na cheia
É possível aproveitar o rio com segurança, mesmo em períodos críticos. Basta adotar alguns cuidados simples:
Arraste os pés ao entrar na água: esse movimento faz com que as arraias sintam a vibração e fujam antes de serem pisadas.
Evite entrar em áreas com fundo lodoso ou muito calmo, especialmente nos arredores de vegetação submersa.
Use calçado de borracha de solado rígido, que oferece uma barreira de proteção, mesmo que parcial.
Nunca sente diretamente no fundo do rio, pois a arraia pode estar próxima e reagir ao movimento.
Fique atento após chuvas intensas, pois elas aumentam a presença desses animais em áreas antes secas.
O que fazer em caso de ferroada
Se, mesmo com os cuidados, acontecer o acidente, o mais importante é agir rápido. Veja como proceder:
Não tente retirar o ferrão sozinho. Vá imediatamente para a unidade de saúde mais próxima.
Mantenha o local afetado submerso em água quente (não fervendo), entre 40 °C e 45 °C, por 30 a 90 minutos. O calor ajuda a neutralizar as toxinas.
Não use remédios caseiros, como vinagre, urina ou álcool, que podem agravar a dor e a infecção.
Procure atendimento médico imediatamente. Pode ser necessário antibiótico, anti-inflamatório e, em alguns casos, intervenção cirúrgica.
Arraias são vilãs?
Definitivamente não. As arraias são parte fundamental dos ecossistemas aquáticos. Elas controlam populações de pequenos animais no fundo dos rios, ajudam na reciclagem de matéria orgânica e têm papel importante na cadeia alimentar.
O que as torna perigosas é o desconhecimento do comportamento natural e a interferência humana em áreas críticas durante períodos de cheia.
A cheia transforma o rio — e o cuidado também deve mudar
O período da cheia muda completamente a dinâmica do rio. O que era uma praia seca e segura em dezembro vira um viveiro raso em março. As regras de convivência com a natureza precisam acompanhar essa mudança.
Muitos acidentes acontecem porque as pessoas repetem os mesmos hábitos o ano todo, sem considerar a presença das arraias. A prevenção, nesse caso, é feita com informação, atenção e respeito ao ambiente natural.
Viver perto do rio com segurança é possível
Para quem mora em regiões ribeirinhas ou frequenta rios durante o verão, adotar medidas preventivas pode evitar muito sofrimento. Arraias não atacam — elas apenas reagem. Se você não pisa nelas, não será ferido.
E quanto mais pessoas souberem disso, menos acidentes acontecerão nas margens dos nossos rios.
A vasta e misteriosa Amazônia, guardiã de segredos incalculáveis, acaba de revelar um de seus mais impressionantes tesouros: o local de maior desova de tartarugas da Amazônia, a Podocnemis expansa, em todo o mundo. Essa descoberta monumental, fruto de um estudo inovador publicado na prestigiada revista científica Journal of Applied Ecology, promete redefinir as estratégias de conservação para esses répteis imponentes, que atualmente enfrentam o espectro da extinção. A contagem precisa de indivíduos de uma espécie é o alicerce de qualquer esforço de proteção, e essa pesquisa traz à luz uma metodologia que pode ser um divisor de águas.
Drones Desvendam o Maior Berçário de Tartarugas do Planeta
A Podocnemis expansa, uma espécie de grande porte que pode ultrapassar os 90 centímetros de comprimento e os 59 quilos, habita o majestoso rio Amazonas e seus afluentes. Sua existência, contudo, é uma luta constante contra a perda de habitat, a poluição crescente, a construção de represas e, de forma ainda mais cruel, a caça. A demanda por sua carne e ovos no mercado ilegal tem sido uma das maiores ameaças à sua sobrevivência.
Desova de tartarugas – Fonte: 18 Horas
É nesse cenário desafiador que a nova pesquisa, liderada pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, em colaboração com pesquisadores do Brasil e da Bolívia, surge como um sopro de esperança. Ao empregar uma técnica inovadora com drones para mapear e contabilizar esses animais no Rio Guaporé, na região amazônica que se estende entre a Bolívia e o Brasil, o estudo não apenas confirmou a grandiosidade da desova, mas também apontou o caminho para uma conservação mais eficaz.
Drones, Imagens e um Toque de Engenhosidade
Desde 2024, a equipe de pesquisadores da Universidade da Flórida tem utilizado drones para a desafiadora tarefa de mapear e contabilizar a população de tartarugas. Essa tecnologia aérea, por si só um avanço, foi aliada a uma técnica inovadora conhecida como ortomosaico. Nesse processo, centenas de imagens aéreas de alta resolução capturadas pelo drone são cuidadosamente sobrepostas, criando um mapa detalhado que permite estimar a quantidade de animais no ambiente com uma precisão sem precedentes. Ismael Brack, ecologista da Universidade, explica que a metodologia desenvolvida para a contagem de tartarugas não se limita a essa espécie; ela pode ser aplicada com sucesso a outras espécies que enfrentam desafios semelhantes de monitoramento.
No entanto, a eficiência da técnica do ortomosaico não era absoluta. O movimento constante das tartarugas representava um obstáculo, levando à contagem de um mesmo indivíduo mais de uma vez e introduzindo uma margem de erro. A solução para essa defasagem foi surpreendentemente simples, mas notavelmente eficaz: tinta branca. Não, não era uma licença poética, mas uma ferramenta prática. Os pesquisadores marcaram os cascos de 1.187 tartarugas da Amazônia com um material não tóxico. Por um período de 12 dias, um drone sobrevoou o Rio Guaporé, realizando quatro viagens diárias de ida e volta, capturando cerca de 1.500 fotos por dia. Com o auxílio de um software especializado e modelos estatísticos avançados, os estudiosos puderam analisar as imagens com maior precisão, identificando padrões de comportamento e movimentação das tartarugas.
Inicialmente, as contagens variavam drasticamente, de 16 mil a 79 mil indivíduos. Contudo, com a aplicação dos métodos aprimorados da equipe, a estimativa se tornou muito mais precisa: aproximadamente 41 mil tartarugas. Esse número não apenas confere ao local o título de “maior desova de tartarugas do mundo”, mas também fornece uma base sólida para futuras ações de conservação. Agora, o próximo passo ambicioso dos cientistas é expandir esses estudos para outros países da América do Sul e continuar aprimorando o uso de drones no monitoramento da vida selvagem.
O Imperativo da Contagem: Por Que Isso Importa
A importância de uma contagem precisa de indivíduos em uma espécie não pode ser subestimada. Como ressaltou o ecologista Ismael Brack: “Se os cientistas não conseguirem estabelecer uma contagem precisa dos indivíduos de uma espécie, como saberão se a população está em declínio ou se os esforços para protegê la estão sendo bem sucedidos?” Essa questão retórica sublinha a urgência e a relevância de pesquisas como esta. Sem dados confiáveis sobre o tamanho e a dinâmica populacional, as estratégias de conservação são meras conjecturas, sem a base científica necessária para garantir sua eficácia.
A descoberta da maior desova de tartarugas da Amazônia e a metodologia inovadora empregada pelos pesquisadores representam um farol de esperança. Ao armar os conservacionistas com ferramentas mais precisas e eficientes para monitorar essas populações, a pesquisa abre um novo caminho para a proteção de espécies ameaçadas. É um lembrete contundente de que a tecnologia, quando aliada ao conhecimento científico e a um profundo compromisso com a biodiversidade, pode ser uma força poderosa para o bem, ajudando a desvendar os mistérios da natureza e a garantir um futuro para suas mais preciosas criaturas. A Amazônia, mais uma vez, nos surpreende e nos convida a redobrar nossos esforços em sua defesa, agora com uma visão mais clara e promissora do que nunca.
O firmamento, antes uma tela aberta de informações vitais para a compreensão dos complexos padrões climáticos do nosso planeta, agora se vê parcialmente encoberto devido a recente decisão do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (EUA), motivada por preocupações com a cibersegurança, sinaliza uma restrição no acesso global a dados meteorológicos cruciais. A partir do final deste mês, satélites gerenciados pelas Forças Armadas americanas deixarão de compartilhar com o público informações detalhadas sobre a atmosfera terrestre e os oceanos. Esta medida, anunciada pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica NOAA, um dos pilares da pesquisa climática mundial, acende um alerta em uma era de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos.
Uma Nuvem de Incógnitas no Horizonte Climático
A demanda por dados meteorológicos precisos e compartilhados globalmente nunca foi tão urgente. Em um mundo assolado por furacões devastadores, chuvas torrenciais e secas prolongadas, a capacidade de prever com antecedência esses fenômenos pode literalmente salvar vidas. O cruzamento de informações coletadas por diferentes equipamentos é a espinha dorsal de previsões confiáveis, e a lacuna criada pela decisão americana pode comprometer essa rede vital. Instituições civis de pesquisa, que antes se beneficiavam da riqueza de dados sobre tempestades, gelo marinho nas regiões polares ou as nuances das mudanças climáticas coletadas por equipamentos militares americanos, agora se veem diante de um vácuo de informação.
Incertezas nas previsões meteorológicas – Imagem: NOAA/ZUMA Press Wire/picture alliance
A suspensão do fornecimento desses dados, inicialmente prevista para o final de junho mas adiada após protestos, remonta a um contexto de cortes orçamentários. O NOAA, um gigante na pesquisa climática responsável por prever fenômenos como o La Niña ou o aquecimento dos oceanos, já havia sofrido um duro golpe em março, com a demissão de 800 funcionários durante o governo do presidente dos EUA, Donald Trump. Essa conjuntura sugere que a decisão atual, embora justificada por riscos de cibersegurança, pode ser um sintoma de uma desvalorização subjacente da colaboração e da ciência climática aberta.
O Coração dos Dados Suspensos: Entendendo a Perda
Desde a década de 1960, o programa Defense Meteorological Satellite Program DMSP dos EUA tem sido um pilar na análise de dados meteorológicos globais. Atualmente, três satélites ativos, gerenciados pela Força Aérea a partir de uma base em Nebraska, são responsáveis por coletar e disseminar diariamente informações globais sobre cobertura de nuvens, parâmetros ambientais oceanográficos e solargeofísicos. Esses dados são a base para previsões meteorológicas estratégicas que apoiam operações militares, mas sua relevância transcende o âmbito da defesa.
Para a meteorologia civil, o Operational Linescan System OLS, um radiômetro que monitora duas vezes ao dia a distribuição global e a temperatura das nuvens, é de importância particular. As informações geradas pelo Special Sensor Microwave Imager Sounder SSMIS, um radiômetro de micro ondas que mede a radiação térmica da Terra e é usado para definir perfis de temperatura, umidade e outras variáveis atmosféricas, são igualmente cruciais. Todos esses dados brutos, processados pelo Centro de Meteorologia Numérica e Oceanografia da Frota da Marinha dos EUA, eram rotineiramente disponibilizados para instituições de pesquisa e incorporados diariamente nos cálculos de previsões meteorológicas globais. A interrupção desse fluxo de informações representa uma perda significativa, cujas consequências ainda estão sendo avaliadas.
Fonte: OPEU
O Efeito Borboleta: Preocupações de Especialistas
Meteorologistas em todo o mundo estão em uma corrida contra o tempo, buscando dados alternativos e tentando recalibrar seus modelos de cálculo para compensar a ausência das informações fornecidas pelos EUA. Peter Knippertz, meteorologista do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe KIT, compara a atmosfera a um “sistema caótico”, onde “mesmo pequenas diferenças de temperatura, pressão ou vento em locais relativamente distantes e também em momentos diferentes podem ter grande impacto”. Essa complexidade ressalta a importância da análise de dados em tempo real para previsões assertivas.
Para Knippertz, a ausência dessas informações representa “uma perda estatisticamente mensurável na qualidade das previsões, já que as informações de micro ondas sobre temperatura e umidade têm um impacto desproporcionalmente grande nas previsões do tempo”. Um dos mais afetados será o centro de pesquisa americano National Snow and Ice Data Center NSIDC, que terá suas análises sobre o gelo do Ártico comprometidas. Essas análises são cruciais para definir rotas de navegação seguras e economicamente viáveis. O laboratório já planeja recorrer a dados de satélites japoneses, demonstrando a busca incessante por soluções alternativas.
A apreensão se intensifica com a aproximação da temporada de furacões no Atlântico, que tradicionalmente são monitorados com base nos satélites da NOAA. Embora o órgão afirme que a perda de dados não compromete a precisão das previsões, uma vez que outros satélites poderiam suprir essas informações, especialistas de países mais pobres expressam um temor legítimo de que essas lacunas não sejam compensadas. Em regiões onde os dados meteorológicos ainda são coletados e transmitidos manualmente, as informações fornecidas pelos militares americanos eram fundamentais para elaborar previsões confiáveis, e sua ausência pode agravar a vulnerabilidade dessas comunidades diante de eventos climáticos extremos.
Além dos Satélites: O Fechamento de um Observatório Histórico
A imprensa americana também reporta o fechamento do Observatório Mauna Loa, no Havaí, um marco na coleta de dados essenciais sobre a composição e mudanças na atmosfera terrestre desde 1958. Diferente dos satélites, essa decisão não foi justificada pelos mesmos motivos de segurança. Como o observatório é fundamental para documentar e estudar o aumento do dióxido de carbono CO₂ na atmosfera e as mudanças climáticas, críticos levantam a hipótese de motivações mais políticas por trás de seu fechamento.
Seja por questões de cibersegurança ou por outras razões, a tendência de restringir o acesso a dados científicos cruciais é preocupante. Em um momento em que a colaboração global e a compreensão profunda dos sistemas terrestres são mais necessárias do que nunca, o fechamento de canais de informação pode não apenas dificultar a pesquisa científica, mas também fragilizar a capacidade da humanidade de se adaptar e mitigar os impactos das mudanças climáticas. O véu que se estende sobre o céu não é apenas uma barreira para dados; é um desafio à cooperação e à responsabilidade coletiva diante de um futuro climático incerto.
O vasto e resiliente bioma do Cerrado, berço de inúmeras riquezas naturais, revela mais uma de suas preciosidades em prol da agricultura nacional. De suas entranhas, mais precisamente no solo mineiro, emergiu uma descoberta que promete redefinir os paradigmas do controle de doenças fúngicas em lavouras: uma bactéria singular, a Paenibacillus ottowii. Esta humilde, mas poderosa, microrganismo é agora o coração do Eficaz Control, um biofungicida inédito no mercado brasileiro, fruto da união estratégica entre a expertise da Embrapa e a capacidade de inovação da empresa Simbiose. Esta nova tecnologia não apenas oferece uma alternativa robusta aos químicos, mas se posiciona como um farol de esperança para uma agricultura mais sustentável e produtiva.
A Força Invisível que Protege a Colheita
A história do Eficaz Control começa nos laboratórios da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, Minas Gerais. Lá, pesquisadores dedicados identificaram a ação antifúngica notável da cepa de Paenibacillus ottowii. Acompanhada por uma cepa de Bacillus velezensis, que também se mostrou promissora, esta dupla de microrganismos foi submetida a anos de pesquisa e testes rigorosos. Desde 2016, um meticuloso processo de isolamento e seleção de 190 microrganismos, provenientes de estigmas de milho e sementes de sorgo, pavimentou o caminho para a formulação do que viria a ser o Eficaz Control.
Fonte: EMBRAPA
A pesquisadora Christiane Abreu de Oliveira Paiva, uma das mentes por trás deste avanço, salienta que o produto é o resultado de mais de nove anos de investigação intensiva. Ela revela um detalhe crucial: além de sua impressionante capacidade de controlar fungos, as cepas selecionadas demonstraram um efeito positivo no aumento da produtividade tanto do milho quanto da soja. Esse benefício duplo reforça o valor agregado desta inovação, oferecendo aos produtores não apenas proteção, mas também ganhos econômicos tangíveis. É um testemunho da sinergia entre o controle biológico e a otimização da performance agrícola, pavimentando o caminho para uma agricultura que concilia produtividade com menor impacto ambiental.
Parceria Estratégica: Da Pesquisa à Aplicação
O conhecimento científico da Embrapa encontrou um parceiro ideal na Simbiose, que assumiu a responsabilidade de desenvolver a formulação ideal e conduzir os testes de campo em larga escala. Esse acordo de cooperação técnica transformou a pesquisa em um produto viável e comercializável, pronto para impactar as lavouras brasileiras. Artur Soares, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Simbiose, enfatiza o rigor dos estudos realizados em todo o Brasil desde 2020. Os resultados foram inequívocos: em todos os testes, o Eficaz Control superou a performance dos fungicidas químicos, tanto no controle de doenças quanto na prevenção de perdas e no ganho de produtividade. Esta performance superior é um marco, validando a eficácia da abordagem biológica e solidificando a confiança na tecnologia.
Marcelo de Godoy Oliveira, CEO do ecossistema Cogny, ao qual a Simbiose pertence, destaca um aspecto fundamental do Eficaz Control: seu registro. Diferentemente dos fungicidas químicos, que demandam um registro específico junto ao Ministério da Agricultura para cada tipo de cultura, o insumo biológico da Simbiose possui uma flexibilidade de uso muito maior, podendo ser aplicado na cobertura de todas as culturas afetadas pelas doenças fúngicas que ele combate. Essa característica não apenas simplifica o processo para o produtor, mas também acelera a disseminação da tecnologia no campo.
Um Mercado em Transformação: O Potencial dos Biológicos
O panorama atual do mercado agrícola brasileiro ainda é dominado por insumos químicos. Oliveira aponta que, dos 40 milhões de hectares de soja no Brasil, apenas 1,5 milhão são tratados com biológicos. Ele vislumbra um futuro em que o Eficaz Control será um catalisador para mudar essa realidade, aumentando a competitividade da Simbiose e popularizando o uso de produtos biológicos, especialmente no segmento da soja, que movimenta anualmente mais de R$ 400 milhões em fungicidas.
Essa mudança não é apenas uma questão de mercado, mas também de democratização. O executivo ressalta que cinco multinacionais detêm mais da metade do mercado brasileiro de insumos. O Eficaz Control chega com a proposta de difundir a cultura do microbiológico para um número maior de produtores, abrindo espaço para uma indústria de biológicos nacional mais competitiva. A capacidade de produzir localmente com qualidade e rigor técnico é um diferencial importante, que pode fortalecer a cadeia produtiva interna e reduzir a dependência de produtos importados. Essa visão se alinha perfeitamente com o Programa Nacional de Bioinsumos, instituído pelo Decreto Nº 10.375, de 26 de maio de 2020, que busca justamente reduzir a dependência externa e impulsionar o uso da biodiversidade brasileira de forma sustentável.
Fonte: EMBRAPA
O Poder da Prevenção: Eficiência na Raiz do Problema
A aplicação do Eficaz Control é notavelmente prática e eficaz: uma única vez no tratamento de sementes para o plantio. Essa abordagem protege as plântulas nos estágios iniciais de desenvolvimento, garantindo a formação de um stand adequado e, consequentemente, menores custos de aplicação e um impacto ambiental reduzido, dada a menor dose do produto necessária. Esse ponto é crucial, pois a infestação por fungos de solo muitas vezes não é percebida pelo produtor em suas fases iniciais, e quando os sintomas se manifestam, a situação já pode ser grave, levando ao tombamento das plantas e perdas significativas.
Rodrigo Véras, outro pesquisador da Embrapa envolvido no projeto, enfatiza a inovação do Eficaz Control. Ele apresenta elevada eficiência no controle dos fungos de solo quando aplicado diretamente nas sementes, o que o diferencia das medidas convencionais. Ele aponta que a resistência genética, o controle químico e a rotação de culturas, embora importantes, apresentam limitações consideráveis. Para os fungos de solo, que causam a podridão de raiz e colmo no milho, o desenvolvimento de resistência genética é um desafio complexo, exigindo técnicas de fenotipagem difíceis e um trabalho árduo de melhoramento. O controle químico, por sua vez, é complicado pela localização desses fungos, que se aninham em regiões de difícil acesso no solo ou na raiz. Além disso, Véras explica que, para este grupo específico de fungos, a rotação de culturas pode não ser tão eficiente quanto se esperaria.
A dificuldade em combater esses patógenos sublinha a importância de uma solução como o Eficaz Control. Ele oferece uma nova ferramenta, mais acessível e eficaz, para um dos desafios mais persistentes da agricultura moderna. A capacidade de proteger as plantas desde o início de seu desenvolvimento é um diferencial que pode salvar lavouras e garantir a rentabilidade do produtor.
A Sinergia do Conhecimento: O Papel das Parcerias
Alexandre Ferreira da Silva, chefe adjunto de Transferência de Tecnologias em exercício da Embrapa Milho e Sorgo, ressalta a importância vital das parcerias com a iniciativa privada. Para ele, essa colaboração é essencial para acelerar o desenvolvimento e a disseminação de bioinsumos no setor agrícola. A importância desses insumos biológicos para a sustentabilidade e produtividade da agricultura brasileira é inquestionável. Eles representam um salto qualitativo, oferecendo soluções mais seguras e ambientalmente amigáveis para o controle de pragas, doenças e para a melhoria da saúde do solo. Essa visão estratégica da Embrapa, de unir forças com o setor privado, demonstra um compromisso com a inovação e a transferência de tecnologia, garantindo que as pesquisas se traduzam em benefícios reais para a sociedade.
A equipe de pesquisa por trás do Eficaz Control é um exemplo da dedicação e do talento científico brasileiro. Composta por nomes como Christiane Abreu de Oliveira Paiva, Luciano Viana Cota, Rodrigo Véras da Costa, Dagma Dionísia da Silva Araújo e muitos outros, a colaboração se estendeu a profissionais da Embrapa Pesca e Aquicultura e incluiu a formação de novos talentos, como a bolsista de doutorado Gisele Diniz, cuja dissertação de mestrado e tese de doutorado foram fundamentadas nos testes realizados com as cepas do biofungicida. Essa integração de conhecimentos e a aposta na formação de novos pesquisadores são pilares para a construção de um futuro científico robusto no Brasil.
O Lançamento e o Horizonte Sustentável
O Eficaz Control será lançado oficialmente em 5 de agosto, durante o Congresso da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários Andav, no Transamérica ExpoCenter, em São Paulo. Este evento, que acontece de 5 a 7 de agosto, reunirá especialistas e líderes do agronegócio, sendo o palco ideal para apresentar essa inovação ao mercado. O lançamento não é apenas a introdução de um produto, mas a celebração de anos de pesquisa e o marco de uma nova fase para a agricultura nacional.
A Embrapa, com sua “Jornada Pelo Clima”, continuará a destacar a importância dos bioinsumos agrícolas em eventos globais como a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas COP30, que acontecerá de 10 a 21 de novembro, em Belém, no Pará. O Brasil, já um líder mundial na produção de bioinsumos, reforça seu compromisso com práticas agropecuárias sustentáveis e a segurança alimentar e nutricional. O Eficaz Control, com sua eficiência e menor impacto ambiental, é um exemplo concreto de como a ciência pode impulsionar a sustentabilidade e a produtividade da agricultura brasileira, mostrando ao mundo o potencial da biodiversidade do Cerrado e o talento de seus pesquisadores. Essa trajetória, que vai da descoberta de uma bactéria no solo mineiro até o palco de um congresso internacional, é um testemunho da capacidade do Brasil de inovar e liderar no campo da biotecnologia agrícola.
Uma nova versão com alta tecnologia da planilha eletrônica para inventário florestal em sistemas de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) foi desenvolvida e disponibilizada pela Embrapa Florestas, localizada no Paraná. Essa ferramenta, projetada para ser utilizada no Excel, surgiu de uma necessidade observada durante cursos e interações com técnicos e produtores rurais. Seu principal objetivo é fornecer um suporte robusto para o planejamento e a tomada de decisões no que tange ao plantio e ao manejo de árvores dentro desses sistemas integrados. A boa notícia é que a planilha pode ser baixada gratuitamente diretamente na página oficial da Unidade.
Inovação para o campo: o coração da gestão florestal
A Planilha para Inventário Florestal no sistema de ILPF se destaca por sua notável aplicabilidade prática. Segundo Vanderley Porfírio da Silva, pesquisador da Embrapa Florestas, a etapa de inventário florestal é de suma importância em sistemas ILPF, especialmente para aqueles que buscam a certificação Carne Carbono Neutro (CCN).
Fonte: EMBRAPA
Ele explica que o inventário é a base para coletar informações cruciais que permitem avaliar o crescimento das árvores e estimar o carbono acumulado. Esses dados são essenciais para comprovar a neutralização das emissões de metano entérico dos bovinos em sistemas silvipastoris. Porfírio da Silva ressalta que, apesar de sua relevância, a prática do inventário sempre gera dúvidas sobre a melhor forma de ser executada. Por essa razão, a planilha foi pensada para atender extensionistas, consultores e outros profissionais que acompanham ou prestam consultoria a projetos de ILPF.
Tecnologia: descomplicando o inventário
O funcionamento da ferramenta é bastante intuitivo. O usuário insere informações básicas da área, como o arranjo espacial definido para o sistema, e a planilha automaticamente calcula o número de árvores que devem existir na área. Com essa densidade de plantio o número de árvores por hectare, a planilha também calcula parâmetros necessários para o inventário florestal, como o tamanho de parcelas, o número e a distância entre parcelas a serem instaladas no campo.
Essa automatização simplifica a execução do inventário, garantindo a geração de dados precisos. Esses dados são particularmente úteis para serem empregados nos softwares SisILPF, que são simuladores de crescimento florestal, produção de madeira e captura de carbono para diversas espécies.
Edilson Oliveira, também pesquisador da Embrapa Florestas, enfatiza que a planilha “ajuda a definir uma amostragem precisa e suficiente, mesmo em sistemas com grande variabilidade de arranjos espaciais de plantio”. Ele acrescenta que, além de ser útil para o inventário de áreas já implantadas, a ferramenta pode ser utilizada para simulações que auxiliam o produtor a planejar o sistema, permitindo que as melhores opções de implantação de sua área de ILPF sejam levadas a campo.
Monitoramento contínuo e sustentabilidade
Com a introdução dessa ferramenta, torna se viável o estabelecimento de parcelas de avaliação permanentes, capazes de gerar dados contínuos sobre o desempenho das árvores. Essa funcionalidade não apenas contribui para um manejo florestal sustentável, mas também para o monitoramento dos impactos ambientais positivos do ILPF. Entre esses impactos, destacam se o conforto térmico animal e o sombreamento sobre pastagens, que são benefícios diretos da presença de árvores no sistema.
SisILPF: a inteligência por trás da integração
Os SisILPF representam um conjunto de softwares que oferecem suporte essencial para as atividades de planejamento, manejo e análise econômica do componente florestal nos sistemas ILPF. Eles concedem aos usuários a capacidade de testar, para cada condição de clima e solo, todas as opções de manejo do componente arbóreo desse tipo de sistema, proporcionando uma visão abrangente e detalhada.
Esses softwares geram tabelas de sortimento de madeira por classes de utilização industrial, como laminação, serraria, madeira roliça para postes e cercas, e energia. Essa categorização é feita em função de diâmetros e comprimentos de toras que o próprio usuário pode indicar, o que permite uma personalização de acordo com as necessidades. Além disso, os SisILPF calculam o carbono capturado pelas árvores e o equivalente em CO2 e metano, fornecendo uma métrica clara dos benefícios ambientais. Também emitem gráficos com estimativas do número de animais que podem ter a emissão de metano compensada pelas árvores do ILPF, consolidando a sinergia entre pecuária e floresta.
Atualmente, existem versões do software para sistemas integrados com as seguintes espécies florestais: Eucalyptus benthammii, Eucalyptus dunnii, Eucalyptus urograndis, Pinus elliottii, Pinus taeda, Cedro, Mogno e Teca, abrangendo uma variedade de opções para diferentes contextos.
Fonte: EMBRAPA
A jornada da Carne Carbono Neutro
Desde meados dos anos 2000, a pecuária bovina brasileira tem enfrentado crescentes pressões internacionais, principalmente em razão de seus impactos ambientais. As principais preocupações giram em torno da associação com o desmatamento e dos baixos índices zootécnicos, que historicamente resultavam em uma carne com uma alta pegada de carbono.
Para responder a esses desafios e transformar a imagem da pecuária nacional, a Embrapa desenvolveu, em 2012, a marca conceito Carne Carbono Neutro (CCN). Essa iniciativa inovadora tem como proposta a produção de carne bovina com emissões de metano compensadas pelo sequestro de carbono em árvores integradas aos sistemas pastoris. Exemplos notáveis incluem a integração pecuária floresta (IPF) e a integração lavoura pecuária floresta (ILPF). Além de mitigar as emissões, a CCN promove o bem estar animal com maior conforto térmico, proporcionado pela sombra das árvores, evidenciando uma abordagem multifacetada e sustentável.
A marca CCN, registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2016, após o depósito em 2013, é fundamentada em um protocolo auditável. Este protocolo garante a produção de carne em áreas agropecuárias consolidadas, com a premissa fundamental de zero desmatamento e zero uso de fogo. O rigoroso protocolo assegura não apenas a neutralização das emissões de gases de efeito estufa, mas também o bem estar animal e a qualidade do produto final. Para ampliar seu alcance e reconhecimento global, a marca conta com versões da logomarca em português e inglês.
Protocolo CCN
O protocolo CCN foi testado em fazendas localizadas em importantes biomas brasileiros, como Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. Ele integra um conjunto de boas práticas agropecuárias, bem estar animal, compensação de emissões, rastreabilidade e padrões específicos para frigoríficos, garantindo uma abordagem holística e completa. A iniciativa está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especificamente os de número 2 (erradicar a fome), 12 (garantir padrões de consumo e produção sustentáveis) e 13 (ações de enfrentamento às mudanças climáticas).
Adicionalmente, o protocolo fomenta a transparência e a gestão eficiente em toda a cadeia produtiva, em perfeita consonância com a agenda ESG (Ambiental, Social e Governança).
Roberto Giolo, pesquisador da Embrapa Gado de Corte e um dos idealizadores da iniciativa, destaca que “a marca CCN agrega valor à carne, beneficiando toda a cadeia, do produtor ao consumidor, com foco na sustentabilidade e na redução de impactos ambientais”. Ele conclui que “isso fortalece a competitividade da pecuária brasileira nos mercados interno e externo, melhorando sua reputação global”, consolidando a CCN como um diferencial estratégico e sustentável.
Em uma iniciativa que une criatividade e sustentabilidade, a usina hidrelétrica de Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, no Paraná, tornou se palco de uma transformação inusitada. Dentro de suas instalações, no lado brasileiro, opera uma usina de biogás e biometano que está dando um destino nobre a produtos apreendidos pela Receita Federal. Carretas carregadas de mercadorias como feijão e milho, outrora símbolos do contrabando, chegam ao local para virar energia limpa, em um ciclo virtuoso que minimiza o desperdício e contribui para um futuro mais sustentável.
Imagem: Receita Federal
Uma parceria estratégica contra o desperdício
Essa ação singular é fruto de uma colaboração estratégica entre o órgão arrecadador de tributos e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás). O CIBiogás, uma empresa fundada pela própria Itaipu Binacional, é uma referência em soluções para combustíveis limpos e opera a biousina com maestria. A parceria não se limita à Receita Federal; a biousina também tem acordos com a Polícia Federal (PF) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Essas alianças interinstitucionais conferem um desfecho surpreendente a mercadorias apreendidas, sejam elas fruto de contrabando (produtos proibidos por lei) ou descaminho (produtos que entram no país sem o devido pagamento de impostos). No pátio de estoque da usina, acumulam se litros de vinho, toneladas de açúcar e uma variedade de outros produtos como azeite, óleo, batata, chiclete, farinha, cacau e pó de café. Segundo Felipe Marques, diretor de Estratégias de Mercado do CIBiogás, a versatilidade da usina é notável: já foram mapeados mais de 400 tipos de resíduos orgânicos capazes de serem convertidos em energia limpa, o que demonstra o vasto potencial da iniciativa.
A magia da biodigestão: do resíduo à energia
O coração dessa inovação é um enorme tanque vedado onde ocorre a biodigestão. Esse processo biológico transforma a matéria orgânica dos produtos apreendidos em biogás. O resultado final é um gás combustível renovável, uma verdadeira fonte de energia limpa que desempenha um papel fundamental na redução da emissão de gases do efeito estufa. Esses gases são os principais responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas, que, por sua vez, intensificam a frequência de eventos ambientais extremos.
Marques explica que, em termos de impacto na emissão de gases do efeito estufa, o biometano se equipara ao etanol, outro combustível renovável amplamente utilizado em veículos. “É praticamente a mesma emissão”, afirma ele. O potencial é ainda maior quando o biometano substitui o diesel. “O biometano sendo usado para substituir diesel causa um impacto muito grande em termos de redução de emissões”, destaca o diretor. Isso representa um avanço significativo na descarbonização da frota de veículos e na transição para uma matriz energética mais verde.
A biousina em Itaipu não se alimenta apenas de produtos apreendidos. Ela também recebe resíduos orgânicos dos restaurantes do complexo da própria hidrelétrica. A planta tem uma capacidade de processamento de meia tonelada de rejeitos por dia e, desde 2017, já processou mais de 600 toneladas. E o ritmo pode aumentar, pois a usina tem capacidade para chegar a uma tonelada diária, demonstrando seu potencial de escala e impacto.
Biometano: abastecendo o futuro
Do biogás produzido na biousina, é gerado o biometano, um gás com características semelhantes às do gás natural. Esse biometano é utilizado para abastecer a frota de veículos leves do complexo de Itaipu e até mesmo o ônibus de turismo da hidrelétrica, um exemplo prático de sustentabilidade em ação. A usina produz cerca de 200 metros cúbicos (m³) de biogás por dia e 100 m³/dia de biometano, volume suficiente para abastecer diariamente dez carros.
Desde 2017, a unidade já abasteceu um impressionante volume de 41,3 mil m³ de biometano, o que possibilitou que os veículos percorressem 484 mil quilômetros. Os técnicos do CIBiogás destacam a diversidade de materiais já processados na planta, incluindo: 22 toneladas de leite em pó da Índia, apreendidos no Porto de Paranaguá; 75 toneladas de cacau da Tailândia, também apreendidos em Paranaguá; 9 mil litros de azeite; 5,5 toneladas de leite em pó; e 870 litros de vinho. Cada um desses itens, que antes representavam um problema de descarte, agora se transforma em uma solução energética.
Geovani Geraldi, integrante da Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico do CIBiogás, explica a complexidade do processo. É fundamental dosar o conteúdo levado ao biodigestor para garantir a qualidade do biogás e do biometano produzidos. “Farinha produz muito biogás, mas não tanto assim de metano. Então, eu preciso dosar a farinha com mais calma do que azeite de oliva, que produz muito biogás e é rico em metano, então coloco mais azeite de oliva”, exemplifica Geraldi. “Dosando com aquilo que temos também de estoque, se não vai poder faltar futuramente. A gente tem todo esse controle operacional”, completa, revelando a ciência por trás da operação.
A relevância do biometano produzido em Itaipu já atraiu a atenção de grandes players. De acordo com Felipe Marques, a Petrobras demonstrou interesse em adquirir o biometano gerado na biousina. “Eles estão bem engajados em termos de usar biometano e impulsionar o mercado de biometano no Brasil”, conta Marques, indicando um futuro promissor para esse combustível limpo no cenário nacional. Além da energia, os resíduos do processo de biodigestão também podem ser transformados em biofertilizantes, que são utilizados na irrigação de gramados ou na recuperação de áreas degradadas, fechando um ciclo de sustentabilidade completo.
SAF na COP 30: inovação brasileira na mira global
Mas as ambições do CIBiogás e de Itaipu não param por aí. A partir da biodigestão de apreensões da Receita e da PF, a unidade está desenvolvendo o bio syncrude, um óleo sintético que pode ser utilizado na produção de SAF (Combustível Sustentável de Aviação). O SAF representa uma esperança real para a aviação, pois tem o potencial de reduzir significativamente a emissão de gases do efeito estufa em comparação com o querosene de aviação tradicional.
Fonte: Depositphotos
Essa inovação brasileira será um dos destaques na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá em novembro, em Belém, no Pará. Itaipu Binacional está preparando uma demonstração do óleo sintético, um marco que posiciona o Brasil na vanguarda das soluções para descarbonizar a aviação. Para refinar o bio syncrude e transformá lo em SAF, Itaipu firmou uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), unindo a expertise prática da usina com o conhecimento acadêmico. Os investimentos em energia renovável são uma das apostas de Itaipu Binacional para aumentar a sua geração de energia, consolidando seu papel não apenas como produtora de hidroeletricidade, mas também como um centro de excelência em energias limpas e sustentabilidade.
O Fundo JBS pela Amazônia acaba de lançar uma iniciativa que promete transformar a realidade de comunidades rurais em Rondônia. Em colaboração com a organização socioambiental Ecoporé e os Escritórios Verdes JBS, surge o projeto Vitrines de Restauração, uma proposta pioneira que tece a recuperação ambiental com o desenvolvimento socioeconômico. A meta é clara: restaurar áreas degradadas em propriedades rurais, especialmente aquelas ligadas à pecuária, e, ao mesmo tempo, gerar um significativo aumento de renda para os envolvidos, que pode chegar a 60% através da comercialização de sementes nativas. A longo prazo, essa iniciativa ambiciona alavancar a restauração de mais de 3 mil hectares de vegetação nativa, desenhando um futuro mais verde e próspero para a região.
Da teoria à prática uma rede de apoio ao produtor
A concepção do projeto Vitrines de Restauração partiu de uma base sólida: a atuação dos Escritórios Verdes da JBS. Essa iniciativa da empresa oferece um suporte completo e gratuito a produtores rurais, abrangendo assistências técnica, ambiental e gerencial. O foco é duplo: auxiliar na regularização ambiental e incentivar a adoção de melhores práticas sustentáveis. Foram esses escritórios que realizaram o mapeamento dos produtores com Cadastro Ambiental Rural (CAR) válido, identificando as propriedades que possuíam áreas degradadas e necessitavam de recomposição.
Uma vez identificados os parceiros ideais, o Fundo JBS pela Amazônia entrou como o grande financiador da iniciativa, garantindo os recursos necessários para que o projeto saísse do papel. A Ecoporé, por sua vez, assumiu a responsabilidade pela operacionalização do Vitrines de Restauração. Isso inclui tarefas cruciais como o isolamento das áreas a serem recuperadas, a semeadura utilizando a inovadora técnica de muvuca de sementes e a realização de oficinas de capacitação. Paralelamente, os Escritórios Verdes da JBS mantêm um acompanhamento próximo, orientando o desenvolvimento das ações em campo e assegurando que tudo ocorra conforme o planejado. Essa teia de colaboração entre diferentes atores é um exemplo prático de como a sinergia pode gerar resultados impactantes.
Muvuca de sementes: um elo entre ancestralidade e futuro
No coração da metodologia de restauração do projeto está a muvuca de sementes. Inspirada em práticas indígenas ancestrais do Xingu, essa técnica de semeadura direta consiste em uma rica mistura de dezenas de espécies nativas e sementes de adubação verde. Seus benefícios são múltiplos e expressivos: garante uma cobertura rápida do solo, um passo fundamental para evitar a erosão e proteger o solo exposto; fomenta a biodiversidade, recriando ecossistemas ricos e resilientes; e, por fim, favorece a regeneração natural da floresta, acelerando o processo de recuperação ambiental.
Mas o projeto vai além da dimensão ecológica. Ele fortalece a economia de comunidades tradicionais ao valorizar o trabalho da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (RESEBA). Essa iniciativa, liderada pela Ecoporé, é composta por um mosaico de saberes e culturas: indígenas, quilombolas e agricultores familiares. São eles os responsáveis pela produção e fornecimento das sementes nativas utilizadas na recomposição vegetal. Esse modelo não só gera renda para essas comunidades, remunerando as pela sua produção, mas também promove a inclusão social e o reconhecimento de saberes ancestrais, muitas vezes negligenciados. É uma ponte entre o passado e o futuro, onde a sabedoria tradicional encontra a inovação para construir um caminho mais sustentável.
Um modelo replicável de restauração e bioeconomia
Lucas Scaracia, gerente executivo do Fundo JBS pela Amazônia, resume a essência do projeto: “O Vitrines de Restauração tem como proposta unir ciência, engajamento comunitário e sustentabilidade para criar um modelo replicável de restauração florestal, fortalecendo a bioeconomia da região, impulsionando práticas produtivas mais responsáveis”. Essa visão de replicabilidade é crucial para que o impacto do projeto se multiplique, alcançando um número cada vez maior de propriedades e comunidades.
O projeto iniciou com a seleção de produtores que demonstraram não apenas interesse, mas também o compromisso de abrir suas propriedades. A ideia é que essas áreas restauradas sirvam como verdadeiras “vitrines” de conhecimento, onde outros produtores possam aprender sobre a técnica da muvuca de sementes e se inspirar a replicá la em suas próprias terras. É uma estratégia de disseminação do conhecimento que se baseia na experiência prática e no exemplo.
Fonte: Fábio Barros
Marcelo Ferronato, diretor presidente da Ecoporé, complementa essa perspectiva: “Trabalhamos para que cada propriedade atendida seja não apenas uma área restaurada, mas também um espaço de aprendizagem e replicação. Nosso objetivo é que cada produtor engajado se torne um potencial mobilizador. Acreditamos que soluções baseadas na natureza, como a muvuca de sementes, são chave para aliar conservação e desenvolvimento regional, além de promover a regularização ambiental das propriedades, elemento essencial para integridade das cadeias produtivas e acesso a mercados”. A regularização ambiental, um desafio persistente para muitos produtores, torna se um incentivo adicional para a adesão ao projeto, facilitando o acesso a mercados e garantindo a integridade das cadeias produtivas.
Primeiros passos e a visão de longo prazo
O calendário do projeto já está em andamento. Em julho, a primeira oficina de apresentação do projeto será realizada, marcando o início das atividades de capacitação e engajamento. Entre outubro e novembro, está previsto o começo do plantio com sementes, um momento aguardado que dará vida às áreas degradadas. Nesta fase inicial, o Fundo JBS pela Amazônia investirá mais de 200 mil reais na iniciativa, um aporte financeiro que demonstra o compromisso com os primeiros passos do Vitrines de Restauração.
Apesar de nascer com um foco local, a visão do Vitrines de Restauração é de longo prazo e ambição global. Em um cenário conservador, o projeto tem o potencial de impulsionar a restauração de 100 a 300 hectares ao longo de uma década, utilizando até 21 toneladas de sementes nativas. No entanto, em um cenário mais expansivo e otimista, os números se tornam ainda mais impressionantes: até 3 mil hectares restaurados, com o uso de até 210 toneladas de sementes, mantendo o potencial de incremento de até 60% na renda das comunidades envolvidas.
Esses números não são apenas estatísticas, são indicadores de um futuro possível para a Amazônia, onde a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico caminham juntos. O projeto Vitrines de Restauração é um testemunho da capacidade humana de inovar e colaborar para construir um mundo mais justo, próspero e, acima de tudo, verde. É a prova de que é possível aliar a força da indústria, o conhecimento científico e o saber tradicional para criar um impacto positivo duradouro.
Em um movimento estratégico para impulsionar a agenda digital e aprimorar a gestão pública, o governo federal lançou na última quarta feira, 23 de julho, o aplicativo Meu Imóvel Rural. Esta nova ferramenta, acessível com login GOV.BR, promete transformar a maneira como proprietários e possuidores de terras rurais acessam e gerenciam as informações de seus bens. Ao consolidar em um único ambiente os principais dados e documentos de imóveis rurais, o aplicativo não apenas descomplica a burocracia, mas também abre caminho para uma maior transparência e eficiência.
A sinergia dos dados para uma gestão eficiente
O desenvolvimento do Meu Imóvel Rural é fruto de uma colaboração entre o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e o Dataprev. Com uma interface simples e intuitiva, a aplicação permite que os usuários visualizem informações e baixem documentos de três bases de dados governamentais cruciais: o Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), o Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF) e o Sistema do Cadastro Ambiental Rural (SICAR).
Este lançamento está diretamente alinhado à visão de avanço do governo federal na agenda digital, conforme destaca a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck. A iniciativa faz parte da Infraestrutura Nacional de Dados (IND), um projeto ambicioso que visa o uso integrado de diferentes bases de dados para permitir que o governo compreenda melhor a população brasileira e, assim, desenhe políticas públicas mais assertivas e eficazes. A IND, mais do que uma ferramenta tecnológica, é um pilar da reforma administrativa em curso desde janeiro de 2023, reforçando o compromisso com a cidadania e a inclusão.
Dweck enfatiza que o Meu Imóvel Rural é um exemplo palpável de como a unificação de bases de dados pode aprimorar significativamente uma política pública. “O app Meu Imóvel Rural é um exemplo de como a interoperabilidade e as ferramentas da IND facilitam a vida das pessoas. A partir dele, o proprietário rural não precisa mais acessar três sistemas diferentes para obter dados e identificar pendências ambientais, fundiárias e fiscais do seu imóvel”, explicou a ministra, sublinhando a praticidade e a economia de tempo que a ferramenta proporciona.
Quem pode utilizar o Meu Imóvel Rural
Neste primeiro momento, o aplicativo já está acessível para todas as pessoas físicas que possuem imóveis rurais, sejam proprietários ou simples possuidores de terra. Uma excelente notícia para milhares de produtores e famílias que vivem do campo. A partir de novembro de 2025, a abrangência será ampliada, permitindo que pessoas jurídicas detentoras de imóveis rurais também usufruam dos benefícios da plataforma.
O acesso ao Meu Imóvel Rural é flexível. Os usuários podem optar por utilizá lo via internet, em computadores, ou por meio do aplicativo de celular. Em ambos os casos, a autenticação é feita por meio do login GOV.BR, aceitando contas bronze, prata ou ouro. Para aqueles que ainda não possuem uma conta GOV.BR, a criação é simples e necessária para desfrutar de todos os recursos do aplicativo.
A transformação da rotina do proprietário rural
A vida do proprietário rural frequentemente se depara com a complexidade de múltiplos sistemas e a necessidade de acessar informações dispersas. Atualmente, para consultar dados e obter documentos de seus imóveis, é preciso navegar por, no mínimo, três sistemas distintos: o SICAR, o SNCR e o SIGEF. Com o lançamento do “Meu Imóvel Rural”, essa fragmentação é superada. Todas essas informações estarão disponíveis em um único local, oferecendo uma visão holística e integrada.
Além da centralização, a primeira versão do aplicativo já permite aos usuários baixar em formato PDF o recibo e o extrato do Cadastro Ambiental Rural (CAR), um documento essencial para a regularização ambiental. Essa integração dos sistemas do governo, mediada pelo aplicativo, traz consigo uma série de benefícios tangíveis:
Primeiro, facilita o acesso à informação e aumenta a transparência do governo federal sobre os dados de imóveis rurais. Não se trata apenas de conveniência, mas de um avanço na governança. Segundo, oferece mais clareza para os proprietários sobre os dados de seus imóveis incluídos nos diferentes cadastros, inclusive possibilitando verificar as inconsistências entre eles. Esse recurso é fundamental para que o proprietário possa identificar e corrigir possíveis erros. Terceiro, facilita a organização e o acesso a documentos exigidos no processo de solicitação de crédito rural, um gargalo frequente para muitos produtores. Por fim, poupa tempo e aumenta a autonomia do detentor do imóvel ao disponibilizar dados e informações exigidos para acessar diversas políticas públicas.
É crucial ressaltar que o Meu Imóvel Rural, em sua versão inicial, não permitirá alterações diretas nas bases de dados originais dos sistemas. A aplicação atua como um espelho, apontando as possíveis divergências. Por exemplo, se o Cadastro Ambiental Rural (CAR) indica que um imóvel tem 100 hectares, mas o Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) registra 120 hectares para a mesma propriedade, o Meu Imóvel Rural exibirá essa inconsistência em tela e fornecerá o link para que o usuário possa corrigir a informação nos sistemas de origem. O aplicativo também notificará o usuário quando houver alterações de cadastro nos sistemas de origem, como a compra e venda de parcelas do imóvel, garantindo que o proprietário esteja sempre atualizado.
O futuro que se desenha para o campo
A jornada do Meu Imóvel Rural está apenas começando. A partir de novembro de 2025, a plataforma será enriquecida com novas ferramentas que prometem facilitar ainda mais a vida de agricultores e proprietários rurais. Entre as inovações, destaca se a opção de receber notificações oficiais, relacionadas aos direitos e responsabilidades do detentor do imóvel. Isso inclui alertas sobre pendências, a necessidade de atualizações cadastrais e o cumprimento de exigências legais, um verdadeiro mapa de rota para a conformidade.
Outra funcionalidade aguardada é a possibilidade de associação ou vinculação dos cadastros de um mesmo imóvel em diferentes sistemas. A multiplicidade de cadastros hoje exige que o detentor do imóvel preencha diferentes formulários, em sistemas distintos e em tempos e frequências variadas, o que aumenta a probabilidade de erros de preenchimento e inconsistências. Com a vinculação, a vida do produtor será simplificada. E, como já mencionado, o aplicativo permitirá que pessoas jurídicas consultem informações de imóveis, expandindo o alcance e a utilidade da ferramenta.
A espinha dorsal dos dados rurais: SIGEF e SNCR
Para entender a relevância do Meu Imóvel Rural, é importante conhecer as bases de dados que o alimentam. O Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF), desenvolvido pelo Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), é uma ferramenta eletrônica vital para a governança fundiária do território nacional. Por meio dele, são recepcionadas, validadas, organizadas, regularizadas e disponibilizadas informações georreferenciadas dos limites de imóveis rurais, tanto públicos quanto privados. O SIGEF é responsável pela certificação de dados de limites de imóveis rurais, além de gerir contratos de serviços de georreferenciamento com a administração pública.
Já o Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), também sob a alçada do Incra como gestor do cadastro rural brasileiro, abrange um universo de informações: o cadastro de imóveis rurais, de proprietários e detentores, de arrendatários e parceiros rurais, de terras públicas e de florestas públicas. O SNCR permite a consulta de informações de imóveis rurais e a verificação de propriedade ou posse por pessoa física ou jurídica. Suas principais operações incluem a verificação da situação de um imóvel rural e a consulta por código ou CPF/CNPJ do proprietário ou posseiro. Embora acessível a órgãos públicos federais e estaduais, e à iniciativa privada por meio de contratação junto ao Serpro, o acesso por prefeituras municipais ainda não é permitido.
O Meu Imóvel Rural é, portanto, mais do que um aplicativo; é um passo decisivo em direção a uma gestão rural mais inteligente, conectada e acessível, pavimentando o caminho para um futuro onde a burocracia cede lugar à eficiência e à transparência. Para saber mais, acesse: gov.br/meuimovelrural.